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Texto Complementar 10_AD1_Jesus (2005)

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PENSAMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO1 
 
SOUZA, Nali de Jesus. 
Desenvolvimento Econômico. 5a ed. São Paulo: Atlas, 2005. 
 
 O pensamento econômico brasileiro envolve as correntes neoliberal, desenvolvimentista e 
socialista, além do pensamento eclético e independente de Inácio Rangel. O pensamento desenvol-
vimentista compreendia a corrente ligada ao setor privado e a linha vinculada ao setor público, sendo 
esta última desdobrada, ainda, em desenvolvimentismo nacionalista e não nacionalista (Biels-
chowsky, 1988, p. 284). Segundo a corrente desenvolvimentista, a transformação da economia brasi-
leira seria impossível sem industrialização, planejamento econômico e ampla participação do Estado 
no processo produtivo. Essa corrente surgiu na década de 1930, com a Grande Depressão e tomou 
corpo na administração pública e em órgãos como a Confederação Nacional da Indústria e a Federa-
ção das Indústrias de São Paulo; sua divulgação ocorreu a partir dos estudos econômicos da década 
de 1940 (Missão Cooke e Missão Abbink); porém, foi a partir do surgimento do pensamento cepali-
no que ela se consolidou definitivamente no Brasil, apesar das críticas ferrenhas do pensamento neo-
liberal, liderado por Eugênio Gudin (1886-1986). 
 
1 - Pensamento neoliberal de Eugênio Gudin 
 
 Segundo os neoliberais, o crescimento econômico precisa ocorrer com base em uma econo-
mia estabilizada. Em segundo lugar, ele deve fundamentar-se no aumento de produtividade e não em 
políticas expansionistas, geradoras de industrialização a qualquer custo. Eles consideravam como de 
fundamental importância o combate à inflação, o aumento da produtividade, o estímulo às exporta-
ções, a liberdade ao capital estrangeiro e participação mínima do Estado no controle da economia. A 
ideologia neoliberal filia-se aos economistas clássicos ingleses, mas sofreu modificações após o re-
crudescimento das crises do sistema capitalista na década de 1930. Sob a influência do keynesianis-
mo, passou-se a aceitar medidas anticíclicas praticadas pelos governos. O termo neoliberal compre-
ende, segundo Bielschowsky (1988, p. 43), essa modificação, pois os economistas dessa corrente 
passaram a admitir “alguma intervenção estatal saneadora de imperfeições de mercado que, segundo 
reconheciam, afetavam economias subdesenvolvidas como a brasileira”. 
 A corrente neoliberal, na qual se destacaram Eugênio Gudin, Octávio Gouveia de Bulhões, 
Dênio Nogueira e Daniel Carvalho, tinha como projeto econômico básico o crescimento com equilí-
brio das contas públicas; ela se fundamentava no livre mercado, fazendo oposição às teses desenvol-
vimentistas lideradas pelo pensamento cepalino. Em termos de política de combate à inflação, ela se 
identificava com o monetarismo: os meios de pagamentos precisam expandir-se no mesmo ritmo das 
transações econômicas, considerando-se constante a velocidade de circulação da moeda. Os aumen-
 
1 Este texto é uma versão ampliada da seção 7.3 do livro Desenvolvimento Econômico (Souza, 2005). 
 
 2 
tos dos gastos públicos, sem correspondência com novas receitas, elevam o volume de dinheiro na 
economia e geram inflação. As tentativas de enxugamento do excesso de moeda em circulação, pelo 
lançamento de títulos públicos, aumentam as taxas de juros e as despesas públicas, realimentando o 
déficit público e a inflação. A expansão do crédito age no mesmo sentido de fazer crescer o estoque 
de moeda e os preços, sendo, portanto, combatida pela corrente neoliberal. O crescimento deve ocor-
rer após o saneamento da economia, para não provocar desequilíbrios ainda maiores e abortar a pró-
pria expansão econômica futura. Os desequilíbrios existentes resultariam de erros de política econô-
mica do governo e não de falhas de mercado (Bielschowsky, 1988, p. 284). 
 Segundo Eugênio Gudin (1886/1986), havia pleno emprego e inflação na região Sul/Sudeste 
do país e desemprego no Norte/Nordeste, uma vez que esta última região não conseguia empregar 
toda a mão-de-obra disponível. Havendo depressão, as empresas do Sul/Sudeste reduzem a produção. 
Com pleno emprego, investimentos no Sul/Sudeste tenderiam a elevar ainda mais os preços. Investi-
mentos na melhoria da produtividade, principalmente nos setores exportadores, seriam medidas coe-
rentes (Gudin, 1979, v. 2, p. 217-220). Com poupança interna escassa e afluxo insuficiente de capi-
tais estrangeiros, que não deseja atrair, o país lançava mão da emissão de moeda, acelerando a infla-
ção. Para atrair poupança externa, Gudin defendia a completa liberdade para a remessa de lucros, por 
parte das multinacionais. Segundo ele, o benefício do capital estrangeiro no desenvolvimento precisa 
ser avaliado “na base da renda nacional e de seu incremento e não na do balanço de pagamentos” 
(Gudin, 1979, v. 2, p. 95). 
 A grande procura de recursos para consumo e investimento tendia a elevar a taxa de juros 
interna. Desse modo, havia “uma tendência a suprir com crédito a falta de capital”, com a conseqüen-
te expansão dos meios de pagamentos e da inflação. Formava-se um círculo vicioso: a pressão infla-
cionária aumentava as taxas de juros e o valor do serviço da dívida pública interna; “os empreendi-
mentos governamentais, sempre numerosos, passavam a ser financiados pelo déficit orçamentário, 
que novamente provoca a pressão inflacionária, e assim por diante” (Gudin, 1979, v. 2, p. 46). Por 
outro lado, o aumento do crédito e os déficits públicos produzem excesso de demanda, causadora de 
inflação, juntamente com a elevação dos salários sem correspondência com maior produtividade. A 
inflação também se devia às desvalorizações cambiais, porque encarecem as importações e isso se 
retransmite aos preços dos bens domésticos, pela redução da oferta interna de bens. De modo geral, o 
protecionismo, ao encarecer as importações, provoca inflação, afeta a eficiência produtiva e reduz as 
exportações. Isso se explica porque os recursos se deslocam das atividades exportadoras para a pro-
dução de bens anteriormente importados, com altos custos médios. 
 No fim da década de 1940, o debate econômico no Brasil centrava-se principalmente na “mís-
tica do planejamento”, a que se opunha Gudin, e na “mística do equilíbrio instantâneo”, criticada por 
Prebisch. O planejamento era defendido pelos economistas da CEPAL e por Roberto Simonsen, entre 
outros, em virtude do baixo nível de renda da grande maioria da população e do “atraso” do desen-
volvimento dos países latino-americanos. Com o planejamento, tinha-se como objetivo orientar a 
alocação dos recursos para áreas prioritárias e de caráter social. O planejamento, como técnica, não 
exclui a participação privada. Pelo contrário, cria um clima de confiança que estimula o investimento 
 3 
privado e o crescimento econômico. Nesse sentido, Gudin concordava com a idéia de “plano”, que 
restabelece ao Estado sua antiga função de fomentador da atividade econômica. O Estado Liberal, 
porém, tem como função “estabelecer as regras do jogo, mas não a de jogar” (Gudin, apud Maga-
lhães, 1961, p. 12-13). Ele aceitava alguma forma de intervenção do Estado na economia, para corri-
gir falhas do mercado, em determinadas áreas, principalmente em períodos de depressão.2 
 Porém, a estratégia de Gudin para as economias subdesenvolvidas, como a brasileira, não 
incluía o planejamento econômico. As variáveis fundamentais para o desenvolvimento eram: (a) a-
tração do capital estrangeiro; (b) formação do mercado de capitais; (c) assistência técnica e conces-
são de crédito seletivo para a agricultura; (d) educação geral e profissionalizante; (e) incentivos ao 
aumento da produtividade; e (f) promoção das exportações. Adicionalmente, o governo precisaria 
preservar a estabilidade monetária e cambial, deixando ao mercado a tarefa de assegurar a máxima 
eficiência do sistema. 
 A industrialização constituía para ele uma forma de diversificar a economiae minimizar as 
flutuações cíclicas; porém, era contrário à industrialização subsidiada de altos custos e baixa produti-
vidade, porque privilegiava alguns grupos, em detrimento do resto da economia. Sendo regulada pelo 
mercado, ela deveria absorver a mão-de-obra excedente da agricultura, liberada gradativamente pela 
mecanização. O Estado não deveria produzir, nem comercializar, porque a iniciativa privada gera 
bens e serviços com maior produtividade, pela concorrência do mercado. São os consumidores, no 
exercício de uma verdadeira democracia econômica, que orientam as empresas a produzir determina-
dos bens, em quantidades específicas, e não um burocrata do planejamento central. Contudo, a sim-
ples manipulação de instrumentos de curto prazo, isto é, as políticas monetária, fiscal, creditícia e 
cambial, sem a definição de objetivos e estratégias de longo prazo, por parte da sociedade, tende a 
levar a economia “a navegar em círculos”. 
 “Mas a Economia Liberal ou a Democracia Econômica não implicam em laissez-
faire, no sentido de ausência de governo ou de desinteresse do Estado pela ordem econô-
mica. O seu princípio cardial é de que o Estado deve, em princípio e por todos os meios, 
evitar interferir no campo da economia privada. O Estado pode facilitar, estimular, premi-
ar. Pode, nas fases de depressão, promover a realização de um programa de obras públicas, 
destinado a impulsionar a atividade econômica. Mas o Estado não deve fabricar, não deve 
plantar, não deve comercializar, porque a economia privada dispõe para isso de uma gran-
de superioridade de elementos” (Gudin, 1951, p. 34). 
 Embora a economia neoliberal delegue ao setor privado, por meio dos mecanismos de merca-
do, a tarefa de produzir, cabe ao governo um rigoroso controle das variáveis macroeconômicas, para 
manter a economia em um equilíbrio estável permanente. As variáveis relevantes a serem controla-
das são as que dizem respeito à evolução dos meios de pagamentos, crédito, contas públicas e balan-
ço de pagamentos. 
 
