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AAAUUULLLAAA 111222 Discutir a Reforma do Estado brasileiro, dos anos 1990 e suas implicações nas políticas educacionais. Apresentar as políticas educacionais dos anos 1990. Apresentar as políticas educacionais dos anos 2000 até o momento atual. Após a leitura desta aula esperamos que você possa: Relacionar a Reforma do Estado brasileiro, dos anos 1990, com as políticas educacionais, daquele período. Analisar, em perspectiva comparada, as políticas educacionais dos anos 1990 com aquelas implementadas a partir dos anos 2000. A REFORMA DO ESTADO E A POLÍTICA EDUCACIONAL BRASILEIRA NA DÉCA DE 1990 E NA DÉCADA ATUAL META OBJETIVOS 1. INTRODUÇÃO Os temas centrais a serem tratados nessa aula são a Reforma do Estado e as Políticas Educacionais dos anos 1990 e da década atual. Sendo assim, o material didático encontra-se dividido em IV seções, além desta pequena Introdução. Na primeira seção trataremos da Reforma do Estado conduzida por Bresser Pereira, nos anos 1990. Uma reforma de caráter neoliberal, que objetiva a mudança do papel do Estado que de interventor deveria assumir apenas a função de regulador. Sua intervenção deveria se resumir a setores considerados prioritários e, portanto, de monopólio da ação estatal. Na segunda seção abordaremos as políticas educacionais nos anos 1990. Como opção didático-metodológica optamos por analisar, separadamente, as políticas educacionais adotadas em cada um dos governos daquele período, a saber: Collor de Mello, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Isso porque a condução das políticas educacionais varia de um governo para outro. Na terceira seção abordaremos as políticas educacionais dos anos 2003, quando se inicia o governo Lula, até o final do governo Dilma, em 2016. Nesse caso, não há a necessidade de analisarmos as políticas educacionais para cada um dos governos, em separado, uma vez que o governo Dilma deu continuidade às ações implementadas pelo governo Lula. Na quarta seção, apresentamos as considerações finais, onde fazemos uma pequena alusão à condução das políticas educacionais do atual governo. Leia atentamente o material didático! Leia também os textos indicados para complementação do conteúdo desta aula! Tire suas dúvidas com as tutoras. Bons Estudos!!! 2. A REFORMA DO ESTADO BRASILEIRO, DOS ANOS 1990 Entre 1930 e meados dos anos 1980 tivemos, no Brasil, uma política nacional-desenvolvimentista. Durante todo aquele período vivenciamos, portanto, no plano econômico, social e empresarial, um Estado fortemente interventor, pressupondo-se que “O Estado tinha papel estratégico na promoção do progresso técnico e da acumulação de capital, além de lhe caber a responsabilidade principal pela garantia de uma razoável distribuição de renda” (BRESSER PEREIRA, 1998, p. 54). Entretanto, naquele período houve um considerável crescimento do Estado, o que se percebe facilmente pela observação da expansão de sua área de atuação, que não se restringiu ao plano econômico, mas abrangeu o plano social e empresarial e pelo aumento expressivo da contratação de funcionários públicos, professores, profissionais da saúde, assistentes sociais, artistas, dentre outros. Para sustentar seu próprio crescimento, o Estado se viu obrigado a aumentar a carga tributária. Mas tendo em vista o volume das transferências, associado à redução da capacidade de geração de poupança interna, por parte das empresas estatais, o Estado começou a apresentar sinais de esgotamento. Nas palavras de Bresser Pereira (1998, p.55): “na realização das atividades exclusivas [...] e principalmente no oferecimento dos serviços sociais de educação e saúde, a administração pública burocrática [...] demonstrava agora ser ineficiente e incapaz de atender com qualidade as demandas dos cidadãos-clientes”. Resultado de tamanha expansão da máquina pública: crise fiscal que, nos anos 80, se manifesta sob a forma da crise da dívida externa e através da hiperinflação. Além destes fatores endógenos, a globalização também teve papel importante na reforma do Estado conduzida nos anos 90. Naquele período, de agente viabilizador do desenvolvimento socioeconômico o Estado interventor passou a ser visto, por alguns políticos e pesquisadores, como um obstáculo para o mesmo, o que levou à reforma. No Brasil a reforma do Estado teve quatro pontos principais: 1. A delimitação de suas funções e, portanto, do seu tamanho, através de programas de privatização, terceirização e publicização: Segundo Bresser Pereira (1998), aos poucos os governos foram percebendo que o Estado não deveria ser o responsável direto pela execução