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COMPREENDENDO A RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO: A FIGURA DO FORNECEDOR E DO CONSUMIDOR A ESTRUTURA DA RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO (Tartuce) “a relação jurídica consiste num vínculo entre pessoas, em razão do qual uma pode pretender um bem a que outra é obrigada. Tal relação só existirá quando certas ações dos sujeitos, que constituem o âmbito pessoal de determinadas normas, forem relevantes no que atina ao caráter deôntico das normas aplicáveis à situação. Só haverá relação jurídica se o vínculo entre pessoas estiver normado, isto é, regulado por norma jurídica, que tem por escopo protegê-lo” (Del Vecchio) São elementos da relação jurídica (adaptados para a rel. de consumo): a. A existência de uma relação entre sujeitos jurídicos, substancialmente entre um sujeito ativo (fornecedor) e um sujeito passivo(consumidor) b. Presença do poder do sujeito ativo sobre o objeto IMEDIATO (prestação) e sobre o objeto MEDIATO da relação (bem jurídico tutelado >> coisa tarefa ou abstenção) - no caso de produtos e serviços c. Evidencia na prática de um fato ou acontecimento propulsor, capaz de gerar consequências para o plano jurídico elementos subjetivos >> fornecedor e consumidor elementos objetivos >> produto ou serviço FORNECEDOR Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. 1. O que interessa na caracterização do fornecedor é o fato dele desenvolver uma atividade, que vem a ser a soma dos atos coordenados para uma finalidade específica 2. O dispositivo do art. 3º amplia de forma considerável o nº das pessoas que podem ser fornecedoras de produtos/prestações de serviços 3. STJ >> sobre a finalidade lucrativa >> “Para o fim de aplicação do Código de Defesa do Consumidor, o reconhecimento de uma pessoa física ou jurídica ou de um entre despersonalizado como fornecedor de serviços atende aos critérios puramente objetivos, sendo irrelevantes a sua natureza jurídica, a espécie dos serviços que prestam e até mesmo o fato de se tratar de uma sociedade civil, sem fins lucrativos, de caráter beneficente e filantrópico, bastando que desempenhem determinada atividade no mercado de consumo mediante remuneração” >> , entidades beneficentes podem perfeitamente ser enquadradas como fornecedoras ou prestadoras, sem qualquer entrave material 4. Art. 966, CC/02 >> caracterização do empresário >> “ considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços “ 5. Fornecedor equiparado, seria um intermediário na relação de consumo, com posição de auxílio ao lado do fornecedor de produtos ou prestador de serviços, caso das empresas.. A figura do fornecedor equiparado, aquele que não é fornecedor do contrato principal de consumo, mas é intermediário, antigo terceiro, ou estipulante, hoje é dono da relação conexa (e principal) do consumo, por deter uma posição de poder na relação com o consumidor.” CONSUMIDOR Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. 1. TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DAS POSIÇÕES JURÍDICAS - o consumidor pode ser pessoa natural ou jurídica, ou ente despersonalizado; de direito público ou privado; nacional ou estrangeira 2. TEORIAS SOBRE O CONSUMIDOR: a. TEORIA FINALISTA - adotada expressamente pelo art. 2º, CDC. para qualificação do consumidor, pela presença do elemento da destinação final do produto ou do serviço. Tem prevalecido no Brasil a ideia de que o consumidor deve ser o destinatário FINAL fático e econômico. ● destinação final fática – o consumidor é o último da cadeia de consumo, ou seja, depois dele, não há ninguém na transmissão do produto ou do serviço. ● destinação final econômica – o consumidor não utiliza produto/serviço pro lucro, repasse ou transmissão onerosa b. MAXIMALISTA OU OBJETIVA - Procura ampliar o conceito de consumidor e daí a construção da relação jurídica do art. 2º deve ser interpretada o mais extensivamente possível, segundo esta corrente, para que as normas do CDC possam ser aplicadas a um número cada vez maior de relações de consumo. ● Claudia Lima Marques >> os maximalistas viam nas normas do CDC o novo regulamento do mercado de consumo brasileiro, e não normas orientadas para proteger somente o consumidor não profissional. Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento. Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas. c. FINALISTA APROFUNDADA OU MITIGADA - desde a entrada em vigor do cc/2002, parece crescer uma tendência nova da jurisprudência, concentrada na noção de consumidor final imediato, e de vulnerabilidade (art. 4º, I) que poderíamos denominar aqui de finalismo aprofundado ● um tempero na teoria maximalista (teoria maximalista temperada, aprofundada ou mitigada), conjugando-a com a teoria finalista, segundo as lições de Claudia Lima Marques. De toda sorte, alguns juristas continuam entendendo tratar-se de aplicação da teoria maximalista d. MINIMALISTA - que não vê a existência da relação de consumo em casos em que ela pode ser claramente percebida. Entre os adeptos dessa corrente, podem ser citados aqueles que entendem não haver uma relação de consumo entre banco e correntista. ● o Supremo Tribunal Federal acabou por entender de forma contrária ao pedido, confirmando o que já constava da Súmula 297 do Superior Tribunal de Justiça, in verbis: “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras”. A corrente minimalista restou, assim, totalmente derrotada no âmbito dos nossos Tribunais ELEMENTOS OBJETIVOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO PRODUTO Art. 3, §1º, CDC. Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. ● “Esse conceito de produto é universal nos dias atuais e está estreitamente ligado à ideia de bem, resultado da produção no mercado de consumo das sociedades capitalistas contemporâneas. É vantajoso o seu uso, pois o conceito passa a valer no meio jurídico e já era usado por todos os demais agentes do mercado (econômico, financeiro, de comunicações etc.)” ● O bem móvel é aquele que pode ser transportado sem prejuízo de sua integridade, caso de um automóvel, que pode ser o conteúdo de uma relação de consumo, como na aquisição de automóvel para uso próprio em uma concessionária de veículos, seja ele novo ou usado. ● o bem imóvel é aquele cujo transporte ou remoção implica destruição ou deterioração considerável, hipótese de um apartamento, que, do mesmo modo, pode ser o objeto de uma relação de consumo, como presente em negócios de incorporação imobiliária ● O produto pode ser um bem material (corpóreo ou tangível) ou imaterial (incorpóreo ou intangível). Como ilustração do primeiro, vejam-se as hipóteses agora há pouco mencionadas, de aquisição do veículo e do apartamento. Como bem imaterial, destaque-se o exemplo do lazer, que envolve uma plêiade de situações contemporâneas ● os produtos digitais também podem ser englobados pela Lei Protetiva do consumidor, caso de programas de computador ou softwares. Para concretizar, vejamos decisão do Tribunal de Minas Gerais, em que se discutiu a aplicação do CDC para a aquisição de programas de computador por escritório de advocacia, prevalecendo, ao final, a teoria finalista aprofundada ou maximalista: (TJMG – Apelação Cível 1.0024.06.207799-5/0011, Belo Horizonte – Décima Câmara Cível – Rel. Des. Cabral da Silva – j. 02.06.2009 – DJEMG 23.06.2009). SERVIÇO Art. 3, §2º, CDC. Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração,inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. >> caráter oneroso do negócio ● exceção: apesar de a lei mencionar expressamente a remuneração, dando um caráter oneroso ao negócio, admite-se que o prestador tenha vantagens indiretas, sem que isso prejudique a qualificação da relação consumerista. Por exemplo, invoca-se o caso do estacionamento gratuito em lojas, shoppings centers, supermercados e afins, respondendo a empresa que é beneficiada pelo serviço, que serve como atrativo aos consumidores. ● (TJSP – Apelação 0097300-21.2007.8.26.0000 – Acórdão 4895504, São Paulo – Décima Câmara de Direito Privado – Rel. Des. Antonio Manssur – j. 18.11.2010 – DJESP 24.02.2011) >> admite-se vantagem indireta >> súm. 297, STJ: o cdc é aplicável às instituições financeiras >> engloba serviços securitários DECRETO 7.962/2013 - SOBRE A CONTRATAÇÃO NO COMÉRCIO ELETRÔNICO A. Nome empresarial e número de inscrição do fornecedor, quando houver, no CNPF ou no CNPJ do ministério da fazenda B. Endereço físico e eletrônico e demais informações necessárias para a sua localização e contato C. Características essenciais do produto ou serviço, incluídos os riscos a saúde e a segurança dos consumidores D. discriminação, no preço, de qualquer despesa adicional ou acessoria, tais como as de entrega ou seguros E. Condições integrais da oferta, incluídas modalidades de pagamento, disponibilidade, forma e prazo da execução do serviço ou da entrega ou disponibilização do produto F. informações claras e ostensivas a respeito de quaisquer restrições à fruição da oferta CONTRATO DE TRANSPORTE E A INCIDÊNCIA NO CDC A categoria é definida pelo art. 730 do Código Civil de 2002, in verbis: “Pelo contrato de transporte alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um lugar para outro, pessoas ou coisas”. >>> Desse modo, duas são as modalidades básicas tratadas pela codificação privada: o transporte de pessoas e o transporte de coisas. o transporte coletivo por meio de ônibus, seja municipal, intermunicipal ou interestadual (veja-se debate em: STJ – REsp 402.227/RJ – Quarta Turma – Rel. Min. Aldir Passarinho Junior – j. 07.12.2004 – DJ 11.04.2005, p. 305; e STJ – REsp 418.395/MA – Quarta Turma – Rel. Min. Barros Monteiro – j. 28.05.2002 – DJ 16.09.2002, p. 195) o transporte aéreo, seja nacional ou internacional, é abrangido pela Lei 8.078/1990 (por todos: STJ – AgRg no Ag 1.297.315/SP – Quarta Turma – Rel. Min. Aldir Passarinho Junior – j. 09.11.2010 – DJe 23.11.2010). E isso, inclusive nos casos de extravios de mercadoria transportada (STJ – AgRg no Ag 1.035.077/SP – Terceira Turma – Rel. Min. Massami Uyeda – j. 22.06.2010 – DJe 01.07.2010) Sem prejuízo de todos os casos apontados, nas hipóteses em que o transporte for utilizado com intuito direto de lucro, dentro da máquina produtiva de uma empresa, não haverá relação de consumo. Nessa linha, vejamos publicação constante do Informativo n. 442 do STJ: SERVIÇOS PÚBLICOS E O CDC Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. >> Abrange todos os serviços públicos ● Serviços de transporte público para destinatários finais: STJ – REsp 976.836/RS – Primeira Seção – Rel.Min.Luiz Fux – j. 25.08.2010 – DJe 05.10.2010. ● Prestação De serviços rodoviários,por meio de empresas concessionárias: STJ – AgRg no Ag 1067391/SP – Quarta Turma – Rel.Min.Luis Felipe Salomão – j.25.05.2010 – DJe 17.06.2010;e STJ – REsp 647.710/RJ – Terceira Turma – Rel.Min. Castro Filho – j.20.06.2006 – DJ 30.06.2006,p.216. ● Serviços públicos de educação: TJRS – Acórdão 70022516512,Encantado – Nona Câmara Cível – Rel.Des.Odone Sanguiné – j.16.04.2008 – DOERS 23.09.2008,p.27;e TJMT – Apelação 63396/2009,Capital – Terceira Câmara Cível – Rel.Des.José Tadeu Cury – j.23.02.2010 – DJMT 03.03.2010,p.26(julgados relacionados a agressões e acidentes ocorridos no interior de escolas públicas). ● Serviços De telefonia fixa ou móvel: STJ – AgRg no AgRg no REsp.032.454/RJ – Primeira Turma – Rel.Min.Luiz Fux – j. 06.10.2009 – DJe 16.10.2009. ● Serviços Públicos De fornecimento de água e esgoto, luz (energia elétrica) e gás, respectivamente: STJ – AgRg no REsp 1.151.496/SP – Primeira Turma – Rel.Min.Arnaldo Esteves Lima – j.23.11.2010 – DJe 02.12.2010;STJ – AgRg no REsp 1.016.463/MA – Primeira Turma – Rel.Min.Arnaldo Esteves Lima – j.14.12.2010 – DJe 02.02.2011;STJ – REsp 661.145/ES – Quarta Turma – Rel.Min.Jorge Scartezzini – j.22.02.2005 – DJ 28.03.2005,p.286.
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