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1 Manaus- AM 2020 FACULDADE ESTÁCIO DO AMAZONAS CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA EDRIELY MOREIRA E SOUZA SURDEZ 2 Manaus- AM 2020 APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA DE INGRESSAR O INDIVÍDUO COM IMPEDIMENTO AUDITIVO EM CONTEXTO SOCIAL SURDEZ Projeto de pesquisa exigido como parte do requisito Final para aprovação da disciplina de Prática em Educação do Curso de Pedagogia. 3 Manaus- AM 2020 SUMÁRIO Tema.................................................................................................. página 01 Resumo ............................................................................................. página 04 Título ................................................................................................. página 07 Problema ........................................................................................... página 07 Hipótese ............................................................................................ página 07 Objetivo Geral .................................................................................. página 07 Objetivo Específico ........................................................................... página 07 Justificativa ....................................................................................... página 08 Referencial Teórico ........................................................................... página 09 Teoria Sociointeracionista de Vygotsky ........................................... página 17 Pensamento e Linguagem.................................. ................................ página 22 Vygotsky e a Surdez...........................................................................páagina 24 Deficiente auditivo, surdo ou surdo-mudo?....................................... página 27 Como introduzir a aprendizagem do indivíduo com necessidade auditiva no contexto social. ............................................................................................... página 29 A importância das escolas para surdos no brasil, no contexto histórico do país na educação dos surdos. .................................................................................... página 29 Dificuldades que as pessoas auditivas encontram na sociedade ........ página 31 Metodologia ......................................................................................... página 35 Recursos ............................................................................................... página 37 Cronograma .......................................................................................... página 39 Referencias..............................................................................................página 46 4 Manaus- AM 2020 RESUMO A história revela que durante muito tempo as pessoas com deficiência conviveram com a discriminação e a segregação social, sendo privadas de seus direitos. Contudo, gradativamente emergiu uma nova concepção que ainda é recente em nosso país: a educação inclusiva. Esta parte do princípio de que todos são diferentes e esse processo começa com a capacidade de entender e reconhecer o outro. É na diferença que o cenário se configura em um ambiente rico e diverso. Nessa perspectiva, todos tem direito a educação. E, isso vai além de uma inclusão escolar, propagando-se também para a vida social. Sendo assim, adotamos o seguinte conceito no que diz respeito à educação inclusiva que é entendida como um: [...] paradigma educacional fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis, e que avança em relação à ideia de equidade formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e fora da escola (BRASIL, 2008, p. 5). A educação como direito de todos, foi assegurada a partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e, posteriormente, reafirmada na Conferência Mundial de “Educação para Todos” em 1990 e na Declaração de Salamanca em 1994, sendo a educação inclusiva fortemente presente nas políticas do nosso país. No entanto, atuar em consonância com tal proposta exige uma ressignificação da escola e reestruturação de todos os seus aspectos. De forma específica, abordaremos a inclusão da criança surda, visto que o sujeito com surdez tem direito ao pleno desenvolvimento de suas capacidades linguísticas, emocionais e sociais, algo que é fundamental para o seu desenvolvimento enquanto pessoa. Mas, seus estímulos se dão de forma diferente, sendo a Língua Brasileira de Sinais (Libras) um importante agente nesse processo. O interesse pelo tema surgiu a partir da minha experiência enquanto tia de uma criança surda. Pois, vivenciar seu processo de escolarização, assim como a metodologia adotada por uma opção familiar, desencadeou uma gama de inquietações que resultou no presente estudo. Partindo dessas premissas, a tônica deste trabalho está voltada para as condições em receber o educando com surdez, contemplando as indagações: Essas crianças serão de fato 9 incluídas no grupo? Os professores estão preparados para recebê-las e suas particularidades? Existem 5 Manaus- AM 2020 estratégias para viabilizar esse processo? Quais? E como são organizados no cotidiano escolar? Desta forma, temos como objetivo analisar a legislação e políticas de inclusão, pedagogias e outros aspectos que circulam nas escolas, de modo a colocar em questão as particularidades desses sujeitos (surdos) e se elas vêm sendo respeitadas. Também, será exposto como os professores dessas crianças realizam suas atividades e desempenham suas funções com crianças ouvintes – sempre fazendo um contraponto com a possibilidade de haver uma criança surda em cada sala de aula. O tema é justificado pela percepção de falta metodologia e preparo para a recepção de eventuais alunos surdos em algum contexto da escola. Além disso, já que se pesquisa bastante sobre a língua e o surdo em alguns contextos bilíngues, é interessante analisar como professores eventualmente agiriam com a presença de surdos em sua sala de aula; naturalmente, como a inclusão é ainda o método pedagógico imposto na maioria das escolas, diante do material ofertado pela escola, como os professores poderiam atuar sem prejuízo ao aluno surdo? Apesar da profissão do Tradutor e Intérprete de Libras já ter sido recentemente reconhecida sob o nº 261425, na CBO (Classificação Brasileira das Ocupações) e legalizada através da Lei 12.319, de 2010, no ensino infantil esse serviço é pouco utilizado, já que a criança surda ainda não possui nível linguístico para acompanhar o processo de tradução/interpretação. Como a língua em questão, a Libras, também é uma língua relativamente nova, reconhecida e 161 regulamentada pela Lei 10.436/2002 e decreto 5.626/2005, respectivamente, há desconhecimento por parte das escolas de como lidar com uma criança surda recém-chegada em sala de aula. Portanto, a realidade de crianças surdas ainda é seguir o cronograma montado para crianças ouvintes, na sala em que é incluído. Pude perceber isso ao estagiar em uma turma de crianças ouvintes de cinco anos, observando a metodologia utilizada pelas professoras e o material didático das crianças. A partir dessa observação e do material coletado, pensou-se em como tais atividades poderiam ser adaptadas ou recriadas para crianças surdas, ainda em aquisição de sua primeira língua, Libras e segunda língua, o Português escrito. Para análise dos dados, utiliza-se os pressupostos metodológicos da abordagem sócio-histórica, que permite enfrentar questões metodológicas com enfoque na constituição dos sujeitose de sua subjetividade. A pesquisa é uma atividade social, onde 6 Manaus- AM 2020 há a possibilidade de entender como a linguagem e o discurso constitui o sujeito e constituem as relações, sua historicidade e singularidade. Molon (2008) disserta: Partindo desse pressuposto, concebo a pesquisa como uma atividade humana mediada socialmente, ou seja, como uma prática social, política, ética e estética que visa à criação de um novo conhecimento, produzido e apropriado com inventividade e rigor científico, que implica necessariamente a transformação de algo, quer seja nos sujeitos envolvidos direta e indiretamente, quer seja nos objetos de estudo pesquisados. (MOLON, 2008, p. 57). Buscando métodos de se analisar o ser humano como unidade biológica e social, atuante no processo histórico, mediados pela cultura, também se utiliza nessa pesquisa na área de multimodalidade e multiletramentos (ALMEIDA, 2006, 2008; HEBERLE, 2010; MEURER, 2007, por exemplo) que tem demonstrado a importância de se considerar, além da linguagem verbal, também os recursos imagéticos no contexto do aprendizado. Nesse âmbito, fatores como economia, sociedade e cultura precisam ser analisados no desenvolvimento da escrita e da leitura. São múltiplas questões no letramento, onde estas práticas assumem maior relevância quando crianças com necessidades diferentes da hegemonia estão em classe. 