Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra Biogeografia Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra. Autor: Paulo Lopes Rodrigues Revisora: Elisangela Ronconi Rodrigues Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra Introdução Prezados alunos, tudo bem? Nesta unidade, última no nosso processo de conhecimento acerca da biogeografia, buscaremos compreender as técnicas para a produção do conhecimento biogeográfico, pois é com a utilização dessas técnicas que conseguimos compreender a distribuição espacial das espécies e suas relações com o meio. Ainda nesta unidade discutiremos um pouco mais a fundo temas que surgem e necessitam ser estudados pelo viés biogeográfico, dos quais destacamos o ambiente urbano e as mudanças climáticas. O ambiente urbano é ápice da modificação humana perante a natureza, deste modo a biogeografia busca compreender qual o impacto dessa modificação para as diferentes formas de vida, além de propor soluções que mitiguem esses impactos. As alterações climáticas também não são um assunto novo e de exclusividade da biogeográfica, mas a preocupação dessas alterações e os impactos para os seres vivos deve ser compreendido à luz dos saberes e metodologias próprias dessa área. Por fim colocamos, sem a pretensão de encerrar a discussão, os desafios de biogeografia para o século XXI, de uma biogeografia interdisciplinar e com uma visão holística, que busquem auxiliar as respostas dadas perante as demandas que surgem nesse período. Assim sendo, vamos aos estudos? Boa leitura e bons estudos! 1. Representação cartográfica em biogeografia e técnicas de pesquisa. Até o presente momento nos debruçamos a entender como os seres vivos se distribuem na superfície terrestre, todavia é inegável que precisamos de mecanismos que nos auxiliem nesse processo. Um deles, sem sombra de dúvida é a utilização da cartografia como ferramenta, a qual detalharemos neste capítulo. Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra Outra importante ferramenta nos estudos biogeográficos são as diferentes técnicas utilizadas para compreender a distribuição da flora e da fauna que também serão abordados nesta unidade. 1.1. Cartografia e representação biogeográfica Segundo Troppmair (2002) ocorre a necessidade de elaborar cartas fito e zoogeográficas e/ou geoecológicas, ou seja, cartas que representam a distribuição das plantas, dos animais ou dos atributos naturais. Essas cartas fornecem importantes subsídios para compreensão da dinâmica daquela área, apresentando na forma de inventário os recursos ali disponíveis, traçando relações entre as características físicas e as formas de vida ali presentes. Além disso, esse tipo de mapeamento fornece dados de potencialidade econômica e também para o manejo sustentável e racional da área. Essas cartas podem ser englobadas em 5 formas, apresentados no quadro a seguir: Quadro 1: Cartas geográficas: tipos e funções. Tipos de Cartas Características Objetivo Cartas de Inventário Levantamento de formações vegetais, dos elementos naturais e de diferentes espécies de plantas e animais que ocorrem em uma determinada área. Avaliação de potencialidades dos elementos naturais daquela área. Cartas de dinâmica populacional Representação da expansão (ou retração) de uma espécie ou de todo um ecossistema Avaliação da dinâmica daquela espécie (ou do ecossistema) no tempo sobre uma determinada área. Cartas de vulnerabilidade Busca identificar os parâmetros que devem ser respeitados para que não Apresentar a sensibilidade dentro de um ecossistema para seu manejo adequado. Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra afetem a existência da flora e fauna naquela localidade. Cartas de impactos ou de alterações Busca identificar o nível de interferência do ser humano em determinado ecossistema. Apresenta o grau de interferência do ser humano e avalia seu impacto. Cartas temáticas ou especiais Representam um determinado aspecto seja da fauna, flora ou dos elementos naturais Esses tipos de cartas podem apresentar determinada fenologia, ou processo migratório, ou seja, uma característica que se queira destacar. Fonte: Troppmair (2002), adaptado para essa obra. Além dos tipos das cartas já apresentados, as técnicas empregadas no processo de elaboração de cartas e mapas em biogeografia é diverso, porém pode ser agrupado em 4 (quatro) principais formas. O mapeamento direto sobre cartas básicas é uma dessas formas, utilizada principalmente para pequenas áreas, com escala que varia de 1:1000 a 1:50000, ou seja, 1 cm é igual a 10 metros até 500 metros. Nessa forma de mapeamento insere- se no mapa utilizado como base os elementos biogeográficos selecionados que foram observados, em outras palavras, essa forma de mapeamento é feita a partir da observação do pesquisador. Outra forma de produção das cartas biogeográficas é a sua elaboração a partir da utilização de fotografias áreas, sendo que essa técnica é utilizada principalmente quando são mapeadas áreas maiores, com escala entre 1:5000 até 1:60000, ou de difícil acesso ao pesquisador. Nesse caso, delimita-se cada formação Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra ou ecossistema, ou por cada foto, uma simbologia, que representa 25%, 50%, 75% ou 100% da fisionomia apresentada. Já o mapeamento com utilização de imagens de radar ocorre em áreas de grande nebulosidade, na qual com o auxílio de fotografias aéreas ou imagens de satélite, se faz o processo descrito para imagens aéreas. Imagem 1: Exemplo de Fotografia área, Pojuca - BA. #Para cego ver: Traçado urbano da cidade de Pojuca na Bahia, cercado de fragmentos de vegetação. Já o processo de mapeamento que se utiliza de imagens de satélite é utilizado para áreas muito extensas, com escalas que variam de 1:50000 até 1:5000000 (ou mais). No produto oriundo desse processo só consegue se identificar grandes fisionomias ecossistêmicas, a qual as pequenas variações não são consideradas devida a grande generalização. Como vocês já devem saber, o mapa e também a carta, não são a realidade em si, mas uma representação da mesma, assim sendo impossível representar a realidade em seu todo, mas apenas partes dela, não sendo diferente com os mapeamentos em biogeografia. Nos mapeamentos produzidos em estudos biogeográficos podemos ter alguns problemas, sendo os principais a questão escalar e da projeção. O problema em relação a escala