de algumas atividades, as quais seriam de competência do setor privado. Sua área de atuação deveria se limitar à realização de atividades exclusivas (como definir as leis internas, garantir a justiça; garantir a segurança da população e manter a ordem; defender e representar o país no exterior; arrecadar impostos; garantir a estabilidade da moeda e do sistema financeiro; regulamentar as atividades econômicas); à realização de serviços sociais e científicos e à produção de bens e serviços para o mercado. Compreendendo que o Estado interventor atuava em um campo bastante amplo, ultrapassando o de suas funções básicas, vieram, nos anos 80 a privatização, a terceirização e a publicização. DIFERENCIANDO CONCEITOS... PRIVATIZAÇÃO: Processo de transformar uma empresa estatal em privada. Consiste na venda das empresas públicas para o setor privado. TERCEIRIZAÇÃO: Consiste na transferência de algumas atividades antes exercidas pelo setor público para o setor privado. Através desta medida reduz-se custos operacionais e gera-se economia de recursos públicos e, ao mesmo tempo, desburocratiza-se a administração pública. PUBLICIZAÇÃO: Consiste na transferência da gestão de serviços e atividades não exclusivas do Estado, antes executadas pelo mesmo, para o setor público não estatal. O Estado passa de executor a regulador dos serviços. 2. Redução da sua área de interferência, atuando como regulador da economia para garantir o bom funcionamento do mercado: Segundo Bresser Pereira (1998), o Estado estava atuando em áreas não- exclusivas tais como escolas, universidades, centros de pesquisa científica e tecnológica, creches, ambulatórios, hospitais, entidades de assistência social, dentre outras. Tendo em vista o cenário de crise e admitindo-se que tais atividades não precisam, necessariamente, serem executadas pelo Estado recorreu- se, nesses casos, à publicização - ou seja, a transferência de responsabilidade da execução de alguns destes serviços para o setor público não-estatal (entidades do terceiro setor, sem fins lucrativos; são organizações não governamentais e/ou voluntárias). Normalmente estabelecia-se um contrato entre a entidade pública de direito privado e o Estado, que financiava parcial ou integralmente a prestação do serviço. Outra estratégia para a redução da área de atuação do Estado foi a terceirização de alguns serviços auxiliares (tais como limpeza, vigilância, transporte, dentre outros) e atividades-meio (como serviços técnicos de informática e processamento de dados). Quadro 1: Instituições resultantes da Reforma do Estado Atividades Exclusivas do Estado Serviços Sociais e Científicos Produção de Bens e Serviços para o Mercado Atividades Principais ESTADO (enquanto pessoal) Entidades Públicas Não Estatais Empresas Privatizadas Atividades Auxiliares Empresas Terceirizadas Empresas Terceirizadas Empresas Terceirizadas Fonte: Bresser Pereira, 1998, p. 71 3. Aumentar sua capacidade de governança, através da substituição da administração pública burocrática pela gerencial: Bresser Pereira admitiu, ao pensar os termos da reforma, que a crise dosanos 1980 era também uma crise de governança que inicialmente se manifestou através da crise fiscal. Sendo assim, os parâmetros da reforma deveriam necessariamente extrapolar o plano econômico e alcançar, também, o plano administrativo. Reconhecia-se, então, a necessidade de uma reforma administrativa, que se consolidou, no Brasil, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, com a aprovação do Plano Diretor da Reforma do Estado (1995). Nesse sentido a reforma administrativa do Estado brasileiro buscou reforçar os princípios da meritocracia para a seleção e progressão funcional no setor público; estruturar e fortalecer as carreiras típicas de Estado; informatizar e aperfeiçoar o aparato informacional para gerenciamento e tomada de decisões; e institucionalizar e incorporar de diversas formas a participação de entes públicos não estatais nas atividades de desenho, implementação, monitoramento e controle social de ações governamentais. Como principais características da reforma administrativa, destacam- se a orientação da atuação do Estado para o cidadão usuário ou cidadão- cliente; a ênfase no controle de resultados através dos contratos de gestão (ao invés de controle dos procedimentos) e o fortalecimento e aumento da autonomia da burocracia estatal; separação entre as instituições formuladoras e executoras das políticas públicas; reconhecimento e fortalecimento das agências reguladoras; distinção entre agências executivas, que executam atividades monopolísticas do Estado, das organizações sociais, que realizam