 
 
2 Para os desenvolvimentistas, constitui grande desperdício de forças relegar a um plano secundário um importante agente do desen-
volvimento, que é o Estado. Do lado neoliberal, a grande objeção é que a excessiva intervenção estatal acaba inibindo a iniciativa 
privada, mola-mestra do desenvolvimento capitalista. 
 4 
2 - Desenvolvimentistas ligados ao setor privado 
 
 Entre o empresariado e o setor público encontrava-se a corrente desenvolvimentista, que fazia 
oposição às teses neoliberais. Para ela, a industrialização, com alguma forma de planejamento e par-
ticipação estatal, constituía a condição indispensável ao desenvolvimento econômico. Entre os de-
senvolvimentistas ligados ao setor privado nacional, destacaram-se Roberto Simonsen, João Paulo de 
Almeida Magalhães e Nuno Figueiredo. Eles obtinham da Confederação Nacional da Indústria e da 
Federação das Indústrias de São Paulo o apoio institucional de que necessitavam. Teoricamente, vin-
culavam-se a Keynes e a Prebisch. Defendiam a substituição de importações, o protecionismo e cré-
dito abundante e barato (Bielschowsky, 1988, p. 284). 
 
2.1 Roberto Simonsen e o planejamento global 
 
 Roberto Cochrane Simonsen (1889-1948), engenheiro, empresário e político brasileiro, idea-
lizou instituições como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Serviço Social 
da Indústria (SESI). Ele ainda fundou o Centro das Indústrias e a Faculdade de Engenharia Industrial 
de São Paulo. Desde a década de 1930, ele vinha propondo a industrialização do Brasil como forma 
de desenvolvimento. Defendeu a criação de indústrias de base, como a siderurgia e a química. Con-
siderava viável a implantação de um capitalismo moderno no país, com decisivo apoio governamen-
tal, por meio de políticas protecionistas e planejamento econômico global. Em 1937, Roberto Simon-
sen já destacava o papel do Estado na substituição de importações, por meio de tarifas elevadas para 
bens que pudessem ser manufaturados internamente, destinando as divisas economizadas à importa-
ção de máquinas e insumos industriais. 
 Havia, porém, forte oposição à industrialização do Brasil, por parte dos EUA e da oligarquia 
agrário-exportadora nacional. Esta última concorria com a indústria por recursos públicos e políticas 
macroeconômicas, como desvalorizações cambiais, efetuadas para encarecer as importações, reduzi-
am suas receitas de exportação. No caso do EUA, o surgimento de novos países industrializados era 
visto como fator de redução de mercado para suas manufaturas. Dirigindo-se a esses opositores, Ro-
berto Simonsen argumentava que a industrialização beneficiaria a todos, pelo aumento das compras 
de matérias-primas, insumos industriais, máquinas, equipamentos e bens de consumo duráveis. 
 Na defesa da industrialização, Simonsen opunha-se ao Plano Marshall para a América Latina, 
porque significaria, segundo ele, o retorno desses países ao papel de simples produtores de matérias-
primas para a exportação, permanecendo consumidores de produtos manufaturados dos países de-
senvolvidos. Ele não acreditava que esse plano acarretasse investimentos industriais em um país co-
mo o Brasil. Desse modo, como seus críticos, ele também não considerava que houvesse impactos do 
desenvolvimento agrícola sobre a industrialização. Ele propunha a transformação de matérias-primas 
no próprio país, a ampliação da capacidade portuária e a abertura de rodovias para induzir investi-
mentos industriais. 
 Tendo em vista as fortes oposições externas e internas, existentes por volta de 1950, a indus-
 5 
trialização brasileira não poderia efetuar-se apenas pela iniciativa privada e com a ajuda das “livres” 
forças do mercado. Tornava-se, portanto, necessário o apoio governamental e a adoção de políticas 
protecionistas e de estímulos à implantação de infra-estruturas e novas indústrias. Nesse sentido, Ro-
berto Simonsen acreditava ser indispensável o planejamento global para a concentração de esforços 
direcionados a objetivos específicos de desenvolvimento. Em suas palestras e artigos, procurava i-
dentificar planejamento com democracia, conciliando intervencionismo com livre iniciativa. Isso se 
explica, porque o planejamento era visto como uma iniciativa de cunho socialista e contrário aos in-
teresses do capital privado. Na concepção dos desenvolvimentistas ligados ao setor privado, porém, o 
intervencionismo deveria atingir as áreas não cobertas pela iniciativa privada, como eletrificação, 
siderurgia, petróleo, insumos básicos, material bélico e outras atividades-chave, incluindo o que de-
nominou “moderna agricultura de alimentação” (Bielschowsky, 1988, p. 102). 
 Em suma, as idéias dos desenvolvimentistas ligados ao setor privado resumiam-se na preser-
vação do mercado interno para o setor privado nacional, na oposição ao aumento dos salários e da 
tributação dos lucros, bem como na existência de crédito barato e abundante para investimentos in-
dustriais. Para eles, a inflação não decorria da expansão do crédito, mas do déficit público, da eleva-
ção salarial e da escassez de alimentos para os trabalhadores. Os investimentos estatais constituíam 
um desdobramento natural da programação econômica, mas deveriam deixar uma participação má-
xima à iniciativa privada nacional. Quanto ao capital estrangeiro, argumentavam que ele deveria ser 
orientado preferencialmente para as atividades comerciais e agrícolas, bem como para os ramos in-
dustriais ainda não explorados no Brasil (Bielschowsky, 1988, p. 113). 
 
