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UNIDADE 1 - HISTÓRIA DA ARQUITETURA E URBANISMO IV

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1 Fatos arquitetônicos e urbanos no Brasil 
No tópico a seguir, você terá a oportunidade de estudar como as cidades brasileiras se desenvolveram ao longo do século XIX. 
Será feito um apanhado geral das principais transformações sociais e urbanas em nosso país e a arquitetura que resultou dessas 
mudanças. Essas transformações serão analisadas ao longo das próximas unidades desta disciplina. 
1.1 Brasil colônia 
O século XIX marca a expansão da arquitetura civil no Brasil. Até então, a maioria das encomendas eram de edifícios religiosos, 
que seguiam as linhas do barroco e do rococó. Outras obras de destaque eram aquedutos, fontes públicas e as chamadas casas 
de câmara e cadeia. Um estilo particular, conhecido como arquitetura bandeirante, se desenvolveu durante o século XVIII em 
regiões mais interioranas, mas sem grandes repercussões. 
 
A maioria da população vivia próxima ao litoral, e o imenso interior era escassamente povoado. O clima quente e a falta de uma 
estruturação sanitária adequada facilitavam a proliferação de doenças nas cidades. Embora o Brasil fosse uma colônia 
autossuficiente, não havia indústrias e manufaturas e a economia era dependente da exportação (SCHWARCZ, 2011). Apesar de 
uma relativa unidade geográfica, não havia o compartilhamento sistemático de informações dentro do território, em parte, devido à 
precária comunicação, mas, também, porque Portugal considerava a circulação de ideias uma ameaça ao seu poder sobre a 
colônia. 
 
No início do século XIX, Portugal não era mais o império poderoso que impulsionou as Grandes Navegações. Enfraquecida 
economicamente e subordinada à influência do governo britânico, que, por sua vez, estava em guerra com a França, Portugal 
acabou invadida por Napoleão Bonaparte, obrigando a sua nobreza a fugir para o Brasil, sua colônia no continente americano. Na 
condição de colônia, o Brasil não tinha autonomia para diversificar sua economia e desenvolver o ensino superior, que fomentaria 
uma produção cientifica para dar suporte a um aparato industrial. 
1.2 De colônia à reino e depois Império 
A transferência da família real portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808 é o catalisador das transformações que o Brasil 
sofreu a partir do século XIX. O Brasil encontrado pela corte portuguesa era majoritariamente pobre, analfabeto e vivia em 
condições precárias. A base econômica dependia da exploração da natureza e da agricultura de exportação. O trabalho 
escravo estava profundamente enraizado na sociedade, dos grandes latifúndios às cidades, contaminando-a com 
o patrimonialismo e o autoritarismo, características marcantes da sociedade brasileira e ainda presentes em nossos dias 
(SCHWARCZ, 2011). 
 
Após se beneficiar do isolamento político e econômico a que submeteu o Brasil por três séculos, a coroa portuguesa seria forçada 
a iniciar na nova sede do reino àquilo que alguns estudiosos chamam de processo civilizatório (ELIAS, 1993). Em 1815 a colônia é 
elevada à condição de reino e os hábitos e costumes da corte portuguesa começaram a ser copiados pelas famílias que viviam 
aqui. Essa influência se estendeu ao modo de se vestir, à alimentação e à própria arquitetura. 
A abertura dos portos, em 1808, promovida por D. João VI, deu início a um longo processo de integração do Brasil ao resto do 
mundo, permitindo a expansão das técnicas e saberes que chegavam da Europa com mais facilidade e rapidez. A construção de 
estradas e ferrovias e a implantação de linhas fluviais para escoar a matéria-prima extraída no interior contribuiria para integrar o 
próprio território nacional. Além disso, pela primeira vez, o governo autorizava a instalação de algumas manufaturas (ferro, tecido 
etc.). Em 1822, então, o Brasil declara sua independência de Portugal, e é instalado o regime imperial. 
 
A monarquia constitucional, estabelecida após a independência, permitiu que o Brasil vivesse um período longo de estabilidade 
política e econômica. O imperador D. Pedro II era um entusiasta das artes, mantendo contato com pesquisadores estrangeiros, 
patrocinando instituições culturais e oferecendo bolsas de estudo no exterior para estudantes da Escola de Belas Artes 
(SCHWARCZ, 2011). 
Em geral, durante o século XIX, a expansão urbana das cidades brasileiras acontecia a partir do loteamento de antigas chácaras 
e matagais, sem um planejamento criterioso. Por exemplo, até a primeira metade do século XIX, São Paulo era apenas um 
vilarejo inexpressivo por onde passavam importantes rotas para o escoamento de matérias-primas em direção ao litoral. Apenas a 
partir da primeira metade do século XX, com a industrialização e o intenso fluxo migratório, a cidade experimentaria um 
crescimento vertiginoso, passando de apenas seis mil habitantes na década de 1820 para mais de 200 mil na virada do século 
(BASSANI; ZORZETE, 2014). 
1.3 Missão artística francesa e o neoclassicismo 
Para sistematizar o ensino de artes e integrar o país à produção artística que se fazia na Europa, a corte trouxe ao Brasil 
a Missão Artística Francesa em 1816. Coube, então, ao arquiteto Grandjean de Montigny criar o primeiro curso de arquitetura no 
Brasil, que passaria a ensinar história, desenho e construção. 
 
