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p. 1 Rafael Calvano DIABETES MELLITUS TIPO 2 É uma doença metabólica crônica em que há resistência insulínica, deficiente produção de insulina pelo pâncreas e excessiva produção hepática de glicose. Normalmente é associada com a obesidade e/ou sobrepeso, e isso se dá pois isso é um grande fator de risco para que ocorra a resistência insulínica no corpo do paciente. Quanto mais obeso o paciente é, mais a insulina tem dificuldade de vencer a barreira do sangue. Cerca de 80% dos casos de DM2 são associados com Síndrome Metabólica. É uma síndrome caracterizada por várias alterações que aumentam o risco cardiovascular, como por exemplo: ➢ Obesidade central; ➢ Dislipidemia; ➢ Hipertensão Arterial Sistêmica; ➢ Hiperuricemia; ➢ Esteatose Hepática; O risco de desenvolver DM2 é de 40% se um dos pais for afetado (sendo que se for a mãe essa chance aumenta), e de 70% se ambos têm a doença. Sendo assim, os principais fatores de risco para DM2 são: ✓ Obesidade; ✓ Sedentarismo; ✓ História familiar de DM; ✓ Idade (a partir dos 40 anos); ✓ Diagnóstico prévio de pré-diabetes; ✓ Hipertensão arterial; ✓ Dislipidemia; ✓ Acantose nigricans; ETIOPATOGENIA Resistência insulínica periférica no adipócito, deficiente produção de insulina pelas células B pancreáticas, excessiva produção hepática de glicose no fígado. Disfunção da célula beta, pois elas deixam de liberar insulina mesmo com o estimulo de glicose. A célula alfa não responde com a suspensão do glucagon, piorando a hiperglicemia. O paciente normal faz picos de insulina que geram metabolização da glicose, já o paciente portador de DM2 não tem esse pico e demora muito mais para metabolizar a glicose. É interessante citarmos que a hiperglicemia prolongada leva ao agravamento da resistência insulínica e do defeito secretório da célula beta (glicotoxicidade). Também é bom citar que, a resistência insulínica resulta em aumento da lipólise e consequente aumento dos ácidos graxos livres circulantes, os quais inibem a secreção de insulina pelas células beta. Esse excessivo aporte de ácidos graxos livres ao sistema porta resulta em aumento do débito hepático de glicose e maior síntese hepática de VLDL, culminando na dislipidemia diabética. Disfunção das células alfa: aumento ou não- supressão da secreção de glucagon na presença de hiperglicemia, devido a redução da secreção prandial do GLP-1. O GLP-1 é um peptídeo, produzido pelo intestino, que estimula a célula beta a produzir insulina e inibe a secreção das células alfa de glucagon. Ele também gera uma diminuição do esvaziamento gástrico, o que ocasiona uma satisfação alimentar precoce e emagrece. O rim filtra cerca de 162g/dia de glicose, sendo que cerca de 90% disso é reabsorvido por um cotransportador de sódio/glicose, sendo ele o SGLT2. Na DM, há um aumento na reabsorção tubular de glicose e também aumento da produção renal de glicose por aumento da gliconeogênese. p. 2 Rafael Calvano ACANTOSE NIGRICANS Afeta o pescoço e a axila, muitos pacientes com DM2 e obesos apresentam esse quadro clínico. TRATAMENTO Normalmente esses pacientes apresentam uma síndrome metabólica, então nosso tratamento nunca vai ser só a regulação da glicemia. Devemos orientar os pacientes quanto a mudanças nos hábitos de vida, prática de exercícios físicos, orientação dietética e principalmente medicamentos. Muitos pacientes têm uma classe social muito baixa e mal sabem gerir a forma de tomar os medicamentos ou são mal instruídos, por isso sempre devemos dar atenção a todos os pacientes de forma simples e direta. A primeira droga de uso na DM2 e na pré-diabetes é da classe das biguanidas, sendo ela a Metformina. Ela diminui a produção hepática de glicose, e aumenta a captação intestinal dessa molécula, além de diminuir a resistência insulínica. Pode ter efeitos colaterais como dor abdominal, diarreia, e gosto metálico na boca. A metformina XR tem ação muito mais lenta, mas quase nenhum efeito colateral. Essa classe de medicamentos é contraindicada em casos de pacientes com um clearence de creatinina < 30ml/minutos ou com doenças agudas como IAM, pneumonia e AVC. Além dessas existe a classe das sulfoniluréias, com a