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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/333489837 ESTUDO DA ERODIBILIDADE DE SOLOS DA FORMAÇÃO BARREIRAS - RJ Thesis · January 2000 DOI: 10.17771/PUCRio.acad.1962 CITATIONS 3 READS 145 1 author: Rodrigo Cruz Araujo Universidade Federal do Maranhão 17 PUBLICATIONS 22 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Rodrigo Cruz Araujo on 30 May 2019. 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Orientadores: Franklin dos Santos Antunes Tácio Mauro Pereira de Campos DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO Rio de Janeiro, outubro de 2000 DEDICATÓRIA Aos meus avós Armando e Ana e às tias Beth e Zezé, pela maravilhosa convivência, sempre repleta de carinho e apoio; Ao meu pai Orlando e à minha irmã Anninha, pelo amor, apoio e incentivo; À minha noiva Ussinha, pelo apoio constante, compreensão e amor; À minha mãe, meu maior exemplo para sempre. AGRADECIMENTOS: Aos professores Franklin dos Santos Antunes e Tácio Mauro Pereira de Campos pelo apoio, incentivo e transmissão de conhecimentos ao longo da pesquisa. Ao CNPq, pelo apoio financeiro na forma de bolsa de estudos. Aos funcionários do laboratório de solos, William, Amauri e especialmente Josué e Seu José, por toda ajuda recebida durante a realização dos trabalhos. Ao Ronaldo, funcionário do laboratório de difratometria de raio-x do DCMM, pela presteza em colaborar sempre que requisitado. Ao Carlinhos, funcionário da laboratório de solos da UFRJ, e às colegas daquela universidade, Rosemary e Tatiana, pelo auxílio. À colega Ana Cristina, pela ajuda prestada em diversos momentos deste trabalho. Aos amigos da PUC, Ataliba, Antônio, Júnior e Ciro, pelas muitas vezes em que, quando me encontrava com dúvidas ou dificuldades, se colocaram à disposição para ajudar e foram fundamentais para a superação de tais problemas. Aos demais colegas de turma, Rômulo, Janaina, Ana e Samuel, pela saudável convivência durante todo curso. Ao grande amigo Raynyer, pela amizade, ajuda e excelente convivência ao longo de boa parte do trabalho. Aos demais professores da Pós-graduação da PUC, pelos conhecimentos transmitidos. A todos os meus familiares, pelo apoio constante. A todos que de alguma forma contribuiram para que houvesse condições deste trabalho ser desenvolvido. RESUMO O surgimento e evolução de erosões têm sido objeto de diversos estudos, com os mecanismos envolvidos ainda não sendo totalmente compreendidos. Esta dissertação apresenta uma revisão bibliográfica abordando uma conceituação básica do fenômeno, os agentes causadores do processo e os fatores que o condicionam. Além desta aborda-se também, sucintamente, os principais aspectos da área na qual há ocorrência dos solos estudados, com uma descrição de sua localização, geologia, geomorfologia, clima, vegetação, etc. Faz-se ainda uma outra revisão, sobre os principais métodos de avaliação de erodibilidade descritos na literatura. A partir de visitas de campo, foram escolhidos três solos a serem estudados, tomando-se como critério de seleção e avaliação as feições erosivas que os mesmos apresentavam “in loco”. Definido como objeto principal do estudo, os solos da Formação Macacu são analisados por meio de ensaios de caracterização convencional, análises mineralógicas, análises químicas, caracterização MCT, determinação de curva característica, ensaios de resistência à tração, ensaios de desagregação e ensaios de penetração de cone (modificado). As observações de campo, associadas aos resultados dos trabalhos de laboratório, permitem o reconhecimento e avaliação dos solos mais susceptíveis à erosão, podendo-se assim buscar a identificação e definição de correlações entre as características próprias dos solos e suas erodibilidades. ABSTRACT The process of erosion has been the objective of many studies, being the mechanics involved not completelly understood. This work presents a literature review on the basics concepts involved on the process, the causes and the conditionants aspects of the phenomena. Futhermore, it mentions the main characteristics of the studied area, with a description of its localization, geology, geomorphology, climate, etc. It also presents the main methods used on erodibility analysis. Three soils from Macacu formation were choosen to be studied, based on erosive characteristics observed on site. These materials were submitted to conventional characterization tests, mineralogical analysis, chemical analysis, MCT characterization, determination of characteristics curves, tensile strength tests, desagregation tests and cone tests (modified). The main objective is to correlate experimental data obtained on this work to field observations, in order to recognize soils that are more susceptible to erosion. It should permit an identification and definition of correlations between the characteristics of the soil and its erodibility. ÍNDICE 1 – INTRODUÇÃO 1 1.1 – Justificativas 1 1.2 – Objetivos 3 1.3 - Escopo do Trabalho 4 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 5 2.1- Conceitos Gerais 5 2.2- Agentes Erosivos 9 2.2.1- Erosão Eólica 12 2.2.2- Erosão Fluvial 13 2.2.3- Erosão Interna 18 2.2.4- Erosão Pluvial 19 2.3- Previsão de Perda de Solos 29 2.3.1- Fator Chuva (R) 30 2.3.2- Fator Erodibilidade (K) 31 2.3.3- Fatores Comprimento e Declividade (L,S)32 2.3.4- Fator de Uso e Manejo do Solo (C) 32 2.3.5- Fator relativo a Prática de Controle (P) 32 3- ASPECTOS GERAIS DA ÁREA ESTUDADA 33 3.1- Localização 33 3.2- Aspectos Geológicos / Geomorfológicos 33 3.3- Clima 34 3.4- Solos 34 3.5- A Formação Macacu 38 4- MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA ERODIBILIDADE 43 4.1- Avaliações Indiretas: Propostas de Correlações Entre Erodibilidade e Propriedades dos Solos 43 4.2- Sucção Associada à Erodibilidade 46 4.3- Ensaio de Desagregação 48 4.4- Ensaio de Interbitzen 49 4.5- Ensaio de Pinhole ou Furo de Agulha 53 4.6- Ensaio de Penetração de Cone 57 5- ESTUDOS EXECUTADOS E METODOLOGIAS ADOTADAS 59 5.1- Trabalhos de Campo 59 5.2- Ensaios Realizados 64 5.2.1- Ensaios de Caracterização 65 5.2.2- Análise Mineralógica 66 5.2.3- Análises Químicas 68 5.2.4- Ensaios de Caracterização MCT 69 5.2.5- Ensaios de Sucção 76 5.2.6- Ensaios de Resistência à Tração 81 5.2.7- Ensaio de Desagregação 83 5.2.8- Ensaio de Penetração de Cone 84 6- APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS ENSAIOS 86 6.1- Análises Mineralógicas 86 6.1.1- Fração Fina 86 6.1.2- Fração Grossa 92 6.2- Análises Químicas 92 6.3- Índices Físicos 94 6.4- Análises Granulométricas 96 6.5- Limites de Alterberg 101 6.6- Curva Característica 102 6.7- Ensaios de Tração (método brasileiro) 106 6.8- Caracterização MCT 113 6.9- Ensaio de Desagregação 118 6.10- Ensaio de Penetração de Cone 120 7- POTENCIAL DE EROSÃO DOS SOLOS 122 7.1- Aspectos Mineralógicos 123 7.2- Análises Químicas 124 7.3- Índices Físicos 125 7.4- Granulometria 126 7.5- Limites de Atterberg 129 7.6- Classificação MCT 131 7.7- Resistência à Tração x Sucção 133 8- CONCLUSÕES 135 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 141 LISTA DE FOTOS: Foto 1.1: Exemplo da erosão na cidade de Cametá 2 Foto 2.1: Exemplo de propriedade destruída por erosão (apud Marçal 1998) 7 Foto 2.2: Exemplo de erosão fluvial 14 Foto 2.3: Exemplo de erosão superficial (apud Marçal 1998) 24 Foto 2.4: Exemplo de voçoroca em solo residual migmatítico na rodovia Rio-Teresópolis 27 Foto 3.1: Exemplo de perfil representativo da Formação Macacu 39 Foto 3.2: Exemplo de perfil representativo da Formação Macacu 39 Foto 5.1: Perfil representativo da Formação Macacu selecionado para o trabalho 61 Foto 5.2: Detalhe da camada argilosa verde 62 Foto 5.3: Detalhe da camada laterítica com presença de concreções ferruginosas 62 Foto 5.4 : Detalhe de uma exposição do solo branco bastante erodido 63 Foto 5.5 : Aspecto de um perfil da Formação Macacu com presença de feições erosivas 63 Foto 5.6: Detalhe de uma feição erosiva em perfil da Formação Macacu 64 Foto 5.7: Ensaio de classificação MCT em execução 71 Foto 5.8: Equipamento utilizado nos ensaios de tração 83 Foto 5.9: Exemplo de ensaio de tração em andamento 83 Foto 5.10: Equipamento utilizado no ensaio de cone 85 Foto 5.11: Exemplo de ensaio de cone sendo executado 85 Foto 6.1 : Aspecto do ensaio de desagregação decorridos 50 minutos 119 Foto 6.2 : Aspecto do ensaio de desagregação ao final de 24 horas 119 LISTA DE FIGURAS: Figura 2.1: Esquema representativo do transporte dos diferentes tipos de cargas detríticas (apud Suguio e Bigarela, 1990) 16 Figura 2.2: Representação esquemática de erosão laminar e por escoamento concentrado, formando sulcos na superfície (apud DAAE 1990) 24 Figura 3.1: Mapa de localização da região da Bacia da Guanabara 35 Figura 3.2: Mapa geológico da região da Bacia da Guanabara (fonte: CPRM, 2000) 36 Figura 3.3: Mapa geomorfológico da região da Bacia da Guanabara (fonte: CPRM, 2000) 37 Figura 4.1 : Ábaco de erodibilidade baseado no GEA (apud Vertamatti e Araujo 1998) 47 Figura 4.2: Resultado dos ensaios de Interbitzen, com faixas classificatórias (apud Fonseca e Ferreira, 1981) 51 Figura 4.3: Perspectiva da versão