Influenciadas pela presença da corte e em estreito contato com a cultura europeia, as elites locais passaram a encomendar 
palacetes de inspiração francesa para servirem de residência e escolas, teatros e bibliotecas entraram no repertorio da produção 
arquitetônica brasileira. Para além das novas construções, muitas vezes, edifícios coloniais eram inteiramente reformados de 
acordo com a estética neoclássica (PEREIRA DOS SANTOS, 2014). 
O Rio de Janeiro, que já tinha uma importância estratégica desde o século XVI, devido a sua condição geográfica privilegiada, 
seria o centro irradiador dessa produção, o que contribuiu para que se tornasse uma cidade mais organizada, além de cosmopolita 
e diversificada. 
Em 1817 foi inaugurado o edifício da Associação Comercial da Bahia, um dos primeiros em estilo neoclássico no Brasil. Em 1826, 
foi inaugurado, no Rio de Janeiro, o edifício da Academia Imperial, do qual permanece, em nossos dias, apenas o portal 
(transferido para o Jardim Botânico). No Recife, foram construídas obras neoclássicas relevantes como o Teatro Santa Isabel 
(1850), o Hospital Pedro II (1861) e o Ginásio Pernambucano (1866). A partir daí, diversas obras foram construídas, ampliadas ou 
reformadas de acordo com as diretrizes estilísticas do neoclassicismo e a maioria delas no Rio de Janeiro, como a Quinta da Boa 
Vista (atual Museu Nacional, ampliado na década de 1850); a Santa Casa de Misericórdia (1852) e o Palácio Imperial (atual Museu 
Imperial, em Petrópolis, 1862). O estilo neoclássico também foi utilizado para a qualificação de espaços públicos, como o Passeio 
Público do Rio de Janeiro, completamente redesenhado em 1864 pelo paisagista francês Auguste Glaziou, a pedido do imperador 
D. Pedro II. 
Apesar de uma produção acadêmica relevante, a Missão Artística Francesa deixou um legado construído escasso. Contudo, sua 
influência pode ser reconhecida na extensa produção daqueles que estudaram e conviveram na Academia Imperial com os 
mestres franceses. 
 
O predomínio do neoclassicismo se estendeu às outras artes como música, pintura e literatura. As óperas de Carlos Gomes e as 
pinturas de Taunay e Debret destacam-se como algumas das produções mais significativas desse período, incorporando 
os clichês mitológicos típicos desse estilo (SCHWARCZ, 2011). 
1.4 Arquitetura do ferro no Brasil 
O desenvolvimento industrial inaugurou novas técnicas estruturais e tipologias arquitetônicas, como fábricas, armazéns e 
estações de trem. Os materiais utilizados para essas construções foram o ferro forjado, o ferro fundido e o aço, devido à sua alta 
resistência, leveza compositiva e capacidade de vencer grandes vãos (BENEVOLO, 1998). A inauguração da Torre Eiffel, em 
1889, foi responsável pela popularização do uso do ferro nas construções civis em todoo mundo. 
 
Na segunda metade do século XIX, o romantismo surge como uma resposta à racionalidade econômica e ao embrutecimento 
das cidades, consequentes da Revolução Industrial. O romantismo se expressou nas mais diferentes artes, apresentando a 
dicotomia entre o esplendor da natureza (idealizada) e a miséria urbana e social da cidade industrial. Ele abriu caminho para a 
popularização de outros dois estilos, o revivalismo e o ecletismo, que recuperavam influências menosprezadas pelo ideário 
iluminista, produzindo uma arquitetura historicista que utilizava materiais construtivos modernos. 
 
Em 1865, foi inaugurada a primeira estrada de ferro em São Paulo, ligando dois bairros da capital. Contudo, a partir da década de 
1880, a produção industrial permitiu a expansão das ferrovias e a criação de linhas de bonde, e, com isso, as cidades passaram a 
se integrar cada vez mais (BASSANI; ZORZETE, 2014). Em 1885, por exemplo, é inaugurada a Estrada de Ferro Curitiba-
Paranaguá, com quase 110 quilômetros de extensão, ao longo dos quais foram erguidas algumas das mais impressionantes obras 
de engenharia da história do Brasil. 
 
Devido à característica eminentemente agrária e exportadora da economia brasileira, a maioria das peças eram fabricadas na 
Europa e importadas. Uma das obras mais significativas que utilizam esse material é o Viaduto Santa Ifigênia, uma estrutura de 
300 metros de comprimento sobre o Vale do Anhangabaú em São Paulo (BASSANI; ZORZETE, 2014). 
 
 
 
