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CENTRO EDUCACIONAL DE ENSINO SUPERIOR DE PATOS CENTRO UNIVERSITÁRIO DE PATOS - UNIFIP PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO DO TRABALHO E PREVIDENCIÁRIO ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM CIÊNCIAS JURÍDICAS DISCRIMINAÇÃO RACIAL: BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE RACISMO INSTITUCIONALE A INSERÇÃO DO NEGRO NO MERCADO DE TRABALHO PAULO AUGUSTO DE SOUSA SANTOS Patos-PB 2020 PAULO AUGUSTO DE SOUSA SANTOS DISCRIMINAÇÃO RACIAL: BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A INSERÇÃO DO NEGRO NO MERCADO DE TRABALHO Pré-Projeto de Pesquisa apresentado ao professor da disciplina Metodologia da Pesquisa Científica – Programa de Pós- Graduação Lato Sensu do Curso de Especialização em Direito do Trabalho e Direito Previdenciário do Centro Universitário de Patos, em cumprimento às exigências para aprovação na referida disciplina. Orientadora: Prof. Ma. Maria do Socorro Nóbrega Lopes Patos-PB 2020 RESUMO Esta pesquisa aborda o direito do trabalho e a inclusão do negro no mercado de trabalho. Têm por objetivo analisar quais são os diversos fatores que ocasiona o que chamamos de desigualdade racial e de que modo o Estado pode garantir o direito ao trabalho de forma igualitária entre todas as classes. É utilizado o método de abordagem dedutivo, os métodos de procedimento histórico-evolutivo e interpretativo e as técnicas de pesquisa bibliográfica e documental. No presente trabalho é estudada a evolução histórica da desigualdade racial desde o seu surgimento até os dias atuais, as dificuldades dos negros serem inseridos no mercado de trabalho e na sociedade como sujeitos sociais. Também aborda os variados tipos de racismo, como por exemplo, o estrutural e institucional. Conclui-se que, para que se constitua uma vida digna com o gozo de todos os direitos reconhecidos constitucionalmente, é preciso que o Estado e a sociedade observem a concretização desses direitos através da implantação de ações afirmativas por meio da realização de capacitação profissional, garantia de condições, implantação de mais políticas públicas, ampliação das quotas raciais, ampliação do acesso à educação para os povos negros, capacitações e cursos profissionalizantes e vagas de trabalho destinado aos negros, inclusão no contexto socioeconômico, pois é um direito inerente o seu condição de pessoa humana. Palavras-chave: Racismo; Racismo Estrutural; Racismo Institucional; Inserção do Negro no mercado de trabalho e Políticas Afirmativas. ABSTRACT This research addresses labor law and the inclusion of black people in the labor market. They aim to analyze what are the various factors that cause what we call racial inequality and how the State can guarantee the right to work on an equal basis among all classes. The deductive approach method, the methods of historical- evolutionary and interpretive procedure and the techniques of bibliographic and documentary research are used. In the present work, the historical evolution of racial inequality from its emergence to the present day is studied, the difficulties of blacks being inserted in the labor market and in society as social subjects. It also addresses the various types of racism, such as structural and institutional. It is concluded that, for a dignified life to be constituted with the enjoyment of all constitutionally recognized rights, it is necessary that the State and society observe the realization of these rights through the implementation of affirmative actions through the realization of professional training, guarantee conditions, implementation of more public policies, expansion of racial quotas, expansion of access to education for black people, training and professional courses and job vacancies for blacks, inclusion in the socioeconomic context, as it is an inherent right to their condition of human person. Keywords: Racism; Structural Racism; Institutional Racism; Insertion of the Negro in the labor market and Affirmative Policies. 3 1 INTRODUÇÃO A Constituição Federal de 1988 estabelece como objetivos principais da República Federativa do Brasil a cidadania, os valores sociais como promover o bem de todos sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. A desigualdade social e racial pode ser percebida por diversos indicadores desde os tempos de escravidão. O racismo é um conjunto de teorias e crenças na qual se denomina preconceito e discriminação estabelecendo assim hierarquia contra um grupo de indivíduos por causa de sua cor ou etnia. No cenário atual, as desigualdades raciais continuam se expressando exemplarmente e com particular amplitude no mercado de trabalho. Nesta esfera, apesar de o texto constitucional brasileiro trazer alguns dispositivos de proteção social, trabalhistas e menção de forma expressa em relação a qualquer forma de discriminação, diferenciação salarial, a sociedade nos mostra que essa estrutura legal não consegue fazer com que a desigualdade, a discriminação e exclusão racial não se materializem na sociedade. No Brasil enfrentamos grandes desafios a serem superados pela população negra, já que esta condição, cumulada da distribuição injusta de riqueza e oportunidade de trabalho, dos inúmeros benefícios gerados pela política econômica à classe dominante, notadamente “branca”, relega a grande maioria negra às condições extremamente precárias de sobrevivência no nosso país. A ocupação majoritária do branco no mercado de trabalho acabou por empurrar a população não branca para as ocupações subalternas e mais desvalorizadas, sobrando assim empregos informais, e menos favorecidos nos quais eles se encontram majoritariamente nos dias de hoje. Neste sentido, procura-se apresentar à necessidade de legitimação das Ações Afirmativas de modo que tais práticas se tornem eficazes na construção da inserção dos negros no mercado de trabalho buscando assim uma sociedade igualitária e justa. No tocante as ferramentas de pesquisa, serão utilizados no desenvolvimento deste projeto os métodos de abordagem dedutivo, na qual permite-nos chegar à conclusão sobre a possibilidade de promover a igualdade racial entre os povos negros e inserção dos mesmos no mercado de trabalho. Também se