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aula 8(1)

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Recuperação judicial 
1.FINALIDADE: sanear a situação gerada pela crise econômico- financeira da empresa devedora- o devedor postula um tratamento especial para remover a crise.
Objeto mediato: salvação da atividade empresarial em risco;
Objeto imediato: satisfação- dos credores, dos empregados, do Poder Público e consumidores.
É a instituição de um regime jurídico especial para o encaminhamento de soluções direcionadas a debelar a referida crise.- art. 47 da LRF
Solução de mercado: investidores, empreendedores- reorganizando, recapitalizando a empresa. Em princípio, se não há solução de mercado é porque ela não comporta recuperação.
Não é bem assim, quando as estruturas do sistema econômico não funcionam convenientemente, a solução de mercado não ocorre- nesse caso o Estado deve intervir por intermédio do Poder judiciário para zelar pelos interesses dos empregados, consumidores, fisco.
O que ocorre é que às vezes o dono da empresa (ou seu controlador) estima um valor alto, por conta dos anos, esforços, trabalho e capital que gastou com ela- é um valor subjetivo e individual- derivado da auto-imagem do vendedor- valoração diossincrática-
Os investidores acham que ela não vale o que o dono quer – é um exemplo de disfunção do sistema econômico- o princípio da livre iniciativa em que se assenta o direito de propriedade impede que o próprio mercado recupere a empresa em crise.- e interesses podem ser prejudicados de forma injusta (trabalhadores, fisco, consumidores, etc).
Esse instituto serve para corrigir as disfunções econômicas e não para substituir a iniciativa privada. 
A solução da crise não é do estado juiz- ele deve apenas afastar os obstáculos ao regular o funcionamento de mercado. 
 SOLUÇÃO DE MERCADO E RECUPERAÇÃO DA EMPRESA
- perda de clientes,
Redução do faturamento,
Desaquecimento do setor em que atua,
Crise mundial;
Pandemias.
Geralmente a recuperação é requerida antes da crise do empresário chegar a uma situação irreversível (antes do credor pedir a falência).
Pedido
No entanto, é possível o pedido incidental de recuperação ao pedido de falência.
Mesmo assim , o devedor ainda não é falido (ou seja, a decretação da falência impede o devedor de pedir a recuperação)
Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente: 
I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes;
e pedir a recuperação).
Especial: todos os credores devem habilitar-se para que possam votar nas assembleias (tudo isso foi visto dos artigos 7º ao 20 da LF).
Devedor apresenta seu plano e credores são comunicados ( via edital)´para apresentarem eventuais objeções.
Caso haja objeção- convoca-se a assembleia para deliberar sobre o plano apresentado.
Procedimento
Artigo 1º- empresários, sociedades empresariais EI, EIRELI, limitadas, S/As, etc...).
O artigo 2º exclui alguns empresários: 
Art. 2º Esta Lei não se aplica a: 
I – empresa pública e sociedade de economia mista; 
II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores. 
Legitimidade ativa
não estar falida- só devedores em estado de pré-falência;
mais de 2 anos de exploração da atividade econômica;
não pode o devedor que tenha obtido a recuperação judicial há menos de 5 anos. 
Devedor ME ou EPP 5 anos recuperação com base nos artigos 70 a 72.
sócio administrador e controlador – não podem ter sido condenados por crime falimentar.
	Requisitos materiais ( artigo 48)
1) comprovação do exercício da atividade empresarial regularmente há mais de 2 anos.
Juntada da certidão da Junta Comercial competente que ateste o exercício regular da atividade por tempo superior a dois anos.
Com relação ao rural: art. 48§ 2º Tratando-se de exercício de atividade rural por pessoa jurídica, admite-se a comprovação do prazo estabelecido no caput deste artigo por meio da Declaração de Informações Econômico-fiscais da Pessoa Jurídica - DIPJ que tenha sido entregue tempestivamente. (Incluído pela Lei nº 12.873, de 2013) 
Divergência no STJ a respeito da possibilidade do empresário rural sem registro poder requerer a recuperação, já que não consegue comprovar com a certidão da junta comercial.
Uma parte entende que não pode, pois não tem a certidão da junta comercial comprovando e outra que sim, pois como para ele o registro é uma faculdade, não poderia ser tolhido deste direito
Analisar o princípio da preservação da empresa.
https://www.migalhas.com.br/quentes/314583/stj-fixa-importante-precedente-acerca-da-recuperacao-judicial-de-produtor-rural
https://www.conjur.com.br/2019-abr-19/recuperacao-judicial-empresario-rural-jurisprudencia-stj
	Empresário Rural
2) comprovar que nunca teve falência decretada ou caso teve, que suas obrigações foram extintas. 