A adaptabilidade do ferro permitiu seu uso nas mais diferentes obras de arquitetura civil, como mercados, teatros, bibliotecas, 
hotéis e residências. A maioria dessas obras de arquitetura exploraria tanto as possibilidades plásticas do ferro, utilizando-o 
como elemento decorativo, quanto seu potencial como elemento estrutural (BENEVOLO, 1998). O ferro também seria muito 
utilizado na produção eclética. Alguns dos exemplares mais significativos no Brasil são o Mercado Municipal Adolpho Lisboa 
(1883), em Manaus; a Estação Ferroviária do Bananal (1888), em São Paulo; o Mercado Ver-o-Peso (1901), em Belém; e o Teatro 
José de Alencar (1910), em Fortaleza. Apesar da composição eclética de sua fachada e dos seus interiores, a Estação da Luz 
(1901) em São Paulo também é um exemplar notável da arquitetura do ferro. 
1.5 Imigração: uma nova configuração da sociedade brasileira 
A abolição da escravatura, em 1888, permitiu que o Brasil recebesse grandes contingentes de imigrantes, oriundos principalmente 
da França, Inglaterra, Itália e da Alemanha. Em troca de salário, uma novidade na sociedade brasileira profundamente ligada à 
escravidão, esses imigrantes trariam um aporte de conhecimento técnico, que contribuiria para redefinir a estética e a fisionomia 
das cidades brasileiras. Além da sua contribuição técnica, os imigrantes alteraram a própria configuração demográfica brasileira, 
que até o século XIX era constituída majoritariamente por portugueses, índios e escravos africanos e seus descendentes 
(CAVALCANTI, 200-?). 
 
A abertura proporcionada pela industrialização e os fluxos migratórios permitiu a construção de novos tipos de arquitetura, como 
edifícios comerciais, vilas de operários e casas com jardins (REIS FILHO, 2000). Através da utilização de sua perícia construtiva, 
os imigrantes contribuiriam tanto para introduzir novas técnicas como para dar uma nova fisionomia às cidades brasileiras. 
 
 
 
 
1.6 Ecletismo no Brasil república 
Em 1889, com a Proclamação da República, as elites econômicas e intelectuais passaram a rejeitar a herança cultural portuguesa, 
buscando inspiração e influências em outras partes da Europa. Devido ao historicismo e ao aporte dos imigrantes, o revivalismo e 
o ecletismo passam a ser disseminados, utilizando e, até mesmo, combinando estilos do passado em uma mesma edificação. A 
Academia Imperial é rebatizada como Escola Nacional de Belas-Artes, e são introduzidos cursos de pintura, escultura e gravura. O 
ensino de ornatos, composição arquitetônica e pintura decorativa é mantido (PESSOA DOS SANTOS, 2014). 
 
A afirmação do Brasil como uma república refletia no luxo e na escala monumental dos novos projetos urbanos, como a 
reurbanização do Rio de Janeiro, promovida pelo prefeito Pereira Passos (que ordenou a demolição de inúmeras edificações 
coloniais para a abertura de avenidas e a construção de grandes edifícios públicos em estilo eclético afrancesado), e a construção 
do Museu de História Natural em São Paulo (atual Museu Paulista). O arquiteto Ramos de Azevedo se tornaria uma das figuras 
mais importantes da produção eclética nacional. 
O ciclo do café, que se estendeu do início do século XIX até a primeira metade da década de 1930, estabeleceu uma nova e 
pujante elite econômica em São Paulo, que patrocinou a construção de obras monumentais como a Estação da Luz e a Estação 
Júlio Prestes (BASSANI; ZORZETE, 2014). A inspiração deixaria de ser apenas europeia e passaria a vir dos Estados Unidos, que 
se afirmava como uma potência econômica e produzia uma arquitetura que testava os limites e possibilidades de materiais 
construtivos, como aço e ferro, especialmente em cidades como Nova York e Chicago. 
 
No norte do Brasil, a partir da década de 1890, o ciclo da borracha permitiria o surgimento de uma elite interessada em reproduzir 
o estilo da chamada belle époque francesa. Essa elite patrocinaria a construção de obras até então inimagináveis para aquela 
região, como o Teatro Amazonas, inaugurado em Manaus em 1896, e o Mercado de São Brás, inaugurado em Belém em 1911. 
De modo geral, assinala Reis Filho (2000), as edificações passaram a incorporar as recomendações de urbanistas, afastando-se 
dos limites dos lotes e das vias públicas, incorporando jardins e recebendo instalações elétricas e hidráulicas, que mecanizavam o 
trabalho. Houve a mecanização da produção de materiais de construção, contribuindo para seu barateamento, maior 
acessibilidade e melhoria do acabamento das edificações. Sistemas de abastecimento de água e tratamento de esgoto, por tanto 
tempo ignorados pelo poder público, foram incorporados ao planejamento urbano, mas não foram universalizados. Surgiram, 
também, os bairros planejados, promovendo um afastamento das áreas mais centrais, que começariam a ser vistas como 
insalubres e perigosas. 
Em síntese, a arquitetura brasileira do século XIX e início do século XX, seguindo o panorama internacional, apresenta três estilos 
predominantes: neoclássico, revivalismo e ecletismo (PESSOA DOS SANTOS, 2014). Contudo, nem a utilização de materiais 
industrializados foi capaz de substituir totalmente as técnicas construtivas consagradas durante o período colonial (REIS FILHO, 
2000). 
 
Alguns edifícios significativos desse período no Brasil são o Palácio Guanabara (Rio de Janeiro, 1864), a Catedral Basílica de 
Curitiba (1893), a Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro, 1910) e os Palacetes Prates (São Paulo, 1911). 
FIQUE DE OLHO 
No século XX, a Escola Nacional de Belas-Artes (outrora Academia Imperial) seria incorporada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, 
responsável pela formação de mestres do modernismo, como Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Assim como o neoclássico rompeu com o 
barroco e o rococó, o modernismo romperia com o academismo dos estilos precedentes. 
1.7 Brasil moderno 
A ascensão de Getúlio Vargas ao poder, na década de 1930, representou o fim da supremacia agrícola e dos ciclos econômicos e 
o favorecimento da industrialização. Assim, o Brasil começava a deixar de ser um país rural para se tornar urbano. Essa 
mudança do eixo de poder e a reorientação política que se seguiu beneficiou uma nova vanguarda artística e intelectual: 
o modernismo. 
 
