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4 SEM DIVERSIDADE ETNICO CULTURAL UNID 4 Cultura Urbana

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4 SEM DIVERSIDADE ETNICO CULTURAL UNID 4 Cultura Urbana, Rural e as Comunidades Tradicionais 
Culturas Urbana e Rural No mundo atual, cada vez mais integrado e global, as culturas urbana e rural, em muitos 
casos, fundem-se, hibridizam-se ou influenciam umas as outras. Assim, quando dizemos que esta Unidade tratará do 
tema cultura urbana e do campo, significa que no mundo atual, cada vez mais integrado do ponto de vista da 
informação, da circulação de ideias, da criação de redes sociais, que as culturas urbana e rural estão cada vez mais 
inter-relacionadas. No entanto, é fato também que existem características que são específicas de cada cultura, por isso 
vamos destacá-las. Questões sobre os estilos de vida e a cultura em espaços urbanos e rurais são estudadas por 
antropólogos, geógrafos, sociólogos, linguistas, etnógrafos, historiadores, entre outras áreas do conhecimento. 
Você Sabia? Que etnografia é um ramo da Antropologia que busca descrever as tradições e culturas dos povos, 
mediante coleta de dados, análises e interpretações, principalmente a partir de trabalho de campo feito por um 
antropólogo? Não se deve considerar a etnografia como descrição de raças ou da cor da pele. Desse modo, não existe 
cultura do negro e do branco, pois cor da pele e/ou raça não é a mesma coisa que cultura. 
A cultura tem relação com o homem, com o tempo, com o ambiente no qual vive e sua comunidade ou grupo. Como 
explicam os pesquisadores, usando informações de Paulo Bernardi (1974, p. 55) sobre a interação entre esses 
elementos, temos que 
[...] o anthropos, ou seja, o homem na sua realidade individual e pessoal; o ethnos, comunidade ou povo entendido 
como associação estruturada de indivíduos; o oikos, o ambiente natural e cósmico dentro do qual o homem se encontra 
a atuar; o chronos, o tempo, condição ao longo do qual, em continuidade de sucessão, se desenvolve a atividade 
humana. Acrescenta que um fator por si só não constitui a cultura, mas a ação dos quatro fatores é uma constante no 
processo cultural. Cada ação do indivíduo único, mesmo sendo novo, original ou importante, estaria destinada a perder-
se ou apagar-se se não fosse apropriada pela coletividade, articulada num conjunto orgânico e transmitida como parte 
do patrimônio comum. 
Trata-se, portanto, de uma interação entre os elementos do tempo, da etnia, da comunidade, do ambiente que 
caracterizam uma determinada cultura. Considera-se também que as formas de existência dos grupos sociais – 
classes, castas e/ou outras formas de estratificação ou hierarquia social – contribuem também para certos hábitos, 
costumes, modos de vida que lhe são peculiares – de formas de expressão, hábitos de consumo, alimentação etc. 
Não se trata de ser melhor ou pior, de valorizar essa ou aquela forma de cultura, por exemplo, se da cultura popular ou 
da elite, mas há condições ou características bem díspares entre as quais. Do mesmo modo, a vida no campo ou das 
comunidades tradicionais tem algumas especificidades. Entende-se por comunidades tradicionais aquelas que foram 
menos influenciadas por modos capitalistas de vida, universais. É o caso dos povos indígenas, das comunidades 
quilombolas, caiçaras, dos faxinais no Sul do Brasil. 
Você Sabia? Que os faxinais, por exemplo, constituem-se em comunidades tradicionais que vivem no Centro-Sul do 
Paraná? Que são formadas por famílias e povos que vivem de atividades no campo e cujos ascendentes eram povos 
camponeses que buscavam preservar sua forma de vida – de reprodução social – mediante uma maneira comunal de 
viver? Leia a explicação dos cientistas sociais sobre o tema: 
Tais comunidades possuem formas peculiares de apropriação do território tradicional, baseadas no uso comunal das 
áreas de criadouros de animais, recursos florestais e hídricos e no uso privado das áreas de lavoura, onde é praticada 
a policultura alimentar de subsistência com venda de pequeno excedente. Baseados em normas de conduta e de uso 
ambiental próprias, sobretudo na combinação de uso comum e privado dos recursos naturais, os faxinais são 
considerados uma forma de organização camponesa diferenciada no Sul do País (ROCHA; MARTINS, 2007, p. 209). 