utilizará, respectivamente, o método histórico, para que seja possível o conhecimento sobre o tema de forma mais profunda, desde a origem do problema racial até os dias atuais, os processos e instituições do passado relativo à descriminação do negro no mercado de trabalho; e o método comparativo para conferir semelhanças e divergências, através das comparações, entre as oportunidades e vagas ofertadas aos negros e brancos no mercado de trabalho. Por fim, a revisão bibliográfica pelo meio de informações obtidas em livros, artigos científicos, jurisprudências, revistas especializadas e internet, a partir dos que norteará a presente pesquisa. Diante disso, o presente estudo questiona: quais instrumentos, mecanismo e ações afirmativas eficazes, para que o negro seja inserido no mercado de trabalho sem sofrer o que chamamos de racismo institucional? Sob esse enfoque o presente artigo tem como objetivo analisar o racismo no Brasil e através de ações afirmativas procurar soluções para discriminação e desigualdade racial no mercado de trabalho. 4 2 RACISMO E ESCRAVIDÃO NO BRASIL Antes de adentrar especificamente na análise acerca do racismo no Brasil, é preciso definir o conceito de raça e entender como se dá a construção do racismo e a discriminação racial em nosso país. Raça é um conceito que não corresponde a nenhuma realidade natural, trata- se ao contrário de um conceito que tão somente detona uma forma de classificação social, baseada em uma atitude negativafrente a certos grupos sociais e informada por uma noção específica de natureza como algo indeterminado (GUIMARÃES, 2005). Nesse sentido, o racismo é uma forma bastante especifica de naturalizar uma vida social, diferenciar uma classe que é tida como desfavorecida socialmente e culturalmente. Além de ser um problema racial e social, o racismo está presente em todos os ambientes, sejam eles quais forem o negro sofre esse tipo de discriminação constantemente na sociedade. A atitude na qual se fundamenta o racismo assim como todas as formas de naturalização do mundo social está presente no nosso país através de vários exemplos e discursos famigerados no decorrer da explanação de presente estudo. 2.1 BREVES CONSIDERAÇÕES A CERCA DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO RACISMO NO BRASIL A escravidão do negro trouxe profundas marcas para a sociedade contemporânea na qual não é negado ao negro o direito de ser livre, mas lhes são negadas condições dignas de vida, repentino muitas vezes o que sofriam na época escravista e que de algumas formas está presente nos dias de hoje (NUNES, 2006). No Brasil, o racismo ganhou forma e cor com a chegada dos escravos africanos trazidos pelos Portugueses entre os séculos 16 e 19, foram décadas de escravidão. Conforme Silva (2008, p. 17) A normas legais rígidas foram adaptadas para os escravos, tidas por eles como a solução que a Coroa Portuguesa teve para construir um aparato judicial de modo a programar um sistema produtivo baseado na exploração de negros trazidos da África. Foi a partir do que ficou estabelecida pelas Ordenações, a situação jurídica referente à escravidão africana no Brasil se desdobraria de forma a se inovar quando era permitido, e oportuno, e recuar em períodos necessários, sempre com fundamento nos interesses da Coroa Portuguesa. O meio de atividade escravista era desenvolvido através de um comércio ativo dos negros apanhados no continente africano e transportados pelos navios negreiros para o Brasil. No Brasil, a escravidão no era uma condição imposta pela raça e cor da pele, mesmo que o escravo conseguisse fugir, não lhe era possível a reintegração social. Portanto, a cor da pele foi preponderante para a manutenção da escravidão. (SILVA, 2008, p. 26). Todavia as mazelas sociais persistiram por muitos anos, nossa nação ficou conhecida pelo longo período do escravismo e pelo racismo aqui praticado, maior do continente. A escravidão brasileira foi a mais longa comparada aos outros países das Américas, foi um empreendimento financiado pelo estado tendo por base a 5 exploração do negro, implicando assim também na desqualificação da cultura, valores e religião. Com a segunda maior população negra do mundo, o Brasil fica atrás apenas da Nigéria, de mesmo modo ficou conhecido por ter sido o ultimo país da América Latina a abolir oficialmente a escravidão (BARROS, 2019). Observa-se que a mácula do preconceito ainda perdura a sociedade em pleno século XXI, gera imobilidade e desigualdade social, estancando assim o desenvolvimento de um país democrático. Foram três séculos de escravidão e de um processo de abolição completamente alheios às necessidades dos negros, sem o menor intuito de integrá- los a sociedade brasileira. Na forma resumida, o processo de discriminação racial e o preconceito que gira em torno da população negra derivam da história de colonização, o racismo como mecanismo que mantém a dominação do colonizador sobre o colonizado. A questão das desigualdades raciais está ligada a sociedade, economia e política, de acordo com Geruza de Fátima Tomé (2005): Acredita-se que a luta política pela igualdade entre negros e “brancos” não está desconectada da luta pelo fim de uma sociedade que tende a homogeneizar culturas, hierarquizar e coisificar as relações entre as pessoas que, em última instância, estão condenadas a serem reduzidas simultaneamente a consumidores e mercadorias. Assim sendo, para que homens e mulheres sejam humanamente emancipados – já que a emancipação política já ocorreu – e tenham todos as mesmas condições de desenvolver suas potencialidades e uma autêntica individualidade, se faz necessário, antes de tudo, repensar radicalmente este modelo de organização da vida econômica, social e política. Parte-se do pressuposto de que o campo da luta política é expressão direta do modelo econômico adotado, sendo impossível alterar àquela significativamente em prol de uma maioria reprimida, independentemente da cor da pele e do gênero, sem que o campo de reprodução da vida, ou seja, a estrutura econômica e produtiva seja alterada em profundidade, não apenas de forma superficial, mas chegando assim na raiz do problema. Desta forma, a desigualdade entre negros e brancos vai muito além de uma questão apenas social, mas