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1 Química I Denise Gentili Nunes Com colaboração dos monitores Flaviane Rodrigues, Lana Priscila, Dyego de Queiroz Brum, Carolina Freitas, Victor Veloso, Guilherme Santos, Ricardo Varella, Isabela Galhano, Guilherme Cantelmo, Bernardo Dovichi e Vinicius Borges Versão 2020-1 Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET/RJ 2 Sumário Capítulo 1 – Estrutura Atômica ....................................................................................... 3 Capítulo 2 – 1ª Lei da Termodinâmica .......................................................................... 14 Capítulo 3 – 2ª e 3ª Leis da Termodinâmica ................................................................. 36 Capítulo 4 – Equilíbrio Físico ....................................................................................... 52 Capítulo 5 – Cinética Química ...................................................................................... 69 Capítulo 6 – Equilíbrio Químico ................................................................................. 102 Capítulo 7 – Equilíbrio em fase aquosa .................................................................... 117 Capítulo 8 – Eletroquímica ......................................................................................... 140 Tabela periódica .......................................................................................................... 147 Referências Bibliográficas .......................................................................................... 148 3 Capítulo 1 – Estrutura Atômica 1.1. EVOLUÇÃO DO MODELO ATÔMICO Figura 1: Cientistas Dalton, Thompson, Rutherford, Bohr A teoria sobre modelo atômico se iniciou pelas inúmeras perguntas de que era constituída a matéria. Leucipo e Demócrito (450 a.c), eram filósofos que criaram suposições, hipóteses, mas não comprovadas. Eles pensavam que a matéria era dividida até um menor tamanho possível considerando que o menor tamanho era uma partícula denominada por átomo (a=não e tomos= partes). Definiram o átomo como uma partícula maciça e indivisível. No século XIX esse conceito retomou, mas agora com base em experimentos, cientistas criaram modelos para definir o átomo. A evolução do modelo atômico se deu pelos cientistas: 4 Dalton (1803): Retomou as ideias de Leucipo e Demócrito e definiu o átomo como uma esfera maciça, indivisível e de carga elétrica nula, como se fosse uma bola de bilhar. Todos os átomos só se diferenciavam no tamanho e massa. Mas o dia a dia foi levando a se pensar que cargas elétricas deveriam existir para explicar alguns fenômenos como os trovões, a atração do papel a um pente após passar pelo cabelo,... O modelo de Dalton não explicava esses fenômenos. Thompson (1897): Estudou os raios catódicos através de uma ampola de Crooks (Figura 2). O Funcionamento da ampola de Crooks consistia em um tubo de vidro fechado com um eletrodo positivo e outro negativo onde passava um gás e quando submetido a uma alta voltagem produziam raios catódicos. Quando passava um capo elétrico externo, esses raios desviavam para o eletrodo positivo. Descobriu-se a partícula negativa que foi denominada de életron. Como a matéria era neutra, entao deveria haver partículas positivas para neutralizar as cargas, que foi denominada de próton. Figura 2: Ampola de Crooks Após o experimento Thompson definiu o átomo como uma bolha gelatinosa, não maciça, formada por cargas positivas com partículas negativas suspensas, como se fosse um pudim com passas ou panetone com frutas. Rutherford (1911): Iniciou a radioatividade, onde bombardeou uma fina lâmina de ouro com partículas vinda do polônio (substância radioativa) dentro de um bloco de Chumbo (Figura 3). Com esse experimenyo, Rutherford verificou que o átomo possuia um núcleo, com cargas +, mas que deveria haver outra partícula não carregada mas com massa dentro do núcleo, então definiu a partícula denominada de neutron. Postulou que o átomo possuía um núcleo com 5 protons e neutrons e que os eletrons ficavam girando ao redor em órbitas ao redor do núcleo, como se fossem planetas ao redor do sol. Figura 3: Descoberta das partículas radioativas Rutherfor-Bohr (1913): Foi o nome dado ao modelo porque Bohr não descordou de Rutherford, apenas completou seu modelo. Bohr verificou que haviam sete camadas eletrônicas (órbitas) denominada de K, L, M, N, O, P e Q. Cada uma possuindo um número exato de eletrons e um patamar de energia (Figura 4). Esses elétrons ficam distribuidos em nível (camadas, n=1...7)) e subnível (s, p, d, f) e por ordem crescente de energia, conforme o Diagrama de Paulinng (Figura 5). Os subniveis s, p, d, f possuem 1, 3, 5 e 7 orbitais, respectivamente (Figura 6). Cada orbital comporta 2 eletrons, de modo que os subniveis s, p, d, f possuem 2, 6, 10 e 14 eletrons, respectivamente. Bohr também verificou que os elétrons possuem um quantum de energia, que são pacotes de energia, de quantidade não definida. Ao sair da camada de menor para maior energia, absorvem energia e ao retornar emitem uma energia. Figura 4: Diagrama de níveis de energia 6 Figura 5: Diagrama de Pauling Figura 6: Diferentes formas dos orbitais s, p, d, f. Schrondinger, De Broglie e Heisenberg desenvolveram a mecânica ondulatória definindo novas teorias sobre os átomos. 7 1.2 A NATUREZA DUAL DA LUZ E DO ELÉTRON Como a luz se comporta no espaço? Inicialmente se pensou que a luz é uma energia e que se propaga como uma onda. Conhecemos a luz visível ou não como um tipo de radiação eletromagnética com diferentes frequencias e comprimetos de onda (Figuta 7). Figura 7: Radiação eletromadnética Mas será que a luz tambem não se comporta como uma partícula? Foi através da descoberta do efeito fotoelétrico que se verificou que a luz tambem poderia se comportar como uma partícula. Um experimento realizado incindindo uma luz sobre um metal, foi possível verificar que a luz carrega pacotes de energia suficientes capaz de arrancar eletrons do metal (Figura 8). Figura 8: Efeito fotoelétrico Então a luz tem natureza dual: ora se comporta como onda ora como partícula. E o elétron? De Broglie propos que o eletron tambem tem natureza dual. 8 Para entender como se comportam as ondas e as partículas, foi realizado um experimento da fenda dupla com ondas e partículas e elass se comportavam de maneira diferente. Resumo do experimento: Quando varias partículas são atiradas em uma fenda e bate em um anteaparo apresenta uma linha contínua no anteparo. Ao serem atiradas em uma dupla fenda, aparecem duas linhas contínuas no anteparo. Quando uma onda passa por uma fenda e bate em um anteaparo apresenta uma linha contínua no anteparo, mas ao passar por uma dupla fenda, no anteparo aparecem várias linhas contínuas. As ondas se sobrepoem e aonde as ondes se encontram aparecem franjas claras no anteparo e aonde as ondas se anulam aparecem franjas escuras no anteparo. De modo que chamamos isso de fenômeno de interferência que só acontece com as ondas(Figura 9). Figura 9: (a) Comportamento de partícula e (b) comportamento de uma onda. 1.3 GRANDEZAS ATÔMICAS Os diferentes elementos químicos podem ser identificados pelos seus respectivos números de prótons (P). O número de prótons é denominado de número atômico (Z). P=Z Em um átomo neutro, o número de prótons (P) é igual ao número de elétrons (e). Outra grandeza importante no estudo dos elementos químicos é o número de massa (A), que se dá pela soma do número atômico (Z) com o número de nêutrons (N). A = N+Z 9 Os átomos mantêm entre si algumas relações e podem ser considerados como Isótopos (quando possuem mesmo número de prótons), Isóbaros (quando possuem mesmonúmero de massa), Isótonos (quando possuem mesmo número de neutrons) e Isoeletrônicos (quando possuem mesmo número de eletrons). 1.5 RADIOATIVIDADE A radioatividade é a capacidade que alguns elementos instáveis possuem de emitir energia sob a forma de partículas ou radiação natural ou artificial. Existem benefícios e preocupação com o uso da radioatividade. Benefícios com a radiação. Ex.: radioterapia ajuda na medicina, esterilização, usinas nucleares,... Preocupação: exposição ao raio x, acidentes nas usinas nucleares podem ser fatais Figura 10: Partículas 2α4, -1 β0, 0 γ0 Ref: www.virtual.ufc.br As partículas radioativa possuem massa, número atômico e nêutron. Ex.: yAx, onde a partícula A possui massa x e número atômico y. O número de nêutron é x-y Descoberta das partículas 2α4, -1 β0, 0 γ0 (Figura 10) Partículas α são partículas mais fracas (2α4) Partículas β são moderadas (-1 β0) Partículas γ são mais fortes (0 γ0) Exemplo de elementos radioativos que emite partículas α 90Th232 2α4 + 88Ra228 10 Exemplo de elemento que emite particula beta 90 Th 234 -1Β0 + 91 Pa 234 Exemplo de elemento que emite particulas alfa e beta 92 U 238 X 2α4 + Y-1Β0 + 84 Po 206 238-206=32/4=8=X 92-16=76+8=84 ou 84+16=100-92=8 Y=8 Fissão e fusão nuclear Fissão nuclear - quebra de um núcleo radioativo pesado e instável por meio de bombardeamento de um neutron gerando 2 nucleos e liberando energia. Acontece uma reação em cadeia. Ex: bombas atômicas. Fusão nuclear – varios núcleos de elementos iguais se unindo para gerar um núcleo maior e mais estável liberando quantidade de calor muito maior que a fissão. Núcleos leves originando núcleo mais