Há um criadouro comunitário, com uso comum das pastagens, sendo que nesse espaço cercado encontram-se 
algumas residências com pequenos quintais e produção de hortaliças e agricultura de subsistência. Ao lado dessa área 
comum, há os complexos faxinais com agricultura, principalmente de milho, arroz e feijão. Buscam, assim, preservar 
seu direito étnico-cultural de estabelecer relações comunais, do trabalho em conjunto, de mutirões. 
Já o modo de vida urbano, principalmente nas grandes cidades e metrópoles, sofre inúmeras influências da indústria 
cultural, do processo capitalista. Não significa, no entanto, que inexistam contra racionalidades. É o caso de 
movimentos de contracultura de caráter eminentemente urbano. Há, de fato, identidades urbanas, caso de punks, 
skinheads, góticos, hip hop, rappers, grafiteiros, entre tantas outras manifestações relacionadas às formas de arte e 
expressão, bem como multiplicidade de identidades nas metrópoles do mundo e no Brasil. 
Cultura(s) Urbana Compreende-se por cultura(s) urbana as formas de manifestação cultural, artística, esportiva, de 
expressão típicas das áreas urbanas. Alguns autores denominam tribos urbanas – termo este cunhado pelo sociólogo 
francês Michel Maffesoli – para os microgrupos que têm como premissa a interação social entre amigos e/ou de grupos 
com o mesmo gosto musical, de pensamento, formas de se vestir, preferência artística em comum, entre outros 
aspectos. Assim, teríamos como exemplo os grupos de hip hop. 
Outros definem que o termo tribo urbana não é adequado, pois o conceito de tribo deve estar associado aos povos 
tradicionais que vivem de maneira tribal, caso de alguns povos indígenas e de nativos africanos, por exemplo. Para o 
antropólogo Magnani (1996) o termo tribo urbana é uma metáfora – e não um conceito –, porque emprestado das 
sociedades indígenas e outras não cabe usá-lo para as identidades socioculturais existentes no espaço urbano. 
Identidades urbanas, como roqueiros e góticos, criam espaços de convivência e modos de se vestir que são peculiares 
ao grupo, formulando uma identidade cultural tipicamente urbana. 
Trocando ideias. Tribo versus tribo urbana? [...] pode-se dizer que tribo constitui uma forma de organização mais 
ampla que vai além das divisões de clã ou linhagem (parentesco) de um lado e da aldeia de outro. Trata-se de um 
pacto que aciona lealdades para além dos particularismos de grupos domésticos locais. E o que vem à mente quando 
se fala em “tribos urbanas”? Exatamente o contrário dessa acepção: pensa-se logo em pequenos grupos bem 
delimitados, com regras e costumes particulares em contraste com o caráter homogêneo e massificado que comumente 
se atribui ao estilo de vida nas grandes cidades (MAGNANI, 1996, p. 49-50). 
Importante ressaltar que um adepto de estilo gótico, por exemplo, pode se expressar como tal, por meio de sua 
vestimenta, forma de pensamento, hábitos, gosto musical etc.; de outro, no cotidiano, não se relaciona somente com 
góticos, pois pode trabalhar em uma empresa com diferentes pessoas, as quais com gostos e interesses culturais 
específicos e distintos entre si. Daí a multidimensionalidade existente nas áreas urbanas, principalmente nas grandes 
metrópoles, onde em cada esquina encontramos tipos diferentes de culturas, espaços específicos para tais identidades 
urbanas. 
Por isso, a vida nas metrópoles é mais complexa, havendo um “bombardeio” diário de informações sobre maneiras de 
se vestir, de gostos que são muito variados. Nas metrópoles, caso de São Paulo, Nova Iorque, Londres e Tóquio, 
percebe-se que existem vários grupos ou microgrupos que têm identidades urbanas próprias, caso dos adeptos do 
punk, do funk, do hip hop, da arte de rua, do samba, entre tantas outras manifestações.O hip hop, por exemplo, é um 
movimento sociocultural urbano, cuja origem se deu em Nova Iorque, nas comunidades afrodescendentes e latinas, 
constituído de música, dança, pintura e poesia. Tal movimento se espalhou mundo afora, tornandose comum em 
periferias como as de São Paulo, por exemplo, principalmente entre os jovens. O hip hop é composto do Rhythm and 
Poetry (RAP) – ritmo e poesia –, do Disc-Jockey (DJ) – artista que cria os sons das batidas do hip hop –, do grafite e 
da breakdance – dança de rua. Nas metrópoles há heterogeneidade de manifestações culturais, uma especialização 
de atividades e serviços relacionados à cultura artística, uma divisão social mais complexa, com grande diversidade 
étnica, cultural e de identidades urbanas, inclusive, de microgrupos. 
