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Saudeesociedade_Cap 1e2 (1)

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Prévia do material em texto

Alaor Carlos de oliveira
Introdução
O que é saúde?Capítulo
1
A história da saúde e da doença vem, desde tempos imemoriais, 
evoluindo como uma construção de significados sobre a natureza, 
as funções e a estrutura do corpo e ainda, sobre as relações 
entre o corpo e o espírito e os indivíduos e seus ambientes. A 
compreensão dos significados de saúde e de doença vem se 
alterando ao longo dos tempos, confundindo-se com a própria 
história da medicina e da evolução da humanidade.
Entender a dinâmica dos processos e das interações bio-psíquico-
sociais que impactam a qualidade de vida dos indivíduos e das 
populações e saber avaliar o papel e a influência dos inúmeros 
fatores condicionantes que interferem no resultado dessas 
múltiplas interações é a chave que permitirá ao Tecnólogo em 
Saúde Coletiva interferir nos processos de adoecimento, controlar 
e/ou eliminar riscos de agravos e promover saúde.
Nesta unidade didática abordaremos a evolução histórica do 
conceito de saúde e a sua relação com a evolução dos métodos 
terapêuticos e dos modelos de intervenção.
2 UNIUBE
Ao final deste estudo o aluno deverá ser capaz de:
• relacionar a evolução histórica do conceito de saúde aos 
modelos de abordagem, intervenção e enfrentamento dos 
agravos;
• distinguir doença de enfermidade;
• reconhecer o caráter multifatorial do processo saúde/doença 
e identificar seus fatores determinantes e condicionantes;
• correlacionar os fatores econômicos, sociais, culturais, 
históricos, ambientais e políticos que promovem alterações 
no estado de saúde das populações e compreender a sua 
sinergia;
• explicar a importância da intersetorialidade e da participação 
social no enfrentamento dos problemas sanitários da 
população;
• demonstrar o conceito ampliado de saúde;
• justificar o modelo da Promoção da Saúde;
• elaborar um conceito próprio de saúde;
• avaliar o conhecimento adquirido.
1.1 Reflexão acerca do conceito de saúde
1.2 A complexidade do fenômeno saúde/doença
1.3 O período pré-cartesiano: da concepção mágico-religiosa à 
teoria naturalista da saúde
1.4 Da metodologia aristotélica para o método científico: o 
paradigma cartesiano
1.5 A saúde como ausência de doença – o modelo biomédico
Objetivos
Esquema
 UNIUBE 3
1.6 O bem-estar como fator condicionante e determinante da 
saúde
1.7 O modelo da promoção da saúde e o conceito ampliado de 
saúde
1.8 Considerações finais
Reflexão acerca do conceito de saúde1.1 
Inicialmente convidamos você a fazer uma reflexão preliminar sobre o 
tema que será abordado na unidade 1 do seu curso.
O que é algo impossível de ser explicado e que apenas se pode 
sentir?
 
Diante de um determinado estímulo, cada indivíduo ou organismo 
reage de modo peculiar e diferente do modo como reagirão outros 
indivíduos quando submetidos ao mesmo estímulo. Ou seja, do 
ponto de vista fisiológico, um mesmo impulso nervoso pode provocar 
sensações, reações e respostas diferentes em diferentes indivíduos. 
Exemplos: 
• a permanência em um ambiente a 35ºC de temperatura pode 
ser considerada tolerável para uns e muito desconfortável para 
outros;
• quando várias pessoas ficam presas em um mesmo elevador, 
algumas permanecerão tranquilas, outras poderão demonstrar 
nervosismo, insegurança ou irritação, enquanto outras entrarão 
em pânico;
PARADA PARA REFLEXÃO
4 UNIUBE
• um mesmo tipo de vírus da gripe poderá levar alguns indivíduos 
a um simples estado febril seguido de leve indisposição enquanto 
outros indivíduos poderão ficar acamados e fora de combate por 
uma semana;
• alguns indivíduos não temem injeções, enquanto outros chegam 
a desmaiar por medo e aflição antes da picada;
• o período de gravidez pode passar praticamente despercebido 
para algumas gestantes e significar nove meses de muito 
padecimento para outras.
• o mesmo pode ocorrer em relação ao medo da altura ou o medo 
do escuro.
Por essa razão entendemos que uma dor, um mal-estar, um incômodo, 
uma emoção, uma insatisfação, uma preocupação, a tristeza e a 
alegria, assim como o ‘sentir-se doente’, serão sempre subjetividades 
do ser que as experimenta e vivencia. Tratam-se de ‘sensações 
íntimas’ intraduzíveis, impossíveis de serem explicadas e tampouco 
compreendidas, passíveis apenas de serem sentidas.
O que é saúde para você? 
Como saber se uma pessoa se encontra, de fato, saudável?
Em seu minucioso trabalho de investigação sobre o pensamento 
Cartesiano intitulado Animais, homens e sensações segundo Descartes, 
Rocha (2004), atribui ao filósofo, a tese de que algumas sensações que o 
ser humano vivo experimenta, por serem tão íntimas e pessoais tornam-
se intraduzíveis aos outros pois, só podem ser ‘sentidas’ por seu titular.
 UNIUBE 5
Scliar (2007. p. 30), afirma: “Saúde não representa a mesma coisa para 
todas as pessoas. Dependerá da época, da idade, do lugar, da classe 
social. Dependerá de valores individuais, dependerá de concepções 
científicas, religiosas, filosóficas”.
Sentir-se saudável, portanto, é uma percepção íntima, intraduzível e 
intrínseca ao seu portador. “Há uma parte do corpo humano vivo que é 
inacessível aos outros, que é, pura e exclusivamente, acessível ao seu 
titular” (CANGUILHEM apud BATISTELA, 2007, p. 57). Em seu artigo 
“A saúde: conceito vulgar e questão filosófica”, Canguilhem (2005), 
propõe que a definição de saúde não é um conceito científico e sim um 
simples constructo filosófico ao alcance de todos, ou seja, capaz de ser 
enunciado por qualquer ser humano vivo, a partir da sua forma de ver e 
‘sentir’ seu próprio corpo e o mundo.
Antes de continuar a leitura, faça o exercício a seguir. Ele irá contribuir e 
facilitar a apreensão e a compreensão do tema a ser estudado.
Este exercício consiste em uma prévia reflexão sobre o título deste 
capítulo, na busca de uma “resposta pessoal” para a pergunta: “O 
que é saúde?”
Considerando o pensamento de Canguilhem (2005) de que a definição 
de saúde não é um conceito científico e sim um simples constructo 
filosófico ao alcance de todos, ou seja, capaz de ser enunciado por 
qualquer ser humano vivo, a partir da sua forma de ver e ‘sentir’ seu 
próprio corpo e o mundo”, escreva, em uma ou mais frases, o seu 
conceito pessoal sobre “saúde”. 
Antes de começar a escrever sua definição pessoal de saúde e, para 
orientar o início do seu raciocínio, tente responder mentalmente às 
AGORA É A SUA VEZ
6 UNIUBE
seguintes indagações:
A saúde poderia ser definida como...
• um estado físico de ausência de doenças? 
• um estado físico de pleno funcionamento dos 
órgãos?
• um estado de completo bem estar físico, mental 
e social?
Você respondeu “sim” para todas perguntas? Para nenhuma?
Considera as perguntas como intercomplementares? Elas não 
contemplam a definição? Elas são restritivas e insuficientes? 
Elas poderiam ser mais objetivas? 
Agora que você já refletiu sobre o tema, escreva o seu conceito de saúde.
Para isto, recomendamos que você separe uma folha de papel em branco 
e comece a escrever fazendo quantas alterações julgar necessárias. 
Depois de chegar a uma definição sobre saúde, fruto da sua opinião pessoal, 
guarde suas anotações até o final da leitura do texto que virá a seguir. 
Você necessitará consultá-la ao longo desta leitura.
A complexidade do fenômeno saúde/doença1.2 
Todo ser vivo é um organismo instável em constante processo 
de adaptação. Saúde e doença são manifestações desta perene 
instabilidade. Portanto, do ponto de vista biológico, tanto o aparente 
 UNIUBE 7
estado de saúde, como as manifestações ou quadros característicos de 
doença, nada mais são do que consequências e resultados decorrentes 
de interações dinâmicas entre os diferentes órgãos de um dado 
organismo ou indivíduo e entre estes e o ambiente externo que com 
eles interage. 
O eminente médico sanitarista e historiador George Rosen publicou no 
final do século XX, sua concepção ecológica de saúde:
[...] o termo saúde, quer se refira à boa ou à má 
(condição de saúde), designaum estado dinâmico 
de um organismo resultante da interação de fatores 
internos e ambientais que se dá em um cenário espaço-
temporal. (ROSEN,1979, p. 47)
Parafraseando o conceito acima, poder-se-ia 
afirmar que o estado de saúde de um indivíduo é 
determinado por um conjunto de diversos fatores 
internos e externos, objetivos e subjetivos, que 
interagem de diferentes modos e intensidades em 
um dado momento e local.
À primeira vista, o conceito acima parece 
contemplar de forma bastante razoável e 
pertinente algo que se poderia entender como 
saúde, porém, ele se refere apenas às condições 
ou fenômenos que resultam – ou poderiam 
resultar – no estado de saúde sem abordar ou se 
referir propriamente ao objeto saúde. Ou seja, Rosen descreve o “como”, 
mas não o “que é”. Coelho e Almeida Filho (2003) reconhecem que a 
dificuldade para se encontrar um conceito positivo de saúde é antiga: 
[...] ao contrário da doença, cuja explicação foi 
perseguida de modo incessante pelo homem, a saúde 
parece ter recebido pouca atenção de filósofos e 
Subjetivo: em 
uma abordagem 
filosófica, é “relativo 
ao sujeito do 
conhecimento, 
à consciência 
humana, à 
interioridade 
espiritual que 
se apodera 
cognitivamente dos 
objetos que lhe 
são externos. 4 FIL 
válido para um só 
sujeito; individual.” 
