Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
May Freitas; (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) INFECÇÃO EM NEONATOS INFECÇÃO NO RECÉM-NASCIDO As infecções no período neonatal com frequência são fatais e causam morbidade significativa a longo prazo entre os sobreviventes, se não tratadas adequada e imediatamente. Elas são particularmente problemáticas em recém-nascidos prematuros e para o recém-nascido que apresenta outras morbidades. De todas as enfermidades que afetam os recém-nascidos, a infecção é uma em relação à qual o tratamento definitivo deve ser iniciado antes que o diagnóstico da etiologia possa ser confirmado com o uso da tecnologia disponível atualmente. Portanto, o neonatologista e outros prestadores de atenção à saúde que cuidam de recém-nascidos devem estar cientes das apresentações clínicas sutis que indicam a possibilidade de infecção, dos agentes causadores mais prováveis, dos testes diagnósticos apropriados, do tratamento empírico ideal, e das medidas que podem ser adotadas para prevenir ou modificar a evolução da doença. O risco de enfermidade em virtude da transmissão de infecções das mulheres gestantes para seus recém-nascidos e das exposições a infecções nas primeiras poucas semanas de vida tem sido reconhecido. Com os avanços no diagnóstico surgiu a capacidade de identificação das exposições a agentes infecciosos durante a gravidez, o desenvolvimento de programas de rastreamento e a instituição de programas de profilaxia, e o diagnóstico de infecções no recém-nascido. A epidemiologia da sepse neonatal mudou significativamente ao longo do tempo. Na América do Norte, antes da década de 1950, o Streptococcus beta-hemolítico do grupo A (SGA) era o patógeno predominante responsável pela sepse neonatal, com apresentação dentro dos primeiros poucos dias de vida. Em associação às práticas de cuidados obstétricos melhores, as infecções por esta bactéria se tornaram menos frequentes e o Staphylococcus aureus e a Escherichia coli se tornaram os isolados mais frequentes. O reconhecimento dos fatores de risco para a aquisição destas bactérias levou a alterações nas práticas antissépticas na sala de parto e nos berçários e à implementação do rastreamento em relação à bacteriúria materna. Desde o início da década de 1970, Streptococcus beta-hemolítico do grupo B se tornou a bactéria mais prevalente na América do Norte. O desenvolvimento de programas de rastreamento na gravidez, o tratamento durante o trabalho de parto e o parto de mães colonizadas e/ou de alto risco e o tratamento empírico de recém-nascidos de alto risco nos quais a profilaxia materna esteve ausente reduziram significativamente o impacto deste organismo no período neonatal precoce. Durante as últimas duas décadas, a infecção mais comum que causa sepse neonatal tem sido por estafilococos coagulase-negativos associada a cateteres venosos centrais ou arteriais infectados. Entretanto, mais uma vez a situação está mudando, como resultado de estratégias preventivas para infecções relacionadas a cateteres. May Freitas; (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) As preocupações atualmente estão se tornando centradas em infecções por bactérias que são ostensivamente resistentes a antibióticos comumente utilizados, tais como o Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) ou os enterococos resistentes à vancomicina (VRE), ou aqueles nos quais a resistência aos antibióticos possa ser induzida com a exposição aos antibióticos, tais como muitas das bactérias gram-negativas produtoras de betalactamase de amplo espectro (BLAE) ou produtoras de carbapenamase. O surgimento e a disseminação destas bactérias tornaram o tratamento empírico da sepse no recém-nascido consideravelmente mais complexo do que era há apenas uma década. Recém-nascidos são uma população especial a partir da perspectiva da doença infecciosa, em virtude de diversos fatores: 1. Eles são uma população de pacientes na qual não há uma população de bactérias residentes sobre a sua pele ou nas suas superfícies mucosas. A colonização tem início rapidamente dentro das primeiras poucas horas de vida, mas o estabelecimento da flora bacteriana residente permanente do recém-nascido dura diversos meses. a. Em geral, os recém-nascidos adquirem as suas bactérias resistentes de suas mães, com os organismos gram-positivos sendo os colonizadores iniciais, seguidos logo após por bacilos gram-negativos e em seguida pelos