Buscar

Medicalização: Problemas e Críticas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 6 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 6 páginas

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS FILOSÓFICAS (DCHF)
GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
DISCIPLINA: SOCIOLOGIA DA SAÚDE (CHF206)
DOCENTE: ANDRÉ UZÊDA
DISCENTE: TAUANY SOBRAL
DISCUSSÃO ACERCA DA MEDICALIZAÇÃO
INTRODUÇÃO
A necessidade de debate em relação à medicalização tem sido recorrente em diversas análises sociais sobre o campo da saúde e da doença devido aos problemas que são enfrentados como consequência da influência do processo de medicalização na normatização das pessoas.
Medicalização foi um termo utilizado por Foucault para relacionar a presença da medicina em quase todos os aspectos da vida. A medicina produz efeitos de controle no cotidiano das pessoas, através de seus conceitos sobre doença e saúde, normalidade e patologia.
Determinados padrões de vida têm se estabelecido na sociedade ao longo do tempo, o que levou as pessoas a agirem dentro de comportamentos recomendados para o não-adoecimento. Com isso, o olhar medicalizante se estendeu dos consultórios para a vida de tal forma que, atos cotidianos, como comer, andar ou ter relacionamentos amorosos, acabaram frequentemente enquadrados no plano biológico da saúde. 
FOUCAULT E A MEDICINA SOCIAL
Com o objetivo de evidenciar a medicalização como intervenção da medicina na sociedade, o filósofo dividiu a formação da Medicina Social em três etapas no contexto da Alemanha, França e Inglaterra que tiveram, respectivamente, como objetos da medicalização: o Estado, as cidades, e a força de trabalho.
A Medicina do Estado surgiu no século XVIII, no contexto da Alemanha. Teve como objetivo a manipulação dos fatores de saúde em nível estatal e, com isso, inseriu os médicos a esse nível, para assim, normalizar sua formação como funcionários administrativos. Essa Medicina é orientada pela estatização e coletivização do saber médico.
Em relação às cidades, a França, em meados do século XVIII, estava acometida pelo processo de urbanização, porém não havia estrutura sanitária adequada, o que aumentava a incidência de doenças. Com a preocupação do poder político devido ao risco de propagação de doenças, foi adotado o esquema político-médico emergente que tinha como objetivo isolar os doentes contagiosos. Logo, pode-se perceber o sentido de medicalização não apenas como intervenção da Medicina Estadual, mas como projeto político de saneamento das cidades. Ou seja, a Medicina Urbana se estabeleceu no nível administrativo das cidades, que controlou lugares possivelmente patogênicos e iniciou uma higiene pública adequada.
A terceira etapa da medicalização dividida por Foucault foi a Medicina da Força de Trabalho que teve seu contexto na Inglaterra em meados do século XIX. A população pobre foi atingida pela epidemia de cólera que ocorreu na época e passou a ser vista como um perigo para o restante da população. Com isso, impulsionou-se a manutenção de um serviço autoritário de controle médico da população que pretendia manter um controle da saúde e do corpo das classes mais pobres para torná-las mais aptas ao trabalho e menos perigosas às classes mais ricas através de serviços autoritários como obrigação de vacinação e declaração de doenças perigosas e ainda a busca por localização e destruição de lugares insalubres.
Nesse contexto, é possível compreender a importância estratégica assumida pela medicalização da vida na constituição e no desenvolvimento no processo de tornar o ser humano um objeto em torno do qual se produziu um saber dito científico, como Foucault evidenciou na formação da Medicina Social, em que os especialistas médicos, juntamente com as autoridades políticas, manejaram meios de viver para minimizar doenças e promover a saúde da população de forma autoritária.
Medicalização é uma estratégia biopolítica, poder que é exercido sobre o coletivo e atuando sobre a constituição do sujeito. Não é o corpo somente que deve ser disciplinado, mas o controle deve recair também sobre a “[...] vida dos homens, [...], ela se dirige não ao homem-corpo, mas ao homem vivo, ao homem ser vivo; no limite, ao homem-espécie” (FOUCAULT, 2005, p. 289).
Embora a medicina novecentista tenha sido bastante marcante na história de saúde, houve um deslocamento do sonho higienista de isolar e erradicar a doença para um modelo de responsabilidade pela saúde. Com isso, a medicalização não se restringiu a aspectos autoritários, mas evidenciou modulações específicas, ainda não previstas no saber médico do século XVIII e XIX. Assim, o processo de medicalização continua se referindo a uma intervenção médica, muitas vezes, autoritária, porém não mais relacionada apenas ao nível da política, mas a todo e qualquer aspecto da vida humana. 
Nesse deslocamento, problemas sociais passaram a ser cada vez mais tomados sob o prisma da Medicina científica como “doenças” a serem tratadas. Tal crítica trazia à tona a expansão da profissão médica junto a domínios que não eram considerados do campo da saúde, tais como o moral e o legal.