principal medicação sendo a Glicazida. Ela tem função de aumentar a produção de insulina pelas células beta pancreáticas, mas compreende de efeitos adversos como hipoglicemia, ganho de peso, exaustão das células beta pancreáticas. É contraindicada em pacientes grávidas, portadores de insuficiência renal severa e terminal e principalmente insuficiência hepática. A insulina é um hormônio anabólico e por isso ocasiona ganho de peso. Existem outras drogas como a classe das glitazonas e pioglitazonas, que agem diminuindo a resistência insulínica e reduzem os ácidos graxos livres circulantes por inibição da lipólise. Essas drogas têm o benefício de diminuir a aterogênese. Principal efeito adverso é o ganho de peso e retenção hídrica. Não deve ser utilizado em casos de insuficiência cardíaca de classes III e IV, além de pacientes portadores de insuficiência hepática. Além dessas existe a classe das Incretinas, que são inibidores de uma enzima chamada DPP-IV, a qual degrada o GLP-1. É um bom medicamento pois tem poucos efeitos colaterais. Na DM2 ocorre uma diminuição dos níveis de GLP-1 pós-pradial, o que contribui para a redução da secreção de insulina e para a não-supressão do glucagon. Se utilizarmos uma droga que inibe a enzima que degrada o GLP-1, então ele estará em maior quantidade na corrente sanguínea. Exemplos desses medicamentos são Janúvia ou Trayenta. São excelentes medicamentos pois não causam hipoglicemia, não levam a ganho de peso, preservam as células beta pancreáticas, têm poucos efeitos adversos, sua principal associação é com metformina (mas também pode ser associado com sulfoniluréias, glitazonas e insulinas). Junto desses todos, e ainda dentro da classe das Incretinas, existe o análogo do GLP-1. Esses medicamentos realizam todos os efeitos que o GLP- 1 faz, e tem o benefício de não ser degradado pela enzina DPP-4. É um análogo, ele faz as mesmas funções, mas não é igual. Tem benefício pois ocasiona redução de peso, controle glicêmico e aumento da saciedade, porém é um medicamento de custo elevado e injetável. Tem efeitos adversos de náuseas, vômitos e diarreia. Esse medicamento ocasiona redução de peso pois ele gera uma diminuição do esvaziamento gástrico, então a comida fica por mais tempo no estômago e causa saciedade muito mais fácil. Alguns exemplos desses medicamentos são Victoza, Saxenda, Trulicity e Ozempie. p. 3 Rafael Calvano Existe ainda a classe dos medicamentos inibidores do SGLT2 (que é aquele cotransportador de sódio e glicose), e que atuam reduzindo a reabsorção tubular de glicose pelo rim, provocando aumento ainda maior da glicosúria. Por terem um mecanismo independente da insulina, podem ser utilizados em qualquer estágio da DM2. Promove diminuição da glicemia, tanto de jejum quanto pós-prandial de modo independente da ação da insulina. Tem um grande benefício de realizar a redução da pressão arterial sistólica, pois diminui a glicose sérica. Por contada glicosúria, pode ter uma chance aumentada a gerar uma ITU, além de ter chance aumentada de gerar uma hipotensão quando associado a diuréticos. Alguns exemplos de medicamentos são Forxiva, Jardiance e Fondolana. Por fim, no tratamento da DM2 nós sempre teremos que ter em mente que a INSULINA é um dos principais medicamentos no tratamento e controle da diabetes, principalmente se for um quadro descompensado. As indicações de uso são para pacientes com glicemia de jejum > 300mg/dl ou com uma hemoglobina glicada (HBA1C) > 9%, além de ser indicada caso haja necessidade de reestabelecimento rápido da normalidade da glicemia, quando suspeitar de exaustão das células beta pancreáticas ou quando o controle glicêmico com hipoglicemiantes orais é inadequado. O tratamento efetivo para a DM2 requer múltiplas drogas para corrigir os defeitos fisiopatológicos, e deve ser baseado nessas alterações e não somente na redução da hemoglobina glicada. A terapia deve ser iniciada precocemente na história natural do DM2, objetivando a preservação da célula beta pancreática. A insulina NPH é a que pode ser utilizada em gestantes, inclusive já existem muitos estudos que comprovam essa situação. p. 4 Rafael Calvano
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