serviços sociais e científicos; publicização dos serviços sociais e científicos competitivos; e terceirização das atividades auxiliares e de apoio. O objetivo com a reforma administrativa, era reduzir o tamanho do Estado mas, simultaneamente, torna-lo mais forte. Nas palavras do próprio Bresser Pereira (1998, p. 82): (a) Mais forte financeiramente, superando a crise fiscal que o abalou nos anos 80; (b) Mais forte estruturalmente, com uma clara delimitação de sua área de atuação e uma precisa distinção entre seu núcleo estratégico onde as decisões são tomadas e suas unidades descentralizadas; (c) Mais forte estrategicamente, dotado de elites políticas capazes de tomar as decisões políticas e econômicas necessárias e (d) Administrativamente forte, contando com uma alta burocracia tecnicamente capaz e motivada 4. Aumentar sua capacidade de governabilidade, através do fortalecimento da democracia representativa e da prática do controle social: Além dos planos econômico e administrativo a reforma do Estado, dos anos 1990, deveria alcançar também o plano político, tendo em vista reconhecer que, naquele momento, o Estado enfrentava também uma crise de governabilidade. Era preciso, então, adotar medidas para aumentar a capacidade política de governar (governabilidade) o que é possível apenas através do aumento da legitimidade do Estado e do governo, perante a sociedade civil. Segundo Bresser Pereira (1998), a reforma política deveria caminhar, necessariamente, no sentido de tornar o Estado brasileiro mais democrático, criando instituições políticas que permitissem melhor intermediação entre os interesses conflitantes do Estado e da sociedade civil. Por isso julgava importante uma reforma no sentido de ter partidos políticos representativos das várias orientações ideológicas; critérios eleitorais que garantissem a formação de governos representativos; que garantisse espaço para a manifestação pública de oposição; a liberdade de imprensa; de um sistema judiciário que defenda a res pública; transparência dos atos e das contas públicas; obedeça o princípio da meritocracia e não o clientelismo/populismo; que garantisse a participação dos cidadãos nos processos decisórios; com um sistema transparente de financiamento das campanhas eleitorais e que desenvolvesse um sistema de responsabilização da classe política. Agora que compreendemos a reforma do Estado, da década de 1990, vamos analisar as políticas de educação no cenário brasileiro, naquela década, cujos governos foram fortemente marcados pela ideologia neoliberal. 3. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS PRINCIPAIS PONTOS DA POLÍTICA EDUCACIONAL BRASILEIRA NOS ANOS 1990 Durante a década de 1990 o Brasil teve três Presidentes: Fernando Collor de Mello (1990-1992), Itamar Franco (1992-1995) e Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) e as políticas educacionais variaram significativamente entre um governo e outro. Segundo Veloso (1992) apud Yanaguita e Filho (2011, p.3), durante o governo Collor as políticas educacionais “foram marcadas por forte clientelismo, privatização e enfoques fragmentados”; ressaltando-se que para Arelaro (2000) e França (2005) apud Yanaguita e Filho (2011, p.3), aquele foi, no campo das políticas educacionais, “um período impregnado de muito discurso e pouca ação”. Collor lançou, em 1990, o Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania, objetivando no prazo de 5 anos a redução, em 70%, do número de analfabetos no país. Mas, para o longo prazo, o documento explicita a intenção de erradicar o analfabetismo e universalizar o ensino fundamental, admitindo-se que “a formação da cidadania de um povo depende de processos educativos, dentre os quais o ensino fundamental - direito inalienável das crianças, jovens e adultos, e devido a todos pelo Estado” (PNAC, p. 14). Além do PNAC, foi lançado o “Programa Setorial de Ação do Governo Collor na área de Educação (1991-1995)”, documento no qual o governo explicitava sua política educacional, fixava metas para a educação e definia recursos para o seu financiamento. O objetivo principal deste Programa era inserir o país na revolução tecnológica, através da introdução, na área da educação, dos princípios de equidade, eficiência, qualidade e competitividade. Previa a gestão democrática da educação, através da implementação de política de descentralização dos processos decisórios e de responsabilização da sociedade em relação ao controle e avaliação das políticas implementadas bem como da utilização dos recursos públicos na educação. Collor, em seu Projeto de Reconstrução Nacional (1991), considerava que a educação era