7 Manaus- AM 2020 Título: Aprendizagem Significativa de ingressar o indivíduo com impedimento auditivo em um contexto social. Problema: Como desenvolver aprendizagem nas Línguas de Sinais na alfabetização. Hipótese: A partir de 4 anos de idade, as crianças já apresentam condições de produzir configurações com as mãos, dependendo da situação de cada escola, o seu papel fundamental é ter um intérprete de Libras. Configurações de mãos e crianças surdas. OBJETIVOS Geral: Apresentar a introdução do aprendizado no ensino educacional e interação social da comunidade surda brasileira no ambiente escolar, mostrando métodos que facilitam a interação e compreensão do educando no ambiente de ensino e apresentando formas que facilitam a alfabetização do aluno. Especifico: O objetivo específico da educação especial para o surdo, segundo Van Uden, é desenvolver sua linguagem funcional, ou seja, é fazê-lo utilizar o instrumento que o torne capaz de conversar, favorecendo a formação de sua identidade precisa e o contato com outra pessoa. Informar os princípios que levaram a formação da Língua Brasileira de Sinais e suas introduções nas escolas. Analisar a importância que a família tem no processo de aprendizado do educando surdo em relação a interação social. Conceituar a importância da configuração das mãos no processo de educação da criança surda no ambiente socio educativo. O professor deverá ser capaz de entender os problemas relativos à aquisição da leitura e da escrita por alunos surdos 8 Manaus- AM 2020 Viabilizar o processo de letramento (alfabetização) por meio de metodologia contextualizada à realidade dos alunos surdos Estabelecer, com os alunos, estudos comparativos entre a estruturada língua portuguesa e a da língua brasileira de sinais para viabilizar a melhoria e a estruturação frasal dos educandos. Justificativa: O presente trabalho aborda os métodos que contribuem para a formação do aluno com dificuldade para a formação do aluno com dificuldades na aprendizagem através da aplicação de sinais que julgam ser a forma mais eficaz para a s pessoas surdas em sua convivência social, apresentando por sua vez a importância da interação familiar no ambiente escolar para melhor formação do surdo. 9 Manaus- AM 2020 REFERÊNCIAL TEÓRICO. Em 1857, a história da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) foi introduzida no Brasil, quando Dom Pedro II convidou o francês Edward Huet, um surdo cujo objetivo era implantar a primeira escola direcionada para a sociedade surdo no Brasil. Pois a educação dos surdos era um assunto conturbado desde o início do Império. A identidade, cultura e a língua natural dos surdos foram rejeitadas durante muito tempo pela sociedade ouvinte. Contudo, foram abrindo discussões acerca da educação dos Surdos e mudando as concepções existentes sobre os mesmos, que com o passar dos anos foram ganhando espaço e ganhando uma visão de cidadãos com direito e deveres iguais perante a sociedade. Mas este assunto ainda possui uma visão de exclusão. A sociedade que faz parte desse ambiente, tem a plena certeza que não é fácil conviver com a exclusão total, porém, com discussões a nível nacional e internacional, o cenário foi mudado e oportunidades acerca do processo educacional dos Surdos foram surgindo. Todavia, podemos compreender que as primeiras impressões de relações interpessoais do indivíduo com necessidade especial ocorrem no seio familiar, ou seja, durante os primeiros anos de vida da criança, as mudanças no seu desenvolvimento motor, cognitivo, emocional e social podem ter um impacto especial sobre as interações familiares que por sua vez, acabam exigindo adaptações constantes por partes dos genitores. A família é o núcleo básico; das relações que a ela são estabelecidas, contribui para a formação e compreensão do indivíduo. Deste modo, a família também possui um papel importante como sendo a primeira a constituir o mais fundante e importante grupo social de toda pessoa, principalmente para o indivíduo com necessidade especial. Contudo, no cenário brasileiro, é notória a amplitude que os discursos e debates acerca da educação de Surdos vêm acontecendo. Cada dia se fala mais sobre a educação inclusiva dos alunos com necessidades educacionais especiais no ensino regular. No entanto, a Língua Brasileira de Sinais só foi reconhecida no Brasil como uma língua oficial em 2002. A importância de ressaltar que o aluno aprende quando consegue captar o brilho no olho do mestre, desperta o desejante desejo de aprender. O entusiasmo do aluno, será o resultante dos 10 Manaus- AM 2020 “aspectos subjetivos do ensinante, ou seja, assim como o aluno aprende, o sujeito que disponibiliza o conhecimento também aprende, lida como saber e o conhecer. CONFIGURAÇÕES DE MÃOS E CRIANÇAS SURDAS. Na pré-história, o homem utilizava as mãos para sua comunicação. Com o decorrer do tempo, o uso dos sinais foi substituído pela comunicação oral. A respeito disso, Vygotsky (1987/1934) apud Reily (2004, p. 113) relata que “Os homens pré-históricos trocaram a comunicação gestual pela comunicação oral, pela palavra, quando começaram a utilizar ferramentas; trabalhando com as mãos ocupadas, precisaram inventar uma alternativa para dialogar.” Após a descoberta de um novo meio de comunicação, a comunicação por sinais restringiu-se aos surdos e a oralidade se tornou predominante na comunicação. Conforme a oralização, esta forma de expressão pertencente aos ouvintes, predominou por muito tempo ganhando força na comunicação, e se sobre pondo a comunicação por sinais que durante anos ocorreu de maneira informal, muitas vezes até mesmo secreta ou negada aos surdos, pois os mesmos eram tratados como pessoas excluídas e sem direitos. Tais concepções levaram um longo tempo para serem desmistificadas. Somente a partir de 1760, que a educação para os surdos ganhou um espaço na sociedade, através do professor Alemão Samuel Heinicke, o qual criou uma máquina para ensinar os surdos a “falar”. De acordo com Reily (2004, p.115): “Em vez de aproveitar a visão como sentido principal, ele propôs o paladar, associando sons vocálicos a sabores (A com água; E extrato de losna; I com vinagre; O com água com açúcar; U com azeite; paraos sons híbridos, fazia misturas dos sabores)”. Assim, os surdos seriam capazes de falar, não necessitando mais da visão nem dos sinais para comunicar-se. Por volta dos quatro anos de idade, as crianças já apresentam condições de produzir configurações de mãos bem mais complexas, bem como o uso do espaço para expressar relações entre os argumentos, ou seja, as crianças exploram os movimentos incorporados aos sinais de forma estruturada. É a partir desse período que as crianças começam a fornecer combinações de unidades significativas 11 Manaus- AM 2020 A História de libras no mundo e sua origem A história de surdos não nos proporciona apenas a ocasião para adquirimos conhecimentos, mas também para refletirmos e questionarmos diversos acontecimentos relacionados com a educação em várias épocas. Por exemplo, por que atualmente, apesar de se ter uma política de inclusão, o sujeito surdo continua excluído? Você já parou para pensar e/ou pesquisou algo sobre o povo surdo e as suas comunidades? Não? Nesta disciplina você irá refletir sobre algumas apreciações referentes nas unidades que são de significativa importância não só para a compreensão do conhecimento histórico, mas também para percorrermos com diferentes “olhares acerca da história de povos surdos O alvo principal que norteia as discussões no transcurso das unidades é o povo surdo” Nele você perceberá que existem diferentes identidades surdas” movimentos surdos, comunidades surdas, fontes históricas, pedagogia surda, memórias surdas e outros artefatos culturais. O que quer dizer isto? Quer dizer que, dependendo dos contextos da história em que os povos surdos estão inseridos, existem diferentes “olhares de como se interpreta uma históri”. A forma parcial dos registros dos vários pesquisadores mostranos sua preocupação em nos apresentar a história de surdos numa visão limitada que focalizam, na maior parte, os esforços de tornar os sujeitos surdos de acordo com os modelos ouvintes oferecendo "curas" para as suas "audições" danificadas. O povo surdo já existia, voltando muito mais no tempo, centenas de gerações antes de vocês desenvolveram conhecimentos e realizarem transformações que produziram a comunidade surda. No entanto, tem muito mais que ainda precisa ser aprimorado e criado, e para essa tarefa é de importância fundamental o conhecimento do passado, o saber histórico. Esta conquista, a memória viva que define o nosso presente, fornecerá artefatos culturais que permitirão alterar para melhor o mundo do povo surdo. A história da educação de surdos não é uma história difícil de ser analisada e compreendida, ela evolui continuamente apesar de vários impactos marcantes, no entanto, vivemos momentos históricos caracterizados por mudanças, turbulências e crises, mas também de surgimento de oportunidades Primeiro caso: São documentos, vestígios, indícios que foram acumulando-se ou foram sendo guardados, aos quais recorremos quando buscamos compreender determinado fenômeno. (2004, p.6) 12 Manaus- AM 2020 Segundo caso: “(...) situa-se o nosso empenho em preservar os materiais de que nos servimos, seja