sim política e econômica, por ser uma classe menos desfavorecida desde o seu surgimento, os negros vêm enfrentando dificuldades na sua trajetória de vida social e principalmente na sua inserção no mercado de trabalho, percepção salarial, ocupação de cargos menos, incentivando assim discriminação racial. Em um país que venceu a escravidão e quebrou varias barreiras sociais, o Brasil de fato se imagina em uma democracia no nosso país, mas que não é suficiente para democracia racial, vale salientar que sim, existe acabar com as desigualdades sejam elas quais forem a Constituição do Brasil assegura que todos são iguais perante a lei, mas a sociedade não trata igualdade como prioridade. As leis brasileiras e as normas internacionais proíbem ao empregador e a qualquer pessoa a adoção de qualquer prática que implique preconceito ou discriminação em virtude de raça. Nesse sentido é a orientação expressa na Constituição Federal, artigo 3º, inciso IV: promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641719/artigo-3-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10731577/inciso-iv-do-artigo-3-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 6 2.2 PRINCÍPIO DA IGUALDADE E A DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL A constituição Federal Brasileira em seu art. 5º de forma expressa e clara diz que todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza, garantindo a todos direitos iguais, como direito a vida, liberdade, igualdade e segurança. Igualdade como um comando jurídico, institui uma das mais importantes normas jurídicas, através de certo esforço por parte dos intérpretes do ordenamento para uma aplicação ajustada, por isso, este princípio serve como direcionamento de interpretação e compreensão de todas as normas que compõe o sistema jurídico. De acordo com a Organização internacional do trabalho (2006, p. 83): A teoria da igualdade de direitos é um legado da filosofia política, que inaugurou a era moderna, fundada nas teses do direito natural de que todo ser humano possui idêntica dignidade. A idéia da igualdade não permaneceu apenas no campo teórico. Ela foi absorvida pelas declarações de direitos e as constituições modernas e, a partir de então, considera-se antijurídica a conduta que afronta o princípio da igualdade. Ao que se refere o racismo, ele é considerado uma concepção que implica a relação de uma raça sobre as outras na qual se pretende criar uma justificativa para atitudes de preconceitos contra os indivíduos, rompendo assim o princípio da igualdade. De acordo com Sunstein (2009, p. 174-175) o direito tem a função de oferecer um tratamento distinto que promova a igualdade, mas, no formato paradoxal, como instância social de regulação, presta-se com frequência a manter situações de privilégio e opressão. Pode-se afirmar que a ideia de igualdade passa a fazer parte da realidade dos novos tempos, estáligada com a ideia de democracia e de justiça social é a partir disto que se pode entender o Estado democrático social de direito. Os direitos da coletividade exigem o papel intervencionista do estado, que deve criar condições necessárias para seu efetivo exercício regular. Para Barros (2019, p. 65). A constituição de 1988 é tida como a mais democrática que já existiu no Brasil, tudo isso é fruto de uma vasta mobilização da sociedade, que conseguiu enxergar através do processo constituinte, uma possibilidade de reconstruir direitos, criar novos caminhos e quebrar diversas formas de desigualdades construídas durante todo o país. O que Maffeton e Veca (2005, p.390) explanam é que a finalidade principal da justiça social é constituir o modo como o Estado pelo meio das instituições sociais distribuem os direitos e deveres fundamentais e originam a subdivisão dos benefícios da cooperação social. Deste modo, a Constituição Federal de 1988, buscou materializar o princípio da igualdade, a superar o princípio da igualdade meramente formal disposto no “caput” do artigo 5º, para atingir a igualdade material quando no seu artigo 3º determina que sejam objetivos basilares da República Federativa do Brasil arrancar a pobreza e a marginalização, bem como a diminuição das desigualdades sociais e regionais, haja vista, que a igualdade. Esclarece que a igualdade jurídica surge inseparável da própria liberdade individual, e que a ser idêntica perante a lei não significa apenas a aplicação da lei. O tratamento entre todos os cidadãos deve ser igual, pois, para todos os indivíduos 7 com as mesmas características devem prever-se, através da lei, iguais estados ou resultados jurídicos. (CANOTILHO 2003, p.427-428) Conforme Gisela Maria Bester (2008, p.176) ao afirmar que “de uma concepção passiva o princípio da igualdade adquiriu uma concepção de ação ativa, com o escopo de eliminar as discriminações e promover oportunidades de acesso de todas as pessoas aos diversos setores sociais”. Os povos negros devem ser protegidos através da efetivação da igualdade material, pois segundo afirma Serge Atchabahian (2006, p.79): O principio da igualdade deve ser considerado não proporcional vez que varia de acordo com as exigências do ser humano. É proporcional, pois longe de ser algo inalterável, relativo aos homens, deve levar em conta as peculiaridades destes. Desta forma, o principio da igualdade deve ser considerado não como igualdade absoluta, mas sim como igualdade proporcional vez que varia de acordo com as exigências do ser humano. É proporcional, pois longe de ser algo inalterável, relativo aos homens, deve levar em conta as peculiaridades destes. Essa igualdade pode ser colocada em prática através da “discriminação positiva”, buscando assim uma verdadeira igualdade entre as partes. Neste sentido, preconiza Pires (p. 18-19): [...] que prevêem um tratamento distinto para certas pessoas ou categorias de pessoas, com vista a garantir-lhes uma igualdade material em relação aos outros membros da sociedade. Essas normas são tendencialmente temporárias e vigoram enquanto se verificar a situação desfavorável, devendo deixar de vigorar logo que ultrapassada a desigualdade. Portanto, observamos um sistema que tem o racismo, nos mostra que a sociedade vem mantendo a dominação e a exploração de povos menos favorecidos através de um sistema totalmente desigual. Assim o princípio da igualdade busca condições para que a desigualdade seja superada, adotando medidas compensatórias e eficazes. 