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Curso de Pedagogia – 2º período Disciplina: Didática da Educação Título: As 10 Novas Competências para Ensinar. (Philippe Perrenoud) Cap. 10 – ADMINISTRAR SUA PRÓPRIA FORMAÇÃO CONTÍNUA É zelar pela continuidade, atualização constante da formação profissional. Por que fazer do desenvolvimento desta competência uma prioridade? Porque ela condiciona a atualização e o desenvolvimento das outras nove (competências) citadas anteriormente. “A liberdade só se gasta se não for usada” (esta frase é o lema de um jornal francês). De igual forma acontece com as competências. Todas se conservam graças a um exercício constante. A formação contínua aponta para o fato de que: Os recursos mobilizados pelas competências devem ser atualizados, adaptados as condições de trabalho em evolução. Apesar de não se perceber, as práticas pedagógicas mudam de forma lenta, porém, profundamente (ao longo das décadas). Atualmente, todas as dimensões da formação inicial são retomadas e desenvolvidas em formação contínua. Referencial genebrino adotado distingue cinco componentes principais dessa competência. 1- Saber explicitar as próprias práticas. Há pouco tempo que a formação contínua refere-se às práticas em vigor. Tempos atrás, ela referia-se tão somente as práticas profissionais. Esta evolução precisa continuar, pois ainda existe formadores que não se preocupam com a distância que existe entre o que eles propõem e as práticas reais dos professores em exercício de sua função. Pode-se julgar que os professores capazes de explicitar e de analisar suas práticas tirarão melhor partido dessas novas modalidades de formação contínua. Toda prática é reflexiva, e oferece duplo sentido: 2 Refletir para agir, Estabelecer a posteriori uma relação reflexiva com a ação realizada. Todo ser humano é, por natureza, reflexivo. Por esta razão, neste capítulo, o autor convida para uma reflexão mais metódica, ou seja, movido por uma vontade de aprender metodicamente com a experiência e de transformar sua prática a cada ano. Analisar e explicitar sua prática envolve o exercício de uma lucidez profissional. Esta jamais é total e definitiva. A prática reflexiva não se fundamenta em um saber analisar. É uma forma de “sabedoria” que permite encontrar seu caminho entre a auto- satisfação conservadora e a autodifamação destruidora. → O exercício da lucidez profissional requer digna cooperação. Isto somente poderá ser feito se os professores conseguirem um clima de confiança necessário para que cada um conte fragmentos de sua prática, sem temer ser imediatamente julgado e condenado. 2- Estabelecer seu próprio balanço de competência e seu programa pessoal de formação contínua. O título sugere um auto “gerenciamento moderno”. O exercício da lucidez profissional leva a conclusões como: Alguns fracassos corriqueiros que apontam para a competência a melhorar. A prática reflexiva consolida estratégias que evitarão novos desapontamentos. Há coisas que não se sabem fazer e que não se aprende apenas refletindo. São fatos que se dizem respeito a: Situações esporádicas, mas que exigem pronta atuação do professor sem que ele tenha neste momento, direito ao erro. “Ser competente é estar pronto para enfrentar ‘certas’ crises, no momento em que elas sobrevêm, em geral de improviso, pois exigem uma reação tão imediata quanto adequada.” (PERRENOUD, 2000, p. 162.) Lucidez profissional consiste em saber explorar todas as possibilidades. Seja a de progredir pelos meios que a situação atual oferece, seja buscando meios mais econômicos e 3 rápidos para autoformação. E a partir destes novos dados, ampliar e criar novas situações adaptando-as a realidade de cada dia – nunca “modelos prontos”. Crítica aos professores. a) Quando a formação contínua não é obrigatória, muitos professores escapam. b) Outros (maioria) vivem dos conhecimentos que adquiriu na formação inicial. c) Poucos se formam como autodidatas, dispensando as instituições sem que suas competências parem de se desenvolver. d) Alguns outros escolhem às ofertas de formação (modismos) – atração pelo título, mas em seguida acompanha uma fase de declínio. O ideal seria que cada um soubesse, cada vez melhor, apontar suas próprias falhas e traduzir a distância entre o que faz e o que gostaria de fazer em um projeto de formação. Auto-avaliação = balanço de competência (esta última tem conotação menos negativa). → Deveria ser uma prática voluntária no âmbito de autonomia de um profissional. 