como educadores, seja como pesquisadores, tendo em vista sua possível importância para estudos futuros quando esses materiais serão, eventualmente, tomados como preciosas fontes pelos historiadores em sua busca de compreender o seu passado que é o nosso presente.” (2004, p.7) Terceiro caso: “(...) estão os registros que efetuamos quando recorremos, por exemplo, a testemunhos orais, cujo registro efetuamos para neles nos apoiarmos em nossa investigação.” (2004, p7) Na história, as fontes históricas podem ser: Fontes mudas: podem ser: esqueletos, utensílios, armas, pinturas, túmulos, restos de habitações, monumentos, templos, palácios, estátuas, esculturas, cerâmicas e outros. Fontes escritas: podem ser: inscrições em pedras, em moedas, em metais e textos de papiro, pergaminho, barro, arquivos, diários, livros, documentos, jornais, revistas e panfletos. Fontes narradas: são as lendas, as línguas, as tradições e culturas das comunidades que são passadas de geração a geração através de narrativas. A língua de sinais no mundo Não são apenas um conjunto de gestos que explicam as línguas orais, são complexas e expressivas, permitindo aos seus usuários discutir sobre qualquer assunto, desde filosofia e política, até moda, poesia e teatro. Não existem relatos específicos sobre a origem da Língua de Sinais, porém destaca-se o início de seu uso no ano de 1760 na cidade de Paris na França, onde o abade L’Epée de aproximadamente sessenta anos fundou a primeira escola pública para surdos. Perlin (2002) destaca que a partir da fundação desta escola iniciou-se a multiplicação de profissionais surdos e ouvintes que se espalharam pelo mundo disseminando o uso da Língua de Sinais, foram criadas várias outras escolas, onde além do uso das Línguas de Sinais nacionais, exploravam-se novos recursos na educação dos surdos. No Brasil a Língua de Sinais ganhou espaço a partir de 1857 quando Eduard Huet, um francês que ficou surdo aos doze anos veio ao país a convite de D. Pedro II para fundar a primeira escola para meninos surdos primeiramente chamada Imperial Instituto de Surdos Mudos, atual INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos). 13 Manaus- AM 2020 A partir da fundação da escola, os surdos brasileiros puderam então criar a Língua Brasileira de Sinais, que se originou da Língua de Sinais Francesa e das formas de comunicação já utilizadas pelos surdos de vários locais do país. É importante ressaltar que nem sempre houve a aceitação pelo uso da Língua de Sinais, que muitas foram às tentativas em torno da discussão sobre como educar os surdos, pois alguns se mostravam favoráveis ao método oralista (Uso da fala). No ano de 1880 em um Congresso Mundial de Professores Surdos ocorrido em Milão na Itália decidiu-se que todos os surdos deveriam ser educados pelo método oral puro, ou seja, sem o uso de qualquer sinal. Somente no ano de 1896 a pedido do Governo brasileiro, A.J. de Moura e Silva, que atuava como professor de surdos no INES foi ao Instituto Francês de Surdos com a missão de avaliar esta decisão e chegou à conclusão de que o método oralista não era eficiente para todos os surdos. Se fôssemos nos aprofundar no estudo da história da Língua de Sinais teríamos que citar vários outros nomes importantes no processo de implantação e reconhecimento da mesma e detalhar acontecimentos, datas e discussões em torno da polêmica da Educação dos surdos. Portanto quero que você saiba que assim como o povo ouvinte tem suas lutas e glórias em busca de liberdade, de uma sociedade democrática onde se possa viver bem e fazer uso de seus direitos, o povo surdo, que sempre esteve presente nesta mesma trajetória histórica também, pois é parte da sociedade e, além disso, ainda teve que lutar uma luta desleal e quase solitária. Sob o domínio de uma cultura da maioria (cultura ouvinte) que sempre tomou as decisões e dificilmente se colocou na posição do surdo para saber o que de fato era melhor para ele, o sujeito surdo conviveu com o preconceito, o isolamento social e a falta de oportunidades por não poder expressar de fato sua opinião. Atualmente, muitos são os estudos sobre a cultura surda e a evolução desse povo guerreiro que luta por igualdade de condições e o que fica claro é que a sociedade começa a despertar para o respeito à diferença cultural do surdo e desmistificar um pouco a surdez vista como deficiência desde a antiguidade. Portanto, a história das Línguas de Sinais ainda tem muitos capítulos a serem escritos. Seja pelos Surdos, atualmente mais confiantes ou mesmo com a colaboração de ouvintes engajados na causa surda. 14 Manaus- AM 2020 O primeiroe grande mito que é necessário desfazer é o fato de muitos acreditarem que a língua de sinais é universal, ou seja, igual no mundo inteiro. Ela não é e se diferencia em cada país. Exemplos: • Língua de Sinais Brasileira (Libras) • Língua de Sinais Portuguesa (LGP - Língua Gestual Portuguesa) • Língua de Sinais Holandesa (SLN – Sign Languege of Netherlands) • Língua de Sinais Americana (ASL – American Sign Language) • Língua de Sinais Argentina (LSA - Lengua de Senas Argentina) • Língua de Sinais Britânica (BSL - British Sign Language) • Língua de Sinais Chilena (JSL Lengua de Senas Chilena) • Língua Francesa de Sinais (LSF Langue des Signes Française) etc. Criação da Língua de Sinais Antes de 1750, os surdos eram marginalizados, pois eram mal compreendidos, ficavam revoltados e frustrados. Por vezes eram tidos como loucos e afastados do convívio social. Quando adultos, eram forçados a fazer trabalhos desprezíveis, viviam isolados e eram considerados ineducáveis. Muitos surdos de famílias nobres eram forçados a ler e a falar para receber reconhecimento como pessoas da lei, conseguir títulos e herança e até então não havia escolas especializadas para surdos. Em 1755, na França, o abade Charles Michel de I’Épée inicia um método de aprendizagem para surdos começando a associar palavras a figuras e ensinando surdos a ler, e assim levando acesso à cultura do mundo e para o mundo. Charles Michel Fundou a primeira escola para surdos que teve auxílio público e treinou diversos professores na França e Europa. Durante esse período houve uma divergência quanto ao método mais indicado para ser adotado no ensino dos surdos, o Método Oral Puro contra o Método Combinado (língua de sinais para o ensino da fala). Em 1864, é fundada a primeira instituição superior para surdos, a Gallaudet University em Washington D.C. nos Estados Unidos. Utilizavam o Método Combinado com uso da língua se sinais justificado para o ensino do surdo a escrever e a falar, o que não atende aos objetivos, pois os surdos não têm vontade de falar. Em 1880, ocorre o Congresso Mundial de Professores de Surdos em Milão, Itália. 15 Manaus- AM 2020 Nesse Congresso é decidido que todos os surdos deveriam ser ensinados pelo Método Oral Puro e que seria proibido a língua de sinais. A partir de então, os professores e fonoaudiólogos deveriam utilizar o Oralismo. Calcula-se que levava em média 10 anos para se oralizar um surdo. Somente em 1960 em que estudiosos, psicólogos e historiadores despertaram para o fracasso do oralismo, e logo foi criado a metodologia da comunicação total (sinais, leitura labial e fala). Atualmente é adotado o bilinguismo, a língua de sinais como primeira língua e língua da comunidade local como segunda língua. A língua de sinais no Brasil Em uma viagem à França, Dom Pedro II conheceu o trabalho realizado por L’Épée no Instituto de Surdos de Paris e percebendo que no Brasil ainda não havia metodologias voltadas para a educação dos surdos. Com isso, convidou o professor francês Hernest Huet para realizar a educação dos mesmos, o qual teve um papel fundamental no surgimento da comunicação e educação dos surdos no Brasil. Hernest Huet fundamentou seus métodos educacionais na leitura labial, articulação da fala e auxilio da datilologia, tornando a língua de sinais francesa à base da Língua Brasileira de Sinais (REILY, 2004). Em 1857, Hernest Huet conseguiu o apoio de Dom Pedro II para fundar o Instituto Imperial dos Surdos-Mudos, hoje atualmente chamado de Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES). Porém, somente a partir de 1960, com o aumento dos diagnósticos de surdez, que houve o maior número de pessoas interessadas em aprender LIBRAS. Com o surgimento da LIBRAS, o bilinguismo passou a ser um dos meios mais utilizados no processo de ensino-aprendizagem, pois possibilitava aos surdos aprenderem a Língua Portuguesa e a Língua Brasileira de Sinais. A Filosofia Bilíngue diz, de acordo com Goldfeld (1997 apud JESUS; NERES 2015, p.5) “que o surdo deve adquirir a língua de sinais como língua materna e a de seu país como segunda língua.” Embora haja outras opiniões de que a língua do país deve ser a primeira a ser adquirida e de maneira escrita e oral, tais opiniões desrespeitam o direito dos surdos de ter a língua de sinais como sua língua materna. Após a fundação do Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES), pesquisas passaram a ser realizadas no Instituto de Psicologia da USP, para a criação do primeiro dicionário de LIBRAS, o qual veio a ser editado em 2001, passando a ser um instrumento fundamental na educação dos surdos. 