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CADERNO DE DIREITO DO CONSUMIDOR

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Larissa Lemes 
DIREITO DO CONSUMIDOR
Aulas: Curso Ênfase
Doutrina: Flavio Tartuce 
Visão Geral do Direito do Consumidor 
	Estamos diante de um ramo do direito que tem como objetivo a proteção a uma classe de sujeitos em específico, de modo a concretizar, dentre outros preceitos constitucionais, a isonomia, vez que busca tratar os desiguais na medida de sua desigualdade. O sistema de defesa do consumidor é, a um só tempo, um direito fundamental e o princípio geral da ordem econômica.
FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS 
	Com a promulgação da Constituição Federal de 1988 (CF/1988), iniciou-se a estrutura normativa de proteção ao consumidor, sendo o texto pioneiro em aludir à defesa do consumidor como um direito fundamental e dever do Estado (art. 5º, XXXII), inclusive determinando a elaboração do Código de Defesa do Consumidor (CDC) (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT, art. 48), no prazo de 120 dias após a promulgação da Carta.
	No art. 24, V e VIII, a CF/1988 estabelece a competência concorrente da União, dos estados e do Distrito Federal para legislar sobre a produção e o consumo, assim como a responsabilidade por danos ao consumidor.
	Além disso, no art. 150, § 5º, a CF/1988 prescreveu a exigência de edição de lei para que os consumidores sejam informados dos impostos incidentes sobre mercadorias e serviços, o que foi finalmente regulamentado pela Lei nº 12.741/2012. Também é relevante mencionar que a defesa do consumidor foi erigida como um princípio geral da ordem econômica (art. 170, V, da CF/1988), normatização esta que deve orientar e limitar a intervenção do Estado na economia.
	O CDC se apresenta, na realidade brasileira, como uma norma pós-moderna posto que revê conceitos antigos do Direito Privado (contrato, responsabilidade civil, prescrição). No que diz respeito à pós-modernidade, é importante destacar que, conforme Erik Jayme aponta, os Estados não seriam mais os centros de poder, de modo a cederem espaços ao mercado. Nessa lógica, a proteção aos consumidores surge como limitação da atuação mercadológica. Ainda em sede da pós-modernidade, podemos destacar que essa é caracterizada por um pluralismo e, em específico, um pluralismo jurídico – diversidade de fontes legislativas que regulam o mesmo fato – e, ainda, um pluralismo no que diz respeito aos sujeitos a proteger. 
DISCUSSÃO DOUTRINÁRIA – DISCURSIVA
	Em decorrência desse pluralismo (que é consequência da pós-modernidade), importante destacar também que busca-se superar a visão maniqueísta do direito por meio do que se chama de duplo sentido das coisas (double sense). Também é em decorrência do pluralismo que podemos falar em uma abundante proteção legislativa que acaba por culminar em situações de colisão entre esses direitos. Ainda, podemos destacar como aspecto da pós-modernidade a hipercomplexidade, já que o próprio direito é um sistema complexo de segunda ordem; constantemente nos são colocadas situações de colisões entre direitos fundamentais próprios da pessoa humana. Como consequências jurídicas da pós-modernidade, Ricardo Lorenzetti assim conclui:
	Ricardo Luis Lorenzetti fala em era da desordem, que, em síntese, pode ser identificada pelos seguintes aspectos: a) enfraquecimento das fronteiras entre as esferas do público e do privado; b) pluralidade das fontes, seja no Direito Público ou no Direito Privado; c) proliferação de conceitos jurídicos indeterminados; d) existência de um sistema aberto, sendo possível uma extensa variação de julgamentos; e) grande abertura para o intérprete estabelecer e reconstruir a sua coerência; f) mudanças constantes de posições, inclusive legislativas; g) necessidade de adequação das fontes umas às outras; h) exigência de pautas mínimas de correção para a interpretação jurídica. 
NATUREZA JURÍDICA DO CDC
	O CDC tem relação direta com os chamados direitos fundamentais de terceira geração (fraternidade – pacificação social) e é tido pela doutrina como norma principiológica tendo em vista a proteção constitucional dos consumidores (art. 5º, XXXII, CF). Norma de ordem pública (cogente) e de interesse social, geral e principiológica, mesmo que inexista relação de consumo – ex: STJ julgou procedente ação de emissora contra outra emissora que violou a cláusula que proíbe a propaganda enganosa. Fala-se em EFICÁCIA SUPRALEGAL do CDC, estando entre a CF e as leis ordinárias. Tartuce fala em impulso constitucional. 
JURISPRUDÊNCIA SOBRE O TEMA
Em que pese essa construção da doutrina, recentemente o STF e o STJ alteraram o entendimento no que diz respeito à natureza jurídica do CDC, criando espécie de exceção a essa regra. Isso porque o CDC prevê o princípio da reparação integral dos danos (art. 6º, VI, CDC), enquanto a Convenção de Varsórvia e a Convenção de Montreal dispõem que em se tratando de voos internacionais, os danos decorrentes de atraso, perda ou extravio de bagagens deve ser limitados. CONFLITO DE NORMAS. Antes decidia-se pela prevalência do CDC em razão dos critérios hierárquico (esses tratados não tratam de direitos humanos e por isso não têm status de EC) e pelo critério da especialidade. Entretanto, em 2017 o STF passou a aplicar as Convenções em tais situações jurídicas, restringindo-se a sua aplicação somente aos danos patrimoniais. A doutrina entende que é um retrocesso! O STJ acompanhou o STF. Veja a juris:
Nos termos do art. 178 da Constituição da República, as normas e os tratados internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as Convenções de Varsóvia e Montreal, têm prevalência em relação ao Código de Defesa do Consumidor. (...). No RE 636.331/RJ, o Colegiado assentou a prevalência da Convenção de Varsóvia e dos demais acordos internacionais subscritos pelo Brasil em detrimento do CDC, não apenas na hipótese de extravio de bagagem. Em consequência, deu provimento ao recurso extraordinário para limitar o valor da condenação por danos materiais ao patamar estabelecido na Convenção de Varsóvia, com as modificações efetuadas pelos acordos internacionais posteriores. Afirmou que a antinomia ocorre, a princípio, entre o art. 14 do CDC, que impõe ao fornecedor do serviço o dever de reparar os danos causados, e o art. 22 da Convenção de Varsóvia, que fixa limite máximo para o valor devido pelo transportador, a título de reparação. Afastou, de início, a alegação de que o princípio constitucional que impõe a defesa do consumidor [Constituição Federal (CF), arts. 5.º, XXXII, e 170, V] impediria a derrogação do CDC por norma mais restritiva, ainda que por lei especial. Salientou que a proteção ao consumidor não é a única diretriz a orientar a ordem econômica. Consignou que o próprio texto constitucional determina, no art. 178, a observância dos acordos internacionais, quanto à ordenação do transporte aéreo internacional. Realçou que, no tocante à aparente antinomia entre o disposto no CDC e na Convenção de Varsóvia – e demais normas internacionais sobre transporte aéreo –, não há diferença de hierarquia entre os diplomas normativos. Todos têm estatura de lei ordinária e, por isso, a solução do conflito envolve a análise dos critérios cronológico e da especialidade” (STF – Recurso Extraordinário 636.331 e Recurso Extraordinário no Agravo 766.618).
· NORMA DE ORDEM PÚBLICA E DE INTERESSE SOCIAL O fato de o CDC ser norma de ordem pública e de interesse social traz consequências jurídicas relevantes. Por exemplo, em razão disso, direitos e garantias estabelecidos em favor do consumidor devem ser conhecidos de ofício pelo juiz, com a inversão do ônus da prova e a desconsideração da personalidade jurídica.
Essa possibilidade de o juiz conhecer de ofício os direitos e garantias fundamentais do consumidor foi mitigada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Isso porque, apesar da Súmula nº 297 desse Tribunal, dispõe que o CDC é aplicável às instituições financeiras; a Súmula nº 381 do mesmo tribunal determina que, nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas.
DIÁLOGO DEFONTES 
	Teoria desenvolvida por Erik Jayme, professor alemão, e desenvolvida no Brasil pela professora Claudia Lima Marques e refere-se à sua interação em relação às demais leis. A essência dessa teoria é de que as normas jurídicas não se excluem, mas se complementam. Sob o ponto de vista normativo, está expresso no art. 7º do CDC. 
Enunciado n. 1 do Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor (BRASILCON), as normas e os negócios jurídicos devem ser interpretados e integrados da maneira mais favorável ao consumidor
	CLAUDIA LIMA MARQUES = “a bela expressão de Erik Jayme, hoje consagrada no Brasil, alerta-nos de que os tempos pós-modernos não mais permitem esse tipo de clareza ou monossolução. A solução sistemática pós-moderna, em um momento posterior à descodificação, à tópica e à microrrecodificação, procura uma eficiência não só hierárquica, mas funcional do sistema plural e complexo de nosso direito contemporâneo, deve ser mais fluida, mais flexível, tratar diferentemente os diferentes, a permitir maior mobilidade e fineza de distinção. Nestes tempos, a superação de paradigmas é substituída pela convivência dos paradigmas”.
· Possibilidade de aplicação concomitante das duas normas ao mesmo tempo e ao mesmo caso, de forma complementar ou subsidiária. Aplicação de leis no direito privado e coexistentes no sistema, por meio da coerência derivada ou restaurada, buscando uma eficiência não só hierárquica, mas funcional do sistema plural e complexo de nosso direito contemporâneo, a evitar a antinomia, a incompatibilidade ou a não coerência. 
