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1 Beatriz Machado de Almeida Hematologia – Transfusão Princípios básicos em medicina transfusional Transfusão de sangue • Transferência segura de componentes sanguíneos de um doador para um receptor; • Hemocomponentes e hemoderivados; • Repor aquilo que falta: de acordo com análise clínica, exames laboratoriais. • Benefícios X risco: sempre colocar na balança, olhar o paciente e exames laboratoriais pra evitar maiores riscos. A transfusão de sangue geralmente é alogênica, ou seja, de uma pessoa para outra pessoa. Porém, também pode ser autóloga, ou seja, de uma pessoa para a mesma pessoa em uma situação futura. ❖ Hemocomponentes: é tudo aquilo que está contido no sangue (sangue e plasma, plaqueta). O principal é o plasma. ❖ Hemoderivados é algum componente do sangue ou plasma (imunoglobulina, albumina ...). O sangue total é o sangue doado. É feito uma triagem e observado se há alguma contraindicação ao sangue doado. Se não houver, o sangue irá para a centrifugação (divide-se em plasma fresco, camada de leucócitos e plaquetas e o concentrado de hemácias). E alguns procedimentos ainda conseguem dividir o plasma fresco para ser congelado, para hemoderivados e o crioprecipitado. Lembrando que também temos outros tipos de doação, aquela voltada para algum hemocomponente, normalmente é plaquetas, normalmente por aférese (máquina para plaquetaférese). Em outros países também se fazem doação dirigida de plasma - a plasmaférese – retira-se o plasma pra fazer os hemoderivados, tais como albumina, as imunoglobulinas, os fatores da coagulação. No Brasil não é tão feito, nos EUA é até remunerado. Concentrado de hemácias (indicação): • Anemia aguda: ❖ Aliviar sintomas da perda sanguínea; E, até em alguns pacientes que estão em choque (tanto hemorrágico quanto séptico) pra tentar melhorar a perfusão. ❖ Falha da infusão de cristaloides. • Anemia crônica: ❖ Aliviar sintomas da diminuição das hemácias: taquicardia, astenia extensa. ❖ Falha de outras intervenções. Ex: paciente com anemia megablástica, após repor vitamina B12, não melhora os sintomas. Qual o aumento após 1 CH? 1g/dL; 3% no HT Ex: paciente com hemoglobina de 5, após a transfusão, a gente espera que suba 1 ponto, ou seja, que a hemoglobina vá para 6. RECOMENDAÇÕES ATUAIS • Uso racional dos hemocomponentes; • Tendência mundial: Restritivo. Ou seja, quanto menos transfundir, melhor. • Transfusão de sangue: Procedimento relativamente seguro. ❖ Risco residual de infecções virais (atualmente muito mais raro de acontecer) ❖ Reações transfusionais → TRALI (pneumonite, injúria pulmonar secundária à transfusão), TACO (sobrecarga volêmica); - Ex.: um vovô que chega com uma HB de 7 e querem levar pra 10, aí transfundem, só que ele já não tinha uma condição cardíaca muito boa, então acaba fazendo congestão pulmonar e agravando. Ou seja, tem que ser bem indicado. • Transfusão mal indicada: Exposição a riscos e custos desnecessários: sem benefício algum. Normalmente, HB menor ou igual a 7 tem indicação de transfundir. Porém, sempre se deve analisar o quadro clínico do paciente. Se o paciente com hb de 7,5 e com um estado clínico bom, dá para aguardar e observar se 2 Beatriz Machado de Almeida Hematologia – Transfusão há melhora. Já um outro que chega de politrauma, instável, chocado, esse vale a pena transfundir. Então depende do valor de Hb e da clínica do paciente. QUANDO NÃO FAZER TRANSFUSÃO: • Aumentar o bem estar; • Cicatrização; • Profilaxia – não existe; • Expansão volumétrica quando a capacidade de transporte de O2 está preservada. • Ansiedade do médico. Lembrando que são raras as situações que a Hb vai ser usada como expansor, uma dessas situações é o choque hipovolêmico. DECISÃO • Não existe gatilho transfusional; • Recomendações atuais: basear-se na clínica do paciente, independentemente do nível de Hb; • Considerar: ❖ Idade do paciente; ❖ Sinais e sintomas; ❖ Velocidade de instalação da anemia; ❖ Etiologia da anemia; ❖ Condição de tolerância à hipóxia: ➢ Doença cardíaca, principalmente de origem isquêmica, histórias de IAM ou angina → Muda o ponto de corte para transfusão, aumentando-o. Principalmente quando há doença aterosclerótica, alguma doença isquêmica, o ponto de corte deixa de ser Hb de 7- 8 e, por exemplo, passa a ser 10 para não