16 Manaus- AM 2020 Pouco tempo depois, foi promulgada a Lei n. 10.436 no dia 24 de abril de 2002. (LIMA 2006). Esta lei reconheceu legalmente a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como uma forma de expressão e comunicação dos surdos, garantindo através da mesma que a língua Brasileira de Sinais seja incluída pelos sistemas educacionais nos cursos de magistério do ensino de LIBRAS, enfatizando, porém, que a mesma não poderá substituir a escrita da língua portuguesa. De acordo com Lima (2006, p.68): A língua de sinais é uma linguagem viso-espacial, na qual os gestos são traçados no espaço para serem vistos. Ela tem parâmetros próprios. Assim, algumas características da linguagem oral-como uma data entonação ou um questionamento- não são compreensíveis para a pessoa surda. Sem a utilização de uma gramática, apenas com sinais criados aleatoriamente para se comunicarem, fez-se necessário a criação de conceitos para dar sentido aos sinais, passando assim não somente a serem utilizados na comunicação, mas principalmente na educação dos surdos. De acordo com Quadros et. al. (2009, p.15): Os gestos são visuais e representam a ação dos atores que participam da interação por meio da imitação do ato simbolizando as relações com as coisas. As línguas de sinais aproveitam esse potencial dos gestos trazendo-o para dentro da língua, fazendo com que sinais visuais representem palavras envolvendo a organização da língua. Os sinais criados pelos próprios surdos de acordo com os seus conhecimentos, foram sendo vinculados a conceitos que facilitaram a construção gramatical dos sinais, reconhecida hoje no Brasil como Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Diante do reconhecimento da LIBRAS legalmente, assim como toda língua, a mesma possuí uma gramática especifica e regras para que seja executada de maneira correta, como a utilização gestual das mãos. Comunidade e Cultura Surda do Brasil As comunidades surdas estão espalhadas pelo país, e como o Brasil é muito grande e diversificado, estas comunidades possuem diferenças regionais em relação a hábitos alimentares, vestuários e situação socioeconômica, entre outras. Estes fatores geraram 17 Manaus- AM 2020 também algumas variações linguísticas regionais. As escolas são fatores de integração ou desintegração das comunidades surdas, e dependendo da proposta adotada, se uma escola rejeita a LIBRAS e quer transformar a criança surda em ouvinte deficiente, esta criança não vai conhecer sua comunidade e não aprenderá a língua de sinais. As escolas de surdos, mesmo ainda sem uma proposta bilíngue, propiciam o encontro do surdo com outro surdo, favorecendo que as crianças, adolescentes e jovens possam adquirir e usar a LIBRAS. Em muitas escolas de surdos há vários professores que já sabem ou estão aprendendo com “professores surdos” a língua de sinais, além de oferecer cursos também para os pais destas crianças. Por outro lado, algumas escolas trabalham ainda somente com uma metodologia oralista, e as crianças surdas não tem contato com outros surdos ou desenvolvem um dialeto local em sinais, conhecido também como sinais caseiros. Assim que encontram um outro surdo ou um grupode pessoas surdas, começam a ter acesso a uma língua de sinais. Devido à tradição oralista, há surdos que só querem falar, usando sempre o português, como também, muitos surdos que usam um bimodalíssimo, ou seja, falam português enquanto sinalizam, como os ouvintes quando começam a aprender alguma língua de sinais. A população surda global está estimada em torno de quinze milhões de pessoas (Wrigley, 1996, p. 13), que compartilham o fato de serem linguística e culturalmente diferentes em diversas partes do mundo. No Brasil, estima-se que, em relação à surdez, haja um total aproximado de mais de cinco milhões, setecentos e cinqüenta mil casos (conforme Censo Demográfico de 2000), sendo que a maioria das pessoas surdas utiliza a língua brasileira de sinais (LIBRAS). TEORIA SOCIOINTERACIONISTA DE VYGOTSKY Linguagem, aprendizagem e desenvolvimento na teoria sócio- históricacultural de Vygotsky O desenvolvimento humano é entendido de maneiras diversas por várias perspectivas de estudo. Para abordar linguagem, aprendizagem e desenvolvimento na teoria sóciohistórica-cultural de Vygotsky, é preciso conhecer as outras visões desse estudo. A perspectiva ambientalista concebe que as crianças nascem como tábulas rasas, e a aprendizagem se dá no ambiente através de processos de imitação ou reforço. Na perspectiva inatista, a criança já nasce pronta para o desenvolvimento, pois tudo se encontra presente em sua estrutura biológica. Não se aprende nada no ambiente, este 18 Manaus- AM 2020 apenas propicia um conhecimento já existente. A visão de desenvolvimento humano contracionista, que tem como principal teórico Piaget (CARRARA, 2000), caracteriza-se por perceber que o desenvolvimento é construído a partir de uma interação entre o desenvolvimento biológico e as aquisições da criança com o meio. A partir da visão de desenvolvimento evolucionista, compreende-se que o mesmo ocorre no desenvolvimento das características humanas e variações individuais como produto de uma interação de mecanismos genéticos e ecológicos, envolvendo experiências únicas de cada indivíduo desde antes do nascimento. Por fim, na perspectiva psicanalítica, o desenvolvimento humano é entendido a partir de motivações conscientes e inconscientes da criança, focando seus conflitos internos durante a infância e por todo o ciclo vital. Vygotsky trouxe uma nova perspectiva de olhar as crianças, alguns conceitos já abordados por Jean Piaget (CUNHA, 2004 e DAVIS, OLIVEIRA, 2010), um dos primeiros a considerar a criança como ela própria com seus processos e não um adulto em miniatura. A característica mais marcante do trabalho de Vygotsky é de que ele é um psicólogo experimental. Todas as suas construções teóricas têm os experimentos como seu ponto de partida. O autor buscou uma abordagem que mostrasse o homem como ser biológico, histórico e social. Para ele o homem está inserido na sociedade, sendo assim, sua abordagem sempre foi orientada para os processos de desenvolvimento do ser humano com ênfase na dimensão sócio-histórica. Vygotsky (REGO, 1996) acreditava que as características e atitudes individuais estão ligadas as trocas com o coletivo, suas maiores contribuições estão nas reflexões sobre o desenvolvimento infantil e sua relação com a aprendizagem em meio social, e também o desenvolvimento do pensamento e da linguagem. Para Vygotsky esse desenvolvimento humano dado em relação nas trocas entre parceiros sociais, através de processos de interação e mediação ficou conhecido como sociointeracionismo. A perspectiva de Vygotsky é sociointeracionista (REGO, 1996 e KOHL, 2008) ou seja, o desenvolvimento humano dá-se em relação nas trocas entre parceiros sociais, através de processos de interação e mediação. Nessa abordagem o homem é visto como alguém que transforma e é transformado nas relações que acontecem em uma determinada cultura. Para ele o que ocorre não é uma somatória entre fatores inatos e adquiridos e sim uma interação dialética que se dá, desde o nascimento, entre o ser humano e o meio social e cultural em que se insere. Do ponto de vista de Vygotsky, o desenvolvimento humano é compreendido não como a decorrência de fatores isolados que amadurecem, nem tampouco de fatores ambientais que agem sobre o organismo controlando seu comportamento, mas sim como produto de trocas recíprocas, que se 19 Manaus- AM 2020 estabelecem durante toda a vida, entre indivíduo e meio, cada aspecto influindo sobre o outro. A questão central desta teoria é a aquisição de conhecimentos que acontece pela interação do sujeito com o meio. Segundo o autor, o sujeito é interativo, pois adquire conhecimentos a partir de relações intra e interpessoais e de troca com o meio, a partir de um processo denominado mediação. Buscava, então, uma abordagem que agregasse a síntese do homem como ser biológico, histórico e social. Vygotsky sempre considerou o homem inserido na sociedade e, sendo assim, sua abordagem sempre foi orientada para os processos de desenvolvimento do ser humano com ênfase da dimensão sócio-histórica e na interação do homem com o outro no espaço social. Sua abordagem sociointeracionista buscava, então, caracterizar os aspectos tipicamente humanos do comportamento e elaborar hipóteses de como as características humanas se formam ao longo da história do indivíduo. Vygotsky (REGO, 1996 e KHOL, 2008) acredita que não só as características individuais, mas até mesmo suas atitudes individuais estão completamente repletas de trocas com o coletivo, ou seja, mesmo o que tomamos por mais individual de um ser humano foi construído a partir de sua relação com o outro. Sendo assim, não é suficiente ter todo o aparato biológico da espécie para realizar uma tarefa se o indivíduo não participa de ambientes e práticas específicas que propiciem esta aprendizagem, pois é a partir da interação com outros indivíduos que se promove o desenvolvimento das estruturas