Especialmente a partir da inauguração do edifício-sede do Ministério da Educação (atual Palácio Gustavo Capanema), na década 
de 1940, um projeto de Lucio Costa, o modernismo assumiria o protagonismo na configuração urbana das cidades brasileiras. 
Interessados em recuperar a herança colonial,que consideravam a única legitimamente brasileira, os modernistas rejeitaram a 
produção eclética, que foi sistematicamente demolida para a construção de imponentes edifícios de vidro e concreto armado. 
O despojamento de ornamentos e as linhas retas são características marcantes da arquitetura produzida a partir dessa época. 
Nos anos 1950, a afirmação do Brasil como uma potência abriu caminho para profundas mudanças sociais e culturais que 
repercutiriam em todo o mundo. Houve uma inédita confluência de interesses entre a elite política, empresários, artistas e 
intelectuais progressistas. Grandes nomes do modernismo como Walter Gropius e Le Corbusier visitaram o país. O domínio da 
produção arquitetônica carioca começaria a ser rivalizado pelos arquitetos da chamada Escola Paulista, como Vilanova Artigas 
(BASSANI; ZORZETE, 2014). 
Além disso, de acordo com Reis Filho (2000), pela primeira vez haveria uma reorganização da relação entre lote e edificação, 
permitindo alterações estruturais, e não apenas estéticas, das cidades brasileiras. A construção de Brasília (1956-1960) seria a 
expressão máxima das ideias do modernismo no Brasil, tanto em termos de arquitetura quanto de planejamento urbano. O 
modernismo só começaria a ser questionado a partir dos anos 1970, com a fragmentação do ambiente construído em zonas 
desconexas e desarticuladas (Cullen, 2002), em parte devido à segmentação do espaço urbano em unidades funcionais. 
Todos esses temas serão analisados e discutidos nesta e nas próximas unidades da disciplina História da Arquitetura e Urbanismo 
IV. 
FIQUE DE OLHO 
 
Para entender alguns aspectos pitorescos da evolução política e social do Brasil durante os séculos XIX e XX, consulte os livros 
indicados a seguir. Embora não sejam escritos por historiadores profissionais, apresentam uma linguagem acessível e uma 
bibliografia confiável. 
 1808: Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de 
Portugal e do Brasil, de Laurentino Gomes (Globo Livros); 
 1822: Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram dom Pedro a criar o Brasil - um 
país que tinha tudo para dar errado, de Laurentino Gomes (Globo Livros); 
 1889: Como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da Monarquia e 
a Proclamação da República no Brasil, de Laurentino Gomes (Globo Livros); 
 A capital da solidão: Uma história de São Paulo das origens a 1900, de Roberto Pompeu de Toledo (Editora Objetiva); 
 A capital da vertigem: Uma história de São Paulo de 1900 a 1954, de Roberto Pompeu de Toledo (Editora Objetiva). 
2 Breve revisão do neoclassicismo 
Neste tópico, você terá a oportunidade de revisar os processos que tornaram possível o surgimento do neoclassicismo. Além de 
uma contextualização dos aspectos históricos envolvidos, você poderá rever as principais características que definem o estilo 
neoclássico. 
2.1 Contexto histórico 
No século XVIII, devido à Revolução Industrial, uma nova e pujante elite burguesa começava a assumir o protagonismo na 
Europa e as monarquias absolutistas começavam a entrar em declínio. Essa burguesia exigia maior liberdade política e 
econômica e essas ideias eram defendidas por um movimento filosófico conhecido como Iluminismo. 
Os iluministas assimilaram os ideais estéticos de racionalismo e equilíbrio da Antiguidade clássica e do Renascimento como a 
inspiração para suas ideias acerca de ciência, educação e democracia. O progresso científico passou a exigir um novo 
aparelhamento de edifícios e instalações, dando um novo significado à arquitetura (BENEVOLO, 1998). 
O neoclassicismo é a expressão artística das ideias difundidas pelo Iluminismo. A palavra “neo” significa “novo”. Assim, o 
neoclássico foi um movimento artístico que buscava recuperar a herança cultural da Antiguidade clássica e do Renascimento, 
com seu ideal de beleza estática e abstrata, em oposição à extravagância e frivolidade do barroco e do rococó. 
Apesar do apuro técnico derivado do conhecimento científico e a ruptura com os excessos anteriores, alguns críticos definem o 
neoclassicismo como sendo apenas uma imitação dos modelos greco-romanos e renascentistas (PROENÇA, 2007). O próprio 
termo neoclássico parece ter surgido como uma definição pejorativa para esse estilo empenhado em reproduzir modelos com 
esmero e virtuosismo. 
Benevolo (1998) apresenta duas correntes de pensamento dentro do neoclassicismo, a saber: 
 Neoclassicismo ideológico 
Entendimento da arquitetura como uma arte com profissão de fé política e que admite um valor cultural e sentimental. 
 Neoclassicismo empírico 
Busca pela resolução técnica de problemas construtivos, sem levar em conta os aspectos sentimentais. 
Além do pensamento iluminista, o neoclassicismo também foi influenciado pelas , tradicionais expedições turísticas e arqueológicas de 
estudantes europeus promovidas ao longo do século XVIII nos territórios da Grécia antiga e do Império Romano. Essas expedições foram 
essenciais para consolidar o gosto pela estética clássica, além de fomentar o desenvolvimento de um novo campo de estudos, o restauro de 
edifícios e monumentos históricos. Apesar de uma matriz comum, o neoclassicismo teve as mais diferentes expressões de acordo com o país 
onde foi incorporado. 
FIQUE DE OLHO 
O Iluminismo recupera um dos aspectos mais interessantes do Renascimento: o artista polímata, capaz de transitar por diversas áreas do 
conhecimento. Leonardo da Vinci é a expressão máxima desse tipo de personagem. Nos Estados Unidos do final do século XVIII surgiram 
figuras que também atuavam em diferentes especialidades como Benjamin Franklin (filósofo e inventor) e Thomas Jefferson (arquiteto, 
inventor, fazendeiro e terceiro presidente daquele país), ambos signatários da Declaração de Independência em 1776. 
2.2 Características do neoclassicismo 
Proença (2007) explica que os artistas neoclássicos acreditavam que “Uma obra de arte só seria perfeitamente bela na medida em 
que imitasse não as formas da natureza, mas o que os artistas clássicos gregos e os renascentistas já haviam criado”. Assim, as 
escolas de arte passaram a se dedicar no ensino dessas técnicas e convenções da arte clássica, o que está na raiz da 
palavra academismo, que é uma outra definição para a arte neoclássica. Os edifícios neoclássicos deveriam ilustrar a dignidade e 
o poder das funções que abrigariam. 
A arquitetura neoclássica pode ser identificada a partir de algumas características essenciais, elencadas a seguir (PROENÇA, 
2007): 
Valorização das artes e arquiteturas greco-romanas e renascentistas; 
 