2.2 Almeida Magalhães e a tese da poupança forçada 
 
 Além de admitirem que o crédito não causa inflação, os desenvolvimentistas aceitavam que 
uma taxa moderada de inflação favorece o desenvolvimento. A elevação do nível geral de preços, 
com salários monetários constantes, reduz os salários reais, o que estimula os investimentos. A infla-
çãoconstitui, portanto, uma poupança forçada, embolsada pelos empresários, que se traduz em no-
vos investimentos. A tese da poupança forçada, como estímulo ao desenvolvimento, foi defendida 
por João Paulo de Almeida Magalhães, a partir dos anos de 1950. Ele opunha-se às posições neolibe-
rais de combate à inflação, causadoras de recessão e desemprego. Para ele, baixos níveis de inflação 
constituem um mecanismo de poupança forçada, que coloca recursos à disposição dos empresários, 
por meio do crédito e da possibilidade de aumentarem os preços com uma margem acima dos custos 
médios. Ele rejeitava a tese de pleno emprego da economia brasileira, defendida por Eugênio Gudin. 
Ele argumentava que havia mão-de-obra subempregada na agricultura e no setor terciário urbano, 
que poderia ser absorvida por novos investimentos financiados por crédito ou poupança forçada. Ele 
sustentou a idéia de que a inflação moderada desempenha papel fundamental no desenvolvimento 
econômico. 
 Se a economia estivesse em uma situação de pleno emprego, como sustentava Gudin, novos 
investimentos seriam inflacionários; assim, a única alternativa para deslocar para cima a fronteira das 
 6 
possibilidades de produção seria aumentar a produtividade dos fatores. Com desemprego, o investi-
mento precisa crescer de alguma forma para recuperar o “atraso” do desenvolvimento em relação aos 
países desenvolvidos. Porém, mesmo com desemprego de trabalho, o crescimento fica limitado pela 
escassez de capital. Existe, portanto, um limite superior para o crescimento econômico, dado pela 
acumulação de capital. Desse modo, para maximizar a taxa de crescimento e aumentar o nível de 
emprego, torna-se necessário o aporte de poupança interna e externa (Magalhães, 1961, p. 153). 
 Descartando-se aumentos substanciais de poupança voluntária, a economia precisaria crescer, 
portanto, mediante poupança forçada. Desse modo, a capacidade de crescimento da economia pode-
ria aumentar de modo compulsório. A poupança forçada significa uma proposição oposta à de Gudin, 
para o qual os investimentos precisam ser cortados para reduzir a inflação. “Nos países desenvolvi-
dos, em que o teto é o fator trabalho, nossas conclusões coincidem com as daquele autor” (Maga-
lhães, 1961, p. 97). 
 Porém, o modelo de Magalhães da poupança forçada encontra um limite no momento em que 
os grupos prejudicados reagem, recuperando perdas. Ao provocarem uma espiral inflacionária, eli-
minam a poupança forçada e a possibilidade de deslocar para cima a fronteira das possibilidades de 
produção. Contudo, havendo defasagem na recuperação de perdas salariais e de outros rendimentos 
fixos, ocorrerá poupança forçada e as remarcações de preços estimulam os investimentos. Na possi-
bilidade de a economia poder contar com a ajuda de poupança externa, o papel da poupança forçada 
fica reduzido. Em conclusão, o crescimento pode efetuar-se com inflação ou sem ela, desde que ou-
tros fatores não sejam limitantes, como mão-de-obra especializada, tecnologia, capacidade empresa-
rial e capitais externos (Magalhães, 1961, p. 99). 
 Embora a queda dos salários reais resulte em concentração de renda, ela proporciona aumento 
dos investimentos. Entretanto, tendo em vista que a inflação causa graves distorções no longo prazo, 
Magalhães alertava para a necessidade de incentivar-se a poupança voluntária, salientando que isso 
só seria possível com maior crescimento da renda nacional. A corrente desenvolvimentista ligada ao 
setor privado, na verdade, defendia seus próprios interesses. Ela desejava importar equipamentos 
com subsídios cambiais e preservar o mercado interno para suas empresas. Para preservar seus lu-
cros, ela recomendava que se evitasse a tributação excessiva, argumentando a necessidade de estimu-
lar os investimentos e evitar a evasão de capitais. Da mesma forma, criticava a fixação do salário 
mínimo em níveis considerados elevados e reclamava dos altos encargos sociais. Os economistas 
dessa linha mantinham um discurso adequado aos anseios da classe patronal nacional. 
 
3 - Desenvolvimentistas ligados ao setor público 
 
 Os economistas desenvolvimentistas ligados ao setor público dividiam-se em duas correntes, 
a nacionalista e a não nacionalista. A industrialização com forte apoio estatal consistia o ponto em 
comum desses dois grupos. A divergência encontrava-se na participação da capital estrangeiro e na 
adoção de políticas de estabilização prévias a qualquer programa de desenvolvimento. 
 