· Superação da interpretação insular do direito. 
Diálogos possíveis, segundo Claudia Lima Marques:
1. Diálogo sistemático de coerência = aplicação simultânea de duas leis, sendo que uma lei serve de base conceitual para outra. Ex: retira-se os conceitos de contratos em espécie do CC, em relação aos contratos de consumo, aplica-se o CDC.
2. Diálogo de complementariedade ou diálogo de subsidiariedade = aplicação coordenada de duas leis, de modo que uma complemente a outra, de forma direta (complementariedade) ou indireta (subsidiariedade).
3. Diálogo de influências recíprocas sistemáticas = conceitos estruturais de determinada lei sofrem influência da outra. Também chamado de diálogo de coordenação e adaptação sistemática. 
JURISPRUDÊNCIA
Súmula 547 do STJ: nas ações em que se pleiteia o ressarcimento dos valores pagos a título de participação financeira do consumidor no custeio de construção de rede elétrica, o prazo prescricional é de vinte anos na vigência do Código Civil de 1916. Na vigência do Código Civil de 2002, o prazo é de cinco anos se houver previsão contratual de ressarcimento e de três anos na ausência de cláusula nesse sentido, observada a regra de transição disciplinada em seu art. 2.028.
EXEMPLO PRÁTICO
Por exemplo, um caminhão andava por uma via pública e a sua caçamba é levantada pelo motorista e atinge uma passarela de pedestres, que cai sobre um ônibus que vinha atrás e atinge um passageiro que falece. Nos termos do art. 14, § 3º, II, do CDC, a responsabilidade do fornecedor pode ser afastada no caso de culpa exclusiva de terceiros. Portanto, se aplicado o CDC, fica afastada a responsabilidade da proprietária do ônibus, fornecedora do serviço, pela morte do passageiro, consumidor, porque a culpa do evento é do motorista do caminhão, cuja caçamba aberta derrubou a passarela.
Por outro lado, o art. 735 do CC, estabelece que a responsabilidade contratual do transportador por acidente com o passageiro não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual o transportador tem ação regressiva. Portanto, o CC é mais favorável ao passageiro, pois determina a responsabilidade do fornecedor ainda que em caso de culpa exclusiva de terceiro. Ao fornecedor, cabe o direito de regresso contra o efetivo causador do dano.
PRINCÍPIOS DO DIREITO DO CONSUMIDOR 
· Art. 4º do CDC dispõe sobre a Política Nacional das Relações de Consumo, dispondo que seu objetivo é o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo”. Daí, se extrai os princípios do direito do consumidor. 
· Temos um sistema aberto de proteção, baseado em conceitos legais indeterminados e construções vagas. 
· Deve-se buscar um diálogo sistemático de coerência, de complementariedade e subsidiariedade, de coordenação e adaptação sistemática (os três tipos de diálogos acima expostas).
· No aspecto conceitual, interessante a construção de Miguel Reale, para quem “os princípios são ‘verdades fundantes’ de um sistema de conhecimento, como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas, mas também por motivos de ordem prática de caráter operacional, isto é, como pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e da praxis”.
· São aplicados de forma subsidiária, em caso de lacunas da lei (LINDB), mas também possuem aplicação imediata. 
PRINCÍPIO DO PROTECIONISMO DO CONSUMIDOR (art. 1º) 
Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias.
CONSEQUÊNCIAS PRÁTICAS 
· As regras do CDC não podem ser afastadas por convenção entre as partes, sob pena de nulidade absoluta. Correlação: art. 51, XV do CDC (nulidade das cláusulas abusivas). 
· Cabível intervenção do MP em questões envolvendo problemas de consumo. Correlação: a Lei 7.347/85 (Lei de Ação Civil Pública) prevê a legitimidade do MP para propor ACP em demandas coletivas envolvendo danos materiais e morais aos consumidores. Súmula 601 do STJ: “o Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos dos consumidores, ainda que decorrentes da prestação de serviço público”.
· Os dispositivos do CDC devem ser conhecidos de ofício pelo juiz. Correlação: a súmula 381 do STF que veda o reconhecimento de ofício das cláusulas abusivas contratuais é, para Tartuce, uma afronta ao princípio do protecionismo do consumidor. 
PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR (art. 4º, I)
 I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;
· Os códigos são construídos segundo uma noção de paridade entre as partes, de cunho abstrato. O CDC tem a pretensão de ser uma lei protetiva própria. Claudia Lima Marques chama a norma consumerista de protetiva e reequilibradora. 
· Segundo CLM, a vulnerabilidade se apresenta enquanto um estado da pessoa, que pode ser permanente ou provisório, individual ou coletiva, que enfraquece o sujeito de direitos e desequilibra a relação jurídica. 
· Presunção de vulnerabilidade enquanto condição jurídica, sobretudo em razão do modelo liberal de autonomia da vontade e massificação dos contratos. Trata-se de PRESUNÇÃO ABSOLUTA, iure et de iure, não admitindo prova em contrário. 
· A vulnerabilidade é um elemento posto da relação de consumo e não um pressuposto, em regra. O elemento pressuposto é a condição de consumidor. 
· Vulnerabilidade x Hipossuficiência = todo consumidor é vulnerável mas nem sempre será hipossuficiente. 
PRINCÍPIO DA HIPOSSUFICIÊNCIA DO CONSUMIDOR (art. 6º, VIII)
        Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
 VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;
· A hipossuficiência é um conceito fático e não jurídico, ou seja, é aferido concretamente. 
A hipossuficiência pode ser informacional, pelo desconhecimento em relação ao produto ou serviço. Também se observa a hipossuficiência consumerista a situação jurídica que impede o consumidor de obter a prova que se tornaria indispensável para responsabilizar o fornecedor(hipossuficiência técnica). 
· Consequência prática direta = inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6º, VIII, CDC. 
PRINCÍPIO DA BOA FÉ OBJETIVA (art. 4º, III)
 III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;
· Justo equilíbrio das relações consumeristas.
A boa fé objetiva é uma evolução do conceito de boa fé, que sai do campo psicológico (boa fé subjetiva) e passa para o plano de atuação humana (boa fé objetiva). A boa fé subjetiva está atrelada ao elemento intrínseco do sujeito da relação negocial, condicionada à vontade das partes; portanto, a boa fé subjetiva acaba não levando em consideração a conduta. 
A boa fé objetiva tem início com o jusnaturalismo (Hugo Grotius). A boa fé objetiva surge da atuação concreta das partes na relação contratual, enquanto regra de conduta. A boa fé objetiva vem a ser a exigência de um comportamento de lealdade dos participantes negociais, em todas as fases do negócio (ENUNICADO 26 DO CJF). Correlação = deveres anexos ou laterais de conduta: dever de cuidado, dever de respeito, dever de lealdade, dever de probidade, dever de informar, dever de transparência, dever de agir honestamente e com razoabilidade. Correlação = boa fé objetiva processual (art. 5º, CPC) e princípio da cooperação (art. 6º, CPC).
Consequências práticas, segundo CLM:
a) Função criadora: serve como fonte de novos deveres especiais de conduta durante o vínculo contratual (deveres anexos). 
b) Função limitadora: causa limitadora do exercício, hoje abusivo, dos direitos subjetivos.
c) Função interpretadora: concreção e interpretação dos contratos. 
Consequências práticas no próprio CDC
· Art. 9º = dever do prestador ou fornecedor de informar o consumidor quanto ao perigo e à nocividade do produto ou serviço que coloca no mercado, visando proteger sua saúde e segurança;
· Responsabilidade objetiva prevista nos arts. 12, 14 e 18 
· Art. 31 = necessidade de informações precisas quanto à essência, quantidade e qualidade do produto ou do serviço;
· Art. 39 = conceito de abuso de direito como precursor da ilicitude do ato de consumo;
· Art. 48 = responsabilidade pré-contratual e pós-contratual do negócio de consumo. 
· Enunciados 25 e 170 = juiz deve aplicar e as partes devem respeitar a boa fé objetiva nas fases pré-contratual, contratual e pós-contratual. 
ATENÇÃO
A boa fé objetiva tem sido levantada como argumento em casos de revisão dos contratos com base na crise econômica decorrente do COVID-19:
“Agravo de instrumento. Ação de obrigação de fazer. Plano de saúde. Indeferimento do pedido de tutela provisória de urgência para determinar o restabelecimento do contrato de plano de saúde. Inconformismo. Cabimento. Presença dos requisitos para a concessão da tutela de urgência ao caso. A suspensão ou o cancelamento do plano de saúde por inadimplência durante a pandemia de Covid-19 pode, em tese, caracterizar prática abusiva. Observância da boa-fé objetiva, equilíbrio na relação de consumo e função social do contrato. Agravante teve o seu faturamento diretamente afetado pela brusca diminuição das operações aeroportuárias no aeroporto de Congonhas, local onde exerce suas atividades comerciais. Operadora de plano de saúde impedida de suspender ou rescindir o contrato com fundamento no inadimplemento do consumidor durante a pandemia de Covid-19. Decisão reformada. Agravo provido” (TJSP – AgIn 2098399-35.2020.8.26.0000 – Acórdão 13911514 – São Paulo – Oitava Câmara de Direito Privado – Rel. Des. Pedro de Alcântara da Silva Leme Filho – j. 29.08.2020 – DJESP 02.09.2020 – p. 3571)
	
DISCUSSÃO DOUTRINÁRIA
Anderson Schreiber fala em um dever de negociar decorrente do princípio da boa fé objetiva. Para ele, em caso de desequilíbrio contratual, deve a contraparte comunica-lo à outra e esta, por sua vez, não pode se omitir. Trata-se de um dever anexo ou lateral de comunicar a outra parte acerca de um fato significativo na vida do contrato e de empreender esforços para superá-lo por meio de revisão extrajudicial. Trata-se de espécie de dever anexo e, por isso, não carece de previsão contratual e, ainda, sua falta pode ser enquadrada como desrespeito à eficácia interna da função sócia do contrato, na perspectiva de conservação do negócio jurídico (enunciado 22). 
PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA OU DA CONFIANÇA (art. 4º, caput e art. 6º, III)
        Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:              
 III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; (Redação dada pela Lei nº 12.741, de 2012) 
· Dever de informar (quem oferece o produto ou serviço) e direito de ser informado (consumidor).
DOUTRINADOR ARGENTINO = o dever de informação tem dois objetivos: que o consumidor esteja em condições de conhecer de forma reflexiva; que, celebrado o contrato, adquirido o bem ou contratado o serviço, o consumidor tenha o conhecimento necessário para emprego satisfatório e aproveitamento dos produtos ou serviços. E, ainda, se existe algum perigo, serve para que o consumidor receba as instruções que lhe permita prevenir o risco. 
· A lei 12.741/12 incluiu no art. 6º do CDC o dever de informar em relação aos tributos incidentes e preço, visando dar maior transparência a respeito dos impostos. O art. 1º da referida codificação estabelece a forma como tal informação deve constar no produto, prevendo que:
Art. 1º Emitidos por ocasião da venda ao consumidor de mercadorias e serviços, em todo território nacional, deverá constar, dos documentos fiscais ou equivalentes, a informação do valor aproximado correspondente à totalidade dos tributos federais, estaduais e municipais, cuja incidência influi na formação dos respectivos preços de venda.
§ 1º A apuração do valor dos tributos incidentes deverá ser feita em relação a cada mercadoria ou serviço, separadamente, inclusive nas hipóteses de regimes jurídicos tributários diferenciados dos respectivos fabricantes, varejistas e prestadores de serviços, quando couber.
§ 2º A informação de que trata este artigo poderá constar de painel afixado em local visível do estabelecimento, ou por qualquer outro meio eletrônico ou impresso, de forma a demonstrar o valor ou percentual, ambos aproximados, dos tributos incidentes sobre todas as mercadorias ou serviços postos à venda.
§ 3º Na hipótese do § 2º , as informações a serem prestadas serão elaboradas em termos de percentuais sobre o preço a ser pago, quando se tratar de tributo com alíquota ad valorem, ou em valores monetários (no caso de alíquota específica); no caso de se utilizar meio eletrônico, este deverá estar disponível ao consumidor no âmbito do estabelecimento comercial.
· O parágrafo único do art. 6º foi introduzido pela Lei 13.146/15 (Estatuto da Pessoa com Deficiência) e prevê que as informações prestadas as consumidores devem ser acessíveis às pessoas com deficiência. 
JURISPRUDÊNCIA
“A exposição de motivos do Código de Defesa do Consumidor, sob esse ângulo, esclarece a razão de ser do direito à informação no sentido de que: ‘O acesso dos consumidores a uma informação adequada que lhes permita fazer escolhas bem seguras conforme os desejos e necessidades de cada um’ (Exposição de Motivos do Código de Defesa do Consumidor. Diário do Congresso Nacional, Seção II, 3 de maio de 1989, p. 1.663). (...).A informação ao consumidor, tem como escopo: ‘i) consciencialização crítica dos desejos de consumo e da priorização das preferências que lhes digam respeito; ii) possibilitação de que sejam averiguados, de acordo com critérios técnicos e econômicos acessíveis ao leigo, as qualidades e o preço de cada produto ou de cada serviço; iii) criação e multiplicação de oportunidades para comparar os diversificados produtos; iv) conhecimento das posições jurídicas subjetivas próprias e alheias que se manifestam na contextualidade das séries infindáveis de situações de consumo; v) agilização e efetivação da presença estatal preventiva, mediadora, ou decisória, de conflitos do mercado de consumo’ (Alcides Tomasetti Junior. O objetivo de transparência e o regime jurídico dos deveres e riscos de informação das declarações negociais para consumo, in Revista de Direito do Consumidor, n. 4, São Paulo: Revista dos Tribunais, número especial, 1992, pp. 52-90). (...). Deveras, é forçoso concluir que o direto à informação tem como desígnio promover completo esclarecimento quanto à escolha plenamente consciente do consumidor, de maneira a equilibrar a relação de vulnerabilidade do consumidor, colocando-o em posição de segurança na negociação de consumo, acerca dos dados relevantes para que a compra do produto ou serviço ofertado seja feita de maneira consciente” (STJ – REsp 976.836/RS – Primeira Seção – Rel. Min. Luiz Fux – j. 25.08.2010 – DJe 05.10.2010)
	
JURISPRUDÊNCIA
Contrato de seguro. Cláusula abusiva. Não observância do dever de informar. A Turma decidiu que, uma vez reconhecida a falha no dever geral de informação, direito básico do consumidor previsto no art. 6º, III, do CDC, é inválida cláusula securitária que exclui da cobertura de indenização o furto simples ocorrido no estabelecimento comercial contratante. A circunstância de o risco segurado ser limitado aos casos de furto qualificado (por arrombamento ou rompimento de obstáculo) exige, de plano, o conhecimento do aderente quanto às diferenças entre uma e outra espécie – qualificado e simples – conhecimento que, em razão da vulnerabilidade do consumidor, presumidamente ele não possui, ensejando, por isso, o vício no dever de informar. A condição exigida para cobertura do sinistro – ocorrência de furto qualificado –, por si só, apresenta conceituação específica da legislação penal, para cuja conceituação o próprio meio técnico-jurídico encontra dificuldades, o que denota sua abusividade” (STJ, REsp 1.293.006/SP – Rel. Min. Massami Uyeda – j. 21.06.2012).
JURISPRUDÊNCIA
O STJ entendeu que empresa que explora o transporte coletivo violou o princípio da transparência ao não informar na roleta do ônibus o saldo remanescente do vale-transporte eletrônico. (STJ – REsp 1.099.634/RJ – Rel. Min. Nancy Andrighi – j. 08.05.2012 – publicado no seu Informativo n. 497).
O STJ entendeu que viola o dever de informação a empresa de plano de saúde que não comunica previamente ao consumidor que determinada clínica médica não faz mais parte de sua rede credenciada, imputando responsabilidade solidária de todos os envolvidos com a prestação de serviços. (STJ – REsp 1.561.445/SP – Terceira Turma – Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva – j. 13.08.2019 – DJe 16.08.2019).
CONSEQUÊNCIAS PRÁTICAS (TUTELA ESPECÍFICA)
· Art. 6º, IV = proteção contra publicidade enganosa e abusiva.
· Art. 4º = informação transparente, de modo a possibilitar a aproximação contratual mais sincera e menos danosa entre consumidor e fornecer. A tutela da transparência e da confiança é desdobramento da boa fé objetiva. CLM diz que “transparência significa informação clara e correta sobre o produto a ser vendido, sobre o contrato a ser firmado, significa lealdade e respeito nas relações entre fornecedor e consumidor, mesmo na fase pré-contratual, isto é, na fase negocial dos contratos de consumo”.
· Art. 30 a 38, CDC = estabelecem o regramento específico acerca do tema. Destaca-se que nesses dispositivos está estampada a responsabilidade pré-contratual e, ainda, no art. 30, o comando de que o meio de oferta vincula o conteúdo do contrato. 
JURISPRUDÊNCIA
O STJ, em 2018, aplicou os princípios da transparência e da confiança à atividade médica e hospitalar, especialmente quanto ao dever de informar ao paciente. Concluiu que “o dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples inobservância caracteriza inadimplemento contratual, fonte de responsabilidade civil per se. A indenização, nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter sido retirada a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento, que, ao final, lhe causou danos, que poderiam não ter sido causados, caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente”. STJ – REsp 1.540.580/DF – Quarta Turma – Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador convocado do TRF da 5ª Região) – Rel. p/ Acórdão Min. Luis Felipe Salomão – j. 02.08.2018 – DJe 04.09.2018)
Decidiu-se que esse consentimento não pode ser genérico (blanket consente), ou seja, deve ser individualizado. 
O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar é do médico e do hospital. 
QUESTÃO ATUAL = transparência no que diz respeito às ações que visem o crédito responsável com o fim de evitar o superendividamento. Enunciado 3 do BRASILCON (Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor): constituem direitos básicos do consumidor as práticas de crédito responsável e de educação financeira, a prevenção e o tratamento do superendividamento, preservado o mínimo existencial, por meio da repactuação e revisão judicial da dívida, entre outras medidas.
PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO 
· Superação do modelo estanque da autonomia da vontade e sua força obrigatória (pacta sunt servanda). O CDC se apresenta como mitigação dessa obrigatoriedade da convenção, conforme destacado pelo STJ. 
· Função social dos contratos visa equilibrar uma situação que sempre foi díspar, desequilibrada. Trata-se de princípio contratual de ordem pública (art. 2.035, CC) que impõe que o contrato deve ser interpretado e visualizado de acordo com o contexto da sociedade. No CC, também está previsto no art. 421.