Já não se fala somente da obrigação da limpeza e da higiene como objetivo para boa saúde, mas de fenômenos da vida cotidiana que entram no campo de ação do saber médico. As práticas médicas estão em todos os lugares, à medida que a saúde se torna um objeto de desejo e de lucro.
RISCOS DA MEDICALIZACÃO
Atualmente, a medicina está dotada de um poder autoritário com funções normatizadoras que extrapolam a existência das doenças e das demandas do doente, juntamente com esse poder, o enfrentamento das doenças assume uma batalha moral, que impõe responsabilidade e culpa ao indivíduo pelo seu próprio adoecimento. 
No contexto da sociedade contemporânea, as pessoas são diariamente incentivadas a resolver os problemas sociais utilizando medicamentos, isso caracteriza um fenômeno ideológico que coloca a saúde como um ideal de prosperidade, em que os mínimos riscos de adoecer devem ser eliminados e, portanto, a saúde deve ser uma busca constante ainda que não se tenha adoecido, visto que a experiência de estar em risco de adoecer se converteu em doença.
Essa condição de “pré-doença” está presente nas mais diferentes áreas da medicina e encantam os pacientes, que recebem tratamento cada vez mais precocemente e frequentemente. Logo, surgem desdobramentos nas decisões médicas, cuja consequência é a adoção de uma nova maneira de vivenciar doença e saúde muito marcada pelo risco.
Muitas vezes, o senso comum determina que as pessoas possuem problemas, disfunções, que não se adaptam e são doentes, o que as tornam responsáveis pelo seu próprio adoecimento. Uma vez que adquirem essas características, tornam-se consequentemente consumidoras de tratamentos, terapias e medicamentos, que transformam o seu próprio corpo como foco dos problemas que deverão ser sanados individualmente.
Ainda existe a influência midiática que fortalece os riscos da imposição da medicalização na vida social que, por meio das propagandas de medicamentos nos meios de comunicação, disponibilizadas a todo o momento, é fortalecida a ideia de que utilizar medicamento é sempre bom, quando isso não é verdade. 
Vale ressaltar que a própria indústria farmacêutica investe intensivamente em marketing, com o objetivo de criar novas doenças ou novas síndromes, dar novos nomes e destacar a importância de problemas funcionais, para induzir o uso de medicamentos com fins de desenvolvimento financeiro da indústria, o que acarreta formas de medicalização da vida.
Dessa forma, o poder econômico da indústria farmacêutica faz com que a saúde e o próprio medicamento sejam tratados como mercadoria que ainda possui respaldado pelo conhecimento científico e não é questionado.
É estimado pela OMS que mais da metade dos medicamentos são prescritos, dispensados e vendidos inadequadamente e, consequentemente, há o risco dos pacientes utilizarem incorretamente. No Brasil, a maior causa de intoxicações está relacionada aos medicamentos segundo dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX).
O amplo consumo de medicamentos decorrido da facilidade do poder de medicar,torna as outras medidas de prevenção e promoção da saúde, que levariam a relações mais horizontais, como métodos de segundo plano. Nessas situações, é dificultado o desenvolvimento de atitudes e ações destinadas a promover a qualidade de vida e prevenir doenças que é mascarada pelo uso indiscriminado e em larga escala de medicamentos.
CONCLUSÃO
Ao longo do tempo, através de estudos acerca do tema, é possível estabelecer conceito de medicalização como a ação de converter em objeto da medicina e do médico, não só corpo, mas as condutas humanas presentes na rotina em mecanismos que normatizam a maneira de viver das pessoas e das populações.
É importante ressaltar que o medicamento é uma tecnologia imprescindível no processo terapêutico de inúmeros tipos de doenças, porém, é preciso evidenciar o uso indiscriminado e, muitas vezes, desnecessário, que são consequentes da grande influência do incentivo para seu consumo, principalmente, através dos meios de comunicação e da facilidade de obtenção dessas drogas.
REFERÊNCIAS 
1. Foucault M. O nascimento da medicina social. In: Machado R, organizador. Microfísica do poder. São Paulo: Graal; 1984. p. 79-98.
2. ZORZANELLI, Rafaela Teixeira; CRUZ, Murilo Galvão Amancio. O conceito de medicalização em Michel Foucault na década de 1970. Interface (Botucatu) , Botucatu, v. 22, n. 66, p. 721-731, setembro de 2018. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832018000300721&lng=en&nrm=iso>. acesso em 10 de setembro de 2019. Epub 21 de maio de 2018. http://dx.doi.org/10.1590/1807-57622017.0194.
3. Brasil.Fiocruz. Casos Registrados de Intoxicação Humana por Agente Tóxico e Circunstância. Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX). 2016. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz. Fiocruz. 2016. Disponível em: https://sinitox.icict.fiocruz.br/sites/sinitox.icict.fiocruz.br/files//Brasil6_1.pdf

Continue navegando