organismos anaeróbicos. A sequência de aquisição de organismos pode variar, dependendo do método de nascimento, com aqueles nascidos pela via vaginal adquirindo seus organismos “pioneiros” da flora genital e entérica materna, enquanto aqueles nascidos por meio de cesariana podem adquirir primeiramente os organismos cutâneos. b. A residência em uma UTI neonatal tende a alterar isto razoavelmente, com um adiamento na colonização provavelmente relacionado ao aumento do uso de antibióticos e da chance de colonização com cepas hospitalares de bactérias gram-negativas. A colonização altera ao longo do primeiro ano de vida de modo dependente da idade, o que provavelmente reflete o sistema imune em desenvolvimento. 2. Aproximadamente com 1 ano de idade, cada criança estabeleceu seu padrão de bactérias resistentes, o qual aparenta estabilizar, desde que não haja a pressão de antibióticos excessivos. 3. A colonização fúngica das superfícies mucosas é inversamente relacionada à idade gestacional (IG), com os recém-nascidos de idades gestacionais inferiores apresentando níveis mais altos de colonização. Em geral, a fonte de colonização fúngica precoce ou inicial é a mãe. A colonização de recém-nascidos em UTI neonatais após 2 semanas de vida tende a ter origem na UTI neonatal e pode envolver espécies diferentes daquelas que são adquiridas pela via materna. 4. Os recém-nascidos adquirem organismos que são sexualmente transmissíveis em adultos, os quais podem persistir por meses ou anos se não diagnosticados e tratados. Recém-nascidos apresentam uma deficiência imune relativa, em comparação às crianças mais velhas e aos adultos . Resumidamente: O sistema imune é dividido no sistema imune inato, que está presente desde o nascimento e que não requer uma exposição anterior do indivíduo a um patógeno específico, e no sistema imune adaptativo, que requer. O sistema imune inato identifica os patógenos microbianos por meio de receptores de reconhecimento de padrões (RRP), que distinguem diversos componentes microbianos May Freitas; (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) moleculares como “não sendo humanos”. Em geral, seus componentes não são alterados permanentemente com a exposição aos microrganismos, embora possa haver algumas alterações associadas ao envelhecimento. Os recém-nascidos são quase que exclusivamente dependentes do aspecto inato do sistema imune para a defesa inicial contra as infecções, tendo em vista que eles não possuem uma imunidade adaptativa preexistente. Em geral, eles apresentam um viés de Th2 nas suas respostas imunes adaptativas, o que significa que a resposta de Th1 é relativamente silenciosa. Portanto, existe uma redução relativa na produção de anticorpos opsonizantes, na indução da citotoxicidade celular e na ativação de macrófagos. Isto, aliado aos sistemas de ativação do complemento imaturos e níveis mais baixos de fibronectina, resulta em risco mais alto de doença. Portanto, existe uma diminuição relativa na capacidade do recém-nascido de se defender contra os patógenos intracelulares e de responder a muitas vacinas. Ao longo do tempo, com a exposição a múltiplos antígenos, ocorre uma resposta mais equilibrada. Durante o período neonatal, além de uma resposta imune enviesada de Th2, a exposição ao patógeno normalmente é a primeira exposição do recém-nascido, de modo que não há resposta de memória e todas as respostas imunes adaptativas são primárias. A detecção de uma resposta imuneprimária, tal como um anticorpo IgM ou IgA específico de um patógeno, pode ser utilizada para ajudar na obtenção do diagnóstico de infecção. A incidência de doenças infecciosas entre recém-nascidos varia consideravelmente, dependendo da localização geográfica, da prevalência e da incidência de infecções em mulheres férteis, da presença e da utilização de programas de rastreamento e do uso de antibióticos profiláticos, do fato de ser um recém-nascido a termo versus prematuro ou extremamente prematuro, e das diversas políticas relacionadas ao diagnóstico e ao rastreamento em relação às infecções, bem como dos procedimentos de prevenção e controle de infecções (PCI). As consequências da infecção dependem, em grande parte, do momento da transmissão para o recém-nascido (no pré-natal, perinatal, ou após o parto), de ser ela uma infecção materna primária, da capacidade de obter um diagnóstico rápido e preciso, da rápida instituição dos agentes antimicrobianos apropriados, de qualquer