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SP.2 – TEM QUE ESPERAR MÓDULO: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO 1. DESCREVER EPIDEMIOLOGIA, QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO DAS ARBOVIROSES (DENGUE, ZIKA, CHINKUNGUNYA E FEBRE AMARELA). DENGUE Introdução Nos últimos anos, a dengue se tornou um problema de saúde pública. Isso devido ao grande número de casos da doença, fazendo dela a mais frequente das arboviroses que acomete o ser humano. A morbidade ocasionada, já que a intensa mialgia e prostração podem levar o doente ao afastamento das suas atividades produtivas por dias, associado a sua mortalidade, podem ser elevadas dependendo da forma da doença e da precocidade e eficácia do tratamento médico instituído. A dengue é uma doença febril aguda, de etiologia viral e de evolução benigna na forma clássica, e grave quando se apresenta na forma hemorrágica. A dengue é, hoje, a mais importante arbovirose (doença transmitida por artrópodes) que afeta o homem e constitui-se em sério problema de saúde pública no mundo, especialmente nos países tropicais, onde as condições do meio ambiente favorecem o desenvolvimento e a proliferação do Aedes aegypti, principal mosquito vetor. É transmitida principalmente por meio da picada do mosquito Aedes aegypti, apesar de haver outra espécie, o Aedes albopictus, que possui morfologia e capacidade proliferativa semelhantes ao anterior e também é responsável por alguns surtos da doença em países do continente asiático. No Brasil, o Aedes albopictus foi introduzido aproximadamente em 1980, mas até o momento não foi identificado nenhum exemplar infectado pelo vírus da dengue. É uma doença sazonal, ocorrendo com maior frequência em períodos quentes e de alta umidade, já que tais condições favorecem a proliferação do mosquito transmissor. Existem relatos na literatura de transmissão vertical do vírus. Estudo realizado na Malásia com 2.531 gestantes mostrou prevalência de dengue durante a gestação de 2,5%, com taxa de transmissão vertical de 1,6%. Epidemiologia No Brasil, a primeira epidemia documentada clínica e laboratorialmente ocorreu entre 1981-1982 em Boa Vista, Roraima. Em 1986-1987 uma epidemia de grandes proporções assolou a cidade do Rio de Janeiro. A partir daí, novas epidemias ocorreram em diversos estados. Em 2002 ocorreu uma das maiores incidências da doença no Brasil, com quase 700.000 casos notificados. Depois disso, houve diminuição significativa do número de casos da doença em 2003 e 2004, voltando a aumentar em 2005. Em 2010, até o início do mês de julho, foram detectados 789.055 casos suspeitos de dengue no país, representando aumento de mais de 150% em relação ao mesmo período de 2009. Desse total, 2.271 casos foram de Febre Hemorrágica da Dengue (FHD), com 367 óbitos. A região sudeste foi a que notificou o maior número de casos (51,2%), seguida do Centro-Oeste (23,7%), Nordeste (11,3%), Norte (8,5%) e Sul (5,3%). Entre 2/1/2022 a 19/2/2022, ocorreram 90.335 casos prováveis de dengue (taxa de incidência de 42,3 casos por 100 mil hab.) no Brasil. Em comparação com o ano de 2021, houve um aumento de 43,2% de casos registrados para o mesmo período analisado. A Região Centro-Oeste apresentou a maior taxa incidência de dengue, com 236,6 casos/100 mil hab., seguida das Regiões: Norte (75,2 casos/100 mil hab.), Sudeste (24,9 casos/100 mil hab.), Sul (15,7 casos/100 mil hab.) e Nordeste (16,4 casos/100 mil hab.). Em relação às UF que apresentam as maiores taxas de incidência no País, destaca-se: Tocantins, Goiás, Mato Grosso e Distrito Federal. Os municípios que apresentaram os maiores registros de casos prováveis de dengue até a respectiva data foram: Goiânia/GO com 9.034 casos (580,7 casos/100), Brasília/DF com 5.941 casos (192 /100 mil hab.), Palmas/TO com 5.856 casos (1.868,8 casos/100 mil hab.), Sinop/MT 2.420 casos (1.624,6 casos/100 mil hab.) e Aparecida de Goiânia com 1.650 casos (274,2 casos/100 mil hab.). Virologia O vírus da dengue pertence ao gênero Flavivirus e à família Flaviviridae. É um vírus RNA, de filamento único, envelopado e que possui quatro sorotipos: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. A proteção cruzada entre eles é apenas transitória, de forma que uma mesma pessoa pode apresentar a doença até quatro vezes ao longo da sua vida. Pode haver coexistência de diferentes sorotipos em uma mesma região, o que aumenta a chance de se ter complicações como a febre hemorrágica da dengue. Vetor O Aedes aegypti é um mosquito de hábito diurno, principalmente no início da manhã e no final da tarde; tem preferência por ambientes urbanos e intradomiciliares; e alimenta-se principalmente de sangue humano. A proliferação do mosquito é feita pela postura de ovos pela fêmea em coleções de água parada onde posteriormente eles eclodem originando as larvas. O tempo decorrido entre a eclosão do ovo e o mosquito adulto é cerca de 10 dias, sendo influenciado por fatores como a temperatura, que acelera esse processo. O ovo do mosquito sobrevive por até um ano fora da água, aguardando condições ambientais favoráveis para se desenvolver. Transmissão e patogênese O mosquito adquire o vírus ao se alimentar do sangue de doente que se encontra na fase de viremia, que começa um dia antes do surgimento da febre e vai até o sexto dia de doença. O vírus vai se localizar nas glândulas salivares do mosquito, onde se prolifera e aí permanece, deixando o artrópode infectante durante toda a sua vida. Uma vez infectada a fêmea do mosquito inocula o vírus junto com a sua saliva ao picar a pessoa sadia. Além disso, a fêmea também faz a transmissão transovariana do vírus para a sua prole, favorecendo a expansão da doença. Depois de inoculado no hospedeiro humano, o vírus entra nas células, se replica, produz progenitores virais e se inicia, então, a fase de viremia, com posterior distribuição do vírus para todo o organismo. Não estão totalmente esclarecidos os sítios de replicação viral no homem, mas as evidências apontam para as células da linhagem monocítica-macrofágica de órgãos linfóides, pulmões e fígado como os principais locais. A replicação viral estimula os monócitos e, indiretamente, linfócitos a produzirem citocinas. Algumas delas vão ter efeito pró-inflamatório e vão ser responsáveis pelo aparecimento de sintomas como a febre. Outras estimulam a produção de anticorpos, que se ligam aos antígenos virais formando imunocomplexos. Os anticorpos IgM antidengue começam a ser produzidos a partir do quinto e sexto dia. Eles são capazes de neutralizar o vírus de forma que seu aparecimento marca o declínio da viremia. Permanecem detectáveis no soro por aproximadamente dois meses. Os anticorpos IgG antidengue surgem após um período de sete a 10 dias de evolução10, sobem muito na convalescença e voltam a cair, persistindo em títulos baixos por toda a vida, conferindo imunidade sorotipo específica. Na infecção secundária, devido os linfócitos de memória, a produção de IgG começa mais precocemente e atinge níveis mais elevados. Período de Incubação O período de incubação é de 3 a 15 dias5, com média de 4 a 7 dias. Aspectos clínicos A infecção pelo vírus da dengue pode ser desde assintomática até ocasionar doença grave que coloque em risco a vida do paciente. Fatores relacionados tanto ao vírus quanto ao hospedeiro determinam a gravidade. Dengue clássica: o quadro clínico é muito variável. A primeira manifestação é a febre alta (39° a 40°), de início abrupto, seguida de cefaléia, mialgia, prostração, artralgia, anorexia, astenia, dor retroorbital, náuseas, vômitos, exantema e prurido cutâneo. Hepatomegalia dolorosa pode ocorrer, ocasionalmente, desde o aparecimento da febre. Alguns aspectos clínicos dependem, com freqüência, da idade do paciente. A dor abdominal generalizada podeocorrer, principalmente nas crianças. Os adultos podem apresentar pequenas manifestações hemorrágicas, como petéquias, epistaxe, gengivorragia, sangramento gastrointestinal, hematúria e metrorragia. A doença tem uma duração de 5 a 7 dias. Com o desaparecimento da febre, há regressão dos sinais e sintomas, podendo ainda persistir a fadiga. Febre Hemorrágica da Dengue (FHD): os sintomas iniciais são semelhantes aos da dengue clássica, porém evoluem rapidamente para manifestações hemorrágicas e/ou derrames cavitários e/ou instabilidade hemodinâmica e/ou choque. Os casos típicos da FHD são caracterizados por febre alta, fenômenos hemorrágicos, hepatomegalia e insuficiência circulatória. Um achado laboratorial importante é a trombocitopenia com hemoconcentração concomitante. A principal característica fisiopatológica associada ao grau de severidade da FHD é a efusão do plasma, que se manifesta através de valores crescentes do hematócrito e da hemoconcentração. Entre as manifestações hemorrágicas, a mais comumente encontrada é a prova do laço positiva. A prova do laço consiste em se obter, através do esfignomanômetro, o ponto médio entre a pressão arterial máxima e mínima do paciente, mantendo-se esta pressão por 5 minutos; quando positiva aparecem petéquias sob o aparelho ou abaixo do mesmo. Se o número de petéquias for de 20 ou mais em um quadrado desenhado na pele com 2,3 cm de lado, essa prova é considerada fortemente positiva. Nos casos graves de FHD, o choque geralmente ocorre entre o 3º e 7º dia de doença, precedido por um ou mais sinais de alerta. O choque é decorrente do aumento da permeabilidade vascular seguido de hemoconcentração e falência circulatória. É de curta duração e pode levar ao óbito em 12 a 24 horas ou à recuperação rápida após terapia anti-choque apropriada. Diagnóstico