um dos elementos essenciais para a reestruturação competitiva da economia e viu a necessidade de adequar sua oferta à população brasileira. Para tanto previu “A criação de mecanismos de integração e compatibilização dos esforços financeiros da União e dos sistemas de ensino por meio da estruturação do Fundo Nacional de Desenvolvimento (FNDE) e do Salário-Educação Quota Federal, compartilhando as responsabilidades de sua gestão com o Conselho Nacional de Secretários Estaduais (CONSED) e a União Nacional dos Dirigentes Municipais (UNDIME)” (YANAGUITA e FILHO, 2011, p. 4). No governo Itamar Franco foi elaborado o Plano Decenal de Educação para Todos, para o decênio 1993-2003. Este documento, além de ser um diagnóstico da situação do ensino fundamental no Brasil, naquele momento, identificava os problemas da educação brasileira e apontava estratégias a serem implementadas visando a minimização/eliminação dos mesmos, assim como sugeria estratégias a serem adotadas para garantir a “universalização da educação fundamental e a erradicação do analfabetismo”, admitindo-se uma ação integrada entre as três esferas governamentais (SAVIANI, 1999). O Plano explicitava, também, uma visão descentralizadora para as políticas educacionais na medida em que previa a modernização da gestão, baseada na concessão de autonomia financeira, administrativa e pedagógica, visando o aumento da produtividade e da competitividade das instituições de ensino. Objetivando a universalização do ensino básico, a erradicação do analfabetismo e a melhoria da qualidade da educação, o Plano explicitava a intenção de aumentar os recursos financeirospara o financiamento e de definir “instrumentos para controle dos gastos públicos em educação de forma a evitar que os recursos, que legal e constitucionalmente eram destinados a essa área fossem aplicados em outros programas” (YANAGUITA e FILHO, 2011, p. 5). Infelizmente, segundo Saviani (1999), esse plano nunca chegou a ser implementado, limitando-se apenas a orientar algumas ações da esfera federal no âmbito da educação. Em 1995, o Presidente Fernando Henrique Cardoso assume a Presidência da República e, segundo Yanaguita e Filho (2011, p. 5), “os eixos da política educacional permearam o estabelecimento de um mecanismo objetivo e universalista de arrecadação e repasse de recursos mínimos para as escolas”, o que condiz com as propostas do Estado em reduzir sua área de atuação e transferir para o setor privado parte dos serviços que até então estavam, prioritariamente, sob a responsabilidade do setor público. Segundo Durham (2010), a maioria das políticas educacionais implementadas pelo governo FHC foram orientadas para a implementação das reformas no ensino, previstas pela LDB – Lei 9394/96. No documento “Mãos a obra Brasil” a União redefine, com base no princípio da descentralização, as atribuições das três esferas de governo, na oferta dos serviços de educação: a União passou a ser responsável pela coordenação e gerenciamento das políticas educacionais; e Estados e Municípios se tornaram responsáveis por sua execução, desfrutando de certa flexibilidade e autonomia na implementação das ações. No entanto, segundo Pinto (2000), Arelaro (2004) e Rodriguez (2001) apud Yanaguita e Filho (2011, p.8), “esta descentralização foi feita de modo inadequado (sem planejamento nem prioridade claras), visto que boa parte dos municípios não se encontrava preparada administrativa e pedagogicamente” para assumir tal responsabilidade. Durante o governo FHC foi criado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF)1; implementada a nova LDB - Lei 9496/1996... Segundo Durham (2010, p.156 )... “A LDB fortaleceu a tendência à descentralização normativa, executiva e financeira do sistema educacional e repartiu a competência 1 O financiamento da educação brasileira e a avaliação do sistema educacional são temas da Aula 16. entre as instâncias do poder (federal, estadual e municipal), enfatizando a responsabilidade de estados e municípios para com a universalização do ensino fundamental, que passou a ser responsabilidade de ambos ... e o novo sistema de avaliação da educação brasileira. Segundo Durham (2010, p. 163)... “O governo Fernando Henrique não foi marcado pelo início da queda da qualidade do ensino, mas pela possibilidade de medi-la. Uma crítica às políticas educacionais no período FHC diz respeito aos efeitos perversos da focalização das políticas – e, portanto, do investimento público - no ensino fundamental: redução do número de vagas e perda da qualidade do ensino infantil, médio e da Educação para Jovens e Adultos. A educação superior continuou sob a