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Em 2003 foram ciradas as diretrizes referentes à Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB ou Brasil Sorridente) que propõem uma reorganização da atenção em saúde bucal em todos os níveis de atenção tendo uma concepção de saúde centrada na promoção da boa qualidade de vida e intervenção nos fatores que a colocam em risco, e não somente na assistência aos doentes. Conceito da PNSB: produção do cuidado, através da construção, com os usuários, da resposta possível às suas dores, angústias, problemas e aflições, produzindo conhecimento, responsabilização e autonomia em cada usuário, e estimulando à construção de uma consciência sanitária, em que a integralidade seja percebida como direito a ser conquistado. Análise das linhas de cuidado, com a criação de fluxos que impliquem ações resolutivas das equipes de saúde, centradas no acolher, informar, atender e encaminhar. PRESSUPOSTOS: Assumir compromisso de qualificação da atenção básica; garantir uma rede de atenção básica articulada; assegurar integralidade nas ações de saúde bucal; subsidiar planejamento com os dados epidemiológicos; acompanhar o impacto das ações de saúde bucal; centrar a atução da vigilância à saúde; incorporar na atenção básica a Saúde de Família; definir política de educação permanente para os trabalhadores em saúde bucal; estabelecer políica de financiamento; definir uma agenda de pesquisa científica. PRINCÍPIOS NORTEADORES DAS AÇÕES: Gestão participativa: participação das representações de usuários, trabalhadores e prestadores em todas as esferas de governo. Ética: Toda e qualquer ação deve ser regida pelos princípios universais da ética em saúde. Acolhimento: garantir equipe multiprofissional para receber, escutar, orientar, atender, encaminhar e acompanhar. Acesso: universal, atendendo toda a demanda (ações coletivas, responsabilidade pelos problemas de saúde). Dor, infecção e sofrimento. Vínculo: responsabilizar a U.S. na solução dos problemas em sua área de abrangência, através de ações que permitam o controle pelo usuário no momento da execução. Responsabilidade profissional: implicar-se com problemas e demandas dos usuários, garantindo resoluções e sendo co-responsável pelo enfrentamento de fatores associados ao processo saúde-doença. PROCESSO DE TRABALHO EM SAÚDE BUCAL: Destaca-se quatro processos principais: - Interdisciplinaridade e multiprofissionalismo: interação da equipe multiprofissional; troca de saberes por percepções diferentes. - Integralidade da atenção: nível individual e coletivo. Ações de promoção, proteção, prevenção, tratamento, cura e reabilitação. - Intersetorialidade: Diferentes instituições influenciam na saúde, como educação, agricultura comunicação, tecnologia, esporte e saneamento. - Ampliação e qualificação da assistência: Garante procedimentos mais complexos e conclusivos. Garante maximizar a hora clínica do CD: 75 a 85% dedicados a assistência; 15 a 25% de outras atividades como planejamento, supervisão e avaliação. Garantir serviços de urgência. Adequar disponibilidade de recursos humanos de acordo com a demanda local. Dentro das ações da PNSB podemos destacar seis principais ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação dentro da saúde bucal. 1) Fluoretação das águas: Fundamental para as condições da população. Acesso ao Flúor se deve a políticas públicas de implantação da fluoretação das águas. Ampliação do programa aos municípios com sistemas de tratamento. INTRODUÇÃO AÇÕES DA PNSB Ações intersetoriais para ampliar a fluoretação das águas no Brasil; continuidade e teores adequados nos termos da lei 6.050 e normas complementares; criação e/ou desenvolvimento de sistemas de vigilância compatíveis. A organização de tais sistemas compete aos órgãos de gestão do SUS. 2) Educação em Saúde: Apropriação do conhecimento sobre o processo saúde doença. A atenção à saúde bucal deve considerar: diferenças sociais e a s peculiaridades culturais; os conteúdos de educação em saúde bucal devem ser pedagogicamente trabalhados, preferencialmente de forma integrada com as demais áreas: Debates; oficinas de saúde; conversas em grupo; folhetos e cartazes. Deve-se levar em conta que a lei federal nº 9395/96 que possibilita a estruturação de conteúdos educativos em saúde no âmbito das escolas, sob uma ótica local, com apoio e participação das equipes das unidades de saúde. - locais preferenciais: escolas, creches e espaços institucionais - Realizadas preferencialmente: THD, ACD e pelo ACS. Compete ao CD planejá-las, organizá-las, supervisioná- las e avaliá-las sendo, em última instância, o responsável técnico-científico por tais ações. 