se dá no nível de detalhamento que queremos obter, na qual podemos observar em escalas grandes maior quantidade de informações do que em escalas pequenas. O outro problema é resultado da projeção, ou seja, na produção da carta deve-se optar por aquela projeção que mantenha áreas sem grandes deformações e também aquelas que já tenham sido elaboradas cartas que representam os elementos naturais como a topografia, o solo e o clima, permitindo assim correlações. Vamos praticar? Leia o texto a seguir: Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra “A interpretação espacial da distribuição dos seres vivos e sua documentação cartográfica são condutas inerentes à prática biogeográfica levada a efeito pelo viés da Geografia. Tal orientação metodológica apresenta alguns problemas associados que podem ser, principalmente, de ordem escalar, classificatória, ou no que se refere à própria dificuldade de produzir documentos cartográficos representativosdo significado biogeográfico de uma determinada espacialidade” MARQUES NETO, R. A questão da escala na cartografia biogeográfica: uma proposta de mapeamento de biótopos em São Lourenço (MG). Caminhos de Geografia. Uberlândia. v. 16, n. 53. p. 201–214.2015 Pelo apresentado no texto e também pelo visto até o momento na unidade, um dos grandes dilemas nos mapeamentos geográficos é a questão escalar. Deste modo, considere alternativa incorreta. A. O mapeamento de grandes áreas, buscando a identificação dos biomas, podem se utilizar de imagens de satélite, como também o mapeamento de maneira direta. B. A dificuldade do mapeamento com áreas com grande nebulosidade pode ser em partes superadas com o uso de radares. C. As fotografias aéreas no mapeamento biogeográfico além de abarcar uma área maior, auxilia o mapeamento de áreas de difícil acesso. D. O mapeamento direto é recomendado para áreas menores, permitindo maior nível de detalhamento. E. No mapeamento direto pode se incluir variáveis como o solo, declividade, altitude, corpos d’água, ou seja, elementos que podem ajudar na compreensão da distribuição dos seres vivos. Como já vimos a questão escalar é fundamental também para os mapeamentos biogeográficos, deste modo, ao se fazer o mapeamento deve ser ter a consciência do objetivo a ser atingido, no qual quanto maior a escala, menor o nível Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra de detalhamento e vice-versa. Assim, se utilizamos a imagem de satélite, estamos mais preocupados em observar grandes fisionomias ambientais, o que podemos denominar como biomas, desconsiderando nesse momento as diferenças internas dessa fisionomia, o que em uma mapeamento direto essas diferenças ganham notoriedade, além de que o mapeamento direto não consegue abranger uma grande área, que é o que delimita um bioma, assim afirmativa A está incorreta. Já em relação às técnicas de representação, pode-se utilizar símbolos para representar diferentes espécies quando se utilizam mapas em escalas grandes, na qual, cada símbolo representa dezenas e até centenas de indivíduos. Outra técnica é das hachuras para representar a intensidade de ocorrência de cada fenômeno ou espécie, quanto mais denso, maior a presença ou ocorrência daquele ser ou fenômeno. A delimitação das áreas de ocorrência pode ser feita por uma linha contínua, já quando se trata de uma área de transição, pode se utilizar uma linha pontilhada e por fim, a utilização de cores, que com a utilização da legenda, simplifica e facilita o entendimento do objeto retratado na carta. Todas essas técnicas apresentadas podem ser utilizadas nos perfis biogeográficos ou geoecológicos, que permite representar os elementos naturais com a relação dos seres vivos, compreendendo de uma leitura tanto de maneira vertical, como também de forma horizontal, acompanhando assim sua relação espacial (Troppmair, 2002). Esta forma de representar deve conter: o trecho do mapa topográfico onde é traçado o perfil, o perfil topográfico com as características ambientais, as temperaturas (média, mínima e máxima do ar), precipitação média, o tipo de solo, se há deficiência ou excesso de água, qual é o período favorável ou desfavorável para a flora e a fauna e também outros elementos que possam agregar melhor entendimento. Para você saber mais: Para você ver um exemplo de perfil biogeográfico, leia o seguinte artigo http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/BolGeogr/article/view/12895/7367 , que fala do perfil biogeográfico do estado do Paraná. http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/BolGeogr/article/view/12895/7367 Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra Outra forma de mapeamento consiste na fenologia, ou seja, no estudo do comportamento dos vegetais e dos animais, baseado nas observações, tanto direta dos elementos e fatores do clima, como também indiretas, como o ciclo vegetativo dos animais e das plantas. A partir dessa observação são construídos, segundo Troppmair (2002) os mapas de isofases que representam o início e o fim, ou a duração de uma fase. Pode se também, a partir dessas observações traçar um mapa de isocairas, com o objetivo de mapear as diferenças entre o comportamento padrão encontrado. Esses tipos de representação podem ser utilizados tanto para ecossistemas naturais quanto para áreas agrícolas, sendo que para essas, a fenologia é a mais utilizada. 1.2. Técnicas de pesquisa em biogeografia Em relação às técnicas utilizadas na biogeografia podemos dividir em dois grandes grupos, aquelas destinadas ao estudo da fauna, a zoogeografia, e aquelas destinadas ao estudo da flora, a fitogeografia. Essas técnicas, segundo Rocha (2011), são direcionadas para identificar as unidades territoriais dos seres vivos. Ainda segundo o autor supracitado, essas técnicas devem ser as mais adequadas para as escalas temporais e espaciais. Quadro 2: Técnicas de Pesquisa em Biogeografia Fitogeografia Zoogeografia Registros históricos e relatos de ocorrência; Registros históricos e relatos de ocorrência; Consulta a herbários; Coleções e museus zoológicos; Caracterização do estado de conservação, degradação, recuperação, sucessão ecológica ou regeneração da vegetação; Observação visual em campo e registro, Fisionomia da vegetação; Observação e registro de sons, Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra Estudo florístico; Observação e análise do comportamento