mentais. Os conceitos sociointeracionistas fazem-se sempre presentes para lidar com o desenvolvimento das crianças utilizando, durante todo o processo de ensino- aprendizagem, a interação de um mediador, ou seja, a capacidade de solucionar questões com a ajuda de um parceiro mais experiente, sendo importante a ideia de que existirá uma troca entre o desenvolvimento da criança com o mediador, levando em consideração os conhecimentos que a criança já traz, interagindo diretamente com os conhecimentos trazidos pelo mediador. E assim também com quem está mediando, somando seus conhecimentos com o conhecimento do próximo e com o espaço social em que está inserido. Para Vygotsky, o processo de aprendizagem não deve se focalizar no que a criança aprendeu, mas sim no que ela está aprendendo. Nas práticas pedagógicas sempre procuramos prever no que aquele aprendizado poderá ser útil àquela criança, não somente no momento em que é ensinado, mas para o futuro. É um processo de transformação 20 Manaus- AM 2020 constante na trajetória das crianças. A aprendizagem é, portanto, um processo social que se realiza por meio das possibilidades criadas pelas mediações do sujeito e dado contexto sócio-histórico que o rodeia, pois, todo indivíduo é membro de uma comunidade social e depende de interrelações para moldar-se comportamental, psicológica e materialmente perante a sociedade. O aprendizado só ocorre verdadeiramente quando o conteúdo tem significado. No caso dos surdos, as palavras orais não compreendem significado algum, pois elas não estão inseridas em seu mundo, em seu cotidiano. Já no caso do conteúdo gestual, que é rico em significado para os surdos, faz do processo de aprendizagem continuo e dinâmico. Sendo assim, os significados e sentidos construídos são resultados de interações diversas entre quem aprende, quem ensina e o conteúdo. O aluno é personagem principal deste processo, sendoativo na construção de seu conhecimento, por meio do contato com o grupo e com o conteúdo. Quem ensina é responsável por dar direção e sentido, orientando a construção desses significados. E o conteúdo favorece a reflexão do aprendiz. A partir dessa perspectiva da construção do significado, Vygotsky (1998) define esse desenvolvimento em dois pontos, desenvolvimento real e potencial. O desenvolvimento real é quando o indivíduo soluciona os problemas sozinho, quando as funções já amadureceram, e o ciclo está completo. Quanto ao desenvolvimento potencial, refere-se ao problema que ainda não pode ser resolvido sem supervisão, colaboração e orientação de outros indivíduos. Esse processo de desenvolvimento é chamado por Vygotsky de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) que consiste, segundo o autor, em: A distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. (1998, p. 112) A ZDP É um processo dinâmico e social, ocorrendo durante diversos momentos da vida, alimentando novos desenvolvimentos potenciais e reais, permitindo novos avanços do indivíduo em níveis superiores do desenvolvimento. Aprendizagem e desenvolvimento são dois processos que interagem. A aprendizagem acontece no intervalo entre o conhecimento real e o conhecimento potencial. Ou seja, na ZDP. Seria neste campo que a educação atuaria, estimulando a aquisição do potencial, partindo do conhecimento da ZDP 21 Manaus- AM 2020 do aprendiz, para assim intervir. O conhecimento potencial, ao ser alcançado, passa a ser o conhecimento real e a ZDP redefinida a partir do que seria o novo potencial. A capacidade de realizar determinada tarefa com a ajuda de outros ocorrerá dentro de certo nível de desenvolvimento, não antes. Por exemplo, uma criança de cinco anos pode ser capaz de construir uma torre de cubos sozinha; uma de três anos não consegue construí- la sozinha, mas pode conseguir com a assistência de alguém; uma criança de um ano não conseguiria realizar essa tarefa, nem mesmo com ajuda. Uma criança que ainda não sabe andar sozinha só vai conseguir andar com a ajuda de um adulto que a segure pelas mãos a partir de um determinado nível de desenvolvimento. Aos três meses de idade, por exemplo, ela não é capaz de andar nem com ajuda. Portanto, segundo o autor, as interações têm um papel crucial e determinante. Para definir o conhecimento real, ele sugere que se avalie o que o sujeito é capaz de fazer sozinho, é aquele que já foi consolidado pelo indivíduo, de forma a torná-lo capaz de resolver situações utilizando seu conhecimento de maneira autônoma. E o desenvolvimento potencial aquilo que ele consegue fazer com ajuda de outro sujeito. Assim, determina-se a ZDP. E o nível de riqueza e diversidade das interações determinará o potencial atingido. Quanto mais ricas as interações, maior e mais sofisticado será o desenvolvimento. 22 Manaus- AM 2020 PENSAMENTO E LINGUAGEM A relação entre pensamento e linguagem se modifica e evolui no decorrer das experiências do sujeito, levando em consideração os fatores sócio-históricos. A partir de dois anos de idade, pensamento e linguagem se encontram e o pensamento se torna verbal, a fala transforma-se em racional, como defende Vygotsky (1999). Ou seja, a criança adquiri a capacidade de atribuir significados devido às suas experiências anteriores. Esse é um momento de grande importância no desenvolvimento do sujeito, já que o significado é a integração do pensamento e da linguagem, e é também nesta integração que surge a palavra. A linguagem é o mais completo sistema de signos da cultura humana, e através dela é possível organizar o pensamento e entender as informações. É a partir da percepção que a criança formula os primeiros conceitos. Os objetos são representados pelo pensamento, através das suas características. Através da linguagem, é que os pensamentos e os conceitos tomam forma, facilitando a transmissão das percepções de um indivíduo. Sendo assim, a linguagem é uma forma simbólica de expressarmos os pensamentos, facilitando a organização das percepções e formulação de conceitos a partir delas. Para Vygotsky (1999), os signos, têm a mesma função dos instrumentos, pois são construções da mente humana responsáveis por mediar à relação do homem com a realidade. Pare ele os signos são instrumentos simbólicos, fundamentais para a comunicação e desenvolvimento da espécie humana, contribuindo também para a organização do pensamento. O autor defende que a linguagem é aprendida no meio social em que o indivíduo vive. Ele enfatiza que a linguagem é considerada como instrumento complexo que torna possível a comunicação com a sociedade. Sem linguagem, o ser humano não é social, nem histórico nem cultural. Através da linguagem aprendemos a pensar. Para Vygotsky a linguagem passa por três fases: a primeira é a linguagem social, onde a sua principal função é a comunicação. A segunda fase é a linguagem egocêntrica, onde há a transição da função comunicativa para a intelectual, não há intenção de comunicar ou interagir, é um “falar sozinho”, consigo mesmo, que é essencial para a organização das ideias e planejamento das ações. A terceira fase da linguagem está ligada diretamente ao pensamento, é a linguagem interior onde as palavras passam a ser pensadas, mesmo que não sejam faladas, como cita Marta Kohl “é uma forma interna de linguagem, dirigida ao próprio sujeito e não a um interlocutor externo. É um discurso sem vocalização, voltado para o pensamento, com função de auxiliar o indivíduo nas suas funções psicológicas.” 23 Manaus- AM 2020 (2010, p. 51). Ou seja, é uma linguagem feita de ideias não verbalizadas, utilizando a linguagem como instrumento de pensamento. As contribuições de Vygotsky para a educação giram em torno da relação sociocultural e da interação, e sugerem a análise dos seguintes fatores do desenvolvimento: a espécie humana tem sua própria história, cada indivíduo tem sua história, o sujeito deve ser considerado em sua relação sociocultural e o desenvolvimento do indivíduo é singular, cada um tem seu tempo de assimilação. A criança nasce inserida num meio social, que é a família, e é nela que estabelece as primeiras relações com a linguagem na interação com os outros, e essa interação é uma das maiores responsáveis pelo desenvolvimento da criança. A aprendizagem da criança antecede a entrada na escola e o aprendizado escolar produz algo novo no desenvolvimento infantil, evidenciando as relações interpessoais. A aprendizagem acontece em todo lugar. O processo de formação de pensamento é despertado pela vida social e pela constante comunicação que se estabelece entre crianças e adultos. A linguagem intervém no processo de desenvolvimento intelectual da criança desde o nascimento, é um processo fundamental, pois sem linguagem não há pensamento, portanto, a interação social torna-se o motor do desenvolvimento. O conceito de desenvolvimento está ligado à evolução contínua de nós, seres humanos, durante todo o ciclo vital. Essa evolução ocorre em diversos campos da nossa existência. São eles: afetivo, cognitivo, social e motor. Essa contínua evolução não se determina através apenas por processos de maturação genéticos ou biológicos. A interação com o meio é um fator de extrema importância