(VILLAR; HOUAISS, 
2009, 1779).
8 UNIUBE
cientistas. Lembrando que a dificuldade de definir a 
saúde é reconhecida desde a Grécia antiga. (COELHO 
e ALMEIDA FILHO, 2003 apud BATISTELLA, 2007,p. 
51).
Em que pese o esforço de alguns filósofos e pesquisadores do 
passado para conceituar a saúde, este é um desafio que perdura até 
os dias atuais. Segundo Batistella (2007), as condições multifatoriais 
responsáveis pelo estado de saúde e sua decorrência de um conjunto 
de interações biológicas, psíquicas, sociais, culturais e ambientais que 
envolvem diferentes dimensões e inúmeras subjetividades, torna quase 
impossível uma definição objetiva de saúde. 
Para o objeto deste estudo, levando em conta a subjetividade inerente à 
complexidade dos indivíduos e, admitida a diversidade dos fenômenos 
que concorrem e interagem no processo saúde/doença, seria presunçoso 
pretender lograr nesta breve abordagem, uma conceituação objetiva 
e definitiva sobre o que é saúde. Contudo, acreditamos ser possível 
chegarmos a uma compreensão mais abrangente de um significante 
para a saúde, construindo esse processo a partir da revisitação e do 
cotejamento de algumas das mais destacadas abordagens conceituais 
sobre o tema, surgidas ao longo da história da medicina. Vejamos.
1.3 O período pré-cartesiano: da concepção mágico-religiosa à 
teoria naturalista da saúde
O significado de saúde, concebido como um conceito de valor, emergiu 
provavelmente a partir do sofrimento imposto aos seres humanos pelas 
doenças. Ao longo do processo civilizatório, à medida em que o homem 
experimentava a doença e sofria por seus agravos, ele se despertava 
para o valor da saúde passando a atribuir-lhe uma importância cada 
vez maior. Quanto mais terríveis eram os padecimentos causados pelas 
doenças e quanto mais numerosas eram as mortes provocadas pelas 
 UNIUBE 9
epidemias, maior era o pavor originado e sentido diante da sensação de 
total impotência para enfrentar males tão terríveis. 
Frente a sua impotência, ignorância e ingenuidade, o homem primitivo 
interpretava a doença como um castigo dos deuses que puniam os 
pecadores pelas perversidades cometidas. Segundo Scliar (2007, 
p.30), “a doença era sinal de desobediência ao mandamento divino. 
A enfermidade proclamava o pecado, quase sempre em forma visível, 
como no caso da lepra”. Havia o entendimento de que, mediante o 
apaziguando da ira dos deuses, seria possível livrar-se dos padecimentos 
e restabelecer o estado de harmonia do corpo. 
Acreditava-se, que no “antigo Egito, Sekhmet, 
deusa da pestilência, provocava epidemias, 
se irritada, e as extinguia quando acalmada” 
(ROSEN, 1994, p. 34).
Nas civilizações tribais, os curandeiros e xamãs 
executavam rituais para expulsar demônios e 
anular feitiços e maldições. Os povos semitas, os 
filisteus e os gregos sacrificavam animais e faziam 
oferendas aos deuses dos templos para aplacar 
sua ira e obter misericórdia. Esta concepção 
teúrgica, mágico-religiosa da doença e de suas 
causas perdurou por séculos na cultura dos mais 
diferentes povos e locais do mundo primitivo e da 
antiguidade. 
Teúrgica: relativo 
à teurgia. Segundo 
o dicionário, temos 
que teurgia é: 
“s.f. 1. Ciência do 
maravilhoso; arte 
de fazer milagres 
2. Espécie de 
magia fundada em 
relação com os 
espíritos celestes 
[...] 4. MED cura 
das doenças por 
suposta intervenção 
sobrenatural, 
doutrina que 
dominou a medicina 
por muitos séculos 
e de que ainda 
existem vestígios na 
medicina popular.” 
(HOUAISS; VILLAR, 
2009, p.1840).
Você conhece a história dos povos da antiguidade, especialmente a 
que se refere aos sacrifícios de animais? 
PESQUISANDO NA WEB
10 UNIUBE
Se você quiser saber um pouco mais acerca da história de um desses 
povos - os gregos – em relação a essas práticas, sugerimos a leitura 
do capítulo “Dos homens aos deuses: o sacrifício”, do livro “Mito e 
Religião na Grécia Antiga” (2006), do historiador Jean-Pierre Vernant 
(2014), doutor honoris causa das universidades de Chicago, de Bristol, 
de Brno, de Nápoles e de Oxford. Para isso, acesse:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/293510/mod_resource/content/1/
Vernant,%20Jean-Pierre%20-%20Mito%20e%20Religi%C3%A3o%20na%20
Gr%C3%A9cia%20Antiga.pdf
A leitura do capítulo possibilita você entender um pouco mais acerca 
dessas práticas, especialmente em relação a como eram realizadas, 
mostrando a perspectiva e a grande relevância que elas tinham 
naquela época, para aquele povo. O texto é uma importante fonte de 
conhecimento cultural. Vale a pena!
No final do século V e início do século IV aC., a concepção teúrgica 
deu lugar à teoria fisiológica-racionalista de Hipócrates (460-370 aC), 
cujas concepções, apoiadas no raciocínio filosófico e na observação 
empírica, entendiam o corpo humano como uma unidade organizada 
que deveria existir em equilíbrio com a natureza. A teoria hipocrática 
atribuía o adoecimento à desorganização ou ao desequilíbrio dos fluidos 
ou humores que constituíam o organismo humano. O mais famoso texto 
atribuído a Hipócrates, “Ares, Águas e Lugares”, relaciona os fatores 
climáticos e ambientais às doenças e discute uma causalidade ecológica 
para os problemas de saúde. Ao relacionar a poluição de lugares, a 
insalubridade dos pântanos e as alterações climáticas ao surgimento 
das doenças, Hipócrates e seus discípulos, não apenas refutaram o 
‘caráter divino’ da doença, como instituíram a teoria das causas naturais, 
atribuindo aos “miasmas” (emanações e fedores de regiões insalubres) à 
 UNIUBE 11
causa de doenças como, por exemplo, a malária (do latim: maus ares), 
uma das doenças responsáveis pelo declínio do império romano. 
A medicina grega foi adotada e incorporada pelos romanos durante a 
expansão do seu império. Deve-se ao médico romano de descendência 
grega, Claudius Galeno (129-199), a minuciosa compilação, interpretação 
e difusão do legado hipocrático. O trabalho de Galeno, influenciou a 
prática e o ensino da medicina por mais de mil anos até o final da idade 
média. Naquele período, a saúde era interpretada como produto da 
harmonia entre as diferentes forças ou elementos constituintes do corpo 
humano. Quando essa harmonia era perturbada, surgia a doença. Por 
isto, era importante manter hábitos de vida saudáveis e desenvolver 
cuidados para reduzir ao mínimo os riscos da ocorrência de distúrbios. 
Neste sentido, a alimentação e a influência dos fatores externos eram 
entendidos como ameaças potenciais à perturbação da harmonia 
corpórea e, portanto, a medicina recomendava especial atenção com a 
comida e com os hábitos de vida.
Concomitantemente, na Europa da Idade Média, devido à forte influência 
da igreja católica,a interferência divina na concepção da doença volta 
a ganhar força, tendo o pecado como causa e a possibilidade da cura 
como questão de fé. Neste período, expandiu-se a criação de hospitais 
de caridade pelas ordens religiosas que, segundo Scliar (2007, p. 33), 
eram mantidos “não como um lugar de cura, mas de abrigo, oração e 
conforto para os doentes.”
O hipocratismo galênico, como ficou conhecido, só foi superado com a 
publicação, em 1543, do atlas de anatomia humana, De Humani Corporis 
Fábrica pelo médico, professor e anatomista belga Andreas Vesálius 
(1514-1564). A obra de Vesalius acrescentou luz sobre pontos obscuros 
e/ou equivocados de Galeno e é considerada como uma das mais 
importantes obras da literatura médica de todos os tempos, sobretudo 
12 UNIUBE
pela riqueza e precisão de detalhes das suas ilustrações. 
A partir do século XVI, com o aumento das epidemias e a atenta 
observação ao modo como a doença se proliferava, retoma-se a ideia do 
contágio entre os homens, sendo suas causas atribuídas principalmente 
ao envenenamento das águas pelos leprosos e pelos judeus. Preconceito 
recorrente surgido desde a grande epidemia de peste negra (peste 
bubônica) ocorrida em meados do século XIV.
1.4 Da metodologia aristotélica para o método científico: o para-
digma cartesiano
Por falta de um método normativo que definisse 
critérios para o trabalho investigativo e norteasse 
seus princípios, a ciência evoluiu de modo 
relativamente lento e bastante desorganizado 
até o final da Idade Média. A partir de então, 
na segunda metade do século XVI, sob forte 
influência dos grandes filósofos e pesquisadores 
da época, iniciou-se um processo de revisão 
no modo de pesquisar e praticar ciência. 
Deve-se a Francis Bacon (1561-1626), eminente 
filósofo, cientista e ensaísta inglês, a criação do 
empirismo como prática investigativa. Galileo 
Galilei (1564-1642), físico, matemático, astrônomo 
e filósofo italiano, desenvolveu e propôs o método 
científico e tornou-se reconhecido como o ‘pai da 
ciência moderna’.