de animais, Fitossociologia; Captura, marcação, soltura e recaptura de animais; Observação da fenologia Armadilhas fotográficas, Visualização e registro de pegadas e trilhas de animais; Visualização e registro de resíduos ou restos de animais Visualização e registro de locais de repouso, refúgio, pouso, ninhos, tocas e abrigos de animais Fonte: ROCHA, 2012. As técnicas para zoogeografia acabam necessitando maior atenção devido a natureza do objeto de estudo, pois os animais se deslocam, deste modo, em certo ponto, exigem do pesquisador mais atenção e cuidado, isso porém não quer dizer que o processo de identificação de plantas seja mais simples. De todo o modo, ao se utilizar qualquer uma das técnicas deve ser ter claro qual é o objetivo que se pretende atingir. Juntamente a isso é necessário muitas vezes possuir o conhecimento prévio dos hábitos das espécies que se pretende Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra estudar, pois algumas técnicas podem não ser adequadas para aquela finalidade ou não atingiram o objetivo em sua plenitude. 2. Definição de indicadores globais de avaliação ecológica. Como já vimos nas outras unidades, o ser humano não só modifica os ecossistemas, mas também os extingue, como também cria novos, como vimos nos agroecossistemas. A discussão acerca de uma nova forma de crescimento econômico que considere a preservação e a conservação dos recursos naturais vem ganhando cada vez mais força, fortalecendo assim o paradigma do desenvolvimento sustentável. O conceito de desenvolvimento sustentável pode ser de diversas escalas e níveis, por exemplo, na escala espacial ele pode ser local, regional, nacional ou mundial; já na escala temporal, esse tipo de desenvolvimento pode ser a curto, médio ou longo prazo e também pelos agentes envolvidos, podendo ser individual, de um grupo específico como também de toda a sociedade. Segundo Kemerich, Ritter e Borba (2014) a discussão sobre um modelo de desenvolvimento que aglutine de maneira harmônica o crescimento econômico e o meio ambiente, fez com que diferentes agentes, em diferentes escalas, pensassem nas diferentes dimensõesenvolvidas, além de fazer um profundo levantamento de dados e também de informações que representasse com maior clareza a realidade dos sistemas ambientais. Desse modo, partir de meados do século XX, especialmente a partir da década de 1960, o debate sobre o desenvolvimento sustentável ganha notoriedade, principalmente após grandes desastres ambientais, mesmo que o conceito de desenvolvimento sustentável seja anterior a essas crises (Van Bellen, 2004), sendo que a busca por indicadores de sustentabilidade ambiental crescerá demasiadamente do início dos anos 2000 para cá. Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra O surgimento dos indicadores ambientais, que segundo Malheiros, Philippi e Coutinho et al (2008) tem por objetivo: “o estabelecimento de uma visão de conjunto que exige um processo de avaliação de resultados em relação às metas de sustentabilidade estabelecidas, provendo às partes interessadas condições adequadas de acompanhamento e dando suporte ao processo decisório”. Deste modo podemos entender o indicador como um parâmetro que tem capacidade de descrever o estado do ambiente ou como o ambiente se comporta perante determinadas condições, assim, um indicador representa de certa forma a realidade, resultado de um conjunto de dados dos parâmetros selecionados. Para você saber mais: Indicador e índice em um primeiro momento parecem ser sinônimos, porém precisamos adentrar um pouco para compreender que não o são. O indicador pode ser entendido como uma ferramenta que permite obtenção de informações sobre uma realidade, podendo ser um dado individual ou agregado, sendo que para ser considerado um bom indicador o mesmo deve ser de simples entendimento, com base na quantificação estatística e seguindo uma metodologia própria que busque apresentar o fenômeno com precisão. Já o índice apresenta a situação de um fenômeno ou sistema, sendo que um índice pode ser construído para analisar diferentes elementos e também as relações entre si. Em outras palavras podemos dizer que o índice é um valor final, agregado de todo um procedimento, utilizando-se para isso diferentes indicadores. Assim, segundo Siche et al (2007), o índice é um instrumento para tomada de decisões e também previsão resultado de diferentes indicadores. O indicador é um parâmetro selecionado e considerado de maneira individual ou combinado com outros buscando a compreensão da realidade de um sistema. Os resultados indicados pelos índices fornecem informações que podem (e deveriam) ser utilizadas para o planejamento, implantação e gestão de políticas ambientais, buscando como já dito no início do capítulo, o uso racional dos recursos naturais. Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra Tayra e Ribeiro (2006) associam o indicador de sustentabilidade ambiental a um exame de colesterol, no qual uma pessoa mesmo que esteja com níveis alto de colesterol, pode não apresentar nenhum sintoma, pode apresentar uma situação crítica num futuro próximo, ou seja, em um indicador de sustentabilidade ambiental apresentar uma situação crítica, mesmo que no presente, de maneira aparente, não se apresente essa situação, o que em um futuro próximo pode trazer graves consequências. Uma importante consideração é que os indicadores de sustentabilidade ambiental devem estar articulados com os parâmetros sociais e econômicos, pois é dessa articulação é que se pode propor soluções para os problemas indicados nos índices. Assim, os índices de sustentabilidade ambiental, segundo Quiroga-Martinez (2001) puderam ser identificados em três gerações, ou seja, três períodos nos quais os índices tinham características dominantes. Os de primeira geração, por exemplo, são denominados como indicadores clássicos, pois não incorporaram inter-relações entre os componentes do sistema, ou seja, ao se avaliar a poluição do ar, não se buscava relacionar sua relação com as queimadas ou com a saúde humana. Já os de segunda geração são os índices que contemplavam as quatro gerações, ou seja, a econômica, a social, a institucional e ambiental, porém ainda de maneira fragmentada, não apresentando as interconexões entre elas. Os índices de terceira geração são os indicadores que vinculam as diferentes dimensões, com caráter transversal. Esses indicadores diferenciam-se dos de segunda geração por não apresentarem os indicadores de maneira individualizada, mas as variáveis que se interconectam e apresentam estreitas relações. Assim a utilização dos indicadores tem por objetivo reunir as informações e quantificá-las, de modo que as informações sejam simplificadas, entretanto sem perder sua complexidade, buscando a melhor apresentação de uma determinada realidade. Deste modo, um indicador deve contemplar a perspectiva de acompanhamento do fenômeno ao longo do tempo, buscando avaliar o avanço ou retrocesso no ambiente estudado. Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra Os indicadores de sustentabilidade ambiental ao serem desenvolvidos devem estar assentados sobre algumas premissas, das quais podemos destacar as seguintes: ● Comparabilidade: permitir estabelecer comparações e apontar as diferenças encontradas, seja no tempo, seja no espaço; ● Equilíbrio: os indicadores devem indicar as áreas de com problemas, ou seja, com mau desempenho, das áreas com bom desempenho, mesmo que essa ainda não seja a ideal, porém é a que apresenta melhores condições; ● Continuidade: os indicadores devem manter os critérios utilizados para efeitos de comparação, da mesma forma ● Temporalidade: os indicadores devem ser atualizados com a regularidade necessária, buscando abarcar situações novas e desconsiderando situações que foram superadas ● Clareza: os indicadores devem apresentar as variáveis utilizadas de maneira clara, sem dubiedade e/ou com omissão de informações Além de fornecer subsídios para tomadas de decisões, como já dito, os indicadores servem também para medir as consequências das atividades humanas sobre um dado ecossistema. Segundo Kemerich, Ritter e Borba (2014) “Através da utilização de indicadores ambientais deve ser possível a análise das condições, mudanças da qualidade ambiental, além de favorecer o entendimento das interfaces da sustentabilidade, bem como de tendências (...)”, ou seja, os indicadores não são e nem devem ser vistos como uma panaceia, ou seja, a resposta para achar o caminho do desenvolvimento sustentável, mas sim como um mecanismo que indica as fragilidades e potencialidades de uma determinada localidade. Além disso os indicadores têm como desafios alguns elementos, pois além dos custos operacionais para o desenvolvimento desses indicadores, como custo, forma de obtenção do dados e também a metodologia aplicada, segundo Guimarães e Feichas (2009), outros elementos devem ser considerados, sendo esses: Desafios na construção de indicadores de sustentabilidade 1. Rompimento com a hegemonia da dimensão econômica: os indicadores devem pensar além da dimensão econômica, pois a Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra sustentabilidade ambiental contempla mais variáveis como a ambiental e a social. 2. Possibilidade de comparabilidade: como já dito, os indicadores devem ser passíveis de comparabilidade, seja ela de uma mesma área, porém ao longo do tempo, como também de diferentes áreas em diferentes tempos. 3. Possibilidade de participação: A participação social é fundamental para o bom desenvolvimento de um indicador, pois o mesmo deve contemplar os anseios da comunidade e não somente uma reaplicação de fórmulas e dados estatísticos. Para que a participação da comunidadeseja efetivada deve-se promover fóruns de debates, audiências públicas e também órgãos colegiados, para que essas demandas possam de fato serem contempladas. 4. Critérios de Operacionalização: em relação a esse critério ele leva em conta a capacidade do indicador de influenciar as decisões e mudar o comportamento. A dificuldade está relacionada à capacidade de mensurar quais variáveis podem influenciar essas atitudes. 5. Relação entre as dimensões e as interpretações: como o conceito de desenvolvimento sustentável é polissêmico, admitido assim diferentes interpretações, essa situação reverbera no desenvolvimento de diferentes indicadores, ou seja, cada indicador buscará retratar uma situação de sustentabilidade. Não há um consenso de quais dimensões levam a sustentabilidade e nem o peso delas, porém a sustentabilidade, como já dito, é resultado de diferentes variáveis. Deste modo, os indicadores têm sido utilizados como mecanismo que auxilia na compreensão de fenômenos complexos. Observa-se que pelo exposto que os indicadores são uma ferramenta fundamental para compreensão de uma relação menos desarmônica entre ser humano e natureza, porém com desafios, como a quantificação e qualificação do que é sustentabilidade, considerando as diferentes realidades, com suas diferentes particularidades nos diferentes aspectos, sejam eles, sociais, econômicos, políticos, ambientais e culturais. Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra 3. Biogeografia em áreas urbanas: O papel da Biogeografia no planejamento das paisagens urbanas. Sem sombra de dúvida os ambientes urbanos são os ecossistemas mais artificializados que existem. O ambiente urbano altera a dinâmica natural, impondo aos elementos naturais uma nova forma de organização. Porém ao se falar de um ecossistema artificializado podemos remeter a uma situação de empobrecimento nas relações entre os seres vivos e os elementos naturais, porém o que se tem em um ambiente urbanizado são novas formas dessas relações com outros níveis de complexidade, pois são necessárias ações distintas daquelas encontradas em ecossistemas sem grande interferência humana e também dos agroecossistemas, como vimos na unidade anterior. A compreensão dos ecossistemas urbanos ganha importância também pelo aumento não somente pelo aumento dos moradores na cidade, como também o aumento das cidades em si, sendo que pelo viés da biogeografia, a grosso modo, o estudo dos ecossistemas urbanos irá se debruçar sobre a influência nos padrões de ocupação do solo e a sua relação com a distribuição dos seres vivos (Figueiró, 2015). Uma das características desses ambientes é a grande capacidade de receber matéria e energia, essa muitas vezes de longas distâncias. Em relação a produção de matéria destaca-se a produção de resíduos sólidos, cada vez maior, o que exige áreas cada vez maiores para o descarte e essas também cada vez mais distantes, gastando também mais energia para o seu deslocamento. A isso, soma-se maior geração de gases poluentes pela decomposição desses elementos e também