pesado) . Ex.: bomba de Hidrogenio 1H2 + 1H3 2He4 + 0n1 11 Séries radioativa Series radioativa é o conjunto de elementos que tem origem na emissão de partículas alfa e beta, originando, como produto final, um isotopo estável do chumbo. Todos os elementos radioativos existentes originaram-se de um dos tres isotopos a seguir: Urânio-238, Urânio-235 ou Tório-234. Assim, temos a serie radioativa do urânio (U), a serie radioativa do actinio (Ac- que, na verdade, é a serie do urânio-235, porque quando esse nome foi atribuiído a essa serie, acreditava-se que o primeiro elemento fosse o actinio) e a serie radioativa do tório (Th). Visto que a emissão de uma partícula alfa diminui o número de massa do elemento em 4 unidades e a emissão de uma partícula beta não altera esse número de massa, é possível descobrir a serie à qual determinado elemento radioativo pertence. Basta dividir o seu número de massa por 4 e verificar o resultado: Se o resultado der exato, isto é, com resto igual a zero → série do tório; Se der resto igual a 2 → série do urânio-238; Se der resto igual a 3 → série do urânio-235 (série do actínio). Exemplo 1: Descubra à qual série de desintegração radioativa os seguintes elementos pertencem: 228Ra, 234Th, 231Pa: Resolução: Ra: 228 ÷ 4 = 57 (exato). Ele faz parte da série do tório. Th: 234 ÷ 4 = 58 e restam 2. Ele faz parte da série do urânio-238. Pa: 231 ÷ 4 = 58 e restam 3. Ele faz parte da série do urânio-235 ou série do actínio. Tempo de meia vida (t1/2) Tempo para metade da quantidade dos átomos de um isótopo radioativo de uma amostra se desintegrar. No No/2 No/4 1t1/2 2t1/2 12 Exemplo 2: Uma amostra radioativa tem um período de semidesintegração de 20 dias. Qual o tempo necessário para que 36g da amostra fique reduzida a 2,25g? R 36 - 18 - 9 - 4,5 - 2,25 (20) (20) (20) (20) 80 dias 1.6 APLICAÇÃO DA RADIOATIVIDADE *Medicina: Apesar dos efeitos nocivos da radioatividade, ela possui amplas aplicações benéficas na medicina. Atualmente, mais de uma centena de isótopos radioativos são usados nas mais diversas áreas da medicina, chegando ao ponto de inaugurar uma nova área de trabalho e pesquisa, denominada de medicina nuclear. Exemplos: 1-) Raios X: O uso mais corriqueiro da radioatividade na medicina é no caso dos raios X. Eles foram descobertos em 1895 e o fato de que com eles era possível ver os ossos e os dentes trouxe comoção geral. A medicina debruçou-se de imediato sobre as possibilidades de tal descoberta. Hoje eles são usados para tirar radiografias e diagnosticar fraturas ou lesões nos ossos. Radiografia de uma mão utilizando raios x 13 Funcionamento: Para fazer um raio X, é necessário colocar a parte do corpo a ser examinada, entre uma máquina que produz os raios X e uma placa dura de filme. Como o raio X é um tipo de radiação que consegue atravessar facilmente a pele, os tecidos moles e o ar, mas que é absorvido pelos tecidos mais duros, como os ossos, só os raios que atravessam conseguem chegar na placa de filme. Quando isso acontece, os raios que conseguiram passar provocam uma reação na prata do filme que a deixa preta. Assim, quando o filme é revelado, as partes moles e o ar aparecem a preto, enquanto os tecidos mais duros ficam a branco. Quando um técnico especializado de imagem avalia o filme, consegue referir as alterações presentes, permitindo que o médico chegue num diagnóstico. 14 1a Lista de Exercícios Estrutura Atômica 1) Qual a massa e o número atomico do átomo final obtido após um átomo radiativo de número atômico 90, contendo no núcleo 144 nêutrons, emitir duas partículas α e duas partículas β, consecutivamente? A que série pertence esse átomo? R 234 4 0 226 90 2 1 882 2 234 8 226 90 2 88 234 / 4 58 2 226 / 4 56 2 X X resto resto R: resto 2 serie do Uranio 238 2) Qual o elemento radiotivo que após dois decaimentos α e três decaimentos β chega ao 82 Pb 206, Veja na tabela periódica: R 214 206 0 4 83 82 1 23 2X Pb 83Bi214 3) O elemento radioativo natural 90 Th 232 , após uma série de emissões alfa e beta, isto é, por decaimento radioativo, converte-se em um isótopo não-radioativo, estável, do elemento chumbo, 82 Pb 208. Qual o número de partículas alfa e beta, emitidas após o processo, respectivamente? R: 232 – 208 = 24 12 + 82 = 94 232 4 0 208 90 2 1 826 4Th Pb 4) O elemento netúnio (93Np237), após a emissão de sete partículas alfa e quatro partículas beta, transforma-se em qual elemento químico? R: 237 – 28 = 209 14 + 4 = 10 237 4 0 209 93 2 1 837 4Nb X 5) Uma amostra de 32g de uma substância radioativa apresenta um perí odo de semi-desintegração de 20h. Qual O tempo necessário pra a amostra ficar reduzida a 2g? R: 32-16-8-4-2 5t1/2 (4x20=80) 80h 6) O período de semi-desintegração de certo isótopo é de 3h. Partindo-se de uma massa de 100g qual a massa deste radioisótopoao final de 15h? R: 100-50-25-12,5-6,25-3,125 7) Uma amostra de 64g de uma substância radioativa apresenta um perí odo de semi-desintegração de 20h. Qual o tempo necessário pra a amostra ficar reduzida a 2g? R: 64-32-16-8-4-2 5t1/2 (5x20=100) 8) O período de semi-desintegração de certo isótopo é de 3H. Partindo-se de uma massa de 200g ao final de 18H, qual a massa deste radioisótopo? R: 200-100-50-25-12,5-6,25-3,125 Gabarito 1)Serie do Uranio 238 2) 83Bi214 3)6 e 4 4) 209Bi83 5)80h 6)3,125g 7)100h 8)3,125g 15 Capítulo 2 – 1a Lei da Termodinâmica Antes de iniciarmos a termodinâmica é preciso falar um pouco dos gases ideais. A teoria cinética dos gases precede a termodinâmica. Para construir modelos foi preciso idealizar um gás. Para isso foram consideradas várias aproximações. Inicialmente se pensou em um gás monoatômico dentro de um compartimento fechado por um embolo. Pensou-se em como seria a colisão desse gás e o comparou a uma bola de bilhar. Nessas condições, quando uma partícula se choca com a outra ocorre colisãoperfeitamente elástica, ou seja, sem perda de energia, transferindo energia e sem reação quimica. As moléculas podem se chocar entre si e também com as paredes. As moléculas ficam bem afastadas para não haver atração nem repulsão. Para isso precisam estar em baixa pressão. A pressão que o gás exerce é medida através da forca pela área: P=F/A (N/m2). A energia interna (U) desse sistema (parte interna do recipiente) é a soma de todas as energias que podem envolver a colisão (Energia cinética, potencial, rotacional, vibracional...). Essa energia esta associada a movimentação das moléculas. Sendo as energias potencial, rotacional, vibracional quase desprezíveis, então praticamente a enegia interna eh função da energia cinética das partículas que pode ser definida como: 2 2mv Ec Para um gás monoatômico temos: PVU 2 3 ou nRTU 2 3 A energia interna para um gás monoatômico depende exclusivamente da temperatura. Entao quando se aquece o gás, aumenta o choque entre as moléculas e consequentemente aumenta a energia interna do sistema. Para estudar o comportamento do gas ideal é melhor falar de grandezas macroscópicas como Pressão, Volume e Temperatura (referenciados por P, V, T). E difícil fazer medida de molécula por molécula, então para estudar o comportamento dos gases variando as condições de P, V, T, chegou-se a equação geral dos gases: 2 22 1 11 T VP T VP 16 A equação de Clayperon PV=nRT mostra com base na equação geral dos gases o possível comportamento de um gas em função de P, V, T. Sendo n o numero de mose R= 8,314 J/Kmol ou R=0,082atm.l/Kmol. O gas pode se comportar de acordo com as seguintes transformações: Isobarica (ocorre a P constante). Com base na equação de Clayperon, temos que na transformação isobarica o V eh diretamente proporcional a T Isometrica ou isovolumerica (ocorre a V constante). Com base na equação de Clayperon, temos que na transformação isometrica a P eh diretamente proporcional a T. Isotermica (ocorre a T constante). Com base na equação de Clayperon, temos que na transformação isotérmica a P eh inversamente proporcional ao V. Temos ainda a transformação adiabática (quando não há troca de calor). Nessa trasformação, quando o volume expande o gas esfria (ex.: quando aperta um 17 desodorante spray). Quando o volume comprime o gas esquenta (ex.: quando enche o pneu). Podemos dizer que: Na expansão adiabática, a temperatura e a presão diminuem, enquanto na compressão adiabática, tanto a temperatura como a pressão aumentam. As transformações adiabáticas podem ocorrer nos recipientes termicamente isolados, ou também através de uma compressão, ou de uma expansão muito rápida. Dessa forma, podemos concluir que quando um gás troca calor com o meio externo, demora algum tempo para que o calor se propague pela massa gasosa e para que esta entre em equilíbrio. Portanto, quando se efetua tanto uma expansão como uma compressão rápida, praticamente não há troca de calor com o meio externo. 2.1 PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA Porque precisamos conhecer a termodinâmica? A termodinâmica é a parte da química que estuda a energia e suas transformações. Explica porque as reações ocorrem; estuda o calor requerido ou produzido pelas reações. E estuda o comportamento de um gas dentro de um recipiente, como vimos anteriormente. Você já percebeu que quase toda a energia de que dependemos é derivada de reações químicas? Alguns exemplos são: a queima de combustíveis fósseis para produzir energia para nossas casas, carros, meios de transporte o funcionamento de uma bateria a reação de fotossíntese reações do nosso corpo quando ingerimos alimento e produzimos energia Só que alguns processos químicos podem além do que gerar energia na forma de calor podem também realizar trabalho, como por exemplo a ignição de um 18 automóvel. O que acontece nesse caso é que os gases em expansão no cilindro de um motor do automóvel realizam trabalho que movimentam as rodas. 