	No microssistema de proteção ao consumidor, a função social dos contratos é princípio implícito. Nelson Nery e Rosa Maria concluem que a revisão do contrato de consumo tem fundamento nas cláusulas gerais da função socia do contrato e da boa fé objetiva, fundadas na teoria da base do negócio (Larenz) e da culpa in contrahendo (Ihering). 
· Dupla eficácia da função social dos contratos: eficácia interna (em relação às partes contratantes) e eficácia externa (para além das partes contratantes). 
a. Quanto à eficácia externa, tem-se que essa é uma exceção ao princípio da relatividade dos efeitos do contrato, já que possibilita a tutela externa do crédito – eficácia do contrato perante terceiros. Conclusão estabelecida pelo Enunciado 21 do CJF e também aplicada pelo STJ (reconhecendo, por exemplo, a possibilidade de vítima de acidente de trânsito demandar diretamente a seguradora do culpado, mesmo sem vínculo contratual com esta - STJ – REsp 444.716/BA. MUDANÇA DE ENTENDIMENTO: o STJ passou a entender que a vítima não pode demandar somente contra a seguradora, prevendo um litisconsórcio passivo necessário entre a seguradora e o culpado. (INFO 490). 
Apesar da mudança de entendimento do STJ, o Enunciado 544 prevê a opção de demanda (art. 275, CC) por parte da vítima. 
ENTENDIMENTO QUE HOJE É APLICADO: Súmula 529 STJ expressando que “no seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano”, mas que é aplicada de forma mitigada, de modo que a vítima de acidente de trânsito pode sim ajuizar demanda direta e exclusivamente contra a seguradora do causador do dano quando estiver reconhecida, na esfera administrativa, a responsabilidade deste pela ocorrência do sinistro e quandoparte da indenização securitária já tiver sido paga. Sobre o novo entendimento:
“há hipóteses em que a obrigação civil de indenizar do segurado se revela incontroversa, como quando reconhece a culpa pelo acidente de trânsito ao acionar o seguro de automóvel contratado, ou quando firma acordo extrajudicial com a vítima obtendo a anuência da seguradora, ou, ainda, quando esta celebra acordo diretamente com a vítima. Nesses casos, mesmo não havendo liame contratual entre a seguradora e o terceiro prejudicado, forma-se, pelos fatos sucedidos, uma relação jurídica de direito material envolvendo ambos, sobretudo se paga a indenização securitária, cujo valor é o objeto contestado”. Por isso, “na pretensão de complementação de indenização securitária decorrente de seguro de responsabilidade civil facultativo, a seguradora pode ser demandada direta e exclusivamente pelo terceiro prejudicado no sinistro, pois, com o pagamento tido como parcial na esfera administrativa, originou-se uma nova relação jurídica substancial entre as partes. Inexistência de restrição ao direito de defesa da seguradora ao não ser incluído em conjunto o segurado no polo passivo da lide” (STJ – REsp 1.584.970/MT – Terceira Turma – Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva – j. 24.10.2017 – DJe 30.10.2017). Como sou entusiasta do entendimento que acabou sendo superado, essa nova forma de julgar me parece perfeita.
· Fundamento constitucional no princípio da solidariedade social (art. 3º, I, CF). 
b. Quanto à eficácia interna: prevista no Enunciado 360 do CJF. Consequências práticas: art. 47 do CDC (interpretação contratual mais benéfica ao consumidor) + art. 51 do DCD (possibilidade de declaração de nulidade do contrato em razão de abusividade de cláusula). 
· Correlação da eficácia interna = manutenção do equilíbrio dos contratos, equidade contratual e a plena possibilidade de revisão dos negócios. Ainda, tem relação com a conservação dos negócios jurídicos (a extinção do negócio jurídico deve ser a última medida). 
JURISPRUDÊNCIA
“o juiz da equidade deve buscar a Justiça comutativa, analisando a qualidade do consentimento. Quando evidenciada a desvantagem do consumidor, ocasionada pelo desequilíbrio contratual gerado pelo abuso do poder econômico, restando, assim, ferido o princípio da equidade contratual, deve ele receber uma proteção compensatória. Uma disposição legal não pode ser utilizada para eximir de responsabilidade o contratante que age com notória má-fé em detrimento da coletividade, pois a ninguém é permitido valer-se da lei ou de exceção prevista em lei para obtenção de benefício próprio quando este vier em prejuízo de outrem” (STJ – REsp 436.853/DF – Terceira Turma – Rel. Min. Nancy Andrighi – j. 04.05.2006 – DJ 27.11.2006, p. 273).
· Onerosidade excessiva ao consumidor decorrente de fato superveniente pode ensejar a revisão contratual (art. 6º, V, CDC). 
Enunciado 22 do CJF: “a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral, que reforça o princípio de conservação do contrato, assegurando trocas úteis e justas”. 
Também tem relação com o dever de negociar acima exposto e também com a teoria do adimplemento substancial. 
Enunciado 361 do CJF: “o adimplemento substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer preponderar a função social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva, balizando a aplicação do art. 475”.
Segundo a teoria do adimplemento substancial, em hipóteses em que a obrigação tiver sido quase toda cumprida, ou seja, mora insignificante, não cabe extinção do negócio jurídico, mas apenas outros efeitos jurídicos. Cumprimento relevante x mora insignificante. 
· Enunciado 361: “para a caracterização do adimplemento substancial (tal qual reconhecido pelo Enunciado n. 361 da IV Jornada de Direito Civil – CJF), leva-se em conta tanto aspectos quantitativos quanto qualitativos” (o quanto deixou de cumprir e o comportamento durante o contrato).
· ATENÇÃO: não se aplica a teoria do adimplemento substancial em relação aos contratos de alienação fiduciária em garantia de bens móveis, conforme entendimento do STJ. 
· Correlação com a EXCEÇÃO DA RUÍNA: a exceção da ruína é circunstância liberatória que tem como fundamento “situação de ruína em que o devedor poderia incorrer, caso a execução do contrato, atingida por alterações fáticas, não fosse sustida”. Então, essa alteração fática que gera a sustação do contrato tem fundamento na boa fé, lealdade, solidariedade (interna e externa), cooperação e sobretudo na função social dos contratos.
· TENDÊNCIA: percebe-se uma tendência na busca de continuidade dos negócios jurídicos, conforme todo o exposto. Ainda, o art. 51, §2º do CDC estabelece a vedação de nulidade automática de todo o negócio pela presença de uma cláusula abusiva. máxima segundo a qual a parte inútil do negócio não prejudica, em regra, a sua parte útil (utile per inutile non vitiatur). O CDC busca preservar a vontade anteriormente manifestada, buscando-se a manutenção do negócio jurídico diante de sua importância para a sociedade. 
a nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer um ônus excessivo a qualquer das partes.
PRINCÍPIO DA EQUIVALÊNCIA NEGOCIAL (art. 6º, II)
Garante-se a igualdade de condições no momento da contratação ou de aperfeiçoamento da relação jurídica patrimonial. Tratamento igual a todos os consumidores, consagrando a igualdade nas contratações. 
· Os contratos passam a ter seu equilíbrio, conteúdo e equidade mais controlados, de modo a valorizar seu sinalagma. O que é sinalagma?
Sinalagma é elemento estruturante dos contratos, ou seja, é a existência de pelo menos duas prestações correspectivas. Contudo, sinalagma não é apenas bilateralidade, mas significa contrato, convenção enquanto modelos de organização da vida privada. 
· Como controle do sinalagma em busca de maior equilíbrio contratual encontramos como fundamento a isonomia constitucional, que permite a proteção especial aos consumidores na busca de uma equivalência contratual.
Consequência prática
a. art. 39 e 51 do CDC vedam que os consumidores sejam expostos a praticas desproporcionais (cláusulas e práticas abusivas, que geram nulidade absoluta e responsabilidade civil, a depender).
b. art. 8º do CDC estabelece a vedação de produtos e serviços que acarretem riscos à saúde dos consumidores, prevendo a reparação integral em caso de dano.
c. relação íntima com o dever de informação (art. 9º, por exemplo) e com o princípio da boa fé objetiva.
d. art. 10 veda que o fornecedor coloque no mercado produto ou serviço que apresente alto grau de nocividade à saúde e à segurança de todos (dever gera de vigilância e informação).
PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO INTEGRAL DOS DANOS (art. 6º, VI)
Trata-se de correlacionar as disposições do CC e do CDC em relação à responsabilidade civil. Trata-se da reparação integral dos danos suportados, sejam eles materiais ou morais, individuais, coletivos ou difusos. 
DANOS INDIVIDUAIS 
· Danos materiais: sejam danos emergentes (o que efetivamente se perdeu) ou lucros cessantes (o que deixou de ganhar), o consumidor terá direito à reparação integral SEM QUALQUER TIPO DE TABELAMENTO previsto em lei, jurisprudência ou convenção internacional. Enunciado 550 do CJF: “a quantificação da reparação por danos extrapatrimoniais não deve estar sujeita a tabelamento ou a valores fixos”. 
· Danos morais: a súmula 37 do STJ permite a cumulação, em uma mesma ação, de pedido de reparação de danos materiais e morais, decorrentes do mesmo fato.
· Dano estético, para o STJ, constitui modalidade de dano, separável do dano moral, de modo que conforme súmula 387 do STJ, cabe cumulação de danos morais e estéticos. No dano estético há uma lesão a mais à personalidade, à dignidade humana. Ex: erro médico em cirurgia plástica. 