condição de base, e da idade gestacional do recém- nascido. CONTÁGIO As infecções no período recém-nascido são adquiridas primariamente da mãe durante a gestação, durante o trabalho de parto e o parto, ou no período neonatal. Além disso, os possíveis patógenos podem ser adquiridos de outros familiares, dos prestadores de cuidados de saúde, de equipamentos ou de suprimentos contaminados no berçário ou no domicílio, de visitantes do berçário ou domicílio, ou de toda a comunidade, se os recém-nascidos forem levados a áreas tais como shopping centers. APRESENTAÇÕES CLÍNICAS Dependem da natureza dos organismos envolvidos, bem como do momento e da via de infecção . Por exemplo os recém-nascidos que adquirem infecções bacterianas antes do início do trabalho de parto tendem a apresentar sepse clínica ao nascimento ou dentro de algumas poucas horas após o parto, enquanto aqueles que adquirem os organismos no momento do parto apresentam sinais de sepse dias a semanas após o parto. May Freitas; (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) INFECÇÕES CONGÊNITAS O recém-nascido pode nascer com um histórico materno conhecido de um patógeno que possivelmente cause infecção congênita. Nem todas as mães que adquirem um agente infeccioso durante a gestação transmitirão o agente aos seus recém-nascidos. Nem todos os recém- nascidos que adquirem um referido agente de suas mães manifestarão clinicamente quaisquer sinais de infecção. A natureza patogênica do agente infeccioso, a idade gestacional do recém- nascido no momento da infecção materna e a imunidade materna prévia contra o agente desempenham, todas, funções importantes. Determinar se um recém-nascido está infectado pode ser realizado no prénatal, por meio de evidências de anormalidades do recém-nascido associadas à ultrassonografia fetal. Para alguns recém-nascidos, a detecção do patógeno por meio da amostragem do líquido amniótico pode ser útil. Entretanto, a determinação final da infecção congênita de um recém-nascido é no período imediato após o nascimento, independentemente de ter havido suspeita de infecção no pré-natal ou no momento do nascimento. Classicamente, os agentes que são associados com mais frequência à infecção congênita têm sido denominados como os organismos TORCH (Toxoplasmose, Outros, Rubéola, Citomegalovírus e Herpes). Tendo em vista que os “outros” no mnemônico atualmente fazem referência a uma quantidade significativa de possíveis patógenos (Ex: Sífilis, Varicela-Zóster, malária, T. Cruzi...). O uso dos fatores de risco maternos identificáveis e o conhecimento da prevalência e da incidência local de possíveis infecções é um modo mais eficaz de desenvolver um plano diagnóstico. É importante identifciar infecção congênita na ocasião do exame inicial do neonato. INFECÇÕES PERINATAIS Os agentes são os transmitidos no período perinatal são os que podem ocorrer nas poucas semanas anteriores ao parto, no início do trabalho de parto, ou no momento da ruptura das membranas, durante o processo do trabalho de parto e do parto, ou durante o período pós-parto por meio da exposição ao leite materno. O fato de os recém-nascidos não possuírem bactérias residentes sobre as superfícies mucosas ou da pele os torna suscetíveis à colonização e, em seguida, à infecção por uma bactéria ou um agente fúngico patogênico. Em muitos aspectos, o momento da doença e a gravidade da doença estão relacionados ao momento da exposição e são afetados pela quantidade de bactérias ou fungos às quais o recém-nascido é exposto, em relação às bactérias não patogênicas. O recém- nascido que é exposto a uma alta quantidade de bactérias patogênicas in útero muitas horas antes do parto apresentará maior probabilidade de adoecer e desenvolverá sinais de infecção muito antes do que um recém-nascido que é exposto a uma pequena quantidade de bactérias patogênicas com uma grande quantidade de bactérias não patogênicas durante o parto. O risco de transmissão de agentes virais para o recém-nascido durante o período perinatal e o fato de o recém-nascido desenvolver sinais de infecção dependem do momento da infecção materna e da sua resposta imune à infecção viral. Portanto, as mães cuja infecção primária por um agente viral ocorre durante as poucas semanas imediatamente anteriores ao parto de seu recém-nascido apresentam maior probabilidade de transmitir o agente viral, e os seus recém- nascido apresentam maior probabilidade de adoecer. As exceções disto são o HIV e