2.2 CONCEITOS IMPORTANTES UTILIZADOS NA TERMODINÂMICA Sistema- Podemos considerar o sistema como a região na qual estamos interessados, a região limitada onde ocorre os processos químicos. (Ex.: recipiente com gás, corpo com água, etc.) Vizinhança- Podemos considerar a vizinhança como tudo ao redor do sistema. (Ex.: Banho Maria) Figura 2: Demonstração de um sistema e vizinhança (ref- Livro Quimica. A ciência central, de Brown, LeMay e Bursten, 9 Ed, pg 141) Existem três tipos de sistema onde podem ocorrer os processos químicos: Aberto: Sistema que pode trocar energia e matéria com a vizinhança. Ex.: panela aberta com um liquido quando coloca para ferver. Fechado: Sistema que pode trocar energia com a vizinhança, mas a matéria é fixa. Ex.: panela fechada com um liquido quando coloca para ferver ou uma bolsa térmica Isolado: Sistema que não troca nem energia nem matéria com a vizinhança. Ex.: Garrafa térmica 19 Figura 3: Diferentes tipos de sistema (ref- Livro Princípios de Quimica de Peter Atkins e Loretta Jones, pg 342). Energia interna (U) - É a energia armazenada em um sistema. Essa energia não é criada nem destruída, é apenas transferida ou transformada. Logo podemos considerar que a energia do Universo é conservada. Como já visto acima existem duas formas de energia: calor e trabalho. Com isso podemos dizer que é possível aumentar a energia de um sistema de duas maneiras: transferindo calor a ele ou realizando trabalho sobre ele. Na verdade o que estamos interessados é na mudança de energia que aconteceu no sistema, então, estamos interessados na variação de energia interna (∆U). Unidade SI para energia: J 1J = 1Kgm2/s2 Calor (q) - É a energia transferida como resultado de uma diferença de temperatura. Podemos dizer que é a energia em trânsito. O calor flui de uma região de temperatura alta para temperatura baixa. Uma vez estabelecido o equilíbrio térmico entre os sistemas, o trânsito do calor cessa. Se ∆U for alterada só por aquecimento, isto é, pela transferência de energia como calor, ∆U=q. Sendo o calor (q) expresso da seguinte maneira: q=C.∆T C (capacidade calorífica)- é a quantidade de calor absorvido para aumentar 1oC de temperatura ∆T (variação de temperatura)- é Tfinal - Tinicial A capacidade calorífica também pode ser expressa como: C = m.c m (massa) c (calor específico)- é a capacidade calorífica do material por grama. Substituindo na fórmula do calor, temos: q=m.c.∆T C = n.cm 20 N (número de mol) cm (capacidade calorífica molar) q=n.cm.∆T Unidade utilizada para calor, mas não é SI: cal Como a unidade SI para ∆U é J, temos que converter a unidade do calor da seguinte maneira: 1 cal= 4,184J. O calor específico para água é de 4,184 J/goC, ou seja, para elevar 1oC da água, são necessários 4,184J para cada grama de água Quando a parede do sistema é isolada termicamente, ou seja, não há transferência de calor, como acontece no sistema isolado a transformação é considerada adiabática. Analisando a transferência do calor, podemos dizer que quando: q>0 o sistema absorve energia, ou seja, o calor flui da vizinhança para o sistema q<0 o sistema libera energia, ou seja, o calor flui do sistema para a vizinhança Exemplo 1: Qual a quantidade de calor necessária para elevar meio litro de água de 20 ºC para 90 ºC? Considere o calor específico igual a 4,184 J/gºC e a densidade da água igual a 1 g/ml. R Q = m.c.ΔT Q = 500.4,184.(90-20) Q = 146,44 KJ Trabalho mecânico (W) - é a energia utilizada para fazer um objeto se mover contra a força. W= F x D F (força)- Unidade SI (N)- 1N=kgm/s2 D (distância)- Unidade SI (m) 21 Unidade SI para trabalho: W (J) Como já vimos: 1J= kgm2/s2 Unidade para converter para J: 1atm.L = 101,3J Nos gases esse trabaho mecânico é o trabalho de expansão(W). No trabalho de expansão, para que o êmbolo suba, as partículas do gás exercem uma força no êmbolo. Pela definição de pressão, temos: P=F/A, logo: F= P.A A variação do volume do gás pode ser calculada por ∆V=A.d, logo: d=∆V/A, onde d é o deslocamento do pistão. O trabalho de expansão é: W=F.d, substituindo F=P.A, temos: W = p.A.d, logo para uma variação de volume do gás temos: . . V W p A A W p V O W também pode ser calculado também pela área da curva PV. Através do diagrama PV. O trabalho de expansão (W)- É a energia que pode ser convertida em trabalho. Por exemplo: Um gas recebe calor que provoca agitação das moléculas, consequentemente aumenta a temperatura e expande o gas, realizando trabalho. Analisando o trabalho, quando: 22 W<0, temos que a vizinhança realiza trabalho sobre o sistema (compressão) W>0, temos que o sistema realiza trabalho sobre vizinhança (expansão) Funções de estado – São propriedades que dependem somente do estado atual, independente do caminho percorrido. ∆U é uma função de estado. W e q não são funções de estado. A 1a Lei da termodinâmica é a lei conhecida como a lei da conservação de energia. Quando a energia é perdida pelo sistema tem que ser aproveitada pela vizinhança e vice-versa. A lei pode ser expressa da seguinte maneira: q = ∆U + W, logo: ∆U= q - W Analisando a variação da energia interna, quando: ∆U>0, temos que o sistema ganhou energia da vizinhança ∆U<0, temos que o sistema perdeu energia para a vizinhança Exemplo 2: Um recipiente contém 500 g de hidrogênio sob pressão de 5 atm, a uma temperatura de 27 ºC. O gás é aquecido em volume constante até 127 ºC. Considerando o calor específico a volume constante igual a 10,07 J/gºC, calcule: (a) A quantidade de calor fornecida ao gás; (b) O trabalho realizado; (c) A variação na energia interna. R A) Q = m.c.ΔT B) W p V C) U Q W 500 10,07 100 503500 503 q x x q J q KJ w=0 ΔU=503KJ Muitas usinas e motores operam transformando energia térmica em trabalho. Ex.: Um gás aquecido pode realizar trabalho em turbina ou pistões fazendo eles se moverem 23 “Transformar trabalho em energia é fácil, a grande dificuldade é transformar energia em trabalho” Aplicando a 1a lei da termodinâmica para as transformações gasosas, temos: Adiabática (Q=0) Na transformação adiabática não há troca de energia térmica entre o sistema e a vizinhanca. Toda energia interna depende do trabalho ∆U= - W Expansão adiabática- a temperatura do gás diminui com a expansão porque o sistema precisa realizar trabalho Compressão adiabática- o trabalho efetuado no gas é feito por um agente externo e temperatura do gas aumenta Isocórica ou isométrica (volume constante) Na transformação isométrica o W=0, logo a energia interna só depende do calor De acordo com a Lei de Charles, temos: P/T = K, logo: P= KT. Entende-se que a pressão aumenta com o aumento da temperatura. ∆U= q Isotérmica (temperatura constante) Na transformação isotérmica, a temperatura é constante. De acordo com a Lei de Boyle, temos: PV = constante. Entende-se que a pressão diminui com o aumento do volume. Como ∆U depende da temperatura, ∆U=0 na transformação isotérmica. Q = W Isobárica (pressão constante) Na transformação isobárica a pressão é constante. De acordo com a Lei de Charle e Gay Lussac, temos: V/T=K, logo: V=KT. Entende-se que o volume aumenta com o aumento da temperatura. ∆U= q - W 24 2.3 TERMOQUÍMICA É uma parte da termodinâmica onde estuda a energia nas reações químicas. A propriedade que estudamos na termoquímica é a entalpia (H). Entalpia (H) – fluxo de calor nas mudanças químicas que ocorrem à pressão constante quando nenhuma forma de trabalho é realizada. Como a entalpia é uma função de estado também estamos interessados em estudas a variação de entalpia (ΔH) de um sistema. Então a pressão constante temos: q=∆H e W= p∆V. Substituindo em ∆U=q-W, temos: ∆U=∆H-p∆V Podemos expressar a entalpia da seguinte maneira: H = U + pV Como essas propriedades são função de estado, temos que: ∆H = ∆U + ∆(pV) Para sistemas a volume constante temos: ∆H = ∆U + V∆p Mas em termodinâmica estamos mais interessados em sistemas a p constante, temos: A variação de entalpia é equivalente a variação de energia corrigida pelo termo p∆V. ∆H = ∆U + p∆V A variação de entalpia de um sistema é igual ao calor liberado ou absorvido a pressão constante. ∆H = q Quando transferimos energia de um sistema à pressão constante como calor, a entalpia do sistema aumenta. Analisado a variação de entalpia, quando: ∆H< 0, temos uma reação considerada exotérmica. O meio reacional tem sua temperatura aumentada, ou seja, libera calor para o meio ambiente ∆H> 0, temos uma reação considerada endotérmica. O meio reacional tem sua temperatura diminuída, ou seja, absorve calor do meio ambiente Nas reações químicas, é comum utilizar recipientes abertos submetidos a uma pressão constante. Desta forma, o calor é expresso como entalpia de reação. 