Rene Descartes (1596-1650), eminente filósofo 
e matemático francês, criador da geometria 
analítica, desenvolveu o método científico 
racional dedutivo. Para ele, a construção do 
Empirismo: em 
uma abordagem 
filosófica, empirismo 
é uma doutrina 
segundo a qual 
“todo conhecimento 
pode ser captado 
do mundo externo, 
pelos sentidos, ou 
do mundo subjetivo, 
pela introspecção, 
sendo geralmente 
descartadas as 
verdades reveladas 
e transcendentes 
do misticismo, ou 
apriorística e inatas 
do racionalismo”. 
(VILLAR; HOUAISS, 
2009, p. 742). 
Método científico: 
Podemos dizer que, 
“é o conjunto 
das normas 
básicas que devem 
ser seguidas para 
a produção de 
conhecimentos 
que têm o rigor da 
ciência, ou seja, é 
um método usado 
para a pesquisa e 
comprovação de 
um determinado 
conteúdo. O método 
 UNIUBE 13
De modo simplificado, o paradigma cartesiano 
(como se convencionou popularmente 
chamar) pressupõe que o método científico, 
que conduz ao conhecimento do todo, 
passa, necessariamente, pelo estudo e pela 
compreensão do funcionamento de cada uma de suas partes 
separadamente, ou seja, o todo é o resultado do funcionando sinérgico 
dos seus componentes, exatamente como em uma máquina, cujo 
funcionamento pode ser entendido a partir da compreensão da função 
de cada uma das suas peças.
PONTO-CHAVE
conhecimento embasava-se unicamente na 
razão e no raciocínio dedutivo. Considerava 
que o funcionamento dos corpos materiais, 
incluindo o homem, obedeciam a princípios 
mecânicos. Segundo Descartes, por ser 
formado de matéria física, o corpo humano 
tem propriedades comuns a qualquer matéria. 
Portanto, o corpo humano, como qualquer outro 
corpo material, é regido pelas mesmas leis que 
regem a física. Por seu trabalho, Descartes é 
considerado um dos pensadores mais importantes 
e influentes da História do Pensamento Ocidental.
Após sua morte, o método racional dedutivo de 
Descartes foi adotado e consolidado pelo físico 
ê matemático inglês, Isaac Newton (1643-1727), 
dando origem ao paradigma newtoniano-
cartesiano que influenciou e influencia ainda hoje 
praticamente todos os campos do conhecimento 
científico.
científico parte 
da observação 
sistemática de 
fatos, seguido 
da realização de 
experiências, das 
deduções lógicas 
e da comprovação 
científica dos 
resultados obtidos. 
Para diversos 
autores o método 
científico é a lógica 
aplicada à ciência.” 
(SIGNIFICADOS, 
2019, p. 1)
Raciocínio 
dedutivo: 
Raciocínio por 
dedução. De acordo 
com a abordagem 
filosófica e 
lógica, dedução 
é o processo de 
raciocínio “através 
do qual é possível, 
partindo de uma ou 
de mais premissas 
acei tas como 
verdadeiras (p. 
ex., A é igual a 
B e B é igual a 
C), a obtenção 
de uma condição 
necessária e 
evidente (no 
exemplo anterior 
A é igual a 
C).” (VILLAR; 
HOUAISS, 
2009, p. 604).
14 UNIUBE
O método analítico cartesiano foi, certamente, 
um dos principais suportes indutores do enorme 
avanço da ciência na modernidade. Foi a partir 
dos seus conceitos que a medicina se fragmentou 
em compartimentos ou especialidades dedicadas 
ao conhecimento cada vez mais aprofundado da 
função de determinados órgãos e ou sistemas do 
corpo humano. Essa abordagem mecanicista do 
corpo contribuiu para que os sentimentos humanos fossem relegados a 
um segundo plano. A intenção terapêutica voltou seu foco para a doença 
e o ser humano passou a ser visto como ‘doente’ e não como pessoa.
Abordagem 
mecanicista: 
no contexto, 
entendemos que 
é a abordagem 
que compara o 
corpo humano ao 
funcionamento 
mecânico de uma 
máquina.
A saúde como ausência de doença – o Modelo Biomédico1.5 
O século XVIII, conhecido como século das luzes e da filosofia, deu lugar 
ao chamado período iluminista e foi palco de significativas e profundas 
transformações sociais, notadamente no campo político (declaração da 
independência dos Estados Unidos); no campo das ciências (fundação 
da Academia Real de Ciências na Europa); e no campo da medicina 
moderna quando se firmou o chamado “Modelo Biomédico” centrado 
na descrição dos processos patológicos, nos sinais e nos sintomas das 
doenças e, também, na medicalização. 
Neste período, segundo Batistella (2007), a doença se transforma em 
patologia e os pesquisadores procuravam a causa da doença dentro do 
corpo e não fora dele. 
No âmbito da estrutura perceptiva que sustentará o 
pensamento médico científico emergente, estão os valores da 
‘localização’, ‘especificidade’ e ‘intervenção’. Os fenômenos 
são explicados pela nova racionalidade [período iluminista] 
a partir do estudo, baseado na observação e na experiência 
das mudanças morfológicas, orgânicas e estruturais. Por 
conseguinte, a saúde passa a ser entendida como o seu 
oposto lógico: a ausência de patologia. (BATISTELLA, 2007, 
p. 53).
 UNIUBE 15
Nas primeiras décadas do século XIX, toda a atenção dos pesquisadores 
estava majoritariamente concentrada na análise e na compreensão das 
doenças, então definidas como ‘alterações patológicas’. Os esforços para 
se chegar a uma conceituação objetiva de saúde seguiam relegados a 
um segundo plano. O funcionamento dito normal dos órgãos (fisiologia), 
passou a ser considerado como parâmetro e era aceito como a forma 
mais conveniente para descrever o estado de saúde. 
Tornou-se consensual interpretar o bom funcionamento dos órgãos 
como o estado de não doença. François Xavier Bichat (1771-1802), 
grande médico francês, descrevia a saúde como o silêncio dos órgãos. 
(SCLIAR, 2007, p. 34). Ademais, conceituar a saúde não parecia ser uma 
necessidade ou uma importante meta da qual deveriam se ocupar os 
médicos, filósofos e pensadores da época, aparentemente contemplados 
com o conceito negativo de que a saúde ou o estado de saúde poderia 
ser compreendido ou explicado como a ausência de doença ou o ‘silêncio 
dos órgãos’.
Embora a conceituação da saúde como ausência de doença continue, 
ainda hoje, sendo aceita pela maioriada população, Batistella (2007, 
pg. 55), pondera que “é uma definição muito limitada, pois nem sempre 
a ausência de sinais e sintomas indicam a condição saudável”. Muitos 
indivíduos se consideram normais e saudáveis, ainda que portadores de 
uma determinada doença. Para Almeida Filho e Andrade (2003, p.101), 
“saúde não é o oposto lógico da doença e, por isso, não poderá de modo 
algum ser definida como ausência de doença”. 
Do ponto de vista filosófico/antropológico, a doença e a enfermidade 
são consideradas constructos diferentes e, a ausência de enfermidade 
não implica necessariamente a saúde pois, um indivíduo clinicamente 
doente que não apresente sintomas perceptíveis da doença pode se 
sentir plenamente saudável. Ou seja, a pessoa pode estar doente sem se 
16 UNIUBE
sentir enferma. Assim como, um indivíduo, simplesmente por ser portador 
de surdez ou limitação visual, não pode ser considerado enfermo.
No que diz respeito à relação entre a saúde e a doença, a 
saúde tanto pode implicar a ausência de doença quanto a sua 
presença, desde que temporária. [...] a definição tradicional 
e restrita da saúde como ausência de doença se mostrou 
insatisfatória, na medida em que ela revela apenas o que a 
saúde não é, sem explicitar do que se trata. (ROSENQUIST, 
1940 apud COELHO; ALMEIDA FILHO, 2003, p.102).
No campo da psicanálise, o contraponto entre a saúde e a doença 
adotado pela medicina biologicista (modelo biomédico) também 
encontrou resistências. Freud, (apud Coelho e Almeida Filho, 2003, 
p. 102) afirma que todo e qualquer indivíduo, em algum momento da 
vida, em maior ou menor grau, poderá aproximar-se de um quadro 
neurótico ou psicótico. Assim, a existência de indivíduos ditos normais 
está pontuada de sintomas neuróticos, sendo que os episódios mais 
leves corresponderiam à normalidade e, apenas as ocorrências mais 
acentuadas seriam interpretadas como manifestação patológica. 
Albuquerque e Oliveira (2002), argumentam que o Modelo Biomédico 
pressupõe a doença como um ser em si mesmo (concepção ontológica) 
que deve ser eliminado para que o corpo retorne à situação de não 
doença. Para isto, direciona sua prática para a elaboração de um 
diagnóstico exato, capaz de identificar os órgãos corporais perturbados 
que provocam os sintomas. Segundo os autores, trata-se de uma 
concepção redutora que ignora as relações do fenômeno doença com a 
personalidade, a constituição física ou o modo de vida do paciente. Os 
autores reforçam suas críticas ao modelo biomédico ao concluírem que 
ele se apoia na visão cartesiana de mundo, que compara o corpo humano 
a uma máquina, terminando por considerar que a doença consiste numa 
avaria temporária ou permanente no funcionamento de uma peça ou de 
um componente do organismo humano.
 UNIUBE 17
Nesta perspectiva, curar a doença equivaleria ao conserto de uma 
máquina. Tal abordagem, em tese, representaria a coisificação da 
doença e a desumanização do paciente que restaria sem identidade, 
sem sentimentos e reduzido a uma complexa maquinaria cujas peças 
ou componentes seriam os órgãos do corpo. 