contaminação do solo pelos líquidos e também como fonte de poluição. Neste caso específico, soluções como a coleta seletiva, com a separação do material orgânico, esse destinado a compostagem do material reciclável, pode diminuir o tamanho de aterros e também aceleração no processo de devolução de matéria orgânica. Em relação a biota, a utilização dos corredores ecológicos em áreas urbanas também é uma das possibilidades para a diminuição do impacto antrópico, pois o ambiente urbano também é uma área com vegetação fragmentada. Os corredores ecológicos nas áreas urbanas podem ser utilizados como parques urbanos, servindo Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra além de interligação de áreas com vegetação mais densa, esses corredores servem também como habitat de diferentes espécies de plantas e animais. Para o ambiente urbano esses corredores agregam além da função de lazer, preservação dos corpos d’água, redução de ruídos e poeira e auxiliam na regulação térmica. Os princípios de conservação da natureza em áreas urbanas deve incluir algumas variáveis, como: ● Otimização na distribuição das áreas verdes que agrupem os espaços verdes privados, os jardins e as hortas, evitando assim a concentração da cobertura em apenas algumas áreas da cidade; ● Criação de corredores ecológicos entre as áreas verdes centrais, muitas vezes menores, com as áreas periféricas, essas maiores; ● Diminuição do adensamento construtivo, preservando partes da superfície do terreno sem nenhum tipo de construção ou pavimentação; ● Preservação das áreas verdes como áreas livres de construção; ● Não retirada da matéria orgânica resultante da queda de folhas, galhos e frutas das áreas verdes, pois essas servem como base para o desenvolvimento de pequenos insetos e fungos, que podem alimentar pequenos animais, formando assim um pequeno ecossistema; ● Evitar a utilização de plantas exóticas em áreas verdes, pois muitas vezes essas exigem muito cuidado e também grande investimento para manutenção como podas constantes e também uso de defensivos agrícolas. ● As áreas destinadas aos cemitérios devem fazer parte do sistema de áreas verdes, além de serem áreas que contaminem o mínimo possível o solo e também os corpos d’água; ● O incentivo ao uso de espécies nativas para ruas, parques, praças e toda e qualquer área verde; ● Construção com telhados e fachadas verdes, além da produção de hortas urbanas. Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra Para saber mais: Você quer saber mais sobre telhados verdes e seus benefícios? Leia o seguinte artigo: http://revistas.utfpr.edu.br/pb/index.php/SysScy/article/view/2250/1645 e veja também essa reportagem da TV Cultura sobre telhados verdes: https://www.youtube.com/watch?v=ebE_4nm_Kt8 Os ecossistemas urbanos, segundo Andler e Tanner (2015) e Figueiró (2015) representam o máximo do habitat humano, pois as características ambientais foram moldadas para atender os interesses da sociedade humana, mediados pelo desenvolvimento da tecnologia. A cidade, deste modo, não pode ser vista somente como o oposto do ambiente natural, mas uma nova forma de ambiente, assim, não se pode estudar o ambiente urbano desassociado dos outros ambientes com menor impacto e influência antrópica Imagem 2: Horta urbana. Imagem 3: Arborização urbana. #Para cego ver: Na imagem à esquerda, no primeiro plano temos uma horta a direita e um pequeno pomar a esquerda, ao fundo a rede de transmissão elétrica. Na imagem da direita temos no primeiro plano casas cercadas de árvores, no segundo plano uma avenida, cortada por um viaduto, com prédios cercados por árvores. Desse modo, para se compreender a cidade como habitat humano produzido e escolhido por parte significativa dos seres humanos, deve se buscar compreender também as interações entre a natureza e a sociedade, não somente do ponto de http://revistas.utfpr.edu.br/pb/index.php/SysScy/article/view/2250/1645 https://www.youtube.com/watch?v=ebE_4nm_Kt8 Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra vista do planejamento, buscando assim o domínio, mas uma relação pautada na racionalidade e na harmonia entre os seres humanos e a natureza. 4. Mudanças climáticas atuais e alteração nos padrões de distribuição dos seres vivos. As alterações climáticas são sem sombra de dúvida uma das maiores discussões da ciência moderna, não sendo diferentes nos estudos em biogeografia, buscando a compreensão de como alteração nas características climáticas altera a distribuição, reprodução e a própria sobrevivênciados seres vivos. As mudanças verificadas nas condições climáticas alteram além da vida animal e vegetal, a própria espécie humana, pois altera práticas agrícolas e produção de alimentos e também o bem estar no ambiente urbano. Não é o objetivo aqui, especialmente neste capítulo, definir qual é o papel do ser humano para alteração da dinâmica climática, pois é uma discussão ampla e com diversos vieses, muito difícil de ser esgotada em poucas páginas. A biogeografia em um cenário de mudanças climáticas serve para compreender como será a distribuição dos seres vivos em áreas com alterações no regime de chuvas, de temperatura e também de modificação da composição dos gases da atmosfera. Todos os seres vivos possuem uma determinada faixa de tolerância, como já apresentado na unidade 1, porém o que se visualiza é uma alteração além dos limites de diferentes espécies, o que pode dificultar a capacidade de adaptação das mesmas perante a nova realidade que passa a ser imposta. A essa alteração climática soma-se a substituição da vegetação nativa por áreas agrícolas e urbanas, que altera também a disponibilidade de água na atmosfera. Essa alteração causa um desequilíbrio no ecossistema e uma necessidade de reorganização do ecossistema, o que pode ocasionar a perda de diversidade dentro desse sistema. Observa-se que, segundo Figueiró (2015), às grandes extinções estiveram associadas direta ou indiretamente as alterações climáticas. Além da capacidade adaptativa do ecossistema perante as alterações climáticas, o processo de adaptação também vai depender da qual o grau de comprometimento em que se encontra o ecossistema. Deste modo não basta somente a adaptação da espécie Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra perante a nova realidade climática buscando novas áreas com características do clima pretérito, sendo que muitas