25 Exemplo 3: A combustão do metano é dada pela seguinte reação: CH4 + 2 O2 → CO2 + 2H2O ΔH = -890 kJ (a) Qual o calor liberado na queima de 2 mols de CH4? (b) Quanto calor é liberado na produção de 108 g de água? Considere MMH2O = 18 g/mol. R A) B) 108 g = 6 mols de H2O e a cada combustão são produzidos 2 mols de água, portanto é necessária a queima de 3 mols de metano. Ou 2(18)___________890 108_______________X = 2670KJ Calorimetria- é a parte da termodinâmica que estuda o calor das reações químicas. O ΔH de uma reação é medido por um calorímetro. Calorímetro isolado termicamente (não troca calor com a vizinhança). Existe o calorímetro onde a reação química ocorre a pressão constante, como é o aso do calorímetro isolado. É usado para medir diretamente o valor de ΔH de reações que ocorrem em solução. O calor produzido pela reação é absorvido pela solução e a temperatura da solução é verificada, conforme a Figura 4a. Calorímetro a volume constante. É uma bomba calorimétrica (Figura 4b). É muito utilizado para medir calor de reações de combustão. A solução é colocada em um recipiente (bécher). Esse recipiente fica imerso em um banho de água. Quando a reação acontece, o calor gerado pela reação causa aumento de temperatura da água. A temperatura do calorímetro é medida antes e após a reação de modo a obter um ΔT de temperatura da água. Como o calor é gerado pela reação é expresso da seguinte maneira: q= C ΔT 26 onde C é a capacidade calorífica do calorímetro. Como uma calorímetro ocorre a volume constante da água que varia de temperatura, com a execução da reação, o calor gerado pela reação e a energia interna do sistema. (a) (b) Figura 4- (a) calorímetro, (b) bomba calorimétrica (ref- Livro Quimica. A ciência central, de Brown, LeMay e Bursten, 9 Ed, pg 155 e 156) Exemplo de uma reação de combustão: a combustão do metano é dada pela seguinte reação: CH4 + 2 O2 → CO2 + 2 H2O ∆H=-890 KJ/mol A queima de 1 mol de CH4 produz 890 KJ de calor. A mudança dos mols dos reagentes altera a variação de entalpia na mesma proporção, como exemplo: A queima de 2 mols de CH4 produzem 1780 KJ de calor. A produção de 108g de água libera de calor 2670KJ de calor. Se temos 36 g de água (2xMMH2O=18g/mol) liberando 890KJ de calor, logo 108g liberam 2670KJ A relação entre ∆H e ∆U quando numa reação química possui moléculas no estado gasoso (geralmente reação de combustão) 27 Para reações que não envolvem gases, a diferença entre ∆H e ∆U é desprezível, mas se um gás é consumido ou formado na reação, muito trabalho é realizado de modo que a diferença entre ∆H e ∆U é significativa. Podemos substituir a equação ∆H = ∆U +p ∆V, por: ∆H = ∆U +∆ngás R T ∆n = variação do número de mols na reação (produto – reagente da moléculas no estado gasoso), R= 8,314 J/k.mol e T (Temperatura em K) Exemplo 4 – Calcule a variação de energia interna para a equação a 298K: 2CO(g) + O2 (g) → 2CO2(g) ∆H =-566KJ/mol R 3 3 566 10 ( 1 8,314 298) 563,5 10 563 U H nRT U x x x U x J U KJ Lei de Hess É possível calcular o ∆H para uma reação a partir de valores de ∆H tabelados para outras reações. Como a entalpia é uma função de estado, uma reação pode ser executada em uma etapa ou em várias etapas de modo que a soma das etapas chega na equação de interesse. (Equação total ou global) As entalpias de reação encontram-se no estado padrão (∆Hº - entalpia padrão da reação) onde os reagentes e produtos estão no seu estado (puros. à 298 K e 1 atm). Uma sequência de reações pode ser combinada para fornecer a equação termoquímica para reação. Temos como exemplo C(s) + O2 (g) → CO2 (g) (Equação total) C(s) + ½ O2 (g) → CO (g) ∆Hº= -110,5 KJ CO(g) + ½ O2 (g) → CO2(g) ∆Hº= -283 KJ _____________________________________ C(s) + O2 (g) → CO2 (g) ∆H= -393,5 KJ 28 Exemplo 5: Calcule o ∆H da reação do propano a partir das sínteses de combustão: 3 C(s) + 4 H2 (g) → C3H8 (g) C3H8 (g) + 5 O2 (g) → 3 CO2 (g) + 4 H2O (l) ∆H= – 2220 kJ C (s) + O2 (g) → CO2 (g) ∆H= – 393 kJ H2 (g) + ½ O2 (g) → H2O (l) ∆H= – 286 kJ R 3 CO2 (g) + 4 H2O (l) → C3H8 (g) + 5 O2 (g) ∆H= – 2220.(-1) kJ 3 C (s) + 3 O2 (g) → 3 CO2 (g) ∆H= – 393.(3) kJ = -1179 4H2 (g) +2 O2 (g) → 4H2O (l) ∆H= – 286.(4) kJ=-1144 3 C(s) + 4 H2 (g) → C3H8 (g) (2220 -1179-1144= -103KJ Exemplo 6: A entalpia de combustão de C em CO2 é – 393 kJ/mol de C, e a entalpia de combustão de CO em CO2 é -283 kJ/mol de CO. Calcule a entalpia de combustão de C para CO: C (s) + ½ O2 (g) → CO (g) R C (s) + O2 (g) → CO2 (g) ∆H = – 393 kJ CO + ½ O2 (g) → CO2 (g) ∆H = – 283 kJ R C (s) + O2 (g) → CO2 (g) ∆H = – 393 kJ CO2 (g) → CO + ½ O2 (g) ∆H = – 283 kJ(-1)=283 C (s) + ½ O2 (g) → CO (g) ∆H = - 110KJ Exemplo 7: Calcule ∆H para a reação global: 2 C (s) + H2 (g) → C2H2 (g) C2H2 (g) + 5/2 O2 (g) → 2 CO2 (g) + H2O (l) ∆H= – 1299,6 kJ 29 C (s) + O2 (g) → CO2 (g) ∆H= – 393 kJ H2 (g) + ½ O2 (g) → H2O (l) ∆H= – 286 kJ R 2 CO2 (g) + H2O (l) → C2H2 (g) + 5/2 O2 (g) ∆H= – 1299,6 (-1)kJ=1299,6 2 C (s) + 2 O2 (g) → 2 CO2 (g) ∆H= – 393.(2) kJ=-786 H2 (g) + ½ O2 (g) → H2O (l) ∆H= – 286 kJ _______________________________________ 2 C (s) + H2 (g) → C2H2 (g) 1299,6 – 786 - 286 = 227,6 KJ Entalpia padrão de formação (KJ/mol) É a entalpia de reação para a formação de uma substância a partir de seus elementos na sua forma mais estável. A entalpia padrão de formação serve para calcular a entalpia padrão da reação. Pode ser calculada da seguinte maneira: ∆H° = ∑ n ∆H°f (produtos) - ∑ n ∆H°f (reagentes) Onde: ΔH0 é a entropia padrão da reação, n é o número de mols, ∆H 0 prod é a entalpia padrão dos produtos e ∆H0reag é a entalpia padrão dos reagentes. Exemplo 8: Calcule o ∆H° da combustão a partir das entalpias-padrão de formação. 2 C6H6 (l) + 15 O2 (g) → 12 CO2 (g) + 6 H2O (l) Dados: ∆Hºf C6H6 = 49,0 kJ/mol, ∆Hºf O2 = 0 J/mol, ∆Hºf CO2 = – 393,51 kJ/mol e ∆Hºf H2O = – 285,83 kJ/mol R 12( 393,51) 6( 285,83) 2(49) 6535,31 / H H KJ mol Exemplo 9: A variação de entalpia para a reação: CaCO3(s) → CaO(s) + CO2(g) é 178,1 kJ. A partir dos valores para as entalpias padrão de formação de CaO (s) e CO2 (g), calcule a entalpia padrão de formação de CaCO3 (s). Dados: ∆Hºf CaO = – 693,5 kJ/mol e ∆Hºf CO2 = – 393,51 kJ/mol 30 R 3 3 178,1 ( 693,5) ( 393,5) 1087 178,1 1265,11 / CaCO CaCO o f o f H H H KJ mol 2.4 APLICAÇÕES A seguir, veremos algumas aplicações no nosso cotidiano aonde se aplica os conceitos de termodinâmica Para cozinhar uma carne, por exemplo, o processo de cozimento é acelerado quando temos uma pressão maior, porque as reações químicas ocorrem mais rápido. A geladeira é um exemplo de máquina térmica, pois dentro dela temos uma temperatura mais baixa, retardando os processos químicos por diminuir os movimentos das moléculas, conservando os alimentos. A termodinâmica também é aplicada em larga escala nos automóveis. No processo de combustão, há uma grande liberação de calor e energia. Essa energia térmica é aproveitada para realizar o trabalho mecânico. A termodinâmica também é aplicada em outras situações, como na turbina de avião e nas usinas termoelétricas, que se utilizam do calor produzido pela fissão atômica. 31 2ª Lista de Exercícios 1ª Lei da Termodinâmica 1) A equação termoquímica para a combustão do cicloexano, C6H12 é: C6H12(l) + 9O2(g) → 6CO2(g) + 6H2O(l) Qual a variação na energia interna para a combustão de 1,00 mol de C6H12(l) a 298K? Dado: ΔH = -3.920kJ a 298K. 2) A gasolina, que contém octano como um componente, pode queimar a monóxido de carbono com fornecimento de ar restrito, segundo as reações: 2C8H18(l)+25O2(g)→ 16CO2(g) + 18H2O(g) ΔH0 = -10.942kJ 2CO(g) + O2(g) → 2CO2(g) ΔH0 = -566kJ Equação global: 2C8H18(l) +17O2(g) →16CO(g) +18H2O(g) Qual a entalpia padrão da reação de combustão incompleta do octano líquido a monóxido de carbono? 3) O dissulfeto de carbono pode ser preparado a partir de coque (uma fonte impura de carbono) e do enxofre elementar: 4C(s) + S8(s) →4CS2(l) ΔH0 = -358,8kJ (a) Quanto calor é absorvido na reação de 0,20 mol de S8? (b) Calcule o calor absorvido na reação de 20,0 g de carbono e excesso de S8. (c) Se o calor absorvido for de 217kJ, quanto de CS2 foi produzido? 4) A combustão do octano é expressa pela equação: 2C8H18(l)+25O2(g)→16CO2(g)+18H2O(g) ΔH0 = -10.942kJ (a) Calcule a massa de octano a ser queimada para liberar 12MJ. (b) Quanto de calor será gerado na combustão de 1,0gal de gasolina? Dados: Densidade do octano 0,70g/ml e 1,0gal = 3869ml 5) Dois estágios sucessivos na produção industrial de ácido sulfúrico são a combustão do enxofre e a oxidação do dióxido de enxofre a trióxido de enxofre. Baseado nas entalpias-padrão: S(s) + O2(g) →SO2(g) ΔH0 = -296,83kJ 2S(s)+3O2(g)→2SO3(g) ΔH0=-791,44kJ Calcule a entalpia para a reação: 2SO2(g) + O2(g) → 2 SO3(g) 6) A partir das seguintes reações: P4(s)+6Cl2(g)→4PCl3(l)ΔH0=-1278,8kJ PCl3(l)+Cl2(g)→PCl5(s) ΔH0 = -124 kJ Calcule a entalpia para a reação: P4(s)+10Cl2(g)→4PCl5(l) 7) A partir das seguintes reações: N2(g)+3H2(g) → 2NH3(g) ΔH0 = -92,22kJ NH3(g)+HCl(g)→NH4Cl(s) ΔH0=-176,0kJ N2(g) + 4H2(g) + Cl2(g) → 2 NH4Cl(s) ΔH0 = -628,86 kJ 32 Calcule a entalpia para a reação: H2(g) + Cl2(g) → 2HCl(g) 8) Determine a variação da energia interna, supondo que 1 mol de um certo gás sofra uma transformação conforme mostra o gráfico abaixo. Adote R = 8,314 J/mol.K e calor molar a volume constante Cv =16,72J/Kmol 9) Em um laboratório de Física, uma amostra de 20 g de cobre recebeu 186 cal de calor de uma determinada fonte térmica. Sabendo que o calor específico do cobre é 0,093 cal/g°C, determine a variação de temperatura sofrida pela amostra. 