a hepatite B, nos quais a quantidade de vírus presente no sangue e nas secreções mucosas define o risco de transmissão perinatal, e não o momento da infecção materna. Alguns exemplos: Herpes Simples (HSV), Hepatite A (HAV), Hepatite B (HBV), Hepatite C (HCV), HIV-1 May Freitas; (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) INFECÇÃO PÓS-NATAL Os microrganismos podem chegar ao RN por meio de contato direto ou indireto (contato com utensílios, instrumentos e mãos contaminadas); perdigotos (gotículas respiratórias produzidas durante a tosse, espirro, fala e procedimentos como aspiração e broncoscopia e propelidas a curta distância); transmissão aérea ou por aerossóis (núcleo de perdigotos < 5pm ou partículas de poeira contaminadas, que ficam em suspensão e podem ser disseminadas a longa distância). Nas unidades neonatais que albergam RN de alto risco, a transmissão por meio de mãos do pessoal da equipe de assistência lavadas de modo inadequado e a mais importante. Aparelhos que utilizam água, como os nebulizadores e os respirado podem ser veículos de contaminação. Os sinais clínicos mais frequentes da infecção pós-natal podem ser divididos em gerais e de localização: SINAIS GERAIS Anomalias da curva ponderal - embora não se deva esquecer dependem muito do tempo de jejum pós-natal e do regime de fornecimento de água e de alimento nos primeiros dias, a perda de peso prolongada ou exagerada, além dos limites da perda fisiológica, chama a atenção para um possível processo infeccioso Anomalias térmicas - a febre e pouco encontrada nos RN infectados. Entretanto, a elevação de temperatura mantida por mais de 1 hora em RN de termo associa-se frequentemente a um processo infeccioso. Mais ainda, e raro o encontro de febre sem outros sinais infecção. Em prematuros, a hipotermia e mais frequente. No entanto, a verificação diária e cuidadosa da curva térmica poderá surpreender pequenas elevações da temperatura que podem sugerir o início de uma infecção. Sinais gastrintestinais - a recusa do alimento e, talvez, a alteração mais encontrada na infecção. Vômitos e diarreia são frequentes. O aumento do resíduo gástrico nos RN alimentados por sonda gástrica também deve ser considerado. Modificações do aspecto geral - são a prostração, a hipotonia e as demais alterações apontadas anteriormente como manifestações de infecção amniótica. A icterícia é encontrada com frequência, sendo geralmenteprecoce e de tipo misto (por hemólise e por colestase). SINAIS DE LOCALIZAÇÃO Dependem da porta de entrada do sistema acometido a da etiologia. Os principais são: umbilicais, cutâneos, neurológicos, respiratórios, hepatoesplênica e gastrintestinais. Os problemas respiratórios, como a apneia, a taquipneia aumento da necessidade de oxigênio no ar inspirado, podem fazer parte do quadro da sepse, mesmo sem haver comprometimento infeccioso do parênquima pulmonar. Quando os dados clínicos não forem suficientes para o diagnóstico da infecção, deve-se lançar mão do laboratório. As culturas de locais habitualmente estéreis, em particular a hemocultura, indicam diagnóstico etiológico. O hemograma e as reações de fase aguda do soro, em especial a proteína C reativa, são exames que orientam a diagnóstico quando analisados em conjunto. Todos eles estão sujeitos às dificuldades de interpretação próprias do período etário. May Freitas; (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) COTO UMBILICAL Após o nascimento da criança, o cordão é clampeado e seccionado, passando a ser chamado de coto umbilical. Inicialmente, tem aspecto gelatinoso, tornando-se seco, escurecido e endurecido até a queda ou desprendimento. De modo geral, seu processo de mumificação ou desidratação inicia-se logo após a secção, visto que devido à contração dos vasos e suspensão do aporte sanguíneo, ocorre a necrose séptica. O coto passa por duas fases de cicatrização: A fase inicial está restrita às primeiras horas de vida do recém-nascido (RN) e se apresenta gelatinosa, de coloração branca azulada, úmida e brilhante. A segunda fase se caracteriza pela desidratação que ocorre logo após o nascimento e a partir do segundo dia adquire uma coloração escura, correspondente ao processo de mumificação. O processo de mumificação do coto se dá perto do 3º ou 4º dia e seu desprendimento da parede abdominal ocorre do 4º ao 8º dia de vida, podendo estender-se até 14 ou 15 dias. Durante esse processo, é importante pesquisar a presença de secreções na base do coto umbilical ou de eritema da pele ao redor da implantação do umbigo. O coto umbilical necessita de vigilância e cuidados por favorecer a ocorrência de infecções, como onfalite e sepse, isso porque se caracteriza como um tecido em processo de desvitalização, o que o torna um excelente meio de cultura, além de possuir vasos recentemente trombosados, permitindo acesso direto à corrente sanguínea. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que se mantenha o coto umbilical de recém-nascidos limpo e seco, todavia, essa recomendação pode não ser alcançada em locais onde a maioria dos partos ocorre em um ambiente insalubre, cujas infecções são responsáveis por até metade das mortes neonatais. Secreção purulenta na base do coto, com edema e hiperemia da parede abdominal, sobretudo quando há formação de um triângulo na parte superior do umbigo, indicam onfalite, infecção de alto risco para a criança. Portanto, a higiene da região umbilical com álcool a 70% é um importante fator de proteção contra infecção. As orientações mais atuais do Ministério da Saúde quanto aos cuidados com a limpeza do coto umbilical consistem na utilização do álcool a 70% ou clorexidina alcoólica a 0,5% após o banho e as trocas de fraldas a fim de promover aceleração do processo de desidratação e antissepsia. May Freitas; (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) ONFALITE DEFINIÇÃO A onfalite é uma infeção da pele e tecidos moles do umbigo e regiões circundantes. Se não for tratada, pode atingir uma maior área da parede abdominal e os tecidos mais profundos ou causar infeção disseminada. EPIDEMIOLOGIA A idade média de aparecimento é entre os 5 e os 9 dias de vida, sendo rara nos países desenvolvidos, estimando-se que a incidência nos países em desenvolvimento seja superior a 6%. Não existem diferenças entre género, embora os rapazes apresentem pior prognóstico. Nos países em desenvolvimento, o uso de soluções tópicas anti-sépticas reduz o risco de onfalite e a mortalidade neonatal. QUADRO CLÍNICO A doença localizada caracteriza-se por drenagem purulenta ou com cheiro fétido através do coto umbilical, associada a edema, eritema e maior sensibilidade cutânea na região periumbilical. A hemorragia do coto umbilical pode ocorrer devido ao atraso na obliteração dos vasos umbilicais. A infeção pode estender-se pela parede abdominal até aos flancos, dorso e períneo, apresentando a pele uma coloração violácea, eritema, edema, por vezes vesículas e bolhas, crepitação, petéquias e progressão da celulite. Sinais sistêmicos como letargia, irritabilidade, recusa ou intolerância alimentar e febre são sugestivos de complicação ou infeção grave. Nestes casos, a progressão da doença pode levar a disseminação da infeção e a compromisso de funções vitais manifestado por labilidade térmica, taquicardia, bradicardia, hipotensão, taquipneia, apneia, gemido, tiragem costal, hipoxémia, distensão e silêncio abdominal e hipotonia extrema. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Os sinais de sintomas de onfalite são suficientemente característicos para o diagnóstico. A onfalite é uma infecção polimicrobiana em 75% dos casos, geralmente causada por bactérias que colonizam o trato genital materno. Os agentes etiológicos incluem o Staphylococcus aureus, o Streptococcus pyogenes, e as bactérias Gram-negativas (Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae e Proteus mirabilis). O uso de agentes tópicos anti-estafilococos por rotina nos cuidados do coto umbilical, levaram ao aumento da infeção por agentes Gram-negativos. Bactérias como o Bacteroides fragilis, o Clostridium perfringens e o Clostridium tetani podem contribuir para a infeção umbilical, especialmente nos recém-nascidos de mães com corioamnionite. No recém-nascido, os fatores de risco de onfalite são: prematuridade, baixo peso ao nascimento, presença de risco infeccioso perinatal (trabalho de parto prolongado, rotura prolongada de membranas, infeção materna), cateterização umbilical, parto sem assepsia e parto no domicílio. No entanto, é importante avaliar possíveis complicações como, por exemplo, fasceíte necrosante, mionecrose, sépsis, embolização séptica ou complicações intra-abdominais. Nos recém-nascidos com onfalite associada a queda tardia do cordão ou neutropenia, devem ser considerados outros diagnósticos, nomeadamente, malformações anatômicas (persistência de úraco) ou problemas imunológicos (defeito de adesão dos leucócitos ou May