modificada do aparelho de Interbitzen (apud Fácio 1991) 52 Figura 4.4: Representação esquemática do ensaio de pinhole (modificado de Sherard 1976a) 54 Figura 4.5: Ábaco classificatório da dispersividade dos solos (modificado de Sherard, 1976b) 56 Figura 5.1: Exemplo de curvas a.n em função do número de golpes 72 Figura 5.2: Exemplo de curva de compactação correspondente a 12 golpes, para determinação de d’ 73 Figura 5.3: Representação esquemática do ensaio de perda por imersão 74 Figura 5.4: Ábaco classificatório dos solos pela metodologia MCT 76 Figura 5.5: Representação esquemática da preparação das amostras para o ensaio de determinação de sucção pelo método do papel filtro 80 Figura 6.1: Difratograma solo verde sem tratamento (frações silte e argila) 87 Figura 6.2: Difratograma solo verde aquecido a 350o (fração silte) 88 Figura 6.3: Difratograma solo verde glicolado (fração argila) 89 Figura 6.4: Difratograma solo branco sem tratamento (fração argila) 90 Figura 6.5: Difratograma solo roxo sem tratamento (fração argila) 91 Figura 6.6: Curva granulométrica dos solos verde, branco e roxo com defloculante 97 Figura 6.7: Curva granulométrica dos solos verde, branco e roxo sem defloculante 98 Figura 6.8: Curvas granulométricas do solo verde com e sem defloculante 99 Figura 6.9: Curvas granulométricas do solo branco com e sem defloculante 99 Figura 6.10: Curvas granulométricas do solo roxo com e sem defloculante 100 Figura 6.11: Curva característica do solo verde 103 Figura 6.12: Curva característica do solo branco 104 Figura 6.13: Curva característica do solo roxo 105 Figura 6.14: Resistência à tração x umidade (solo verde) 107 Figura 6.15: Resistência à tração x Saturação (solo verde) 108 Figura 6.16: Resistência à tração x umidade (solo branco) 109 Figura 6.17: Resistência à tração x saturação (solo branco) 109 Figura 6.18: Resistência à tração x umidade (solo roxo) 110 Figura 6.19: Resistência à tração x saturação (solo roxo) 111 Figura 6.20: Curva de compactação para 12 golpes no Mini-MCV do solo verde 113 Figura 6.21: Curvas Mini-MCV do solo verde 114 Figura 6.22: Curva de compactação para 12 golpes no Mini-MCV do solo branco 114 Figuro 6.23: Curvas Mini-MCV do solo branco 115 Figura 6.24: Curva de compactação para 12 golpes no Mini-MCV do solo roxo 115 Figura 6.25: Curvas Mini-MCV do solo roxo 116 Figura 6.26: Classificação dos solos segundo a metodologia MCT 117 Figura 6.27: Resultados Psat x Pnat comparados com dados de Burgos et al. (1999) 121 Figura 7.1: Gráfico triangular representativo das frações dos solos 129 Figura 7.2: Resistência à tração x Sucção 134 LISTA DE TABELAS: Tabela 2.1: Agentes e tipos de erosão(modificado de Gray e Leiser ,1989) 10 Tabela 4.1: Resumo do critério de avaliação dos resultados dos ensaios (modificado Sherard 1976a) 55 Tabela 5.1: Quadro característico de solos dos grupos MCT, quanto à erodibilidade hídrica e propriedades de interesse à sua previsão (condições típicas do Estado de São Paulo) (modificado de Nogami e Vilibor, 1995) 75 Tabela 6.1: Resultado dos ensaios de pH e ataque sulfúrico 92 Tabela 6.2: Resultado do ensaio de complexo sortivo 93 Tabela 6.3: Resumo geral dos índices físicos determinados para os três solos 95 Tabela 6.4: Resultados da granulometria com o uso de defloculante 97 Tabela 6.5: Resultados da granulometria sem o uso de defloculante 98 Tabela 6.6: Resultados dos limites de consistência dos solos 101 Tabela 6.7: Resultados de umidade e sucção dos três solos, incluindo “pontos teóricos” de S=100% 106 Tabela 6.8: Resultados de umidade, saturação e resistência à tração dos três solos 112 Tabela 6.9: Resultados do ensaio MCT 116 Tabela 6.10 : Valores médios de P nat e P sat obtidos para os solos em estudo 120 Tabela 7.1: Valores de pH obtidos na literatura, relacionados com as condições de campo 124 Tabela 7.2: Valores de porosidade obtidos na literatura, relacionados às condições de erosão observadas em campo 125 Tabela 7.3: Valores de % menor que 5ìm com e sem defloculante e do parâmetro porcentagem de dispersão 126 Tabela 7.4: Valores de % que passa #40 e parâmetro “a” para os solos em estudo 127 Tabela 7.5: Valores de IP e Wp encontrados na literatura, relacionados com suas erodibilidades 130 Tabela 7.6 : Resultados encontrados por Lima (1999) envolvendo resultados do ensaio de Interbitzen e a classificação MCT 131 Tabela 7.7: Resultados encontrados por Burgos et al. (1999) envolvendo condições de erosão em campo e a classificação MCT 132 LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS: a: coeficiente definido pela equação 4.1 A: horizonte pedológico A ABNT: associação brasileira de normas técnicas Al: alumínio Al3+: cátion de alumínio B: horizonte pedológico B BR: rodovia federal C: fator relativo ao uso e manejo do solo C: horizonte pedológico C Ca2+: cátion de cálcio Cc: coeficiente de curvatura CH: argila de alta plasticidade CL: argila de baixa plasticidade cm: centímetro cm2: centímetro quadrado cm3: centímetro cúbico CNPS: centro nacional de pesquisa de solos CPRM: Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Cu: coeficiente de uniformidade D: diâmetro da amostra no ensaio de resistência à tração DAEE-SP: Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo E: energia cinética da chuva E: expansibilidade E: valores de erosão no ensaio de Interbitzen e: índice de vazios e0 : índice de vazios na umidade inicial EMBRAPA: Empresa Brasileira de Pesquisas Agrárias fps: pé por segundo ft: pé g: grama GS: densidade dos grãos GEA: grau de erosão associada GH: cascalhos de alta plasticidade GM: cascalhos siltosos GP: cascalhos pobremente graduado GW: cascalhos bem graduados GR.: Greenwich (meridiano) h: hora H: espessura da amostra no ensaio de resistência à tração H+: cátion de hidrogênio i: intensidade da chuva in: polegada iph: polegada por hora I.P: índice de plasticidade K: fator relativo à erodibilidade do solo K+: cátion de potássio km: kilômetro km2: kilômetro quadrado kg: kilograma kgf: kilograma-força kPa: kilopascal L: litro L: fator relativo ao comprimento da encosta LL: limite de liquidez LP: limite de plasticidade M.eq.: mili-equivalente MCT: sigla de miniatura-compactado-tropical Mg2+: cátion de magnésio MH: siltes de alta plasticidade ML: siltes de baixa plasticidade m: metro min: minuto mL: mililitro mm: milímetro N: normal Na+: cátion de sódio no: número OL: solo orgânico de baixa plasticidade P: fator relativo à prática de controle de erosão adotada P: carga máxima de compressão Pi: perda por imersão pH: potencial de hidrogenização Pnat: penetração em amostra natural Pp: peso do solo seco correspondente à parte saliente inicial Ps: peso do solo seco desprendido Psat: penetração em amostra saturada R: fator relativo à erosividade da chuva s: segundo S: índice de sorção S: fator relativo à declividade do terreno SC: areia argilosa SM: areia siltosa Sr: saturação SW: areia bem graduada SP: areia pobremente graduada tg: tangente ton: tonelada USLE: Universal Soil Loss Equation (equação universal de perda de solos) Ve: velocidade de erosão W: oeste wH: umidade higroscópica wN: umidade natural %: porcentagem o : graus ’ : minutos o C: graus Celsius ãNAT: peso específico natural ãd: peso específico aparente seco è: ângulo de incidência dos raios-x ð: pi (igual a 3,1416) ót: tensão de tração ñN: massa específica natural ñd: massa específica aparente seca 1 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO A erosão é um fenômeno bastante complexo, uma vez que envolve a ação direta ou indireta de diversos fatores, tais como as características geológicas e geomorfológicas, os tipos de solos, clima, vegetação, além da interferência humana que modifica as condições naturais de cada um deles. O desenvolvimento do processo erosivo é então determinado pela ação destes fatores, atuando em conjunto ou separadamente, seja como agentes causadores do processo, ou como fatores condicionantes. Devido à complexidade do processo, o qual envolve diversos mecanismos e condicionantes, a erosão tem sido tema de pesquisas em diversas áreas, principalmente agronomia, geologia, geografia e geotecnia. Entretanto, apesar de todos os estudos já desenvolvidos, o entendimento do processo ainda não é completo, necessitando de pesquisas que possam confirmar as considerações existentes e proporcionar novos conhecimentos. Neste trabalho, procura-se fazer um estudo direcionado principalmente para a avaliação da erodibilidade de solos, por meio da análise conjunta de observações feitas em campo e resultados de ensaios de laboratório. 