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[O Citoesqueleto] Considerações Gerais A capacidade das células eucarióticas de adotarem diversas formas, organizarem os componentes em seu interior e interagirem mecanicamente com o ambiente e realizarem movimentos coordenados, é dependente do citoesqueleto - uma intricada rede de filamentos proteicos que auxilia o suporte do grande volume de citoplasma de uma célula eucariótica. O citoesqueleto é uma estrutura altamente dinâmica que está sendo reorganizada constantemente. É diretamente responsável pelo movimento em larga escala, como a migração de células sobre uma superfície, a contração de células musculares e as alterações no formato celular que ocorrem ao longo do desenvolvimento do embrião. O citoesqueleto é construído a partir de três tipos de filamentos proteicos: filamentos intermediários, microtúbulos e filamentos de actina. Filamentos Intermediários Apresentam grande resistência a tensão, e sua função principal é permitir que as células resistam ao estresse mecânico. Esses filamentos são denominados intermediários pois seu diâmetro (aproximadamente 10nm) encontra-se entre o diâmetro dos delgados filamentos que contem actina e aquele dos espessos filamentos de miosina. Eles são os mais resistentes e duráveis dos três tipos de filamentos citoesqueléticos. A maioria dos filamentos intermediários são encontrados no citoplasma das células animais. Esses filamentos são também encontrados no interior do núcleo, uma trama desses filamentos, a lâmina nuclear, reveste e fortalece o envelope nuclear em todas as células eucarióticas. Os filamentos intermediários são resistentes e semelhantes a cordas, e tornam as células mais resistentes a estresses mecânicos. Eles estão presentes em grandes números, por exemplo, ao longo do comprimento do axônio de células nervosas, fornecendo um reforço essencial para essas extensões celulares, também são encontradas em células musculares e epiteliais, evitando que as células e as membranas rompam em resposta a tração mecânica. Bianca Oliveira Medicina UNP Os filamentos intermediários podem ser agrupados em quatro classes: 1. Filamentos de Queratina em células epiteliais 2. Filamentos de vimentina e relacionados à vimentina em células do tecido conetivo. 3. Neurofilamentos em neurônios 4. Lâminas nucleares A mais diversificada família de subunidades corresponde a das queratinas. Uma célula epitelial individual pode produzir diferentes tipos de queratinas, e estas podem copolimerizar, formando uma rede única. Os filamentos de queratina conferem resistência mecânica a tecidos epiteliais, em parte pela ancoragem dos filamentos intermediários em regiões de contato célula-célula, denominadas desmossomos, ou regiões de contato célula-matriz, denominadas hemidesmossomos. As mutações nos genes de queratina são a causa de diferentes doenças genéticas humanas. Por exemplo, a doença denominada epidermólise bolhosa simples ocorre quando queratinas defeituosas são expressas em células da camada basal da epiderme. Essa doença caracteriza-se pela formação de bolhas na pele mesmo em resposta a estresses mecânicos muito leves, que rompem as células basais. Vários dos filamentos intermediários são ainda estabilizados e reforçados por proteínas acessórios que interligam os feixes de filamentos formando fortes arranjos. Uma proteína acessória de grande interesse é a plectina, além de manter unidos feixes de filamentos intermediários, essa proteína conecta os filamentos intermediários a microtúbulos, a filamentos de actina e a estruturas adesivas nos desmossomos. Mutações no gene da plectina levam uma terrível doença já citada, a epidermólise bulbosa simples (causada pela disrupção da queratina da pele), distrofia muscular (disrupção de filamentos intermediários nos músculos) e neurodegeneração (disrupção de neurofilamentos). Microtúbulos Os microtúbulos são estruturalmente mais complexos do que os filamentos de actina, mas eles também são altamente dinâmicos e desempenham funções comparativamente diversas e importantes para a célula. Os microtúbulos são polímeros da proteína tubulina. Os microtúbulos são tubos ocos e relativamente rígidos que podem rapidamente sofrer dissociação em um determinado local e reassociação em outro. tubulina. A subunidade de tubulina é, em si, um heterodímero formado por duas proteínas globulares intimamente relacionadas chamadas a-tubulina e b-tubulina, cada uma composta por 445 a 450 aminoácidos, sendo as subunidades firmemente unidas por ligações não covalentes Os microtúbulos crescem a partir de uma pequena estrutura posicionada