 
 
 
 
FIQUE DE OLHO 
 
Os edifícios neoclássicos apresentam cores sóbrias (brancos ou em tons pastéis) porque os arquitetos acreditavam que as 
construções da Antiguidade clássica eram monocromáticas. Isso se deve a uma interpretação equivocada da composição pictórica 
a partir das descobertas arqueológicas realizadas a partir do século XVIII. Como as ruinas estavam desprovidas de camadas de 
cor, acreditava-se que originalmente eram mantidas na cor dos materiais construtivos, predominantemente mármore e pedra. 
Porém, descobertas posteriores comprovaram que esses edifícios recebiam uma composição policromática, que desapareceu com 
o passar do tempo. 
3 Introdução do neoclassicismo e seu significado ideológico 
no brasil 
A seguir, você irá estudar os processos históricos que trouxeram o neoclassicismo ao Brasil. Na sequência, você vai aprender 
sobre a importância da Missão Francesa na difusão do estilo neoclássico. Depois, você poderá analisar algumas das 
características neoclássicas aplicadas na arquitetura brasileira. Por fim, você vai conhecer alguns dos mais significativos edifícios 
neoclássicos do Brasil. 
3.1 Chegada do neoclassicismo ao Brasil 
Até o século XVIII, o barroco era a linguagem arquitetônica predominante das construções brasileiras. A maior parte das 
encomendasvinha da Igreja Católica, de modo que os edifícios mais suntuosos eram igrejas, colégios confessionais e conventos, 
ao passo que as casas e edifícios públicos eram mais discretos. Não havia um reconhecimento do artista como um profissional 
com formação específica, e o trabalho escravo era usado em larga escala. As cidades históricas de Minas Gerais são a expressão 
máxima dessa tradição colonial aqui, que inclusive produziu uma variação ímpar, o barroco mineiro, cujo representante maior é o 
escultor e arquiteto Aleijadinho. Contudo, ainda existem alguns exemplos pontuais de arquitetura barroca em diferentes partes do 
território nacional. 
As primeiras obras de estilo neoclássico aparecem no Brasil em meados do século XVIII, quando o Marquês de Pombal, um 
entusiasta das ideias iluministas, assume o cargo de primeiro-ministro de Portugal. Ele foi o responsável pela reconstrução de 
Lisboa após o terremoto de 1755, e as obras foram custeadas com o ouro extraído da capitania de Minas Gerais. Para facilitar o 
transporte do ouro para Portugal, ele transferiu a capital do Brasil de Salvador para o Rio de Janeiro, o posto marítimo mais 
próximo das zonas extrativistas de Minas Gerais. Alguns dos edifícios em estilo neoclássico, construídos nessa época, foram a 
Casa de Câmara e Cadeia de Ouro Preto e a Igreja da Candelária no Rio de Janeiro. 
O neoclassicismo se difundiu pelo Brasil a partir da chegada da Missão Cultural Francesa no Rio de Janeiro em 1816, quase 
uma década após a instalação da família real portuguesa no país. A Missão Cultural Francesa era um grupo de artistas 
heterogêneos, entre os quais podemos destacar Joachim Lebreton, professor, artista e líder da missão; Nicolas-Antoine Taunay, 
pintor de paisagem; Jean Baptiste Debret, pintor e desenhista e Grandjean de Montigny, arquiteto. Essa missão também é 
conhecida como Missão Artística Francesa. 
3.2 Academia Imperial 
A Missão Cultural Francesa foi responsável por fundar a Academia Imperial de Belas-Artes, cujo objetivo era sistematizar o ensino 
de arte e arquitetura no Brasil. Foi a primeira instituição de ensino superior do país e, pela primeira vez, seria ensinado história, 
desenho, geometria e técnicas construtivas. Os alunos deveriam fazer reproduções fiéis dos cânones da arquitetura clássica para, 
depois, adaptá-las às necessidades e parâmetros modernos (PESSOA DOS SANTOS; PEREIRA; KOPPKE, 2018). 
A Academia ambicionava uma europeização da nova sede do Reino de Portugal, mas muitos de seus projetos não saíram do 
papel devido alguns fatores como: 
 