responsabilidade da União, muito embora, tenham surgido várias Universidades Estaduais, inclusive como uma tentativa dos governos estaduais de cobrirem as lacunas do ensino superior, tendo em vista seu relativo abandono/sucateamento, durante o governo FHC. Verificou-se também um aumento do número de Instituições privadas de Ensino Superior (DURHAM, 2010) as quais, segundo a autora, não foram beneficiadas com nenhuma política governamental. Durham afirma não ter havido, durante o governo FHC, nenhuma política de favorecimento para o ensino superior privado. Pelo contrário, considera que tais instituições perderam a vantagem da isenção fiscal e foram submetidas ao Provão, o que acirrou a competição entre elas. Em relação ao ensino técnico-profissionalizante, o governo FHC separou a formação técnica para o mercado de trabalho da formação propedêutica; em grande parte essa medida deveu-se ao fato de que os cursos oferecidos pelas Escolas Técnicas Federais, que além do curso técnico contavam com formação propedêutica de excelente qualidade, estavam sendo usados, por grande parte dos alunos, principalmente aqueles de classe social mais elevada, como um pré-vestibular para ingresso nas Universidades Federais. Ao implementar esta medida FHC afastou das Escolas Técnicas os alunos interessados no curso superior. Segundo Durham (2010, p. 171), A resistência das Escolas Técnicas foi enorme, porque se orgulhavam da excelência de seu ensino e da excelente formação dos que nela ingressavam. A reforma implicava deixarem de ser instituições de elite. Em face dessa resistência, a reforma foi iniciada, mas de forma parcial. 4. PRINCIPAIS POLÍTICAS EDUCACIONAIS IMPLEMENTADAS NO BRASIL DOS ANOS 2000 AOS DIAS ATUAIS Durante os anos 2000 (2003 a 2016) o Brasil foi governado por Presidentes – Lula e Dilma – ligados ao Partido dos Trabalhadores. Diferentemente do que ocorreu nos governos anteriores – principalmente nos governos Collor e FHC – estes últimos governos caracterizaram-se por um maior intervencionismo, inclusive na área da educação. O foco das políticas educacionais durante estes governos foi o ensino técnico profissionalizante e o ensino superior. Em relação ao primeiro, chama a atenção a expansão da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, em todo o território nacional: “entre 2003 e 2016, o Ministério da Educação concretizou a construção de mais de 500 novas unidades referentes ao plano de expansão da educação profissional, totalizando 644 campi em funcionamento” (BRASIL, MEC, 2017). FIGURA 1: BRASIL - Distribuição espacial, segundo a UF, das Instituições que formam a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (2017) Fonte: http://redefederal.mec.gov.br/instituicoes. Acesso dia 15/10/2017. Segundo Durham (2010), o governo Lula juntou, novamente, o ensino técnico profissionalizante e o propedêutico, nas escolas técnicas federais sendo que o aluno pode cursar o ensino médio integrado (oferecido somente a quem já tenha concluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível médio, na mesma instituição de ensino, http://redefederal.mec.gov.br/instituicoes contando com matrícula única para cada aluno)2, concomitante (oferecido somente a quem já tenha concluído o ensino fundamental ou cursando o ensino médio, na qual a complementaridade entre a educação profissional técnica de nível médio e o ensino médio pressupõe a existência de matrículas distintas para cada curso, podendo ocorrer: a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as oportunidades educacionais disponíveis; b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as oportunidades educacionais disponíveis; ou c) em instituições de ensino distintas, mediante convênios de intercomplementaridade, visando o planejamento e o desenvolvimento de projetos pedagógicos unificados)3 ou subsequente ( oferecido somente a quem já tenha concluído o Ensino Médio)4. Além da expansão da rede federal, o governo federal implementou o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC e PRONATEC-EJA), com o objetivo de expandir, interiorizar e democratizar a educação profissional e tecnológica no país. Em relação à educação superior, também verificou-se a expansão da rede federal com a criação de novas Universidades e inauguração de novos Campi, tendo havido, inclusive, uma forte política de 2 Informações obtidas no site http://www.ifrr.edu.br/acessoainformacao/perguntas-frequentes. Acesso dia 15/10/2017. 