Clinicamente, conforme determinação da vigilância epidemiológica, deve ser considerado como caso suspeito de dengue clássica todo paciente que apresente febre com duração máxima de sete dias acompanhada de duas ou mais das seguintes manifestações: cefaléia, dor retro-orbitária, artralgia, mialgia, prostração, erupção cutânea; e que resida ou tenha estado nos últimos 15 dias em zona de circulação do vírus da dengue. Se o paciente que era suspeito de dengue clássica apresentar também os 4 critérios definidos pela OMS para FHD, ele passa a ser caso suspeito de FHD: • febre ou história de febre recente de até sete dias; • trombocitopenia (contagem plaquetária <100.000/mm3); • tendências hemorrágicas evidenciadas por um ou mais dos seguintes sinais: prova do laço positiva, petéquias, equimoses ou púrpuras, sangramentos de mucosas do trato gastrointestinal e outros; • extravasamento de plasma devido ao aumento da permeabilidade capilar, manifestado por: hematócrito apresentando aumento de 20% sobre o basal na admissão; queda do hematócrito em 20% após tratamento adequado; ou presença de derrame pleural, ascite e hipoproteinemia. A confirmação do diagnóstico pode ser feita por meio de testes sorológicos ou de detecção viral, sendo os primeiros os mais utilizados e estando os de detecção virais mais reservados para quando se tem propósito epidemiológico ou como parte de pesquisa para estudos clínicos. Os testes sorológicos identificam na amostra de soro examinada a presença de anticorpos contra o vírus da dengue. Em geral, eles só podem ser realizados a partir do sexto dia de doença, quando esses anticorpos começam a surgir, de forma que possuem maior importância epidemiológica do que clínica; e, além disso, não conseguem identificar o sorotipo do vírus envolvido na infecção. As técnicas disponíveis são: inibição da hemaglutinação (IH), fixação do complemento (FC), teste de neutralização (TN) e ensaio imunoenzimático (ELISA). O exame mais empregado é o MAC-ELISA, que detecta anticorpos IgM específicos contra a dengue. Sua grande vantagem é exigir uma única amostra de soro. Pode ser realizado a partir do sexto dia de sintomas e permanece positivo por 30 a 90 dias. Para detecção viral pode-se realizar isolamento do vírus, imunohistoquímica e reação em cadeia da polimerase (PCR). Diagnóstico Diferencial Em relação ao diagnóstico diferencial, pesquisar história de contato recente com doenças exantemáticas comuns na infância e pesquisar situação vacinal para avaliar susceptibilidade a outras doenças exantemáticas imunopreveníveis. O diagnóstico diferencial de quadros febris exantemáticos deve sempre incluir rubéola, sarampo e escarlatina. Perguntar sobre viagem para regiões endêmicas para malária e febre maculosa, doenças que fazem parte do diagnóstico diferencial e que podem ser fatais sem tratamento específico. Considerando-se que a dengue tem amplo espectro clínico, as principais doenças que fazem diagnóstico diferencial são: influenza, enteroviroses, doenças exantemáticas (sarampo, rubéola, parvovirose, eritema infeccioso, mononucleose infecciosa, exantema súbito, citomegalovirose e outras), hepatites virais, hantavirose, pneumonia, sepse, infecção urinária, meningococcemia, leptospirose, malária, febre amarela. Outros agravos podem ser considerados conforme a situação epidemiológica da região. Devido às características da dengue, pode-se destacar seu diagnóstico diferencial em síndromes clínicas: a) Síndrome febril: enteroviroses, influenza e outras viroses respiratórias, hepatites virais, malária, febre tifoide, chikungunya e outras arboviroses (oropouche, zika). b) Síndrome exantemática febril: rubéola, sarampo, escarlatina, eritema infeccioso, exantema súbito, enteroviroses, mononucleose infecciosa, parvovirose, citomegalovirose, outras arboviroses (mayaro), farmacodermias, doença de Kawasaki, doença de Henoch-Schonlein, chikungunya, zika etc. c) Síndrome hemorrágica febril: hantavirose, febre amarela, leptospirose, malária grave, riquetsioses e púrpuras. d) Síndrome dolorosa abdominal: apendicite, obstrução intestinal, abscesso hepático, abdome agudo, pneumonia, infecção urinária, colecistite aguda etc. e) Síndrome do choque: meningococcemia, septicemia, meningite por influenza tipo B, febre purpúrica brasileira, síndrome do choque tóxico e choque cardiogênico (miocardites). f) Síndrome meníngea: meningites virais, meningite bacteriana e encefalite Tratamento Não existe tratamento específico para dengue sendo indicados a princípio, apenas sintomáticos e hidratação. O protocolo que será descrito foi extraído de publicação do Ministério da Saúde. Ele foi criado com intuito de evitar o retardo no diagnóstico de formas graves de dengue e no seu tratamento, e propõe que todo paciente com suspeita da doença seja dividido em quatro grupos, de acordo com os achados da anamnese e do exame físico, orientando a conduta adequada a ser adotada em cada caso. • Grupo A: Casos suspeitos de dengue com prova do laço negativa, sem manifestações hemorrágicas espontâneas e sem sinais de alarme. Mesmo nesse grupo é recomendada a coleta de hemograma, que deve ser feita no mesmo dia podendo o resultado ser checado em até 24 horas. O tratamento consiste em: hidratação oral com volume de 60 a 80ml/Kg/dia, sendo 1/3 desse volume com soro de rehidratação oral e os 2/3 restantes com líquidos caseiros como água, suco de frutas, chás, etc; e, sintomáticos, como analgésicos, antitérmicos, antieméticos e anti-histamínicos. Não devem ser utilizados salicilatos e anti-inflamatórios não hormonais devido ao risco de sangramento. O paciente deve ser orientado a retornar para reavaliação assim que houver o desaparecimento da febre (entre o segundo e sexto dia da doença), já que isso marca o início da fase crítica; ou, imediatamente caso apareçam sinais de alarme. • Grupo B: Casos suspeitosde dengue com prova do laço positiva ou manifestações hemorrágicas espontâneas, sem repercussões hemodinâmicas. Sinais de alarme ausentes. Nesses pacientes a coleta de hemograma é obrigatória e deve ser feita de imediato. O paciente deve permanecer na unidade de saúde, recebendo inicialmente hidratação oral e sintomáticos conforme descrito no grupo A, até que se tenha o resultado do hemograma, quando poderão ocorrer três situações: • Hemograma normal: paciente poderá ser liberado para tratamento ambulatorial que deverá ser conduzido igual ao de um paciente do grupo A. • Se for verificado hematócrito aumentado em até 10% acima do valor basal (ou, na ausência deste, hematócrito entre 40-44% para mulheres e 45-50% para homens) e/ou plaquetopenia entre 50- 100.000/mm3 e/ou leucopenia 44% para mulheres e >50% para homens) e/ou plaquetopenia entre 50- 100.000/mm3 e/ou leucopenia <1.000 células/mm3: o tratamento também poderá ser ambulatorial, mas deverá ser feita hidratação oral vigorosa, com 80ml/Kg/dia, além de sintomáticos. Esse paciente deverá retornar para reavaliação clínico-laboratorial em 24 horas, ou antes, se surgirem sinais de alarme e, nesse retorno, deverá ser re-estadiado. • Se for verificado hematócrito aumentado em mais de 10% acima do valor basal (ou, na ausência deste, hematócrito >44% para mulheres e >50% para homens) e/ou plaquetopenia <50.000/mm3 : paciente deverá ficar em observação por um período mínimo de 6 horas. Nesse período, realizar hidratação oral supervisionada ou parenteral, com infusão de 1/3 do volume calculado para 80ml/Kg/dia na forma de solução salina. Após isso, reavaliar o hematócrito. Se estiver normal, tratamento ambulatorial com hidratação oral vigorosa e retorno para reavaliação clínico-laboratorial em 24 horas. Se a resposta for inadequada, repetir a conduta e avaliar necessidade de internação hospitalar. Se surgirem sinais de alarme ou aumento do hematócrito na vigência de hidratação adequada, é indicada a internação hospitalar. Pacientes com plaquetopenia <20.000/mm3, mesmo sem repercussão clínica, devem ser internados e reavaliados clínica e laboratorialmente a cada 12 horas. • Grupo C: Casos suspeitos de dengue com presença de algum sinal de alarme, podendo as manifestações hemorrágicas estar presentes ou ausentes. Nesse grupo é obrigatório não apenas a coleta de hemograma como também de tipagem sanguínea, dosagem de albumina sérica, radiografia de tórax. Outros exames podem ser avaliados conforme a necessidade, como glicose, uréia, creatinina, eletrólitos, transaminases, gasometria arterial, ultrassonografia de abdome e de tórax. Esses pacientes deverão permanecer sob supervisão médica por um período mínimo de 24 horas. Hidratação endovenosa deve ser imediatamente iniciada, com 25ml/Kg de solução fisiológica ou ringer lactato em 4 horas. Reavaliar posteriormente. Se houver melhora clínica e laboratorial, iniciar etapa de manutenção, administrando inicialmente 25ml/Kg em 8 horas e depois o mesmo volume em 12 horas. Se a resposta for inadequada, repetir a conduta inicial, o que pode ser feito por até três vezes, reavaliando ao final de cada etapa. Caso a resposta persista insatisfatória o paciente deverá ser tratado como os do grupo D. • Grupo D: Casos suspeitos de dengue apresentando pressão arterial convergente, hipotensão arterial ou choque. Manifestações hemorrágicas podem estar presentes ou ausentes. Os exames laboratoriais a serem colhidos são os mesmos indicados aos pacientes do grupo C e os pacientes deverão permanecer sob cuidados médicos por no mínimo 24 horas. Deve-se iniciar hidratação parenteral com solução salina isotônica (20ml/Kg em até 20 minutos) imediatamente. Se for necessário, repetir por até três vezes. Deve ser feita reavaliação clínica a cada 15-30 