1.1-JUSTIFICATIVAS: Ao longo do litoral brasileiro, a ocorrência de uma determinada unidade sedimentar se faz notável pela sua extensão, sendo encontrada desde o Pará até o Rio de Janeiro, delineando-se ainda depósitos correlacionáveis na região sul. Esta unidade é conhecida como “Barreiras” e corresponde a depósitos sedimentares continentais pertencentes ao terciário. Os 2 sedimentos apresentam-se, em geral, com seqüências afossilíferas, pouco consolidados, desde conglomerados à arenitos e argilitos, de cores e granulometrias variadas. Na região Norte, além da característica ocorrência litorânea, é também marcante a presença dessa seqüência ou de similares ao longo das drenagens, onde verificam-se há algum tempo sérios problemas de erosão nos solos daquele Grupo, principalmente por processo fluvial. A situação é agravada pelo desenvolvimento de cidades às margens dos rios, o que é uma tendência natural das civilizações. Um dos casos típicos e mais importantes deste fenômeno é registrado na sede do município de Cametá, situado na micro-região do Baixo Tocantins, na porção oeste do Pará. Naquela cidade, ocorre o fenômeno conhecido como “terras caídas”, com o desmoronamento de falésias pondo em risco o patrimônio histórico da cidade, construído durante a época áurea do ciclo da borracha (foto 1.1) Foto 1.1: Exemplo da erosão na cidade de Cametá 3 No Rio de Janeiro, também ocorrem sedimentos do Grupo Barreiras em diversos munícipios, afetados por processos erosivos. 1.2-OBJETIVOS: Tem-se como objetivo deste trabalho alcançar um melhor entendimento dos diferentes processos erosivos, com base em uma abordagem envolvendo os fatores condicionantes que interferem nos mesmos e os agentes causadores diretos. O foco principal desta abordagem é então estudar especificamente as características geotécnicas dos solos da Formação Macacu, descrita e considerada como representante do Grupo Barreiras por Meis e Amador (1972 e 1977), buscando caracterizar o potencial de erosão dos mesmos e identificar as características relevantes dentro do processo erosivo, na tentativa de estabelecer relações entre ambos. A partir dos resultados obtidos, espera-se que os mesmos proporcionem uma contribuição para o desenvolvimento de uma metodologia de avaliação da erodibilidade dos solos, em função das propriedades ou características intrínsecas a eles; procurando-se abordar ainda a adequabilidade dos métodos tradicionais de avaliação da erodibilidade. Um segundo objetivo é o de promover um conhecimento básico acerca do desenvolvimento dos processos erosivos, por intermédio de uma abordagem dos seus agentes desencadeadores e fatores condicionantes. Resumidamente, a metodologia proposta para se buscar atingir tais objetivos consiste das seguintes contribuições : 4 • Revisão bibliográfica com conceitos de erosão, fatores que influenciam no processo e agentes atuantes; • Descrição de aspectos do meio físico local da região de Itaboraí e da Formação Macacu; • Caracterização das propriedades físicas, químicas e mineralógicas dos materiais em estudo; • Execução de ensaios de tração (método brasileiro) e de sucção (papel filtro) em amostras com diferentes teores de umidade. 1.3-ESCOPO DO TRABALHO : Objetivando o melhor entendimento do seu conteúdo, esta dissertação é apresentada de forma compartimentada, onde um capítulo introdutório apresenta as justificativas e objetivos do trabalho (capítulo 1); o capítulo seguinte, (capítulo 2), sintetiza a revisão bibliográfica abordando conceitos, fatores envolvidos no processo e agentes causadores; o capítulo 3 trata dos aspectos gerais da região de Itaboraí, local de onde foram retiradas as amostras representativas da Formação Macacu, alvo da investigação; a seguir (capítulo 4) se apresenta uma descrição dos diversos ensaios propostos na literatura para avaliação da erodibilidade; o capítulo seguinte (capítulo 5) realiza uma descrição das metodologias adotadas para os ensaios executados neste trabalho; a seguir são apresentados e analisados os resultados dos ensaios realizados (capítulo 6); segue-se com uma avaliação do potencial de erosão dos solos (capítulo 7) e por fim faz-se a conclusão da dissertação e sugestões para futuras pesquisas (capítulo 8). 5 CAPÍTULO 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1-CONCEITOS BÁSICOS: Ao se iniciar um estudo, qualquer que seja ele, a primeira preocupação que se deve ter é a de buscar uma definição clara e objetiva do mesmo. Assim, um estudo sobre erosão deve se iniciar apresentando alguns conceitos deste fenômeno, segundo diversos autores. Pastore (1986) e Vilar e Prandi (1993), por exemplo, conceituam o fenômeno de modo semelhante, descrevendo que erosão no seu sentido mais amplo é o processo geral ou grupo de processos através do qual os materiais terrosos ou rochosos da crosta terrestre são desagregados, dissolvidos ou desgastados, e transportados de um ponto a outro por agentes naturais, tais como rios, mares, vento e chuva. Outra definição semelhante é apresentada por Marçal (1998), quando afirma que “o termo erosão refere-se ao desgaste da superfície terrestre sob ação dos agentes erosivos, principalmente a água e o vento, e em zonas montanhosas a neve e o gelo”. Guerra (1995) relata que “a erosão dos solos é um processo que ocorre em duas fases: uma que constitui a remoção (detachment) de partículas, e outra que é o transporte desse material, efetuado pelos agentes erosivos”. Pode-se citar ainda a definição de Gray e Leiser (1989), segundo os quais “erosão é a remoção das camadas superficiais de solo por agentes como vento, água e gelo. A erosão de solos envolve os processos de destacamento e transporte por estes agentes, sendo iniciada por arranque, impacto, ou forças de tração atuando sobre o material”. 6 De uma forma geral, pode-se dizer, então, que erosão é a remoção dos detritos, os quais são depositado em áreas adjacentes. Durante a erosão, pode ocorrer processo de abrasão É a remoção de partículas individuais ou de grumos de partículas que a diferencia de outros movimentos de massa, como avalanches e escorregamentos, nos quais massas de solo / rocha se movimentam como um todo. Bennett (1965) explica que por vezes a erosão do solo se dá em um ritmo lento, que permite a formação de novo solo, abaixo da camada superior, em um tempo semelhante ao de desgaste daquela camada. Neste quadro de transformação a erosão é chamada erosão normal ou geológica. Explicação semelhante é dada por DAEE-SP (1990), quando relata que “o solo é uma camada viva, em processo permanente de formação, através da alteração das rochas e de processos pedogenéticos. Este processo é contrabalançado pelo processo de erosão, que remove seus constituintes, sobretudo pela ação da água de chuva. Portanto, há um quadro dinâmico, no qual diversos processos atuam de forma contraditória, formando e erodindo o solo, refletindo um certo equilíbrio na natureza, no qual a erosão é considerada normal “. Ocorre que quando este equilíbrio é rompido por uma intensificação da erosão, mais veloz que a formação dos solos, estes não têm tempo de se regenerar, observando-se então a perda de diversas de suas camadas ou horizontes. Esta aceleração pode ser desencadeada por alterações nas condições geológicas ou climáticas, ou pode ser provocada pelo homem. Este último caso costuma ser mais preocupante, pois, de modo geral, requer menos tempo para atuar, o que implica na necessidade de combate emergencial. A erosão, quando desencadeada pela atividade humana, está relacionada, geralmente, com uso inadequado do solo e traz conseqüências desastrosas para o mesmo, sendo uma das formas principais de sua degradação. Alguns exemplos de atividades que aceleram o processo erosivo são: desmatamento, ocupação urbana sem planejamento, 7 principalmente no que diz respeito ao lançamento de fluxo de água concentrado; exploração de recursos naturais; construção de estradas e barragens (obras altamente agressivas ao meio ambiente); produção agrícola, que ataca a camada superficial do solo. Diversos são os resultados danosos provocados pelos processos erosivos, os quais representam elevadas perdas, inclusive do ponto de vista econômico. Guerra (1995) cita alguns danos causados pela erosão, como por exemplo a contaminação da água dos rios por partículas transportadas que venham a estar contaminadas (por defensivos agrícolas, por exemplo), e o assoreamento de mananciais. Gray e Leiser (1989) citam que “os custos diretos causados por erosão e sedimentação incluem a destruição de propriedades. Os custos indiretos são mais difíceis de serem avaliados, mas provavelmente são ainda maiores”. Entre estes últimos, pode-se citar: diminuição da produtividade agricultural; assoreamento de tubulações; solapamento de fundações e pavimentações; enchentes; assoreamentos de portos e canais; etc. Na foto 2.1 observa-se um exemplo de destruição provocada por erosão. Foto 2.1: Exemplo de propriedade destruída por erosão (apud Marçal 1998) 8 A erosão, de uma forma geral, é influenciada diretamente por dois fatores principais, que são a natureza do material (seja rochoso ou terroso) e o clima. Dependendo do tipo de processo, cada um destes fatores poderá ter uma maior ou menor importância. Além disso,fatores específicos podem influenciar significativamente um determinado processo, sem que o façam em outro. O clima pode influenciar o processo de maneira direta ou indireta. Um exemplo da ação direta é a variação de temperatura, que faz com que o material se dilate e se contraia alternadamente, causando a fragmentação do mesmo. Outra influência direta do clima diz respeito às características de alguns agentes erosivos, como a chuva e o vento. Indiretamente, pode-se citar como principal exemplo a vegetação, que, de