IMPORTANTE: que aqui a lei se refere ao empresário individual (falido) e quando se tratar de sociedade terá óbice ao deferimento a existência de sócio que responde ilimitadamente, nesse caso, aplicam-se as regras do empresário individual.
3) comprovar que o devedor não tenha há menos de 5 anos obtido concessão da recuperação.
Válido também para as ME e EPPs.
4) empresário individual não tenha sido condenado por crime falimentar e no caso de sociedade empresária, em relação aos administradores/ controladores.
Art. 3º É competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a recuperação judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. 
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Ex: a Varig sediada em Porto Alegre teve seu pedido de recuperação ajuizado no Rio de Janeiro, local de seu principal estabelecimento.
Foro competente
Súmula 480 STJ: “[o] juízo da recuperação judicial não é competente para decidir sobre a constrição de bens não abrangidos pelo plano de recuperação da empresa”
o STJ já sedimentou o entendimento no sentido de que quaisquer atos expropriatórios, provenientes ou não de créditos sujeitos, se pudessem impactar no cumprimento no plano de recuperação judicial, deveriam ser decididos pelo juízo da recuperação judicial. 
	Sumula 480 STJ
Para o STJ, permitir a continuação de atos individuais de expropriações contra as empresas em recuperação judicial poderia implicar na sua falência.
A preocupação do STJ é no sentido de que outros juízos não possam continuar executando empresas em recuperação judicial e permitindo a esses exequentes um tratamento diferente em relação aos demais sujeitos abarcados pelo plano de recuperação 4 5.
Conclusão: A leitura de um por um dos precedentes demonstra que todos eles, SEM EXCEÇÃO, tratam de atos de execução que ou atingem (i) bens dos sócios (através da desconsideração da personalidade jurídica) ou (ii) bens de empresas do mesmo grupo econômico das recuperandas, mas que não estejam no plano de recuperação judicial. Não tratam, os precedentes, de créditos não sujeitos; mas sim de bens não abrangidos pelo plano.
https://www.migalhas.com.br/depeso/170115/a-sumula-480-ponto-final-a-uma-leitura-equivocada
https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/121822482/stj-aprova-duas-novas-sumulas
Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será instruída com: 
I – a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise econômico-financeira ( descrição detalhada da crise- causas específicas motivo); 
II – as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societáriaaplicável e compostas obrigatoriamente de: 
a) balanço patrimonial; 
b) demonstração de resultados acumulados; 
c) demonstração do resultado desde o último exercício social; 
d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção (nesse caso seria interessante que o juiz tivesse um auxilio técnico para fazer essa análise)
Obs: ME e EPP podem apresentar livros e escrituração contábil simplificada §2)
III – a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente; ( é essencial para o administrador judicial publicar o edital previsto no artigo 7º, §2º da LF).
Petição inicial
IV – a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento (importante para avaliar a viabilidade da empresa); 
V – certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores ( para que o juiz possa analisar o cumprimento do artigo 48); 
VI – a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do devedor (importante diante da possibilidade de haver responsabilização pessoal deles (art. 82, §2º)- desconsideração da PJ) ; 
VII – os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras (avaliação da situação patrimonial e financeira); 
VIII – certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do devedor e naquelas onde possui filial (certidões positivas não impedem a recuperação); 
IX – a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados (para verificar a gravidade da crise). 
§ 1º Os documentos de escrituração contábil e demais relatórios auxiliares, na forma e no suporte previstos em lei, permanecerão à disposição do juízo, do administrador judicial e, mediante autorização judicial, de qualquer interessado. 
§ 2º Com relação à exigência prevista no inciso II do caput deste artigo, as microempresas e empresas de pequeno porte poderão apresentar livros e escrituração contábil simplificados nos termos da legislação específica. 
§ 3º O juiz poderá determinar o depósito em cartório dos documentos a que se referem os §§ 1º e 2º deste artigo ou de cópia destes. 
78. O pedido de recuperação judicial deve ser instruído com a relação completa de todos os credores do devedor, sujeitos ou não à recuperação judicial, inclusive fiscais, para um completo e adequado conhecimento da situação econômico-financeira do devedor. 
 
Enunciado 78 direito comercial
Caso a petição inicial não esteja devidamente instruída, o juiz deverá determinar a emenda da inicial e não indeferi-la como acontecia na legislação anterior.
Estando tudo certo- artigo 52: 
Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o juiz deferirá o processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato: 
I – nomeará o administrador judicial, observado o disposto no art. 21 desta Lei (função diferente da falência- aqui ele não afasta os administradores da empresa); 
II – determinará a dispensa da apresentação de certidões negativas para que o devedor exerça suas atividades, exceto para contratação com o Poder Público ou para recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, observando o disposto no art. 69 desta Lei; (a ideia é que a dispensa fosse total, pois e se a empresa atua com a administração pública, ficará difícil a continuidade de suas atividades).