2.3 GARANTIAS CONTRA DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL Na legislação antidiscriminatória anterior à constituição de 1988, a discriminação já estava presente, desde a primeira constituição, a Carta Imperial de 25 de março de 1824, “a igualdade é contemplada como princípio insculpido entre os direitos fundamentais assegurados aos indivíduos; a escravidão então vigente, nem considerava todo indivíduo gente, que dirá igual”. (ROCHA, 1996). Mais a frente, a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 16 de julho de 1934, contém alguns dispositivos particulares: Art. 113, 1. Todos são iguais perante a lei. Não haverá privilégios, nem distinções, por motivo de nascimento, sexo, raça, profissões próprias ou dos pais, classe social, riqueza, crenças religiosas ou idéias políticas. Art. 121, § 6 A entrada de imigrantes no território nacional sofrerá as restrições necessárias à garantia da integração étnica e capacidade física e civil do imigrante, não podendo, porém, a corrente imigratória de cada país exceder, anualmente, o limite de dois por cento sobre o número total dos respectivos nacionais fixados no Brasil durante os últimos cinqüenta anos. 8 Nessa abordagem, existia restrição da entrada de imigrantes no país fazendo com que houvesse discriminação advinda propriamente da constituição daquela época. A grande maioria dos imigrantes era negra. Embora naquela época houvesse conhecimento sobre a existência do racismo no Brasil, ele ficou reconhecido apenas em com a aprovação da Lei n. 1.390/51 conhecida como "Lei Afonso Arinos", reconhecido como primeiro instrumento legal na república federativa do Brasil a de atos à discriminação racial. De acordo com a lei penal de forma expressa previu a incriminação das práticas relacionadas à descriminação racial tendo como foco a etnia e cor da pele. (SILVA, 2008, p.76). A Organização internacional do trabalho explanou de forma clara ao falar da Constituição brasileira, que sob “influencias de normas internacionais, em seu art. 4º, VIII, quando delineia os princípios que deverão reger as suas relações internacionais” , a fixação dos objetivos devem ser atingidos pela República brasileira, que como norma programática promove o bem de todos. (OIT, 2006, p. 83). O legislador ordinário ainda expandiu os critérios constitucionais a proibir qualquer prática de discriminação e o preconceito em razão da raça, raça e demais aspectos que estão expressos no nosso texto Constitucional. No texto constitucional, mais precisamente em seu art. 5º e também através da lei Lei 7.716/89 são sopesadas condutas tidas como crime de racismo e agravante de ser inafiançável e imprescritível. Organização internacional do trabalho (2006, p.84) expõe as garantias expressas sobre os ilícitos trabalhistas: Ocorrem também ilícitos trabalhistas quando da adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa do acesso à relação de emprego, ou sua manutenção, por motivo de raça, cor ou origem (Lei 9029/95). No caso de rompimento da relação de trabalho, em face de discriminação fundada nesses critérios, é facultado ao empregado optar entre a readmissão, com ressarcimento integral de todo o período de afastamento, ou a percepção, em dobro, da remuneração do período de afastamento (art. 4o , I e II, da Lei 9.029/95). Conforme visto a cima, há garantias sobre atos de discriminação dentro do direito do trabalho, que visa adoções de medidas nas quais protegem os negros de condutas dentro do ambiente em que trabalham. Para configuração do crime de racismo é indispensável o dolo, ao que se fala nas relações de trabalho, esse dolo tem que ser específico. São vários os dispositivos que buscam a isonomia entre os trabalhadores. Na própria CLT, pode-se destacar o artigo 460, no que trata a falta de estipulação salarial, que o empregado terá direito de receber salário igual ao daquele que, na mesma empresa, prestar serviço equivalente, ou do que for habitualmente pago para serviço semelhante. Essa norma deixa claro o desígnio de afastar qualquer discriminação no que se refere a salário pago por serviço idêntico ou equivalente, mesmo que na prática não se tem a mesma eficácia do que está previsto na CLT. É importante ressaltar que a conduta criminosa é aquela que recusa e dificulta o acesso de um individuo que é qualificado de forma devida a cargo ou emprego, seja ele públicoou privado em ração de discriminação. 9 Determina a lei 9.459/97 o crime de injúria racial, no qual o ofendido é o decoro, ou o indivíduo ver sua honra atacada indignamente de forma subjetiva, também se pode configurar discriminação de cor, raça, religião e origem. 3 O RACISMO INSTITUCIONAL E O RACISMO ESTRUTURAL No tocante ao debate sobre o a questão social, pode-se encontrar as mais variadas formas e definições do racismo. Buscando trazer a realidade concreta dessas definições, cabe repensar como são organizados e demarcados os espaços e privilégios em relação ao negro e ao branco nas diversas instituições. 3.1 DEFINIÇÃO E SURGIMENTO DO RACISMO INSTICUCIONAL O racismo Institucional é a manifestação do preconceito e seletividade por parte das instituições públicas e privadas, do Estado e das leis, que mesmo de forma indireta promovem o preconceito racial e exclusão dos negros da sociedade. De acordo com Morais (2013, p. 11) “O termo Racismo Institucional nasceu na década de 1960 através do Movimento Negro Norte-americano, mas só ficou definido três décadas depois, mais precisamente em 1990 na Inglaterra, como resposta ao assassinato do jovem negro Stephen Lawrence por uma gangue branca” Na mesma linha de raciocínio, o racismo é um sistema de ideias que se concretiza nas relações entre pessoas e grupos, na representação e desenvolvimento das políticas públicas, nas organizações estatais e estruturas governamentais. Ou seja, trata-se de um acontecimento de abrangência ampla e complexa que adentra e participa da cultura, da política e da ética. No tocante ao surgimento do racismo institucional Morais (2013, p.12) expõe: No Brasil, o Racismo Institucional é informado por uma maneira notadamente