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May Freitas FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO FEBRE NA PEDIATRIA FEBRE SEM FOCO Febre sem foco refere-se a temperatura retal de 38 °C ou superior, a única característica presente. As expressões “febre sem sinais de localização” (FSSL) e “febre de origem indeterminada” (FOI) são subcategorias de febre sem foco. FEBRE SEM SINAIS DE LOCALIZAÇÃO (FSSL) Definição Febre de início agudo, com duração de menos de uma semana e sem sinais de localização. É diagnóstico comum em crianças com menos de 36 meses de idade. A etiologia e a avaliação de febre sem sinais localizados dependem da idade da criança. Os três grupos de idade são considerados: o Recém-nascidos ou crianças de até um mês de idade, o Bebês entre 1-3 meses de idade e o Crianças com mais de três meses até três anos de idade. FEBRE NA PEDIATRIA May Freitas FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO RECÉM-NASCIDOS Recém-nascidos que apresentam febre sem foco são um desafio para avaliar porque eles mostram sinais de infecção limitados, o que torna difícil distinguir clinicamente uma infecção bacteriana grave de uma doença autolimitada viral. Respostas imunes imaturas nos primeiros meses de vida também aumentam o significado da febre no lactente jovem. Embora os recém- nascidos com infecção grave possam adquirir patógenos da comunidade, eles estão principalmente em risco de início tardio de doenças bacterianas neonatais (estreptococos do grupo B, Escherichia coli e Listeria monocytogenes) e infecção por vírus do herpes simples adquirido perinatalmente (HSV). Recém-nascidos possuem risco alto de infecção bacteriana grave: Etiologia – infecção do período neonatal (E. coli; streptococus do grupo B; Herpes vírus ou enterovírus) Orientações práticas recomendam que, se um recém-nascido teve febre relatada em casa por progenitor confiável, o paciente deve ser tratado como um recém-nascido febril. Se a roupa excessiva e os cobertores que cobrem a criança são suspeitos de falsamente elevarem a temperatura do corpo, o revestimento excessivo deverá ser removido e a temperatura revista em 15-30 minutos. Se a temperatura do corpo é normal após as cobertas serem removidas, a criança é considerada afebril. CONDUTA 1. Em razão da falta de fiabilidade dos achados físicos e da presença de um sistema imunológico imaturo, todos os recém-nascidos febris devem ser hospitalizados; 2. Sangue, urina e líquido cefalorraquidiano (LCR) devem ser coletados, e a criança deve receber antibióticos intravenosos empíricos. a. Estudos do LCR devem incluir contagens de células, glicose e níveis de proteína, bacterioscopia e cultura; HSV e reação em cadeia de polimerase para enterovírus devem ser considerados. b. Cultura de fezes e radiografia do tórax também podem ser parte da avaliação avaliar a indicação de cada caso. 3. Utilizar antibiótico de amplo espectro (Ex: Ceftriaxone – cefalosporina). OBS: mantém até o resultado das culturas OU até encontrar o sinal clínico da febre OU se o paciente não melhorar. 4. Aciclovir deve ser incluído se houver suspeita de infecção por HSV em decorrência da presença de pleocitose do LCR ou conhecida história materna de HSV genital, especialmente no momento do parto. UM MÊS A 3 MESES A grande maioria das crianças com febre sem sinais de localização no grupo 1-3 meses de idade provavelmente terá uma síndrome viral. Em contraste com infecções bacterianas, a maioria das doenças virais tem um padrão distinto sazonal: infecções pelo vírus sincicial respiratório e pelo vírus influenza A são mais comuns durante o inverno, enquanto as infecções por enterovírus geralmente ocorrem no verão e no outono. Embora uma infecção viral seja a etiologia mais provável, febre nessa faixa etária deve sempre sugerir a possibilidade de doença bacteriana grave. Organismos a considerar incluem estreptococos do grupo B, L. monocytogenes, Salmonella enteritis, E. coli, Neisseria meningitidis, May Freitas FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO S. pneumoniae, Hib e Staphylococcus aureus. A pielonefrite é mais comum em lactentes do sexo masculino não circuncidados, recém-nascidos e lactentes com anomalias do trato urinário. Outras doenças bacterianas em potencial nessa faixa etária incluem otite média, pneumonia, onfalite, mastite e outras infecções da pele e dos tecidos moles. Nessa faixa etária, o exame físico é insuficiente para levar a uma conduta, por isso, é importante avaliar os Critérios de Rochester AH!! Coleta de urina por sonda vesical de alívio ou punção suprapúbica A criança precisa preencher TODOS os critérios de Rochester para ser classificada como BAIXO RISCO para bacteremia grave. A criança pode ser liberada e ficar em observação em casa. Se não preencher pelo menos 1 ALTO RISCO CONDUTA 1. Hospitalização imediata, iniciando-se a terapia antimicrobiana parenteral após a coleta de material (sangue, urina e LCR) para culturas. 