O grafite está entre as formas de arte urbana que vem se disseminando nas grandes cidades, ganhando status nos 
últimos anos como arte de vanguarda e tendo, inclusive, apoio de iniciativas públicas e privadas para grafitar paredes 
também públicas e privadas, como forma de expressão de arte de rua. Grafite é um termo que deriva do latim grafitti e 
no período do Império Romano era denominação para as inscrições nas paredes de Roma e, a partir da década de 
1990, foi se transformando em arte pop urbana de rua. 
Outros estudos de cultura urbana estão relacionados às formas de apropriação do espaço das cidades por diferentes 
grupos raciais e étnicos, caso dos bairros típicos de imigrantes comuns em grandes cidades, que trazem consigo um 
pouco de sua cultura, criando um enclave cultural típico. É o caso dos bairros denominados Chinatown, em Los 
Angeles, Estados Unidos, onde há grupos de chineses vivendo e dando características asiáticas com suas lojas e 
restaurantes. Há também bairros de judeus, latinos, indianos, entre outros, em Nova Iorque, Londres, Paris e em outras 
metrópoles. 
Alguns autores denominam tais enclaves de guetos urbanos quando esses bairros ou espaços são discriminados e 
desprovidos de infraestrutura urbana ou segregados socialmente. Um desses pesquisadores é Wacquant, como cita 
Frugoli Jr. (2005, p. 147): 
Wacquant, sociólogo que, a partir de ampla pesquisa etnográfica sobre um gueto negro de Chicago (1996), propôs 
uma concepção institucionalista do gueto enquanto conceito, que envolveria uma formação étnico-racial objetivamente 
inscrita no espaço, com uma população negativamente tipificada e o desenvolvimento de “instituições paralelas”, 
opondo-se claramente às visões de desorganização atribuída aos mesmos e ressaltando seus princípios constitutivos 
em meio a diversas coações estruturais, com a existência de uma racionalidade social local e regular. 
Nos Estados Unidos, os modos de vida dos negros e da cultura norte-americana dos afrodescendentes deu origem a 
um estilo de vida que se contrapõe ao dos norte-americanos brancos e com melhor condição socioeconômica. Há 
preconceito racial e cultural, daí a expressão de guetos urbanos para esses bairros em Chicago, cidade do Meio-Norte 
dos Estados Unidos. Desse modo, as questões racial, cultural, social e econômica se fundem, trazendo particularidades 
a determinados grupos que vivem nas cidades. 
Cultura e Modo de Vida no Campo Nas sociedades e grupos que vivem no campo, nas áreas rurais, o modo de vida, 
em geral, está mais relacionado à natureza, mediatizado pelo tempo da natureza, um ritmo de vida mais lento do que 
o da acelerada metrópole. No Brasil, existem centenas de municípios de pequeno porte onde a vida rural é maior do 
que a urbana, nos quais o modo de vida está mais relacionado à natureza, ao extrativismo – vegetal e/ou animal –, à 
agricultura, à pecuária ou a atividades de turismo rural. 
É comum, no Brasil, que ocorram festividades tradicionais em pequenas comunidades, celebrações que podem estar 
relacionadas à religião ou religiosidade, ou ainda festas típicas associadas a algum produto agrícola – “festa do 
morango”, “da uva”, por exemplo – entre tantas outras conhecidas pelo Brasil. Ao produzir a festa, a preparação dos 
alimentos, as danças típicas, os membros da comunidade buscam reviver um pouco da cultura que tiveram seus 
antepassados e, assim, ressignificam sua identidade de cultura do campo. Algumas dessas festas são transformadas 
conforme os interesses da indústria do turismo. 