dessas espécies já vivem em áreas pequenas e com certo grau de isolamento. Assim, as alterações climáticas podem trazer diversas consequências, dentre as quais podemos destacar: o branqueamento e redução de corais; redução da área de ocorrência por perda de habitat, mudança fonológica em espécies e aves migratórias, redução do fitoplâncton marinho. Os recifes tropicais são formados por corais herméticos, encontrados até 50 metros de profundidade nos mares e oceanos quentes e por microalgas denominadas como zooxantelas, Essas algas vivem no interior dos corais, realizando fotossíntese e liberando para os corais nutrientes e essas microalgas por sua vez sobrevivem do gás carbônico liberado pelos corais e por nutrientes como fósforo e compostos nitrogenados, estando assim em complexo equilíbrio. Porém quando há aumento da temperatura do mar além do considerado normal para aquela localidade, às algas produzem água oxigenada, tóxica para os corais e esses na tentativa de se protegerem, produzem toxinas para expulsar às algas, sendo que são essas algas as responsáveis pela coloração dos corais, ou seja, sem a presença delas os corais ficam sem cores e perdem importantes nutrientes gerados por elas, o que ocasiona o branqueamento e redução dos corais. A isso soma-se o aumento de gás carbônico dissolvido nos oceanos tende a reduzir os níveis de cálcio e íons de carbonato, o que pode dificultar a recuperação dos corais. Estima-se que cerca de 55% das plantas e 35% dos animais poderão ter sua área de ocorrência reduzida pela metade até 2080 (Figueiró, 2015), ou seja, essas espécies irão ter redução da área de ocorrência e consequentemente perda de habitat. Destacam-se nessa perda a África subsaariana, América Central, Amazônia e a Austrália. Já as mudanças fenológicas em espécies de aves migratórias têm forte relação com a temperatura, sendo essa uma variável importante para determinar os períodos migratórios. Com o aquecimento em áreas mais frias, as espécies tendem a antecipar sua chegada nos locais de procriação, o que pode diminuir as taxas de fecundação, ocasionando o declínio da espécie (Figueiró, 2015). Além da chegada precoce das aves, pode ocorrer aumento no período de permanência nos locais de Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra procriação e também de parada ao longo da rota migratória, o que pode ocasionar maior pressão sobre os recursos disponíveis. Para você saber mais: Em 2011 foi publicado o livro “Conservação de aves migratórias neárticas no Brasil” organizado pelo Serviço de Pesca e Fauna dos Estados Unidos, que tem por intuito apresentar o local de moradia de aves que vivem em território nacional, mas que se reproduzem em território estadunidense. Clique no seguinte link para ter acesso a obra: https://ppbio.inpa.gov.br/sites/default/files/Livro_Aves_migratorias_nearticas_no_bra sil_Conservation_International.pdf A redução do fitoplâncton marinho pode alterar profundamente a dinâmica ecossistêmica em nível global. Todo o dia cerca de 100 milhões de toneladas de carbono são fixadas no organismo por essas microplantas. As correntes marítimas e o vento misturam às águas mais frias, mais densas e com maior disponibilidade de nutrientes com às águas mais quentes, essas da superfície, criando assim um ambiente propício para o fitoplâncton, porém as variações de temperatura da atmosfera pode ocasionar na superfície oceânica uma estratificação térmica da coluna de água, ou seja, se cria uma efeito tampão na água do oceano, impedindo a mistura entre a água mais quente da superfície com água mais fria mais profunda, impedindo a circulação dos nutrientes e consequentemente do crescimento e reprodução do fitoplâncton. Como essa é a base da cadeia alimentar marítima, alteração na sua composição ou na sua ocorrência, altera a existência de todos os outros seres, além de que a diminuição do fitoplâncton reduz também a captura de gás carbônico. As alterações climáticas podem afetar a existência de ecossistemas que já são naturalmente frágeis, como aquelas de áreas de clima seco e semiárido, os quais, se houver um pequeno aumento da temperatura e a redução da já pequena quantidade de chuvas, pode transformar essas áreas em grandes desertos. As alterações climáticas também podem alterar as relações interespecíficas, pois altera https://ppbio.inpa.gov.br/sites/default/files/Livro_Aves_migratorias_nearticas_no_brasil_Conservation_International.pdf https://ppbio.inpa.gov.br/sites/default/files/Livro_Aves_migratorias_nearticas_no_brasil_Conservation_International.pdf Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra os limites da amplitude ecológica, favorecendo algumas espécies em detrimento de outras. Os estudos acerca das alterações climáticas vêm sendo amplamente debatido, especialmente aqueles sobre o impacto dessas alterações para a vida no planeta, mesmo que muitos desses estudos ainda sejam modelos e projeções matemáticas com grande grau de incerteza, o que, todavia, não inviabiliza que essa discussão seja somada aos estudos biogeográficos. Ao trazer a discussão da alteração climática para a biogeografia pode-se discutir alternativas para preservação e conservação das diferentes formas de vida e também de como essas alterações modificam os elementos naturais, essenciais para a vida como conhecemos. Juntamente, ao se conhecer o processo de mudanças climáticas, podemos inferir possibilidades para melhor adaptação não somente das diferentes espécies de plantas e animais, mas também para o próprio ser humano. Vamos praticar? Leia o texto a seguir: “O clima depende da conservação da biodiversidade, mas também representa um fator determinante para a distribuição dos seres vivos no planeta. Alterações como o aumento de temperatura e mudanças nos padrões de chuva devem impactaro comportamento dos ecossistemas e espécies. Fonte: http://adaptaclima.mma.gov.br/biodiversidade-e-ecossistemas-no-contexto- da-mudanca-do-clima. Pelo texto apresentado e também pelo apresentado na unidade, considere as afirmativas a seguir: I. As alterações climáticas atingirão todas as espécies e ecossistemas de maneira semelhante. II. As espécies, como já ocorreu antes na história da terra, se adaptarão perante as alterações climáticas. III. Os impactos das mudanças climáticas não atingirão o ser humano de maneira significativa. http://adaptaclima.mma.gov.br/biodiversidade-e-ecossistemas-no-contexto-da-mudanca-do-clima