acordo com cada clima, representa uma maior ou menor proteção ao solo, e consequentemente, representar maior ou menor dificuldade para a evolução do processo erosivo. O tipo de rocha, por sua vez, influencia no processo porque, de acordo com as suas características próprias, o solo resultante apresenta maior ou menor erodibilidade, ou seja, maior ou menor susceptibilidade ou facilidade a sofrer erosão. Assim, conforme exemplificado por DAEE-SP (1990), “solos mais arenosos se desagregam mais facilmente que os solos argilosos, ou seja, a textura é uma das características que condicionam a erosão”. Além desta, são também condicionantes a estrutura, composição, entre outros. Gray e Leiser (1989) ressaltam que “não há ainda um índice para erodibilidade simples e universalmente aceito”. Desta forma, os autores apresentam uma hierarquia clássica de erodibilidade, baseada na classificação unificada de solos: Mais erodível → Menos erodível ML > SM > SC >MH > OL>CL > CH > GM > GP > GW 9 Onde: G indica cascalhos e S areias. Areias e cascalhos bem graduados são designados por SW e GW. Materiais pobremente graduados são indicados por SP e GP. As partículas finas do solo são subdivididas de acordo com seus limites de liquidez. Se LL <50 o símbolo é L, se LL>50 o símbolo é H. As letras M, C e O indicam siltes, argilas e solos orgânicos, respectivamente. Os mesmos autores citam ainda algumas tendências de erodibilidade dos solos, tais como: é baixa em cascalhos bem graduados; é alta em siltes e areias finas e uniformes; diminui com o aumento de argila e matéria orgânica; diminui para índices de vazios baixos e teor de umidade alto. Morgan (1986) considera que “as partículas menos resistentes são siltes a areias finas”. Evans (1980) analisa a erodibilidade em função do teor de argila e afirma que solos com frações argila limitadas são mais susceptíveis à erosão. 2.2-AGENTES EROSIVOS: A ocorrência dos processos erosivos pode se dar devido à ação de diversos agentes, como por exemplo a água, o gelo, o vento e a gravidade. É importante ressaltar que o agente água pode ser dividido em agentes ainda mais específicos, como rios, mar ou chuva. Deve-se destacar aqui o conceito de erosividade, que é o potencial que o agente erosivo apresenta de promover erosão, não devendo este conceito ser confundido com o de erodibilidade, que, como já explicado, diz respeito à susceptibilidade do solo de ser erodido. Analisando-se estes agentes, não é difícil perceber que cada um deles atua de uma maneira específica, o que faz com que os processos, apesar de levarem a um mesmo efeito final (a erosão), sejam diferentes entre si. Gray e Leiser (1989) apresentam um resumo dos 10 diversos agentes, relacionando-os com os respectivos tipos de processo erosivo, o qual é apresentado na tabela 2.1. Tabela 2.1: Agentes e tipos de erosão (modificado de Gray e Leiser, 1989) AGENTE TIPOS DE PROCESSOS EROSIVOS Água Gotejamento; Erosão Laminar; Sulcamento; Voçorocamento; Erosão Fluvial; Ação de ondas; Erosão Interna. Gelo Solifluxão; Ação de Congelamento/Descongelamento; Erosão Glacial; Arrancamento. Os processos erosivos relacionados ao agente gelo têm alguma ocorrência no Brasil, sendo porém pouco representativos e por este motivo também não receberão abordagem específica. De uma maneira resumida e objetiva, pode-se apresentar as seguintes definições para os diversos processos: a) Erosão Fluvial: Ocorre, como o próprio nome diz, quando a ação dos rios proporciona desgaste de suas margens e carreia material removido ao longo do leito. Como os rios escoam sempre em uma mesma direção, este processo caracteriza-se por apresentar um fluxo unidirecional, havendo então, teoricamente, uma única força de módulo e sentido constante. b) Erosão Marinha: É o trabalho de destruição causado pelo efeito de ondas e de marés, além de eventuais tempestades ao longo dos litorais. Este processo caracteriza-se 11 basicamente por apresentar um fluxo bidirecional (fluxo de vazante e fluxo de enchente), havendo portanto, duas forças de módulos e sentidos diferentes. c) Erosão Subterrânea: Consiste na remoção interna de solo, provocada pela percolação de água subterrânea e é comumente conhecida como entubamento (piping). Simplificadamente, este fenômeno ocorre porque as forças de percolação excedem as forças resistivas (tais como tensões intergranulares ou forças de coesão). Gray e Leiser (1989) explicam que “uma vez que um tubo se forme aumenta rapidamente, porque as linhas de fluxo são atraídas para áreas de menor resistência, o que resulta em mais concentração de fluxo, formando um ciclo”. d) Erosão Eólica: Este processo ocorre quando a ação do vento é responsável pelo arrancamento e carreamento de partículas do solo. Neste caso, as etapas de erosão, transporte e sedimentação serão função das características de velocidade e turbulência do vento. e) Erosão Pluvial: Este tipo de processo se inicia com as gotas de chuva propriamente ditas. O impacto destas gotas no solo podem provocar a desagregação e movimentação de partículas, as quais ficam então mais vulneráveis à erosão, apresentando maior facilidade em serem transportadas. Dentre as formas de erosão supracitadas, segue-se agora uma abordagem mais abrangente dos processos eólico, fluvial, subterrâneo e pluvial, por se considerar que são estes os mais importantes, devido as suas ocorrências mais comuns e efeitos mais 12 significativos, uma vez que podem ocorrer em todo território, enquanto o processo marinho se restringe à faixa costeira. 2.2.1-EROSÃO EÓLICA: Os fatores que influenciam neste processo são basicamente os mesmos da maioria dos casos de erosão, ou seja, o clima e a natureza do solo, conforme descritos anteriormente. Neste caso específico, o clima influencia na velocidade e na direção do vento, na temperatura, no tipo de cobertura vegetal, na sua densidade e na sua distribuição sazonal. As características do solo que afetam a erosão eólica são a textura, dimensão dos grãos, teor de umidade e rugosidade da superfície. Todos estes fatores podem ser expressos em termos de parâmetros possíveis de serem identificados e medidos. Alguns fatores, como a rugosidade da superfície e a presença de pequenas barreiras que funcionam como quebra-ventos, passam a exercer importante influência no processo, merecendo atenção especial. Somente solos relativamente secos são susceptíveis à erosão eólica. Os fatores climáticos que mais afetam a umidade do solo são a quantidade e a distribuição de chuvas, a temperatura e a umidade local. Este caso evidencia a importância das chuvas em processos erosivos, podendo aquela ser o próprio agente desencadeador ou apenas um fator de influência indireta. Já entre as características próprias do vento, as mais importantes são a sua velocidade, duração, direção e grau de turbulência. De acordo com Gray e Leiser (1989), “o vento somente seleciona e carrega em suspensão solos secos com tamanho de grãos essencialmente menor que 0,1mm”. 13 Ainda segundo aqueles autores, “ a erosão eólica consiste em três fases distintas: início do movimento, transporte e deposição. O início do movimento é resultado da velocidade e da turbulência do vento. A velocidade requerida é maior quanto maioro peso do grão. Para muitos solos esta velocidade é de cerca de 13m/h, a uma altura de 30cm acima do chão. Uma vez iniciado o movimento, a velocidade requerida para mantê-lo passa a ser bem menor”. Além do transporte em suspensão, partículas maiores de solo podem ser transportadas por saltação (0,1 a 0,5mm) ou mesmo por rolamento (0,5 a 1mm). A maior parte do transporte de partículas de solo por vento ocorre próximo à superfície do terreno, o que evidencia a possibilidade de solucionar o problema, ou pelo menos amenizá-lo, através de utilização de técnicas simples, como por exemplo a adoção de barreiras relativamente pequenas ou de quebra-ventos. Pode-se adotar também vegetação, a qual apresenta ainda a função de aumentar a rugosidade da superfície, reduzir e desviar o vento e unir as partículas do solo. 2.2.2- EROSÃO FLUVIAL: Este processo ocorre, como o próprio nome diz, quando a ação dos rios proporciona desgastes da margens e do fundo do canal e carrea o material removido ao longo do leito (foto 2.2). O local onde a erosão ocorre depende do tipo de canal: canais “jovens” (menores) geralmente apresentam erosão no fundo; canais “maduros” (maiores) sofrem basicamente erosão das margens. Os materiais erodidos e depositados em um trecho específico do canal costumam apresentar-se balanceados. 14 Foto 2.2: Exemplo de erosão fluvial Uma série de variáveis controlam o comportamento dos sistemas fluviais, dentre as quais se incluem a descarga do canal, o tamanho dos grãos, a largura do canal, a profundidade do fluxo, a forma e sinuosidade do canal. O comportamento do sistema é então definido a partir de uma situação em que todas estas variáveis se encontrem em estado de equilíbrio dinâmico. Através dos sedimentos erodidos, transportados e depositados nos rios, pode-se avaliar o poder de trabalho dos mesmos. Estes três processos são definidos pela velocidade e turbulência do fluxo, apresentando interdependência e ocorrendo a partir de mudança no fluxo ou na carga. 