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UNIDADE III: RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO 3.1 Definição: [...] a relação jurídica de consumo, que poderá ser definida como aquela relação firmada entre consumidor e fornecedor, a qual possui como objeto a aquisição de um produto ou a contratação de um serviço. (Fabrício Bolzan) A incidências do CDC dá-se por meio da constatação da relação de consumo. 3.2 Elementos da relação jurídica de consumo Elemento subjetivo: sujeitos da relação de consumo (consumidor/fornecedor) Elemento objetivo: objeto da relação de consumo (produto/serviço) Elemento teleológico ou finalísitico: destinação final do produto/serviço 3.3 Os sujeitos da relação jurídica de consumo 3.3.1 Consumidor (Art. 2º CDC) Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. 3.3.1.1 O Código contém 4 (quatro) conceitos de consumidor: I) Consumidor padrão ou standard (art. 2.°, caput): “Consumidor é a pessoa física ou jurídica que adquire produto ou utiliza serviço como destinatário final"; II) Consumidor por Equiparação ou Bystander: Equiparam-se a consumidores, para efeitos dessa proteção legal: I) Art. 2°, parágrafo único CDC: Art. 2º, §único: Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. • Tutela coletiva de consumidor (Súmula 601 STJ); • Correlação com os arts. 81 a 83 CDC; • Atuação do Ministério Público, Defensoria Pública e Associações de Proteção do Consumidor (Brasilcon, IDEC, Proteste, Associação das donas de casa, etc); Ex: coletividade de pessoas exposta a um determinado medicamento nocivo para a saúde de todos (basta a mera exposição da coletividade ou a potencialidade de consumo de produto nocivo à saúde) II) Art. 17 CDC (vítimas do acidente de consumo); “Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.” • Acidente de consumo: situação na qual o produto/serviço gera danos ao consumidor ou a um terceiro alheio à relação jurídica de consumo; • Ex: Acidente avião TAM em SP; • Correlação com a figura do 3º ofendido na função social dos contratos (art. 421 CC/02); III) Art. 29 CDC: Aquele que estiver exposto às práticas comerciais e contratuais abusivas (publicidade, oferta, cláusulas gerais dos contratos, práticas comerciais abusivas) Art. 29: Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas. Ex: publicidade ilícita (isca publicitária); • Tutela coletiva de consumidor; 3.3.1.2 As correntes envolvendo a definição jurídica de consumidor (art. 2º CDC): I) Corrente Finalista ou Subjetiva: • Trabalha com o prisma da vulnerabilidade; • Se utiliza de critério fático-econômico; • Figura do destinatário-final; • É necessário não tirar proveito econômico; • São mais restritivos visando não banalizar o CDC; • Distinção se é para uso pessoal/familiar ou profissional; • Crítica: Interpretação do art.2º CDC faz com que quase nunca a pessoa jurídica ou o profissional seja consumidor, negando vigência ao artigo. II) Corrente Maximalista ou Objetiva: • Corrente ampliativa do conceito de consumidor; • Trabalha com conceito jurídico, de índole objetiva (ato de consumir); • Figura do destinatário fático; • Pouco importa se pessoa jurídica ou natural. • Não importa a destinação econômica dada ao produto/serviço; III) Corrente Finalista Mitigada (aprofundada, atenuada ou moderada): • Evolução da corrente finalista; • Posição adotada pelo STJ; • Pessoa Jurídica/Profissional podem ser considerados consumidores, desde que observados os seguintes critérios: a) análise do caso concreto; b) vulnerabilidade; c) produto/serviço adquirido fora de sua área de especialidade (não pode haver revenda/comercialização). 