 7 
3.1 Celso Furtado e a corrente nacionalista ligada ao setor público 
 
 A corrente nacionalista ligada ao setor público teve como expoentes Celso Furtado, Rômulo 
de Almeida e Américo de Oliveira. Eles consideravam que a participação de empresas estatais era 
fundamental para a industrialização e o desenvolvimento de projetos prioritários, tais como os de 
mineração, petróleo, energia, transportes, telecomunicações e indústrias básicas. Teoricamente esta-
vam ligados, como os desenvolvimentistas do setor privado, a um ecletismo keynesiano e às teses 
cepalinas. Defendiam a industrialização por substituição de importações e contavam com a ampla 
participação do Estado na correção de desequilíbrios estruturais e na eliminação dos pontos de es-
trangulamentos do crescimento (Bielschowsky, 1988, p. 284). 
 Celso Monteiro Furtado, nascido em 1920, na Paraíba, foi um dos diretores da CEPAL e do 
Grupo Misto CEPAL/BNDES. Ele participou da elaboração do Plano de Metas do governo Kubits-
chek, que deu origem à Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), da qual foi o 
primeiro superintendente. Juntamente com Prebisch, ele desenvolveu e divulgou a análise estrutura-
lista da CEPAL. Em seus escritos, defende a ampla participação do Estado na economia, por meio do 
investimento em setores estratégicos, a submissão da política monetária e cambial aos objetivos do 
desenvolvimento e a realização, pelo Estado, da reforma agrária e redistribuição de renda (Biels-
chowsky, 1988, p. 159). 
 Assim como Wallich (1969), Furtado entendia que a dinâmica do crescimento encontrava-se 
nas pressões de demanda e que as inovações tecnológicas podiam ser importadas, sob a coordenação 
do Estado. O planejamento estatal orientaria o crescimento, rompendo com estruturas arcaicas, blo-
queadoras do desenvolvimento. Segundo ele, a transformação das estruturas agrícolas aumentaria 
continuamente a produtividade, pela transferência de fatores e atividades das zonas rurais para o 
meio urbano.3 A introdução do progresso técnico na agricultura eleva a renda agrícola, pelo aumento 
da produção para a exportação e o mercado interno. Maior demanda de produtos manufaturados pela 
agricultura estimularia a renda urbana, que demandaria produtos agrícolas, estimulando uma vez 
mais o desenvolvimento. 
 O aumento da produtividade agrícola provocaria uma tendência ao desequilíbrio do balanço 
de pagamentos, o que exigiria um controle permanente pelo Estado de importações não essenciais. 
Ele considerava que o desenvolvimento não constitui uma etapa histórica pela qual todos os países 
deverão passar, e que o subdesenvolvimento resulta da expansão da economia mundial, desde a Re-
volução Industrial na Inglaterra. Centros industriais constituídos em alguns países geraram uma peri-
feria subdesenvolvida e dependente; o subdesenvolvimento seria subproduto do desenvolvimento 
capitalista mundial. A industrialização periférica, feita à imagem daquela dos países centrais, efetua-
se sobre uma estrutura arcaica, pouco diversificada e de baixa produtividade. Para não interromper o 
crescimento por estrangulamentos prematuros do balanço de pagamentos, a industrialização exigiria 
constantes investimentos em infra-estruturas e em atividades complementares (Furtado, 1961, p. 
171). 
 
3 Ver seção 1.5 do Capítulo 1. 
 8 
 Ao Estado caberia, portanto, a realização de taisinvestimentos, pois novas oportunidades de 
negócio nem sempre são percebidas pelo ângulo da firma; grandes investimentos deixam de ser efe-
tuados, tendo em vista o volume de recursos necessários. Em muitos casos, a realização desses inves-
timentos ficaria obstruída pela insuficiência de poupança interna e pela baixa capacidade de impor-
tar. Torna-se necessário, portanto, recorrer aos capitais externos. Para Furtado, porém, como para os 
demais economistas dessa corrente, a preferência ficava para os empréstimos realizados de governo a 
governo, porque teoricamente seriam obtidos sob condições mais vantajosas. Da mesma forma, Cel-
so Furtado procurava evitar os laços de dependência ao capitalismo internacional, preferindo um 
modelo de crescimento voltado para o dinamismo do setor de mercado interno, porque o crescimento 
atrelado ao desempenho das exportações de produtos agrícolas mostrava-se vulnerável em função de 
receitas instáveis e com poder de compra decrescente. 
 Essa postura, no entanto, conflitava com a observação de que o desenvolvimento fica bloque-
ado pelo estancamento da capacidade de importar.4 Os desequilíbrios do balanço de pagamentos, 
decorrentes do crescimento das importações e da constância ou declínio do poder de compra externo, 
deveriam ser sanados por substituições de importações, programadas pelo governo, e não por políti-
cas monetárias contracionistas, redutoras do nível do investimento. O argumento de Furtado era de 
que as altas taxas de desemprego das economias subdesenvolvidas exigem crescimento econômico 
mais acelerado. Como este se faz com elevação do coeficiente de importações, “qualquer tentativa de 
correção do desequilíbrio, mediante desvalorização, provoca sem demora uma redução no ritmo do 
crescimento, pelo simples fato de que eleva os preços dos bens de capital relativamente aos de con-
sumo” (Furtado, 1961, p. 226). 
 Segundo Celso Furtado e os estruturalistas de modo geral, a oferta das economias subdesen-
volvidas é muito rígida, gerando o processo inflacionário. Isso se explica por não ser possível, no 
curto prazo, aumentar a oferta quando os preços sobem, ou reduzi-la quando caem. Enquanto isso, a 
demanda diversifica-se de modo acelerado, em função do efeito demonstração do consumo dos paí-
ses desenvolvidos. O único meio de eliminar essa tendência inflacionária é expandir a oferta. O pro-
blema da inflação, portanto, reside na própria superação do subdesenvolvimento, o que se obteria de 
modo mais rápido pelo planejamento global e setorial. Este aumentaria a eficiência da industrializa-
ção, ao eliminar os estrangulamentos decorrentes da heterogeneidade e rigidez estruturais. 
 Em suma, Furtado considerava fundamental a participação do Estado na economia: (a) atuan-
do diretamente no setor produtivo, por meio de empresas estatais; (b) planejando a distribuição regi-
onal e setorial dos investimentos; (c) subordinando a política monetária ao desenvolvimento; (d) 
promovendo uma distribuição de renda mais eqüitativa no sentido de dinamizar o setor de mercado 
interno; e, (e) controlando o afluxo de capital estrangeiro, para que a dependência financeira excessi-
va não retire do país sua autonomia na gestão de problemas econômicos fundamentais. Celso Furtado 
mantinha, portanto, uma postura nacionalista e estatizante, conforme o pensamento predominante da 
corrente nacionalista ligada ao setor público. 
 
4 Um exemplo numérico da tendência ao desequilíbrio externo, quando se avança no processo de crescimento por substituição de im-
portações, foi apresentado em Souza, 2005, Tabelas 1.6 e 1.7 do Capítulo 1, seção 1.5. 
 9 
 No início da década de 1960, ao esgotar-se o modelo de substituição de importações, Celso 
Furtado defendia uma estratégia de desenvolvimento pelo aumento da produtividade e distribuição 
de renda. A elevação da demanda de bens de consumo dos trabalhadores induziria a adoção de ino-
vações tecnológicas na produção de bens de consumo e na agricultura. Preços mais baixos e salários 
mais altos aumentariam a demanda de produtos industriais. A transformação da estrutura agrária agi-
ria no mesmo sentido, com o meio rural consumindo bens industriais (Furtado, 1961, p. 266). 
 