http://adaptaclima.mma.gov.br/biodiversidade-e-ecossistemas-no-contexto-da-mudanca-do-clima Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra IV. O grau de conservação e preservação dos ecossistemas interfere na capacidade de adaptação perante as condições climáticas Assim consideramos A. Somente a I correta B. Somente a II correta C. Somente a III correta D. Somente a IV correta E. Todas incorretas Como vimos nessa unidade, as mudanças climáticas atingirão a todos os seres vivos, inclusive o ser humano, porém alguns seres são mais sensíveis que outros, tanto por suas características morfológicas, tanto por sua relação com o ecossistema que habita. Soma-se a isso a conservação do ecossistema, os quais ecossistemas já com alto grau de deterioração apresentaram menor possibilidade de adaptação perante as novas condições climáticas. Deste modo, a resposta correta é a D. 5. Por uma agenda de pesquisas em Biogeografia no século XXI A humanidade, como já vimos nesse unidade, vem modificando a natureza ao longo dos anos, buscando principalmente a criação de um ambiente que atenda melhor às suas demandas, sendo que com o modo de desenvolvimento capitalista essas transformações além de serem mais intensas ganharam uma velocidade sem precedentes, pois além do crescimento populacional e o aumento das cidades (tanto em número de habitantes, como também as cidades em si, o modo de consumo tornou-se cada vez mais predatório e podemos também destacar como insustentável. Deste modo diversas ciências e áreas do conhecimento passaram a se debruçar para compreender esses impactos e também para compreender as transformações realizadas e intensificadas pelo ser humano nos diferentes ecossistemas, dentre essas áreas está a biogeografia. Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra A biogeografia possui um caráter interdisciplinar, bebendo dos conhecimentos de outras ciências como a geologia, geografia, biologia, ecologia, botânica dentro de diversas outras. A biogeografia, como já aprendemos, se debruça a entender a distribuição das diferentes formas de vida sobre o planeta, buscando compreender quais os elementos condicionam essa ocorrência, todavia, essa forma de compreensão, por muito tempo, exclui o ser humano desse processo, vendo-o como um agente externo e não como parte do processo, ou seja, o ser humano pode alterar formas de distribuição da vida no planeta, porém ele era visto somente como fomentador dessas modificações, são sofrendo consequências dessa alteração, o que hoje vemos que está correto. Assim, compreender a biogeografia, concorda-se com que se diz Camargo e Troppmair (2002) que “Biogeografia desenvolvida pelo geógrafo deve sempre levar em consideração, além da flora e da fauna, os aspectos espaciais e humano” e deste modo, a biogeografia perpassa o campo das ciências naturais e integra o campo nas ciências sociais, pois a biogeografia cabe também responder e explicar como a natureza foi incorporada e (re)construída pelas práticas sociais. A biogeografia que surgiu no século XX atribuiu ao ser humano um papel muito importante, pois a biogeografia passa também a responder por demandas econômicas (biogeografia econômica), ou seja, o que da natureza, especialmente da fauna e da flora, pode ser transformado em riqueza, quais são as potencialidades desses ambientes; e por demandas relacionadas também a saúde, a biogeografia médica, esse focada em entender a origem, a distribuição e quais elementos potencializados para diferentes doenças e também pragas. Entretanto, a divisão da biogeografia em duas grandes áreas, como já dito também no decorrer das outras unidades, dificulta a compreensão plena do papel do ser humano nesse processo, pois muitos estudos acabam sendo direcionados, ou para fitogeografia, ou para zoogeografia, não sendo ainda realizados de maneira integrada e deste modo, acabam por não contemplar o papel do ser humano. Compreender o papel do ser humano, como vimos quando falamos de biogeografia cultural, é fundamental para os padrões como os padrões sociais influenciam as formas de vida, indo além somente dos critérios naturais. Deste modo, a biogeografia, conforme destaca Albuquerque et al (2004) deve se atentar a questões como: Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra ● O ambiente construído, seja ele urbano e/ou industrial, como também o agrário, pois a interferência do ser humano e o grau de modificação e deterioração nessas áreas são mais intensas, soma-se a isso a inserção de espécies vegetais e animais que modificam todas as relações ali existentes. Deste modo, cabe a biogeografia não somente compreender quais são esses impactos, mas também quais as consequências para o ambiente como também para o ser humano. ● A biogeografia deve compreender as relações de doenças e pragas não somente pelo caráter ambiental, compreendendo como se as doenças fossem apenas resultados das variáveis ambientais, desconsiderando os aspectos sociais, pois as doenças, principalmente as infecciosas não são somente resultado da temperatura ou da presença de microrganismos ou insetos vetores, mas muito mais da má qualidade sanitária, que se beneficiam dessas condições e se proliferam. ● Como dito na unidade III, mecanismo que busquem outra forma de produção, que não seja a de larga escala, considerando a dinâmica natural e o extrativismo sustentável. ● A preocupação com espécies exóticas, tanto no ambiente urbano e/ou agrícola, como naqueles com características naturais. ● E por fim, como já dito nessa unidade, a preocupação com a criação, dentro do espaço urbano, de áreas verdes interligadas para preservação e conservação da biodiversidade. Deste modo, a biogeografia precisa acompanhar as demandas de uma sociedade cada vez mais rápida e dinâmica, na qual, segundo Albuquerque et al (2004), “a noção de espaço cartesiana, traduzida em fatores como a latitude e a altitude, ou as características físicas e químicas para explicar a distribuição dos seres vivos” não são erradas, porém já não são suficientes, ou seja, os mecanismos naturais não podem (e nem devem) ser utilizados como única explicação para distribuição, ocorrência e extinção de diferentes espécies. Ainda segundo Albuquerque et al (2004): “Eventos como a aceleração da extinção de espécies animais devem ser relacionados com a lógica produtiva existente, onde