Segundo Camargo Júnior (2007), uma das críticas mais estruturadas ao 
modelo biomédico diz respeito ao reducionismo da abordagem centrada 
na profilaxia da doença, o que colocaria excessiva ênfase na perspectiva 
curativa e acabaria por direcionar o foco das ações na produção de 
diagnósticos e limitando a terapêutica à prescrição medicamentosa. 
Canguilhem (2006, p. 55) reconhece que a clínica médica necessita 
de uma patologia objetiva, porém, reforça a crítica ao reducionismo da 
concepção biomédica mecanicista ao afirmar: “A clínica coloca o médico 
em contato com indivíduos completos e concretos, e não com seus 
órgãos ou funções”. Assim, sob a perspectiva do modelo biomédico, e 
entendida como a simples ausência de doença, a saúde excluiria do seu 
contexto toda a dinâmica social e todas as subjetividades que dão sentido 
à existência humana.
Nesse sentido, infelizmente, o foco de atenção, estudo e 
tratamento é a doença em si. Todas as ações são realizadas 
com a intenção de controlar a evolução da doença fazendo 
com que o indivíduo retorne ao estado de não doença. Em 
nossa percepção, esse aspecto negligencia a dignidade 
do ser que adoece, pois passa a ser visto a partir de sua 
patologia e não como um ser humano com fragilidades e 
potencialidades e, sobretudo, com responsabilidades e 
direitos sociais (LOURENÇO et al, 2012, p.29). 
Considerando as razões dos pesquisadores e sanitaristas que vêm 
trazendo luz e importantes reflexões sobre o campo da saúde coletiva, 
não restam dúvidas de que, muito além da simples ausência de doença, 
a saúde envolve muito mais que o bom funcionamento dos órgãos, 
pois implica na capacidade dinâmica do indivíduo interagir e adaptar-se 
18 UNIUBE
positivamente ao meio e suas constantes alterações. 
Contudo, e infelizmente, diante da prevalência e da grande influência do 
modelo biomédico, sobretudo nos países em desenvolvimento como o 
Brasil, para a maioria da população, saúde significa não estar doente. 
Todavia, agora já sabemos que esta definição é muito limitada pois, como 
bem reforça Batistella (2007, p. 55), “nem sempre a ausência de sinais e 
sintomas indicam condição saudável, [...] muitos se consideram normais, 
ainda que portadores de uma determinada doença”. 
Antes de prosseguirmos com este ensaio sobre a evolução do conceito 
de saúde recomendamos que você faça uma breve pausa para refletir 
sobre o que leu até aqui e, se julgar necessário, promova alterações na sua 
conceituação inicial sobre o que é saúde. 
NÃO APAGUE NEM DESTRUA O TEXTO ANTIGO. Fique à vontade para 
reescrever seu conceito incorporando as novas percepções apreendidas na 
sua leitura. Guarde sua nova versão para utilizá-la mais à frente, ao longo 
deste estudo!
AGORA É A SUA VEZ
Ao retomar seus estudos, conheça um pouco do contexto histórico do 
período iluminista e alguns dos principais vultos da ciência cujos trabalhos 
resultaram nos avanços científicos que impactaram progressos no campo 
da ciência médica.
 UNIUBE 19
Alguns vultos da ciência que marcaram a revolução científica 
desencadeada na transição do século XVIII para o século XIX
Giovanni Battista Morgagni (1682-1771), eminente médico italiano, 
considerado o fundador da anatomia patológica, publicou em 1761 uma 
monumental obra em cinco volumes denominada “Da sede e causa das 
doenças”. Dentre os seus relatos mais importantes cumpre destacar os 
de aneurisma sifilítico da aorta, atrofia amarela aguda do fígado, câncer 
do estômago, úlcera gástrica, endocardite, estenose mitral, insuficiência 
aórtica, estenose pulmonar, esclerose das coronárias e coarctação da aorta. 
(LONG, 1965);
 
Antoine Laurent Lavoisier (1743-1794), eminente químico, botânico, 
matemático e astrônomo francês, considerado o pai da química moderna. 
Dentre suas muitas contribuições, a maior de todas, que trouxe prodigioso 
avanço à medicina, foi a identificação do “ar vital” necessário à vida e à 
combustão, a que deu o nome de oxigênio e descreveu o seu papel na 
respiração e na produção do calor animal. (PORTER, 1995);
Pierre-Simon Laplace (1749-1827), matemático, astrônomo e físico francês, 
amigo e colaborador de Lavoisier, organizou a astronomia matemática e 
publicou, no final do século XVIII, entre os anos 1799 a 1825, o seu famoso 
tratado em cinco volumes denominado Méchanique Céleste. (PORTER, 
1995); 
Edward Jenner (1749-1823), médico inglês, realizou uma das maiores 
descobertas científicas da medicina moderna – a vacina antivariólica. 
Convencido de que o “vírus” da varíola bovina imunizava a pessoa para 
a varíola humana, realizou em 1796 sua experiência crucial: inoculou no 
braço de um menino de oito anos um material colhido em uma pústula da 
SAIBA MAIS
20 UNIUBE
mão de uma pessoa infectada pela varíola bovina. A criança apresentou 
reação eritêmato-pustulosa no local da escarificação e escassos sintomas 
gerais. Decorridas seissemanas, Jenner inoculou o pus da varíola humana 
na criança, com resultado negativo. Estava descoberta a vacina antivariólica! 
(MAJOR, 1954).
O bem-estar como fator condicionante e determinante da saúde1.6 
No seu brilhante ensaio que trata das grandes epidemias que ocorreram 
ao longo da história da humanidade, Barata (1987) afirma: 
Inúmeros são os relatos de epidemias durante a Antiguidade 
e a Idade Média, entretanto, é no período de transição entre 
o modo de produção feudal e o modo de produção capitalista 
(mercantilismo) que as epidemias assumem proporções 
devastadoras (BARATA, 1987, p. 9).
Em decorrência das agruras sanitárias do século anterior e, impulsionado 
pelo avanço das ciências, o século XIX emergiu em meio a uma 
revolução industrial, tecnológica e econômica com progressivos avanços 
na medicina. Esta, por sua vez, esforçava-se para enfrentar e responder 
aos problemas impostos pela nova organização social e pelas péssimas 
condições de saúde dos grandes aglomerados urbanos que, segundo 
relato de Albuquerque e Oliveira (2002), deram lugar a enormes 
desequilíbrios ecológicos que geraram grandes problemas sanitários. 
Era imenso o contingente de pessoas mais pobres que migravam para as 
grandes cidades em busca de trabalho. A promiscuidade e as péssimas 
condições de higiene favoreciam o contágio e a disseminação das 
doenças. 
Concomitantemente, as grandes transformações no mundo do 
trabalho, iniciadas na Inglaterra e que se espalharam pela Europa e 
para a América do Norte, deram impulso ao surgimento de diversas 
 UNIUBE 21
sociedades científicas, academias de ciências, escolas médicas e às 
sociedades de estatística que passaram a se dedicar ao equacionamento 
e à organização de um saber global e quantificável dos fenômenos de 
morbidade e mortalidade que envolviam o coletivo social. “O laboratório 
de Louis Pasteur, assim como outros laboratórios, estavam revelando a 
existência dos microrganismos causadores de doença e possibilitando a 
introdução de soros e vacinas; as doenças passavam a ser preveníveis 
e curáveis” (SCLIAR, 2007. p. 34). A saúde e a doença como fenômenos 
de grupamentos e de população passaram a ser problematizadas a partir 
de múltiplas instâncias ligadas direta e indiretamente à administração 
pública. Segundo Foucaut (1982), a saúde começava a ser reconhecida 
como objeto da atenção do poder público.
O surgimento progressivo da grande medicina do 
século XIX não pode ser dissociado da organização, 
na mesma época, de uma política da saúde e de uma 
consideração das doenças como problema político e 
econômico que se coloca às coletividades e que elas 
devem tentar resolver ao nível de suas decisões de 
conjunto. [...]. Não há sem dúvida, sociedade que 
não realize uma certa "noso−política". O século XVIII 
não a inventou, mas lhe prescreveu novas regras e, 
sobretudo, a fez passar a um nível de análise explícita 
e sistematizada que ela ainda não tinha conhecido. 
(FOUCAULT,1982, p. 107).
De acordo com Rosen (1979, p.78), a partir do início do século XIX, 
a associação causal entre a miséria social e a 
doença passou a ser uma característica comum 
do pensamento médico. Como exemplo, o 
relatório de Rudolph Virchow cita sobre a 
epidemia de febre tifoide, ocorrida, em 1847, 
na Alta Silésia, cujas causas Virchow atribuiu 
a um conjunto de fatores econômicos e sociais 
negativos ao enfatizar que “riqueza, educação e 
liberdade dependem umas das outras e, assim, 
inversamente, fazem fome, ignorância e servidão”. 
Rudolf Virchow: 
Rudolf Ludwig 
Karl Virchow - 
1821/1902) foi 
um médico, an-
tropólogo e po-
lítico alemão. É 
considerado o 
pai da patolo-
gia moderna e 
da medicina so-
cial. Graduou-se 
22 UNIUBE
Para o enfrentamento das epidemias, Virchow, 
pioneiramente, propunha uma radical reforma 
social que implicaria na democracia plena, na 
educação, na liberdade e na prosperidade. 
Amigo e contemporâneo de Virchow, Neumann 
(1841), afirmava: 
as condições econômicas e sociais tem um efeito importante 
sobre a saúde e a doença e que tais relações devem ser 
submetidas à investigação científica [...] o maior número de 
doenças que impedem o gozo completo da vida ou matam 
um número considerável de pessoas se deve não às causas 
naturais mas a condições sociais artificialmente produzidas 
tais como a fome e a miséria que, se não eram idênticas à 
morte, à doença e ao sofrimento crônico, eram como seus 
inseparáveis companheiros – o preconceito, a ignorância 
e a estupidez – fontes inesgotáveis do seu aparecimento. 