3.2 Roberto Campos e a corrente não nacionalista ligada ao setor público 
 
 Entre os economistas da corrente não nacionalista do setor público, destacaram-se Roberto 
Campos, Lucas Lopes e Glycon de Paiva. Eles defendiam a industrialização com ampla participação 
do capital estrangeiro e com planejamento parcial. Caracterizavam-se também pela defesa de políti-
cas de estabilização e achavam que o Estado não devia ocupar os espaços onde a iniciativa privada 
podia atuar com maior eficiência. Esses eram os pontos de contato com a corrente neoliberal. A dife-
rença residia na defesa da industrialização com planejamento estatal, porém parcial ou setorial (Bi-
elschowsky, 1988, p. 123). 
 Roberto de Oliveira Campos (1917-2001) foi membro da Comissão Mista Brasil-Estados U-
nidos (1951-1953), que realizou amplo diagnóstico da economia brasileira e que originou o BNDES 
e o Grupo Misto CEPAL/BNDES (1953/1955). Ele preferia o capital estrangeiro ao estatal, mesmo 
em setores considerados de segurança nacional, como mineração e energia. Defendia a industrializa-
ção com apoio estatal, pois considerava necessário compensar a debilidade privada para investir. A 
participação do Estado seria feita mediante planejamento parcial e coordenação política. Segundo 
ela, a grande meta do planejamento é “contingenciar recursos escassos entre objetivos concorrentes e 
escalonar sua utilização eficiente no tempo e no espaço”. Com o planejamento, pode-se maximizar o 
crescimento econômico, reduzir o consumo supérfluo e canalizar poupanças pelo aperfeiçoamento 
dos mecanismos de captação. O governo tem “a faculdade telescópica” para visualizar onde atuar 
com prioridade. “Através da tributação, pode o governo comprimir o consumo presente em benefício 
da acumulação de capital para investimentos” (Campos, 1952, p. 16). 
 O ponto de partida do planejamento é o recenseamento das necessidades de investimento, nos 
diferentes setores, seguido do levantamento das fontes dos recursos disponíveis. O critério preferen-
cial do planejamento é a melhoria da produtividade; para isso, escolhem-se primeiro os projetos de 
rentabilidade mais imediata, principalmente aqueles suscetíveis de atrair a iniciativa privada. De ou-
tra parte, sendo escassos os recursos, e tendo em vista o máximo retorno no menor tempo possível, 
recomendava Campos a concentração dos investimentos em áreas já providas com alguma infra-
estrutura básica. Tornava-se necessário evitar a dispersão espacial e setorial dos recursos, para evitar 
a diluição e o enfraquecimento dos efeitos de encadeamento e de multiplicação dos investimentos. 
Assim, Campos recomendava a alocação dos recursos em pontos de crescimento, formados por in-
dústrias motrizes e indústrias-chave,5 ou pontos de germinação, como transporte, energia e indústrias 
 
5 Estes conceitos serão tratados com detalhes no Capítulo 8. 
 10
básicas (Campos, 1952, p. 22). 
 A indústria automobilística foi um ponto de germinação importante, no fim dos anos de 1950, 
pelo desenvolvimento da indústria de autopeças e atividades correlatas. Os recursos foram alocados 
também em pontos de estrangulamento, como aqueles com insuficiência de oferta de energia, trans-
portes, portos, aço, fertilizantes etc. Essas insuficiências de ofertas setoriais agravam-se na medida 
em que a industrialização avança. No contexto do Plano de Metas (1956/1961), a idéia básica foi 
transformar tais pontos de estrangulamento em pontos de germinação, por meio da melhoria da pro-
dutividade agrícola e da implantação de algumas indústrias-chave, como siderurgia e material de 
transporte. 
 Campos consideravacomo um vício do planejamento a superestimação do capital físico em 
relação ao capital humano, como educação, pesquisa e formação técnica. Em muitos casos, a “meca-
nização prematura” leva à subutilização pela carência de desenvolvimento educacional e tecnológico. 
Para os países subdesenvolvidos, portanto, “uma melhoria de produtividade através de equipamentos 
relativamente baratos, ainda que de menor eficiência mecânica, é mais importante do que o aumento 
de produtividade através de equipamentos de alta densidade de capital e destinados à poupança de 
mão-de-obra” (Campos, 1952, p. 29). 
 Concordando com Wallich (1969) que o desenvolvimento pode ser derivado do desenvolvi-
mento de outros países, através da importação de tecnologia e de capitais, ele apostava no crescimen-
to desequilibrado: o surgimento e a correção de desequilíbrios e a disseminação dos efeitos do cres-
cimento nos demais setores e no espaço são opções que levam ao aumento do tamanho da economia. 
Em relação à inflação, ele preferia o gradualismo aos choques ortodoxos, para não causar recessão. 
Sua estratégia consistia em limitar a expansão do crédito a um ritmo que permitisse à economia de-
sinflar paulatinamente. Para ele, a inflação resultava do estímulo ao consumo, do efeito demonstra-
ção que reduzia a taxa de poupança e desequilibrava o balanço de pagamentos. Em relação às visões 
extremas do monetarismo e do estruturalismo, mantinha uma posição eclética (Bielschowsky, 1988, 
p. 140). 
 A poupança forçada gera crescimento no curto prazo, mas a concentração de renda resultante 
aumenta o consumo supérfluo e os investimentos improdutivos em imóveis e em divisas estrangeiras; 
isso desestimula o aumento da produtividade e da eficiência. A inflação persistente distorce os inves-
timentos, afastando-os de áreas básicas como energia e transportes, principalmente quando as tarifas 
não acompanham os custos. Seu combate pelo controle de preços, porém, aumenta as expectativas, 
elevando as tendências inflacionárias. Na agricultura, ele inibe o aumento da oferta e pressiona os 
preços. “O ideal seria, então, um nível moderado de inflação, uma alta gentil e suave dos níveis dos 
preços, de modo a lubrificar a economia, premiar os ousados sem, entretanto, punir demasiadamente 
os prudentes” (Campos, 1953, p. 33 e 38). 
 Roberto Campos considerava o pseudonacionalismo nocivo ao desenvolvimento, ao provocar 
escassez de capital. Enquanto o capital estrangeiro era banido de setores de baixa rentabilidade, per-
mitia-se a atuação de empresas multinacionais na indústria de transformação, o filé mignon da eco-
nomia. O governo ficava “roendo o osso” em setores ditos de “segurança nacional, como petróleo, 
 11
energia elétrica e mineração”, deixando de alocar recursos em áreas sociais (Campos apud Biels-
chowsky, 1988, p. 147). 
 Segundo ele, o capital estrangeiro deveria ser destinado, preferencialmente, a setores de alta 
relação capital/trabalho, que exigem investimentos de longo período de maturação, envolvendo altos 
riscos, como a prospecção de petróleo, e baixa rentabilidade direta, como energia e transportes. In-
vestindo em infra-estruturas, de menor rentabilidade, o governo cria economias externas para empre-
sas multinacionais, que atuam livremente em setores de alta taxa de lucro, quando seria desejável que 
ocorresse o contrário, isto é, que o capital estrangeiro gerasse externalidades para empresas nacio-
nais, de menor competitividade. Geralmente, porém, as empresas estrangeiras não eram atraídas aos 
setores infra-estruturais pelo congelamento tarifário, que comprimia a taxa de lucro. Roberto Campos 
criticava ainda os nacionalistas ao afirmar que o argumento da sangria da remessa de lucros é teori-
camente equivocado, por não levar em conta seus efeitos sobre o crescimento do produto: elevação 
da produtividade nacional, aumento das exportações, substituição de importações e transformação 
tecnológica, além de maior capacidade interna de poupança (Bielschowsky, 1988, p. 148). 
 