o homem através da mediação representada pelo político ocupa um papel central nesse processo. A recuperação do sentimento de unidade entre sociedade e natureza, rompida por processos como o Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra desenvolvimento urbano e industrial, deve ser a principal meta também de todo biogeógrafo. Não uma unidade utópica forjada de forma inocente por muitas ideologias preservacionistas, mas a busca de caminhos por uma contínua transformação do espaço social num ambiente mais harmonioso para as pessoas e para com a vida em geral”. O desafio para a biogeografiaé grande e nem um pouco fácil de ser resolvido, sendo somente através do desenvolvimento de diferentes estudos e práticas que será possível construir uma nova biogeografia integralizadora e com visão holística, preparada para responder às demandas do século XXI. Síntese Chegamos ao fim de mais uma unidade e também ao fim dos nossos estudos acerca da biogeografia, tendo em mente é claro, que tudo que vimos e aprendemos ainda pode (e deve) ser aprofundado. Todavia acreditamos que conseguimos abordar de maneira eficiente os conceitos norteadores da biogeografia, fornecendo a você, estudante, os alicerces para o desenvolvimento de sua prática acadêmica e principalmente profissional. Assim, nesta unidade, abordamos os seguintes temas ● Representação cartográfica; ● Técnicas de pesquisa em fito e zoogeografia; ● Indicadores de sustentabilidade; ● Biogeografia em áreas urbanas; ● Biogeografia e mudanças climáticas ● Desafios da biogeografia atual. Esperamos ter contribuído da melhor maneira possível nesse processo de ensino e aprendizagem e que o conhecimento adquirido ao longo dessas quatro unidades. Boa sorte a todos e até a próxima! Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra Bibliografia ALBUQUERQUE, E. S; CANDIOTTO, L. Z. P; CARRIJO, B. R; MONASTIRSKY, L. B. A nova natureza do mundo e a necessidade de uma biogeografia “social”. Geosul. Florianópolis, v. 19, n. 38, p 141-158, jul./dez. 2004 ADLER, F; TANNER, C. J. Ecossistemas urbanos: princípios ecológicos para o ambiente construído / Frederick R. Adler, Colby J. Tanner ; tradução Maria Beatriz de Medina. São Paulo : Oficina de Textos, 2015 CAMARGO, J. C. G; TROPPMAIR, H. A evolução da biogeografia no âmbito da ciência geográfica no Brasil. GEOGRAFIA. Rio Claro, Vol. 27(3): 133-155, dezembro 2002 FIGUEIRÓ, A. Biogeografia: dinâmicas e transformações da natureza. São Paulo: Oficina de Textos, 2015. GUIMARÃES, R. P; FEICHAS, S. A. Q. Desafios na construção de indicadores de sustentabilidade. Ambiente. soc. , Campinas, v. 12, n. 2, pág. 307-323. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414- 753X2009000200007&lng=en&nrm=iso> . acesso em 21 de dezembro de 2020. KEMERICH, P. RITTER, L. BORBA, W. "Indicadores de sustentabilidade ambiental: métodos e aplicações". Revista Monografias Ambientais. Volume 13 Número 4. 2014. MALHEIROS, T. F.; PHILIPPI JR., A.; COUTINHO, S. M.V. Agenda 21 nacional e indicadores de desenvolvimento sustentável: contexto brasileiro. Revista Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 17, n. 1, p. 7-20, mar, 2008 QUIROGA-MARTINEZ, R. Los indicadores de desarrollo sostenible: estado del arte. Curso-Taller Indicadores de Desarrollo Sostenible para América Latina y el Caribe. Santiago. 2001. ROCHA, Y. T. Técnicas em estudos biogeográficos. Raega - O Espaço Geográfico em Análise., v. 23, nov. 2011. ISSN 2177-2738. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/raega/article/view/24846>. Acesso em: 28 dec. 2020. SICHE, R; AGOSTINHO, F; ORTEGA, E; ROMEIRO, A. Índices versus indicadores: precisões conceituais na discussão da sustentabilidade de países. Ambiente e sociedade. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-753X2009000200007&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-753X2009000200007&lng=en&nrm=iso https://revistas.ufpr.br/raega/article/view/24846 Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra Campinas, v. 10, n. 2, pág. 137-148. 2007. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414- 753X2007000200009&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 21 de dezembro de 2020. TAYRA, F; RIBEIRO, H. Modelos de indicadores de sustentabilidade: síntese e avaliação crítica das principais experiências. Saúde e sociedade., São Paulo , v. 15, n. 1, p. 84-95, 2006 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104- 12902006000100009&lng=en&nrm=iso> . Acesso em: 21 Dec. 2020. TROPPMAIR, T. Biogeografia e Meio ambiente. Rio Claro: Divisa, 2002 VAN BELLEN, H. M. Indicadores de sustentabilidade: um levantamento dos principais sistemas de avaliação. Caderno EBAPE.BR, Rio de Janeiro , v. 2, n. 1, p. 01- 14, 2004. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679- 39512004000100002&lng=en&nrm=iso>. access on 21 Dec. 2020. Referências Imagéticas: Imagem 1: Fotografia aérea de Pojuca - Bahia. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca- catalogo?id=431785&view=detalhes>. Acesso em: 26 de dezembro de 2020. Imagem 2: Horta urbana. Disponível em: <http://www.aen.pr.gov.br/modules/galeria/uploads/52071/horta_21.JPG>. Acesso em: 26 de dezembro de 2020. Imagem 3: Arborização urbana. Disponível em: <https://images.pexels.com/photos/2272007/pexels-photo- 2272007.jpeg?auto=compress&cs=tinysrgb&dpr=2&h=650&w=940>. Acesso em: 26 de dezembro de 2020. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-753X2007000200009&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-753X2007000200009&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902006000100009&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902006000100009&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-39512004000100002&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-39512004000100002&lng=en&nrm=iso https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?id=431785&view=detalhes https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?id=431785&view=detalhes http://www.aen.pr.gov.br/modules/galeria/uploads/52071/horta_21.JPG https://images.pexels.com/photos/2272007/pexels-photo-2272007.jpeg?auto=compress&cs=tinysrgb&dpr=2&h=650&w=940 https://images.pexels.com/photos/2272007/pexels-photo-2272007.jpeg?auto=compress&cs=tinysrgb&dpr=2&h=650&w=940 Biogeografia - Unidade IV - Quais técnicas utilizar para compreender a distribuição da vida na terra
Compartilhar