(NEUMANN, apud ROSEN, 1979, p.82).
As críticas de Virchow e Newmann em relação 
ao risco à saúde, representado pelas condições 
promíscuas das periferias urbanas; as grandes 
epidemias de Gripe Espanhola e Tifo ocorridas 
entre 1918 e 1922; e, também, à prevalência 
da tuberculose e da varíola, contribuíram para 
que o século XX surgisse marcado por uma 
medicina de tendência higienista/sanitarista. 
Esta medicina concentrava boa parte de seus 
esforços no controle das doenças transmissíveis. 
Sendo assim, predominava, na prática médica, 
uma crença generalizada nos procedimentos 
de controle do meio (higiene e assepsia) como 
principal medida de combate às infecções.
em medicina pela 
Academia Militar 
da Prússia (Berlin, 
1843). Tornou-se 
professor da cáte-
dra de anatomia 
patológica da 
Universidade de 
Berlim (1856). 
Durante a Guerra 
Franco-Prussiana, 
liderou pessoal-
mente o primeiro 
hospital móvel 
para atender os 
soldados no front. 
Também envolveu-
-se em atividades 
sociais, como sa-
neamento básico, 
arquitetura hospi-
talar, melhoramen-
to de técnicas de 
inspeção sanitária 
e higiene escolar.
N e u m a n n : 
Neumann Salomon 
( 1 8 1 9 - 1 9 0 8 ) , 
cidadão de 
Berlim, médico 
e pioneiro das 
estatísticas sociais 
e médicas, foi um 
dos fundadores 
do Movimento 
para reforma do 
tratamento médico 
prussiano, a fim 
de melhorar a 
saúde dos setores 
mais pobres da 
sociedade. Em 
1861, organizou o 
recenseamento dos 
cidadãos de Berlin, 
visando melhorar os 
serviços sociais e a 
higiene na cidade. 
É dele a afirmação: 
“a ciência médica 
 UNIUBE 23
possui em seu cerne 
a essência de uma 
ciência social”.
Segundo relato de Franco (2009), por meados de 
1920, Charles Winston, bacteriologista e editor do 
American Journal of Bacteriology, já enfatizava a 
importância dos hábitos higiénicos e concebia a 
influência do ambiente sobre os agravos à saúde 
numa perspectiva mais ampla e abrangente. Considerava a ciência e o 
desenvolvimento social como fundamentais para a saúde e afirmava:
[...] a ciência é a arte de prevenir a doença, prolongar a 
vida e promover a saúde física e a eficiência, através de 
esforços comunitários organizados para o saneamento do 
meio ambiente, o controle das infecções na comunidade, 
a educação do indivíduo nos princípios da higiene pessoal 
assegurando a cada membro da comunidade um padrão de 
vida adequado para a manutenção da saúde. (CHARLES 
WINSTON, 1920 apud FRANCO, 2009).
Além do esforço desempenhado no sentido de expandir o saneamento 
básico e proteger os cidadãos mais abastados das doenças surgidas nas 
periferias urbanas, o Estado via-se também obrigado a oferecer melhores 
condições de saúde aos pobres e proletários como forma de garantir 
oferta de mão de obra para o setor produtivo e alavancar a economia. 
Assim, os governos e a sociedade passaram gradativamente a adotar 
abordagens mais humanistas na implementação das suas políticas de 
saúde. Os males do capitalismo, denunciados por Karl Marx, impunha 
modificações na relação capital versus trabalho. Nas palavras de Otto 
von Bismarck (1815-1898), o “chanceler de ferro” alemão, “os capitalistas 
e latifundiários precisavam, serem salvos de si mesmos, de sua ganância 
que ameaçava sacrificar a mão-de-obra operária”. (SCLIAR, 2007, p.36).
Assim, avanços substanciais na conquista por melhor qualidade de vida 
ocorreram após a Segunda Guerra Mundial. Sensibilizada pelo enorme 
sofrimentoimposto pelos conflitos armados e motivada pela política do 
Welfare System instituído pela Grã-Bretanha em 1942, a civilização do 
pós-guerra passou a esperar e exigir, cada vez mais, dos seus governos 
24 UNIUBE
um compromisso crescente com a saúde e o 
bem-estar da população. Não se tratava mais 
de oferecer apoio a uma parcela mais pobre e 
particularmente frágil − perturbada e perturbadora 
− da população, mas da maneira como se poderia 
elevar o nível de saúde do corpo social em seu 
conjunto. O imperativo da saúde – e o bem-estar 
de todos – passou a ser gradativamente 
interpretado como dever de cada um e objetivo 
geral das sociedades. Os diversos aparelhos de 
poder deveriam se encarregar dos indivíduos 
não simplesmente para exigir deles o serviço ou 
extorquir-lhes as rendas, mas para ajudá−los a 
garantir sua saúde. (FOUCAULT, 1982).
Finalmente, a importância de uma política 
de Estado para a saúde pública tornara-se 
um consenso entre os governos das nações 
industrializadas. Entretanto, para se estabelecer 
uma diretriz capaz de nortear o planejamento 
das políticas de saúde dos diferentes governos 
interessados na melhoria dos seus indicadores 
sociais, seria prioritário chegar-se a um conceito 
de saúde que pudesse ser universalmente aceito e 
imediatamente adotado como meta a ser atingida 
pelos países alinhados. Para a realização de tal 
intento, seria necessário construir um acordo multilateral intermediado por 
meio de um organismo internacional. Um esforço neste sentido já havia 
sido tentado, porém, sem alcançar êxito, com a malograda criação da 
Liga das Nações ao final da primeira guerra mundial. 
Apenas após a Segunda Guerra mundial, reunidos em uma assembleia 
Welfare System: ou 
Estado do Bem-
estar, tal como foi 
definido, surgiu 
após a Segunda 
Guerra Mundial 
com o intuito de 
oferecer ao povo 
inglês uma espécie 
de compensação 
pelas agruras 
sofridas com o 
conflito bélico. Seu 
desenvolvimento 
está intimamente 
relacionado ao 
processo de 
industrialização 
e aos problemas 
sociais gerados a 
partir dele. A Grã-
Bretanha foi o país 
que se destacou 
na construção 
do Estado de 
Bem-estar com 
a aprovação, em 
1942, de uma série 
de providências 
nas áreas da saúde 
e escolarização 
que prometiam 
proteção “do berço 
à tumba” e atenção 
integral à saúde a 
toda a população, 
com recursos dos 
cofres públicos. Nas 
décadas seguintes, 
outros países 
seguiriam essa 
direção.
 UNIUBE 25
internacional realizada na cidade de São Francisco, na Califórnia, 
cinquenta países assinaram, em junho de 1945, a Carta das Nações 
Unidas que propunha a criação da Organização das Nações Unidas – 
ONU.
Embora a Carta das Nações Unidas tenha sido aprovada em junho 
de 1945, a Organização das Nações Unidas – ONU, só passou a 
existir oficialmente em 24 de outubro de 1945, após a ratificação da 
Carta pelos cinco países membros do Conselho de Segurança: China, 
Estados Unidos, França, Reino Unido e a ex-União Soviética, bem 
como pela maioria dos demais signatários. O dia 24 de outubro é 
comemorado em todo o mundo como o “Dia das Nações Unidas”.
SAIBA MAIS
Posteriormente, um dos organismos da ONU, o Conselho Econômico e 
Social das Nações Unidas, convocou uma Conferência Internacional de 
Saúde, realizada em Nova York, para discutir a criação da Organização 
Mundial de Saúde – OMS cujos estatutos foram aprovados, durante a 
citada conferência, em 22 de julho de 1946. 
Ainda que seus estatutos tivessem sido aprovados quase dois anos 
antes, a OMS só foi oficialmente fundada em 7 de abril de 1948 (data 
considerada, desde então, como Dia Mundial da Saúde), quando 
26 membros das Nações Unidas ratificaram os seus estatutos e 
promulgaram a sua Carta de Princípios que reconhecia a saúde como 
um direito das populações e atribuía ao Estado a obrigação por sua 
promoção e proteção. 
Na Carta de Princípios da OMS, a saúde passou a ser conceituada com 
o seguinte enunciado.
Saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social, 
e não apenas a ausência de doença ou enfermidade. (OMS, 
1948).
26 UNIUBE
É bom que se diga que o conceito de saúde da OMS nunca foi um 
consenso entre os sanitaristas. Ao longo dos últimos 70 anos da 
publicação de seu enunciado e, considerando tanto as frequentes 
alterações nas políticas de saúde dos países membros como as 
permanentes mudanças nos processos de adoecimento das populações, 
acendeu-se na comunidade científica um grande interesse por escrutinar 
epistemologicamente a definição de saúde da OMS. Centenas de 
pesquisadores, filósofos, estudantes e sanitaristas vêm manifestando 
sua opinião sobre o que seria um ‘estado de completo bem-estar’, em sua 
maioria, tecendo críticas acerca da subjetividade e do caráter genérico 
e utópico do conceito.
Entendendo tratar-se de um esforço para ampliar o entendimento da 
atenção à saúde para além da clínica médica, Rabelo (2010, p. 26), 
considera a definição de saúde da OMS: “uma primeira tentativa 
de superação da perspectiva de saúde fundamentada apenas no 
conhecimento científico aplicado”. 