10) Determine a capacidade térmica de um corpo que recebeu 2000 calorias de calor de uma fonte térmica e sofreu uma variação de temperatura de 40 °C. 11) De acordo com a equação abaixo e os dados fornecidos, C2H2(g) + 5/2 O2(g) → 2 CO2 + H2O(l) (Dados: ΔHf0 do C2H2(g) = + 226, 5 kJ/mol; ΔHf0 do CO2(g) = -393,3 kJ/mol; ΔHf0 da H2O = - 285,5 kJ/mol) Indique qual o valor da entalpia padrão de combustão do acetileno, C2H2(g). 12) Uma antiga lâmpada usada em minas queimava acetileno, C2H2, que era preparado na própria lâmpada, gotejando-se água sobre carbeto de cálcio, CaC2,de acordo com a reação: CaC2 (s) + 2 H2O(l) → Ca(OH)2(s) + C2H2(g) Com as entalpias padrão de formação listadas na Tabela 1, determine o ΔH da reação. Tabela 1: Entalpias padrão de formação, ΔHf0, a 298 K CaC2(s) = -59 kJ/mol. H2O(l) = -286 kJ/mol. Ca(OH)2(s) = - 986 kJ/mol. C2H2(g) = + 227 kJ/mol. Pode-se afirmar que, à temperatura de 298 K, 13) Devido aos atentados terroristas ocorridos em Nova Iorque, Madri e Londres, os Estados Unidos e países da Europa têm aumentado o controle quanto à venda e produção de compostos explosivos que possam ser usados na confecção de bombas. Dentre os compostos químicos explosivos, a nitroglicerina é um dos mais conhecidos. É um líquido à temperatura ambiente, altamente sensível a qualquer 33 vibração, decompondo-se de acordo com a equação: 2 C3H5(NO3)3 (l) → 3 N2(g) + ½ O2(g) + 6 CO2 (g) + 5H2O (g) Considerando-se uma amostra de 4,54g de nitroglicerina, massa molar 227 g/mol, calcule a entalpia envolvida na explosão Dados: ΔHf0 do C3H5(NO3)3 (l) = - 364 kJ/mol; ΔHf0 do CO2(g) = -394 kJ/mol; ΔHf0 do H2O (g) = - 242kJ/mol. GABARITO 1)-3.912kJ 2)-6.414kJ 3a)71,76kJ 3b)149,5kJ 3c)183,8g 4a)250g 4b)1,3x105kJ 5)-197,78kJ 6)-1774,8kJ 7)-184,64kJ 8)3344J 9) 100o C 10) 50cal/0C 11) -1298,6 KJ/mol 12) -128KJ/mol 13) -28,46KJ/mol Gabarito da 2˚ lista de exercícios de Química – 1˚ Lei da Termodinâmica 1- H U ngásRT \n 6 9 3 3 3 3920 10 ( 3 8,314 298) 3912,5 10 3912,5 U H nRT U x x x U x J U KJ 2- Eq. Global: 2C8H18 17O2 ¾¾ 16CO18H2O (i) 8 18 2 2 22 25 16 18C H O CO H O H 10942kJ (-8x) 2COO2 2CO2 H 566kJ (ii) 16 CO2 16CO8O2 H 4528kJ (i)+ (ii) = 2C8H18 17O2 16CO18H2O H 6414kJ 3- a) 1molS8 358,8kJ 0, 2 x x 71, 76kJ b) (4C) 4x12358,8kJ 34 20g x x 149,5kJ c) CS2 4x76358,8kJ x217 x 183,8kJ 4- 2C8H18 25O2 16CO2 18H2O H 10943kJ a) 228g10943x103 J x12x106 J x 250, 04g b) 1gal 3869ml 0, 70 g ml d m v \0, 70 m 3869 \m 2708,3g 228g10943x103 J 2708,8 x x1,3x105kJ 5- (x-2) SO2 SO2 H 296,83kJ 2S3O2 2SO3 H 791, 44kJ Eq. Global: 2SO2 O2 2SO3 2SO2 2 S2O2 H 593,66kJ 2 S3O2 2SO3 H 791, 44kJ 2SO2 O2 2SO3 H 197, 78kJ 6- Eq. Global: P4 10Cl2 4PCl5 (i) P4 6Cl2 4 PCl3 H 1278,8kJ 4 x PCl3 Cl2 PCl5 H 124kJ (ii) 4 PCl3 4Cl2 4PCl5 H 496kJ (i)+(ii)= P4 10Cl2 4PCl5 H 1774,8kJ 7- Eq. Global: H2 Cl2 2HCl (x-2) NH3 HCl NH4Cl H 176kJ (x-1) N2 3H2 2NH3 H 92,22kJ N2 4H2 Cl2 2NH4Cl H 628,86kJ 2 NH4 C/l 2 NH3 2HCl H 352kJ NH3 N2 3H2 H 92, 22kJ 35 N2 4H2 Cl2 2 NH4 C/l H 628,86kJ H2 Cl2 2HCl H 184, 64kJ 8) R Transformação isocorica=Vcte W=0 (p/T=cte) 16,72 200 3344 U Q W U Q U nCn T U x U J 9) Q = m . △t 186 = 20 . 0,093 △t △t = 100ºC 10) 2000 = c . 40 c = 50 cal/ºC 11) △H = 2(-393,3) + (-285,5) – [(226,5) + 0] △H = -786,6 – 285,5 – 226,5 △H = -1298,6 kJ/mol 12) △H = -986 + 227 – (-59 +2(-286)) △H = -128 kJ/mol 13) △H = 6(-394) + 5(-242) + 2(364) △H = -2364 – 1210 + 728 △H = -2846 n = 4,54/227 = 0,02 2 – -2846 0,02 – x x = -28,46 36 Capítulo 3 – 2ª e 3ª Leis da Termodinâmica A segunda lei da termodinâmica explica o funcionamento das maquinas térmicas. As maquinas térmicas operam em ciclos e entre duas fontes térmicas, convertem a energia térmica em mecânica (trabalho), mas nunca 100%. Sempre há perda de calor. Podemos dividi-la em dois grupos: Motores e Refrigeradores. O princípio de uma máquina térmica é: QQ = W + QF, onde: QQ é o calor da fonte quente W é o trabalho QF é o calor da fonte fria De modo que para motores temos: A energia quente vem da combustão e realiza trabalho perdendo um pouco de calor. E para Refrigeradores temos que o trabalho externo para operar vem dos motores. O trabalho dos motores rouba calor da fonte fria jogando calor para fora. De acordo com a representação: Mas em ambos os casos podemos dizer que QQ = W + QF O caminho realizado pelo refrigerador não é espontâneo. Eh o trabalho realizado pelo compressor. No compressor tem um gás que flui pelo equipamento. Ao passar pelo congelador, o gás sofre expansão retirando calor do congelador. Ao passar pelo compressor o gás sofre trabalho e se aquece perdendo calor para o ambiente. 37 Calculo de rendimentos de máquinas térmicas (η). O rendimento de uma máquina térmica é a energia utilizada como forma de trabalho e energia fornecida 100 100 x Q QQ x Q W Q FQ Q O rendimento do motor cresce a medida que menos calor é cedido a fonte fria. Exemplo1: Um motor a vapor realiza um trabalho de 12kJ quando lhe é fornecido uma quantidade de calor de 23kJ. Qual o rendimento dessa máquina? R 12 100 23 52% x Ciclo de Carnot Carnot propôs uma máquina teórica que se comporta como uma máquina de rendimento total da seguinte forma: TA>TB, TQ>TF Processo 1-2: Expansão isotérmica, recebe calor da fonte quente (QQ) ΔU=0, Q=W, ΔV+, W+, Q+, recebe calor da fonte quente (QQ) Processo 2-3: Expansão adiabática (Q=0)- expansão rapida ΔU=-W, ΔV+, W+, ΔU=- Temperatura do gás cai Processo 3-4: Compressão isotérmica ΔU=0, Q=W, ΔV-, W-, Q-, cede calor para fonte fria (QF) Processo 4-1: Compressão adiabática (Q=0)- compressão rapida ΔU=-W, ΔV-, W-, ΔU=+ Temperatura do gás sobe 38 Rendimento da máquina de Carnot: Q F Q F T T Q Q 1 1 Exemplo 2: Qual o rendimento máximo teórico de uma máquina cujo fluxo entra a 560o C e abandona o ciclo com 200o C R 473 1 833 0,43 3.1 CONCEITOS A 1a lei da termodinâmica nos diz somente quanta energia é transferida em uma reação. Nada revela sobre as condições necessárias para que a reação ocorra, nem por que segue em uma direção particular. É na 2a lei da termodinâmica que entendemos por que as mudanças químicas ocorrem e que existe um sentido em que o processo ocorre. Você já notou que o gelo funde a temperatura ambiente mesmo o processo sendo endotérmico? Isso acontece provavelmente porque o ΔH não é a única propriedade que determina se o processo ocorre ou não. Com base na entalpia esse processo é desfavorável. Provavelmente no estado líquido as moléculas estão em um estado aleatório ou mais desordenado. Na segunda lei abordaremos um outro conceito importante que é a entropia (S) que é a desordem que acompanha essa reação química e que afeta a espontaneidade dos processos químicos. Somente a combinação dessas duas propriedades (ΔH e ΔS) é que confirmamos se a espontaneidade das reações. Entropia Entropia é uma medida do grau de aleatoricidade ou desordem dos elementos de um sistema. Está relacionada a situações mais prováveis, devido ao maior número de possibilidades de trocas de posições. 39 Por exemplo, observando a figura abaixo, qual é a situação mais provável para a distribuição de moléculas de um gás? Ref- Quimica Geral. Fundamentos, de Daltamir Maia e J.C. Bianchi, pg 264 Um sistema altamente desordenado tem elevada probabilidade de ocorrer, devido ao maior número de posições para os elementos do sistema. Desta forma, o sistema com maior entropia é a letra D. 3.2 2a LEI DA TERMODINÂMICA A segunda lei da termodinâmica descreve que as transformações de energia em sistemas ocorrem na direção de aumentar a entropia até um valor máximo. A soma da variação de entropia dosistema e das vizinhanças compõe a entropia do universo. ΔSuniv = ΔSsist + ΔSviz Onde: ΔSuniv é a variação na entropia do universo, ΔSsist é a variação na entropia do sistema e ΔSviz é a variação na entropia das vizinhanças. Unidade: Joule por Kelvin (J/K) Podemos entender melhor a definição de entropia por meio do conceito de reversibilidade de processos. Eles podem ser classificados como processos em equilíbrio ou reversíveis e como processos espontâneos ou irreversíveis. Processo reversível ocorre quando a entropia é trocada entre sistema e vizinhanças de forma lenta, permitindo retornar aos seus estados iniciais ao desfazer a troca de entropia. Por exemplo, um copo com gelo e água em equilíbrio a 0 oC. Ao fornecer calor lentamente ao gelo, ele começa a fundir. Ao remover a mesma quantidade de calor a água solidifica. A entropia do universo não varia. 