 Forte tradição barroca, que resistia às transformações. 
 A escassez de mão de obra qualificada. 
 A necessidade de importar a maioria dos materiais construtivos. 
 Os artistas da Missão Francesa viam uma mescla de empirismo, religiosidade, misticismo e extravagância no barroco, que 
não coadunava com suas aspirações. Essa europeização também não aconteceu plenamente porque a Academia acabou 
sendo influenciada pela própria exuberância da paisagem brasileira, que deu contornos locais indisfarçáveis à produção 
artística e arquitetônica daquela época. 
 3.3 Neoclassicismo oficial X neoclassicismo provinciano 
 Antes da Academia, a produção artística brasileira era dependente de tradições locais e do trabalho artesanal e utilizava 
largamente a mão-de-obra escrava, que obviamente tinha um treinamento bastante precário. Não havia um registro 
documentado do conhecimento construtivo, pois a experimentação e o improviso eram comuns. A demanda dos nobres 
portugueses por edifícios mais refinados, em oposição à simplicidade e primitivismo das soluções coloniais, seria 
atendida pela Academia Imperial, que seguia o cânone neoclássico (REIS FILHO, 2000). Além de arquitetos, a Academia 
formaria vários profissionais especializados na ornamentação de edifícios. Essa busca por maior refinamento técnico era 
consoante com as transformações decorrentes da condição do Rio de Janeiro como nova capital do Reino de Portugal. Por 
essa razão, a opção pelo estilo neoclássico se tornou uma forma de exibir o poder político, econômico e social, ficando 
restrito às cortes e classes mais abastadas. 
 O fato de a produção neoclássica brasileira atender uma camada mais endinheirada não impedia que as classes menos 
abastadas adotassem algumas soluções neoclássicas em suas propriedades, mas com menor apuro técnico. Essa 
diferença acabou por gerar duas vertentes do neoclassicismo no Brasil, a saber: 
 