próximo ao centro da célula, o centrossomo (principal centro organizador de microtúbulos em células animais). Eles criam um sistema de vias dentro da célula ao longo do qual vesículas, organelas e outros componentes são transportados. Quando uma célula entra em mitose, os microtúbulos se dissociam e, a seguir, se reassociam sob a forma de uma estrutura chamada fuso mitótico, que fornece a maquinaria necessária para segregar os cromossomos igualmente entre as duas células-filha. Os microtúbulos também formam estruturas permanentes, como as estruturas filiformes de batimento ritmado denominadas cílios e flagelos. Dois centríolos encontram-se imersos no centrossomo, compondo um par de estruturas cilíndricas dispostas em ângulos retos, uma em relação à outra, em uma configuração em forma de L. Um centríolo consiste em um arranjo cilíndrico de microtúbulos curtos e modificados, dispostos em forma de barril e apresentando uma impressionante simetria nonamérica. Juntamente com um grande número de proteínas acessórias, os centríolos organizam o material pericentriolar, onde ocorre a nucleação dos microtúbulos Os microtúbulos em crescimentos apresentam instabilidade dinâmica Após a nucleação de um microtúbulo, sua extremidade mais cresce, tipicamente, em direção à periferia, a partir do centro organizador, pela adição de subunidades, durante vários minutos. A seguir, o microtúbulo sofre uma transição que provoca seu rápido encurtamento por meio da perda de subunidade em sua extremidade livre. Esse comportamento é denominado instabilidade dinâmica, e é controlado pela capacidade intrínseca que as moléculas de tubulina possuem de se hidrolisar. Cada dímero livre de tubulina contém uma molécula de GTP fortemente associada que é hidrolisada para GDP momentos após a adição da subunidade ao microtúbulo. Um microtúbulo em crescimento possui subunidades com GTP em sua extremidade, formando uma proteção, ou capa, de GTP. Se a hidrólise de nucleotídeos ocorre mais rapidamente do que a adição de subunidades, essa proteção é perdida, e o microtúbulo começa a sofrer encurtamento, em um evento denominado “catástrofe”. No entanto, subunidades com GTP ainda podem ser adicionadas à extremidade que está sob encurtamento e, se inseridas subunidades suficientes para formar uma nova capa, o microtúbulo retoma o crescimento em um evento chamado de “resgate”. Os microtúbulos são mantidos por um balanço entre montagem e dissociação A relativa instabilidade deles permite que passem por uma remodelação rápida e continua. As proteínas motoras associadas aos microtúbulos A cinesinas e as dineínas, os protótipos de proteínas motoras associadas aos microtúbulos, movimentam-se através dos micrtoubulos em direções oposta: a cinesina em direção a extremidade positiva e a dineina em direção a extremedidade negativa. A dineina é abundante nos cílios. Tanto a cinesina como a dineina formam famílias semelhantes às proteínas motoras. Alguns membros da família das cinesinas movimentam- se ao longo dos microtúbulos em direção a extremidade positiva. Microtúbulos e motores movem organelas e vesículas Uma função primordial das proteínasmotoras do citoesqueleto em células em interfase é o transporte e o posicionamento de organelas delimitadas por membrana. Um típico arranjo de microtúbulos em uma célula em interfase está orientado com suas extremidades menos (-) próximas ao centro da célula, no centrossomo, e suas extremidades mais (+) estendendo-se para a periferia da célula. Assim, o movimento centrípeto de organelas ou vesículas, em direção ao centro da célula, requer a ação de dineínas motoras citoplasmáticas direcionadas para a extremidade menos (-), ao passo que o movimento centrífugo para a periferia exige cinesinas motoras direcionadas para a extremidade mais (+). Interessantemente, nas células animais, quase todo o transporte direcionado para a extremidade menos (-) é impulsionado unicamente pela proteína motora dineína citoplasmática 1, ao passo que 15 cinesinas diferentes são usadas para o transporte direcionado para a extremidade mais (+). Um claro exemplo do efeito dos microtúbulos e dos motores de microtúbulos no comportamento das membranas intracelulares é a sua atuação na organização do retículo endoplasmático (RE) e do aparelho de Golgi. A rede de membranas tubulares do RE alinha-se com microtúbulos e se estende quase até a borda da célula, enquanto o aparelho de Golgi posiciona-se próximo ao centrossomo. Cílios e flagelos motrizes são compostos por microtúbulos e dineínas Tanto os cílios quanto os flagelos são apêndices celulares semelhantes a pelos que