Deferimento do processamento e do pedido de recuperação.
III – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor, na forma do art. 6º desta Lei, permanecendo os respectivos autos no juízo onde se processam, ressalvadas as ações previstas nos §§ 1º , 2º e 7º do art. 6º desta Lei e as relativas a créditos excetuados na forma dos §§ 3º e 4º do art. 49 desta Lei (instauração do juízo universal)- suspensão aqui é temporária)- artigo 6º§4º); 
IV – determinará ao devedor a apresentação de contas demonstrativas mensais enquanto perdurar a recuperação judicial, sob pena de destituição de seus administradores; 
V – ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta às Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento. 
Com o deferimento do processamento de recuperação não quer dizer que o juiz irá conceder a recuperação, mas sim que estão presentes os requisitos para processá-la.
Neste sentido, temos o Enunciado 54 da I Jornada de Direito Comercial: 54. O deferimento do processamento da recuperação judicial não enseja o cancelamento da negativação do nome do devedor nos órgãos de proteção ao crédito e nos tabelionatos de protestos.
Houve um questionamento sobre a recorribilidade desta decisão e para resolver tal questão foi aprovado o Enunciado 52: 
52. A decisão que defere o processamento da recuperação judicial desafia agravo de instrumento.
Trata-se de um dos efeitos do processamento da recuperação sobre as obrigações dos sócios avalistas das sociedades empresárias em recuperação.
Quando elas passam a ser avalizadas pelos sócios, eles passam a ser solidários ( ou seja, poderá executar tanto a sociedade como o sócio).
 A questão polêmica do artigo 6º
O s tribunais têm entendido que não , o sócio solidário para ele seria apenas o que tem responsabilidade solidária (como na sociedade em nome coletivo).
Entende-se também que para os avalistas deve-se aplicar o artigo 49, §1º: 
Os efeitos do artigo 6º estendem-se aos sócios avalistas? Seriam eles considerados sócios solidários expressão utilizada pela lei?
Artigo 49- § 1º Os credores do devedor em recuperação judicial conservam seus direitos e privilégios contra os coobrigados, fiadores e obrigados de regresso. 
Isso não é interessante, uma vez que poderá inibir os pedidos de recuperação por parte das sociedades que tenham empréstimos avalizados pelos sócios.
Neste sentido, enunciado 43. A suspensão das ações e execuções previstas no art. 6º da Lei n. 11.101/2005 não se estende aos coobrigados do devedor
A insurgência recursal neste ponto é completamente
desmotivada. Eis o teor da cláusula que trata da extensão dos efeitos da
novação (fl. 1.055):
9.1. Novação de Dívidas do Passivo e Outras Avenças
Uma vez aprovado o plano de recuperação judicial ora proposto,
automaticamente, todas as dívidas serão consideradas novadas,
para todos os efeitos, com exceção da extensão dos coobrigados
solidários, fiadores e avalistas conforme § 1o do art. 49 e art. 59.
[...]
Os credores também concordam com a imediata suspensão da
publicidade dos protestos, enquanto a recuperação estiver sendo
cumprida.
Não houve modificação no aditamento ao PRJ apresentado.
Destarte, neste ponto o recurso não é conhecido ante a
flagrante falta de interesse.
AGRV. Nº : 2122900- 58.2017.8.26.0000
Neste sentido:
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/RTrib_n.968.29.PDF
OBS 1; eventuais pedidos de falência não julgados ficarão esperando o julgamento do pedido de recuperação.
Vale ressaltar o artigo 52, ª3º : § 3º No caso do inciso III do caput deste artigo, caberá ao devedor comunicar a suspensão aos juízos competentes. 
Portanto, proferida a decisão de deferimento do processamento, será expedido edital: 
§ 1º O juiz ordenará a expedição de edital,para publicação no órgão oficial, que conterá: 
I – o resumo do pedido do devedor e da decisão que defere o processamento da recuperação judicial; 
II – a relação nominal de credores, em que se discrimine o valor atualizado e a classificação de cada crédito; 
III – a advertência acerca dos prazos para habilitação dos créditos, na forma do art. 7º , § 1º , desta Lei, e para que os credores apresentem objeção ao plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor nos termos do art. 55 desta Lei. 
Tomando ciência do deferimento do processamento da recuperação, os credores poderão, a qualquer momento, requerer a convocação da Assembleia geral, vejamos:
§ 2º Deferido o processamento da recuperação judicial, os credores poderão, a qualquer tempo, requerer a convocação de assembléia-geral para a constituição do Comitê de Credores ou substituição de seus membros, observado o disposto no § 2º do art. 36 desta Lei. 
OBS2: § 4º O devedor não poderá desistir do pedido de recuperação judicial após o deferimento de seu processamento, salvo se obtiver aprovação da desistência na assembléia-geral de credores.

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