minutos e colhido hematócrito após 2 horas do início do tratamento. Se houver melhora clínica (normalização da pressão arterial, do débito urinário, pulso e respiração), o paciente deve ser tratado como no grupo C, sendo iniciada a etapa de manutenção da hidratação. Se a resposta for inadequada, avaliar a hemoconcentração: • Hematócrito em ascensão e choque, após a hidratação adequada: utilizar expansores plasmáticos (colóides sintéticos - 10ml/Kg/h e, na falta deste, fazer albumina - 3ml/Kg/h). • Hematócrito em queda e choque: investigar hemorragias (e transfundir concentrado de hemácias, se necessário); coagulopatia de consumo e hiper-hidratação (tratando com diuréticos, se necessário). Em ambos os casos, se a resposta for inadequada, encaminhar o paciente para unidade de terapia intensiva. Não se deve realizar transfusão de concentrado de plaquetas apenas baseado na contagem plaquetária, já que a plaquetopenia ocorre principalmente por destruição periférica, e as plaquetas recebidas pelo paciente seriam destruídas em curto prazo. Ela poderá ser indicada se houver plaquetas <50.000/mm3 com suspeita de sangramento do sistema nervoso central e em casos de plaquetas <20.000/mm3 na presença de sangramentos importantes. Nesses casos, as plaquetas são transfundidas para tamponamento no local de sangramento e não para aumentar a contagem plaquetária. Com a resolução do choque, há reabsorção do plasma extravasado com queda adicional do hematócrito, mesmo com suspensão da hidratação parenteral. Essa reabsorção poderá causar hipervolemia, edema pulmonar ou insuficiência cardíaca, requerendo vigilância clínica redobrada. Os critérios para alta hospitalar são: ausência de febre por 24 horas sem uso de antitérmicos, melhora visível do quadro, hematócrito normal e estável, plaquetas em elevação e acima de 50.000/mm3, estabilidade hemodinâmica durante 24 horas, derrames cavitários em absorção e sem repercussão clínica. ZIKA Introdução O vírus zika é um arbovírus do gênero Flavivírus, família Flaviviridae, identificado pela primeira vez em 1947 na Floresta Zika em Uganda durante um programa de monitorização da febre amarela selvagem. Está relacionada com outros flavivírus, incluindo os vírus da dengue, da febre amarela e febre do Oeste do Nilo. Com a ocorrência dos surtos de zika, complicações do sistema nervoso central e autoimunes, previamente reportadas na Polinésia Francesa, passaram a ser observadas também nas Américas. A infecção durante a gravidez tem sido associada a microcefalia congênita, malformações fetais e perdas fetais, levando o Ministro da Saúde do Brasil a declarar estado de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional em novembro de 2015, após constatação de alteração no padrão epidemiológico de ocorrências de microcefalia em Pernambuco e outros estados do Nordeste. Em 18/02/2016, o Ministério da Saúde divulgou portaria que tornou compulsória a notificação de casos suspeitos de zika em todo país. A doença se junta a outras arboviroses, como dengue, febre amarela, febre do Nilo Ocidental, chikungunya, que já pertenciam à Lista Nacional de Notificação Compulsória. Epidemiologia Em humanos, o vírus zika foi identificado pela primeira vez 1952, em Uganda e na Tanzânia. De 1952 a 1981, várias evidências sorológicas de infecção pelo vírus foram reportadas em países da África, e em partes da Ásia. Em 2007 ocorreu a primeira epidemia fora da África e da Ásia, nas Ilhas Yap da Micronésia quando se estimou que mais de 70% da população acima de 3 anos foram infectados. Outro grande surto de febre do zika ocorreu, concomitantemente com epidemia de dengue - sorotipos 1 e 3 - na Polinésia Francesa em 2013-2014 afetando cerca de 32.000 pessoas. No ano de 2014, casos de infecção pelo vírus zika foram reportados na ilha de Páscoa, território do Chile. Em maio de 2015, meses após o relato de aumento de incidência de doença febril exantemática atéentão de causa não identificada em estados da região Nordeste do país, a circulação do zika vírus foi confirmada no Brasil, inicialmente na Bahia em 29 de abril de 2015 a partir da análise de amostras de pacientes com quadro exantemático em Camaçari, Bahia, e posteriormente em 09 de maio de 2015 no Rio Grande do Norte, com identificação do genótipo Asiático. Em maio foram confirmados casos laboratorialmente também em Sumaré e Campinas/SP, Maceió/AL e Belém/PA. Desde então, vem sendo observada uma rápida expansão das áreas de circulação e transmissão autóctones do vírus, notadamente em estados da região Nordeste. Estima- se que mais de 1 milhão de brasileiros tenham sido infectados pelo vírus zika no ano de 2015, refletindo a capacidade do vírus de causar surtos em larga escala onde o vetor biológico está presente Características do vírus O vírus Zika (ZIKV) é um arbovírus (siglas em inglês de arthropod-borne-virus) emergente, pertencente ao sorocomplexo Spondweni, gênero Flavivirus, família Flaviviridae, que apresenta relação genética e sorológica com outros flavivírus de importância em saúde pública como o vírus da dengue, o da febre amarela e o do oeste do Nilo (Faye et al., 2014). O genoma do vírus é RNA, de fita simples, polaridade positiva e tamanho aproximado de 11 kilobases, que codifica para uma poliproteína com três componentes estruturais (capsideo [C], premembrana [prM] ou membrana [M] e envoltura [E]) e sete proteínas não estruturais (NS1, NS2a, NS2b, NS3, NS4a, NS4b e NS5) (Baronti et al., 2014) . Estudos filogenéticos mencionam três linhagens do vírus: o da África do Leste, o da África do Oeste e o Asiático (Lanciotti et al., 2007). Na região leste da África o vírus é mantido em ciclo silvestre envolvendo, principalmente, primatas não humanos e mosquitos do gênero Aedes (Haddow et al., 2012); o homem é considerado hospedeiro amplificador primário em áreas onde não há primatas não humanos Período de incubação Estudos mostram que o período de incubação em mosquitos é cerca de 10 dias e no homem de 3 a 6 dias. Os hospedeiros vertebrados do vírus incluem macacos e seres humanos. Modo de transmissão a) Vetorial: O vírus Zika é usualmente transmitido ao homem pela picada de mosquitos do gênero Aedes, dentre eles, o Ae. africanus, Ae. apicoargenteus, Ae. vitattus, Ae. furcifer, Ae. luteocephalus, Ae. hensilli, e Ae. aegypti. A espécie Ae. hensilii foi a predominante na Ilha de Yap durante a epidemia de 2007. Nas Américas, o principal vetor é o Ae. Aegypti. b) transmissão perinatal: Há evidências de que a mãe infectada com o vírus Zika nos últimos dias de gravidez pode transmitir o vírus ao recém-nascido durante o parto. Besnard et al. (2014) detectaram o vírus no soro de dois recémnascidos, utilizando a técnica de reação em cadeia da polimerase via transcriptase reversa (RT- PCR), encontraram evidências de infecção pelo vírus Zika nos recém-nascidos. Adicionalmente, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em dezembro de 2015, emitiu um alerta epidemiológico após evidenciar um aumento no número de casos de microcefalia no Brasil. O vírus Zika foi detectado no líquido amniótico de duas mulheres grávidas cujos fetos apresentaram danos neurológicos sérios. c) Transmissão sexual: Foy et al. (2011) mencionaram evidências clínicas e sorológicas de transmissão do vírus Zika por contato direto pessoa-pessoa. Trata-se de um cientísta dos Estados Unidos (estado de Colorado) que contraiu o vírus em 2008, trabalhando na Vila de Bandafassi, região endêmica localizada em Senegal e que, posteriormente, ao voltar para casa transmitiu o vírus para a esposa provavelmente por contato sexual. Duvida-se da possível transmissão do vírus pela picada de mosquito considerando-se que a esposa adoeceu após 9 dias do marido ter voltado para casa e, o período de incubação extrínseca é superior a 15 dias. Adicionalmente, na localidade onde foi reportado o caso normalmente é capturada a espécie Aedes vexans, do subgênero Aedimorphus, e os vetores do vírus Zika são, principalmente, do subgênero Stegomyia. Da mesma forma, Gourinat et al. (2015) e Musso et al. (2015) demonstraram a presença do vírus em sêmen de paciente de Taiti que apresentou sintomas compatíveis com infecção pelo Zika além de hematospermia (presença de sangue no esperma). O resultado sugere replicação viral no trato genital e a possibilidade de transmissão pela via sexual. d) Transmissão por transfusão de sangue: Musso et al. (2014b) detectaram vírus Zika através da técnica RT- PCR, em amostras de sangue de doadores que estavam assintomáticos para o momento da doação. Os resultados permitiram alertar as autoridades de saúde sobre o risco de transmitir o vírus através da transfusão de sangue. O vírus Zika foi isolado, pelo Instituto Adolfo Lutz e, confirmado pelo Instituto Evandro Chagas, de um paciente que recebeu uma transfusão sanguínea de um doador que estava em período de incubação do vírus. A possibilidade de o vírus Zika ser transmitido por sangue e hemoderivados levanta a questão da inclusão desta (e outras?) arbovirose(s) na triagem de doadores de sangue. Quadro clínico A zika é uma doença febril autolimitada (com manifestação de sintomas por 3-6 dias). Os sintomas comuns da infecção pelo vírus incluem febre baixa (entre 37,8ºC e 38,5ºC), conjuntivite não purulenta, dor de cabeça, artralgia normalmente em mãos e pés, em alguns casos com inflamações das articulações, fatiga ou mialgia, astenia, rash maculopapular e, com menos frequência, dor retro-orbital, anorexia, vômitos, diarreia e dor abdominal, aftas. Astenia pós infecção é frequente. Os sintomas desaparecem em até 7 dias. A dor articular pode estar presente até um mês do início da doença; a