possuem um feixe de microtúbulos em seu interior. Os flagelos são encontrados nos espermatozoides e em vários protozoários. Por um movimento ondulatório permitem que a célula que os possui nade através de meios líquidos. Os cílios são organizados de forma semelhante, mas eles batem em um movimento semelhante ao de um chicote, que lembra o movimento do nado de peito. O batimento dos cílios tanto pode propelir uma célula única através de um fluido (como é o caso da locomoção do protozoário Paramecium) quanto movimentar fluidos sobre a superfície de um grupo de células em um tecido. O movimento de um cílio ou de um flagelo é produzido pela flexão de sua porção central, denominada axonema. O axonema é composto por microtúbulos e por suas proteínas associadas. As moléculas de dineína axonemal formam pontes entre os pares de microtúbulos adjacentes em torno da circunferência do axonema. Quando o domínio motor dessa dineína é ativado, as moléculas de dineína ligadas a um dos pares de microtúbulos tentam movimentar-se sobre o par de microtúbulos adjacente, forçando o deslizamento de um sobre o outro de forma semelhante ao deslizamento dos filamentos delgados de actina durante a contração muscular. Nos seres humanos, defeitos hereditários na dineína axonemal causam uma condição chamada de discinesia ciliar primária ou síndrome de Kartagener. Essa síndrome é caracterizada pela inversão da assimetria normal dos órgãos internos (sinus inversus) devido à disrupção do fluxo de fluidos no embrião em desenvolvimento, pela esterilidade masculina devido à imotilidade de espermatozoides e por uma elevada suscetibilidade a infecções pulmonares, considerando a incapacidade dos cílios paralisados de limpar o trato respiratório dos detritos e das bactérias. Arranjo dos microtúbulos em um flagelo: Filamentos de Actina Encontrados em todas as células eucarióticas e essenciais para muitos movimentos, principalmente os que envolvem a superfície celular. Os filamentos de actina são finos e flexíveis, cada filamento é composto por uma cadeia espiralada de moléculas idênticas de actina globular. A actina e a tubulina polimerizam por meio de mecanismos semelhantes. Como a GTP da tubulina. A hidrolise da ATP ligada a ADP no filamento de actina reduz a resistência da ligação entre os monômeros e diminui a estabilidade do polímero. As citocalasinas são produtos de fungos que impedem a polimerização da actina pela ligação à extremidade mais (+) dos filamentos de actina. A latrunculina impede a polimerização da actina pela sua ligação a subunidades de actina. As faloidinas são toxinas isoladas do cogumelo Amanita que se ligam firme e lateralmente aos filamentos da actina estabilizando-os e evitando a despolimerização. Todos esses compostos causam mudanças dramáticas no citoesqueleto de actina e são tóxicos para as células, indicando que a função dos filamentos de actina depende de um equilíbrio dinâmico entre os filamentos e os monômeros de actina. Essas proteínas de ligação à actina influenciam a dinâmica e a organização dos filamentos. As proteínas de ligação à actina alteram drasticamente a dinâmica e a organização dos filamentos da actina por meio de controle espacial e temporal da disponibilidade do monômero, da nucleação do filamento, do alongamento e da despolimerização. A actina na célula se encontra concentrada em uma camada que existe abaixo da membrana plasmática. Essa região, denominada córtex celular, filamentos de actina estão conectados por intermédio de proteínas de ligação à actina. A migração celular depende de actina, envolvendo alterações coordenadas. A actina se associa à miosina para a formação de estruturas contrateis Usando o seu domínio do pescoço como um braço de alavanca, as miosinas convertem a hidrólise de ATP em trabalho mecânico possibilitando seu movimento gradual sobre os filamentos de actina. O músculo esquelético é composto por miofibrilas contendo milhares de sarcômeros formados a partir de arranjos altamente organizados de filamentos de actina e de miosina II, juntamente com diversas proteínas acessórias. A contração muscular é estimulada pelo cálcio, que provoca o movimento da proteína tropomiosina associada ao filamento de actina, revelando sítios de ligação à miosina e permitindo que os filamentos deslizem uns sobre os outros. O músculo liso e as células não musculares possuem feixes contráteis de actina e miosina menos organizados, que são regulados por fosforilação da cadeia leve da miosina. A miosina V transporta cargas se deslocando sobre os filamentos de actina.
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