2. Ampicilina (para cobrir L. monocytogenes e enterococos) mais ceftriaxona ou cefotaxima é uma medida inicial antimicrobiana eficaz. Esse regime é eficaz contra os patógenos bacterianos que geralmente causam sepse, infecções do trato urinário e enterites em lactentes jovens. 3. No entanto, se houver suspeita de meningite devido a anormalidades liquóricas, deve-se administrar vancomicina para tratar possível S. pneumoniae resistente à penicilina, até que os resultados de cultura e testes de sensibilidade a antimicrobianos sejam conhecidos. 3-36 MESES DE IDADE Aproximadamente 30% das crianças febris de três meses a três anos não apresentam sinais de localização da infecção. Infecções virais são a causa da grande maioria das febres na população, mas infecções bacterianas graves ocorrem e são causadas pelos mesmos patógenos listados para pacientes de 1-3 meses de idade, exceto para as infecções adquiridas no período perinatal. S. pneumoniae, N. meningitidis e Salmonella representam a maioria dos casos de bacteremia oculta. May Freitas FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO Fatores de risco indicativos de maior probabilidade de bacteremia oculta incluem temperatura 39 °C, leucometria = 15.000/microL e valores elevados na contagem absoluta de neutrófilos, bastões, velocidade de hemossedimentação ou proteína C reativa. Sem tratamento, a bacteremia oculta devida a pneumococos pode resolver-se espontaneamente sem deixar sequelas, pode persistir ou acarretar infecções localizadas, como meningite, pneumonia, celulite, pericardite, osteomielite ou artrite supurativa. O padrão de sequelas pode estar relacionado tanto a fatores do hospedeiro quanto do microrganismo agressor. Em algumas crianças, a doença bacterêmica oculta pode representar os sinais precoces de grave infecção localizada e não um estado patológico meramente transitório. Infecções bacterianas importantes em crianças entre 3-36 meses de idade com sinais localizados incluem otite média, sinusite, pneumonia (nem sempre evidentes, sem radiografia de tórax), enterite, infecção do trato urinário, osteomielite e meningite. AVALIAÇÃO ALTO RISCO: Febre > 39ºC o ITU (Fatores de risco: Sexo masculino, não circuncisado, etnia não negra e anomalias geniturinárias) o ( risco de bacteremia oculta) Nesse caso, avaliar vacinação antipneumocócica (Quantas doses tomou?) CONDUTA Crianças que apresentam alto risco exigem hospitalização e imediata instituição de terapia antimicrobiana empírica após a obtenção de amostras de sangue, urina e LCR para cultura. Lactentes de 3-36 meses que apresentem temperatura 39 °C e que não parecem toxêmicos podem ser observados em ambulatório sem a realização de exames laboratoriais ou a administração de agentes antimicrobianos. 1ª dose (2 meses de vida) Taxa de soroconversão: < 50% 2ª dose (4 meses de vida) Taxa de soroconversão: 70% 3ª dose (12meses de vida) Taxa de soroconversão: 90% A bacteremia oculta é definida como a presença de bactérias patogênicas na hemocultura de crianças febris sem foco identificável pela anamnese e exame físico. A maioria dos casos tem resolução espontânea, mas em pacientes não tratados, há risco de bacteremia persistente. LEMBRETE: SEMPRE COLHER EXAMES ANTES DE INICIAR A ANTIBIÓTICOTERAPIA May Freitas FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO May Freitas FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO FEBRE DE ORIGEM INDETERMINADA A expressão febre de origem indeterminada (FOI) deve ser reservada para crianças com febre documentada por profissional de saúde e para a qual a causa não pode ser identificada após três semanas de avaliação no ambulatório ou após uma semana de avaliação em hospital. ETIOLOGIA As principais causas de FOI em crianças são infecções e doenças reumatológicas (autoimunes ou do tecido conjuntivo). Distúrbios neoplásicos devem ser também seriamente considerados, embora a maior parte das crianças com doenças malignas não apresente febre como sinal clínico isolado. Se o paciente estiver recebendo qualquer droga, a possibilidade de febre medicamentosa sempre deve ser considerada. Febre medicamentosa é geralmente sustentada e não associada a outros sintomas. A suspensão da droga está associada à resolução da febre, geralmente dentro de 72 horas. No entanto, certas drogas, como os iodetos, são excretadas por período prolongado, e a febre pode persistir por até um mês após a interrupção da droga. A maioria das febres de origem indeterminada ou não reconhecida resulta de apresentações atípicas de doenças comuns. Em alguns casos, a apresentação de uma FOI é característica da doença, conforme ocorre com a artrite juvenil idiopática, mas o diagnóstico definitivo só pode ser estabelecido após observação prolongada porque inicialmente não existem achados associados nem específicos no exame físico, e todos os resultados de exames laboratoriais