artralgia não é tão intensa como a que ocorre em chikungunya e não apresenta a cronicidade características de chikungunya. Em alguns pacientes pode ocorrer hematoespermia. A doença gerada pelo vírus Zika era considerada sem complicações severas. Porém, na epidemia ocorrida na Polinésia Francesa, entre novembro de 2013 e fevereiro de 2014, foram relatados casos de pacientes infectados pelo vírus Zika que apresentaram a síndrome de Guillain-Barré (doença autoimune desmielinizante que causa paralisia flácida aguda ou subaguda). Alguns deles desenvolveram outras complicações neurológicas (encefalite, meningoencefalite, paraestesia, paralisia facial e mielite); pode ocorrer ainda: trombocitopenia púrpura, danos oftalmológicos e cardíacos. Exames laboratoriais Informações sobre alterações típicas associadas com a infecção por vírus Zika são escassas, mas incluem, durante o curso da doença, leucopenia, trombocitopenia ligeira elevação da desidrogenase láctica sérica, gama glutamil transferase e de marcadores de atividade inflamatória (proteína C reativa, fibrinogênio e ferritina). Não há relatos de infecção secundária, pelo fato do vírus apresentar um único sorotipo. O diagnóstico laboratorial específico baseia-se principalmente na detecção de RNA viral a partir de espécimes clínicos. O período virêmico não foi estabelecido, mas se acredita que seja curto, o que permitiria, em tese, a detecção direta do vírus até 4-7 dias após o início dos sintomas, sendo, entretanto, ideal que o material a ser examinado seja até o 5º dia (figura 3). Os ácidos nucléicos do vírus foram detectados em humanos entre 1 e 11 dias após início dos sintomas e o vírus foi isolado em primata não- humano até 9 dias após inoculação experimental. Tratamento O tratamento dos casos sintomáticos é baseado no uso de acetaminofeno (paracetamol) ou dipirona para o controle da febre e manejo da dor. No caso de erupções pruriginosas, os anti-histamínicos podem ser considerados. No entanto,é desaconselhável o uso ou indicação de ácido acetilsalicílico e outros drogas anti- inflamatórias devido ao risco aumentado de complicações hemorrágicas descritas nas infecções por síndrome hemorrágica como ocorre com outros flavivírus. Não há vacina contra o vírus Zika. A SVS/MS informa que mesmo após a identificação do vírus Zika no país, há regiões do país com ocorrência simultânea de casos de dengue e chikungunya, que, por apresentarem quadro clínico semelhante, não permitem afirmar que os casos de síndrome exantemática identificados sejam relacionados exclusivamente a um único agente etiológico. Assim, independentemente da confirmação das amostras para o vírus Zika, é importante que os profissionais de saúde se mantenham atentos frente aos casos suspeitos de dengue nas unidades de saúde e adotem as recomendações para manejo clínico conforme o preconizado no protocolo vigente, na medida em que esse agravo apresenta elevado potencial de complicações e demanda medidas clínicas específicas, incluindo-se a classificação de risco, hidratação e monitoramento. Complicações congênitas Em geral, malformações congênitas, incluindo microcefalia, tem etiologia complexa e multifatorial e podem ser causadas por infecção durante a gravidez bem como por distúrbios cromossômicos, exposição a toxinas ambientais e doenças metabólicas. A relação temporal e espacial entre surtos de zika e aumento da incidência de microcefalia em estados com transmissão autóctone documentada, passou a indicar uma, cada vez mais provável, relação causal entre os dois eventos epidemiológicos. Tal relação vem se tornando cada vez mais consistente após a detecção do RNA viral pela técnica de PCR para zika em líquido amniótico, placenta, sangue do cordão umbilical e tecido cerebral. Foi demostrado, também, a capacidade do vírus em infectar e atravessar a barreira placentária podendo, então, acometer o tecido nervoso em formação. No Brasil, a partir da confirmação do surto de zika a incidência de microcefalia aumentou mais de 20 vezes em relação ao que seria esperado. Durante investigações conduzidas em relação a 35 crianças com microcefalia, 74% das mães com suspeita de ter tido zika durante a gestação no Nordeste do Brasil, relataram rash cutâneo durante o 1° e 2° trimestre. Retrospectivamente, após notificação do Brasil à Organização Mundial de Saúde, houve a identificação de casos de microcefalia também na Polinésia Francesa, recentemente relatado na literatura. Identificação de feto com alterações do Sistema Nervoso Central (SNC), durante a gestação, segundo orientação do Ministério da saúde, são de notificação obrigatória. FEBRE AMARELA Introdução A febre amarela é doenca infecciosa não-contagiosa causada por um arbovírus mantido em ciclos silvestres em que macacos atuam como hospedeiros amplificadores e mosquitos dos gêneros Aedes na África, e Haemagogus e Sabethes na América, são os transmissores. Cerca de 90% dos casos da doença apresentam-se com formas clínicas benignas que evoluem para a cura, enquanto 10% desenvolvem quadros dramáticos com mortalidade em torno de 50%. O problema mostra-se mais grave em África onde ainda há casos urbanos. Nas Américas, no período de 1970-2001, descreveram-se 4.543 casos. Os países que mais diagnosticaram a doença foram o Peru (51,5%), a Bolívia (20,1%) e o Brasil (18,7%). Os métodos diagnósticos utilizados incluem a sorologia (IgM), isolamento viral, imunohistoquímica e RT-PCR. A zoonose não pode ser erradicada, mas, a doença humana é prevenível mediante a vacinação com a amostra 17D do vírus amarílico. A OMS recomenda nova vacinação a cada 10 anos Características gerais Doença infecciosa febril aguda, imunoprevenivel, de evolução abrupta e gravidade variável, com elevada letalidade nas suas formas graves. O agente etiológico é transmitido por artrópodes (vetores), da família Culicidae, habitualmente conhecidos como mosquitos e pernilongos. A importância epidemiológica decorre da gravidade clínica, da elevada letalidade e do potencial de disseminação e impacto, sobretudo quando a transmissão for urbana, por Ae, aegypti. Agente etiológico O vírus da febre amarela (FA) é um arbovirus (virus transmitido por artrópode-vetores) do gênero Flavivirus, protótipo da família Flaviviridae. Vetores reservatórios Os mosquitos são reconhecidos como os verdadeiros reservatórios do vírus da febre amarela, podendo transmiti-lo durante toda a vida após a infecção. No ciclo silvestre, as principais espécies de mosquitos implicadas na transmissão são Haemagogus janthinomys e Hg. leucocelaenus, além de outras espécies dos gêneros Haemagogus e Sabethes, que desempenham papel secundário. No ciclo urbano, o Ae. aegypti é o vetor primário. Hospedeiros No ciclo silvestre da FA, os primatas não humanos (PNH) são os principais hospedeiros e atuam como amplificadores do virus, produzindo elevada viremia. Esses animais são vítimas da doença, assim como o homem, que neste ciclo se apresenta como hospedeiro acidental. No ciclo urbano, o homem é o principal hospedeiro com importância epidemiológica, pois atua como fonte de infecção para Ae aegypti, que pode produzir um ciclo homem - mosquito - homem (urbano). Modo de transmissão Não há transmissão de pessoa a pessoa. O vírus é transmitido pela picada dos mosquitos transmissores infectados. Apenas as fêmeas transmitem o vírus ao buscar o repasto sanguíneo que provê nutrientes essenciais para a maturação dos ovos e, consequentemente, para a completude do ciclo gonotrofico. Nos mosquitos, a transmissão também pode ocorrer de forma vertical, na qual as fêmeas transferem o vírus para a sua prole e constitui um dos mecanismos de manutenção do vírus na natureza. A febre amarela é considerada uma zoonose silvestre. O homem, não imunizado, infecta-se acidentalmente quando se expõe em áreas de mata rurais e silvestres onde o vírus está disponível. Embora o vírus da FA tenha sido detectado nas maiores regiões metropolitanas nos últimos anos, com elevado número de casos confirmados, nenhuma evidência de um processo de reurbanização foi documentada. Embora o termo "silvestre" se aplique em oposição ao ciclo urbano, em que o homem seria a principal fonte de infecção e o Ae. aegypti seria o vetor primário, não contempla toda a diversidade de cenários e situações em que a transmissão tem sido observada. Fragmentos de mata em matrizes urbanas têm criado corredores funcionais de dispersão e possibilitou a introdução do vírus, de modo que, atualmente, ambientes com características "silvestres" podem ser encontrados em matrizes urbanas, densamente povoadas, onde também são encontrados primatas não humanos e mosquitos de hábitos silvestres, incomuns à fauna urbana (Figura 1). Período de incubação Compreende dois ciclos: um intrínseco e outro extrínseco. A incubação intrínseca ocorre no hospedeiro, tanto no homem como no PNH (macaco), e corresponde ao período entre a infecção viral dada no momento da picada pelo mosquito infectado até o início dos sintomas. No homem, o período de incubação geralmente varia de 3 a 6 dias (similar nos PNHs) e, em situações esporádicas, considera-se que pode se estender por até 15 dias. A incubação extrínseca ocorre nos vetores (mosquitos) e corresponde ao período entre a infecção a partir do repasto sanguíneo no hospedeiro virêmico e a replicação do vírus nas glândulas salivares, quando passa a transmiti-lo a um novo hospedeiro pela picada. Esse período varia de 8 a 12 dias. A partir desse momento, as fêmeas de mosquitos são capazes de transmitir o vírus por toda sua vida que pode durar entre seis e oito semanas, aproximadamente. Período de transmissibilidade No homem,a