para o desenvolvimento humano. Esse meio envolve vários aspectos, tais como: cultura, sociedade, práticas e interação. Na construção social, Vygotsky considera as crianças como sujeitos sociais que constroem o conhecimento socialmente produzido. O desenvolvimento é a apropriação ativa do conhecimento. Esse processo de desenvolvimentona fase escolar deve ser provocado de fora para dentro pelo professor, que é uma figura fundamental no processo de preparação do aluno. É imprescindível aos educadores, compreender que todo mundo é modificável através da mediação, o professor é o organizador do ambiente social, que é o fator educativo por excelência, é por isso que ele enfatiza a posição do aluno como aquele que dirige o seu próprio processo de aprendizagem. Portanto, é preciso que o educador tenha metas e objetivos, saber sobre o que se vai ensinar, mas não se pode perder de vista para quem se está ensinando. Deve-se ter consciência no processo ensino-aprendizagem de que 24 Manaus- AM 2020 se quer formar um aluno concreto, real, num processo integrado ao contexto cultural e histórico em que se situa. A principal influência no desenvolvimento humano é a cultura. E isso pode ser explicado pelo fato de que os seres humanos desde o nascimento já convivem com uma cultura, e ela se torna presente em todos os aspectos da vida. O contexto cultural é imprescindível nas principais transformações e evoluções desde a infância até a fase adulta. Através da interação social ocorrem a aprendizagem e o desenvolvimento. É por ela que criamos novas formas de agir no mundo, ampliando assim nossas ferramentas de atuação nesse contexto cultural tão complexo que atua em toda nossa existência. Na comunidade surda, a interação social é de extrema importância para a formação da identidade surda, do desenvolvimento social, cultural, e cognitivo de seus sujeitos. Diria, talvez, que para essa comunidade a sociointeração é ainda mais importante do que para os ouvintes, pois, considerando como pressuposto teórico o sociointeracionismo que entende a linguagem como forma ou processo de interação, percebe-se o termo interação como uma ação de construção colaborativa de conhecimentos, sendo assim, uma troca de aprendizagem mútua, possibilitando o desenvolvimento em seus diversos âmbitos. Sabendo-se que a interação acontece pela comunicação, pela linguagem, e em todas as relações sociais entre indivíduos organizados em sociedade. A linguagem, portanto, pode ser pensada como um dispositivo decisivo na formação dos processos mentais, constituindo um fator essencial para que se desenvolvam aspectos cognitivos, sociais e emocionais. VYGOTSKY E A SURDEZ Vygostky, um dos pioneiros do estudo sobre a deficiência e formas de educação para as crianças defeituosas2 , defendia que a cultura é produto da vida em sociedade e da atividade social do homem, ou seja, tudo que é cultura é social. Com o texto traduzido tendo sido escrito entre 1924 e 1931, Vygotsky (apud KOHL, 2011, p. 863) já afirmava em seus estudos de defectologia3 que qualquer deficiência, como por exemplo a surdez, afetava acima de tudo as relações sociais, não as relações diretas com o ambiente físico. O texto Defectologia traduzido por Marta Kohl, Denise Sales e Priscila Marques, afirma que as crianças deveriam aprender e se desenvolver, podendo isso ocorrer através de um caminho indireto, quando através do caminho direto se tornava inviável. O caminho indireto surge apenas quando aparece um obstáculo no caminho direto, quando se esgotam todas as possibilidades por meio natural. As autoras ainda afirmam que esses caminhos 25 Manaus- AM 2020 indiretos acontecem sob pressão da necessidade. “Se a criança não tiver necessidade de pensar, ela nunca irá pensar.” (2011, p. 866). Anteriormente os psicólogos estudavam que o desenvolvimento cultural parte do desenvolvimento natural. Ou seja, a fala dependia de uma função natural da criança e se desenvolvia naturalmente. Esse texto aponta para a importância da educação social das crianças e o desenvolvimento potencial das mesmas. Partindo da perspectiva da importância do desenvolvimento social, Vygotsky acreditava que “entre os seres humanos e seu mundo físico coloca-se seu ambiente social, o qual refrata e transforma suas ações recíprocas com o mundo” (VALSINER e VAN DER VEER, 1996, p.75). Ou seja, o problema social resultante de um “defeito” físico é o principal problema e, para o autor, uma educação social baseada em proporcionar as relações sociais e interações sociais diminuiria a percepção dos defeitos físicos, fazendo-os cair para segundo plano, o que tornaria a vida dos defeituosos mais satisfatória.“Participando da vida social em todos os aspectos as crianças iriam, em sentido metafórico, superar sua cegueira e sua surdez” (idem., 1996, p.76). Ou seja, integrar o tanto quanto possível em sociedade, para conviverem com pessoas normais é importante para o desenvolvimento social, cultural dessas crianças. Atualmente, novos estudos seguem as tendências expostas por Vygotsky e mostram que a cultura influencia no comportamento natural da criança, criando novos rumos de desenvolvimento, onde a assimilação transforma as funções naturais das crianças. Através da cultura, das relações culturais, a criança adquire conhecimento também. Esses novos estudos deram um salto nos princípios da educação das “crianças anormais.” Naturalmente, a criança surda não irá aprender a falar, não por problemas no aparelho fonador, mas por se privada da percepção auditiva, criando-se então artifícios culturais, sistema especial de signos ou símbolos culturais, que proporcionam a organização psicofisiológica da criança anormal. Vygotsky defendia que a cegueira era pior que a surdez, mas concorda que a surdez gera consequências mais graves por privar do contato e experiências sociais. Não se trata apenas de se privar da comunicação, mas também do pensamento, pois sem a fala não há consciência. Inicialmente, ele defendia o ensino da língua oral, pois acreditava ser a única que levaria ao desenvolvimento abstrato. Os professores não deveriam permitir mímica ou língua de sinais, e a língua oral deveria ser introduzida de maneira natural, através de jogos e brincadeiras, pois dessa forma criaria-se uma atmosfera em que a criança sentiria necessidade de falar. 26 Manaus- AM 2020 Apesar de inovações de métodos de ensino da linguagem oral, as crianças preferiam ainda assim, a língua de sinais ou a mímica como instrumento de ação mútua social, e essas crianças desenvolvem espontaneamente uma fala particular. Língua essa, diferente de todas as línguas humanas contemporâneas existentes, criada não para surdos, mas pelos próprios surdos. Mesmo privada de qualquer instrução, a criança ingressa no caminho do desenvolvimento cultural; em outras palavras, é no desenvolvimento psicológico natural da criança e no seu meio circundante, na necessidade de comunicação com esse meio, que se encontram todos os dados necessários para que se realize uma espécie de autoignição do desenvolvimento cultural, uma passagem espontânea da criança do desenvolvimento natural ao cultural. (KOHL, 2011, p. 868) 27 Manaus- AM 2020 DEFICIENTE AUDITIVO, SURDO OU SURDO-MUDO? O surdo-mudo é a mais antiga e inadequada denominação atribuída ao surdo, e infelizmente ainda utilizada em certas áreas e divulgada nos meios de comunicação. Para eles, o fato de uma pessoa ser surda não significa que ela seja muda. A mudez é outra deficiência. Para a comunidade surda, o deficiente auditivo é aquele que não participa de Associações e não sabe Libras, a Língua de sinais. O surdo é aquele que tem a Libras (língua Brasileira de Sinais), como sua língua. Compreendendo o mundo surdo. Por anos, muitos têm avaliado de forma depreciativa o conhecimento pessoal dos surdos. Alguns acham que os surdos não sabem praticamente nada, porque não ouvem nada. Há pais que super protegem seus filhos surdos ou temem integrá-los no mundo dos ouvintes ou mesmo no mundo dos surdos. Outros encaram a língua de sinais como primitiva, ou inferior, à língua falada. Não éde admirar que, com tal desconhecimento, alguns surdos se sintam oprimidos e incompreendidos. Os meios usados nos ensinos das escolas Atualmente, muitas são as escolas que buscam ter intérpretes para promover a inclusão dos alunos surdos, porém, sabe-se que para haver uma real inclusão, é preciso que ainda ocorram muitas mudanças. De acordo com Lima (2006, p. 60): O acesso das pessoas surdas ao ensino ainda é precário, não apresentando, portanto, bons resultados, pois há muita retenção nas séries iniciais, e faltam serviços de Educação Especial nas escolas comuns. Há ainda posições divergentes sobre a utilização de processos educativos de base oral ou gestual. É importante ressaltar que a LIBRAS não passou a ser utilizada somente na educação dos surdos, mas também por outras pessoas com incapacidades ou distúrbios na fala que necessitavam também da língua de sinais para serem compreendidas. O acesso desse idioma no contexto social brasileiro se faz necessário a todos, podendo desenvolvêla com a participação dos surdos e ouvintes que queiram aprender e se