 Ao longo do século XIX, à medida que os avanços técnicos da indústria permitiam a introdução de elementos produzidos em 
série, a ornamentação foi se tornando mais acessível para as demais camadas sociais. Elementos construtivos como ferro 
forjado, vidros coloridos e azulejos decorados se tornariam generalizados na prática arquitetônica (PEREIRA DOS 
SANTOS, 2014). Além disso, o enriquecimento proporcionado pela produção cafeeira permitiu que muitos proprietários 
rurais tivessem maior acesso ao que era produzido na Europa, dando início a um ciclo econômico que provocaria mudanças 
importantes na configuração da sociedade brasileira. 
Neoclassicismo oficial 
Encomendas da nobreza e das classes mais abastadas, com tecnologia e materiais importados, como tijolos, ferro fundido 
e vitrais coloridos. 
Neoclassicismo provinciano Adaptações e simplificações feitas pela mão-de-obra escrava, em geral, sobre estruturas de taipa de pilão pré existentes. 
3.4 Moradias neoclássicas 
Até o início do século XIX, as casas brasileiras eram térreas ou assobradadas, voltadas para a rua, avançando sobre os limites 
laterais e o alinhamento das ruas (testadas). Esse padrão construtivo, apesar de sua rudeza e vigor, garantia uma certa 
uniformidade morfológica aos edifícios e, por consequência, maior unidade urbana. Reis Filho (2000) explica que, apesar da 
introdução de certos confortos, o estilo neoclássico não promoveu uma ruptura com o estilo colonial de arranjo espacial das 
moradias. 
As fachadas eram arrematadas por platibandas cheias ou com balaustradas, que escondiam o telhado. Na prumada das pilastras 
locadas, na periferia do edifício, sobre essas platibandas, eram colocados vasos ou pequenas esculturas de diferentes significados 
(REIS FILHO, 2000). Elementos como calhas, vidros coloridos e telhados com quatro ou mais águas começaram a ser largamente 
utilizados nas novas construções. 
Com o neoclassicismo, as casas deixaram de ser térreas e incorporaram um porão, elevando o plano do andar principal, cujo 
acesso passou a ser feito por meio de uma pequena escada. O porão era utilizado como depósito ou área de serviço. Embora a 
separação entre as áreas íntima e de serviços fosse comum nas moradias desde o período colonial, a introdução de uma 
diferença de cota trouxe maior privacidade à vida doméstica (REIS FILHO, 2000). Em arquitetura, muitas vezes, altura equivale a 
privilégio (Cullen, 2002), de modo que a mudança de nível corresponderia a um tratamento diferenciado, em termos de elementos 
decorativos (cor, escala, qualidade dos materiais construtivos etc.). Além disso, esse zoneamento do arranjo residencial exacerbou 
a hierarquia entre a família do proprietário e os seus empregados. A segregação entre dominantes e dominados é um ranço 
colonial que se tornou uma das características permanentes da sociedade brasileira. 
Embora houvesse uma setorização funcional entre as áreas social, de serviços e a área íntima, as moradias neoclássicas 
mantiveram o arranjo colonial de estabelecer uma permeabilidade entre as alcovas. Assim, a privacidade era apenas entre 
moradores e visitantes, e não entre os próprios moradores (PESSOA DOS SANTOS; PEREIRA; KOPPKE, 2018). Do ponto de 
vista da sociologia, essa setorização servia como um meio de definir claramente os papéis sociais, fortalecendo o poder patriarcal. 
Algumas das residências neoclássicas mais significativas ainda existentes são o Palácio Imperial, em Petrópolis; o Solar da 
Gávea, no Rio de Janeiro; e a Casa da Marquesade Santos, na capital paulista. 
3.5 Decoração de interiores neoclássica 
A clareza e rigor formal das fachadas neoclássicas contrastam com a rica ornamentação dos espaços interiores. As paredes 
recebiam uma rica policromia em tons pastéis, contrastando com as paredes exteriores revestidas com mármore ou estuque 
(PESSOA DOS SANTOS; PEREIRA; KOPPKE, 2018). 
As casas brasileiras neoclássicas buscavam reproduzir o estilo adotado pela burguesia francesa do século XIX. Contavam com 
amplos salões de luxuosa decoração e uma série de antecâmaras, que garantiam maior privacidade aos ambientes mais íntimos 
(PESSOA DOS SANTOS; PEREIRA; KOPPKE, 2018). 
Os salões principais das casas, destinados às recepções familiares, recebiam pintura e estuque ou eram decorados com papéis de 
parede. Utilizava-se mobiliário fino. As aberturas eram ornamentadas com pedra ou granito e eram voltadas para a rua. Essas 
aberturas podiam ser janelas de balcão, com peitoris de ferro e bandeiras de vidro (REIS FILHO, 2000). 
3.6 Urbanismo neoclássico 
O estilo neoclássico também influenciou a morfologia urbana, com a abertura de novas ruas e a inclusão de passeios junto às 
casas. A preocupação dos arquitetos com as fachadas, eixos de simetria e a escala monumental dos edifícios implicava na 
alteração da configuração urbana, através da abertura de vias públicas que dessem projeção visual aos edifícios. A introdução de 
projetos paisagísticos permitiu a construção de jardins públicos com vegetação exuberante. O Passeio Público do Rio de Janeiro 
é o exemplo mais significativo ainda existente no Brasil. 
Com o passar do tempo, os lotes urbanos passaram a ter uma parcela reservada para um jardim, que deveria fazer a transição 
entre o passeio e a casa, entre o público e o privado. Essas mudanças vinham do paulatino entendimento, por parte de médicos e 
urbanistas, da necessidade de garantir maior arejamento nas edificações, para evitar a proliferação de doenças e conter o risco da 
propagação de incêndios. Códigos de posturas, que orientavam o ordenamento urbano, passaram a ser incorporados à legislação 
das cidades. 
O cuidado com o desenho urbano também aumentou a demanda por edifícios públicos de maior qualidade tectônica. Escolas, 
hospitais, teatros e mercados municipais começaram a ser erguidos nas principais cidades brasileiras, obedecendo ao rigor formal 
do estilo neoclássico. Apesar de ser um estilo mais presente nos grandes centros urbanos, o neoclassicismo também foi utilizado 
em projetos de grandes propriedades rurais, especialmente aquelas que produziam café, como a Fazenda do Secretário, em 
Vassouras, no Estado do Rio de Janeiro. 
Contudo, o neoclassicismo não ofereceu qualquer solução para as demandas por habitação e saneamento que surgiriam com a 
industrialização do Brasil e o crescimento urbano desordenado. Apesar de algumas obras de estruturação sanitária (até então os 
dejetos das casas eram lançados diretamente nas sarjetas), as reformas urbanas eram em sua maioria inócuas, pois 
preocupavam-se meramente com os aspectos estéticos das cidades. 
3.7 Legado do neoclassicismo 
Em linhas gerais, embora não seja uma definição hermética, podemos enquadrar o neoclassicismo como um estilo arquitetônico 
que, no Brasil, esteve presente da segunda metade do século XVIII até a primeira metade do século XX. Contudo, como você já 
viu, o neoclassicismo não provocou mudanças significativas na vida brasileira. Por que isso aconteceu? 
Lembre-se de que, durante trezentos anos, o Brasil foi apenas uma primitiva colônia de exploração, dependente do trabalho 
escravo. Portugal era uma monarquia absolutista bastante atrasada em relação a outras regiões europeias, de modo que as ideias 
de liberdade política e econômica do Iluminismo não eram defendidas com o entusiasmo que se observava na França, por 
exemplo. Além disso, a independência brasileira foi um processo sui generis, se comparado às revoluções que ocorreram nos 
Estados Unidos e em alguns países da América Latina. Não houve uma ruptura estrutural com o passado, na medida em que a 
escravidão e a monarquia foram mantidas e a economia continuou voltada para a exportação (SCHWARCZ, 2011). 
Assim, do ponto de vista ideológico, a arquitetura neoclássica acaba sendo uma experiência truncada no Brasil. Se nos Estados 
Unidos a sobriedade e rigor do estilo neoclássico se adaptavam bem aos ideais democráticos da jovem república, no Brasil, toda 
essa produção, era utilizada para explicitar e manter as rígidas hierarquias sociais. A sua inevitável incorporação pelas camadas 
populares, que a adaptavam a partir do seu escasso conhecimento técnico, dá um aspecto pitoresco ao neoclássico brasileiro. 
Embora a produção arquitetônica neoclássica no Brasil não seja tão vasta, nem tenha promovido mudanças estruturais no arranjo 
das cidades, os exemplares disponíveis devem ser preservados como memória da evolução urbana das cidades brasileiras. Muitos 
deles não são mais utilizados para seus fins originais (residencial ou governamental), abrigando atualmente museus e centros 
culturais. 
3.8 Exemplos do neoclássico no Brasil 
Região Nordeste: 
Palácio dos Leões (São Luis – MA): localizado no centro histórico da capital maranhense, atualmente abriga a sede do governo 
estadual. Apresenta dois pavimentos, cujo caráter linear é acentuado pela sua implantação frente ao mar. Possui telhado oculto 
por platibanda, balaústres e aberturas arqueadas com padieiras (arremate das aberturas através de arcos ou triângulos). 
Região Norte: 
Theatro da Paz (Belém – PA): edifício que se projeta de maneira majestosa sobre a praça circundante. Apresenta no térreo 
aberturas arrematadas com arcos de inspiração renascentista, e um pórtico com colunas coríntias, arrematado por um frontão 
triangular, dentro do qual se desenvolve um tímpano ornamentado. Apresenta materiais como mármore italiano, pedras 
portuguesas e ferro fundido importado da Inglaterra. 
#PraCegoVer: Um edifício na cor salmão com pórtico formado por seis colunas pintadas de branco. 
 