são negativos ou normais. DIAGNÓSTICO A avaliação da FOI requer histórico clínico e exame físico minuciosos suplementados por poucos exames laboratoriais de triagem, além dos exames radiológicos e laboratoriais indicados pelo histórico ou pelas anormalidades encontradas no exame físico ou na triagem inicial. HISTÓRIA A idade do paciente é um parâmetro útil na avaliação do paciente com FOI. Crianças com mais de seis anos de idade, muitas vezes, apresentam infecção do trato respiratório ou geniturinário, infecção localizada (abscesso, osteomielite), ARJ ou, raramente, leucemia. Pacientes adolescentes apresentam maior probabilidade de ter tuberculose, doença intestinal inflamatória, processos autoimunes ou linfoma, além das causas de FOI encontradas em crianças menores. História de exposição a animais domésticos ou selvagens deve ser pesquisada. Deve-se pesquisar hábitos dietéticos incomuns e viagens desde o nascimento da criança. Um histórico farmacológico deve ser pesquisado com rigor. Ele deve citar informações sobre preparações de venda livre no comércio e agentes tópicos, inclusive colírios, que podem estar associados à febre induzida pela atropina. O aspecto genético também é importante. EXAME FÍSICO Um exame físico completo é essencial para encontrar pistas físicas para o diagnóstico subjacente. A aparência geral da criança, incluindo a transpiração durante a febre, deve ser observada. A contínua ausência de suor na presença de temperatura corporal elevada ou oscilante sugere desidratação devida a vômitos, diarreia ou diabetes insipidus nefrogênico ou central. A May Freitas FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ausência de suor deve sugerir também displasia ectodérmica anidrótica, disautonomia familiar ou exposição à atropina. Um exame oftalmológico cuidadoso é importante. Olhos vermelhos e lacrimejantes podem ser um sinal de doença do tecido conjuntivo, particularmente poliarterite nodosa. Algumas vezes, a FOI é consequência de disfunção hipotalâmica. Uma indicação desse distúrbio é a incapacidade de constrição pupilar devido à ausência do músculo constritor esfincteriano do olho. Esse músculo desenvolve-se embriologicamente quando a estrutura e a função hipotalâmicas também sofrem diferenciação. Febres intermitentes são achados comuns em pacientes com infecções pneumocócicas, estreptocócicas, maláricas e por riquétsias. Elas também são comuns em crianças com meningite meningocócica (que geralmente não se apresenta como FOI), mas raramente são encontradas em crianças com meningococcemia. Músculos e ossos devem ser palpados cuidadosamente. A dor em um ponto sobre um osso pode sugerir osteomielite oculta ou invasão da medula óssea por doença neoplásica. O exame retal pode revelar dor ou linfadenopatia perirretal, as quais sugerem abscesso pélvico profundo, adenite ilíaca ou osteomielite pélvica. Deve-se proceder à pesquisa de sangue oculto nas fezes, que, em caso positivo, pode indicar colite granulomatosa ou colite ulcerativa como causa da FOI. Picos de temperatura e calafrios de repetição são comuns em crianças com septicemia (independentemente da causa), particularmente quando em associação com doença renal, hepática ou biliar, endocardite infecciosa, malária, brucelose, febre da mordedura do rato ou coleção purulenta encistada. Deve-se observar o estado geral do paciente e a presença ou ausência de erupções cutâneas. Reflexos tendinosos profundos hiperativos podem sugerir tireotoxicose como causa da FOI. AVALIAÇÃO LABORATORIAL A avaliação laboratorial da criança com FOI e se a avaliação ocorrerá no internamento ou ambulatorial são determinadas caso a caso. Pode ser necessária a hospitalização da criança para a realização de estudos laboratoriais ou radiológicos que não estejam disponíveis ou sejam impraticáveis de se realizar em ambulatório, para observação mais cuidadosa ou para alívio temporário da ansiedade dos pais. O ritmo da avaliação diagnóstica deve ser ajustado ao ritmo de progressão da doença; a celeridade pode ser imperativa em paciente criticamente enfermo; porém, se a doença é mais crônica, a avaliação pode ser feita de maneira sistêmica e em ambulatório. Se não forem encontradas pistas no histórico clínico nem no exame físico do paciente que indiquem infecção específica ou área de suspeita, é improvável que estudos diagnósticos sejam úteis. Nesse cenário comum, vigilância continuada e repetidas reavaliações da criança devem ser empregadas para detectar novas descobertas clínicas. Os exames dependem de cada suspeita, mas principais são: Hemoculturas, teste cutâneo de tuberculina, exames radiológicos do tórax, exame da medula óssea, testes sorológicos (CMV, toxoplasmose, Salmonelose, leptospirose...), ressonância magnética ou Tomografia computadorizada, biópsia. May Freitas FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO
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