Mudam a data ou algumas de suas características a fim de atender aos interesses do consumo em turismo, de modo 
que antigas tradições vão sendo remodeladas. Fundem-se também o campo e a cidade à medida que algumas dessas 
tradições do campo vão para a cidade, tornando-se uma festividade do meio rural, então em ambiente urbano. Nas 
últimas décadas do século XX, o capitalismo tem adentrado cada vez mais no campo e vem alterando alguns costumes, 
formas de trabalho, tempo, lazer e modos de cultura. 
Logo, a ideia de vida mais simples, de um tempo para a realização da vida mais lenta no campo nem sempre é 
verdadeira no mundo atual. Apesar disso, ainda temos, por exemplo, o modo de vida caipira, em alguns Estados 
brasileiros das regiões Sul e Sudeste. Tal cultura caipira foi produzida no período colonial, mediante miscigenações de 
grupos indígenas – principalmente Tupi-Guarani com brancos descendentes de europeus, o que originou o chamado 
caboclo. 
Cultura que se formou com o ir e vir dos tropeiros pelo território nacional ainda no período colonial, do charque, do 
sotaque típico caipira de parte de São Paulo e Paraná, da música que retratava o cotidiano da roça. Antônio Cândido 
(2001), em sua obra Os parceiros do Rio Bonito, retrata o modo de vida dos paulistas, da “cultura rústica”, expressão 
usada para designar o caipira até o século XX. 
Segundo pesquisadores do tema, até meados do século XIX, os termos paulista e caipira se equivaliam, com modos 
de vida e práticas festivas, organização familiar, práticas agrícolas, religiosidade e músicas típicas do que veio a ser 
definido como cultura caipira. Já nos finais do século XIX, havia alguns estereótipos sobre o que seria o caipira, 
envolvendo certo preconceito daqueles que passaram a ser a elite com o processo de industrialização e urbanização 
pelo qual passaram algumas cidades paulistas – preconceito em relação ao sotaque, com o som da letra erre puxado, 
em relação ao modo de vida no campo, da vida mais simples, da “moda de viola”, entre outras características. 
Com o processo de urbanização no Brasil, que se intensificou após as décadas de 1970 e 1980 e com a inserção do 
capitalismo no campo, houve mais alterações nesse modo de vida considerado rural e caipira. Do agregado das 
fazendas, passamos a ter caseiros; da vida simples, passamos a ter cada vez mais tecnologias e também muitos 
expropriados do campo que foram para a cidade; da agricultura de subsistência ou pequena agricultura comercial 
derivou o agronegócio, formato de produção muito ligado à indústria alimentícia em larga escala. 
Mais recentemente, nas últimas décadas do século XX, a antiga música caipira, da moda de viola, passou a ser 
chamada de sertaneja, sob influência de novos vieses musicais e uso de inéditos equipamentos, melodias e letras. 
Contudo, não é somente no Estado de São Paulo que há esse modo de vivência e cultura atrelado à vida no campo e 
cujo estilo vem se alterando. No sertão do Nordeste há hábitos comuns seculares – de formas de se alimentar, 
expressões, vestimentas, por exemplo, do vaqueiro e do sertanejo agricultor (que vive ainda da agricultura de 
subsistência), com sua religiosidade católica – que também vem sendo alterados nos últimos anos. Já na Amazônia, 
existem vários povos e etnias indígenas e comunidades tradicionais de ribeirinhos, cujas tradições remetem a outras 
formas de religiosidade, organização social e cultura. 
Comunidades tradicionais: Povos e comunidades tradicionais: grupos culturalmente diferenciados e que se 
reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupame usam territórios e recursos 
naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando 
conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição. [...] A Política Nacional de Desenvolvimento 
Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT) foi instituída, em 2007, por meio do Decreto n.º 6.040. 
A Política é uma ação do governo federal que busca promover o desenvolvimento sustentável dos povos e 
comunidades tradicionais, com ênfase no reconhecimento, fortalecimento e garantia dos seus direitos territoriais, 
sociais, ambientais, econômicos e culturais, com respeito e valorização à sua identidade, suas formas de organização 
e suas instituições (Decreto Federal n.º 6.040/2000). 