40 Processo irreversível ocorre quando a entropia é trocada entre sistema e vizinhanças de forma muito rápida, não sendo possível reverter a troca para retornar aos seus estados originais. Por exemplo, um gás expandindo no vácuo, que acontece sem realizar trabalho. Para comprimir o gás de volta ao estado inicial é preciso que a vizinhança realize trabalho sobre o sistema. A entropia do universo aumenta. Na maioria dos processos descritos neste capítulo, trataremos apenas de transformações consideradas reversíveis. Cálculo da variação de entropia – sistema à temperatura constante A variação na entropia está relacionada ao calor transferido durante um processo. Para relacionar a variação na entropia – uma função de estado – com calor – uma função de caminho – precisamos considerar que o calor é trocado lentamente, denominado calor reversível, que pode ser doado e retirado de forma que sistema e vizinhanças retornem aos estados originais. Onde: ΔS é a variação na entropia, Qrev é o calor reversível e T é a temperatura. Em temperatura alta as moléculas já estão se chocando muito, então, em uma variação infinitesimal de calor não é suficiente para perturbar as moléculas, logo a variação de entropia é baixa. Em temperatura baixa as moléculas estão mais organizadas, então, em uma variação infinitesimal de calor é suficiente para perturbar muito as moléculas, logo a variação de entropia é alta. Podemos correlacionar a temperatura alta com a rua onde as pessoas falam em um lugar aberto. Se um grupo começar a falar mais alto não perturbará tanto outro grupo mais afastado. Por outro lado, a temperatura baixa corresponderia a uma biblioteca que está sempre em silêncio. Se uma pessoa falar mais alto perturbará muito as demais pessoas. Exemplo 3: É sabido que a água pura entra em ebulição à temperatura constante de 100 oC e que quando 1 mol de água é convertido em 1 mol de vapor a 1 atm, o calor trocado é 40,67 kJ/mol. Calcule a variação de entropia da água ocorrida durante a vaporização de 1 mol de água pura a 1 atm. R J/K 41 Portanto, a variação de entropia para as mudanças de estado físico: Fusão Vaporização f f T H S B V T H S Onde: ΔS é a variação na entropia, ΔHf é a entalpia de fusão, Tf é a temperatura de fusão, ΔHv é a entalpia de vaporização e TB é a temperatura de ebulição. Cálculo da variação de entropia – sistema com variação de temperatura )ln( 1 2 T T CS Onde: ΔS é a variação na entropia, C é a capacidade calorífica, T2 é a temperatura final e T1 é a temperatura inicial do processo. Com essa fórmula podemos concluir que o aumento da temperatura ocasiona um aumento na variação de entropia do sistema. Podemos pensar que o gelo apresenta moléculas mais ordenadas e ao absorver calor começam a ganhar mobilidade, até um aumento no grau de desordem na fase líquida e um aumento ainda maior na fase vapor. Exemplo 4: Um frasco grande de água foi colocado em contato com um aquecedor e 100 J de calor de energia foram transferidos reversivelmente à água a 25 0C. Qual o ΔS da água? R 0,336 J/K Exemplo 5: Uma amostra de 0,04 mol de gás N2 tem sua temperatura aumentada de 20 a 400 0C a volume constante. Qual a variação de entropia do N2? Dados: A capacidade calorífica molar do N2 a volume constante é Cv,m = 20,81 J/K mol R 673 0,04 20,81 ln 293 0,69 / S x x S J K 42 3.3 3ª LEI DA TERMODINÂMICA Corresponderia a um estado perfeitamente ordenado da matéria, com valor de entropia igual a zero. Este estado ocorreria em um cristal perfeito, onde todos os átomos estão em um arranjo cristalino perfeitamente ordenado. A partir desta lei, se estabeleceu os conceitos importantes de entropia padrão e de energia livre de gibbs. Entropia padrão Por meio de medidas experimentais da variação do calor com a temperatura podemos determinar a entropia padrão (So) de várias substâncias. Essas entropias padrão são baseadas no ponto de referência de entropia zero para sólidos cristalinos a zero kelvin. Portanto, nas reações químicas podemos calcular variação na entropia: ΔS0r = Σ n S0prod – Σ n S0reag Onde: ΔS0r é a entropia padrão da reação, n é o número de mols, S0prod é a entropia padrão dos produtos e S0reag é a entropia padrão dos reagentes. Exemplo 6: Calcule a entropia padrão da reação N2 (g) + 3 H2 (g) → 2 NH3(g). Dados: S0 N2 = 191,6 J/Kmol, S0 H2 = 130,7 J/Kmol, S0 NH3 = 192,4 J/Kmol R 4 2 S J/K.mol Espontaneidade e Energia Livre de Gibbs A espontaneidade de uma reação é uma qualidade de transformações que ocorrem mesmo na ausência de influência externa. Como exemplo podemos imaginar uma mão segurando um lápis. Ele irá cair ao abrirmos a mão, espontaneamente. Agora retornar esse lápis não é um processo espontâneo, mas pode acontecer desde que apliquemos uma força para favorecer o seu retorno. 43 A energia livre de gibbs é uma propriedade que mede a espontaneidade de uma reação química ocorrer. A energia livre de gibbs é a quantidade máxima de energia de um sistema a temperatura e pressão constantes livre para realizar trabalho. ΔG = ΔH – T ΔS Onde: ΔG é a energia livre de gibbs, ΔH é a variação de entalpia, T é a temperatura e ΔS é a variação de entropia. Unidade: Joule (J) ΔG > 0 ΔG = 0 ΔG < 0 Não espontâneo Equilíbrio Espontâneo Efeito da temperatura Uma reação não espontânea pode tornar-se espontânea alterando a temperatura, conforme podemos ver na figura abaixo. Espontaneidade dependendo da temperatura (ref- Livro Quimica. A ciência central, de Brown, LeMay e Bursten, 9 Ed, pg 683). O efeito da temperatura na espontaneidade de reações pode ser explicado devido a grandeza dos fatores entálpico e entrópico da equação da energia livre de Gibbs, conforme a tabela abaixo. 44 Entalpia Entropia ΔG = ΔH – T ΔS Reação ΔH < 0 ΔS > 0 ΔG < 0 Espontânea ΔH > 0 ΔS < 0 ΔG > 0 Não espontânea ΔH > 0 ΔS > 0 ΔG < 0 em altas temperaturas Espontânea ΔG > 0 em baixas temperaturas Não espontânea ΔH < 0 ΔS < 0 ΔG < 0 em baixas temperaturas Espontânea ΔG > 0 em altas temperaturas Não espontânea Exemplo 7: Um processo não-espontâneo exotérmico com ΔS negativo pode tornar-se espontâneo se a temperatura for aumentada? R ΔH- ΔS- ΔH>T ΔS NÂO Energia livre de gibbs padrão A energia livre de gibbs é uma função de estado, e baseando-se no ponto de referência de entropia zero para sólidos cristalinos a zero kelvin e na entalpia padrão, pode-se calcular a energia livre de gibbs padrão de reações. ΔG0r = Σ n G0prod – Σ n G0reag Onde: ΔG0r é a energia livre de gibbs padrão da reação, n é o número de mols, G0prod é a energia livre de gibbs padrão dos produtos e G0reag é a energia livre de gibbs padrão dos reagentes. Exemplo 8: Calcule a energia livre de gibbs padrão de formação do HI (g) a 25 ºC usando sua entropia-padrão e sua entalpia-padrão de formação. ½ H2 (g) + ½ I2 (s) → HI(g) Dados: ΔHf HI = 26,48 kJ/mol e ΔHf H2 e I2 = 0 J/mol S0HI = 206,6 J/K.mol, S0H2 = 130,7 J/K.mol e S0I2 = 116,1 J/K.mol R ΔG = ΔH – T ΔS J/mol 45 ΔS = 83,2 J/K.mol J/mol = 1,69KJ/mol ∆H+ e ∆S+ T∆S>∆H T>∆H/∆S T>318K Exemplo 9: Considerando a desordem nos reagentes e produtos, determine se ΔS é positivo ou negativo para cada um dos seguintes processos: a) H2O(l) → H2O(g) b) Ag+(aq) + Cl-(aq) → AgCl(s) c) 4 Fe(s) + 3 O2(g) → 2 Fe2O3(s) R a) ∆S b) ∆S c) ∆S Exemplo 10: Escolha a amostra de matéria que tem a maior entropia em cada par, e justifique sua escolha. a) 1 mol NaCl(s) / 1 mol HCl(g) a 25 ºC; b) 2 mols HCl(g) / 1 mol HCl(g) a 25 ºC; c) 1 mol HCl(g) / 1 mol Ar(g) a 25 ºC; d) 1 mol N2(g) a 273 K / 1 mol N2(g) a 298 K. 3.4 APLICAÇÕES No caso de um motor de carro, por exemplo, é a explosão da mistura de combustível e ar que desempenha o papel de fonte quente, cedendo calor ao motor. Após gerar movimento através da expansão dos gases nos pistões do motor, parte do calor é perdido para o ambiente e para a estrutura do motor, que desempenhariam o papel de fonte fria. Para evitar o superaquecimento do motor, utiliza-se uma substância para absorver boa parte desse calor. Na maioria das vezes, essa substância é a água, que fica armazenada em um recipiente chamado do radiador, que tem então a função de resfriar o motor, absorvendo o calor que sobra das transformações. Podemos notar que o rendimento de um motor cresce à medida que a quantidade de calor cedida à fonte fria diminui. 46 No caso de um refrigerador: é um dispositivo que, através de um gás operando transformações cíclicas, tem um saldo negativo de calor (Q < 0), obtido através da aplicação de um trabalho mecânico, ou seja, que transforma trabalho em calor. Neste caso, o trabalho pode ser calculado, como já dissemos, através da área do grá fico p x V, que é um ciclo no sentido anti-horário. O calor trocado associado ao ciclo é a diferença entre a quantidade de calor recebido por uma fonte chamada FONTE FRIA (que se encontra a uma temperatura TF) e a quantidade de calor cedido para uma fonte chamada FONTE QUENTE (que se encontra a uma temperatura TQ). Esquematicamente, teremos o seguinte: Desta forma, podemos notar que W=|QQ|−|QF|. No caso de uma geladeira doméstica, a fonte fria é o próprio congelador, que perderá calor (QF) de forma a continuar a uma temperatura mais baixa que o ambiente. Esse calor é ejetado para o ambiente, que funciona como fonte quente (QQ), através da área de exaustão traseira da geladeira. Isso significa que existe um fluxo de calor de uma região mais fria para uma mais quente. Isso não acontece espontaneamente, mas sim à custa de um trabalho mecânico, realizado pelo compressor da geladeira. Neste compressor, existe um gás que flui através de canos pelo equipamento. Ao passar pelo congelador, o gás sofre uma expansão ao passar por uma válvula, retirando calor do congelador. Ao passar pelo compressor, o gás sofre trabalho e se aquece, perdendo calor para o ambiente. Algo semelhante ocorre com o ar condicionado. 47 3ª Lista de Exercícios 2ª e 3ª Leis da Termodinâmica 1) Calcule a entropia em uma amostra de gelo quando 50 J de energia são removidos dela a 0 °C em uma geladeira. 2) A temperatura de 1,00 mols de He(g) é aumentada de 25 °C para 300 °C à pressão constante. Qual a variação na entropia do hélio? Dados: Asuuma comportamento ideal e use CP,m = 5/2 R. 3) Calcule a entropia padrão da reação a 25 °C: N2O4(g) → 2 NO2(g) Dados: ΔSNO2 = 240,06 J/K ΔSN2O4 = 304,29 J/K 4) Um processo exotérmico com ΔS positivo pode tornar-se espontâneo se a temperatura for aumentada? 