3) Higiene bucal supervisionada: Componente fundamental. Requer aprendizado. Deve-se ter cautela para definição de técnicas que “corretas e erradas”, para evitar essas estigmatizaçãos. A atividade de higiene bucal supervisionada (HBS) visa prevenção de cárie e gengivite. Deve ser desenvolvida preferencialmente pelos profissionais auxiliares da equipe de saúde bucal. Sua finalidade é a busca da autonomia com vistas ao autocuidado. 4) Aplicação tópica de flúor: Prevenção e controle da cárie, através da utilização de produtos fluorados em ações coletivas, A utilização de ATF com abrangência universal é recomendada para populações nas quais se constate uma ou mais das seguintes situações: Exposição à agua de abastecimento sem flúor; exposição à àgua de abastecimento contendo naturalmente baixos teores de flúor (até 054 ppm F); exposiçãoa flúos na água há menos de 5 anos; CPOD maior que aos 12 anos de idades; menos de 30% dos indivíduos do grupo são livres de cárie aos 12 anos de idade. 5) Ações de recuperação: Esse grupo de ações envolve o diagnóstico e o tratamento de doenças, que dever ser feitos o mais precocemente possível. Diagnóstico: identificação precoce das lesões. Biópsias e outros exames complementares. Tratamento: priorizar procedimentos conservadores visando a manutenção dos elementos dentários. 6) Ações de reabilitação: Consistem na recuperação parcial ou total das capacidades perdidas como resultado da doença e na reintegração do indivíduo ao seu ambiente social e a sua atividade profissional. CONCEITO AMPLIADO DE SAÚDE: Parte-se de um modelo assistencial centrado na doença e chegamos a um ponto de modelo de atenção integrada e isso tudo está relacionado ao artigo 196 da CF que proporcionou um conceito ampliado de saúde, gerando uma mudança progressiva dos serviços. o conceito de saúde é ampliado e dá margem para um modelo de atenção integral à saúde (promoção, proteção e recuperação) que é o que compõe o escopo da PNSB. As ações da PNSB visam primeiramente identificar as características do perfil epidemiológico da população para entender quais as necessidades dos usuários daquele território. E as ações de saúde bucal devem se inserir na estratégia planejada pela equipe de saúde, numa interrelação permanente com as demais Unidades de Saúde. Sobre o perfil epidemiológico, devemos identificar: AÇÕES DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO À SAÚDE: Podem ser desenvolvidas por diversos fatores: sistema de saúde; outras instituições governamentais; empresas; associações comunitárias; população e seus órgãos de representação. Ela visa a redução de fatores de risco que constituem ameaça à saúde das pessoas, podendo provocar-lhes incapacidade e doenças. Identificação e difusão de informações sobre os fatores de proteção e saúde. Pode ser desenvolvido pelo sistema de saúde, outras instituições governamentais, empresas, associações comunitárias e pela população e seus órgãos de representação. PROMOÇÃO DESAÚDE BUCAL: O conjunto da saúde bucal com a saúde coletiva geram políticas de acesso como água tratada, fluoretação das águas, dentifrícios fluoretados, cuidados odontológicos básicos apropriados. Abordar fatores de risco ou de proteção simultâneos tanto para doença da cavidade bucal quanto para outros agravos (diabete hipertensão, obesidade, trauma e câncer). Como por exemplo, política de alimentação saudável; aumentar autocuidado com higiene corporal; política de eliminação de tabagismo; redução de acidentes. A equipe de saúde deve fazer um esforço simultâneo para aumentar a autonomia e estimular práticas de autocuidado por pacientes, famílias e comunidades. Essas ações podem ser individuais ou coletivas. As coletivas devem ser voltadas para grupos e seus problemas específicos, como: idosos, hipertensos, diabéticos, gestantes, adolescentes, saúde mental, planejamento familiar e ser realizadas em espaços como sala de espera, domicílios, grupos de rua, escolas, associações e outros espaços sociais. AMPLIAÇÃO E QUALIFICAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA: Responsabilidade pela detecção das