Embora possamos classificar ou identificar alguns grupos como povos ou comunidades tradicionais, são 
significativamente diversos em relação aos modos e organização social e familiar, hábitos, língua, maneiras de se 
relacionar com a natureza e com outros grupos, bem como formas de expressão religiosa e artística. O que une a 
comunidade tradicional é seu traço de ser mais comunal, de viver em comunidade, de ser menos influenciada pelo 
modo capitalista de produção – com sua cultura globalizada. Em geral, o que caracteriza a comunidade tradicional é 
ter um modo de vida mais atrelado à natureza, mais voltado ao mundo rural. Este é o caso dos ribeirinhos na Amazônia, 
que são povos descendentes de europeus e mestiços, que mantêm uma relação muito peculiar com o ambiente, como 
retratam os pesquisadores: 
Na Amazônia os povos tradicionais não indígenas possuem um modo de vida baseado na atividade extrativista, seja 
ela aquática ou florestal, vivendo grande parte nas margens de rios, igarapés, várzeas e lagos. São povos que 
aprenderam por meio do uso dos recursos naturais e das relações sociais a conviver com o rio, a floresta, fazendo 
destes, elementos de representações de sua própria vida, as identidades coletivas. O ribeirinho também está inserido 
entre os povos tradicionais da Amazônia, cujo termo refere-se àquele que anda pelos rios. O rio constitui a base de 
sobrevivência dos ribeirinhos, fonte de alimento e via de transporte, graças, sobretudo, às terras mais férteis de suas 
margens. Esses povos possuem estreita relação com os rios nos quais tem muito mais que o alimento, tem todo um 
complexo cultural forjado nas suas múltiplas relações que com ele estabeleceram ao longo da ocupação de suas 
margens como localização estratégica e da consolidação das comunidades como forma de organização social 
(NASCIMENTO et al., 2013). 
Os ribeirinhos mantêm uma relação estreita com o meio no qual vivem, buscando ter uma interação com a natureza 
dos rios por meio das atividades praticadas pelos quais – agricultura, pesca e extrativismo vegetal. Em geral, as casas 
sobre palafitas, reconhecendo a subida e descida das águas, sendo o rio usado como meio de transporte de pessoas 
e mercadorias e para outras atividades econômicas, bem como símbolo da cultura dos ribeirinhos amazônidas. Outros 
povos amazônidas considerados tradicionais são os indígenas. Não existe uma cultura indígena em si, mas vários 
povos e culturas indígenas. Tanto a língua, quanto os hábitos e crenças variam de um grupo para outro. Por isso, o 
uso do termo índio é equivocado, pois trata-se de uma expressão genérica que envolve uma simplificação do ponto de 
vista étnico-cultural. Originalmente, tais grupos ocuparam todo o território brasileiro e se organizaram em tribos, tendo 
uma relação mais próxima com a natureza. Comumente, sobreviviam mediante a caça, pesca, coleta de vegetais e 
agricultura, como explica o pesquisador sobre esses povos no período colonial: 
Embora pouco se saiba, ao certo, quanto às cifras da população que habitava o atual território brasileiro em 1500. Se 
Ángel Rosenblat a estimou em cerca de 1 milhão de pessoas, houve quem calculasse em 6,8 milhões a população da 
Amazônia, Brasil Central e Costa Nordeste. De todo modo, a população nativa, que se contava na casa dos milhões 
de pessoas no limiar do século XVI, mal ultrapassa hoje os 300 mil indivíduos. De população, portanto, ou 
despovoamento, eis o primeiro grande traço da história indígena no Brasil, como de resto ocorreu nas Américas em 
proporções gigantescas (VAINFAS, 2007, p. 39). 
O próprio processo de catequização, empreendido pelos jesuítas, procurava tornálos cristãos e, de alguma forma, tinha 
a intenção de criar certa homogeneização dos diversos grupos indígenas existentes, buscando moldá-los à forma de 
vida branca e cristã, ocidentalizando-os. Durante vários séculos, muitos foram massacrados, outros morreram devido 
a doenças trazidas pelos colonizadores – os índios não tinham anticorpos para tais doenças –, outros tantos resistiram 
e lutaram por sua identidade. No século XX e início do XXI, a maioria dos grupos indígenas no território brasileiro estava 
situada principalmente na Amazônia, região cuja ocupação ainda era menor do que outras existentes no Brasil. Grupos 
indígenas também estavam distribuídos em pequenos territórios em outras partes do País, alguns mais isolados, outros 
mais integrados ao modo de vida social e cultural das regiões brasileiras. 