peculiar de lidarmos com a questão racial. A ideia de que, pelo fato de não possuirmos segregações raciais legitimadas por um aparato jurídico, e as distinções territoriais e simbólicas não serem nomeadas através de dualismos de cor como ocorre, por exemplo, nos Estados Unidos, construímos nosso cotidiano de forma harmoniosa no que diz respeito à questão racial, finda por legitimar o privilégio da população branca, silenciando parte considerável da população negra e perpetuando uma desigualdade que se mantém sempre sob o atributo da diferença social. As instituições condicionam o comportamento dos indivíduos, resultando em disputa por poder político e conflitos de poderes. Pode-se dizer que essa percepção institucional do racismo tem como elemento fundamental a relação racial. Detêm o poder os grupos que exercem domínio sobre a organização dessas instituições, na forma política, econômica e social. Almeida (2019) aduz que o domínio no racismo institucional se dá pelos estabelecimentos de parâmetros discriminatórios baseados e m raça, no qual serve para manter a supremacia do grupo racial que está no poder. Contudo, os padrões de cor, e as práticas de poder de um determinado grupo tornem-se um horizonte amplo e sociável. Assim o domínio da classe branca em cargos nas instituições públicas e privadas não dependeriam de padrões que direta ou indiretamente dificulta a ascensão do negro em segundo lugar. 10 No tocante ao que chamamos de hegemonia, o termo não é apenas utilizado de forma acidental, vez que um grupo social pode oferecer resistência. O dever de assegurar o controle da instituição é do grupo predominante, da mesma forma devem ser feitas concessões aos grupos subalternos para que sejam debatidas questões essenciais, permanecendo assim a harmonia do grupo. 3.2 RACISMO ESTRUTURAL Não se trata tão somente de um poder de um indivíduo de uma raça sobre o outro, mas sim de um grupo sobre o outro, transcende a relação individual. Acontece quando há controle direto ou indireto de determinados grupos institucionais. Vimos que as instituições reproduzem condições para manter a ordem social, desta forma é possível dizer que o racismo institucional significa interposição de regras e padrões racistas que se vincula a ordem social na qual deve se tentar manter resguardada. De modo que a instituição está inteiramente ligada e condicionada a uma estrutura social que existe previamente, os conflitos que existem, o racismo praticados, fazem partes dessa estrutura. (Almeida, 2019). A viabilidade de práticas de racismo está estruturada em um sistema e organização política, econômica e jurídica da sociedade. Vale salientar que o racismo se expressa de forma concreta conforme essas desigualdades, porém o uso do termo “estrutura” não quer dizer que o racismo seja uma condição na qual não se pode reverter ou até mesmo amenizar. Também vale salientar que existem várias ações política institucional antirracista que buscam combater esses atos discriminatórios, e que também não quer dizer que esses atos cometidos pelos indivíduos não sejam punidos. Falar isso seria negar a evolução no aspecto social e histórico do racismo, mesmo ainda tendo muito a melhorar em todos os sentidos. O racismo estrutural está pressente através da naturalização de hábitos, situações, falas e pensamentos que estão presentes no cotidiano da sociedade brasileira e que de forma direta ou indireta incentiva a segregação e o preconceito racial. As questões raciais são estruturantes porque fazem parte da construção das nossas sociedades. As subjetividades que a sociedade compõe preconceitos, no qual acabam construindo as relações de desigualdades sociais que são estabelecidas e impostas pela sociedade. E essas relações estão impregnadas de uma construção histórica equivocada, que mantém a população negra em posição de subalternidade. Ainda que os indivíduos que cometem atos racistas sejam punidos e responsabilizados, o olhar estrutural sobre as relações sociais faz chegar à conclusão que apenas a responsabilização jurídica não é suficiente para que uma sociedade racista deixe de produzir desigualdade racial. No entendimento a estrutura do racismo Almeida (2019) diz: A ênfase da análise estrutural do racismo não exclui os sujeitos racializados, mas o concebe como parte integrante e ativa de um sistema que, ao mesmo tempo que torna possíveis suas ações, é por eles criado e recriado a todo momento. O propósito desse olhar mais completo é afastar análises superficiais ou reducionistas sobre a questão racial que, além de não contribuírem para o entendimento do problema, dificultam em muito o combate ao racismo. 11 Pensar em racismo como parte da estrutura não retira a responsabilidade de cada indivíduo sobre as diversas práticas discriminatórias e não é um álibi para racistas, muito pelo contrário, ao entender o racismo como uma forma estrutural e não apenas um ato isolado de um grupo ou um indivíduo torna a sociedade mais responsável ao combate ao racismo e aos racistas. Entender que o racimo é parte da estrutura social, e desta forma não precisa de intenção para ser manifestado, calar-se diante dele não faz o individuo moral responsável ou culpado na forma jurídica, o silêncio o torna responsável pela manutenção do racismo em aspecto ético e político. A mudança da sociedade depende antes de tudo de adoções de práticas antirracista, uma postura que leva a sociedade a seguir essas práticas. Denuncias e repúdio moral não vai fazer com que essa prática seja erradicada. 4 MERCADO DE TRABALHO E O RACISMO Existe uma imensa dificuldade por direitos a democracia e igualdade de condições e oportunidades de trabalho para toda população negra, visto tamanha injustiça em todos os meios e de todas as formas, sejam sociais, econômicas, de gênero, raça e cor. Essas desigualdades de classes estão intrínsecas ao modelo capitalista de organização e reprodução de uma sociedade desigual. 