DANOS COLETIVOS
O CDC prevê em seu art. 6º, VI a reparação por danos coletivos e danos difusos. Fundamento no Enunciado 456 do CJF: “a expressão ‘dano’no art. 944 abrange não só os danos individuais, materiais ou imateriais, mas também os danos sociais, difusos, coletivos e individuais homogêneos a serem reclamados pelos legitimados para propor ações coletivas”.
· Dano moral coletivo é modalidade de dano que atinge vários direitos da personalidade, de pessoas determinadas ou determináveis (danos morais somados ou acrescidos). Envolve, portanto, direitos coletivos em sentido estrito e direitos individuais homogêneos, de modo que a indenização deve ser destinada às vítimas do evento danoso. Somente podem ser extrapatrimoniais (?). 
· Dano difuso pode ser entendido como um dano social; danos sociais são lesões à sociedade, no seu nível de vida, seja por rebaixamento de seu patrimônio moral ou pela diminuição da qualidade de vida. Podem ter natureza patrimonial ou extrapatrimonial. Difusos porque envolvem situações em que as vítimas são indeterminadas ou indetermináveis (art. 81, §ú, I, CDC), envolvendo interesses difusos ou transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas ligadas por circunstancias de fato. A indenização, caso cabível, é destinada para um fundo de proteção ou mesmo para instituições. 
Segundo o Enunciado 456 do CJF, os danos sociais não podem ser conhecidos de ofício, ou seja, “os danos sociais, difusos, coletivos e individuais homogêneos devem ser reclamados pelos legitimados para propor ações coletivas”. 
Também há entendimento do STJ pela impossibilidade de conhecimento de ofício dos danos sociais ou difusos. 
	Pode haver cumulação entre danos morais coletivos e danos sociais (ou difusos) em uma mesma ação, conforme entendimento firmado pelo STJ em 2014 no REsp 1.293.606/MG: “as tutelas pleiteadas em ações civis públicas não são necessariamente puras e estanques. Não é preciso que se peça, de cada vez, uma tutela referente a direito individual homogêneo, em outra ação uma de direitos coletivos em sentido estrito e, em outra, uma de direitos difusos, notadamente em se tratando de ação manejada pelo Ministério Público, que detém legitimidade ampla no processo coletivo. Isso porque, embora determinado direito não possa pertencer, a um só tempo, a mais de uma categoria, isso não implica dizer que, no mesmo cenário fático ou jurídico conflituoso, violações simultâneas de direitos de mais de uma espécie não possam ocorrer”.
· Perda de uma chance: alguns doutrinadores tem defendido a possibilidade de reparação do dano por perda de uma chance (quando a pessoa vê frustrada uma expectativa ou oportunidade futura, chance que deve ser séria e real, não ficando adstrita a percentuais apriorísticos). Tartuce vê com ressalvas classificar a perda de uma chance como nova categoria de dano, muito embora o fato de que tal teoria vem sendo aplicada, inclusive em relações de consumo.
	Independentemente da modalidade de dano, tem-se que o princípio da reparação integral gera responsabilidade objetiva de fornecedores e prestadores de serviços em relação tanto ao consumidor padrão (stander) quanto ao consumidor equiparado (bystander). 
· O art. 7º prevê a solidariedade retirada da responsabilidade consumerista. 
· Alguns doutrinadores trabalham com a ideia de princípio da segurança, que geraria a responsabilidade objetiva dos fornecedores e prestadores. Tartuce acha que é desnecessário. 
Elementos da relação de consumo
CONSUMIDOR 
1. CONSUMIDOR STANDART
Art. 2° CONSUMIDOR é toda pessoa física ou jurídica que ADQUIRE ou UTILIZA produto ou serviço como DESTINATÁRIO FINAL
O consumidor possui várias espécies, podendo ser consumidor standart ou consumidor por equiparação. O consumidor standart está previsto no art. 2º do CDC e é aquele que compra produto como destinatário final, não importando a personalidade jurídica mas sim a destinação do bem adquirido. 
a. Corrente maximalista = essa corrente considera consumidor o destinatário fático do bem. É aquele que compra um produto. O ato da compra indica quem é o consumidor. Teoria puramente objetiva. Basta a retirada do bem de consumo da cadeia de produção para que se identifique o consumidor, sendo irrelevante saber se o produto ou serviço será revendido, empregado profissionalmente ou utilizado para fim pessoal ou familiar
b. Corrente finalista = considera que consumidor é o destinatário fático e econômico do bem. Além do ato da compra, exige-se que a pessoa seja destinatária econômica do bem, ou seja, que a pessoa não aufira vantagem econômica com o bem adquirido. Essa é a que prevalece. Teoria subjetiva. Regra de ausência de revenda, por meio de uma interpretação restritiva do destinatário final. A interpretação da expressão destinatário final é restrita (CESPE).
Precedentes do STJ: “para que o consumidor seja considerado destinatário econômico final, o produto ou serviço adquirido ou utilizado não pode guardar qualquer conexão, direta ou indireta, com a atividade econômica por ele desenvolvida” (STJ, CC nº 92.519/SP, rel. Min. Fernando Gonçalves, julgado em 16.02.2009, DJe 04.03.2009)
O CDC é lei criada para trabalhar com a figura do vulnerável, conforme visto. O STJ, com base na vulnerabilidade, alargou a visão de consumidor porque se percebeu que pessoas que comprovam pra revender também eram vulneráveis. 
c. Corrente finalista mitigada ou aprofundada = aquela que admite que destinatários tão somente fáticos pode se valer das regras protetivas do CDC, desde que constatada a vulnerabilidade. AgRg no AREsp. nº 601.234/DF; AgRg no AREsp. nº 415.244/SC e REsp. nº 567.192/SP.
Como foi cobrado
Segundo a teoria finalista, é caracterizado como consumidor o taxista que adquire da concessionária um veículo zero quilômetro para exercer sua atividade profissional porque ele é considerado destinatário final fático e econômico. – ERRADO, ele é consumidor fático somente. 
Precedentes do STJ
Excepcionalmente, o profissional freteiro, adquirente de caminhão zero quilômetro, que assevera conter defeito, também poderá ser considerado consumidor, quando a vulnerabilidade estiver caracterizada por alguma hipossuficiência quer fática, técnica ou econômica. Nesta hipótese está justificada a aplicação das regras de proteção ao consumidor (STJ, REsp. nº 1.080.719/MG, 3ª Turma, rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10.02.2009, DJe 18.08.2009).
“o consumidor intermediário, ou seja, aquele que adquiriu o produto ou o serviço para o utilizar em sua atividade empresarial, poderá ser beneficiado com a aplicação do Código de Defesa do Consumidor quando demonstrada sua vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica frente à outra parte” (STJ, AgRg no Ag. nº 1.316.667/RO, 3ª Turma, rel. Min. Vasco Giustina, julgado em 15.02.2011, DJe 11.03.2011).
É a chamada "teoria finalista mitigada ou atenuada", ou ainda “teoria finalista aprofundada”, pela qual a vulnerabilidade do adquirente pode vir a caracterizar a relação jurídica como de consumo (STJ. 3ª T. REsp 1.195.642/RJ, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 13.11.12).
2. CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO
A figura do consumidor por equiparação tem fundamento legal no art. 17, art. 29 e art. 2, parágrafo único do CDC.
2.1. VÍTIMAS DO EVENTO OU CONSUMIDOR BYSTANDER 
Pessoas que sofrem danos em razão do evento de consumo, conforme prevê o art. 17 do CDC. Responsabilidade pelo fato do produto ou serviço. Estende o alcance do CDC para toda e qualquer vítima de acidente de consumo. Responsabilidade extracontratual do fornecedor. 
Precedentes do STJ
“resta caracterizada relação de consumo se a aeronave que caiu sobre a casa das vítimas realizava serviço de transporte de malotes para um destinatário final, ainda que pessoa jurídica (...)” (STJ, REsp. nº 540.235/TO, 3ª Turma, rel. Min. Castro Filho, julgado em 07.02.2006, DJe 06.03.2006).
“equiparam-se aos consumidores todas as pessoas que, embora não tendo participado diretamente da relação de consumo, vêm a sofrer as consequências do evento danoso, dada a potencial gravidade que pode atingir o fato do produto ou do serviço, na modalidade vício de qualidade por insegurança” (STJ, REsp. nº 181.580/SP, 3ª Turma, rel.Min. Castro Filho, julgado em 09.12.2003, DJe 22.03.2004).
Segundo o STJ, “o art. 17 do CDC prevê a figura do consumidor por equiparação (bystander), sujeitando à proteção do CDC aqueles que, embora não tenham participado diretamente da relação de consumo, sejam vítimas de evento danoso decorrente dessa relação. Em acidente de trânsito envolvendo fornecedor de serviço de transporte, o terceiro vitimado em decorrência dessa relação de consumo deve ser considerado consumidor por equiparação”. (STJ, 3ª T. REsp 1125276/RJ, Rel. Min Nancy Andrighi, j. 28/2/12).
Explosão em loja de fogos de artifício. Vítimas do evento equiparadas aos consumidores. (STJ, REsp 181.580-SP, Rei. Min. Castro Filho, julgado em 9/12/2003, Informativo 195).
Consumidor (bystander) atingido por arma de fogo em assalto à transportadora de valores que retirava malotes de dinheiro de supermercado. Responsabilidade solidária do supermercado. (STJ, REsp 1327778/SP, Rei.Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, DJe 23/08/2016)
Derramamento de óleo que afetou atividade pesqueira (pescador como bystander) (STJ, CC 143.204/RJ, Rei. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Segunda Seção, DJe 18/04/2016).