15 A velocidade e a turbulência variam tanto no perfil longitudinal quanto no transversal do leito de um rio. De acordo com Cunha (1994), “ao longo do perfil longitudinal, quando a velocidade é lenta e uniforme, as águas fluem em camadas, sem haver misturas entre elas, constituindo o fluxo laminar, no qual os processos erosivos são diminutos e a capacidade de transporte se torna reduzida, deslocando apenas partículas muito finas”. Já para os fluxos turbulentos, com flutuação de velocidade, a capacidade de transporte atingirá partículas maiores. A variação na velocidade e na turbulência, ao longo do perfil transversal, define locais preferenciais de erosão e de sedimentação. Em geral, as áreas de menor velocidade e turbulência encontram-se na superfície da água (devido ao atrito com ar), nas paredes laterais e no fundo do canal. Assim, as áreas de maior velocidade encontram-se no centro do leito, logo abaixo da superfície de água. A exceção a esta regra ocorre em canais com seção transversal assimétrica, nos quais a velocidade e turbulência decrescem da margem côncava para a convexa. Dois importantes parâmetros para a quantificação do trabalho de um rio são sua competência e sua capacidade, sendo que ambos dependem da relação entre a seção do canal e a velocidade do fluxo. A competência do rio está relacionada com o tamanho máximo do material a ser transportado, enquanto que sua capacidade é definida pelo volume de carga transportada. A carga por sua vez, é definida como a soma das quantidades de material em suspensão ao longo do leito do rio. A carga do fundo ou carga do leito do rio é formada por partículas de granulação maior como areia e cascalho, enquanto que a carga suspensa é composta por partículas menores, que de tão pequenas se mantêm em suspensão na água (argilas). Há ainda a carga 16 dissolvida, que são substâncias resultantes do intemperismo, transportadas em forma de solução química. As cargas suspensa e dissolvida são transportadas com a mesma velocidade da água que flui, permanecendo em movimento até que a velocidade decresça e atinja um limite mínimo, a partir do qual se inicia a deposição. Por sua vez, a carga do leito move-se com velocidade inferior à da água, já que suas partículas rolam, deslizam ou saltam ao longo do leito do rio (figura 2.1). Figura 2.1: Esquema representativo do transporte dos diferentes tipos de cargas detríticas (apud Suguio e Bigarela, 1990) A erosão das paredes e do fundo do leito pode se dar por meio de corrosão, abrasão ou cavitação: a) Corrosão: É o processo pelo qual ocorre uma reação química entre as rochas e a água, acontecendo a dissolução do material. 17 b) Abrasão: Também chamada de corrasão, é o processo em que ocorre o desgaste por atrito mecânico entre as partículas transportadas e as rochas, havendo uma tendência de redução da rugosidade do leito. c) Cavitação: A desagregação da rocha se dá graças à variação de pressão de paredes do canal, fato que ocorre devido às condições de velocidade elevada da água. A erosão do canal de um rio pode ocorrer devido à atuação de diferentes processos, como por exemplo: a) Erosão Regressiva da Base: Ocorre quando a base de um talude submerso é atacada, levando à erosão e desmoronamento das margens. b) Erosão das margens: Causada diretamente pela ação das correntes. c) Ruptura dos Taludes sem Superfície Definida: Ocorre nas margens, em solos siltosos e arenosos saturados, quando ocorrem condições que causem a liquefação destes. d) Piping: Erosão das margens devido à perda de sustentação, ocasionada por erosão interna, a partir da percolação de água subterrânea em áreas preferenciais. Conforme observam Gray e Leiser (1989), “o reconhecimento e compreensão destes processos é muito útil quando se projeta um sistema de prevenção e controle. Por outro lado, esta classificação não é particularmente útil na determinação da causa da erosão de um canal”. A explicação da causa está relacionada ao ajuste das características de um canal, até a obtenção de um equilíbrio dinâmico, ocorrendo então três mecanismos principais: a) Alargamento do Canal: Devido a aumento do fluxo ou da carga de sedimentos. 18 b) Aprofundamento do Canal: Devido a aumento do fluxo ou mudança de declividade. c) Mudança de Sinuosidade: Relacionado a transformações na configuração longitudinal do canal. Ocorre perda de material nas margens acompanhada de acréscimo de material em local adjacente. 2.2.3-EROSÃO INTERNA OU ENTUBAMENTO: Segundo Guerra (1995), “os dutos (pipes) ou túneis são grandes canais, abertos em subsuperfície, com diâmetros que variam de poucos centímetros até vários metros”. Gray e Leiser (1989) relatam que o tipo de erosão comumente chamada de entubamento (piping) consiste “na remoção de solo causada pela percolação da água subterrânea ou pelo seu movimento através de uma face livre”. O processo de formação dos dutos, de acordo com Guerra (1995), “está relacionado ao próprio intemperismo, sob condições especiais geoquímicas e hidráulicas, havendo a dissolução e carreamento de minerais, em subsuperfície... É preciso haver forte gradiente hidráulico que proporcione o escoamento em subsuperfície e o transporte de material dissolvido”. Hargerty (1991) descreve que o processo se inicia no momento em que as forças geradas pelo gradiente hidráulico superam as forças resistivas tais como: imbricamento e atrito entre as partículas; coesão entre os grãos, provenientes de atrações físico-químicas; cimentação e aglutinação por raízes. 19 Gray e Leiser (1989) fazem consideração semelhante ao afirmar que o fenômeno ocorre “quando as forças de percolação excedem as tensões inter-granulares ou forças de coesão”. Guerra (1995) e Gray e Leiser (1989) afirmam queuma vez formados os dutos, os mesmos passam a representar zonas preferenciais para o fluxo subsuperficial, tornando-o concentrado. Com isso, a tendência é de aumentar a intensidade do processo, segundo os mesmos autores. Deve-se observar que trata-se de um processo bastante complexo e de díficil entendimento. As principais dificuldades que podem ser citadas são: a própria avaliação de quais as variáveis envolvidas, além da mensuração das forças consideradas atuantes. Outro fato que merece destaque é que a observação e identificação do processo no campo é muito difícil, segundo Santos (1997) e Bacellar (2000). 2.2.4-EROSÃO PLUVIAL: Conforme já citado, a chuva é um dos principais agentes desencadeadores de processos erosivos, adquirindo importância ainda maior em regiões tropicais ou subtropicais úmidas, nas quais se incluem grande parte do território brasileiro. Nestas regiões, a erosão provocada pela ação da chuva costuma ser, de fato, a mais pronunciada. A erosão pluvial é controlada basicamente por três fatores naturais, que são: o clima, o solo e o relevo. Santiago (1999) cita a precipitação como fator controlador mais importante do processo. O clima será determinante principalmente nas características da intensidade, duração e distribuição das chuvas. Chuvas torrenciais ou pancadas de chuvas intensas representam as formas mais agressivas de atuação deste agente. 20 Outra influência deste fator, conforme já visto, é feita indiretamente, através da vegetação. Isto porque o clima será decisivo nas características naturais da cobertura vegetal, definindo o tipo de proteção oferecida ao terreno. Esta proteção consiste na redução do escoamento superficial e na redução do impacto direto das gotas de chuva no solo, diminuindo assim a capacidade das águas de removerem e transportarem partículas do solo. A respeito deste ponto, Vilar e Prandi (1993) descrevem como principais efeitos da vegetação a interceptação e retenção da chuva; a proteção do solo contra a atuação da gota e seu aumento de resistência ao escoamento superficial, com conseqüente deposição das partículas por interceptação ou redução de velocidade; e a retenção e aglutinação do solo pela ação das raízes. Guerra (1995) e Santiago (1999) corroboram com tais considerações, acrescentando ainda o papel da vegetação na formação do húmus, que afeta a estabilidade e o teor de agregados. É importante, porém, atentar para o fato de que muitas vezes as características naturais da vegetação não se encontram preservadas, devido à atuação humana. Nestes casos, o fator vegetação não mais estará relacionado ao clima, mais continuará, obviamente, representando grande influência no processo. O solo é determinante nos processos erosivos devido à maior ou menor facilidade que apresentem de serem erodidos, conforme explicado anteriormente. Esta susceptibilidade à erosão, chamada de erodibilidade, depende de características do solo, tais como textura, composição, estrutura, porosidade, etc. Uma importante observação é feita por DAEE-SP (1990), ao relatar que “o tipo de solo tende a representar os fatores extrínsecos da erosão: clima, topografia e cobertura vegetal”. O mesmo exemplifica que “os solos do tipo podzólico são, em geral, mais susceptíveis à erosão que os do tipo latossólico. Além dos podzólicos ocorrerem geralmente 21 em topografia mais movimentada que os latossolos, apresentam logo abaixo