viremia dura aproximadamente 5-7 dias. Inicia-se entre 24 e 48 horas antes do aparecimento dos primeiros sintomas e se estende até 3 a 5 dias após o início da doença, período em que o homem pode servir como fonte de infecção para mosquitos transmissores. Nos PNH, a viremia pode ser mais intensa dependendo da espécie afetada, mas o período de transmissibilidade é semelhante ao do homem. Nos mosquitos, após o período de incubação, a fêmea é capaz de transmitir o vírus até o final de sua vida, que pode variar entre 6 e 8 semanas, aproximadamente. Quadro clinico O espectro clínico da FA pode variar desde infecções assintomáticas até quadros graves e fatais. As formas leves ou infecções assintomáticas representam a maioria dos casos (40% a 60%). O quadro clinico clássico caracteriza-se pelo início súbito de febre alta, cefaleia intensa e duradoura, inapetência, náuseas e mialgia. O sinal de Faget (bradicardia acompanhando febre alta) pode ou não estar presente. Nas formas leves e moderadas, que representam entre 20% e 60% dos casos, os sinais e os sintomas duram entre 2 e 4 dias, que geralmente são aliviados com tratamento sintomático, antitérmicos e analgésicos. As formas graves e malignas representam aproximadamente de 20% a 40% dos casos, para os quais a evolução para o óbito pode ocorrer entre 20% e 50% dos registros. Nas formas graves, cefaleia e mialgia ocorrem com maior intensidade e podem estar acompanhadas de náuseas e vômitos frequentes, ictericia, oligúria e manifestações hemorrágicas como: epistaxe, hematêmese e metrorragia. Classicamente, são descritos três estágios da doença (período de infecção, remissão e toxêmico) seguidos por um período de convalescença (Figura 3). A maioria dos pacientes segue a cronologia dos estágios (período de infecção => toxêmico), mas o paciente já pode iniciar os sintomas no período toxêmico ou passar para o período toxémico em qualquer momento desde o início dos sintomas, o que faz com que o acompanhamento estreito dos pacientes oligossintomáticos seja necessário até pelo menos o sétimo dia de início dos sintomas (período máximo em que o paciente pode iniciar os sinais de gravidade). ● Período de infecção: dura cerca de 3-6 dias; tem início súbito e sintomas inespecíficos, como febre, calafrios, cefaleia, lombalgia, mialgias generalizadas, prostração, mal-estar, tonturas, náuseas e vômitos, pode ocorrer infecção conjuntival e bradicardia. ● Período de remissão: ocorre declínio da temperatura e diminuição da intensidade dos sintomas, provocando sensação de melhora no paciente. Dura de poucas horas até, no máximo, dois dias. ● Periodo toxêmico: caracterizado por resposta inflamatória exacerbada associada a colapso hemodinâmico. Reaparece a febre, a diarreia e os vômitos têm aspecto de borra de café, também pode ocorrer dor abdominal intensa. Instala-se quadro de insuficiência hepatorrenal caracterizado por icterícia, oligúria, anúria e albuminuria, acompanhado de manifestações hemorrágicas: gengivorragias, epistaxe, otorragia, hematêmese, melena, hematúria, petéquias, equimoses, hematomas, hemorragia conjuntival, hemoptise, hemoperitônio, sangramentos em locais de punção venosa e prostração intensa, além de comprometimento do sensório, com obnubilação mental e torpor, havendo evolução para coma e morte. O pulso torna-se mais lento, apesar da temperatura elevada. Essa dissociação pulso-temperatura é conhecida como sinal de Faget. É uma doença dinâmica com possibilidade de piora importante em período de horas ou dias. A evolução para o óbito ocorre em 7-14 dias, na grande maioria dos casos, deve-se a insuficiência hepática fulminante. Sepse bacteriana e fúngica, hemorragias e arritmias cardíacas podem ocorrer. Portanto, também pode haver óbito devido a choque distributivo séptico, choque hipovolêmico devido a hemorragias, choque cardiogênico devido a miocardite e arritmias ou choque misto com mais de uma forma simultaneamente. Há relatos de morte súbita tardia atribuída a complicação cardíaca. Exames laboratoriais São características laboratoriais da doença: ausência de leucocitose e proteína reativa C baixa. A suspeita do diagnóstico de FA enfraquece na presença de proteína reativa C elevada e leucocitose. Na presença de PCR elevada e/ou, leucocitose deve-se suspeitar de outro diagnóstico ou de complicação bacteriana superposta ao quadro de FA. Hemorragias de grande vulto podem causar leucocitose devido à resposta medular. TGO extremamente elevada (podendo chegar a valores de 25.000-50.000) é uma característica da doença grave, e sua elevação acima da TGP ocorre devido à lesão muscular cardíaca e esquelética, além de aumento da permeabilidade mitocondrial associada à apoptose celular. O aumento da transaminase é proporcional à gravidade da doença e níveis muito altos indicam um mau prognóstico. Pacientes com níveis de TGO levemente alterado ou normal e quadro clínico grave sugerem erro de diluição do exame. Nesses casos, deve-se fazer avaliação do equipamento utilizado pelo laboratório e, se necessário, fazer a diluição das transaminases manualmente. LDH também chega a níveis extremamente elevados (70.000) nos casos graves devido ao dano hepático e tecidual dos outros órgãos acometidos pelo vírus da FA. A proteinúria é comum e notada já nos primeiros dias de início dos sintomas; somente parte dos pacientes que apresenta proteinúria vai evoluir com insuficiência renal. Manejo clínico forma leve em adultos Realizar hidratação: via oral (60 ml/kg/dia) de acordo com a aceitação dos pacientes. Em caso de intolerância da hidratação por via oral, utilizar 30 ml/kg/dia de cristaloides (soro fisiológico 0,9% ou Ringer lactato) por via venosa. Prescrever sintomáticos: para o manejo da dor e febre, não usar o ácido acetilsalissílico (AAS) e anti- inflamatórios não esteroides (Aines). No caso de uso de paracetamol, evitar uso de doses superiores a 3,0 gramas por dia. Podem-se utilizar medidas de resfriamento físico para a diminuição da temperatura corporal. Repetir, pelo menos, os exames de transaminases, creatinina, RNI e hemograma completo com intervalo máximo de 24 horas até o paciente completar 48 horas de remissão da febre. Atenção a pacientes com transaminases baixas e sinais de gravidade. Essa dissociação clínica/laboratorial pode representar erro de diluição das transaminases. No caso de suspeita de erro na diluição das transaminases, o laboratório deve ser alertado para que refaça o exame e avalie fazer a diluição manualmente, se necessário. Manter o paciente em monitoramento clínico e laboratorial por até 48 horas após a remissão da febre. Realizar busca ativa em caso do não comparecimento do paciente para reavaliação no período máximo de 24 horas. Caso não haja possibilidade de monitorizarão clínica e laboratorial dos pacientes com a forma leve, manejá- los como forma moderada. Realizar vacina febre amarela logo após a alta, nos casos não confirmados. Manejo clínico forma moderada em adultos Realizar hidratação: manter a euvolemia. Iniciar hidratação por via oral de acordo com a aceitação do paciente. Em caso de intolerância da hidratação por via oral, instituir hidratação venosa com cristaloides (soro fisiológico 0,9% ou ringer lactato). Pacientes desidratados devem receber expansão volêmica de 20 ml/kg/h com reavaliação de parâmetros hemodinâmicos e urinários após a primeira hora. Caso o paciente permaneça oligúrico ou hipotenso, já considerar encaminhar para a UTI e repetir a infusão de 20 ml/kg/h até estabilidade destes parâmetros. Deve- se manter vigilância para evitar hiperidratação. Prescrever sintomáticos: para o manejo da dor e febre, não usar o ácido acetilsalissílico (AAS) e anti- inflamatóriosnão esteroides (Aines). Suspender AAS e Aines no caso de uso crônico. No caso de uso de paracetamol, evitar uso de doses superiores a 3,0 gramas por dia. Podem- -se utilizar medidas de resfriamento físico para a diminuição da temperatura corporal. Fazer a reavaliação clínica/reclassificação a cada 4 horas e revisão laboratorial no mínimo de 12 em 12 horas. Sempre investigar a presença de hemorragia. Avaliar transfusões, conforme anexo e se necessária transfusão, encaminhar para a UTI. Realizar vacina febre amarela após a melhora clínica do paciente, logo após a alta, nos casos não confirmados. Tratamento Não há medicamento específico para o tratamento da doença. Como os exames diagnósticos da febre amarela demoram em média até uma semana, o tratamento de apoio deve ser iniciado em caso de suspeita clínica dessa virose. Recomenda-se o internamento do paciente com as formas graves em hospitais com boa infra-estrutura e, de preferência, possuidores de unidade de tratamento intensivo (UTI), pois há necessidade de uma série de procedimentos que só se dispõe nessas unidades. O tratamento medicamentoso deve se voltar para o combate aos sintomas e os sinais manifestos da doença. Portanto, a medicação a ser prescrita depende das manifestações clínicas, mas é comum o uso de analgésicos e antitérmicos nas doses usualmente indicadas para o peso e a idade. Se contra-indica, entretanto, o uso de medicamentos que contenham em sua fórmula o ácido acetil-salicílico ou seus derivados pois eles podem agravar os fenômenos hemorrágicos. Deve ser prescrito anti-emético para controlar os vômitos, em particular a metoclopramida e também medicamentos para proteger a mucosa gástrica (bloqueadores H2), tais como a cimetidina e a ranitidina ou o omeprazol, pois essas drogas mostram-se úteis para prevenir os sangramentos gástricos, uma das complicações da febre amarela. CHIKUNGUNYA Introdução A chikungunya é uma arbovirose causada pelo vírus