Freitas; (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) neutropenia aloimune neonatal). Ainda, os granulomas umbilicais que surgem tipicamente depois da primeira semana de vida, surgem associados a inflamação persistente por atraso na epitelização dos tecidos. EXAMES COMPLEMENTARES PATOLOGIA CLÍNICA Alterações no leucograma como aumento da contagem de leucócitos, neutrofilia ou neutropenia, relação neutrófilos imaturos/total superior a 0,2, e trombocitopénia assim como a elevação dos marcadores laboratoriais de inflamação (proteína C reactiva, procalcitonina e velocidade de sedimentação) são indicadores de infeção bacteriana sistémica. O exame bacteriológico do exsudado do umbigo (coloração Gram e exame cultural) deve ser realizado sempre que possível. Na suspeita de envolvimento sistêmico, deve realizar-se hemocultura e punção lombar para cultura do líquido cefalo-raquidiano. IMAGIOLOGIA Na suspeita de complicações abdominais pode estar indicada realização de radiografia do abdome (presença de ar ectópico intra-abdominal), ecografia abdominal (espessamento da fáscia e músculos, necrose muscular ou presença de alterações anatômicas) e de tomografia computorizada do abdome (melhor caracterização da extensão de envolvimento muscular/fascial). TRATAMENTO CIRURGIA A cirurgia pode ser necessária no tratamento das complicações, nomeadamente da fasceíte necrosante. ANTIBIOTERAPIA No tratamento de recém-nascidos com onfalite não complicada está indicada a administração parentérica de antibióticos com sensibilidade para agentes Gram- positivo e Gram-negativo, sendo a combinação de uma penicilina anti-estafilococos e um aminoglicosídeo a mais utilizada no tratamento empírico. Em comunidades com elevada prevalência de S. aureus meticilinorresistente, a vancomicina deve ser usada em vez da penicilina. Na presença de complicações abdominais (como a fasceíte e a mionecrose) ou quando a resposta ao tratamento anterior se demonstra insuficiente é aconselhável uma melhor cobertura dos microorganismos anaeróbios, sendo a associação de metronidazol e de clindamicina (em substituição da penicilina) uma adequada opção. O tratamento deve ser ajustado de acordo com os estudos microbiológicos e com a sensibilidade dos microrganismos isolados. A terapêutica antibiótica deverá ter uma duração mínima de 10 dias, podendo nas situações não complicadas e nos lactentes maiores ser completada por via oral. A melhoria clínica, com redução visível dos sinais inflamatórios, deve ser notada nas primeiras 12 a 24 horas depois do início dos antibióticos. May Freitas; (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) A ausência de resposta à terapêutica pode significar progressão da doença, imunodeficiência ou presença de defeitos anatómicos como a persistência de úraco ou do canal onfalo-mesentérico. EVOLUÇÃO A onfalite pode associar-se a elevada morbidade e mortalidade. A complicação mais comum da onfalite é a sepse. Outras complicações incluem a arterite séptica umbilical, a trombose da veia porta, o abcesso hepático, a peritonite, a gangrena intestinal, a evisceração de intestino delgado, a fasceíte necrotizante e a mionecrose. O prognóstico de recém-nascidos com onfalite é muito variável. A doença não complicada tem habitualmente uma evolução favorável e não deixando sequelas. A taxa de mortalidade nos recém-nascidos com onfalite varia entre 7% e 15%, subindo para 38-87% nos casos complicados por fasceíte necrotizante ou mionecrose. O gênero masculino, a prematuridade, o baixo peso ao nascer, o parto sem assepsia e as alterações da temperatura são fatores de risco associados a pior prognóstico. Apesar de raro, o desenvolvimento de fasceíte necrotizante está associado a maior taxa de mortalidade. May Freitas; (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) CRITÉRIOS DE INTERNAÇÃO DO RN Algumas peculiaridades relacionadas à faixa etária requerem, no período neonatal, indicações próprias para hospitalização em unidades com graus variados de complexidade. O Departamento de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) propõe uma padronização para admissão e permanência hospitalar. Unidade de Cuidados Intermediários: o Prematuridade (Quando IG < 36 semanas e PN < 2.000g) – primeiras 24 a 48h – mínimo. o Baixo peso ao nascer (Quando PN < 2000g) - primeiras 24 a 48h – mínimo. o Asfixia Perinatal (Apgar de 5º min < 6 ) - primeiras 24 a 48h – mínimo o Filho de mãe diabética - primeiras 24h – mínimo o Desconforto respiratório leve – até a retirada do oxigênio o Malformação congênita – até estabilidade clínica o Distúrbio hidroeletrolítico – até estabilização o Infecção perinatal provável ou clínica o Nutrição parenteral em transição o Tranferências da UTIN. Unidade de Terapia Intensiva o Peso de Nascimento ( PN ) < 1500g ou Idade Gestacional (IG) < 34 semanas o Desconforto respiratório com indicação de CPAP ou Ventilação Mecânica o Anóxia grave ( Apgar </= 3 no 5º min. de vida) – encefalopatia hipóxico - isquêmica graus 2 e 3 de Sarnat e/ou escore > 6 de Portman o Hidropsia Fetal o Sepse o Nutrição Parenteral o Pós-operatório o Risco ou ocorrência de apnéia o Exsanguineotransfusão May Freitas; (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) o Distúrbios cardiovasculares: insuficiência cardíaca, arritmias, choque, etc. o Enterocolite necrosante o Instabilidade de parâmetros vitais por causas diversas: insuficiência renal e supra- renal, hemorragia cerebral, coma, convulsão, anomalias congênitas, etc. O USO RACIONAL DE ANTIMICROBIANOS O uso racional de antimicrobianos (URA) é uma dessas abordagens, que pode prevenir o surgimento de resistência a antibióticos, ao mesmo tempo que melhora os desfechos e a segurança para o paciente PRINCÍPIOS E ESTRATÉGIAS DO URA PARA A UTI NEONATAL Os princípios centrais incluem os que seguem: Manejo oportuno da terapia antimicrobiana para assegurar o início imediato da terapia com antibióticos, quando indicada, para doenças críticas, tais como a sepse, e para pacientes de alto risco com infecções bacterianas sérias. As decisões a respeito dos antimicrobianos iniciais devem ser tomadas a partir de dados locais, incluindo antibiogramas institucionais, bem como de considerações sobre surtos recentes ou em andamento. Em geral, não devem ser utilizados dois ou mais antibióticos com espectros de atividade sobrepostos para a “dupla cobertura”, em virtude da ausência de benefício e do risco de possíveis danos (toxicidades etc.). Seleção apropriada de antimicrobianos para assegurar que esquemas antibióticos apropriados sejam selecionados para síndromes clínicas e infecções específicas. Isto pode incluir evitar esquemas com antibióticos redundantes ou sobrepostos para infecções por bactérias gram-negativas ou anaeróbicas (p.ex., meropeném e metronidazol). Devem ser utilizados agentes ideais para as infecções confirmadas (p.ex., uso de cloxacilina ou nafcilina para infecções por S. aureus suscetível à meticilina, e não vancomicina). Administração apropriada e redução da terapia antimicrobiana. A administração inicial de antibióticos adequada é revisada, e com a revisão por colegas sobre o uso dos antibióticos, em 48 a 72 horas após o início, para determinar se a terapia deve ser continuada, alterada ou descontinuada. Esta revisão deve incorporar os resultados de culturas e outros exames complementares, a consideração sobre outros possíveis diagnósticos, e a condição geral do paciente. Quando indicado, é realizado o monitoramento em relação aos níveis séricos terapêuticos dos antibióticos. Além disso, é monitorada a administração adequada dos antibióticos para a profilaxia cirúrgica. Em geral, os antibióticos profiláticos devem ser de espectro restrito e fornecidos pelo mais breve período de tempo possível. Uso de expertise e recursos disponíveis no ponto de cuidados. Isto inclui a formação de comitês de URA multidisciplinares com o apoio da equipe da administração hospitalar e da unidade neonatal. São utilizadas diretrizes clínicas, evidências da literatura e algoritmos que facilitam ao prestador o reconhecimento de síndromes clínicas que necessitam e que não necessitam de antibióticos. Monitoramento transparente e regular das avaliações. As avaliações do processo (p.ex., uso de antimicrobiano) e do desfecho (duração da estadia) devem ser rastreadas para avaliar o impacto das intervenções do URA. Estes dados coletados também devem ser regularmente fornecidos, de modo aberto e transparente, para os prescritores e para a equipe da assistência. Este feedback também serve para orientar modificações futuras no URA, bem como nos dados sobre o uso de antimicrobianos e na auditoria do uso de May Freitas; (FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO) antibióticos para identificar oportunidades para estratégias de uso racional e educacionais. Isto também inclui o monitoramento prospectivo para avaliar a eficácia do programa de URA.
Compartilhar