Em 1961, foi criado o Parque Nacional do Xingu, situado no Norte do Mato Grosso, reunindo algumas etnias indígenas, 
entre as quais: Kamayurás, Yawalapitís, Waurás, Kalapalos, Awetis e Ikpengs, sendo o primeiro território indígena 
constituído formalmente no Brasil, por Lei. Em 1967, no período dos governos militares, foi criada a Fundação Nacional 
do Índio (Funai), mantendo a tutela dos grupos indígenas e de suas terras por meio, incialmente, de uma política de 
assimilação do indígena ao modo de vida do “branco”, desconsiderando sua diversidade. Trata-se da entidade 
responsável por promover políticas de delimitação, demarcação e regularização dos diferentes tipos de terras 
indígenas, bem como de elaborar políticas públicas de proteção a povos indígenas isolados. 
Você Sabia? Que a questão das terras indígenas após 1950: Avançou, porém, o sistema de demarcação de terras de 
alguma forma articulada ao conceito de etnias, resultado dos maiores conhecimentos antropológicos adquiridos sobre 
os índios nas décadas de 1950 em diante. Os trabalhos dos Villas-Boas, de Claude Lévi-Strauss, de Darcy Ribeiro e 
tantos outros jogaram papel decisivo na repercussão política de conceitos mais ligados à “etnicidade” dos grupos 
indígenas, superando-se pouco a pouco a noção genérica de índio, via de regra estereotipada. Inúmeros processos de 
legalização e demarcação de terras indígenas foram levados a cabo, no Norte, Nordeste, Centro-Oeste, sobretudo a 
partir do final da década de 1970. A Constituição de 1988 reconheceu a organização social, as crenças, línguas e 
tradições dos grupos indígenas, garantindo-lhes a posse das terras tradicionalmente ocupadas. Pode-se dizer que 
triunfaram, politicamente, os conceitos ligados à “etnicidade” e o reconhecimento das alteridades sobre as noções de 
“aculturação” ou “civilização” – que pressupunham, na ação política, a eliminação dos índios, ao menos do ponto de 
vista cultural (VAINFAS, 2007, p. 57). 
Com a Constituição Federal de 1988, formalizou-se um novo tratamento da questão indígena, garantindo o usufruto 
exclusivo de seus territórios que foram tradicionalmente ocupados mediante seus costumes e tradições. 
Apesar dos inúmeros conflitos existentes e com perdas territoriais de diversos grupos indígenas no Brasil, há alguns 
aspectos positivos ocorridos nas últimas décadas. Um dos quais se refere à legislação da educação brasileira que, a 
partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) n.º 9.394/96 e das diretrizes curriculares nacionais 
da educação escolar indígena (1999), instituiu especificidades na educação escolar indígena, entre as quais: 
· A educação formal poderá ser em português e também nalíngua nativa de cada povo, tornando-se uma educação 
bilíngue; 
· Uma educação que fortaleça a memória e a cultura dos povos indígenas. Tal tarefa não é simples, pois há situações 
bastante variadas de crianças indígenas que são monolíngues – falantes de um idioma, apenas –, mas não da língua 
portuguesa, ocorrendo eventualmente também o contrário. 
Além disso, há outras questões em relação de como se dá concretamente a produção de uma educação indígena. Em 
que essa educação deve ser diferenciada e específica em relação à educação escolar comum? Como será o material 
didático? Quem será o professor? Como introduzir conhecimentos novos e, ao mesmo tempo, contribuir para a 
preservação cultural de uma determinada etnia indígena? 