desencadear um quadro isquêmico. ➢ DPOC → Muda o ponto de corte para transfusão, aumentando-o, pois o paciente pode ter uma hipoxemia e a baixa Hb piorar o quadro clínico dele. ❖ Dados laboratoriais. PLAQUETAS O paciente com anemia falciforme é politransfundido e uma complicação que pode ocorrer é a hemocromatose. Porém, há outras complicações, como a aloimunização; Nós temos várias proteínas nas hemácias, sendo as mais conhecidas as do sistema ABO Rh. O que pode acontecer é um paciente com AF que não tem essas proteínas receber um sangue que contém essas proteínas, o que gera um anticorpo contra aquela proteína, e isso é a aloimunização. Isso pode dificultar futuras transfusões. Isso pode ser evitado se pedido a fenotipagem. Ou seja, determina previamente as proteínas das hemácias do paciente e procura uma bolsa de sangue com as proteínas mais parecidas. Então, para evitar isso, o ideal é que haja o concentrado de hemácias fenotipadas. Plaquetas - indicação TRANSFUSÃO QUANDO HÁ: • Plaquetopenia; • Distúrbios da função plaquetária; • Sangramento ativo (terapêutica) - politrauma; • Risco de sangramento (profilática). – ex: leucemia aguda, que faz QT, não espera tanto tempo pra transfundir. Ao contrário das hemácias, às vezes há transfusão plaquetária profilática. Algumas vezes é necessária a transfusão para evitar o sangramento de um sítio nobre (SNC e oftalmológico – retina). Quando chegar a um nível crítico de plaqueta, transfunde-se mesmo sem sinal de sangramento. • Concentrado plaquetário em pool (randômico): ❖ 5 a 8 para uma dose para adultos. ❖ Doação única por citaférese: Plaquetas por aférese; ❖ Aproximadamente 6X mais que 1 concentrado. Geralmente pode-se desconsiderar a tipagem ABO. Pois não há risco de fazer reação hemolítica pois não fez componente da plaqueta. Doses padrões para a transfusão em pool: ❖ Criança: 1 U de concentrado de plaquetas para cada 10-15 kg de peso. ❖ Adulto: 5-8 U de concentrado de plaquetas randômicas ou 1U de plaquetas por aférese. Paciente de 80 kg uma plaqueta por aférese. 1 unidade de plaquetas por aférese equivale à 5 a 8 unidades em pool. Quando se retira o sangue total, centrifuga, e obtém plaquetas. Essas plaquetas retiradas do sangue total são chamadas de plaquetas em pool ou randômicas. A outra forma de obter a plaqueta é a plaqueta aférese, na qual o paciente recebe apenas a plaqueta – muito mais concentrado, não recebe o sangue total. Então, o 1 concentrado de plaquetas aférese corresponde à 5- 8 concentrados de plaquetas randômicas. 3 Beatriz Machado de Almeida Hematologia – Transfusão Então paciente com 60kg precisa de 6 concentrados de plaquetas randômicas. Se aférese, precisa apenas de 1 unidade! • Um pool de 5U de concentrado de plaquetas → 10.000 >>> 40.000. Ou seja, após fazer 5U de concentrado de plaquetas, essas plaquetas sobem de 10 a 40 mil. A depender de várias circunstâncias, esse valor varia. QUANDO FAZER? ❖ Paciente sem sangramento: 5.000 (corte mínimo); Tem alguns locais da literatura, que colocam 10.000, mas o mínimo aceitável para um paciente ficar sem transfusão é 5.000. ❖ Sem sangramentos, mas com outros fatores (ex.: febre) – 20.000; A febre é uma inflamação e ativa a cascata de coagulação – consumo de plaqueta. Se deixo um número menor de plaquetas, pode ter algum tipo de sangramento. ❖ Profilaxia em procedimentos invasivos (exceto dois: cirurgia de SNC e oftalmológica)– 50.000; ❖ Procedimentos especiais (em casos de cirurgia de SNC e oftalmológica) – 100.000. Então, se chegou um paciente no pronto-socorro sem história de sangramento e plaquetas 7.000, não precisa transfundir. Mas, se chegou paciente com dengue com 17mil e está fazendo febre, esse paciente precisa transfundir. Detalhe, se o paciente tem plaquetopenia e ele está sangrando (sangramento ativo) iremos transfundir o paciente até chegar o valor de 50 mil, que é a maneira de parar de sangrar esse paciente. PRODUTOS DE PLASMA – FRESCO CONGELADO Toda vez que temos um distúrbio da coagulação (lembrar dos exames TP e TTPA) e ainda não tem uma explicação, o melhor jeito de corrigir esse distúrbio é dando Plasma Fresco Congelado, pois ele tem a maioria dos fatores de coagulação e repormos através da transfusão. Desse plasma fresco congelado, em alguns bancos de sangue, eles aproveitam para centrifugar, e isso fica uma