4 - Inácio Rangel e a corrente socialista 
 
 O pensamento econômico brasileiro ligado ao desenvolvimento completa-se com a inclusão 
dos economistas socialistas e do pensamento independente de Inácio Rangel. A corrente socialista 
ligava-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e ao Instituto Superior de Estudos Brasileiros (I-
SEB), tendo como principais representantes Caio Prado Júnior, Nelson Werneck Sodré e Alberto 
Passos Guimarães. Esses autores, baseando-se na doutrina marxista, buscavam viabilizar o desenvol-
vimento capitalista no Brasil, a fim de facilitar sua passagem ao socialismo. A maioria deles defendia 
a tese de que a agricultura brasileira permanecia feudal, sendo necessária a reforma agrária para 
transformar as relações de trabalho do meio rural e promover o desenvolvimento econômico. Argu-
mentavam que duas contradições básicas estavam presentes na sociedade brasileira: o monopólio da 
propriedade da terra e o imperialismo internacional. O planejamento econômico, com ênfase na em-
presa privada nacional e no Estado, apresentava-se como uma condição necessária para evitar a de-
pendência ao imperialismo externo (Bielschowsky, 1988, p. 284). 
 Inácio de Moura Rangel (1914-1994) foi assessor econômico do governo Vargas, membro do 
Conselho Nacional do Petróleo e técnico do BNDES. Destacou-se das demais correntes por ter efetu-
ado uma adaptação própria de elementos teóricos provenientes de Adam Smith, Keynes e Marx. Em 
relação à inflação, por exemplo, ao contrário da idéia monetarista, ele partiu do pressuposto de que 
os preços apresentam variações autônomas em relação ao estoque de moeda. A relação entre moeda e 
preços pode ser vista pelo exame da equação de Fischer: Mv = pY, onde M são os meios de pagamen-
tos, v a velocidade de circulação da moeda, p o nível geral de preços e Y o nível da atividade econô-
mica. Pela teoria quantitativa da moeda, sendo v constante, o aumento de M não causa elevação de Y, 
mas de p: a causalidade é da moeda para os preços. Inversamente, uma redução autônoma dos meios 
de pagamentos deprime os preços e causa recessão. 
 12
 Segundo Rangel, em uma economia oligopolizada como a brasileira, isso não acontece por-
que as empresas recorrem ao crédito bancário para financiar seus estoques e mantêm ou mesmo ele-
vam seus preços. Por outro lado, o produto não cai quando há expansão autônoma dos preços, mas 
provoca aumento dos meios de pagamentos ou da velocidade de circulação da moeda. Os problemas 
de caixa dos bancos são resolvidos pelo Banco Central ou por emissão de moeda, implicando que a 
causalidade ocorre dos preços para a moeda e não o contrário. O governo exerce, a esse respeito, um 
papel passivo: a inflação teria origem no mercado e não no Ministério da Fazenda (Rangel, 1986, p. 
25). 
 Em outro extremo, os estruturalistas explicam a causalidade preços e moeda pela existência 
de pontos de estrangulamentos, como oferta insuficiente de produtos importados e inelasticidade da 
oferta agrícola. Contudo, as grandes transformações estruturais da economia brasileira, nas décadas 
de 1950 e 1970, ampliaram as pressões inflacionárias em vez de arrefecê-las. Desse modo, Rangel 
criticou a insuficiente ênfase na demanda, tanto por monetaristas como por estruturalistas. Em sua 
opinião, não é a inelasticidade da oferta de produtos agrícolas que explica a elevação de preços, mas 
as imperfeições de mercado do lado da intermediação comercial, entre produtores e consumidores. 
Ao mesmo tempo, a essencialidade dos produtos agrícolas produz rigidez de demanda relativamente 
independente das flutuações de preços. No entanto, a sociedade tolera a inflação pela funcionalidade 
entre inflação e crescimento econômico. Corte no crédito, aumento da taxa de redesconto do Banco 
Central e controle de preços inibem o crescimento da produção, gerando desemprego e agravando as 
crises (Rangel, 1986, p. 28). 
 A teseestruturalista da rigidez da oferta agrícola vem ao encontro da idéia da insuficiência do 
mercado interno para o crescimento econômico. A reforma agrária aumenta a oferta de alimentos e a 
renda das populações agrícolas, assim como a demanda dos trabalhadores. Para Rangel, no entanto, o 
aumento da oferta agrícola não seria suficiente para reduzir a inflação. Seria preciso também aperfei-
çoar os canais de comercialização dos produtos agrícolas, tornando o setor agropecuário mais con-
correncial. Outro ponto que distingue seu pensamento é o fundamento teórico da reforma agrária. 
Nos anos de 1960, os economistas de esquerda discutiam se o modo de produção da agricultura era 
feudal ou capitalista; isso era importante para a definição do tipo de reforma agrária a ser proposta. 
 Segundo Guimarães (1981), as relações de produção da agricultura brasileira eram feudais, 
sendo necessária uma reforma agrária ampla para transformá-las e permitir o desenvolvimento capi-
talista no País. Já para Caio da Silva Prado Júnior (1907-1990) tais relações sempre foram capitalis-
tas, como atestaria a existência de uma agricultura exportadora (Prado Jr., 1981). Desse modo, o de-
senvolvimento não precisaria passar, necessariamente, pela reforma agrária, mas pela extensão da 
legislação trabalhista do meio urbano ao homem do campo; ao estimular o pagamento de salários, ela 
ampliaria o mercado consumidor nas zonas rurais, estimulando a industrialização e o desenvolvimen-
to capitalista. 
 
 
 
 13
4.1 Relações de produção da agricultura 
 
 Rangel (1977) assume uma posição intermediária, conciliadora. Ele argumenta que as rela-
ções de produção são feudais no interior das fazendas, explicando a posição sociopolítica do “coro-
nel” e sua dominação extra-econômica do camponês que trabalha e habita em suas terras, e que tais 
relações se mostram capitalistas no relacionamento da unidade produtiva rural com o mercado. Esses 
dois modos de produção, simultâneos, constituem o fundamento da tese de Rangel sobre a dualidade 
básica da economia brasileira. Sua proposta consistia em romper com a dominação do proprietário 
em relação ao camponês, existente pelo fato de este habitar em suas terras. A fim de desenvolver o 
mercado de trabalho no meio rural e incentivar o desenvolvimento do capitalismo no campo, sugere 
uma “reforma agrária” diferente. 
 Ela consistiria na doação ou venda de uma pequena gleba de terra ao trabalhador rural (1 a 2 
hectares), para que ele pudesse aumentar seu poder de barganha no mercado de trabalho. Desse mo-
do, cultivando sua pequena lavoura de subsistência, ele poderia recusar salários muito baixos, evi-
tando, assim, a exploração por parte dos fazendeiros. Ao mesmo tempo, poderia elevar sua renda e 
produzir parte da subsistência, com produtos que retiraria de sua própria terra. 
 Esse dualismo explicaria a existência de um Brasil moderno, capitalista, ao lado de um Brasil 
arcaico, feudal. Essa dualidade também se manifestaria historicamente por: (a) fazenda escrava x 
fazenda mercantil-exportadora; (b) latifúndio feudal x fazenda mercantil-exportadora; (c) latifúndio 
feudal x capitalismo industrial (a partir dos anos de 1930). A tese central é a de que a estrutura so-
ciopolítica nacional se torna influenciada pela estrutura dual da economia, quando o poder político 
passa a ser exercido por duas frentes aliadas, mas ao mesmo tempo em conflito (Rangel, apud Biels-
chowsky, 1988, p. 254). 
 As crises cíclicas do capitalismo internacional influenciaram as alianças internas, ao defini-
rem a intensidade e a natureza das relações entre centro e periferia. A tese da dualidade marcou o 
posicionamento político de Rangel e sua opção pela tese da substituição de importações, como modo 
de transformar a estrutura econômica do país. O protecionismo não apenas contém a tendência à ex-
pansão do consumo, acima das possibilidades da oferta interna, como também equilibra o balanço de 
pagamentos e promove o desenvolvimento industrial. A idéia subjacente é a de que apenas as expor-
tações de produtos agrícolas não seriam suficientes para elevar o nível de emprego e transformar a 
economia nacional, além de manter a estrutura dual na agricultura. 
 Era preciso o estímulo do Estado para industrializar o País, o que só poderia ser efetuado, 
rapidamente, pela substituição de importações. Contudo, o modelo leva à capacidade ociosa, porque 
a substituição de importações efetua-se gradativamente em setores com menor demanda e com maior 
coeficiente de capital e sofisticação tecnológica. A minimização dos desequilíbrios pode ser obtida 
pelo planejamento governamental. 
 A partir dos anos de 1970, a penetração do capitalismo no campo transformou o latifúndio 
feudal em propriedades capitalistas, aumentando a produtividade do trabalho e desempregando mi-
lhões de trabalhadores. À medida que essas pessoas não encontram trabalho, não cresce o mercado 
 14
interno para bens de consumo popular. O elevado contingente de desempregados, tanto no meio ur-
bano, como nas zonas rurais, está explicando as crescentes ocupações de terras por agricultores. A 
reforma agrária torna-se imperiosa para expandir a oferta interna de alimentos e matérias-primas a-
grícolas. De outra parte, a economia necessita crescer para expandir o emprego. Sem reforma agrária 
e redistribuição de renda, o crescimento econômico efetua-se com elevada taxa de exploração e baixa 
propensão a consumir por parte dos trabalhadores (Rangel, 1986, p. 58). 
 Outra conclusão de Rangel foi que o desenvolvimento industrial produziu uma nova classe de 
fazendeiros no “comando dos modernos meios de produção”, diferenciando-se do latifúndio exporta-
dor paulista e do latifúndio gaúcho substitutivo de importações. O velho pacto de 1930, firmado entre 
o latifúndio feudal e o capitalismo industrial nacional, estaria para ser substituído por uma nova ali-
ança, a fim de viabilizar o desenvolvimento capitalista no Brasil (Rangel, 1986, p. 149). 
 