do horizonte superficial um horizonte ou camada com maior concentração de argila, o que representa uma certa barreira à infiltração das águas. Como conseqüência, o fluxo de água, logo abaixo da superfície, paralelo à encosta, tende a propiciar uma maior erosão neste tipo de solo”. A topografia é importante no que diz respeito à declividade e comprimento da encosta, sendo um fator determinante na velocidade dos processos erosivos. Isto porque relevos mais acidentados, com declividades mais acentuadas, favorecem a concentração e aumento de velocidade do escoamento superficial, aumentando sua capacidade erosiva. Vilar e Prandi (1993) citam ainda que “a erosão varia com a forma da encosta, sendo mais pronunciada em encostas convexas, do que em encostas côncavas”. Em DAEE-SP (1990) é descrito que “a declividade tem tanta importância quanto maior for o trecho percorrido pela água, ou seja, quanto maior for o comprimento da encosta”. Já Gray e Leiser (1989) descrevem que “a influência ou importância do comprimento tende a aumentar à medida que a declividade se torne mais íngreme”. Os mesmos autores exemplificam que “dobrando o comprimento de uma encosta de 30m para 60m o aumento da perda de solo será de apenas 29% se a declividade for de 6%, enquanto o mesmo aumento de comprimento, para uma declividade de 20%, resultará em um aumento de perda de solo de 49%”. É razoável então concluir que, na verdade, a importância dos dois fatores será interdependente, com a influência da topografia sendo tomada pela ponderação de ambos. Este é um dos motivos para a adoção de bancadas ou terraços como forma de controle do processo. 22 Guerra (1995) considera que “o ciclo hidrológico é o ponto de partida do processo erosivo”. Resumidamente pode-se descrever que, ao ocorrer um evento chuvoso, parte da água chega até o solo e parte não. A porção que chega à superfície pode então ser armazenada em pequenas depressões ou se infiltrar no terreno. Ocorre que os solos possuem limites máximos de absorção, ou seja, possuem capacidades de infiltração. Uma vez que a capacidade de água que chega ao solo exceda sua capacidade de infiltração haverá runoff. Guerra (1995) explica, porém, que “como mecanismo gerador de runoff, esta comparação entre intensidade de chuva e capacidade de infiltração nem sempre se aplica”. Isto porque nem sempre o runoff será gerado apenas depois de excedida a capacidade de infiltração. O autor segue explicando que, em certos casos, o fator controlador não será aquela capacidade, e sim “um teor limitante de umidade dos solos, que resulta do encharcamento dos mesmos”, relacionado à capacidade de armazenamento por capilaridade. A partir do momento em que começa a se acumular na superfície, a água fica retida em pequenas depressões, até que esta capacidade de armazenamento seja saturada, se iniciando então o runoff. O impacto direto das gotas de chuva sobre o solo desprotegido, desencadeia a forma de erosão conhecida como “splash” ou salpicamento. Este processo pode proporcionar o destacamento e transporte de grande quantidade de solo. Através do impacto das gotas de chuva, o solo tem suas partículas desagregadas, libertando partículas menores e mais soltas, mais facilmente transportadas pelo escoamento superficial. Guerra (1995) descreve que a formação da crosta diminui a ação erosiva do impacto das gotas de chuva, uma vez que a superfície se torna mais resistente. Por outro lado, 23 com a superfície selada, a infiltração da água diminui consideravelmente, aumentando, consequentemente, o runoff. O impacto da chuva sobre o terreno desprotegido também é muito importante porque as partículas finas liberadas no processo preenchem os poros do solo e formam uma crosta, deixando-o selado. Diversos parâmetros são utilizados para investigar a erosividade da chuva, podendo- se citar como exemplos o total de chuva, sua intensidade e energia cinética. Baseados nas relações entre a energia cinética da chuva e sua intensidade, Wischmeier e Smith (1958) propuseram a seguinte equação: E.C.=11,87+8,73log10i (Equação 2.1), onde: E.C.: energia cinética da chuva (joules/m2/mm) i: intensidade da chuva (mm/h) Ellison (1948) estimou que até 25 kg/m2 podem ser lançadas no ar durante uma tempestade. Gray e Leiser (1989) dizem que “partículas lançadas podem se mover mais de 60cm verticalmentee 1,5m lateralmente”. À medida que caem no terreno, as gotas de chuva rapidamente se juntam, formando filetes de água. Estes, ao escoarem encosta abaixo, podem fazê-lo como um lençol de água, lavando a superfície como um todo, ou podem se juntar cada vez mais, chegando até mesmo a formar enxurradas, com elevada capacidade de erodir e transportar partículas do solo. A erosão provocada pelo primeiro tipo de escoamento é conhecida como laminar, uma vez que a água escorre como uma lâmina, lavando o terreno por inteiro, sem formar canais definidos. Já no segundo caso, como ocorre a concentração da água, a erosão provocada é conhecida 24 como erosão por escoamento concentrado, a qual forma sulcos que podem evoluir para ravinas e até voçorocas (Figura 2.2 e Foto 2.3). Figura 2.2: Representação esquemática de erosão laminar e por escoamento concentrado, formando sulcos na superfície (apud DAAE 1990) Foto 2.3: Exemplo de erosão superficial (apud Marçal 1998) 25 As gotas de chuva costumam ter velocidades de 600 a 900 cm/s, enquanto que as velocidades do fluxo superficial são de 30 a 60 cm/s, o que faz com que a erosão por salpicamento pareça ser mais importante que a laminar, do ponto de vista da energia do processo. Gray e Leiser (1989) descrevem que “o poder de erosão e transporte de um escoamento laminar para determinado tamanho, forma e densidade das partículas de solo ou agregados são funções da profundidade e velocidade do runoff ”. Conforme citado anteriormente, o escoamento superficial, quando concentrado, pode levar à formação de ravinas e voçorocas. Nestas situações, o fluxo superficial deixa de ser laminar, concentrando-se em filetes líquidos, que através da velocidade da água provocam erosão no terreno. Rego (1978) considera que as ravinas ocorrem a partir da concentração de fluxos d’água em determinados pontos, formando canaletas bem definidas. A erosão por ravinamento é, então, aquela que atua no terreno devido à ação da água escoando em canais pequenos, bem definidos, nos quais o fluxo superficial se concentra. Esta forma de erosão é mais preocupante que a laminar, uma vez que as velocidades de escoamento nas ravinas ou canais são mais elevadas. Schawb et al (1966) diz que o ravinamento é, dentre as formas de erosão pluvial, aquela nas quais ocorrem as maiores perdas, afirmação corroborada por Morgan (1986), que considera que é dentro das ravinas que se dá o transporte da maior parte dos sedimentos erodidos em uma encosta. A erosão por ravinamento é ainda mais grave quando em locais com características de escoamento superficial elevado e camada superior de solo rasa e fofa. As ravinas se caracterizam por serem pequenas porém facilmente visualizáveis e com relativa estabilidade. Neste aspecto, Gray e Leiser (1989) consideram que “são suficientemente largas e estáveis 26 para serem prontamente vistas, mas pequenas o bastante para serem facilmente removidas por operações normais de aragem e nivelamento do terreno”. Uma feição ainda mais flagrante da ocorrência de processo erosivo é a voçoroca (Foto 2.4). As voçorocas são constituídas geralmente por canais maiores que as ravinas, profundos, com paredes íngremes e fundo chato. Estes canais se caracterizam por apresentarem fluxo de água durante e imediatamente após eventos chuvosos. Rego (1978) considera que as voçorocas são um estágio avançado da erosão por ravinamento. Vilar e Prandi (1993) , de forma semelhante, descrevem que “voçorocas são ravinas de grandes dimensões, normalmente provocadas por grande concentração de fluxo”. Bacellar (2000), entretanto, ressalta que as ravinas não necessariamente evoluem para voçorocas, sendo comum sua estabilização devido às condições locais, que impeçam seu aprofundamento até o lençol freático. Alguns autores, como Guidicini e Nieble (1984) e Vilar e Prandi (1993) descrevem o processo de formação das voçorocas como sendo o avanço das ravinas, após atingirem o lençol freático. De acordo com Bigarella e Mazuchovski (1985) “a voçoroca é nitidamente um fenômeno hídrico, envolvendo tanto a ação das águas superficiais como também das subterrâneas, iniciando-se com a concentração de água na superfície da vertente”. Guerra (1995) relata que as voçorocas estão associadas a problemas de erosão acelerada, e portanto, com a instabilidade da paisagem. O mesmo autor descreve ainda que as voçorocas podem ter origens variadas, e estão ligadas a um desequilíbrio entre a quantidade de água que escoa na superfície da encosta, o tipo de escorregamento, a forma da encosta e a erodibilidade do material, podendo acontecer de se aprofundarem tanto que cheguem a atingir o lençol freático. 