parte um pouco mais grossa, na qual é possível identificar e separar que chamamos de crioprecipitado. CRIOPRECIPITADO O crioprecipitado tem poucos fatores da coagulação, no qual os mais importantes são: o fator VIII, Von Willebrand, Fibrinogênio e fator XIII. Patologias que resolveriam com crioprecipitado: Hemofilia A, Von Willebrand e CIVD (queda de fibrinogênio com TP e TTPA aceitável – fazer só correção de fibrinogênio através do Criopreciptado). Através de ter fator 8 e de von Willebrand, só usaremos o crioprecipitado na hemofilia em último caso, pois na maioria das vezes os pacientes já tem o fator disponível (em casa ou hemocentro) que tem a disponibilidade rápida, e quando o paciente é exposto ele pode fazer um aloanticorpo. Então, ele pode ficar refratário a reposição do fator 8. Logo, atualmente só se faz a reposição em situação de risco de vida eminente, fora isso pode aguardar entrar em contato com hemocentro e solicitar a reposição de fator 8 que chega rápido. Então, essas são as três principais indicações de hemocomponentes e o derivado desse hemocomponente é o crioprecipitado, mas temos outros derivados como: albumina, exemplo na síndrome nefrótica, paciente cirrótico, síndrome hepatorrenal, as imunoglobulinas podem ser derivados também como na PTI aguda e reposição de imunoglobulina em pacientes imunodeficientes, outro hemoderivado é o anti-D, realizado em pacientes gestantes Rh negativa, na qual tem o companheiro Rh positivo e o filho é Rh positivo, assim a mãe pode ser sensibilizada e o filho pode ter na segunda gestação uma doença hemolítica do recém- nascido. Assim, perto do parto faz anti-D para evitar que ela seja sensibilizada. *Quando o paciente faz a doação, ele doa o sangue total, e inicialmente o sangue participa de uma primeira centrifugação e separa os componentes pesados, no qual a hemácia fica no fundo e em cima fica o plasma rico em plaqueta e, através de um método 4 Beatriz Machado de Almeida Hematologia – Transfusão físico separa as duas bolsas (o concentrado de hemácias e a bolsa com plasma rico em plaqueta). A segunda bolsa, passa por outra centrifugação, comparado com plasma e plaqueta, a plaqueta fica em baixo por ser mais pesada e o plasma fica em cima, e assim é separada mais duas novas bolsas. O plasma fresco é armazenado para ser congelado e aqui temos bancos de sangue que aproveitam essas bolsas, que em uma certa temperatura, ele pega o plasma congelado e faz uma nova centrifugação, e fica em baixo o crioprecipitado sobrenadante e em cima o plasma fresco cencrio. Mas podemos usar esse plasma em umas circunstâncias, em quadro de PTT – para repor os ADAM13. REAÇÕES TRANSFUSIONAIS ❖ Ocorrem durante ou logo após transfusão; ❖ Causas imunológicas e não imunológicas; ❖ Interromper imediatamente a transfusão; ❖ A unidade responsável não necessariamente é a que está sendo infundida. A gente tem dois tipos de reações, as agudas (24h após transfusão) por causas imunológicas ou não e em 99% dos casos dessa reação é necessário suspender a transfusão, mas tem uma exceção: reação alérgica que será discutida mais a frente, e que não precisa interromper imediatamente. Mas, todas as outras reações transfusionais. É NECESSÁRIO SUSPENDER e chamar o banco de sangue para entender o motivo da reação e, tem também as tardias. Há locais que quem faz a transfusão é o banco de sangue; um técnico faz a transfusão e, se houver intercorrência, chama o médico para avaliar o que está acontecendo com o paciente. Reação hemolítica aguda • Durante ou até 24 horas; • Anticorpos contra eritrócitos: ❖ Incompatibilidade ABO; ❖ Respostas neuroendócrinas, ativação do complemento, liberação de citocinas, coagulação. • Febre, calafrios, náuseas, vômitos, dor, dispneia, taquicardia, hipotensão, sangramentos, hemoglobinúria (mais grave, podendo levar a IRA, que pode até necessitar de diálise). A reação aguda mais grave é a hemolítica aguda porque ela acontece quando há incompatibilidade ABO. Então há uma reação transfusional hemolítica aguda, ele tem um anticorpo que vai se ligar a hemácia que ele está recebendo e acaba provocando um quadro de hemólise intravascular. Essa reação hemolítica aguda é um erro gravíssimo de quem fez a transfusão, geralmente isso é falha de identificação do paciente. • Hemoglobina livre no plasma; • Hemoglobinúria; • Elevação