5 - Algumas teses em debate no Brasil após 1964 
 
 O esgotamento do modelo de substituição de importações, no início dos anos de 1960, levou 
os formuladores da política econômica governamental a dar à economia brasileira maior abertura ao 
comércio internacional. Durante os primeiros anos do regime militar, entre 1964 e 1967, sob a dire-
ção de Roberto Campos (Ministério do Planejamento) e de Octávio Gouvêa de Bulhões (Ministério 
da Fazenda), efetuou-se, no Brasil, ampla reforma econômico-financeira, criando as bases para o 
crescimento econômico posterior, que foi sustentado pela expansão das exportações e por uma fase 
posterior de substituição de importações. A confiança depositada pelo setor privado na política eco-
nômica, a reforma fiscal e a capacidade ociosa existente no sistema produtivo contribuíram para ace-
lerar o crescimento econômico entre 1968 e 1973, ano em que ocorreu o primeiro choque do petró-
leo, que desacelerou o crescimento da economia nacional nos anos seguintes. 
 As exportações de produtos manufaturados desempenharam importante papel no crescimento 
após 1968, viabilizando importações de bens de capital e de insumos industriais, o que gerou impor-
tantes impactos no setor de mercado interno. Elas mudaram a pauta exportadora brasileira, passando 
de 17,9% das exportações totais, em 1957/1961, para 29,7% em 1973 (Langoni, 1976, p. 61). 
 
5.1 Exportar ou substituir importações 
 
 Em termos de ideologia desenvolvimentista, o grande debate do período iniciado em 1964, 
até o início dos anos de 1980, centrou-se na dicotomia entre “orientar a economia para as exporta-
ções” ou continuar com o “processo de substituição de importações”. Os críticos do modelo econô-
mico brasileiro afirmavam que o governo concedia incentivos em demasia aos exportadores, enquan-
to aumentava a concentração de renda no País. Como será visto adiante, no contexto do II PND 
(1975/1979), o Brasilavançou intensamente na substituição de importações, principalmente de insu-
mos básicos. 
 Os críticos do “modelo exportador” não percebiam que o coeficiente de emprego no setor 
 15
exportador é muito maior do que no setor de substituição de importações. Os produtos manufatura-
dos exportados por um país como o Brasil, para os quais possui vantagens comparativas, são os de 
tecnologia mais simples e que incorporam maiores proporções de trabalho, o fator relativamente 
mais abundante. Utilizando-se o raciocínio oposto, percebe-se que os produtos importados substituí-
dos são os de capital mais intensivo. A industrialização por substituição de importações tende a eco-
nomizar o fator abundante e empregar mais o fator escasso. Desse modo, o crescimento do emprego 
no Brasil não acompanha o ritmo do crescimento econômico. No longo prazo, aumenta a participa-
ção da renda do capital no produto, em detrimento da renda do trabalho. Assim, a produção por subs-
tituição de importações tende a elevar a concentração de renda no país. 
 Além disso, essas indústrias concentram-se nas regiões mais industrializadas do País, como 
no Sudeste, aumentando as desigualdades regionais; enquanto a produção para exportação, incorpo-
rando tecnologias de trabalho mais intensivo, corresponde a atividades que se concentram de prefe-
rência nas regiões periféricas. Essas indústrias, crescendo rapidamente, aumentam a capacidade de 
importar do país e criam empregos nas regiões mais pobres, reduzindo as desigualdades pessoais e 
regionais da renda. Desse modo, o crescimento por substituição de importações tem aumentado a 
concentração espacial e pessoal da renda. A população 10% mais pobre detinha 1,1% da renda, em 
1970, contra 1,2% em 1960; enquanto a população 10% mais rica aumentou essa participação de 
39,7% para 47,8% (Langoni, 1976, p. 127). 
 
5.2 Bresser Pereira e o subdesenvolvimento industrializado 
 
 A economia brasileira cresceu 7% ao ano, em média, entre 1948/61, com intensa industriali-
zação. O PIB subiu de US$ 19,5 bilhões em 1965, para US$ 323,6 bilhões em 1988. A participação 
da indústria no produto variou de 33% para 43% no mesmo período (Banco Mundial, 1990, p. 189). 
Contudo, o aumento do nível de vida da maioria da população não foi tão rápido. Em 1965, o con-
sumo diário de calorias per capita era de 2.402 (EUA: 3.224; México: 2.644); em 1988, esse número 
subiu para 2.656 (EUA: 3.645; México: 3.132) (Banco Mundial, 1990, p. 239). O lento crescimento 
dos indicadores de desenvolvimento gerou a idéia de que o País continua subdesenvolvido, apesar de 
industrializado. A concentração de renda gerou uma classe média com nível de renda europeu (uma 
Bélgica), e uma população pobre e subnutrida, nos moldes indianos.6 Em 1974/1975, 36% das pesso-
as viviam abaixo da linha de pobreza (não possuíam renda suficiente para o atendimento das neces-
sidades básicas), sendo 38,6% nas áreas rurais e 34,4% nas áreas urbanas (Fava, 1984, p. 105). 
 Em 1989, a distribuição de renda no Brasil apresentava a seguinte estrutura: os 20% mais ri-
cos detinham 67,5% da renda, enquanto para os 20% mais pobres esse valor era de apenas 2,1%. Es-
se foi o mesmo percentual da Guatemala e Guiné-Bissau, sendo inferior ao de países de renda média, 
como Venezuela (4,8%, 1989) e México (4,1%, 1984) (Banco Mundial, 1995, p. 239). No Brasil, dos 
168 milhões de habitantes em 1999, 53,1 milhões eram considerados pobres e 22,6 milhões eram 
 