4.1 A INSERÇÃO DO NEGRO NO MERCADO DE TRABALHO Apesar da abolição da escravidão desde o Brasil Colonial, ainda mantemos viva a escravidão e o preconceito vivo, principalmente quando se fala em desiguales no mercadode trabalho. Essas práticas se tornaram tão comuns que chegam até o serem invisíveis para quem não sofre esse tipo de preconceito. Existem leis brasileiras e normas internacionais que proíbem o empregador ou qualquer outro indivíduo o uso de qualquer prática discriminatória dentro do ambiente de trabalho Foi através da Convenção nº 111 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), de 1958, ratificada pelo Brasil e promulgada pelo Decreto nº 62150, de 1968, estabeleceu a abolição de toda discriminação em matéria de emprego, inclusive por motivos de raça. Vale salientar que a OIT tratou sobre os princípios e os direitos fundamentais no trabalho onde todos os Estados membros dentre eles o Brasil, reafirmaram compromisso de aplicar o princípio da não discriminação em matéria de emprego. No que se fala Neto (2014, p.17): A proteção ao trabalho está consubstanciada no artigo 1º da Constituição Federal de 1988, segundo o qual os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa são fundamentos da estrutura social brasileira e neste sentido cumpre garantir aos homens e mulheres o direito de ter emprego.Assim, ao se referir a homens e mulheres, a Constituição não faz nenhuma outra distinção, aliás, limita-se em elencar homens e mulheres, tendo em vista a abrangência das expressões, encontrando-se implícito que homens e mulheres de toda raça, cor, religião, opinião política, ascendência nacional ou origem social, tal qual aquelas minorias elencadas na Convenção 111 da OIT dispõem de igualdade. O conceito de minorias não deve se prender a um pequeno grupo de pessoas (quantidade) mais sim ao grupo de pessoas que se torna hipossuficientes diante da relação de trabalho. http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/115875/decreto-62150-68 12 O Direito do Trabalho surgiu, então, para proteger os trabalhadores menos favorecidos e mais explorados, no qual se enquadram os negros, mesmo diante das novas legislações e políticas afirmativas adotadas pela legislação brasileira, o índice de discriminação dessa população ainda é assustador. A discriminação no mercado de trabalho começa na seleção ou o que podemos chamar de pré-contratação, um dos exemplos claros seria os anúncios ofertando vagas para pessoas de boa aparência, desencadeando assim margens para discriminação de variadas espécies. Ainda fala Neto (2014, p. 23), em outros tipos de práticas pré-contratuais que seriam os denominados “listas sujas” que é o trabalhador que processou seu antigo empregador, ou pleiteou seus direitos e encargos trabalhistas junto à justiça. Essa prática é muito comum no cotidiano das empresas e não existe legislação interna que vede esses atos praticados pelos empregadores. Durante o contrato de trabalho, as práticas discriminatórias ocorrem em grandes números, apesar das descritas acima, existem outras bem corriqueiras no mercado de trabalho, tanto envolvendo promoção quanto ao término do contra de trabalho. De acordo com os dados da Síntese de Indicadores Sociais (SIS) na qual foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), os trabalhadores negros enfrentam mais dificuldade de encontrar um emprego se comparados a trabalhadores brancos, mesmo quando possuem a mesma qualificação. Quando trabalham, recebem até 31% menos, na mesma pesquisa também se fala que 56% dos brasileiros se alto declaram pretos ou pardos (IBGE, 2019). Conforme dados acima citados, os povos de cor escura, mais precisamente aqueles que buscam uma oportunidade de trabalho, enfrentam ainda um longo caminho e os mais variados obstáculos para serem inseridos no mercado. Ao se falar da inserção do negro no mercado de trabalho, não se pode esquecer-se de um caso mais especifico que é o da mulher negra. Não é novidade o fato das mulheres ganharem menos que os homens e terem menos oportunidades no mercado de trabalho, desta forma, a desigualdade reflete em maior escala sobre mulheres de pele escura. De igual forma, estudos realizados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comprovaram que uma mulher negra tem precisa trabalhar 55 minutos a mais para ganhar o mesmo salário que um homem branco ganha em uma hora, já os homens negros o número é de 45 minutos a mais (IBGE, 2019). A situação apresentada desponta um aspecto crucial da desigualdade social no país, acarretando assim na injusta distribuição de riqueza, privilegiando uma parcela mínima da sociedade, em detrimento dos trabalhadores. Essas diferenciações de comportamentos foram historicamente disseminadas desde muito tempo em todo país. Essas desigualdades refletem em como a população negra sofre para serem inseridos no mercado de trabalho, mesmo tendo as mesmas qualificações ou muitas vezes até mais qualificados que pessoas brancas. Verifica-se, portanto que o fenômeno de discriminação no mercado de trabalho é universal, porque que vemos que a relação de trabalho e a relação de poder é um terreno propício para determinadas práticas de discriminação, não havendo fiscalização que venha a prevenir tais práticas. https://www.brasildefato.com.br/2019/11/19/pretos-e-pardos-tem-maior-taxa-de-desocupacao-segundo-ibge/ https://www.brasildefato.com.br/2019/11/19/pretos-e-pardos-tem-maior-taxa-de-desocupacao-segundo-ibge/ https://www.brasildefato.com.br/2019/11/19/pretos-e-pardos-tem-maior-taxa-de-desocupacao-segundo-ibge/ 13 A falta de oportunidades e o alto índice de desemprego fazem com que os negros se submetam a qualquer tipo de trabalho no qual são explorados, ocupando assim cargos subalternos, recebendo salários que não condizem com sua formação intelectual, apenas por nascer com a pele escura. 