5) Calcule a energia livre de gibbs padrão: 2 CO(g) + O2(g) → 2 CO2(g) Dados: ΔGCO2 = –394,36 kJ/mol ΔGCO = –137,17 kJ/mol 6) Qual substância tem maior entropia a 298 K: a) HBr(g)/HF(g); b)NH3(g)/Ne(g); c) I2(s)/I2(l); 7) Sem realizar cálculos, justifique se a entropia aumenta ou diminui nos seguintes processos: a) N2(g) + 2 O2(g) → 2 NO2(g) b) CO2(s) → CO2(g) c) resfriar água de 50 °C para 4 °C. 8) Calcule a entropia padrão das reações a 25 °C, interprete o sinal e a grandeza da variação na entropia: a) H2 + ½ O2 → H2O S°O2 = 205,1 J/K mol/S°H2 = 130,7 J/K mol/S°H2O = 69,9 J/K mol b) CO + ½ O2 → CO2 S°O2 = 205,10 J/K mol/S°CO = 197,67 J/Kmol/S°CO2 = 213,74 J/Kmol 9) Calcule a variação de entropia das vizinhanças quando: a) 1 mJ liberado a 2×10-7 K; b) 1 J, energia de uma batida de coração, liberado a 37 °C; c) 20 J liberado quando 1,0 mol de He congela a 3,5 K. 10) Calcule a variação de entropia: a) Um bloco de cobre a 25 °C que absorve 5 J de energia de um aquecedor; b) Um bloco de cobre a 100 °C que absorve 5 J de energia de um aquecedor; c) Explique a diferença. 11) Calcule energia livre da reação a 80 °C. Em qual intervalo de temperatura a reação é espontânea? B2O3(s) + 6HF(g) → 2BF3(g) + 3H2O(l) ΔH°, kJ/mol S°, J/K mol B2O3 –1272,8 53,87 HF –271,1 173,78 H2O –285,83 69,91 BF3 –1137 254,12 12) O benzeno (C6H6) é um composto orgânico líquido altamente tóxico que apresenta alta capacidade de desenvolver câncer. Ele pode ser obtido industrialmente e servir de matéria- prima para uma série de compostos orgânicos. A equação abaixo representa uma das reações de obtenção do benzeno: 6 C(s) + 3 H2(g) → C6H6(l) 48 Determine a variação da entropia da reação de formação do benzeno a partir do conhecimento da entropia de seus participantes: (Dados: SC= - 1,4; SH2= - 34,6; SC6H6= -173,2 cal/K.mol). 13) Uma máquina térmica cíclica recebe 5000 J de calor de uma fonte quente e realiza trabalho de 3500 J. Calcule o rendimento dessa máquina térmica. 14) Uma máquina térmica recebe 800 J de calor de uma fonte quente, em uma temperatura de 400 K, e rejeita 300 J para uma fonte fria. Calcule a temperatura da fonte fria e o trabalho realizado pela máquina. 15) Uma máquina térmica opera segundo o ciclo de Carnot entre as temperaturas de 500K e 300K, recebendo 2 000J de calor da fonte quente. Qual o calor rejeitado para a fonte fria e o trabalho realizado pela máquina, em joules? Gabarito 1)-0,18J/K 2)13,6J/K 3)175,83J/Kmol 4) Sim 5)-514kJ/mol 6a)HBr 6b)NH3 6c)I2(g) 7a)diminui 7b)aumenta 7c)diminui 8a)-163,35J/Kmol 8b)- 86,48J/Kmol 9a)5kJ/K 9b) 0,0032J/K 9c)5,75J/K 10a)0,016J/K 10b)0,013J/K Para uma temperatura fixa alta a entropia é baixa11)ΔG = -98,326kJ e T < 613, 12) -61cal/Kmol, 13) 70%, 14) 150K e 500J, 15) 1200J e 800J Gabarito da 3˚ lista de exercícios de Química– 2˚ e 3˚ Leis da Termodinâmica 1- S ? q 5, 0J (removido) T 273K S qrev T 50 273 \S 0,18J / K 2- n1mol T1 25˚CT2 300˚C S ? CP.m 5 2 R S n.CP.m ln T2 T1 S1. 1 5 .8,314. ln 573 298 S13, 6 J / K 49 3- N2O4 2NO2 Sr 2S̊ NO2 S̊ N2O4 Sr 2(240, 06)304, 29 Sr 175,83 J / kmol 4- G< 0? H < 0 S> 0 G H TS - - . + - - 5- 2COO2 2CO2 G˚r 2GCO2 (2.GCOGO2 ) G˚r 2(394,36)2(137,17) G˚r 514,38kJ / mol 6- Maior entropia a) HBr > HF c) I 2 (s)> I 2 (l ) b) 3NH Ne> d) 1 1 1 2mol de Ar a atm mol de Ar a atm< 7-a) N2 2O2 2NO2 S¯ b) CO2 (s)CO2 (g) S c) água 50˚ 4˚C S ̄ 8-a) H2 H2O2 H2O S 69, 9[130, 7 12(205,1)] S 163,35J k.mol b) CO2 12O2 CO2 S 213, 74[197, 67 12(205,1)] S 86, 48J k.mol 9- S ? Neste caso sempre será espontâneo independente da temperatura 50 a) c) q1mJ 103 J T 2x107 K S q T 10 3 2x107 0, 5x104 S 5kJ K b) q1J T 37 273 310K S 1 310 \S 3,2x103 J K 10) S ? Cu q 5J T 25°C 298K e T 373K S 5 298 0, 016 J K T¯S S 5 373 0, 013J K para uma temp. fixa 11) 2 3 3 2 3 6 2 3 2( 1137) 3( 285,83) (127,8 6( 271,1)) 232,09 10 / o r o r B O HF BF H O H H x J Kmol 2(254,12) 3(69,91) (53,87 6(173,78)) 378,58 / o r o r S S J Kmol 3232,09 10 353( 378,68) 98,451 o o o r r r o r o r G H T S G x G KJ o o o r r rG H T S 613 o o r rH T S T K - - - - + 12) △S = -173,2 – [6(-1,4) + 3(-34,6)] △S = -173,2 + 8,4 + 103,8 △S = -61 cal?K.mol 13) η = = 70% q 20J T 3,5K S 20 3, 5 \S 5, 7J K 51 14) ω = 800 – 300 = 500J η = = 0,625 0,625 = 1- TF = 150K 15) η = 1 - = 0,4 ω = 0,2 . 2000 = 800J QF = 2000 – 800 = 1200J 52 Capítulo 4 – Equilíbrio Físico 4.1 CONCEITO DE EQUILÍBRIO Na natureza, os processos caminham espontaneamente na direção do estabelecimento de um equilíbrio. Podemos classificar os equilíbrios de um sistema em dois tipos principais: o equilíbrio físico e o equilíbrio químico. O equilíbrio físico ocorre quando as taxas de difusão das substâncias entre as diferentes fases de um sistema se tornam iguais. O equilíbrio químico ocorre quando as taxas de reação direta e inversa se tornam iguais. Todos os equilíbrios são dinâmicos, isto é, os processos continuam ocorrendo; no entanto, a taxa dos processos em ambas direções são iguais. Estudaremos o equilíbrio químico com mais detalhes no capítulo 5. O equilíbrio físico é observado nos processos de transição de fase, em que ocorre a transformação física de uma substância entre duas fases. Por exemplo, a fusão do gelo e a vaporização da água. As transições de fase ocorrem em temperatura e pressão específicas, que dependem da pureza da substância. A presença de um soluto altera as propriedades físicas do solvente, devido às interações soluto-solvente. Por exemplo, a água do mar congela em temperatura mais baixa que a água pura. 53 Exemplo: agua pura: Quando esta no ponto A, esta no estado vapor, ao resfriar o sistema leva um tempo para condensar as moléculas, a primeira gota que vira liquido eh o ponto de orvalho. Quando esta no ponto B, esta no estado liquido, ao aquecer o sistema leva um tempo para as moléculas virarem vapor. O primeiro vapor eh o ponto de bolha. Para a substancia pura o ponto de bolha eh igual ao ponto de orvalho. Para uma mistura não. 4.2 PRESSÃO DE VAPOR Pressão de vapor (Pv) é a pressão exercida pela fase de vapor associada a um líquido, que influencia as propriedades físicas deste líquido. Todos os líquidos estão associados a uma fase de vapor, composta das substâncias do líquido no estado gasoso. Este vapor influencia o equilíbrio físico entre as fases de líquido e de vapor. Líquidos com pressão de vapor elevada são mais voláteis, apresentando ponto de ebulição mais baixo. Quando líquido e vapor estão em equilíbrio físico em um recipiente fechado, a taxa de difusão das substâncias na fase de líquido é igual à taxa de difusão das substâncias na fase de vapor. Isto é, o vapor se condensa na mesma velocidade que o líquido se vaporiza. A pressão de vapor de um líquido está associada às forças que as moléculas na fase de líquido devem superar para passar à fase de vapor. Portanto, o conhecimento da pressão de vapor de um líquido permite inferir algumas de suas propriedades, conforme a tabela abaixo. Pressão de vapor Volatilidade Forças Intermoleculares Ponto de Ebulição elevada elevada baixas Baixo baixa baixa elevadas Elevado É possível calcular a pressão de vapor de um líquido qualquer por meio das leis da termodinâmica. Quando as fases de líquido e de vapor estão em equilíbrio, temos que a energia livre de gibbs do processo é igual a zero. Para a transição de fase podemos aplicar a equação de Clausius-Clapeyron: ΔGvap = ΔG0vap + RT ln Pv Onde: ΔGvap é a energia livre de gibbs de vaporização, ΔG0vap é a energia livre de gibbs de vaporização padrão, R é a constante universal dos gases, T é a temperatura e Pv é a pressão de vapor. 54 No equilíbrio ΔGvap = 0, e temos: RT G Pv o vapln Substituindo com a equação ΔG0vap = ΔH0vap – TΔS0vap temos enfim: )()(ln R S RT H Pv o vap o vap Unidade: R = 8,314 J/K mol 4.3 VARIAÇÃO DA PRESSÃO DE VAPOR COM A TEMPERATURA Experimentalmente, observa-se que a elevação da temperatura ocasiona um aumento na pressão de vapor dos líquidos. Isto ocorre porque o calor absorvido é utilizado por algumas moléculas na fase de líquido para superar as interações intermoleculares e passar para a fase de vapor, aumentando a pressão de vapor. O ponto de ebulição de um líquido é observado na temperatura em que a sua pressão de vapor se torna igual à pressão atmosférica, de 760 Torr. A pressão de vapor pode ser calculada para qualquer temperatura a partir da equação: 2 1 1 2 1 1 ln( ) ( )( ) o vapHPv Pv R T T Onde: Pv2 é a pressão de vapor na temperatura maior, Pv1 é a pressão de vapor na temperatura menor, ΔH0vap é a entalpia de vaporização, R é a constante universal dos gases, T1 é a temperatura menor e T2 é a temperatura maior. Unidade: R = 8,314 J/K mol Exemplo 1: A entalpia de vaporização de CCl4 é 33,05 kJ/mol e sua pressão de vapor a 58 ˚C é 405 Torr. Qual é a pressão de vapor a 25 ˚C? R 55 2 1 3 2 1 2 1 ln( ) 1,33 2 1 2 33,05 10 1 1 ln( ) ( )( ) 8,314 331 298 ln( ) 1,33 0,264 0,264 405 107 Pv Pv Pv x Pv Pv Pv e e Pv Pv Pv x Torr 4.4 DIAGRAMA DE EQUILÍBRIO DE FASES O estado físico em que uma substância se encontra em um sistema depende tanto da pressão quanto da temperatura. Por meio de um gráfico de temperatura versus pressão podemos observar as regiões em que cada estado físico é estável. Esse gráfico denomina-se diagrama de equilíbrio de fases. A figura ao lado apresenta o diagrama de equilíbrio de fases da água. No ponto A, temos a fase vapor, no ponto B, a