Territorialidades Negras e QuilombolasNa história brasileira, originalmente, a palavra quilombo se referia aos 
ambientes apropriados pelos escravos que fugiam e resistiam à escravidão, e a partir dos quais constituam espaços e 
modos de vida próprios. Muitas vezes eram territórios móveis, pois à medida que tais espaços eram descobertos, eram 
buscados novos locais para se viver. O mais conhecido desses quilombos no Brasil foi o de Palmares, situado na região 
de Alagoas. Contudo, o termo quilombola, expressão usada para terras onde negros oriundos de antigas famílias de 
escravos ainda vivem atualmente, não tem relação direta somente com as antigas localidades de fugas de escravos 
do passado. Há também casos de terras onde esses se situam e que foram desapropriadas dos antigos jesuítas, por 
doação ou concessão de terras de antigos proprietários rurais, e até mesmo atividades que ficaram enfraquecidas em 
um determinado período e cujos proprietários as abandonaram parcialmente, situações comuns, por exemplo, com a 
produção do algodão no sertão nordestino (CARVALHO; LIMA, 2013). Assim, as situações são as mais variadas, 
incluindo-se casos de áreas ocupadas próximas à própria casa grande, dos antigos engenhos de cana-de-açúcar. 
Logo, tais terras, em diferentes condições de formas de ocupação ao longo da história brasileira, constituíram-se em 
territórios quilombolas, conforme explicam os pesquisadores: É visto que a identidade quilombola apresenta-se 
estreitamente vinculada às formas como esses grupos relacionam-se com seu território, assim como com sua 
ancestralidade, tradições e práticas culturais, numa relação em que território e identidade seriam indissociáveis. A 
presença de uma territorialidade específica desses grupos relaciona-se à ocupação da terra baseada no uso comum e 
vem sendo construída em face de trajetórias de afirmação étnica e política (CARVALHO; LIMA, 2013, p. 321). 
Há diversas territorialidades quilombolas, em condições muito distintas, social e culturalmente, o que nos permite 
afirmar que se trata de uma “multiterritorialidade quilombola” no Brasil, pois o que as definem são o fato de serem 
espaços de antigos escravos, mesmo que culturalmente tais espaços possam ser muito distintos entre si. Com o 
período de redemocratização do Brasil, no final da ditadura militar – década de 1980 –, houve novos eventos 
normativos, legislações e políticas públicas relacionadas à questão dos territórios remanescentes dos quilombolas no 
Brasil. Não foram consideradas apenas aquelas terras que foram antigos quilombos – áreas onde os negros se 
refugiavam –, mas também as diferentes formas de ocupação existentes nas diversas regiões brasileiras – em áreas 
urbanas após o fim da escravidão, por exemplo. 
Em geral, não se caracterizam por uma ocupação por lotes individuais, mas de uso comum, obedecendo às 
características existentes nas formas e modos de vida e produção, seja agrícola, extrativista ou outro meio de 
sobrevivência. O modo de vida e as relações socioculturais se baseiam principalmente em laços de vizinhança e 
parentesco. O Decreto n.º 4.887/2003 define os quilombolas como grupos étnico-raciais segundo critérios de 
autoatribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de 
ancestralidade negra relacionada à resistência à opressão histórica sofrida. Conforme afirma o texto do Decreto, a 
definição de áreas remanescentes de quilombolas inicia-se pela própria definição do grupo, autoafirmando-se como 
comunidade quilombola, havendo depois um processo que deverá ser institucionalizado, por meio de investigação 
histórica e antropológica. Cabe ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), do governo federal, 
identificar, reconhecer, delimitar, demarcar e dar o título de terras quilombolas no Brasil, cabendo aos interessados 
buscar evidenciar suas situações. A maioria desses territórios quilombolas situa-se no Maranhão, Bahia, Pará, Minas 
Gerais e Pernambuco. No Maranhão, por exemplo, estima-se1 que existam cerca de 527 comunidades quilombolas, 
das quais poucas foram demarcadas, situadas em mais de 130 municípios. Lutam por seus territórios e alguns têm 
como típica manifestação cultural a dança “tambor das crioulas”, que inclui dança de roda circular, tambores e cantos. 
Essa dança faz parte do patrimônio cultural imaterial do Brasil desde 2007.Desse modo, ainda que muitos dos territórios 
quilombolas não tenham sido reconhecidos formalmente, houve avanços em relação ao reconhecimento dos quais, por 
meio da Lei. Finalizando esta Unidade, reitera-se que atualmente o processo de globalização vem alterando os modos 
de vida e cultura no campo e nas cidades. No Brasil, apesar de as comunidades tradicionais serem expostas ao 
processo de ocupação capitalista, com diferentes disputas por territórios, houve avanços em relação às leis de proteção 
aos grupos indígenas e quilombolas, mas ainda há muito a ser feito para que tais leis sejam respeitadas.

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