necessidades, providenciar os encaminhamentos requeridos em cada caso e monitorar a evolução da reabilitação, bem como acompanhar e manter a reabilitação no período pós- tratamento. -Prevenção e controle do câncer bucal: rotineiros exames preventivos para detecção precoce do câncer de boca; atendimento e acompanhamento desse paciente em todos os níveis de complexidade; promover autoexame e identificar lesões bucais; estabelecer parcerias para prevenção, diagnóstico, tratamento e recuperação. - Implantação e aumento da resolutividade do pronto-atendimento: organizar o pronto-atendimento de acordo com a realidade local; avaliar a situação de risco à saúde bucal na consulta de urgência, orientar o usuário para retornar ao serviço e dar continuidade ao tratamento. - Inclusão de procedimentos mais complexos na atenção básica: Sobre a atenção básica se propõe a inclusão de procedimentos mais complexos, como pulpotomia, restaurações de dentes com cavidades complexas, pequenas fraturas dentárias, fase clínica da instalação de próteses dentárias elementares, tratamento periodontal. - Inclusão da reabilitação protética na atenção básica: considerar em cada local a possibilidade de inserir na atenção básica procedimentos relacionados com a fase clínica da instalação de próteses dentárias elementares. Serviços especializados; acesso à população Suporte financeiro e técnico específico; demanda laboratórios e capacitação profissional. - Ampliação do acesso: trabalha-se com dois pontos, linhas de cuidado e condição de vida, e com o objetivo de superar o modelo biomédico de atenção às doenças, propõem-se duas formas de inserção transversal da saúde bucal nos diferentes programas integrais de saúde. A inserção transversal da saúde nos diferentes programas integrais de saúde. Condição de vida: saúde da mulher, do trabalhador, PNE, hipertensos e diabéticos. Linhas de cuidado: criança, adolescente, adulto e idoso. AMPLIAÇÃO E QUALIFICAÇÃO DA ATENÇÃO SECUNDÁRIA E TERCIÁRIA A assistência odontológica pública no Brasil se restringia aos serviços básicos. Os serviços odontológicos especializados correspondiam a não mais do que 3,5% do total de procedimentos clínicos odontológico. A baixa oferta dos serviços de atenção secundária e terciária levaram ao comprometimento dos sistemas de referência e contra referência. Necessário investimento que aumentem o acesso aos níveis secundários e terciários de atenção. Então essa ação é importante para ampliar e qualificar a oferta de serviços especializados o Ministério da Saúde contribuirá para implantação e/ou melhoria de Centros de Referência de Especialidades Odontológicas (CREO). Os CREO’s serão unidades de referências que ofertarão serviços de acordo com a realidade epidemiológica de cada região. Procedimentos clínicos complementares aos realizados na atenção básica. Procedimentos a serem ofertados pelos CREO: ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMILIA (ESF) Criada em 1994 e normatizada pela Norma Operacional Básica do SUS de 1996. A visita domiciliar é um procedimento rotineiro, preferencialmente realizado pelo ACS. Organização de visitas da equipe de saúde bucal às pessoas acamadas ou com dificuldades de locomoção visando à identificação dos riscos e propiciando o acompanhamento e tratamento necessário. Para saúde bucal esta nova forma de se fazer as ações cotidianas representa, ao mesmo tempo um avanço significativo e um grande desafio. Um novo espaço de práticas e relações a serem construídas com possibilidades de reorientar o processo de trabalho e a própria inserção da saúde no âmbito dos serviços de saúde. O trabalho em equipe, a relação com os usuários e a gestão trazem uma nova forma de se produzir cuidado em saúde bucal. IMPORTÂNCIA DA PNSB E A POLÍTICA ATUALMENTE: O Brasil Sorridente é a política nacional de saúde bucal e não uma política exclusiva do governo federal. Foi constituída há muitos anos por diversos setores da sociedade. Porém, é a primeira vez na história que o governo federal desenvolve um conjunto de ações maiores do que apenas os incentivos isolados à saúde bucal concedidos até o ano de 2002. A PNSB em 4 palavras: acolher, informar, atender e encaminhar. O estabelecimento de laços de confiança e vínculo (linhas de acesso e intersetorialidade) são indispensáveis para melhorar a qualidade dos serviços de saúde e aprofundar a humanização das práticas. Até