Pessoa que é atingida por tiroteio entre seguranças de uma loja e bandidos é consumidora equiparada (bystander). (STJ, REsp 1732398/RJ, Rei. Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, DJe 01/06/2018).
Atenção: o bystander está relacionado somente à responsabilidade pelo FATO (veja o teor do art. 17 - "para os efeitos desta seção ... ") e não ao VÍCIO.
Súmula 608-STJ: Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde, salvo os administrados por entidades de autogestão.
Súmula 563-STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às entidades abertas de previdência complementar, não incidindo nos contratos previdenciários celebrados com entidades fechadas.
APLICAÇÃO DO CDC E PRECEDENTES DO STJ
Não se aplica o CDC aos contratos administrativos, tendo em vista que a Administração Pública já goza de outras prerrogativas asseguradas pela lei. A fiança bancária, quando contratada no âmbito de um contrato administrativo, também sofre incidência do regime publicístico, uma vez a contratação dessa garantia não decorre da liberdade de contratar, mas da posição de supremacia que a lei confere à Administração Pública nos contratos administrativos. Pode-se concluir, portanto, que a fiança bancária acessória a um contrato administrativo também não representa uma relação de consumo. STJ. 3ª T. REsp 1.745.415-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 14/05/19 (Info 649).
A relação existente entre distribuidores e revendedores de combustíveis, em regra, não é de consumo, sendo indevida a aplicação de dispositivos do Código de Defesa do Consumidor{ ... )" (REsp 782852/SC, Rei. Ministro Luís Felipe Salomão, Quarta Turma, DJe 29/04/2011)
Contrato de conta-corrente mantida entre corretora de Bitcoin e instituição financeira: não se aplica o CDC. A empresa corretora de Bitcoin que celebra contrato de conta-corrente com o banco para o exercício de suas atividades não pode ser considerada consumidora. Não se trata de uma relação de consumo. A empresa desenvolve a atividade econômica de intermediação de compra e venda de Bitcoins. Para realizar essa atividade econômica, utiliza o serviço de conta-bancária oferecido pela instituição financeira. Desse modo, a utilização desse serviço bancário (abertura de conta-corrente) tem o propósito de incrementar sua atividade produtiva de intermediação, não se caracterizando, portanto, como relação jurídica de consumo, mas sim de insumo. Em outras palavras, o serviço bancário de conta-corrente é utilizado como implemento de sua atividade empresarial, não se destinando, pois, ao seu consumo final. Logo, não se aplicam as normas protetivas do CDC. STJ. 3ª T. REsp 1696214-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 9/10/18 (Info 636). 
As normas protetivas do CDC não se aplicam ao seguro obrigatório (DPVAT). STJ. 3ª T. REsp 1.635.398-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 17/10/17 (Info 614).
Deve ser reconhecida a relação de consumo existente entre a pessoa natural, que visa a atender necessidades próprias, e as sociedades que prestam, de forma habitual e profissional, o serviço de corretagem de valores e títulos mobiliários. Ex: João contratou a empresa “Dinheiro S.A Corretora de Valores” para que esta intermediasse operações financeiras no mercado de capitais. Em outras palavras, João contratou essa corretora para investir seu dinheiro na Bolsa de Valores. A relação entre João e a corretora é uma relação de consumo. STJ. 3ª T. REsp 1.599.535-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 14/3/17 (Info 600).
A condição de consumidor do promitente-assinante não se transfere aos cessionários do contrato de participação financeira. Ex: João firmou contrato de participação financeira com a empresa de telefonia. João cedeu os direitos creditícios decorrentes do contrato para uma empresa privada especializada em comprar créditos, com deságio. A empresa cessionária, ao ajuizar demanda contra a companhia telefônica pedindo os direitos decorrentes deste contrato, não poderá invocar o CDC. As condições personalíssimas do cedente não se transmitem ao cessionário. STJ. 3ª T. REsp 1.608.700-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 9/3/17 (Info 600).
É inaplicável o CDC ao contrato de franquia. A franquia é um contrato empresarial e, em razão de sua natureza, não está sujeito às regras protetivas previstas no CDC. A relação entre o franqueador e o franqueado não é uma relação de consumo, mas sim de fomento econômico com o objetivo de estimular as atividades empresariais do franqueado. O franqueado não é consumidor de produtos ou serviços da franqueadora, mas sim a pessoa que os comercializa junto a terceiros, estes sim, os destinatários finais. STJ. 3ª T. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/9/16 (Info 591).
Legitimidade do MP para o ajuizamento de ação civil pública visando à defesa de interesses e direitos individuais homogêneos pertencentes a consumidores, decorrentes, no caso, de contratos de promessa de cessão e concessão onerosa do uso de jazigos situados em cemitério particular. Inteligência do art. 81, par. único, III, do CDC. Precedente específico da Quarta Turma deste Superior Tribunal de Justiça. Aplicabilidade do CDC à relação travada entre os titulares do direito de uso dos jazigos situados em cemitério particular e a administradora ou proprietária deste, que comercializa os jazigos e disponibiliza a prestação de outros serviços funerários. Inteligência dos arts. 2º e 3º do CDC. STJ. 3ª T., REsp 1090044/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 21/06/11.
As relações contratuais entre clientes e advogados são regidas pelo Estatuto da OAB, aprovado pela Lei 8.906/94, a elas não se aplicando o CDC. Dito de outro modo, a legislação consumeirista não se aplica à prestação de serviços de advocacia. STJ, 3ª T. REsp 1228104/PR, Min. Rel. Sidnei Beneti, j. 15/03/12 (Info 493).
Tese 04: As cooperativas de crédito são equiparadas às instituições financeiras, aplicando-se-lhes o Código de Defesa do Consumidor, nos termos da Súmula n. 297/STJ.
Aplica-se o CDC aos casos que envolvem serviços públicos prestados por pessoas jurídicas de direito público interno.
COMO FOI COBRADO
· TJRR-2015-FCC): Empresa “Coisa Boa” adquiriu alimentos para festa de confraternização de seus funcionários. A aquisição foi realizada por Maria, responsável pelo setor de compras. Após a festa de confraternização, todos os funcionários da empresa passaram mal, assim como seus familiares, descobrindo-se que os produtos adquiridos por Maria estavam estragados. De acordo com o CDC, para fins de responsabilização por fato do produto, considera(m)-se consumidor(es) todas as vítimas do evento danoso. BL: arts. 14 e 17, CDC.
· (TJPI-2015-FCC): Victor presenteou seu filho Victor Jr. com uma garrafa de vinho adquirida na empresa Sierra. Como o produto estava estragado, Victor Jr. teve que ser internado, depois ajuizando ação contraSierra. Em contestação, alegou-se inaplicabilidade do CDC. A alegação não procede, pois, ainda que Victor Jr. não tenha adquirido, por si, o produto, equiparam-se a consumidor, para fins de responsabilização civil, todas as vítimas do evento danoso. BL: art. 17, CDC.
· (TJSE-2015-FCC): Considere a hipótese de uma explosão ocorrida em um restaurante, que funcionava dentro de um shopping center. A explosão foi causada por um botijão de gás, que ficava na cozinha do restaurante, e foi tão forte que feriu gravemente seus empregados, além de pessoas que estavam jantando, empregados da loja vizinha, um segurança do próprio shopping center e, ainda, pessoas que passavam pelo corredor. Levando em consideração as regras de responsabilidade previstas no CDC, o segurança do shopping center pode pleitear indenização em juízo, contra o restaurante, com base no CDC, posto se tratar de vítima de um acidente de consumo. BL: art. 17, CDC.
· (MPAC-2014-CESPE): Considere que a queda de um avião de empresa aérea nacional, em via pública, cause a morte de centenas de pessoas, entre passageiros da aeronave e moradores do local do acidente. Nessa situação hipotética, de acordo com as normas do CDC e o entendimento do STJ, as vítimas moradoras das casas atingidas pela queda do avião são consideradas consumidores por equiparação, ou bystanders. BL: art. 2º, § único e art. 17, CDC.
· "Considera-se consumidor a pessoa que adquire o produto ou o serviço ou, ainda, a que, não o tendo adquirido, o utiliza." CORRETO
· É possível a incidência do CDC, nas hipóteses em que a parte (pessoa física ou jurídica), apesar de não ser a destinatária final do produto ou serviço, apresenta-se em situação de vulnerabilidade. CORRETO
2.2. CONSUMIDOR EQUIPARADO POTENCIAL
Previsto no art. 29 do CDC, sendo aquelas pessoas expostas à oferta. A expectativa de direitos já é capaz de criar direitos. Ação de obrigação de fazer para forçar com que a empresa cumpra a promessa (oferta) realizada. Exposição à prática comercial do fornecedor. 
 Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, EQUIPARAM-SE AOS CONSUMIDORES todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas
ATENÇÃO: pode ser uma coletividade de pessoas determinável ou determinada!
2.3. CONSUMIDOR EM SENTIDO COLETIVO
Fundamento legal no art. 2º, parágrafo único do CDC, que dispõe que “equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo”.
Por essa regra, tem-se a tutela coletiva dos interesses dos consumidores, determináveis ou não, sem que se exija a prática de um ato de consumo propriamente dito. Ex: se um sujeito compra um colírio lubrificante que é usado por vários membros de sua família, sendo que aqueles que o utilizaram tiveram grave inflamação nos olhos, todos que o usaram são consumidores, ainda que não tenham firmado contrato de consumo!