Scliar (2007, p. 37) reconhece que a definição de saúde proposta pela 
OMS “refletia, de um lado, uma aspiração nascida dos movimentos 
sociais do pós-guerra: o fim do colonialismo e a ascensão do socialismo” 
e julga louvável que o conceito de saúde expresse o direito a uma vida 
plena, sem privações. Apesar de fazer ressalvas quando à subjetividade 
e a imprecisão da expressão “completo bem-estar”, o autor admite tratar-
se de “um conceito útil para analisar os fatores que intervêm sobre a 
saúde, e sobre os quais a saúde pública deve, por sua vez, intervir” 
(SCLIAR, 2007, p.37).
Entre os mais prodigiosos pesquisadores e sanitaristas brasileiros, 
Almeida Filho (2000, p. 5), critica a imprecisão do conceito de saúde 
da OMS que, segundo o autor, incorpora uma espécie de “síndrome da 
saúde” e acaba despertando um certo “misticismo sanitário” ao tentar 
 UNIUBE 27
definir o objeto saúde como um “todo completo” informando apenas que 
não se trata do “nada da doença”. 
Ainda sobre os esforços voltados para novas teorizações sobre saúde, 
Almeida Filho e Jucá (2002) relatam que, em 1975, fundamentando-
se na impossibilidade lógica de considerar o “bem-estar” como um 
valor concreto e quantificável, Christopher Boorse, filósofo americano 
e professor de ética médica da faculdade de medicina de Delaware 
(USA), afirmava ser plenamente possível concluir objetivamente sobre 
uma situação de saúde ou de doença a partir da comparação das 
funções orgânicas dos órgãos do paciente com o desempenho funcional 
estatisticamente definido como normal para estes mesmos órgãos. 
Assim, insistindo ainda em uma concepção negativa da saúde como 
ausência de doença, Boorse enuncia sua teoria funcionalista ou teoria 
bioestatística, fundamentada no conhecimento prévio da fisiologia de 
cada órgão e na normalidade estatística das suas funções: “a saúde de 
um organismo consiste no desempenho da função natural de cada uma 
de suas partes”. (BOORSE, 1975, apud ALMEIDA FILHO & JUCÁ, 2002, 
p. 881).
Prosseguindo com sua análise sobre a teoria bioestatística ou 
funcionalista de Boorse, Almeida Filho e Jucá (2002), na mesma linha 
de outros autores, também a consideram limitada por excluir tanto a 
dimensão clínica como as dimensões subjetivas da base teórica saúde/
doença tais como, as influências culturais, geográficas, psicológicas, 
políticas e econômicas. Opinião com a qual também corrobora Batistella 
(2007, p. 57), “as tentativas de definir objetivamente a saúde por meio 
de constantes funcionais e médias estatísticas produzem o apagamento 
do corpo subjetivo”. 
Sob a ótica psicanalítica, Segre e Ferraz (1997), apesar de reconhecerem 
que o conceito de saúde da OMS foi avançado para a época, consideram-
28 UNIUBE
no irreal e ultrapassado para os atuais padrões da pesquisa e da prática 
em saúde coletiva. Irreal porque o estado de “completo bem-estar” 
remete ao conceito de perfeiçãoque, do ponto de vista objetivo, 
transforma a definição da OMS numa utopia, ou seja; estabelece uma 
meta inalcançável para a saúde. Segundo os mesmos autores (p. 539), 
“perfeito bem-estar” traduz uma categoria de felicidade que não existe 
por si mesma. “Só poder-se-ia assim falar de bem-estar, felicidade ou 
perfeição para um sujeito que, dentro de suas crenças e valores, desse 
sentido de tal uso semântico e, portanto, o legitimasse”. No mesmo 
trabalho, os autores consideram o referido conceito ultrapassado, 
principalmente por incorporar o superado modelo cartesiano da 
separação entre o físico, o mental e o social, modernamente refutado 
pela ciência psicanalítica. 
[...] graças a vivência psicanalítica, percebe-se a inexistência 
de uma clivagem entre mente e soma, sendo o social também 
interagente, de forma nem sempre muito clara [...] Se o 
psíquico responde ao corporal e vice-versa, fala-se, então, 
de um sistema onde não se delineia uma nítida divisão entre 
ambos. (SEGRE e FERRAZ, 1997, p. 540)
Assim, a partir de suas experiências clínicas e observacionais, Segre e 
Ferraz (1997, p. 542), sugerem que a saúde poderia ser melhor entendida 
como “um estado de razoável harmonia entre o sujeito e a sua própria 
realidade”.
1.7 O modelo da promoção da saúde e o conceito ampliado de 
saúde
Em meio às críticas e às buscas para se encontrar um conceito mais 
adequado para o objeto saúde, pesquisadores, filósofos, antropólogos, 
sanitaristas, profissionais de governos e de organismos internacionais 
convergem para um ponto comum que se expressa pela quebra do 
paradigma flexneriano, marcadamente biologicista e individualista.
 UNIUBE 29
Abraham Flexner (1866/1959) foi um Educador de origem judia, 
comissionado pela Carnegie Foundation. Foi o responsável, em 1910, 
pelo Relatório Flexner que resultou na reforma do ensino médico na 
América do Norte, posteriormente adotada por diversos outros países. 
No Brasil, as recomendações de Flexner passaram a ser conhecidas 
como paradigma flexneriano ou Modelo Biomédico. Segundo alguns 
pesquisadores, as observações de Flexner sobre o ensino médico 
conduziram à fragmentação do conhecimento médico e induziram a 
especialização precoce dos profissionais. De caráter excessivamente 
cientificista, individualista, medicalizante e hospitalocêntrico, em 
detrimento do lado humano do exercício da medicina, o paradigma 
dificulta a abordagem do paciente em seu conjunto. Modernamente, 
alguns autores têm discordado desta interpretação. Para saber mais 
leia o texto “Sobre o modelo flexneriano da medicina científica”, do 
blog Sou+SUS. Para isso, acesse:
<https://soumaissus.blogspot.com/2018/01/sobre-o-modelo-
flexneriano-da-medicina.html>
SAIBA MAIS
Nas primeiras décadas do século XX, apesar 
da prática médica permanecer majoritariamente 
concentrada no objeto doença, surge uma nova 
área da medicina, identificada como medicina 
social, cujas atenções passam a priorizar o 
entendimento dos processos de adoecimento no 
sentido de identificar as “causas” das doenças, 
visando encontrar alternativas para intervir 
preventivamente no controle dos riscos. 
John Snow
(1813/1858): 
Médico 
inglês, considerado 
pai da epidemiologia 
moderna. Em 
1854, na cidade 
de Londres, 
demonstrou 
que o cólera era 
causado pelo 
consumo de água 
contaminadas com 
matérias fecais, ao 
comprovar que os 
casos dessa doença 
se agrupavam 
nas zonas onde a 
30 UNIUBE
Em 1854, pesquisando uma epidemia de cólera 
em Londres, John Snow, considerado o pai 
da epidemiologia, associou o adoecimento dos 
indivíduos ao consumo de água contaminada 
por fezes de doentes. Esta descoberta marcou o 
início da Epidemiologia e forneceu embasamento 
para o surgimento da teoria da História Natural 
da Doença e do modelo de prevenção primária, 
proposto por Leavell e Clark no final da década 
de 1940. Estes autores preconizavam como 
medidas de prevenção primária, a boa nutrição, 
o atendimento às necessidades afetivas, a 
educação sexual, a orientação familiar, as boas 
condições de moradia, trabalho e lazer, além de 
exames periódicos e da educação para a saúde. 
(FRANCO, 2009).
Na América, ainda na primeira metade do século 
XX, segundo Fee (1996), as ideias de Henry 
Sigerist sobre a necessidade de incrementar a 
intervenção do Estado nos cuidados da saúde da 
população, assim como havia sido proposto por 
Virchow no século anterior, foram amplamente 
aceitas e apoiadas pelos defensores da medicina 
liberal, incluindo representantes de algumas 
das mais poderosas fundações privadas e por 
influentes professores das escolas de medicina 
do país. Essas pessoas acreditavam que o 
atendimento médico deveria ser mais eficiente 
e racionalmente organizado pelo Estado, desde 
que seu custo não colocasse em risco o equilíbrio 
água consumida 
estava contaminada 
com fezes das 
pessoas adoecidas.
História natural da 
doença: Refere-
se ao conjunto 
de processos 
interativos 
compreendendo 
as inter-relações 
do agente causal, 
do hospedeiro 
suscetível e do 
meio ambiente 
que interferem 
na evolução 
do processo 
patogênico, desde 
a ocorrência 
do estímulo 
patológico no meio 
ambiente, ou em 
qualquer outro 
lugar, passando 
pela resposta do 
homem ao estímulo, 
até as alterações 
que levam a uma 
limitação, invalidez, 
recuperação ou 
morte. 
Prevenção 
primária: Estratégia 
ou modelo de 
atenção à saúde 
que procura evitar 
a ocorrência de 
doenças por 
meio da redução 
dos riscos, 
seja alterando 
comportamentos 
ou exposições aos 
agentes causais, 
ou aumentando 
a resistência 
dos indivíduos. 
A prevenção 
primária ultrapassa 
os problemas 
médicos e inclui 
o controle dos 
fatores ambientais e 
sociais.
 UNIUBE 31
político e os fundamentos econômicos da 
sociedade americana.
Ainda segundo Fee (1996, p. 1640), em 1934, 
numa de suas memoráveis palestras cujo tema 
versava sobre a socialização da medicina, 
Sigerist argumentava que, na medida em que 
a sociedade evolui tornando-se gradativamente 
mais complexa, cabe ao Estado instituir normas 
e diretrizes no sentido de evitar que a atenção à 
saúde se reduza unicamente à relação individual 
médico-paciente. Segundo ele, seria papel do 
governo introduzir políticas de fomento para 
estimular a cooperação entre a sociedade e 
os profissionais de saúde, visando tornar as 
formas de intervenção e os cuidados sanitários 
cada vez mais compatíveis aos riscos sob os 
quais a população se encontrava submetida. 