27 Em DAEE-SP (1990), por sua vez, considera-se que “a voçoroca pode ser formada seja através de uma passagem gradual da erosão laminar para a erosão em sulcos e ravinas cada vez mais profundas , ou então, diretamente, a partir de um ponto de elevada concentração de água sem a devida dissipação de energia”. Guerra (1995) refere que “existem várias classificações espalhadas pelo mundo, sobre os limites, quanto à profundidade e largura, entre as ravinas e as voçorocas.” Cita ainda Goudie (1985), que propõe que as ravinas podem ser obliteradas pelas máquinas agrícolas, enquanto as voçorocas não. Foto 2.4: Exemplo de voçoroca em solo residual de migmatito, na rodovia Rio-Teresópolis. De acordo com Gray e Leiser (1989) “a dinâmica da formação de voçorocas é complexa e não entendida completamente”. 28 Quando as voçorocas ainda estão ativas, continuam a crescer ou se alargar, e podem ser reconhecidas pelo fato de que o solo das margens não apresenta vegetação, a qual começa a se desenvolver nos canais durante a cicatrização. Quando se verificar vegetação bem desenvolvida e estabelecida, protegendo o solo contra o risco de nova erosão; as laterais da voçoroca se encontrarem estáveis e houver gradiente em equilíbrio no canal, considera-se que o estágio de estabilização da voçoroca foi atingido. O aprofundamento de ravinas levando até o surgimento de voçorocas parece estar associado a alguns fatores naturais condicionantes, relativos ao tipo de solo, ao tipo de relevo e, indiretamente, ao substrato rochoso. Quanto ao tipo de solo, observa-se como condições favoráveis a textura arenosa e média, a estrutura prismática (por facilitar a concentração das águas) e a ocorrência de camadas razoavelmente espessas abrigando em si o lençol freático. Quanto ao relevo, aqueles mais declivosos e/ou com menores interflúvios são os que apresentam maior incidência de voçorocas. Já o substrato rochoso tem influência indireta na formação de voçorocas, relacionada com as coberturas pedológicas que dele se originam, não se observando, porém, atuação direta. Uma análise sobre a influência da ação antrópica na formação de voçorocas é complexa, uma vez que estes fenômenos são condicionados por formas de ocupação do solo diversificadas e pontuais, por vezes anteriores à forma verificada atualmente. Apesar da aparência mais espetacular, as voçorocas podem não ser tão significativas quanto as ravinas, em termos de quantidade de solo erodido. São, entretanto, mais difíceis de serem controladas e impedidas. Gray e Leiser (1989) consideram que “um controle efetivo de 29 voçorocas deve estabilizar tanto o gradiente no canal quanto a cabeceira. O entalhamento da base da voçoroca leva ao aprofundamento e alargamento, enquanto que o entalhamento da cabeceira extende o canal para dentro de áreas de nascentes não voçorocadas e aumenta a rede de fluxo e sua densidade, através do desenvolvimento de tributários”. 2.3- PREVISÃO DE PERDA DE SOLOS: Uma previsão da quantidade de solo perdido através da erosão pluvial em uma determinada área é sempre muito importante para quese possa avaliar a gravidade da situação enfrentada e suas possíveis conseqüências. Com a finalidade de fazer esta previsão de perda de solos, diversas equações empíricas foram desenvolvidas ao longo de décadas de estudos, até se chegar a um modelo final considerado mais adequado e satisfatório em função de sua aplicabilidade e dos resultados obtidos. Desta forma, a equação desenvolvida por Wischmeier e Smith (1960) é hoje mundialmente consagrada e conhecida como a Equação Universal da Perda de Solos (Universal Soil Loss Equation, ou USLE). Tal equação leva em conta todos os fatores que se tem conhecimento de que influenciam na erosão pluvial, os quais são: o clima, o solo, a vegetação e a topografia. Trata- se de uma equação baseada em análises estatísticas de medições de erosão, sendo estas medições feitas em campo, para eventos chuvosos naturais ou simulados. A equação final é expressa pela fórmula: X=RKSLCP (Equação 2.2), onde: X : Perda de solo computada por unidade de área; 30 R : Índice relativo à erosividade da chuva; K : Índice relativo à erodibilidade do solo; L : Índice relativo ao comprimento da encosta; S : Índice relativo à declividade do terreno; C : Índice relativo ao uso e manejo (vegetação) do solo; P : Índice relativo à prática de controle de erosão adotada Apesar de representar um método simples e objetivo de estimativa de perdas de solo, esta equação apresenta certas limitações que devem ser respeitadas antes de se pensar em aplicá-la indiscriminadamente. Marçal (1998) ressalta, por exemplo, que diversos autores contestam a precisão dos resultados obtidos pelo modelo, quando aplicado em condições diferentes daquelas nas quais foi desenvolvido. 2.3.1-FATOR CHUVA (R) : A chuva é, dentre os fatores controladores da erosão, um dos mais significativos, tendo importante influência nas taxas de infiltração e, consequentemente, no escoamento superficial. O índice de erosividade de uma chuva é função da energia da mesma, vezes a intensidade máxima em trinta minutos, sendo então dada por: R= 100 EI (Equação 2.3), onde: E : Energia cinética total para um dado evento chuvoso; I : Chuva máxima em trinta minutos 31 Gray e Leiser (1989) explicam ainda que “os registros de tempestades individuais são somados ao longo de um determinado intervalo e tempo para obter valores acumulados de “R” para outros períodos de tempo (por exemplo, um mês ou um ano)”. 2.3.2-FATOR ERODIBILIDADE (K) : Conforme já definido, a erodibilidade é a resistência dos solos à erosão, ou seja, a terem suas partículas destacadas e transportadas, sendo esta resistência uma função das características próprias do material, tais como textura, teor de matéria orgânica, etc. A obtenção deste fator pode ser feita através de um monógrafo desenvolvido por Wischmeier et al (1971), o qual requer apenas cinco parâmetros do solo: porcentagem de silte e areia muito fina, porcentagem de areia, porcentagem de matéria orgânica, estrutura e permeabilidade. Até mesmo o uso apenas dos três primeiros parâmetros já costuma ser suficiente para a obtenção de uma boa aproximação. Morgan (1986) diz que “onde os valores de K foram determinados a partir de medições de erosão no campo, eles são válidos. Dificuldades surgem, entretanto, com tentativas de predizer os valores a partir do normógrafo”. Observa-se portanto que a determinação da erodibilidade de um solo com o uso deste normógrafo é bastante restrita, sendo pouco confiável para solos de características diferentes daqueles utilizados na sua elaboração, além de levar em consideração poucas variáveis. Por estes motivos, o estudo das propriedades do solo que possam influenciar nos processos erosivos e a avaliação desta influência são importantes contribuições para a tentativa de um melhor conhecimento e tratamento do fenômeno. 32 2.3.3-FATORES COMPRIMENTO E DECLIVIDADE (L,S) : Apesar de terem sido estudados separadamente, estes dois fatores costumam ser considerados em conjunto, em um “fator topográfico LS”, o que é justificado pelo fato de que, como já visto, ambos tem importância interdependente. A obtenção deste “fator topográfico” é feita por meio de uma equação empírica. 2.3.4-FATOR DE USO E MANEJO DO SOLO (C) : Este fator procura descrever os efeitos protetores da vegetação contra a erosão. O fator “C” é tabelado, buscando atender as diversas possibilidades, como por exemplo solos desprotegidos, pastagens, florestas, etc 2.3.5-FATOR RELATIVO À PRÁTICA DE CONTROLE (P) : O fator “P” é um parâmetro que representa a redução nas perdas de solo conseguida através da adoção de medidas de controle de erosão, tais como aragem, terraceamento e estabilização de cursos d’água. Os valores de “P” para as práticas de controle mais usuais também podem ser encontrados em tabelas. 33 CAPÍTULO 3 ASPECTOS GERAIS DA ÁREA ESTUDADA 3.1-LOCALIZAÇÃO: Representantes de depósitos do Grupo Barreiras na região do recôncavo da Baía de Guanabara foram considerados e descritos por Meis e Amador (1972 e 1977) como pertencentes à “Formação Macacu”, ocorrendo em territórios dos municípios de Duque de Caxias, Rio de Janeiro, Magé, Itaboraí, Cachoeiras de Macacu e São Gonçalo. Para a realização deste trabalho optou-se por se concentrar nas ocorrências em Itaboraí. A partir das visitas iniciais àquela região optou-se então por um perfil localizado no distrito de Itambi, o qual faz parte do município de Itaboraí (figura 3.1). 3.2- ASPECTOS GEOLÓGICOS / GEOMORFOLÓGICOS: O município de Itaboraí é geologicamente representado por unidades sedimentares, correlacionadas às Formações Macacu, Caceribu e coberturas aluvionares mais recentes, de onde emergem unidades cristalinas gnáissicas e migmatíticas pertencentes ao pré-cambriano (figura 3.2). No distrito de Itambi, local de coleta das amostras, ocorrem depósitos sedimentares pertencentes à Formação Macacu. As formações cristalinas ocorrem em relevos mais acidentados, com altitudes da ordem de 140m, enquanto as unidades pertencentes à formação Macacu (do terciário) se apresentam sob a forma de tabuleiros (figura 3.3). As baixadas são cobertas em grande parte por sedimentos quaternários. 