envolver em tornála mais conhecida perante a sociedade contemporânea. Atualmente, a LIBRAS é reconhecida como um instrumento fundamental para a comunicação e educação dos surdos, libertando-os do analfabetismo e possibilitando uma 28 Manaus- AM 2020 maior inclusão e independência diante da sociedade. Segundo Dizeu e Caporali (2005, p. 588) “a língua de sinais representa um papel expressivo na vida do sujeito surdo, conduzindo-o, por intermédio de uma língua estruturada, ao desenvolvimento pleno.” Facilitando assim, sua inclusão desde a escola ao ambiente de trabalho. Muitas pessoas acreditam que a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é o português nas mãos, na qual os sinais substituem as palavras. Outras pensam que é linguagem como a linguagem das abelhas ou do corpo. Muitas pensam que são somente gestos iguais ao das línguas Orais. Entre as pessoas que acreditam que é uma língua, há algumas que creem que é limitada e expressa apenas informações concretas e que não é capaz de transmitir ideias abstratas. Pesquisas sobre LIBRAS vêm sendo desenvolvidas, mostrando que esta língua é comparável em complexidade e expressividade a quaisquer línguas orais. Esta língua não é uma forma do português; ao contrário, tem suas próprias estruturas gramaticais, que deve ser aprendida do mesmo modo que outras línguas. A LIBRAS difere das línguas orais por utilizar outro canal comunicativo, isto é, a visão em vez da audição. A LIBRAS é capaz de expressar ideias sutis, complexas e abstratas. Os seus usuários podem discutir filosofia, literatura ou política, além de esportes, trabalho, moda, etc. A LIBRAS pode expressar poesia e humor. Como outras línguas, a LIBRAS aumenta o vocabulário com novos sinais introduzidos pela comunidade surda em resposta à mudança cultural e tecnológica. (Quadros e Karnopp, 2004) A LIBRAS não é universal. Assim como as pessoas ouvintes em países diferentes falam diferentes línguas, também as pessoas surdas por toda parte do mundo usam línguas de sinais diferentes 29 Manaus- AM 2020 COMO INTRODUZIR A APRENDIZAGEM DO INDIVIDUO COM NECESSIDADE AUDITIVA NO CONTEXTO SOCIAL. A Libras é a segunda língua oficial brasileira. Com o reconhecimento de ingressar o surdo no ambiente escolar, tornou-se possível a observação da importância da mesma, abrindo portas para um conhecimento e aprendizado com a finalidade de promover a educação dos Surdos. A Escola possui um papel fundamental diante do alunado, partindo de princípios iguais, buscando valorizar o sujeito em sua totalidade e diferenças, a fim de contribuir com uma educação transformadora. Os conhecimentos a respeito da Língua Brasileira de Sinais foram adquiridos ao longo de disciplinas, onde acabou aumentando o desejo de familiarizar-se com o processo de ensino/aprendizagem do aluno Surdo e sua inclusão no ensino regular. Os métodos de estudos referente à temática Surdez estão surgindo aos poucos, tornando-se mais que um desafio para os educadores, que buscam conhecimento com a finalidade de contribuir de forma satisfatória a comunidade Surda. A Pertinência da mesma no ambiente escolar, consiste na sensibilização das escolas que atendem alunos com as necessidades educacionais especiais, sobretudo os Surdos e os professores que trabalham com alunos Surdos em sala de aula, tende a promover acessibilidade de comunicação e inclusão social, aplicando metodologias de ensino adequado para a formação e construção do aluno com necessidade auditiva, promovendo de forma adequada até promover a inclusão almejada pelas políticas de educação. A IMPORTÂNCIA DAS ESCOLAS PARA SURDOS NO BRASIL, NO CONTEXTO HISTÓRICO DO PAÍS NA EDUCAÇÃO DOS SURDOS. Antes da implantação da temática da inclusão de surdos no Brasil, foi observado um determinado destaque na educação do aluno com deficiência auditiva. Esta política de inclusão estabelecida pela sociedade, refere a promoção do acesso de todos, passando a ser debatido em instituições para um fornecer um ensino de qualidade para os alunos surdos. Todavia, é necessário salientar que quando se fala em inclusão, a mesma reque rum reconhecimento, valorização e respeito à diversidade desses sujeitos que, por sua vez, relacionam-se com questões de igualdade, diferença e desigualdade, tangendo os direitos humanos; sendo assim, a “diferença” torna-se parte integrante da pessoa com deficiência. 30 Manaus- AM 2020 Até hoje, podemos perceber que a educação especial é algo a ser utilizado pelos alunos deficiência intelectual. Contudo, essa afirmação encontra-se equivocada, possuindo uma visão de que a educação básica utilizada nas escolas regulares deve compreender um pouco sobre a introdução e como ocorre a inclusão e aprendizagem dos alunos, independente da deficiência que este tenha, seja ela, física, visual, intelectual ou auditiva. O conceito de aprendizagem na introdução de educação inclusiva, é pensar na possibilidade da convivência e criação de métodos e formas de ensina cada aluno, ajudando a superar as dificuldades cognitivas, coo menciona Rubinstein (2003, p. 136): 48 31 Manaus- AM 2020 DIFICULDADES QUE AS PESSOAS AUDITIVAS ENCONTRAM NA SOCIEDADE As dificuldades que a surdez traz para as nossas vidas são inúmeras, e vão desde não entender o que as pessoas falam até mesmo a não conseguir arranjar um emprego. Dia desses conversei ao vivo e a cores com três candidatos a implante coclear na mesma tarde. Adoro esses momentos porque compartilhar vivências é muito enriquecedor e nos faz sempre aprender coisas novas. Os três fizeram exatamente os mesmos comentários sobre as dificuldades da deficiência auditiva e eu me vi de volta aos anos em que vivi com surdez profunda usando aparelhos auditivos. Relembrei inúmeras situações que me causavam dor, angústia e tristeza. A surdez nos força a ver o mundo de maneiras que aqueles que ouvem não conseguem, já que não enfrentam estas dificuldades. Algumas coisas que parecem ‘bobas’ aos olhos dos ouvintes são obstáculos dificílimos para nós. Falta de compreensão da família Nada, absolutamente nada no mundo é capaz de nos magoar mais do que ouvir, das pessoas que nós amamos, o infame “Deixa pra lá, não é nada!” quando pedimos para que repitam algo que não ouvimos ou não entendemos. Hoje eu entendo como é difícil para um ouvinte tentar compreender o que é não ouvir ou ouvir mal, mas isso não justifica falta de compreensão, paciência e ajuda dentro da própria família. Há também as dificuldades relativas ao uso de aparelho auditivo e implante coclear: familiares que não entendem que o processo de adaptação é longo, cansativo e estressante.Ou que acham que usar AASI e IC é sinônimo de ouvido novo, de perfeição. Não é nada disso. Eles ajudam (às vezes, MUITO) mas não nos transformam em ouvintes perfeitos – aliás, isso existe? Casa não adaptada Com a tecnologia disponível hoje, quem não escuta pode adquirir despertador vibratório para ser mais independente e não depender de ninguém para acordar, por exemplo. A nossa casa precisa estar adaptada às nossas necessidades: TV’s com legendas, https://cronicasdasurdez.com/os-perigos-da-surdez/ https://cronicasdasurdez.com/os-perigos-da-surdez/ https://cronicasdasurdez.com/os-perigos-da-surdez/ https://cronicasdasurdez.com/implante-coclear-sus/ https://cronicasdasurdez.com/implante-coclear-sus/ https://cronicasdasurdez.com/implante-coclear-sus/ https://cronicasdasurdez.com/implante-coclear-sus/ https://cronicasdasurdez.com/implante-coclear-sus/ https://cronicasdasurdez.com/dicas-namorar-deficiencia-auditiva/ https://cronicasdasurdez.com/dicas-namorar-deficiencia-auditiva/ https://cronicasdasurdez.com/dicas-namorar-deficiencia-auditiva/ https://cronicasdasurdez.com/dicas-namorar-deficiencia-auditiva/ https://cronicasdasurdez.com/dicas-namorar-deficiencia-auditiva/ 32 Manaus- AM 2020 campainha com alarme de luz, iluminação adequada. Pequenas coisas que fazem toda a diferença. Alguns ouvintes que convivem com surdos fazem comentários como “É horrível assistir TV com essas legendas” e esquecem que horrível mesmo é não ouvir a TV. Mais empatia, por favor! Consultórios, laboratórios e hospitais não acessíveis Passei algumas horas num hospital semana passada e quase enlouqueci com os chamados pelo alto-falante a cada 15 segundos, com campainha e barulhos incessantes. O ambiente seria muito melhor se houvesse um telão com avisos e chamados! Nós não conseguiremos sentar na sala de espera e relaxar aguardando que gritem ou chamem pelo nosso nome. Isso é fácil de resolver: chamar pela TV ou por uma tela. Aeroportos não acessíveis Qualquer lugar que use alto-falantes para fazer anúncios e chamar as pessoas é um perrengue gigantesco para nós. Ou nós não ouvimos, ou ouvimos e não entendemos. Nunca vou esquecer a primeira vez que ouvi e entendi um anúncio de alto-falante em aeroporto: foi como se tivesse tirado 200kg das costas. Perdi as contas de quantas vezes corri pra lá e pra cá entre portões porque os aeroportos não davam as informações corretas nas telas de TV. Hoje em dia isso melhorou bastante em alguns aeroportos! Pessoas que não articulam bem os lábios A maioria de nós é dependente de leitura labial. Quando alguém não articula