de LDH, bilirrubina indireta; • Elevação de ureia e creatinina; • Coombs pode ser positivo; • Pode ser fatal: gravidade relacionada à quantidade de hemácias incompatíveis. QUADRO CLÍNICO E INTERVENÇÃO Percebeu esse quadro clínico, deve-se procurar os marcadores de hemólise como LDH. Precisa medir o sumário de urina pra ver a hemoglobinúria e analisar se houve aumento da lesão renal. As intervenções são: Interromper a transfusão e prevenir o quadro de insuficiência renal → O tratamento é hidratação e em alguns casos mais graves usa-se o diurético osmótico. O Manitol é utilizado de forma intravenosa quando quer fazer uma diurese mais forçada, principalmente quando há IRA por depósito (como mioglobina, hemoglobina) ou situações que é preciso secar o paciente, como edema agudo no SNC que é preciso diminuir a volemia do SNC e a PIC. • Interromper imediatamente a transfusão; • Prevenir insuficiência renal: ❖ Tratar hipotensão e CID; ❖ Hidratação venosa, diuréticos; ❖ Vasodilatadores renais. PREVENÇÃO Doença de Haff (surgiu recentemente na Bahia): Pode fazer um quadro de rabdomiólise com IRA, que pode levar a uma injúria renal. Quando se identifica rabdomiólise é preciso hidratar o paciente. Reação febril não hemolítica: Reação mais comum. • Aumento de pelo menos 1 grau durante ou até uma hora após; • Frio, calafrios, tremores, cefaleia, náuseas, vômitos; 5 Beatriz Machado de Almeida Hematologia – Transfusão • Baixa gravidade: Diferencial com causas mais graves. Sempre descartada a contaminação bacteriana. Contaminação bacteriana • Diminuição da incidência; • Quadro grave, dramático; • Durante ou logo após; • Febre alta, calafrios, hipotensão, náuseas, vômitos; • Choque, IRA, CIVD, óbito: Alta taxa de mortalidade. É o aumento de um grau durante ou até 1 hora da transfusão e pode vir com náusea e vômitos. Toda vez que teve febre, é preciso descartar a contaminação bacteriana. Diferenciação: Teve febre, suspende a transfusão e colhe a hemocultura do paciente e a cultura do componente transfundido. Se tudo der negativo, considera como Reação febril não hemolítica. Então na próxima vez da transfusão faz profilaxia com paracetamol ou novalgina pra evitar que isso aconteça. Isso ocorre porque alguma citocina que tem no hemocomponente, quando cai na circulação do paciente, faz febre; fazer medicação profilaticamente. Reação alérgica • Muito comum, geralmente leve; • Prurido, urticária,eritema, rubor cutâneo; • Podem ocorrer manifestações respiratórias; • Anti- histamínicos EV, epinefrina, IOT; • Se leve, reiniciar transfusão após tratamento. Segundo mais comum, acontece mais com plaquetas, essa é a única que pode parar a transfusão, reverter o quadro com anti-histamínico e voltar a transfusão, porém se for grave, até com choque anafilático, você para e faz o tratamento do quadro. Por que acontece? O doador tem uma proteína que o paciente não tem. Geralmente já um paciente politransfundido. Então faz profilaxia no próximo com anti histamínico. Se for grave utiliza corticoide também. • Geralmente não é possível identificar o antígeno; • Casos leves: anti-histamínicos pré-transfusão; • Recorrência: corticoides; • Leucorredução. TRALI (Injúria pulmonar aguda relacionada à transfusão) ❖ Anticorpos leucocitários do doador reagem com antígenos leucocitários do receptor; ❖ Dispneia, cianose, febre, taquicardia, hipotensão; ❖ Durante ou até 4 horas; ❖ Edema pulmonar bilateral; ❖ Mortalidade de 20%. Injúria pulmonar aguda relacionada a transfusão acontece, pois durante a transfusão, pode ocorrer anticorpos contra leucócitos que se associam e se ligam as paredes dos vasos pulmonares, causando uma reação inflamatória intensa no pulmão, que pode evoluir para dispneia, febre, cianose, taquicardia e hipotensão. DIAGNÓSTICO - TRALI ❖ É preciso comprovar que não tenha insuficiência cardíaca associada. ❖ Diagnóstico: Edema pulmonar não cardiogênico; ❖ Resolução em 48-96 horas (maioria das vezes); TRATAMENTO ❖ Tratamento: Suporte hemodinâmico e ventilatório; Interrupção da transfusão. ❖ Prevenção – futuras transfusões: lavagem (plaqueta e hemácia) para tirar o excesso de plasma e fazer uma seleção mais específica de pacientes doadores. Por exemplo mulheres gestantes tem mais propensão a criar anticorpos.
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