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Direito da Criança e do Adolescente – Prof.ª Dra. Ana Claudia Pompeu Torezan Viviane Cristina da Silva Cervati | Universidade Presbiteriana Mackenzie | 2020 Análise: Concurso de miss infantil do programa Silvio Santos vira alvo da Promotoria O TRABALHO INFANTIL NA INDÚSTRIA DO ENTRETENIMENTO Infelizmente, em vários países – principalmente os de terceiro mundo como o Brasil – não é tarefa difícil encontrar crianças em tenra idade ou pré-adolescentes trabalhando em diversas situações, desde em comércio de sustento familiar (assim como os outros membros desta constituição familiar), nas ruas em mendicância a pedido de seus tutores, vendendo artigos diversos em faróis e até mesmo em produções industriais insalubres, em regime de escravidão parcial ou total, reflexo da necessidade de sobrevivência – ou abuso familiar. No entanto, entre essas violações contrárias à infância protegida e plena (fundamental ao pleno desenvolvimento como pessoa e contrário à dignidade da pessoa humana) encontramos uma modalidade de trabalho infantil praticamente invisível aos olhos indignados dos que buscam a preservação de uma infância saudável: o trabalho infantil artístico, como o abordado no artigo analisado nesta avaliação. Em norma jurídica positivada, nossa Carta Magna, em consonância com a Convenção nº. 138 da OIT, sedimentou em seu art. 7º, XXXIII, “a proibição de qualquer trabalho aos menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz a partir dos 14 anos e vedou o trabalho noturno, perigoso ou insalubre aos menores de 18 anos, graças a alteração implantada pela Emenda Constitucional nº. 20 de 1998”1. É notório que o trabalho infantil artístico abarca muitas vezes esses 3 vetos, e a exposição do infante aumenta exponencialmente conforme o sucesso alcançado – e por muitas vezes almejados pela própria criança, ainda inconsciente das implicações de tal ocupação – trabalhos noturnos, extenuantes e por muitas vezes perigosos – no caso em tela, o perigo está na objetificação da criança que, como ser humano em formação, está mais suscetível a incorporar essa objetificação abertamente exigida pelo concurso em questão, ferindo de forma irrefutável o Princípio da Prevalência dos interesses (art. 6º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), instituído pela Lei Federal nº 8069 e promulgada em 13 de julho de 1990), in verbis: “Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento.” . Abordando o que tange o trabalho artístico infantil, Sandra Cavalcante2 tem como entendimento que “O Trabalho Infantil é aquele realizado por crianças e adolescentes que estão abaixo da idade mínima para a entrada no mercado de trabalho, segundo a legislação em vigor no país”, anteriormente supracitada. Também é importante salientar que, por muitas vezes e conforme já mencionado, a própria criança almeja o estrelato, incentivada por seus tutores que, ao vislumbrar a possibilidade real de que sua criança alcance o estrelado, acaba forçando a continuidade das atividades que a levarão a tal destino. Nesse cenário, mesmo que o infante ou o pré- púbere acabe por compreender o peso desta escolha, por competitividade e ganância de seus responsáveis legais é forçada à continuidade desta fatigante construção de uma carreira artística de sucesso, colidindo ainda com Art. 5º do ECA, que normatiza: 1 . NASCIMENTO, Pedro Ivo Lima. O Poder Judiciário como implementador de políticas públicas no combate ao trabalho infantil no lixo. Disponível em https://jus.com.br/artigos/22948/o-poder-judiciario-como-implementador-de-politicas-publicas-no-combate-ao-trabalho-infantil-no- lixo/3. Acesso em 06 de outubro de 2020. 2 CAVALCANTE, Sandra Regina. Trabalho infantil artístico: do deslumbramento à ilegalidade. São Paulo (SP): LTr, 2011. (2011, p. 27) “Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.” A extenuante jornada ao estrelado infantil toma tantas horas e oportunidades infantis que acaba por ferir também o importantíssimo Princípio da Convivência Familiar, previsto no Art. 19 do ECA onde: “Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.” . . Assim, a criança em idade de brincar, aprender e se desenvolver como adulto de nossa nova geração, ao invés de brincar, aprender e compreender o mundo ao seu redor, passa a se preocupar com discriminação por não ter o colo ou as pernas mais bonitas, o que se torna ainda mais grave quando, de forma escancarada, é promovido e reforçado por figura tão proeminente como Silvio Santos – sendo assim extremamente acertada a decisão da promotoria em atuar na proteção de nossas crianças, mantendo-as à salvo das garras capitalistas do estrelado infantil.
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