Com argumentos convincentes de um exímio 
conhecedor da história da medicina, Sigerist (1935 
apud Fee, 1996, p. 1640) afirmava: “as tendências 
reveladas pela história apontam claramente para 
a necessidade de se instituir formas e modelos 
mais estruturados e equitativos de prestar a assistência médica”. 
[...] a saúde promove-se proporcionando condições de 
vida decentes, boas condições de trabalho, educação, 
cultura física e formas de lazer [...] que se logra com 
o esforço coordenado de políticos, setores sociais e 
empre sariais, educadores e médicos, cabendo a estes 
últimos, definir normas e protocolos. (SIGERIST, apud 
RABELLO, 2010, p.21).
Na esteira e na emergência do ideal socialista de um Estado provedor 
que desempenhasse o papel de agente promotor de um modelo de 
Henry E. Sigerist 
– (1891/1957), 
médico poliglota, 
nascido na França, 
filho de pais suíços 
e radicado nos EUA, 
foi professor de 
história da medicina 
em Baltimore. 
Desempenhou um 
influente papel na 
política médica 
americana na 
década de 1930 
e início dos anos 
40, tornando-se 
um dos principais 
proponentes de um 
seguro social de 
saúde nacional e o 
principal defensor 
de uma medicina 
socializada 
para o país. 
Como escritor e 
militante socialista, 
argumentava 
que a história da 
medicina não era 
e nem deveria 
ser uma história 
de progresso 
científico apenas, 
mas também, de 
progresso social.
32 UNIUBE
atenção à saúde mais amplo e resolutivo, conforme propôs Sigerist e, 
influenciado pelo modelo da prevençãoprimária introduzido por Leavell 
e Clark, Marc Lalonde, então ministro da Saúde e Bem-Estar do Canadá, 
publica em 1974, um relatório de trabalho com o seguinte título “Uma 
nova perspectiva sobre a saúde dos canadenses”. Neste documento, 
posteriormente denominado Relatório Lalonde, seu autor admite a 
ineficácia do modelo de saúde até então vigente no Canadá e condena a 
priorização da prática clínica individual como estratégia básica de atenção 
à saúde. O então ministro da saúde entendia que o enfrentamento dos 
problemas sanitários da população não poderia seguir desconhecendo 
a implicação dos fatores sociais como determinantes dos agravos que, 
por sua complexidade e diversidade, demandavam novos atores e novas 
estratégias de abordagem e tratamento. 
Em seu histórico relatório, Lalonde demonstra que os determinantes 
ambientais e os estilos de vida exercem impactos sobre os fatores 
de risco e sobre a qualidade de vida da população sendo, portanto, 
capazes de influenciar favoravelmente (ou não) os níveis de saúde da 
população. Além disto, sempre que tais indicadores são levados em 
conta, no planejamento das ações, resultam em economia de recursos 
quando comparados ao sistema tradicional de saúde, fundamentado 
exclusivamente na clínica médica tradicional. (FRANCO, 2009). 
Considerado como o grande marco conceitual do modelo da Promoção 
da Saúde por tratar-se do primeiro documento a mencioná-la oficialmente, 
o Relatório Lalonde consolida e define as bases de uma nova política 
de Estado para a saúde, “trazendo como consigna básica adicionar não 
só anos à vida, mas vida aos anos” (PAIM, J.S; ALMEIDA FILHO, 1998, 
p. 305).
De acordo com Rabello (2010, p. 23), ao introduzir o conceito de “campo 
da saúde” e subdividi-lo em quatro grandes componentes: biologia 
 UNIUBE 33
humana, meio ambiente, estilo de vida e organização da atenção à saúde, 
Marc Lalonde cria novos caminhos para a superação da hegemonia da 
clínica médica nos serviços de saúde e abre espaços para a introdução 
de um conjunto de práticas sociais viabilizadoras dos interesses difusos 
que se configuram num dado espaço social coletivo. 
Para Souza e Kalichman (apud Schraiber e Mendes-Gonçalves, 2000, p. 
43) o trabalho de Lalonde resultou na amplificação do leque das situações 
passíveis de serem consideradas como situação de risco à saúde e 
possibilitou a complexificação das formas de intervenção alargando 
os limites da prevenção e da atenção primária para os conceitos de 
qualidade de vida e da promoção da saúde, 
[...] a dimensão de ações que promovem diretamente a 
saúde, mais que ações de restauração ou prevenção, 
tornaram a promoção à saúde um conceito a ser melhor 
delimitado. Esta noção [...] traz novas questões para a 
assistência, como por exemplo uma melhor definição do 
conceito de qualidade de vida (SOUZA e KALICHMAN 
apud SCHRAIBER e MENDES-GONÇALVES, 2000, p. 
43).
Quatro anos após a publicação do Relatório Lalonde, em setembro 
de 1978, os Estados Membros da OMS reúnem-se, na cidade de 
Alma-Áta no Cazaquistão, para uma Conferência Internacional sobre 
Cuidados Primários de Saúde e formulam um documento denominado 
Declaração de Alma-Ata, que acaba se tornando um marco referencial 
para o desenvolvimento das políticas de saúde no mundo. Além de 
propor a meta “saúde para todos no ano 2000” (OMS, 1978, p.1), a 
Declaração de Alma-Ata amplia o âmbito do cuidado à saúde, rompe com 
o monopólio dos “saberes” técnicos (do médico e demais profissionais 
da equipe de saúde) e incentiva a participação ativa da população nas 
questões que envolvem a saúde e a qualidade de vida. Define também, a 
Atenção Primária à Saúde como componente central do desenvolvimento 
humano e estratégia fundamental para a reorganização da saúde pública 
34 UNIUBE
com vistas às correções das desigualdades sociais decorrentes das 
iniquidades e da falta de equidade na cobertura e na oferta dos serviços.
Embora tenha sido essencial para a o aprimoramento dos modelos 
de saúde adotados no mundo, a Conferência de Alma-Ata restringiu-
se exclusivamente às questões relacionadas à Atenção Primária, não 
tendo, portanto, se referenciado ao Relatório Lalonde e, tampouco, 
considerado as novas perspectivas representadas pelas propostas da 
promoção da saúde. Esta omissão, embora involuntária, resultou numa 
espécie de anomia que motivou, em novembro de 1986, na cidade de 
Ottawa/Canadá, com o apoio da OMS, a realização da I Conferência 
Internacional sobre Promoção da Saúde que resultou na Carta de Ottawa.
Segundo Rabello (2010, p. 21), a Conferência de Ottawa foi responsável 
pela quebra do paradigma flexneriano até então vigente e hegemônico; 
e pelo surgimento de um novo paradigma sanitário reconhecido como o 
modelo da Promoção da Saúde.
Você conhece a Declaração de Alma-Ata e a Carta de Ottawa?
Sugerimos que faça uma pesquisa na Internet acerca desses 
dois textos, por meio de sites de buscas, como o Google.
É importante conhecer os documentos na íntegra. Faça um 
esquema de palavras-chaves acerca das ideias que considerar 
principais.
PESQUISANDO NA WEB
 
Na Carta de Ottawa (1986, p.1), os fundamentos da Promoção da Saúde 
assumem uma conceituação mais abrangente e dinâmica para a saúde: 
• corroboram e fortalecem as recomendações de Alma-Ata, 
associando-as à promoção da saúde; 
• inauguram a discussão sobre a qua lidade de vida; 
• defendem a autonomia das comunidades e dos indivíduos; 
 UNIUBE 35
• propõem a mobilização da sociedade; 
• abordam o papel da intersetorialidade no equacionamento e na 
solução dos problemas comunitários, ao mesmo tempo em que 
reforçam a importância do planejamento e do poder local. 
A Carta de Ottawa também reforça a meta de “Saúde para todos no 
ano 2000” e destaca a importância de mantê-la nos anos subsequentes. 
Cita ainda os requisitos fundamentais para que a meta proposta possa 
ser alcançada: paz no mundo, abrigo, educação, alimentação, recursos 
econômicos, ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça social 
e equidade. Realça, também, a importância do ambiente de trabalho 
como fonte de saúde e a importância da proteção e da conservação dos 
recursos ambientais (FRANCO, 2009).
Com efeito, a Saúde Pública não pode e não deve ficar restrita unicamente 
à simples oferta dos serviços de saúde. A promoção da saúde exige 
Requisitos considerados fundamentais para que a meta 
saúde para todos possa ser alcançada
Paz no mundo
Recursos
econômicos
Abrigo
Ecossistema
estável
Equidade
Educação
Recursos
sustentáveis
Ambiente de 
trabalho como 
fonte de saúde
Alimentação
Justiça social
um processo dinâmico que envolve transformações políticas, sociais e 
econômicas, necessárias e indispensáveis à consecução do bem-estar 
social. Neste sentido, Rabello (2010, p.26) destaca a importância da 
equidade como a chave para alcançar a meta saúde para todos. Muito 
além de simplesmente fomentar o desenvolvimento econômico, caberá 
36 UNIUBE
ao Estado e à sociedade como um todo, promover a justiça distributiva 
por meio da articulação de um processo de desenvolvimento geral e 
socialmente includente que incorpore a saúde e a educação como 
prioridades. 