4.2 AÇÕES AFIRMATIVAS QUE PROMOVAM A IGUALDADE DO NEGRO NO MERCADO DE TRABALHO As ações afirmativas estão muito relacionadas com o papel do estado na promoção de igualdade e oportunidades e a não discriminação, nesse aspecto estão incluídos a população negra, que por sua cor são desrespeitados e menos favorecidos, por um mercado de trabalho onde não existe igualdade social. Podemos observar, de acordo com a organização internacional do trabalho (2006, p. 156): Hoje é muito difundida a idéia de que medidas de desigualização em favor de pessoas ou grupos que sofrem desvantagens sociais são positivas, porque visam corrigir desigualdades históricas ou presentes. Em razão disso, multiplicam-se ações e políticas que vão nessa direção. É o caso da ação afirmativa fundada na idéia clássica de justiça social, que consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida em que se desigualam. Isso com a finalidade de implementar uma “igualdade concreta (igualdade material), no plano fático, que a isonomia (igualdade formal), por si só, não consegue proporcionar”. As ações afirmativas desigualam para poderem igualar, mais notadamente uma igualdade no tocante a oportunidades para aqueles que se encontram como vulneráveis no mercado de trabalho e também na sua vida social. A igualdade entre os povos sejam por cor, raça, sexo, religião, devem ser corrigidas igualmente sob medida justa e eficaz, não apenas na legislação e nos dispositivos a que se estão previstas. Para todos os efeitos as ações afirmativas é um termo de bem amplo alcance na qual deve indicar conjunto de estratégias políticas, econômicas e sociais, e é através dessas ações que se procura favorecer ou igualar determinados grupos sociais que sofrem essas desigualdades negativas e também discriminações. Pertencer ao grupo dos brancos sempre foi uma maneira mais fácil de ter acesso mais recorrente ao bem-estar, saúde, segurança e oportunidades. É o que podemos presenciar em uma sociedade cujo modelo rotula as pessoas desde a sociedade ocidental, passando pelo colonialismo até a modernidade dos dias atuais. De toda forma,pertencer ao grupo dos negros é pertencer a uma parcela inferior, marginalizada e dominada, sujeitos por muito tempo considerados “coisa” em qualquer direito de cidadania. (SILVA, 2008, p. 86). O estado brasileiro tem o papel de colocar em prática ações afirmativas que visem acelerar o ritmo de participação das classes menos desfavorecidas em todos os aspectos sociais, para que esses povos sejam inseridos e acolhidos igualmente na sociedade, no trabalho, nas escolas, universidades e que haja tratamento igual. Para Silva (2006, p. 102) o Estado brasileiro não pode esquecer-se de programar normas legais que implicam na busca do respeito à igualdade material para que os princípios e regras se tornem eficazes ao plano social, caso contrário corre-se o risco de serem apenas programáticos e escritos, como mera formalidade. A despeito da questão social, o maior desafio que é enfrentado é a aplicabilidade e eficácia do principio da igualdade, de um lado coibindo toda e qualquer forma de discriminação e do outra execução de medidas que reduzam essas desigualdades. 14 No tocante ao combate a discriminação o nosso ordenamento ainda não é capaz de ter resposta para punir todo tipo de discriminação, seja ela qual for, principalmente as que são internas, tanto nas públicas como nas privadas, que é onde ocorre o maior índice de discriminação racial. Contudo, nota-se que a preocupação com a diversidade vem crescendo nas empresas, mesmo que em sua parcela mínima, o negro vem através de muitos anos ganhando seu espaço no mercado de trabalho. Através de movimentos sociais em todo o mundo, vem-se dando mais visibilidade e voz a toda e qualquer prática de discriminação no mercado de trabalho e em mais áreas da vida desses povos. As empresas vêm cada vez mais se preocupando em adotar programas de inclusão, no interesse de não apenas melhorar a imagem da empresa, mas sim, ampliar os seus meio de competitividade, tornar o ambiente de trabalho mais coorporativo e mais produtivo, fazendo com que seja mais receptível a todos os tipos de diferenças. Vale ressaltar de acordo com a organização internacional do trabalho (2006, p.160): Ressalte-se que a ação afirmativa está relacionada à idéia de igualdade proporcional, exigida pelo bem comum, que, para ser alcançado, faz-se necessária a eliminação das desigualdades, por meio de medidas corretivas, protetivas de direitos, ou distributiva de benefícios ou encargos, entre os membros da sociedade. A ação afirmativa, assim concebida, é a expressão clara da noção de igualdade substantiva, uma vez que procura assegurar justiça social por meio da igualação de disparidades intergrupais. No Brasil existem algumas ações afirmativas, uma delas é a fixação de quotas, que seria a reserva de espaço em favor de grupos sociais desfavorecidos, como por exemplo, o negro e a pessoa com deficiência, para promover-lhes a inserção social nas universidades e em vagas para cursos profissionalizantes, assim como para inserção no mercado de trabalho. Existem ainda outros mecanismos inclusivos que produzem efeitos a melhorar a participação social desses povos menos desfavorecidos, no qual seria a implantação de divulgação de programas de oferta vagas para negros, tratamentos preferenciais não diferenciando dos demais, mas sim tentando a igualdade dos povos. Para a OIT (2006, p. 163) o sistema de quotas é apenas uma das modalidades de ações afirmativas que visam corrigir essas desigualdades. Para muitos esses sistema se restringe apenas para universidades, mas ele pode e deve ser abrangido para programas de profissionalização do menor; de promoção ao primeiro emprego; de formação profissional e qualificação para o trabalho da mulher e da pessoa com deficiência; de combate à discriminação dos trabalhadores portadores do vírus HIV/AIDS; de combate à homofobia; e de promoção da diversidade no ambiente de trabalho. A ampliação de quotas para diversos tipos de programas e situações seriam uma ação afirmativa eficaz no combate a discriminação na sociedade e nos mais variados tipos de ambientes sociais, fazendo com que a população negra tenta vez e voz, e que os demais povos saibam respeitar o lugar de pessoas negras, tratando como iguais, mas, respeitando e compreendendo a sua história e luta contra o preconceito. Além das quotas, como já ressaltado, existem inúmeras medidas que podem configurar uma ação afirmativa. Elas tanto podem incidir de iniciativas 15 públicas, como é o caso das políticas para as mulheres, das políticas de promoção de igualdade racial e da política para a integração da pessoa portadora de deficiência (Dec. n. 3.298/99), que compreende um conjunto de ações que objetivam assegurar às pessoas com deficiência o pleno exercício de seus direitos, como devem também advir de iniciativas privadas, internas das próprias empresas. (OIT, 2006, p. 163) Existem dois princípios no qual se refere à