chikungunya (CHIKV), da família Togaviridae e do gênero Alphavirus. A viremia persiste por até dez dias após o surgimento das manifestações clínicas. A transmissão se dá através da picada de fêmeas dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus infectadas pelo CHIKV. Casos de transmissão vertical podem ocorrer quase que exclusivamente no intraparto de gestantes virêmicas e, muitas vezes, provoca infecção neonatal grave. Pode ocorrer transmissão por via transfusional, todavia é rara se os protocolos forem observados. Os sinais e sintomas são clinicamente parecidos aos da dengue – febre de início agudo, dores articulares e musculares, cefaleia, náusea, fadiga e exantema. A principal manifestação clínica que a difere são as fortes dores nas articulações, que muitas vezes podem estar acompanhadas de edema. Após a fase inicial a doença pode evoluir em duas etapas subsequentes: fase subaguda e crônica. A chikungunya tem caráter epidêmico com elevada taxa de morbidade associada à artralgia persistente, tendo como consequência a redução da produtividade e da qualidade de vida. Espectro clínico O período de incubação intrínseco, que ocorre no ser humano, é em média de 3 a 7 dias (podendo variar de 1 a 12 dias). O extrínseco, que ocorre no vetor, dura em média dez dias. O período de viremia no ser humano pode perdurar por até dez dias e, geralmente, inicia-se dois dias antes da apresentação dos sintomas, podendo perdurar por mais oito dias. A maioria dos indivíduos infectados pelo CHIKV desenvolve sintomas, alguns estudos mostram que até 70% apresentam infecção sintomática. Esses valores são altos e significativos quando comparados às demais arboviroses. Dessa forma, o número de pacientes que necessitarão de atendimento será elevado, gerando uma sobrecarga nos serviços de saúde A doença pode evoluir em três fases: aguda, subaguda e crônica. Após o período de incubação iniciase a fase aguda ou febril, que dura até o décimo dia. Alguns pacientes evoluem com persistência das dores articulares após a fase aguda, caracterizando o início da fase subaguda, com duração até 3 meses. Quando a duração dos sintomas persistem até 3 meses atingem a fase crônica. Nestas fases, algumas manifestações clínicas podem variar de acordo com o sexo e a idade. Exantema, vômitos, sangramento e úlceras orais parecem estar mais associados ao sexo feminino. Dor articular, edema e maior duração da febre são prevalentes quanto maior a idade do paciente. A fase aguda ou febril da doença é caracterizada principalmente por febre de início súbito e surgimento de intensa poliartralgia, geralmente acompanhada de dores nas costas, cefaleia e fadiga, com duração média de sete dias. A febre pode ser contínua, intermitente, ou bifásica; porém a queda de temperatura não é associada à piora dos sintomas como na dengue. Ocasionalmente, pode ser associada a uma bradicardia relativa. A poliartralgia tem sido descrita em mais de 90% dos pacientes com chikungunya na fase aguda. A dor articular normalmente é poliarticular, simétrica, mas pode haver assimetria. Acomete grandes e pequenas articulações e abrange com maior frequência as regiões mais distais. Pode haver edema, e este, quando presente, normalmente está associado à tenossinovite. Na fase aguda também tem sido observado dor ligamentar. A mialgia quando presente é, em geral, de leve a moderada intensidade. A Figura 2 ilustra pacientes com acometimento articular em diversas regiões do corpo. O exantema normalmente é macular ou maculopapular, acomete cerca de metade dos doentes e surge normalmente do segundo ao quinto dia após o início da febre. Atinge principalmente o tronco e as extremidades (incluindo palmas e plantas), podendo atingir a face. O prurido está presente em 25% dos pacientes e pode ser generalizado ou apenas localizado na região palmo- plantar. Outras manifestações cutâneas também têm sido relatadas nesta fase: dermatite esfoliativa, lesões vesicobolhosas, hiperpigmentação, fotossensibilidade, lesões simulando eritema nodoso e úlceras orais. Durante a fase subaguda a febre normalmente desaparece, podendo haver persistência ou agravamento da artralgia, incluindo poliartrite distal, exacerbação da dor articular nas regiões previamente acometidas na primeira fase e tenossinovite hipertrófica subaguda em punhos e tornozelos. O comprometimento articular costuma ser acompanhado por edema de intensidade variável. Há relatos de recorrência da febre. Podem estar presentes também nesta fase astenia, prurido generalizado e exantema maculopapular, além do surgimento de lesões purpúricas, vesiculares e bolhosas. Alguns pacientes podem desenvolver doença vascular periférica, fadiga e sintomas depressivos. Se os sintomas persistirem por mais de três meses, após o início da doença, estará instalada a fase crônica. Fase crônica: Após a fase subaguda, alguns pacientes poderão ter persistência dos sintomas, principalmente dor articular e musculoesquelética. As manifestações têm comportamento flutuante. A prevalência desta fase é muito variável entre os estudos, podendo atingir mais da metade dos pacientes. Os principais fatores de risco para a cronificação são: idade acima de 45 anos, desordem articular preexistente e maior intensidade das lesões articulares na fase aguda. O sintoma mais comum nesta fase crônica é o acometimento articular persistente ou recidivante nas mesmas articulações atingidas durante a fase aguda, caracterizado por dor com ou sem edema, limitação de movimento, deformidade e ausência de eritema. Normalmente, o acometimento é poliarticular e simétrico, mas pode ser assimétrico e monoarticular. Também há relatos de dores nas regiões sacroilíaca, lombossacra e cervical. Alguns pacientes poderão evoluir com artropatiadestrutiva semelhante à artrite psoriática ou reumatoide. Outras manifestações descritas durante a fase crônica são: fadiga, cefaleia, prurido, alopecia, exantema, bursite, tenossinovite, disestesias, parestesias, dor neuropática, fenômeno de Raynaud, alterações cerebelares, distúrbios do sono, alterações da memória, déficit de atenção, alterações do humor, turvação visual e depressão. Esta fase pode durar até três anos. Diagnóstico diferencial O diagnóstico diferencial de chikungunya é feito com outras doenças febris agudas associadas à artralgia. O clínico deve estar atento para causas potencialmente fatais e que exijam uma conduta medicamentosa específica imediata, como artrite séptica. Na epidemiologia atual, o principal diagnóstico diferencial, durante a fase aguda, é a dengue (Tabela 1). Outras doenças que fazem parte do diagnóstico diferencial são: • Malária: periodicidade da febre, paroxismos, insuficiência renal, icterícia, alteração do nível de consciência, hepato ou esplenomegalia e história de exposição em áreas de transmissão. • Leptospirose: mialgia intensa em panturrilhas, sufusão ocular, icterícia rubínica, oligúria, hemorragia subconjuntival, considerar história de exposição a águas contaminadas. • Febre reumática: poliartrite migratória de grandes articulações, história de infecção de garganta. Considerar os critérios de Jones para a febre reumática e evidência de infecção prévia pelo Streptococos (cultura positiva de orofaringe, positividade em testes rápidos para detecção de antígenos estreptocócicos ou títulos elevados de anticorpos anti-estreptocócicos). • Artrite séptica: leucocitose, derrame articular, acometimento de grandes articulações e história de trauma. Exames Laboratoriais As alterações laboratoriais de chikungunya, durante a fase aguda, são inespecíficas. Leucopenia com linfopenia menor que 1.000 cels/mm3 é a observação mais frequente. A trombocitopenia inferior a 100.000 cels/mm3 é rara. A velocidade de hemossedimentação e a Proteína C-Reativa encontram-se geralmente elevadas, podendo permanecer assim por algumas semanas. Outras alterações podem ser detectadas como elevação discreta das enzimas hepáticas, da creatinina e da creatinofosfoquinase (CPK). Considerando a necessidade de prescrição de corticoides e anti-inflamatórios não esteroides (Aine) na fase subaguda, os seguintes exames devem ser solicitados: ureia, creatinina, aspartato aminotransferase (AST), alanina aminotransferase (ALT), glicemia de jejum e hemograma. Na fase crônica é importante avaliar o paciente antes da introdução do metotrexato e da hidroxicoloroquina, nesta fase os seguintes exames são necessários: AgHBs, HBsAg, anti-HCV, anti-HIV, anti-CMV, toxoplasmose e Rx de tórax, entre outros. Diagnóstico laboratorial específico Em regiões onde ocorrem epidemias por outros arbovírus, com sinais e sintomas semelhantes aos apresentados durante a infecção pelo vírus chikungunya, o diagnóstico especifico é importante, especialmente em casos nos quais a conduta terapêutica deve ser diferenciada. O diagnóstico laboratorial da infecção pelo CHIKV pode ser realizado de forma direta, por meio do isolamento viral e da pesquisa do RNA viral em diferentes amostras clínicas, ou de forma indireta por intermédio da pesquisa de anticorpos específicos. Para a pesquisa do RNA viral as principais técnicas moleculares utilizadas são o RT-PCR (Reverse- Transcription Polymerase Chain Reaction) e o qRT-PCR (Real Time RT-PCR). As técnicas anteriores proporcionam um diagnóstico rápido e sensível, permitem detectar o ácido nucleico viral até, aproximadamente, o oitavo dia após o aparecimento dos sintomas, sendo que o período de maior viremia vai do primeiro ao quinto dia. Esta é uma ferramenta importante no diagnóstico precoce da infecção sem utilidade a partir do oitavo dia de sintomas. Para a pesquisa de anticorpos específicos, as principais