3 Idem 4 Idem http://www.ifrr.edu.br/acessoainformacao/perguntas-frequentesinteriorização do ensino superior no Brasil. Assim como no caso do ensino profissionalizante, além da expansão de sua própria rede de ensino, o governo federal implementou o Programa Universidade Para Todos (PROUNI), com a finalidade de conceder bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação e sequenciais, em instituições de ensino superior privadas. Segundo o MEC (2017), o governo federal adotou, ainda, medidas – Bolsa Permanência, FIES e PNAES - para garantir a permanência dos estudantes no ensino superior. Ressalta-se que o orçamento federal destinado à educação superior aumentou de R$ 6,7 bilhões em 2003 para R$ 19,7 bilhões em 2010. No governo Lula o PROVÃO foi substituído pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), um processo de avaliação que “leva em consideração aspectos como ensino, pesquisa, extensão, responsabilidade social, gestão da instituição e corpo docente. O Sinaes reúne informações do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) e das avaliações institucionais e dos cursos” (BRASIL, MEC, 2017). Ressalta-se que há críticas em relação a esta substituição, tendo em vista a complexidade desse novo sistema de avaliação; segundo Durham na prática a avaliação continua sendo feita apenas através do ENAD, prova bastante semelhante ao antigo PROVÃO. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Buscamos mostrar para você a relação entre a relação entre a reforma – neoliberal - do Estado Brasileiro, dos anos 1990, com as políticas educacionais no Brasil. Perceba que durante os anos 1990 havia uma tendência para a redução da participação do Estado na economia e em setores, dentre eles a Educação (excluindo-se a educação fundamental), nos quais entende- se não ser obrigatória sua participação. Durante os governos Collor e FHC é notória a redução da participação direta do Estado na Educação, excetuando-se a preocupação em universalizar o ensino fundamental e reduzir o analfabetismo no Brasil. Durante o governo FHC o ensino técnico-profissionalizante e superior ficaram relegados a segundo plano, havendo um interesse explícito, que felizmente não chegou a se concretizar, de privatizar as Universidades Federais. É importante ressaltar que a maioria, senão todas, as políticas educacionais durante o governo FHC foram orientadas para a implementação da reforma do ensino, prevista na LDB 9394/96. Com os governos Lula e Dilma, momento em que o ensino fundamental já se encontrava praticamente universalizado, a preocupação maior voltou-se para o ensino técnico-profissionalizante e para o ensino superior. Naqueles anos houve não apenas expansão da rede federal de ensino – tanto técnico quanto superior – mas inclusive sua interiorização, medida de extrema importância sob o ponto de vista da inclusão social. No presente momento, sob o governo do Presidente Michel Temer, muitas políticas educacionais inclusivas adotadas no governo Lula e Dilma encontram-se ameaçadas, havendo, explicitamente, uma intenção de reduzir recursos para financiamento da educação tecnológica e superior e, inclusive, de privatizar as universidades federais. Ressalta- se, ainda, que encontra-se em curso a Reforma do ensino médio. 6. REFERÊNCIAS BRASIL/MEC. Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania: Marcos de Referência. Brasília. 1991. DURHAM, Eunice Ribeiro. A Política Educacional do Governo Fernando Henrique Cardoso: Uma visão comparada. Novos Estudos – CEBRAP. Nº 88. São Paulo. Dez.,2010. PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. A reforma, do Estado dos anos 90: Lógica e Mecanismos de Controle. Lua Nova. Nº 45. São Paulo. 1998. SAVIANI, Dermeval. Sistemas de ensino e planos de educação: O âmbito dos municípios. Educação e Sociedade, V.20, nº69, p.119-136.Campinas. Dez, 1999. YANAGUITA, Adriana Inácio e FILHO, Júlio de Mesquita. As políticas educacionais no Brasil nos anos 1990. XXV Simpósio Brasileiro e II Congresso Íbero-Americano de Política e Administração da Educação. Biblioteca Anpae – Série Cadernos. São Paulo, Nº11. 2011. 7. Sites Consultados http://portal.mec.gov.br http://www.ifrr.edu.br http://redefederal.mec.gov.br/instituicoes http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_a ction=&co_obra=18145 8. ATIVIDADES PROPOSTAS 1. Relacione as políticas educacionais dos anos 1990 com a Reforma do Estado que estava em curso, naquele período. 2. Faça uma comparação entre as políticas educacionais dos anos 1990 com aquelas implementadas a partir dos anos 2000. 3. Em que sentido podemos afirmar que, no campo da Educação, nos anos 2000 o Estado brasileiro mostrou-se mais interventor, comparativamente à sua atuação na educação, nos anos 1990? http://portal.mec.gov.br/ http://www.ifrr.edu.br/ http://redefederal.mec.gov.br/instituicoes