3.3.2 Fornecedor (Art. 3º CDC) Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. Definição: fornecedor é todo (PF ou PJ) aquele que insere produto ou presta serviço no mercado de consumo. Profissionalismo; Exercício de atividade econômica com habitualidade; Possibilidade de enquadramento das plataformas digitais (UBER, Airbnb, etc) como fornecedores, passiveis de responsabilização pelo CDC. Fornecedor equiparado (Leonardo Bessa/2007): intermediário na relação de consumo; 3.4 Objeto da relação de consumo: produtos e serviços 3.4.1 Produtos: Art. 3º, §1º: Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. A interpretação do dispositivo deve ser a mais ampla possível. Comércio eletrônico; Novo paradigma tecnológico e o mercado de consumo digital; Novos objetos da relação de consumo (bens digitais); 3.4.2 Serviços: Art. 3º, §2º: Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. Qualquer atividade fornecida no mercado de consumo; Exigência de prestação de serviços remunerados; A doutrina e o STJ já acolheram a tese de que tanto a remuneração direta como a indireta, caracterizam prestação de serviço no CDC; Ex.1: Sistema de milhagens ou de pontuação em companhias áreas (vantagens indiretas do fornecedor); Ex2: Estacionamento de supermercado gratuito; ADI n.2591-1/DF (ADI dos bancos); Súmula 297 STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras; Cuidado: Juiz não pode declarar de ofício a abusividade das cláusulas de contratos bancários. (Súmula 381 STJ). Exclusão de relações de caráter trabalhista; 3.5 Responsabilidade contratual e extracontratual no CDC: irrelevância Responsabilidade no CDC: Responsabilidade pelo fato e pelo vício; Teoria unitária da responsabilidade civil do fornecedor no CDC. (art.17 CDC) UNIDADE IV: PRINCÍPIOS DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 4.1 Princípio da Vulnerabilidade (art. 4º, I CDC): “A vulnerabilidade é uma característica, um estado do sujeito mais fraco, um sinal de necessidade de proteção.” (Claudia Lima Marques) Princípio básico do sistema consumerista que fundamenta a existência e aplicação do direito do consumidor; Reconhecimento da vulnerabilidade é decorrente de lei; Características: • Relacionada ao direito material; • Aferida em abstrato; • Posição de patente inferioridade do consumidor perante o fornecedor na relação de consumo; Distinção para a hipossuficiência • Impossibilidade (ou dificuldade) de produção de prova técnica de determinada situação fática durante a instrução processual; • Aferida em concreto; • Relacionada ao direito processual; • Relacionada ao aspecto técnico e não econômico; • Um dos requisitos de inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII CDC). Vulnerabilidade agravada (hipervulnerabilidade do consumidor): Situação de determinados grupos específicos da sociedade cuja fragilidade se apresenta em maior grau de relevância ou de forma agravada no mercado de consumo. (Fabrício Bolzan) • Idosos; • Crianças; • Analfabetos; • Deficientes; Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços; Espécies de vulnerabilidade • econômica; • técnica: ausência de conhecimentos técnicos sobre o produto/serviço; • fática: presençade oligopólios e monopólios; • informativa: déficit informacional entre as partes; • científica; • política; 4.2 Igualdade (substancial): concretizado pela inversão do ônus da prova (art.6, VIII CDC) e pelo princípio da interpretação mais favorável ao consumidor (art. 47 CDC); 4.3 Informação: disponibilização de toda e qualquer informação necessária e suficiente sobre o conteúdo contratual, e os produtos/serviços disponibilizados; 4.4 Transparência: Art. 4º caput: Trata-se da qualificação da informação fornecida; A informação deve ser correta, clara, precisa e ostensiva; 4.5 Confiança: Adimplemento das legítimas expectativas despertadas; 4.6 Boa-fé objetiva (art. 4º, III CDC): 4.7 Vedação a transferência do risco da atividade econômica ao consumidor: 4.8 Interpretação mais favorável ao consumidor (art. 47 CDC): Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor. 4.9 Equilíbrio nas prestações: Garantia de equivalência material das prestações na relação de consumo; 4.10 Harmonia nas Relações de consumo (4º, III CDC): visa a garantir a harmonia de interesses das partes nas relações de consumo, por meio da compatibilização da proteção ao consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico. 4.11 Reparação integral dos danos (art. 6º, VI CDC): reparar efetivamente o consumidor por todos os danos advindos da relação juridica de consumo, de forma mais ampla possível; 4.12 Princípio da intervenção estatal: intervenção estatal no mercado de consumo com a finalidade de garantir a proteção da parte mais vulnerável da relação de consumo;
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