fase líquido e no ponto C, as fases líquido e gelo. Portanto, pelo diagrama podemos observar as linhas de temperatura e pressão em que duas fases estão em equilíbrio. Também observa-se o ponto triplo, no qual as três fases estão em equilíbrio. Para a água, o ponto triplo ocorre na pressão de 4,6 Torr e na temperatura de 0,01 ºC. 4.5 SOLUBILIDADE DE GASES EM MISTURAS Em condições normais, os líquidos apresentam diversos gases dissolvidos, compondo uma mistura gás-líquido. Esses gases podem ser fundamentais, por exemplo o oxigênio que está dissolvido na água, que permite aos peixes sobreviverem debaixo d’água. 56 As misturas de gases com líquidos resultam em soluções – misturas homogêneas, com apenas uma fase. Estas soluções são compostas pelo solvente – líquido – que está presente em maior quantidade na solução e pelo soluto – gás – que está presente em menor quantidade na solução. A solubilidade mede a quantidade de soluto solúvel em uma solução. A solubilidade dos gases é diretamente proporcional à pressão parcial de gás, que é a pressão exercida por um gás enquanto componente em uma mistura de gases ou de gás- líquido. Isto pode ser explicado pelo aumento na frequência com que o gás colide contra a superfície do líquido. Segundo os experimentos de Henry, foram construídas curvas de pressão parcial do gás versus solubilidade molar do gás em água, conforme a figura ao lado. Foi então constatado que para a maioria dos gases, existe uma relação linear entre solubilidade e presssão parcial. Desta forma, é estabelecida a lei de Henry: Sg = KH p Onde: Sg é solubilidade molar de gás, KH é a constante de Henry e p é a pressão parcial do gás. Unidades: Sg – Mol por litro (mol/l) e p – atmosfera (atm) Exemplo 2: A concentração de oxigênio na água adequada para sustentar avida aquática é de 1,3.10–4 mol/l. Sabendo que a pressão parcial de oxigênio é de 0,21 atm ao nível do mar, qual a solubilidade molar do oxigênio? Dado: KH O2= 1,3.10-3 mol/l atm. R Sg = KH p 57 4.6 PROPRIEDADES COLIGATIVAS DE SOLUÇÕES Propriedades coligativas independem das características químicas do soluto, são apenas influenciadas pela quantidade relativa de soluto. Abaixamento da pressão de vapor do solvente A adição de soluto em um solvente puro provoca o abaixamento do seu valor de pressão de vapor. Isto ocorre devido a introdução de interações mais fortes, entre soluto e solvente, que precisam ser superadas para que as moléculas de líquido passem para a fase de vapor. Por exemplo, a água salgada do mar evapora mais lentamente do que a água doce dos rios. Desta forma, estabelecemos a fração molar, grandeza que quantifica quanto há de soluto ou de solvente na solução, que influencia diretamente na pressão de vapor de solvente na solução. Lembrando que número de mols pode ser calculado a partir da fórmula: n = m / MM Onde: n é o número de mols, m é a massa e MM é a massa molar. Portanto, fração molar pode ser calculada: xa = na / (na + nb ) xb = nb / (na + nb ) Onde: xa é a fração molar de solvente, na é o número de mols de solvente, xb é a fração molar de soluto e nb é o número de mols de soluto. Pela Lei de Rault, a pressão de vapor depende da fração de solvente: Pv = xa Pvpuro Onde: Pv é a pressão de vapor do solvente na solução, xa é a fração molar de solvente e Pvpuro é a pressão de vapor do solvente puro. Exemplo 3: Calcule a pressão de vapor da água a 20 °C em uma solução composta de 10 g de sacarose (C12H22O11) e 100 g de água (H2O). Dados: MM C12H22O11 = 342 g/mol , MM H2O = 18 g/mol , Pvpuro = 17,54 Torr R xa = na / (na + nb ) 58 Torr Elevação do ponto de ebulição – Ebulioscopia – e Abaixamento do ponto de congelamento – Crioscopia O ponto de ebulição de um líquido é a medida de temperatura na qual a pressão de vapor de líquido se iguala à pressão atmosférica. A adição de soluto em um solvente puro provoca a elevação do seu valor de ponto de ebulição. Isto ocorre devido a introdução de interações mais fortes, entre soluto e solvente, que provocam abaixamento da pressão de vapor. Portanto, a temperatura em que a pressão de vapor de solvente se iguala à pressão atmosférica é aumentada. Por exemplo, a água com sal ferve em temperatura mais alta do que a água pura. Desta forma, são estabelecidas as constantes de ebulição, que indicam o quanto o ponto de ebulição é aumentado com a adição de soluto em um solvente puro. Lembrando que molalidade pode ser calculada por meio da fórmula: Molalidade = n / m Onde: n é o número de mols de soluto e m é a massa de solvente. Unidade: Mol por quilo (mol/kg). Molalidade também é representada por m Podemos então calcular a elevação no ponto de ebulição: ΔPE = KE . m Onde: ΔPE é a elevação no ponto de ebulição, KE é a constante de ebulição e m é molalidade. A adição de soluto em um solvente puro provoca o abaixamento do seu valor de ponto de congelamento. Isto ocorre devido a introdução de partículas de soluto que provocam imperfeições no arranjo cristalino do estado sólido, desestabilizando as suas interações. Portanto, a temperatura em que as vibrações alcançam magnitude capaz de provocar ruptura do arranjo cristalino é diminuída. Por exemplo, a água com sal congela a uma temperatura mais baixa do que a água pura. Podemos então calcular o abaixamento no ponto de congelamento: ΔPC = KC . m 59 Onde: ΔPC é o abaixamento no ponto de congelamento, KC é a constante de congelamento e m é molalidade. Exemplo 4: A adição de 0,24 g de Sx a 100 g de CCl4 abaixa o ponto de congelamento do CCl4 de 0,28 0C. Qual a massa molar do Sx? Dados: KC = 29,8 0C kg/mol e MM S = 32 g/mol. R 30, 28 9,4 10 / 29,8 c cP K xm m x mol Kg 4 0,24 255 / 9,4 10 m n MM MM g mol x 9,4x10-3 mol S---------1KgCCL4 1mol S----------32g x-------------------------0,1Kg x-----------------255 x=9,4x10-4 mol S x=8-----S8 4.7 MISTURAS LÍQUIDAS BINÁRIAS As curvas acima mostram que para uma mistura os pontos de bolha e orvalho são diferentes, como dito anteriormente. E o formato da curva para uma mesma mistura de substancias varia com a composição. Pressão de vapor de uma mistura binária Considere uma mistura de benzeno e tolueno. Considerando a mistura como ideal (sem alteração do volume após a mistura), cada componente tem sua pressão de vapor parcial segundo a lei de Rauolt. Pva= xa Pva puro Pvb= xb Pvb puro 60 Onde: Pva é pressão parcial, xa é fração molar e Pva puro é pressão do benzeno puro, Pvb é pressão parcial, xb é fração molar e Pvb puro é pressão do tolueno puro. Segundo a lei de Dalton, a pressão total de vapor da mistura é a soma das pressões parciais dos componentes: PT = Pva + Pvb Onde: PT é a pressão total, Pva é pressão parcial de benzeno e Pvb é pressão parcial de tolueno. Exemplo 5: Uma mistura de benzeno e tolueno tem fração molar xa = 1/3 e xb = 2/3. Qual a pressão total de vapor da mistura? Dados: Pva puro = 94,6 Torr e Pvb puro = 29,1 Torr. R = 31,53 = 19,4 Torr yb=0,62 e yt=0,38 Fração molar dos componentes na fase de vapor O vapor da mistura tende a ser mais rico em composição do componente mais volátil, devido à sua maior facilidade de passar para a fase de vapor. Portanto, como o benzeno é mais volátil do que o tolueno, há relativamente mais benzeno na fase de vapor do que na mistura líquida. Por outro lado, o líquido tende a ser mais rico em composição do componente menos volátil, devido à sua maior dificuldade de passar para fase de vapor. Portanto, como o tolueno é menos volátil do que o benzeno, há relativamente mais tolueno na mistura líquida do que na fase de vapor. Conforme o gráfico ao lado, fração molar de benzeno na fase líquida versus fração molar de benzeno na fase de vapor, podemos observar que a fração molar do benzeno é maior no estado de vapor. Podemos calcular a fração molar no estado de vapor: ya = Pva/PT = Pva/(Pva+Pvb) yb = Pvb/PT = Pvb/(Pva+Pvb) ya + yb = 1 61 Onde: ya é a fração molar no vapor, Pva é pressão parcial, Pvb é pressão parcial, PT é a pressão total. Observamos que as frações molares dos componentes presentes na fase de vapor afetam a pressão de vapor total da mistura. Portanto, o ponto de ebulição também é alterado de acordo com a composição da fase de vapor. Sabemos que o ponto de ebulição do benzeno puro é 80,1 ºC e do tolueno puro é 110,6 ºC. Portanto, o ponto de ebulição observado para a mistura benzeno-tolueno será uma temperatura intermediária a estas duas temperaturas. A composição da mistura na fase de vapor também pode ser determinado pelo diagrama ao lado, temperatura versus fração molar de benzeno na fase de líquido. A partir da fração molar de benzeno na mistura, traça-se uma reta vertical até atingir a curva azul – curva de bolha. Em seguida, traça-se uma reta horizontal até atingir a curva laranja – curva de orvalho. Finalmente, traça-se uma reta vertical até o eixo de fração molar da mistura, obtendo a composição da fase vapor. Para se fazer uma separação eficiente de misturas de solvente é preciso fazer várias destilações simples ou uma destilação fracionada. Exemplo 6: a) Determine a pressão de vapor a 25 0C de uma mistura de tolueno e benzeno na qual a fração molar do benzeno na mistura é 0,9. b) Calcule as frações molares do benzeno e tolueno na fase de vapor. Dados: PvB puro = 94,6 Torr e PT puro = 29,1 Torr. R a) =2,91 b) 0,033 85,14 0,967 88B T y y =85,94 4.8 DESTILAÇÃO
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