3- Negociar um projeto de formação comum com os colegas (equipe, escola, rede). É uma ideia simples, mas de operacionalização difícil em função da resistência de vinda de algum professor que faça parte do quadro docente. Não estando todos os professores integrantes de acordo, haverá conflitos e sofrimentos. Não se pode trabalhar neste patamar se “a paz só é mantida porque cada um evita expressar uma opinião sobre as práticas dos outros.” Este tópico é de dupla competência. Saber propor e desenvolver projetos coletivos. Saber renunciar a isso, caso não haja um estágio de mínima cooperação. 4 “Um projeto de formação contínua pode reforçar uma cultura de cooperação, não a cria completamente e pode entravá-la se violentar certos professores.” (PERRENOUD, 2000, p. 165) 4- Envolver-se em tarefas em escala de uma ordem de ensino ou do sistema educativo. Neste tópico, o autor apresenta uma idéia a princípio utópica. Ele diz que os professores deveriam participar de variadas tarefas na escola – “estruturas de participação”. Na medida em que ele vai ampliando a ideia, percebe-se que a intenção dele é boa e interessante, mas, que não acontece repentinamente e nem com todos os professores. Nota-se que o autor gostaria de ver os professores interagindo com todos os setores da escola fazendo disto uma oportunidade para tornar-se apto para atuar em qualquer que fosse a necessidade da escola. Ele diz que quando um professor consegue fazer isto, ele não volta para a classe. É uma espécie de “promoção” validada pela atuação espontânea do professor ao envolver-se com os demais seguimentos da escola. A participação em outros níveis de funcionamento do sistema educacional amplia a cultura política, econômica, administrativa, jurídica, sociológica dos professores em exercício, com as repercussões imaginadas para sua prática cotidiana, em um duplo sentido: enriquecimento dos conteúdos de ensino e abordagem mais analítica e menos defensiva dos fenômenos de poder e de conflito em geral, dos funcionamentos institucionais. (PERRENOUD, 2000, p. 167). 5- Acolher a formação dos colegas e participar delas. “[...] formar alguém é uma das mais seguras maneiras de se formar.” (PERRENOUD, 2000, p. 168). É verdade que para participar da formação de outrem, é necessário possuir certo nível de especialização. Prática do professor com estagiário em sala. É mais fácil receber um estudante em formação inicial do que um colega. (a distância que existe entre o colega é mais clara). A observação de um estagiário não incomoda porque não é ameaçadora, ele depende do estágio. 5 Já a observação de um supervisor (colega), incomoda porque tem cunho avaliador. Gera insegurança. “Ninguém pode agir eficazmente, na urgência e na incerteza.” (PERRENOUD, 1996 apud PERRENOUD, 2000, p. 168) O autor, neste tópico propõe valorizar a troca de experiência entre professores (profissional formado) e estagiário (em formação), mas que possui alguma bagagem que será útil para o professor em exercício. Perrenoud almeja que a formação mútua progrida nos próximos anos, uma vez vencido os medos que surgem sobre o trabalhar sob o olhar de um colega experiente. 6- Ser agente do sistema de formação contínua. O autorapresenta duas vertentes: Administrar a própria formação contínua (gerenciar a própria formação). Administrar o sistema de formação contínua (poder interferir optando pelo conteúdo desejado). O autor sugere, entre linhas, uma parceria entre as duas administrações. Ou seja, ao mesmo tempo em que se desenvolve a própria formação contínua, estar inserido no sistema gerador da formação contínua. Nesta última, podendo atuar manifestando opinião a respeito da modalidade da criação dos cursos, dentro das reais necessidades vigentes (discurso compartilhado). CONCLUSÃO Perrenoud (2000) enfatiza que é fundamental que a política de formação continuada de professores esteja num âmbito cada vez maior de discussões desses profissionais, para que esses se sintam responsáveis pelos caminhos de elaboração e definição dessas políticas, intervindo nesse processo, tanto em nível individual como coletivo. A importância desse processo de formação continuada se torna mais ampla na medida em que é essencial não só solidificar a concepção e a necessidade de formação de competência, mas também ampliar 6 essa discussão, visando uma reflexão acerca da necessidade de uma efetiva reforma nas políticas educacionais, para que as relações entre educação e trabalho desses profissionais criem ambiente propício para o desenvolvimento de competências. Caminhar para a identificação das competências faz parte de um movimento em direção a escolas eficazes, ao aparecimento de profissionais reflexivos e escolas autônomas, em suma, em direção a uma maior profissionalização da educação. REFERÊNCIA PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Tradução de Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
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