Cabe aqui resgatar o pensamento do brilhante filósofo Georges 
Canguilhem (apud Rabello, 2010, p. 31), “a saúde pode ser definida pela 
capacidade humana de coexistir em seu ambiente, não somente físico, 
mas também social”. Desta forma, 
[...] saúde e doença responderão às transformações do 
meio ambiente; às inserções das pessoas socialmente, 
tanto em suas famílias como nas atividades de 
trabalho, constituindo estados sociais. Da mesma 
forma, responderão às ações das políticas públicas, do 
saber e da prática médicos, por sua vez calcados nas 
configurações do Estado (ADAM; HERZLICH, 2001, 
apud RABELLO, 2010, p. 31)
Ainda segundo Rabello (2010), a forma de incorporar o modelo da 
promoção da saúde nas Políticas de Estado define os níveis de 
organização da sociedade e, portanto, difere 
de um paíspara outro. Assim, apesar dos 
países membros da OMS e da Organização 
Pan-americana de Saúde – OPAS serem 
igualmente signatários dos acordos fundados 
nos princípios da Declaração de Alma-Ata e da 
Carta de Ottawa, cada um, de forma autônoma e 
soberana, passou a adotar sua própria estratégia 
de implementação das políticas sanitárias 
voltadas para o atingimento da meta ‘Saúde para 
todos no ano 2000’.
Assim, a exemplo do que já vinha ocorrendo em 
países como o Canadá, Reino Unido, Austrália 
e Bélgica, a partir de 1990, com amplo apoio da 
OPAS, o modelo da promoção da saúde começou 
Organização 
Pan-Americana 
da Saúde (OPAS): 
criada em 1902, é a 
mais antiga agência 
internacional de 
saúde do mundo. 
Sediada em 
Washington nos 
EEUU, atua como 
escritório regional 
da Organização 
Mundial de 
Saúde para as 
Américas e faz 
parte dos sistemas 
da Organização 
dos Estados 
Americanos (OEA) 
e da Organização 
das Nações 
Unidas (ONU).
 UNIUBE 37
a ser gradativamente inserido na agenda da saúde pública dos países 
da América Latina, ampliando as possibilidades dos serviços públicos 
responderem de maneira mais resolutiva aos problemas de saúde da 
população (RABELLO, 2010).
No Brasil, após anos de muitas lutas e muito trabalho em favor de um 
movimento nacional reconhecido como Movimento da Reforma Sanitária 
Brasileira, a Constituição Federal de 1988, no seu artigo 196, passou a 
considerar: 
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido 
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução 
do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal 
e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e 
recuperação. (BRASIL, 1988, p. 1).
 
Na forma como ficou explicitado no artigo 196 da Constituição Federal 
do Brasil, a saúde passa a ser entendida como um direito básico de 
cidadania inerente a todos os brasileiros. Posteriormente, em 1990, a 
Lei 8.080/90, conhecida como Lei orgânica da Saúde, ao regulamentar 
o texto constitucional, reafirma e reconhece, em seu artigo 3º, que 
“os níveis de saúde da população expressam a organização social 
e econômica do País” e estabelece, como indicadores de saúde, um 
conjunto de fatores condicionantes que deverão ser impulsionados pelo 
Estado e implementados pela sociedade para que os objetivos de ‘saúde 
para todos’ possam ser alcançados: 
Art. 3º. A saúde tem como fatores determinantes e 
condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, 
o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a 
renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos 
bens e serviços essenciais; [...] Parágrafo único. Dizem 
respeito também à saúde as ações que, por força do 
disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às 
pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, 
mental e social. (BRASIL. Lei nº 8.080 de 19/09/1990).
Embora o objetivo da Carta Magna Brasileira tenha sido o de reconhecer 
38 UNIUBE
a saúde como um direito de cidadania, paralelamente, além do seu 
propósito precípuo, o texto constitucional fornece subsídios para a 
compreensão e para formulação de um conceito mais ampliado de saúde. 
O fenômeno saúde passa a ser “concebido como expressão do modo 
de vida (estilo e condições de vida), capaz de explicar, juntamente com 
as condições de trabalho e do meio ambiente, o perfil epidemiológico da 
população” (PAIM, J.S.; ALMEIDA FILHO, 1998, p.311). 
Na mesma linha de pensamento, Batistella (2007) argumenta que a 
saúde é um constructo que emerge de uma dada realidade social e 
espelha a conjuntura econômica, social e cultural de uma época e lugar. 
Portanto, a compreensão de como se dão as complexas relações entre 
homem e o seu espaço/território de vida e trabalho é fundamental para 
a identificação de suas vulnerabilidades e potencialidades.
 
Deste modo, constata-se que a saúde resulta da mútua interferência entre 
os seres humanos e o ambiente em que vivem e com o qual interagem, 
ou seja, não é apenas o homem que interfere e altera o ambiente em que 
vive, mas também, o ambiente exerce influência sobre a saúde física e 
mental do homem, podendo causar-lhe bem ou mal. Isto posto, pode-se, 
por decorrência, afirmar que saúde e desenvolvimento sustentável são 
interdependentes e que, em razão desta interdependência, cabe ao 
conjunto da sociedade: poder público, instituições, famílias e indivíduos 
desenvolverem políticas, atitudes e comportamentos que resultem e/ou 
promovem as condições necessárias à conquista da qualidade de vida 
e do bem-estar social. 
Resgatando, em parte, o pensamento de Canguilhem (2006, p.148) que 
explica a saúde como a habilidade natural ou a “margem de tolerância 
ou de segurança que cada um possui para enfrentar e superar as 
infidelidades do meio”, poderíamos então concordar que, diante das 
ameaças e tensões físicas, biológicas, psicológicas e sociais decorrentes 
do modo de vida dos indivíduos, o que irá nos permitir chegar a um 
 UNIUBE 39
conceito positivo de saúde será, talvez, entendê-la como a capacidade 
humana de enfrentar e superar positivamente as adversidades da vida.
Considerações finais1.8 
Como vimos até aqui, além do conceito de saúde variar e evoluir ao 
longo dos tempos; e das condições sanitárias mostrarem-se sensíveis 
às diferentes realidades sociais, fica claro que tanto o reconhecimento, 
como o compromisso das sociedades sobre o estar doente ou saudável, 
pode ser também, significativamente desuniforme.
Apesar do conceito de saúde como oposição à doença continuar 
enraizado na sociedade, a saúde jamais poderá ser interpretada como 
sinônimo de cura, uma vez que não existe cura definitiva, pois, sob 
a luz dos modernos sistemas de diagnóstico atualmente disponíveis, 
sempre será possível detectar algum nível de desequilíbrio nas funções 
do organismo humano.
À título de conclusão, diríamos que saúde pertence à ordem do “é” 
e não do “que é”. A partir deste ponto de vista, o estado de saúde 
pode ser considerado como uma condição decorrente das interações 
dinâmicas dos contextos biológico, espiritual e social do indivíduo com 
as complexidades do seu entorno, em cada momento da sua existência 
e das quais resulte um estado relativo de bem-estar físico, mental, social 
e espiritual. Saúde é, pois, vida em curso, materialização e manifestação 
de subjetividades. Um valor universal inerente à vida que deveria instituir-
se e plenificar-se isento dos encargos de mercado e das iniquidades do 
mundo.
Muito bem, você chegou ao final destes estudos. É hora de retomar o 
exercício do início deste módulo e escrever a sua versão final sobre o que 
é saúde. Incorpore todos os conhecimentos adquiridos ao longo do estudo, 
compare as três definições e analise o seu progresso! Depois, comente e 
discuta suas dúvidas com seu professor-tutor. 
AGORA É A SUA VEZ
40 UNIUBE
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44 UNIUBE
 UNIUBE 45
Alaor Carlos de oliveira
Introdução
A Seguridade SocialCapítulo
2
Despercebida pela maioria dos brasileiros e reconhecida muito 
mais em função dos benefícios da aposentadoria, da licença-
maternidade e do afastamento remunerado do trabalho, a 
Seguridade Social que engloba as áreas da saúde, da previdência 
e da assistência social compõe uma enorme e diversificada rede 
de políticas sociais que dão corpo e concretude à proteção social 
no país.
Segundo a Constituição Federal, de 1988, no Art. 194 “A 
Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações e 
políticas sociais de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, 
destinadas a assegurar os direitos à saúde, à previdência e à 
assistência social” (BRASIL, 1988, p.1).
É por meio da Seguridade Social que um povo ou nação busca 
construir e alcançar uma sociedade livre, justa e solidária; garantir 
seu desenvolvimento, erradicar a pobreza e a marginalização e 
reduzir as desigualdades; eliminar preconceitos e promover o bem 
de todos, conforme preconiza o Art. 3º da Constituição Federal 
(BRASIL, 1988).
46 UNIUBE
Ao final deste estudo, o aluno deverá ser capaz de:
• definir Direitos humanos;
• conceituar Seguridade Social;
• distinguir Seguridade Social de Previdência e Assistência 
Social;
• correlacionar a evolução histórica do conceito Seguridade 
Social às políticas de proteção social implementadas no 
mundo e no Brasil; 
• relacionar os fatores econômicos, sociais, culturais, históricos 
e políticos que impactaram avanços e ou retrocessos na 
implementação das políticas de Seguridade Social no mundo 
e no Brasil;
• explicar a importância da Seguridade Social para o Estado 
Democrático de Direito e a justiça social;
• avaliar o conhecimento construído.
2.1 A Seguridade Social – fundamentos e objetivos
2.2 A Seguridade Social – breve histórico
2.3 A Seguridade Social – evolução
2.4 A Seguridade Social – evolução no Brasil
2.5 Considerações finais
Objetivos
Esquema
Nesta unidade didática, abordaremos o conceito, os fundamentos 
e a evolução histórica da Seguridade Social e a sua relação com 
as políticas de proteção social no mundo e no Brasil.
 UNIUBE 47
A Seguridade Social – fundamentos e objetivos2.1
Do ponto de vista dos seus fundamentos e princípios, a Seguridade 
Social se alicerça no respeito e na garantia dos direitos fundamentais 
da pessoa humana.
Os direitos

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