Precedentes do STJ
Aplica-se o CDC ao condomínio de adquirentes de edifício em construção, nas hipóteses em que atua na defesa dos interesses dos seus condôminos frente a construtora ou incorporadora. STJ. 3ª T. REsp 1.560.728-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 18/10/16 (Info 592). Desse modo, o condomínio pode ser incluído nesta definição de consumidor equiparado. O STJ tem, inclusive, um precedente antigo afirmando que é possível a aplicação do CDC nas ações em que o condomínio litiga contra empresa prestadora de serviços, estando presente relação de consumo: “(...) Existe relação de consumo entre o condomínio de quem é cobrado indevidamente taxa de esgoto e a concessionária de serviço público.” (...) STJ. 2ª T. REsp 650.791/RJ, Rel. Min. Castro Meira, j. 6/4/06.
ATENÇÃO: Não se aplica o CDC a relações entre condôminos e condomínio quanto às despesas de manutenção deste. STJ. 2ª T. REsp 650.791/RJ, Rel. Min. Castro Meira, j. 6/4/06. ##Jurisprud. Teses/STJ – Ed. 74 – Tese 14: Não incide o Código de Defesa do Consumidor nas relações jurídicas estabelecidas entre condomínio e condôminos.
· PESSOA JURÍDICA = pode ser consumidora, desde que seja destinatária final do produto ou serviço. Informativo 592 do STJ é importante! Ainda: É consumidor a microempresa que celebra contrato de seguro com escopo de proteção do patrimônio próprio contra roubo e furto, ocupando, assim, posição jurídica de destinatária final do serviço oferecido pelo fornecedor. STJ. 4ª T., REsp 814.060, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 06/04/10. 
A jurisprudência do STJ tem evoluído no sentido de somente admitir a aplicação do CDC à pessoa jurídica empresária excepcionalmente, quando evidenciada a sua vulnerabilidade no caso concreto; ou por equiparação, nas situações previstas pelos arts. 17 e 29 do CDC. STJ. 3ª T., AgRg no REsp 687.239/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 06/04/06.
Fornecedor 
Art. 3º do CDC dispõe o conceito de fornecedor:
Art. 3° FORNECEDOR É toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que DESENVOLVEM atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
Fornecedor é todo aquele que possui a intenção de obter lucro através da utilização de um produto ou um serviço. Nesse ínterim, pessoa física pode ser fornecedor. É importante notar, ainda, que a expressão “fornecedor” é utilizada no Código como gênero, do qual são espécies: fabricante, montador, criador, importador, distribuidor, comerciante etc. 
· PESSOA FÍSICA: para que uma pessoa física seja considerada fornecedor, é necessário que se identifique a habitualidade, que é elemento nuclear do conceito de fornecedor – desenvolvimento de atividade profissional de forma habitual, com alguma especialidade e visando a vantagem econômica. 
Habitualidade: a atividade deve estar relacionada com sua atividade principal; Especialização: por meio de conhecimento técnico destacado; Fim econômico: normalmente envolve uma contraprestação pecuniária ou remuneração.
A habitualidade insere-se tanto no conceito de fornecedor de serviços quanto no de produtos, para fins de incidência do CDC. BL: art. 3º, CDC.
Precedente do STJ
“para o fim de aplicação do Código de Defesa do Consumidor, o reconhecimento de uma pessoa física ou jurídica ou de um ente despersonalizado como fornecedor de serviços atende aos critérios puramente objetivos, sendo irrelevantes a sua natureza jurídica, a espécie dos serviços que prestam e até mesmo o fato de se tratar de uma sociedade civil, sem fins lucrativos, de caráter beneficente e filantrópico, bastando que desempenhem determinada atividade no mercado de consumo mediante remuneração” (STJ, REsp. nº 519.310/SP, 3ª Turma, rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20.04.2004, DJe 24.05.2004).
Os "entes despersonalizados" estão abrangidos pelo artigo de forma a evitar que a falta de personalidade jurídica venha a ser empecilho na hora de tutelar os consumidores, evitando prejuízos a estes. A família, por exemplo, praticando atividades tipicas de fornecimento de produtos e serviços, segundo o enunciado do art. 3º, seria considerada fornecedora para os efeitos legais. Outros exemplos seriam a sociedade de fato, os camelôs, o espólio, etc.
Como foi cobrado
É considerado fornecedor de produtos ou prestador de serviços, entre outros, a pessoa jurídica de direito público ou privado, a massa falida, o espólio, a sociedade irregular e a sociedade de fato, independentemente de serem ou não filantrópicas ou terem ou não fins lucrativos – CORRETA 
1. FORNECEDOR POR EQUIPARAÇÃO 
Da mesma forma, aqui tem-se a espécie de fornecedor por equiparação. Fornecedor por equiparação são terceiros fornecedores alheios à relação de consumo base, mas que se aliam com os fornecedores e podem causar danos em razão disso.
Exemplo: as empresas especializadas em banco de dados de consumo, como o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e a Serasa, bem como as seguradoras que oferecem garantia entendida na aquisição de produtos, como nas lojasde departamento. Um hospital presta serviço a cliente credenciado por plano de saúde. Os bancos de dados possuem uma série de procedimentos para negativação e um desses atos é a notificação do consumidorc (Súmula 359, que prevê: “Cabe ao órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito a notificação do devedor antes de proceder à inscrição”). Lado outro, a garantia estendida é um contrato de seguro.
Claudia Lima Marques bem resumiu a teoria do fornecedor equiparado, definindo-o como “aquele terceiro na relação de consumo, um terceiro apenas intermediário ou ajudante da relação de consumo principal, mas que atua frente a um consumidor (aquele que tem seus dados cadastrados como mau pagador e não efetuou sequer uma compra) ou a um grupo de consumidores (por exemplo, um grupo formado por uma relação de consumo principal, como a de seguro de vida em grupo organizado pelo empregador e pago por este), como se fornecedor fosse (comunica o registro no banco de dados, comunica que é estipulante no seguro de vida em grupo etc.)”.
COMO FOI COBRADO
"As empresas seguradoras, 1~m razão da natureza do contrato de seguro, disciplinado pelo Código Civil (arts. 757 a 802), estão regidas apenas por este último, protegidas da inicidência das normas do Código de Defesa do Consumidor – ERRADO! 
“Para os efeitos do coe, não se considera fornecedor a pessoa jurídica pública que desenvolva atividade de produção e comercialização de produtos ou prestação de serviços." – ERRADA! 
"Considerando que, em determinada festa, a explosão de uma garrafa de refrigerante cause danos a algumas pessoas, assinale a opção correta. C) Caso se trate de produto importado, o importador será considerado fornecedor presumido e responderá de forma objetiva pelos danos causados."
Considerando a jurisprudência do STJ, assinale a opção correta acerca de fornecedor, proteção contratual e responsabilidade: Empresa jornalística não pode ser responsabilizada pelos produtos ou serviços oferecidos por seus anunciantes, sobretudo quando não se infira ilicitude dos anúncios. BL: art. 3º, CDC e entendimento do STJ.
Segundo o STJ, “nos contratos de compra e venda firmados entre consumidores e anunciantes em jornal, as empresas jornalísticas não se enquadram no conceito de fornecedor, nos termos do art. 3º do CDC. A responsabilidade pelo dano decorrente do crime de estelionato não pode ser imputada à empresa jornalística, visto que essa não participou da elaboração do anúncio, tampouco do contrato de compra e venda do veículo”. (STJ, REsp 1046241/SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª T., j. 12/8/10). 
"As normas do Código de Defesa do Consumidor não se aplicam às relações de compra e venda de objeto totalmente diferente daquele que não se reveste da natureza do comércio exercido pelo vendedor. No caso, uma agência de viagem. Assim, quem vendeu o veículo não pode ser considerado fornecedor à luz do CDC."(STJ, AGA 150829/DF, Rei. Min. Waldemar Zveiter, DJ 11/05/1998)
O Estatuto do Torcedor, Lei 10.671/2003, no art. 3Q, equipara a fornecedor a entidade responsável pela organização da competição, bem como a entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo. Assim, sendo as entidades envolvidas com as atividades esportivas equiparadas a fornecedores, os torcedores também serão considerados consumidores. Também é a previsão do art. 42, §3º da Lei 9.615/98 (Lei Pelé). O Estatuto do Torcedor também previu a defesa coletiva dos torcedores/consumidores no art. 40., instituindo que a defesa dos interesses e direitos dos torcedores em juízo observará, no que couber a mesma disciplina da defesa dos consumidores em juízo de que trata o CDC.
	Fornecedor real
	Envolve o fabricante, o produtor e o construtor.
	Fornecedor aparente
	Compreende o detentor do nome, marca ou signo aposto no produto final.
	Fornecedor presumido
	Compreende o importador de produto industrializado ou in natura e o comerciante de produto anônimo (art. 13, CDC). Ex: comerciante. 
Objeto da relação de consumo
Ao lado dos conceitos de fornecedor e consumidor, temos as noções acerca do objeto da relação de consumo, que pode ser um produto ou um serviço. 
1. PRODUTO 
Art. 3º, §1º do CDC:
§ 1° PRODUTO é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial
Temos o legislador utilizando-se do princípio de cláusulas em aberto, ou seja, criou uma norma ampla que dá a possibilidade de a norma ser eficiente por mais tempo. Quando tem-se bens imateriais, no conceito de produto, se abarca também softwares e programas de computador, inexistentes à época de elaboração do CDC.