discriminação racial, a secretaria especial de políticas de promoção de igualdade racial (SEPPIR), desenvolve uma política institucional na qual usa como base esses princípios, o primeiro é o princípio da transversalidade no qual informa ações de implementação em todas as esferas públicas e privadas, devido à existência de dificuldade de demarcar uma área maior de significância para enfrentar os efeitos da discriminação racial, por isso essa política de incorporar a equidade étnica racial sobre diversas iniciativas do poder público e privado. Também existe o princípio da descentralização, este, por sua vez permite à inserção das políticas públicas de promoção a igualdade racial em todos os entes da federação (união, estados, municípios e distrito federal) que assim teriam o dever de colocar essas políticas em práticas para que tenham abrangência nacional. Desta forma todos os agentes, ou melhor, dizendo, todas as entidades estariam assim compromissadas com a perspectiva de trabalho compartilhado para soluções análogas as questões sobre discriminação racial. (OIT, 2006, p. 168). Conclui-se que há vulnerabilidade nos grupos discriminados, e cabe não tão somente iniciativa do estado, mas também da população no geral e nas próprias empresas a criação das mais variadas ações afirmativas, programas de integração social, em atuação conjunta ao combate a discriminação e preconceito que ocorre em todas as áreas dos indivíduos, tem de haver interesse público para acabar com essas práticas, haver fiscalização para que essa sociedade se materialize de deixe de ser taxada e vista como uma sociedade racista e que passe a ser conhecida como uma sociedade igualitária, onde o princípio da igualdade é aplicado de forma eficaz. Os desenvolvimentos de programas que insira os negros tanto na formação educacional quanto na inserção no mercado de trabalho, deveriam ser ampliados e ofertado a esses, tidos como uma classe menos favorecida. Falta-se mais ênfase na realização de campanhas a fim de sensibilizar e conscientizar os empregadores nos setores públicos e privado, com o objetivo de incentivar a contratação de pessoas negras, por meio das mídias e ferramentas de comunicação. Deste modo, verifica-se o empenho do governo na construção de políticas públicas para pessoas ngras, a exemplo de todas as propostas aprovadas acima, bem como a participação da sociedade civil que atua corroborando os movimentos reivindicatórios, através de associações e organizações não governamentais que visam diminuir as estatísticas de exclusão social. Quando é dada a oportunidade de qualquer cidadão opinar e colaborar na criação de políticas públicas, facilita a aproximação do governo com a sociedade, deixando-o mais consciente das ações que são prioritárias, afinal somos nós cidadãos que seremos atingidos por elas. 16 5 CONCLUSÃO Diante do exposto no presente artigo, pôde-se constatar que os negros sofrem com a discriminação desde muito tempo, e esse fenômeno do racismo e discriminaçãotem sua formação nacional histórica. As práticas advêm desde a escravidão, onde até hoje existem feridas profundas e difíceis de serem curadas mesmo com todos os avanços da sociedade. No Brasil as políticas de afirmações são recentes, e ainda não foram totalmente recepcionadas e colocadas em práticas de maneira correta, ou se pode dizer, que não tem a eficácia a qual se pretende, nem mesmo o alcance a qual se queria chegar. Para um país que acabou com a escravidão deveria ter avançado mais em relação à inclusão de pessoas menos favorecidas seja por conta da cor, raça, sexo, religião e demais povos que são rotulados e deixados em segundo plano. Foi visto que as práticas de discriminação são tanto internas como externas, e que além de ser responsabilidade do estado, também é de responsabilidade de todos os órgãos, entidades, pessoas jurídicas e também pessoas físicas. Como foi exposto o Brasil é o segundo país com a maior população negra do mundo, isso só afirma a responsabilidade que se deve ter para com esses povos, que de um lado é visto como minoria, mas de forma comprovada os números nos mostra a proporção desses no nosso país. Verifica-se que o processo de implantação dessas ações é praticamente isolado e não integradas metodicamente, em uma estratégia nacional de acessibilidade universal à educação, de oportunidades igualitárias no mercado de trabalho. Cabe uma reflexão sobre unificar programas e ações de maneira a conscientizar a sociedade que há uma construção e um ganho maior para todos os povos, tanto políticos, sociais e econômicos em razão de tais políticas adotadas. Os negros tem cada vez se encorajados a buscar seus direitos e a não aceitar discriminação e também serem menosprezados, injuriados por conta da cor de sua pele, vem ganhado espaço através de movimentos sociais, protestos e usando as mídias sociais ao seu favor para ensinar o que é o racismo, o que ele acarreta na vida de quem sofre por não ter oportunidades iguais, conscientizar pessoas a verem o lado e a se colocar no lugar dos inúmeros povos que sofrem qualquer tipo de preconceito, seja no dia-a-dia, nas oportunidades de trabalho, dentro da própria empresa, escola e unidades de saúde, ou seja, em todos os ambientes que não se consegue citar. Conclui-se, portanto que não se trata de apenas inserção da população negra no mercado de trabalho, mas, uma questão social que afeta todas as áreas de quem sofre esse tipo de preconceito, e que merecem serem tratados de forma igual aos demais, terem as mesmas oportunidades, lutarem pelos seus objetivos sem se preocupar com olhares diferentes, com o repúdio, ter vez e voz como todos os outros, se qualificar e receber os mesmo salários que os demais, nada mais justo que sejam respeitados e tenham seu espaço. 17 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Djamila Ribreiro Silva. Racismo Estrutural: feminismos plurais. Pólen Produção Editorial LTDA, 2019. ATCHABAHIAN, Serge. Princípio da igualdade e ações afirmativas. 2.ed. São Paulo: RCS Editora. 2006. BARROS, Marcelo. União e resistência negra. Instituto humanitas unicamp. 2019. Disponível em: http://www.unicap.br/ihu/?p=11818. Acesso em: 18 Jun. 2020. BESTER, Gisela, Maria. 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