técnicas disponíveis são: o EnzymeLinked Immunosorbent Assay (ELISA) e o teste imunocromatográfico do tipo Point-of-Care (POC). Os testes sorológicos permitem a detecção de anticorpos específicos do tipo IgM, que podem ser detectados a partir do segundo dia após o aparecimento dos sintomas (sendo que o período mais indicado para essa investigação sorológica é a partir do quinto dia) e do tipo IgG, a partir do sexto dia. Conduta Na fase aguda, a maioria dos casos pode ser acompanhada ambulatorialmente, sem necessidade de acompanhamento diário. Os pacientes devem ser orientados a retornar à unidade de saúde em caso de persistência da febre por mais de cinco dias, aparecimento de sinais de gravidade ou persistência dos danos articulares. Indivíduos em maior risco (gestantes, pacientes com comorbidades, idosos e menores de 2 anos) necessitam de observação diferenciada pelo risco de desenvolvimento das formas graves da doença. Deve ser feito o acompanhamento diário até o desaparecimento da febre e ausência de sinais de gravidade (acometimento neurológico, dor torácica, palpitações e arritmias, dispneia, vômitos persistentes, sangramento de mucosas, entre outros). O acometimento articular causa importante incapacidade física e impacta negativamente a qualidade de vida dos pacientes. O tratamento da dor envolve todas as fases da doença, devendo ser efetivo desde os primeiros dias de sintomas. A dor aguda tratada de forma inadequada é uma das principais causas de cronificação da doença. Na infecção pelo CHIKV, existe a necessidade de uma abordagem eficaz no controle da dor visando inclusive diminuir o tempo de doença clínica. Ainda não há tratamento antiviral específico para chikungunya. A terapia utilizada é de suporte sintomático, hidratação oral (2 litros no período de 24 horas) e repouso. Recomenda-se a utilização de compressas frias como medida analgésica nas articulações acometidas de 4 em 4 horas por 20 minutos. Existem evidências de que o repouso é fator protetor para evitar evolução para fase subaguda, sendo de extrema importância. Os anti-inflamatórios não esteroides (ibuprofeno, naproxeno, diclofenaco, nimesulida, ácido acetilsalicílico, associações, entre outros) não devem ser utilizados na fase aguda da doença, devido ao risco de complicações renais e de sangramento. A aspirina também é contraindicada. O uso de corticoide é indicado apenas nas fases subaguda ou crônica, com dor moderada a intensa. A medicação padrão para uso oral é a prednisona. No tratamento da dor, a dose indicada é 0,5 mg/Kg de peso/dia, em dose única pela manhã. Em caso de remissão completa da dor, manter a dose por mais três a cinco dias. Na fase crônica o atendimento deve ser feito em unidade de referência com profissionais capacitados para atender pacientes com este perfil. Os medicamentos desta fase de tratamento apresentam efeitos adversos próprios de cada classe terapêutica e necessitam de monitorização clínica e laboratorial específica antes e durante o uso. 2. ELUCIDAR AS POSSÍVEIS COMPLICAÇÕES DA DENGUE GRAVE (FISIOPATOLOGIA E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS). PATOGÊNESE - FORMA GRAVE Qual é a patogênese da dengue grave? Conforme já dissemos, a dengue grave geralmente ocorre em pacientes que já se infectaram por algum sorotipo do vírus e, anos depois, voltam a se infectar por outro sorotipo. A chance de dengue grave é maior quando a segunda infecção é pelo sorotipo 2. Em termos de virulência, em ordem decrescente temos os sorotipos 2, 3, 4 e 1. NEM SEMPRE o portador de dengue grave terá sido previamente infectado por algum sorotipo do DENV... Alguns pacientes podem evoluir de forma crítica já na primoinfecção, e a explicação mais provável para isso é a existência de predisposição genética (ex.: variantes do MHC classe I e do gene epsilon1 da fosfolipase C). Qual é a explicação deste fenômeno? Na primeira infecção, o sistema imune do paciente produz anticorpos neutralizantes contra o primeiro sorotipo (ex.: sorotipo 1), denominados anticorpos homólogos, que provavelmente permanecerão por toda a vida do indivíduo. Estes anticorpos também oferecem proteção contra outros sorotipos (imunidade cruzada ou heteróloga), porém de curta duração (meses a poucos anos). Se o mesmo indivíduo for infectado anos mais tarde por um sorotipo diferente (infecção secundária), por exemplo, o sorotipo 2, aqueles anticorpos não serão mais capazes de neutralizá-lo. Para o novo sorotipo, eles serão considerados anticorpos heterólogos, de caráter “subneutralizante”. Aí está a base para a principal teoria patogênica da dengue grave – a teoria de Halstead! ● Teoria de Halstead: A ligação de anticorpos heterólogos ao novo sorotipo de vírus da dengue (sem neutralizá-lo) facilitaria a penetração do vírus nos macrófagos, por mecanismo de opsonização. Ou seja, uma quantidade muito maior de vírus ganharia o interior dos fagócitos, onde podem se proliferar em larga escala, aumentando a viremia e estimulando a produção de uma “tempestade” de citocinas (TNF-alfa, IL-6), além de proteases ativadoras do sistema complemento e tromboplastina (fator pró-coagulante). Linfócitos T helper CD4+ específicos para o vírus secretam IFN-gama, que age sobre os macrófagos infectados, potencializando a internalização viral e a expressão de moléculas do HLA classe II em sua membrana que, por sua vez, ativa mais linfócitos T helper CD4+ específicos – um mecanismo de retroalimentação positiva. Outro exemplo do efeito de anticorpos subneutralizantes na patogênese da dengue grave é a questão dos lactentes que herdam anticorpos IgG antidengue da mãe por via transplacentária. Como esses anticorpos são passivos, a tendência é haver uma queda progressiva ao longo dos primeiros nove meses de vida, passando a níveis subneutralizantes. Uma infecção, neste caso até pelo mesmo sorotipo, pode desencadear os fenômenos da teoria de Halstead. Vale dizer que um evento fisiopatológico adicional, recentemente descrito, ajudou a esclarecer ainda mais os fenômenos observados na dengue grave: o antígeno NS1, secretado em grande quantidade durante a infecção, bem como as próprias partículas virais circulantes, são capazes de neutralizar moléculas do glicocálix (substâncias presentes na superfície das células endoteliais responsáveis pela “barreira de permeabilidade”). Tal processo potencializa o aumento da permeabilidade vascular induzido pelas citocinas pró-inflamatórias, agravando o extravasamento de líquido, albumina e outras macromoléculas plasmáticas para fora dos vasos sanguíneos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os sintomas da dengue hemorrágica são os mesmos da dengue clássica. A diferença é que quando a febre diminui, por volta do terceiro ou quarto dia surgem hemorragias por causa de sangramentos de vasos na pele e em órgãos internos. Na dengue hemorrágica, o quadro clínico se agrava rapidamente, apresentando sinais de insuficiência circulatória. Quando acaba a febre começam a surgir os sinais de alerta: Dores abdominais fortes e contínuas Vômitos persistentes Pele pálida, fria e úmida. Sangramento pelo nariz, boca e gengivas. Manchas vermelhas na pele Comportamento variando de sonolência à agitação Confusão mental Sede excessiva e boca seca Dificuldade respiratória Queda da pressão arterial. As manifestações hemorrágicas podem ocorrer em 5% a 30% dos casos. Caracterizam-se principalmente por gengivorragia, epistaxe ou metrorragia e petéquias de aparecimento entre o terceiro ou quarto dia, que surgem habitualmente nos pés, pernas, axilas e palato, podendo ser induzidas pela prova do laço. Mais raramente podem ocorrer hematêmese e hematúria, tornando-se importante a diferenciação desses casos com dengue clássica. Em crianças, o quadro clínico de dengue com manifestações hemorrágicas, com hematêmese e melena, pode passar despercebido. A convalescença pode ser prolongada por até dois meses, com astenia, depressão e bradicardia, retardando a retomada das atividades cotidianas. A forma hemorrágica se apresenta com febre de início súbito, acompanhada de vários sinais e sintomas, similares àqueles da dengue clássica (ver tabela). Após o terceiro ao oitavo dia de evolução, os sinais e sintomas clínicos são associados com hemoconcentração (extra vasamento plasmático) e plaquetopenia abaixo de 100.000 plaquetas/mm³, com sangramento espontâneo, principalmente digestivo e urinário. Esses pacientes devem ser acompanhados com maior rigor a partir do terceiro dia, pois podem apresentar sinais e sintomas que precedem a gravidade da doença, como dor abdominal contínua, vômitos persistentes, hepatomegalia dolorosa, derrames cavitários e queda brusca da temperatura, levando à hipotermia, cianose, lipotimia, hipotensão arterial convergente, hipotensão postural, sangramento volumoso, agitação psicomotora, letargia, taquicardia, pulso fino, sudorese profusa e fria e com diminuição de diurese. Têm sido registrados, com frequência cada vez maior, casos de comprometimento do sistema nervoso central (SNC), comprometimento hepático, esplênico e miocardiopatia. As alterações hepáticas se apresentam como hepatomegalia, aumento das enzimas hepáticas e hepatite fulminante. Já foram descritas tanto em casos de dengue clássica como em casos de dengue hemorrágica (10-13). No Brasil, Souza et al. (14) avaliaram adultos com dengue e encontraram 63,4% de alteração na aspartato aminotransferase (AST) e 45% na alanina aminotransferase (ALT), concluindo que a elevação das transaminases e a hepatite reativa são complicações comuns nos pacientes com infecção pelo vírus da dengue. O acometimento do SNC pode ocorrer durante a infecção aguda ou como manifestação pós-infecciosa, que parece ser a mais frequente. Na vigência de quadro agudo de dengue devemos pensar em acometimento do SNC diante de casos cursando com cefaleia intensa, vômitos, convulsão/delírio, insônia, inquietação, irritabilidade e depressão, acompanhados ou não de meningismo discreto sem alteração da consciência ou deficiência neurológica focal, depressão sensorial e distúrbios comportamentais. Acredita-se que este comprometimento seja mais consequência de reações imunológicas do que do envolvimento direto do vírus no tecido nervoso, ou seja, uma reação provocada pela infecção viral por dengue com subsequente inflamação perivascular, que poderia acarretar edema cerebral, congestão vascular, hemorragias focais, infiltrados linfocitários perivasculares, focos de desmielinização perivenosa e formação de imunocomplexos. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL A dengue pode ser confundida com a gripe (influenza), com as novas arboviroses que circulam em nosso território (Zika e Chikungunya), leptospirose (forma anictérica), viroses exantemáticas (sarampo, rubéola, mononucleose, enterovirose), hepatites virais e infecções bacterianas agudas (pielonefrite, pneumonia, colecistite, endocardite, faringoamigdalite estreptocócica). Por isso, o exame físico do paciente com suspeita de dengue deve ser completo, para não omitir o diagnóstico de uma doença bacteriana que mereça pronto tratamento antimicrobiano. A presença de leucocitose significativa, especialmente com “desvio à esquerda”, praticamente afasta o diagnóstico de dengue e sugere uma doença bacteriana piogênica ou leptospirose. É importante, ainda, não esquecer duas doenças hematológicas que podem cursar com citopenias graves e febre: a anemia aplásica e a leucemia aguda. A grande pista nestes casos é a presença de anemia moderada a grave, achado não esperado na dengue. Como se trata de assunto“quente” para as provas de residência, observe nas e alguns critérios clinicolaboratoriais que ajudam a diferenciar a dengue da Zika e da Chikungunya. As formas graves de dengue podem ser confundidas com sepse bacteriana, meningococcemia, malária, febre amarela, febre maculosa brasileira, leptospirose, hantavirose, etc. Um macete em relação à meningococcemia é que nesta última as petéquias ou equimoses podem aparecer desde o primeiro dia da síndrome febril! Já na dengue só são vistas após o terceiro ou quarto dia... Um dado que fala bastante contra o diagnóstico de dengue é a icterícia, mais comum na malária, leptospirose, hepatite viral, sepse e febre amarela. A dengue tem amplo espectro clínico, mas as principais doenças a serem consideradas no diagnóstico diferencial, além das outras arboviroses em circulação (Zika, Chikungunya, oropuche, febre amarela, etc.) são: influenza, sarampo, rubéola, mononucleose, escarlatina e outras infecções virais, bacterianas e exantemáticas. Nos casos de dengue grave deve-se também fazer o diagnóstico diferencial com outras doenças como: meningococcemia, leptospirose, febre amarela, malária, hepatite infecciosa, assim como outras febres hemorrágicas transmitidas por mosquitos ou carrapatos. Diagnóstico laboratorial O diagnóstico laboratorial da dengue tem como principais objetivos a confirmação dos casos com suspeita clínica e propiciar informação epidemiológica adequada às autoridades sanitárias. Importante destacar que o manejo clínico não depende do diagnóstico laboratorial, sendo sua realização reservada a situações específicas. Os métodos utilizados para o diagnóstico laboratorial da dengue incluem a detecção do vírus ou/e de algum dos seus componentes (antígeno de dengue, genoma viral) ou provas sorológicas (pesquisa de anticorpos da classe IgM e IgG). O desenvolvimento recente de testes rápidos (point of care), uma vez que demostrem sensibilidade e especificidade adequadas em locais de alta endemicidade trará grande benefício para o manejo da doença. Após o início dos sintomas, durante a fase aguda febril, o diagnóstico pode ser feito por isolamento do vírus, detecção de RNA do DENV por reação em cadeia de polimerase por transcriptase reversa (RT-PCR) ou detecção do antígeno da proteína 1 não estrutural (NS- 1) do DENV por ensaio imunoenzimático. A detecção da antigenemia NS-1 é ferramenta útil para o diagnóstico em pacientes que se encontram nos três primeiros dias do início dos sintomas; seu desempenho é equivalente ao do RT-PCR, porém, não permite a identificação do sorotipo; atualmente, o Ministério da Saúde disponibiliza kits para o uso em amostras de unidades-sentinela de monitoramento do vírus da dengue. O período adequado para a realização do teste para isolamento viral é até o quinto dia do início dos sintomas. Na primo-infecção, a viremia ocorre desde 1 a 2 dias antes do início dos sintomas até 4 a 5 dias após. A presença de anticorpos da classe IgM pode ser detectada apenas a partir de 3 a 5 dias após o início dos sintomas, em aproximadamente 50% dos casos, aumentando para mais de 95% nos dias 6 a 10, ocorrendo então uma queda gradual nos seus títulos até o completo desaparecimento após 2 ou 3 meses. Recomenda-se, portanto, que a sorologia seja idealmente feita após o 6º dia de sintomas. Ainda na primo-infecção, observamos aumento gradual e lento nos títulos de IgG, que se tornam elevados apenas após 9 ou 10 dias do início dos sintomas, persistindo em títulos baixos pelo resto da vida do indivíduo. Nas infecções secundárias observamos, em geral, títulos mais baixos de IgM. Atenção deve ser dada à possibilidade de reações falso- positivas para IgG em indivíduos previamente expostos a outros Flavivirus ou que receberam vacinas com estes agentes (febre amarela, encefalite japonesa, etc). A solicitação dos testes de isolamento viral/ sorologia será orientada de acordo com a situação epidemiológica: • Em períodos não-epidêmicos, solicitar o exame de todos os casos suspeitos; • Em períodos epidêmicos, solicitar o exame em todo paciente grave ou com dúvidas no diagnóstico, além de seguir as orientações da Vigilância Epidemiológica de cada região. Entre os achados laboratoriais inespecíficos podemos destacar a leucopenia, com predomínio de linfócitos e monócitos e presença de linfócitos atípicos, como achado frequente nos pacientes com dengue. Os casos graves podem apresentar hemoconcentração, plaquetopenia (muitas vezes com menos de 100.000/mm³), além de hipoalbuminemia, elevação moderada das transaminases e alteração das provas de coagulação. A ultrassonografia possibilita o diagnóstico precoce de derrames cavitários (derrame pleural, ascite, líquido em espaço peri e pararrenal, efusões subcapsulares hepática e esplênica e derrame pericárdico), que são sinais de extravasamento plasmático e de gravidade em pacientes com dengue. Hepatomegalia, esplenomegalia e aumento do pâncreas podem estar presentes em alguns casos, além do espessamento da parede vesicular, usado como critério de gravidade para hospitalização e identificação de risco de evolução para choque. 3. CARACTERIZAR OS SINAIS DE ALERTA DAS DOENÇAS FEBRIS AGUDAS. Doenças febris Febre é definida como a elevação da temperatura corporal (p. ex., > 37,8° C por via oral e > 38,2° C por via retal) ou uma elevação de temperatura acima da variação diária normal. A febre ocorre quando o termostato do corpo (localizado no hipotálamo) é redefinido em uma temperatura mais alta, principalmente em resposta a uma infecção. A elevação da temperatura corporal que não é causada pela redefinição da temperatura corporal no ponto de equilíbrio é chamada hipertermia. Muitos pacientes utilizam o termo febre de maneira vaga, geralmente querendo dizer que não sentem tanto calor, nem tanto frio, ou suam, mas geralmente não mediram de fato sua temperatura. Os sintomas são geralmente decorrentes da causa da febre, embora a própria febre possa causar calafrio, suores e desconforto, e fazer com que os pacientes tenham uma sensação de rubor e calor. Etiologia da febre Muitos distúrbios podem causar febre. São classificadas, de modo geral, em Infecciosa (mais comum) Neoplásica Inflamatória (incluindo reumática, não reumática e relacionada com fármacos) A causa de uma febre aguda (duração ≤ 4 dias) em adultos tem alta probabilidade de ser infecciosa. Quando pacientes apresentam febre devido a uma causa não infecciosa, a febre é geralmente crônica ou recorrente. Além disso, um evento febril agudo isolado em pacientes com doença inflamatória ou neoplásica também tem alta probabilidade de ser infeccioso. Em indivíduos saudáveis, um evento febril agudo tem baixa probabilidade de ser uma manifestação inicial de uma doença crônica. Sinais de alerta Os achados a seguir são particularmente preocupantes: Gestantes com febre Temperatura > 40° C ou < 35° C Uso recente de imunossupressores Febre iniciada loco após viagem recente à lugares com doenças endêmicas, como áreas com histórias de Malária. Inicio de febre logo após alta hospitalar, procedimento cirúrgico, ou outro procedimento médico invasivo Febre durante tratamento com quimioterapia ou outro tratamento imunossupressor (nesses casos, procurar atendimento médico em caso de Temperatura oral maior ou igual a 38ºC por mais de uma hora ou imediatamente após alcançar 38,3ºC) Febre que dura vários dias ou vai embora retorna depois de haver ido embora Febre após picada de inseto. Febre em pessoas com saúde grave como: diabetes, doença cardíaca, câncer, lúpus eritematoso sistêmico ou anemia falciforme Febre associada a algum dos sintomas abaixo: o Rash (manchas vermelhas na pele- exantema petequial)
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