a criação do Brasil Sorridente na Portaria 673, um município só poderia montar uma equipe de saúde bucal para cada duas de saúde da família. Com a Portaria, esses números se igualaram e de 2002 a 2005 aumentou em 141,3% o número equipes de saúde bucal e aumentou em muito o número de municípios atendidos, principalmente no Nordeste, a área com maior deficiência. Também foi a primeira vez que o governo começou a oferecer atendimento especializado na rede pública através de 161 CREO implantados em 86 municípios no país. Também houve a implantação de Laboratórios Regionais de Próteses Dentária (LRPD) e investimento na fluoretação da água distribuída pelos sistemas de tratamento. A PNSB contribuiu para a inclusão social, que não existia no modelo anterior de saúde bucal. Houve muita ampliação do financiamento e infraestrutura e organização na saúde bucal com o PNSB até 2014/2017 principalmente. Porém o uso de serviços odontológicos públicos (30,7%) sempre foi menor que o privado (69,3%). O número de profissionais CDs no mercado também aumenta muito a cada dia (300 mil em 2017) PNSB E SEU IMPACTO NA DESIGUALDADE SOCIAL O monitoramento das desigualdades de saúde é importante tarefa da saúde pública, inserida no campo das práticas comumente identificadas de modo mais amplo como “Vigilância em Saúde”. Nas últimas décadas, duas importantes intervenções em saúde bucal foram fortemente expandidas em todo país: fluoretação das águas de abastecimento e o atendimento odontológico na rede pública do SUS. O acesso à água tratada e fluoretada é fundamental para as condições de saúde da população e viabilizar políticas públicas que garantam a implantação de fluoretação das águas é a forma mais abrangente e socialmente justa de acesso ao flúor (que também pode ser obtido com dentifrícios fluoretados e por aplicação profissional). Porém a água fluoretada ainda não é a realidade para muitos brasileiros, menos da metade dos 5507 municípios do Brasil tem água fluoretada. É notória a desigualdade regional da distribuição da água fluoretada, justamente onde ela é mais requisitada: nos estados do Norte e Nordeste. O efeito favorável da fluoretação das águas pôde seridentificado na redução da prevalência da cárie dentária, conforme aferida por meio de levantamentos epidemiológicos de saúde bucal de amplitude nacional. Apesar do resultado favorável, a fluoretação da água teve um efeito indesejável no Brasil: a distribuição desigual do recurso preventivo aumento o viés socioeconômico na prevalência da doença. O índice CPOD era de 6,7 em 1986 e caiu para 2,8 em 2003 para crianças de 12 anos. Na adolescência, índice aumenta. Crianças de escola pública e da zona rural tem maior CPOD que as de escola privada e da zona urbana. Para garantir o acesso universal ao flúor, não basta adicioná-lo à água de abastecimento, é também necessário garantir o acesso à água encanada em todos os domicílios ou pelos menos acesso a alguma fonte comunitária e, por certo, realizar vigilância sobre a medida. Os ajustes urgem e são necessários, em pleno século XXI, mais da metade dos municípios brasileiros não tem acesso ao flúor. Ainda não há avaliações de amplitude nacional quanto ao efeito do serviço odontológico sobre as desigualdades nos indicadores de saúde bucal. É importante que os serviços de saúde sejam acompanhados por políticas públicas de desenvolvimento social. BRASIL ATUAL O programa Brasil Sorridente sofre um descaso no governo atual do presidente Jair Bolsonaro e as condições políticas e sociais que estavam presentes em 2003, principalmente porque atualmente a economia é muito mais valorizada do que as preocupações sociais. Porém o declínio do Brasil Sorridente não significa o fim da Saúde Bucal no SUS, pois ainda marca presença institucional com diversas ações históricas nesse setor. As transformações na PNSB a partir do momento atual devem ser de forma a valorizar a vigilância em saúde e se apoiar nessa para determinar as ações que precisam ser feitas a fim de promover saúde bucal à população. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O Brasil Sorridente constitui-se de uma série de medidas que têm como objetivo garantir as ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde bucal dos brasileiros, entendendo que esta é fundamental para a saúde geral e qualidade de vida da população.
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