2. SERVIÇO 
Art. 3º, §2º do CDC:
§ 2° SERVIÇO é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante REMUNERAÇÃO, INCLUSIVE as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, SALVO as decorrentes das relações de caráter trabalhista
Trata-se de rol exemplificativo. Atenção aos seguintes elementos do conceito de serviço:
a. Remuneração = a palavra remuneração deve ser interpretada de maneira relativa haja vista a existência de serviços aparentemente gratuitos. remuneração indireta do fornecedor, que compreende benefícios comerciais decorrentes de atividades aparentemente gratuitas.
“o fato de o serviço prestado pelo provedor de serviço de internet ser gratuito não desvirtua a relação de consumo, pois o termo ‘mediante remuneração’, contido no art. 3º, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor, deve ser interpretado de forma ampla, de modo a incluir o ganho indireto do fornecedor” (STJ, REsp. nº 1.186.616/MG, 3ª Turma, rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23.08.2011, DJe 31.08.2011).
ATENÇÃO: os serviços sempre terão que ser remunerados para a configuração da relação de consumo, mesmo que a remuneração seja indireta. Já o produto não precisa de remuneração para se configurar a relação de consumo. Ex: amostra grátis do art. 39 do CDC.
Inexiste violação ao art. 32, § 22, do Código de Defesa do Consumidor, porquanto, para a caracterização da relação de consumo, o serviço pode ser prestado pelo fornecedor mediante remuneração obtida de forma indireta." (STJ, REsp 566468 / RJ, Rei. Min. Jorge Scartezzini, DJ 17/12/2004)
Súmula 602 do STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável aos empreendimentos habitacionais promovidos pelas sociedades cooperativas.
b. Natureza bancária = os bancos não gostam da aplicação do CDC. Súmula 297 do STJ firmou o entendimento de que se aplica sim o CDC. 
c. Crédito e caráter securitário = seguros de saúde também se submetem ao CDC, Súmula 608 do STJ, salvo aqueles planos de saúde administrados por entidades de auto gestão. A finalidade do plano de saúde é obtenção de vantagem econômica (lucro) enquanto que os planos de saúde de auto gestão não tem finalidade de lucros. 
Serviço público de saúde: NÃO se aplica o CDC! Não há remuneração. As Turmas de Direito Público que integram esta Corte já se manifestaram no sentido de inexiste qualquer tipo de remuneração direta no serviço de saúde prestado por hospital público, posto que seu custeio ocorre por meio de receitas tributárias, de modo que não há falar em relação consumerista ou aplicação das regras do CDC à hipótese. STJ. 2ª T., AgRg no REsp 1471694/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 25/11/14. (...) Quando o serviço público é prestado diretamente pelo Estado e custeado por meio de receitas tributárias não se caracteriza uma relação de consumo nem se aplicam as regras do CDC. STJ. 2ª T., REsp 1187456/RJ, Rel. Min. Castro Meira, j. 16/11/10.
Conforme entendimento do STJ, o Código de Defesa do Consumidor se aplica aos serviços públicos que sejam remunerados mediante tarifa ou preço público. O serviço púbico de saúde tem natureza uti universi (grupamentos indeterminados). 
“Os serviços públicos podem ser próprios e gerais, sem possibilidade de identificação dos destinatários. São financiados pelos tributos e prestados pelo próprio Estado, tais como segurança pública, saúde, educação, etc. Podem ser também impróprios e individuais, com destinatários determinados ou determináveis. Neste caso, têm uso específico e mensurável,tais como os serviços de telefone, água e energia elétrica (STJ, REsp. nº 793.422/RS, 2ª Turma, rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 03.08.2006, DJe 17.08.2006).
d. Caráter trabalhista = se existir vínculo empregatício não tem relação de consumo. 
Como foi cobrado
A responsabilidade de uma fábrica pelos ferimentos sofridos por um empregado em decorrência da explosão de um produto nas suas dependências será dirimida pelas regras aplicáveis ao fornecedor de produtos – ERRADA! 
JURISPRUDÊNCIA DO STJ A RESPEITO DO TEMA EM GERAL
A relação entre concessionária de serviço público e o usuário final dos serviços públicos essenciais, tais como energia elétrica, é consumerista, sendo cabível a aplicação do CDC. STJ. 2ª T. AgInt no AREsp 1061219/RS, Rel. Min. Og Fernandes, j. 22/8/17.
É firme o entendimento no STJ de que a relação entre a empresa concessionária de serviço público de fornecimento de água e o usuário final classifica-se como consumerista. Correta, portanto, a aplicação das disposições do CDC. (STJ, 1ªT., AgRg no Ag 1418635/RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 16/10/12).
O CDC aplica-se aos contratos de seguro (art. 3º, § 2º), bem como aos planos de capitalização, atividade financeira a eles equiparada para fins de controle e fiscalização (art. 3º, §§ 1° e 2, do Decreto-Lei 261, de 28 de fevereiro de 1967). O seguro, como outros contratos de consumo, pode ensejar conflitos de natureza difusa (p. ex., um anúncio enganoso ou abusivo), coletiva stricto sensu e individual homogênea. STJ. 2ª T., REsp 347.752/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 08/05/07.
	APLICAÇÃO DO CDC RECONHECIDA PELO STJ
	Operadora de serviços de assistência à saúde que presta serviço remunerado à população
	Canal de televisão e seu público
	Agente financeiro do Sistema Financeiro de Habitação que concede empréstimo para aquisição de casa própria + o mutuário
	Sociedades ou associação sem fins lucrativos que forneçam produtos ou serviços remunerados
	Seguradora e concessionária de veículos que firmam seguro empresaria visando o patrimônio desta 
	Fundos de investimento firmados entre as instituições financeiras e seus clientes 
	Proprietário do imóvel e a imobiliária 
	Sociedade empresária vendedora de aviões e a sociedade empresária de imóveis que tenha adquirido o avião com o objetivo de facilitar o deslocamento de sócios e funcionários 
	Instituições financeiras 
	Contratos de planos de saúde, salvo os de autogestão
	Entidades abertas de previdência complementar 
	NÃO APLICAÇÃO DO CDC CONFORME ENTENDIMENTO DO STJ
	Relações entre condomínio e condômino
	Locação predial urbana 
	Contrato de franquia 
	Representante comercial autônomo e sociedade representada 
	Lojistas e administradores de shopping center
	Serviços advocatícios
	Fornecedor de equipamento médico-hospitalar e o médico que firma contrato de compra e venda de equipamento com cláusula de reserva de domínio
	Contrato de transporte internacional de mercadoria destinada a incrementar atividade comercial do contratante 
	Contrato previdenciário celebrado com entidade fechada
	Reparação de danos em razão de infortúnios de transporte aéreo internacional (Convenção de Varsóvia) – STF 
Direitos dos consumidores 
A proteção aos direitos dos consumidores está prevista em grande escala no art. 6º do CDC e também no art. 7º, também do CDC. 
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
 I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;
 II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; (Redação dada pela Lei nº 12.741, de 2012) Vigência
 IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; (direito à publicidade, 
 V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;
 VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;
 VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;
 VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;
 X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.
XI - a garantia de práticas de crédito responsável, de educação financeira e de prevenção e tratamento de situações de superendividamento, preservado o mínimo existencial, nos termos da regulamentação, por meio da revisão e da repactuação da dívida, entre outras medidas; (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)
XII - a preservação do mínimo existencial, nos termos da regulamentação, na repactuação de dívidas e na concessão de crédito; (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)
XIII - a informação acerca dos preços dos produtos por unidade de medida, tal como por quilo, por litro, por metro ou por outra unidade, conforme o caso. (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)
 Parágrafo único. A informação de que trata o inciso III do caput deste artigo deve ser acessível à pessoa com deficiência, observado o disposto em regulamento. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
· São interesses mínimos, materiais ou instrumentais relacionados aos direitos fundamentais universalmente consagrados que, diante da relevância social e econômica, merecem proteção legislativa.
· O art. 6º apresenta tão somente um rol exemplificativo (numerus apertus) – caráter principiológico do CDC. 
Já o art. 7º do CDC trata da permissão acerca da teoria do diálogo das fontes, dispondo que se deve aplicar a lei que seja mais benéfica ao consumidor, somando-a ao microssistema consumerista:
Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e eqüidade.
Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.
	
	Direito à incolumidade física
	Qualidade-segurança do produto e serviço colocado em mercado. Relação com o art. 8º do CDC e a fase preventiva do direito do consumidor. Produtos e serviços não podem oferecer riscos à integridade dos consumidores, salvo aqueles normais e previsíveis. Relação: art. 8, 9 e 10
	
Educação para o consumo
	Decorrente do princípio da vulnerabilidade técnica, os consumidores devem ser adequadamente educados para garantir a liberdade de escolha e igualdade. Princípio da equivalência negocial: igualdade de condições no momento de contratação ou aperfeiçoamento da relação jurídica patrimonial. Hipervulnerabilidade é mais protegida (tendência jurisprudencial). 
 Relação: art. 30 a 35
	Direito à informação
	Educação é diferente de informação. Essa ultima serve para promover igualdade e reequilibrar a relação de consumo. Decorre do princípio da boa fé objetiva (inobservância acarreta inadimplemento contratual e responsabilidade civil). Tem aspecto formal (mera comunicação) e aspecto

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