6 Essa dicotomia levou Edmar Bacha a cunhar o termo Belíndia para se referir ao Brasil, uma vez que, em termos de contingentes 
populacionais e níveis de renda, o País seria formado por uma Bélgica (as classes média e alta) e por uma Índia (a maioria pobre). 
 16
indigentes (ver Capítulo 1 de Souza, 2005, Tabela 1). Percebe-se, portanto, a existência de 92 mi-
lhões de pessoas formando as classes média e alta, que constituem a base do setor produtor de bens 
de consumo, principalmente os de natureza supérflua, de tecnologia importada. O efeito-
demonstração do consumo e a importação de tecnologia constituem o elemento dinâmico do modelo. 
Portanto, o subdesenvolvimento industrializado, segundo Bresser Pereira, “caracteriza-se pela tenta-
tiva de reproduzir na periferia os padrões de consumo do centro, em benefício de uma minoria capi-
talista e tecnoburocrática”7 (Pereira, 1981, p. 22). 
 O padrão de acumulação do subdesenvolvimento industrializado gera um dualismo no interi-
or do setor industrial, um segmento que produz bens de consumo dos trabalhadores, com base em 
tecnologias mais tradicionais, e outro que elabora produtos de consumo de luxo, reproduzido dos 
padrões de consumo dos países desenvolvidos e com base em tecnologia importada. Ao se adotarem 
técnicas com alta relação capital/trabalho, aumenta no longo prazo tanto a participação da renda do 
capital na renda total, como a participação dos maiores salários e ordenados na massa salarial da e-
conomia. Desse modo, o modelo concentra a renda, favorecendo a demanda de bens de consumo 
duráveis e de luxo. Ao se produzirem esses bens com as mesmas técnicas dos países desenvolvidos, 
substituindo importações, reproduz-se o sistema voltado para a produção de bens de consumo das 
elites. 
 A limitação do crescimento desse modelo não se encontra na incapacidade de absorção de 
mão-de-obra ociosa pela economia, porque não se apóia no consumo popular, mas no consumo das 
elites. O modelo não depende da renda dos trabalhadores, mas da renda das classes média e alta, que 
se resguardavam dos efeitos nocivos da inflação, por meio de aplicações financeiras, ou por remarca-
ções constantes de preços. A reprodução do consumo de luxo dos países desenvolvidos tende a pres-
sionar o balanço de pagamentos e a dificultar o funcionamento do modelo. Produzir para exportação 
torna-se uma necessidade tanto para importar bens de capital e produzir internamente bens supér-
fluos, como para desafogar a oferta de setores que dependem da renda das classes menos favorecidas. 
No entanto, a reorientação da economia para a exportação encontra oposição na própria lógica do 
modelo, que é copiar os padrões de consumo do centro, para atender ao mercado interno, e não pro-
duzir para a exportação, ou para ampliar a oferta de bens de consumo dos trabalhadores. De outra 
parte, as empresas multinacionais que se instalam no país nem sempre estão interessadas em produzir 
para a exportação, mas abastecer o mercado interno protegido, de difícil acesso a partir do exterior. 
 Segundo Bresser Pereira, o limite do modelo que leva ao subdesenvolvimento industrializado 
não se encontra no estrangulamento externo ou na baixa taxa de absorção da mão-de-obra desempre-
gada, mas em mudanças políticas violentas, suscetíveis de desorganizar a classe política esta-
tal/liberal, simultaneamente com o fortalecimento político dos partidos ligados às organizações sin-
dicais. Nesse caso, “as classes capitalista e tecnoburocrática seriam obrigadas a fazer constantes e 
crescentes concessões à classe trabalhadora, até o ponto em que o padrão de acumulação perdesse 
suas características concentradoras e excludentes. O problema, portanto, resume-se em uma relação 
 
7 O termo é empregado para expressar a expansão da nova classe média (técnicos, gerentes, funcionários públicos graduados), que 
aumentou de importância no Brasil, nas últimas décadas, com a acumulação de capital e o crescimento da classe empresarial. 
 17
de forças políticas” (Pereira, 1981, p. 319). 
 A redemocratização do Brasil, principalmente após a promulgação da nova Constituição, em 
1988, implicou nova divisão do poder político entre as classes dominantes e os representantes dos 
trabalhadores, poderia ter levado a variações do modelo básico, em favor de um crescimento maior 
dos setores que produzem para a exportação e para o consumoda população de menor renda.8 As 
elevadas taxas de inflação e a conseqüente concentração de renda, em favor das classes mais ricas 
tendiam, até início dos anos de 1990, a manter o dinamismo de crescimento dos setores que produ-
zem bens de consumo duráveis e bens de luxo. As políticas de combate à inflação, a exemplo do Pla-
no Real de 1994, por outro lado, gerando desemprego e achatamento salarial, tendem a reduzir a de-
manda e a produção dos bens de consumo dos trabalhadores, pouco afetando a produção dos bens de 
luxo consumido pelas classes média e alta. 
 Diante da tendência à concentração de renda e à manutenção do modelo de subdesenvolvi-
mento industrializado, torna-se necessária a participação do Estado no planejamento e coordenação 
geral da atividade econômica. Nesse sentido, Bresser Pereira recomenda: (a) conceder menor priori-
dade ao setor produtor de bens de luxo e incentivá-lo a exportar seus produtos e a reorientar os inves-
timentos para setores estratégicos; (b) dar prioridade aos setores produtores de bens de capital e de 
insumos básicos; (c) promover a expansão do setor produtor de bens de consumo dos trabalhadores; 
(d) elevar a carga tributária sobre a renda, consumo de bens de luxo, herança, lucros imobiliários e 
ganhos de capital; e (e) alocar recursos em obras sociais básicas de atendimento da população e de 
alto coeficiente de trabalho. 
 A originalidade da sugestão está no aumento do nível de emprego via política fiscal e na rea-
locação do gasto, e não em políticas demagógicas de elevação dos salários nominais, com reflexo 
negativo sobre a taxa de lucro e o nível do investimento. Contudo, quanto à política salarial, a idéia 
de Bresser Pereira era transferir aos trabalhadores os ganhos de produtividade, além de evitar perdas 
salariais. Ainda no campo intervencionista, ele sugere o controle de preços, dados o caráter oligopo-
lista da indústria nacional e o controle dos investimentos estrangeiros no País (Pereira, 1981, p. 323). 
 
 
 
QUESTÕES PARA REFLEXÃO E DISCUSSÃO 
 
01. Explique a dualidade básica de Inácio Rangel. 
02. Explique a idéia de subdesenvolvimento industrializado de Bresser Pereira. 
03. Relacione as principais conclusões do Capítulo 7 (veja o livro). 
 
 
8 O governo Lula, do Partido dos Trabalhadores, no poder desde 01/01/2003, continuou com a política macroeconômica do governo 
Fernando Henrique Cardoso, de centro-direita, procurando a estabilização econômica e o crescimento das exportações. 
 18
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
BIELSCHOWSKY, Ricardo. Pensamento econômico brasileiro: o ciclo ideológico do desenvolvi-
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