34 3.3-CLIMA: A região de Itaboraí apresenta clima tropical subquente úmido. Este clima se caracteriza por não haver freqüência muito grande de temperaturas elevadas no verão e um predomínio de temperaturas amenas no inverno. Ainda dentro desta classificação, no que diz respeito à seca, verifica-se apenas de 1 a 2 meses secos na região ao longo do ano. Na região, a temperatura média anual varia de 240 na baixada a 200 nas serras. Quanto à pluviosidade, na região de Itaboraí verifica-se, ao longo do ano, uma pluviosidade superior a 2000mm nas encostas e variando entre 1200mm a 2000mm na baixada. 3.4-SOLOS: A partir de processos pedológicos, desenvolveram-se na região diversos tipos de solo, sendo os principais: Latossolos Vermelho-Amarelo, Solos Podzólicos Vemelho- Amarelo, Solos Hidromórficos, Solos Halomórficos e Areias Quartzosas Marinhas. Destes, o mais importante para o presente trabalho é o latossolo vermelho-amarelo, por ser o tipo relacionado à Formação Macacu. Os Latossolos Vermelho-Amarelo são solos minerais com seqüencia de horizontes A, B e C. Estes solos apresentam textura argilosa, são profundos, bem drenados, bastante porosos e têm fraca diferenciação entre os horizontes. O horizonte B é profundo, poroso, de consistência macia a dura quando seco, friável quando úmido e ligeiramente plástico e pegajoso à medida que o material é amassado e homogeneizado. Sua estrutura é do tipo granular fracamente desenvolvida, com aparência maciça, porosa e pouco coerente.Figura 3.1: Mapa de localização da região da bacia da Guanabara (modificado de Amador, 1996) Figura 3.2: Mapa geológico da região da bacia da Guanabara (fonte: CPRM, 2000) ITAMBI ITABORAÍ 0 20 Km Figura 3.3: Mapa geomorfológico da região da bacia da Guanabara (fonte: CPRM, 2000) ITAMBI ITABORAÍ 0 20 Km 38 3.5- A FORMAÇÃO MACACU: A Formação Macacu, da qual foram coletadas as amostras dos solos estudados neste trabalho, foi descrita por Meis e Amador (1972 e 1977) e Amador (1980) e corresponde a depósitos representantes do Grupo Barreiras na região da Baía de Guanabara. Sua ocorrência na região é bastante significativa, com uma abrangência que inclui os municípios de Itaboraí, Cachoeiras de Macacu, Duque de Caixias, São Gonçalo e Rio de Janeiro. A seção tipo indicada por Meis e Amador (1977) se situa no km-29 da BR-180, em Magé, local onde aqueles autores consideram haver as melhores exposições da formação. Apesar de conhecida há muito tempo, seu estudo e mapeamento como unidade litoestratigráfica é relativamente recente, a partir de Amador e Meis (1972) e Meis e Amador (1977). Amador (1996) descreve a formação como “uma sucessão de lentes e camadas pouco espessas de sedimentos arenosos, areno-argilosos, argilo-arenosos e argilo-sílticos, pouco consolidados e afossilíferos”. As observações de campo indicam um predomínio de cores variegadas (amarelada, avermelhada e arroxeada), com freqüente mosqueamento por óxido de ferro, aspecto este condizente com a descrição de Amador (1996), segundo a qual “muito provavelmente as cores oxidantes não sejam primárias, e sim produzidas por alteração pós-deposicional”. Os depósitos observados apresentam, também, espessura bastante expressiva. Segundo Amador (1996), “os depósitos da formação ocorrem em níveis de tabuleiros, com altitudes que oscilam entre 15m e 40m... Normalmente os padrões de drenagem da Formação Macacu são retilíneos, com canais alongados e poucos tributários”. 39 Ainda em sua descrição da formação, Amador (1996) diz que “os litossomas que compõem a Formação Macacu dispõem-se predominantemente sob a forma de camadas e lentes. As camadas, normalmente tabulares, correspondem, via de regra, à parte basal da seqüência, enquanto as lentes e/ou camadas irregulares ocorrem no topo”. Um perfil no qual podem ser observados alguns aspectos descritos é mostrado nas fotos 3.1 e 3.2, podendo ser identificadas as camadas arroxeada, esbranquiçada e laterítica amarelada. Foto 3.1: Exemplo de perfil representativo da formação Macacu Foto 3.2: Exemplo de perfil representativo da formação Macacu 40 Diversos estudos realizados em diferentes localidades, como nas Bacias de Resende (Amador, 1975 e 1980) e do Espírito Santo (Amador, 1978) indicaram a ocorrência de discordâncias internas no pacote sedimentar, as quais delimitam fases de sedimentação distintas. Em termos morfológicos, os depósitos da fase de sedimentação mais antiga e os da fase mais jovem se diferenciam porque os primeiros apresentam-se dispostos em camadas tabulares, enquanto os últimos ocorrem em lentes ou camadas irregulares. É importante também citar que os depósitos da Formação Macacu se encontram em discordância sobre o embasamento cristalino ou depósitos das camadas Pré-Macacu. Os sedimentos da formação apresentam baixa seleção, atribuída à pouca competência do agente de deposição, em termos de produzir selecionamento, e às distorções provocadas nos sedimentos por alteração pós-deposicional. Quanto às características mineralógicas dos depósitos, Amador (1996) descreve que “são constituídas predominantemente por quartzo, seguido pelos cristais opacos e semi-alterados de feldspato e, secundariamente, pelas palhetas de micas muscovitas. Os minerais pesados, que ocorrem em pequenos percentuais, são constituídos, quase que exclusivamente pelo grupo dos ultra- estáveis, ocorrendo zircão, turmalina e ilmenita”. Ainda segundo Amador (1996), “submetidas à difração por raio-x e Análise Térmica Diferencial (D.T.A.), as argilas da Formação Macacu mostraram o predomínio de minerais do grupo caulinita, podendo ocorrer eventualmente minerais do grupo montmorillonita”. A análise detalhada de um perfil deve ser feita tendo-se em mente que ele é um produto de alteração de seu substrato, sendo, portanto, o resultado do intemperismo atuante sobre o mesmo. Através do processo de intemperização da rocha-mãe, os seus elementos químicos sofrem sucessivos “rearranjos”, o que justifica possíveis diferenças nas 41 características químicas e mineralógicas ao longo do perfil, diferenças estas determinantes na definição dos diferentes horizontes. Freqüentemente podem ser encontradas ferrificações (concreções limoníticas) , como produto da diagênese. Também se verificam, embora mais eventuais, concreções silicosas, normalmente desenvolvidas a partir de areias arcoseanas. A partir dos aspectos estruturais e litológicos da Formação Macacu, Amador e Meis (1972) e Meis e Amador (1972, 1974 e 1977) a interpretaram como tendo sido formada por processo de deposição fluvial torrencial, provavelmente de tipo anastomosante (leito com inúmeras canalizações inter-barras e inter-ilhas, com planície de inundação bem definida), em condição climática mais seca que a atual. Fácies sedimentares relacionadas a processos de encosta são mais comuns na periferia da bacia. Na Ilha do Governador, Itaboraí, Porto das Caixas e em Magé, os afloramentos apresentam como destaque depósitos relacionados a processo fluvial, em ambiente de “bajada” (acúmulo de sedimentos originados do aplainamento de uma zona de lençol de detritos formada pela ação dos rios), no qual a energia é média, com as estruturas sedimentares estando bem desenvolvidas. Já em Itambi, local do perfil em estudo, ocorre o ambiente de “playa” (depressão, lago ou mesmo pântano que algumas vezes aparecem na “bajada”), no qual se verificam afloramentos da fácies mais fina, de baixa energia e característica de centro de bacia. Muito finos e plásticos, os sedimentos deste ambiente são explorados para serem utilizados como matéria-prima da indústria de cerâmicas e olarias, atividade esta já tradicional na região. Segundo Amador (1996), sondagens realizadas para fins hidrogeológicos indicaram que a espessura da formação é de cerca de 100m, sendo provável que, no início da sedimentação, a posição do nível do mar estivesse abaixo da atual, entre 60m e 100m. 42 Através do critério geomorfológico de correspondência de depósitos com superfícies de erosão, definiu-se que a idade dos sedimentos da Formação Macacu estaria entre o Pleistoceno Inferior e Médio. Amador (1996) relata ainda que “a reconstituição da direção de transporte do paleosistema fluvial da Formação Macacu, bem como a inexistência de sedimentos desta unidade, na Baía de Guanabara, a juzante da Ilha do Governador e a existência de um compartimento estrutural que produziu a elevação relativa de um bloco falhado do embasamento na área ocupada pelas ilhas do Governador e de Paquetá, indicam que durante a deposição da formação, os sedimentos eram dirigidos para a Baía de Sepetiba, utilizando a depressão atualmente ocupada pela Bacia do Rio Guandu. Como remanescentes dispersos desta unidade ocorrem manchas dispersas da formação, na Ilha Santa Cruz, que corresponderiam provavelmente a depressões da paleotopografia. Os depósitos continentais cenozóicos da Bacia da Guanabara, que inicialmente se dirigiam para a Bacia de Campos, com a criação de um auto-estrutural na região de Rio Bonito, provocada pela falha de Rio Bonito, provavelmente no Terciário Inferior/Médio, passaram a dirigir-se para a Baía de Sepetiba, mantendo esta direção de transporte até o término da deposição da Formação Macacu”. 43 CAPÍTULO 4 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA ERODIBILIDADE
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