Região Sudeste: 
Palácio do Itamaraty (Rio de Janeiro – RJ): edifício simétrico que apresenta um pórtico com colunas com capitéis jônicos, 
arrematado por um frontão triangular. A fluência rítmica das palmeiras que contornam o espelho d’água rompem a horizontalidade 
da composição, bem como evidenciam uma tentativa de dar à monumentalidade neoclássica do conjunto um sabor local. 
Arquivo Nacional (Rio de Janeiro – RJ): fachada simétrica, apresentando pórtico com colunas jônicas, arrematado por um frontão 
triangular. Uso de materiais nobres como granito, mármore e vitrais coloridos. 
Pinacoteca (São Paulo – SP): exemplo do estilo neorrenascentista, é um edifício simétrico e regular com fachada de tijolos à vista, 
pode ser contemplado na totalidade a partir do jardim que o envolve. 
 
#PraCegoVer: Um edifício simétrico de tijolos aparentes. 
 
Região Sul: 
Prédio histórico da Universidade Federal do Paraná (Curitiba – PR): exemplo do que podemos chamar de um neoclássico tardio, 
pois foi completada em meados da década de 1940, após reformas da fachada original de 1912. Apresenta escadaria monumental 
que o eleva em relação à praça nivelada, frontões, colunata com capitéis coríntios, platibanda e arcos romanos. Atualmente, a 
percepção da monumentalidade do edifício está comprometida pela proximidade de diversos arranha-céus no entorno. 
#PraCegoVer: Edifício simétrico pintado de branco, com um pórtico de seis colunas centralizado arrematado por um frontão triangular. 
É ISSO AÍ! 
Nesta unidade, você teve a oportunidade de: 
 conhecer um pouco mais sobre as características da sociedade brasileira na primeira metade do século XIX; 
 conhecer os processos históricos, sociais e culturais envolvidos na disseminação do estilo neoclássico no Brasil; 
 aprender sobre a importância da Missão Francesa na disseminação do neoclassicismo no Brasil; 
 entender como a estratificação social do Brasil influenciou a arquitetura; 
 conheceralgumas das mais importantes obras neoclássicas brasileiras. 
REFERÊNCIAS 
BASSANI, J.; ZORZETE, F. São Paulo: cidade e arquitetura, um guia. 1 ed. São Paulo: Editor Francisco Maximiano Zorzete, 2014. 
292 p. 
BENEVOLO, L. História da Arquitetura Moderna. 3 ed. São Paulo: Perspectiva, 1998. 816 p. 
BENEVOLO, L. História da Cidade. 7 ed. São Paulo: Perspectiva, 2019. 864 p. 
BUARQUE DE HOLANDA, S. Raízes do Brasil. 26 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1994. 
CAVALCANTI, N. Arquitetura no Brasil. Biblioteca Nacional Digital. Disponível em: http://bndigital.bn.gov.br/dossies/rede-da-
memoria-virtual-brasileira/arquitetura-e-urbanismo/arquitetura-no-brasil/. Acesso em: 18 mar. 2020. 
CULLEN, G. Paisagem Urbana. Lisboa: Edições 70, 2002. 374 p. 
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LORDELLO, E. A urbanidade brasileira sob as óticas de cosmopolitismo e tradição em "Raízes do Brasil", 2005. Disponível 
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PESSOA DOS SANTOS, A. M.; PEREIRA, M. da S. (Org.); KOPPKE, K (Org.). Gosto neoclássico: atores e práticas artísticas no 
Brasil no século XIX. 1 ed. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2018. v.1. 350 p. 
PEREIRA, S. G. A historiografia da arquitetura brasileira no século XIX e os conceitos de estilo e tipologia. Estudos Ibero-
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