bem os lábios para falar conosco, isso é desesperador. O maior desespero eu sentia quando a pessoa articulava como tartaruga. Basta falar do jeito como você fala, mas prestando atenção para articular as palavras como se estivesse falando em público. Você consegue, vai! Restaurantes e baladas escuras Ler lábios no escuro: impossível. Se você quer a nossa presença ou se quer a nossa felicidade, por favor não nos convide para ir a locais escuros (que em geral também são barulhentos) porque isso configura tortura para quem não ouve ou ouve mal. https://cronicasdasurdez.com/dicas-para-aprender-leitura-labial/ https://cronicasdasurdez.com/dicas-para-aprender-leitura-labial/ https://cronicasdasurdez.com/dicas-para-aprender-leitura-labial/ https://cronicasdasurdez.com/dicas-para-aprender-leitura-labial/ https://cronicasdasurdez.com/dicas-para-aprender-leitura-labial/ 33 Manaus- AM 2020 Berros em vez de cutucadas Se você quer a atenção de uma pessoa com deficiência auditiva, apareça no seu campo de visão. Berrar, gritar e mandar alguém cutucar enquanto você fica olhando com cara de tédio é muito, mas muito deselegante. Ser infantilizado ou se tornar invisível A surdez nos infantiliza em muitos momentos. Não somos pessoas de confiança para várias tarefas e atividades porque não escutamos. Uma coisa que me irritava muito era quando eu estava entre pessoas que falavam de mim na minha presença como se eu não estivesse ali – como se fosse uma planta, como se fosse invisível. Se você estiver na presença de uma pessoa surda, não faça isso. Cinemas só com filmes dublados Isso me deixava louca! Só pude começar a frequentar cinema com filme dublado em 2014, após o primeiro implante coclear. Antes disso, jamais! Imagine você, pessoa que ouve, tentar assistir a um filme sem som, ou a um filme com áudio em russo sem legendas. Será que vai dar conta? Claro que não! Nós também não fazemos milagres e nós também queremos nos divertir e frequentar os mesmos lugares que vocês frequentam! Salas de espera com TV ligada sem som e sem legendas É algo que foge à minha compreensão. Nem os ouvintes conseguem entender nada, que dirá quem não escuta. Confesso que TV ligada sem som e sem legendas é algo que dá nó na minha cabeça. E é assim que funciona na maioria das salas de espera, restaurantes e vários outros locais. Alguém avisa? Falta de noção no trabalho Quem nunca ouviu coisas como “tem que atender o telefone de qualquer jeito“, “se não consegue, pede demissão“, “ah que saco ter que ficar repetindo as coisas“, “fulana é surda” A maioria das empresas não se empenha em incluir de verdade os funcionários PCD – e quando você é um surdo usuário de AASI ou IC, eles parecem ainda mais 34 Manaus- AM 2020 confusos sobre como lidar com isso. Acho que a solução é falar abertamente sobre suas necessidades e dificuldades sempre, com seu gestor/chefe e também o RH. Não ature assédio moral de cabeça baixa, por favor. Isolamento e depressão Quando vivemos constantemente com as situações acima, acabamos nos isolando e vivendo numa concha, porque é muito cansativo viver em busca de entender o que os outros dizem. É barra pesada mesmo! Não é à toa que várias pesquisas já mostraram que pessoas com deficiência auditiva têm o dobro de chance de desenvolver depressão e ansiedade. 35 Manaus- AM 2020 METODOLOGIA Todos os indivíduos têm direitos à educação de qualidade. A presença do aluno Surdo em sala exige que o professor reconheça a precisão da elaboração de novas estratégias e métodos de ensino que sejam adequados à forma de aprendizagem deste aluno. Independente do parecer de discentes com alguma necessidade específica, cabe aos docentes e aos demais profissionais da educação criar condições para que este espaço promova transformações e avanços, a fim de dar continuidade a um dos objetivos da escola: ser um espaço que promova a inclusão social de qualquer indivíduo. Portanto, os alunos Surdos aprendem de formas diferentes e se faz necessária uma metodologia que atinja esta forma visual de comunicação que também esteja ligada a esta cultura. A preocupação da Comunicação Total são os processos comunicativos entre surdos e surdos e entre surdos e ouvintes. Preocupa-se também com a aprendizagem da língua oral pela criança surda e acredita que devemos estimular os aspectos cognitivos, emocionais e sociais para que ocorra o aprendizado da língua oral. Utiliza-se de recursos espaçosvisuais como facilitadores da comunicação é vista também como uma filosofia de educação onde o princípio básico é se comunicar. A Comunicação Total defende a utilização de inúmeros recursos linguísticos, tais como, a língua de sinais; linguagem oral; códigos manuais, entre outros. Todos eles são facilitadores de comunicação com as pessoas surdas, privilegiando a comunicação e a interação entre as línguas (orais e sinalizadas). A criança é exposta desde cedo à: • Linguagem moral; • Leitura labial; • Gestos e alfabeto manual; • Amplificação sonora; • Leitura e escrita. Os sinais são formados a partir de parâmetros, como a combinação do movimento das mãos com um determinado formato num determinadolugar, podendo este lugar, ser uma parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo. Os parâmetros da LIBRAS são: Configuração das mãos; • Locação; • Movimentos; 36 Manaus- AM 2020 • Orientação das mãos; • Expressão facial e/ou corporal. Nesta combinação se obtém o sinal. Portanto, produzir sinais é combinar esses parâmetros para a formação das frases e textos num determinado contexto. 37 Manaus- AM 2020 RECURSOS O uso apropriado de LIBRAS nas instituições e o desenvolvimento que estimula a configuração do uso das mãos dos alunos. Com estes métodos, é possível a divisão de linguagens receptiva, ou seja, a repetição de gestos para o entendimento do aluno; a linguagem compreensiva, no qual o aluno passa a compreender o uso de gestos e figuras fazem referência a uma determinada pessoa ou objeto. Além da utilização de ferramentas tecnológicas disponibilizando o uso de figuras de linguagens que contribuem para o desenvolvimento do aluno na escola. Para a operacionalização da linguagem funcional, muitas atividades são desenvolvidas: respiração, relaxamento e exercícios para os órgãos fonoarticulatórios, voz (articulação), ritmo, leitura labial e dramatização. Respiração As crianças com problemas de fala, geralmente, apresentam problemas de respiração. Os exercícios de sopro (os mais variados possíveis) têm por objetivo levar o aluno a adquirir hábitos corretos de respiração, propiciando melhor ritmo de fala e melhor emissão de fonemas. Relaxamento O aluno deve adquirir uma atitude geral de relaxamento para melhorar a respiração e a articulação no ato da fala por meio de técnicas de relaxamento. O professor deve utilizar os mesmos comandos até a criança compreender bem o seu significado. Exercícios para os órgãos fonoarticulatórios. Eles são necessários para que o aluno tome consciência das áreas específicas que influenciam na produção da fala: lábios, bochechas, língua, etc. A voz da criança surda deve ser trabalhada especificamente, pois cada uma apresenta um problema diferente de voz (nasal. Falsete, gutural, bitonal ou fraca), que deve ser corrigido de maneira específica. Eis alguns exercícios de voz: - manter uma vocalização por três segundos com controle tátil no peito ou no pescoço; - deslocar um brinquedo, ou puxar o barbante preso a uma lata ou seguir uma linha com o dedo, enquanto vocalizar: - fazer uso do fonema indicador; - colocar fichas em determinados lugares (boca da boneca, balões enquanto vocalizai). Articulação Para desenvolver a fala, o aluno usa vários sentidos: - audição (na medida do possível); - visão (leitura labial); - sinestésico (movimentos articulatórios da fala); - tátil (vibrações do corpo). A sequência dos fonemas depende da facilidade e da 38 Manaus- AM 2020 aptidão de cada aluno. Por exemplo: se o professor quer trabalhar o “ma”, mas o aluno diz “ba”, ou se ele falava, o aluno “va”, o professor deve "esquecer" o fonema inicial e aproveitar o fonema que o aluno tem espontaneamente. Em seguida deve trabalhar com o aluno os nomes (substantivos e adjetivos) e depois os verbos e as frases, partindo sempre, quando possível, do objeto concreto no caso de substantivos. No caso de verbos, o professor deve procurar dramatizar as ações da vivência diária. Ritmo Os exercícios de ritmo são feitos com os fonemas estudados, utilizando instrumentos que auxiliem na compreensão da duração, intensidade e frequência dos sons, na hora de emissão. Leitura labial A leitura labial tem por objetivo estimular a atenção do aluno para olhar o rosto do professor, repetir o modelo articulatório e ao mesmo tempo discriminar o que foi falado. O professor deve iniciar com as vogais e encontros vocálicos. Dramatização A dramatização é a principal estratégia para a aula de linguagem, porque possibilita a interiorização do conceito. Deve ser utilizada sempre e de forma lúdica, reverenciando o cotidiano das crianças. Os temas mais comuns para as dramatizações são: 1. Encontros vocálicos: oi, ai, au, eu, ui. 2. Cumprimentos despedidas: Oi! Tchau! Bom-dia\ 3. Verbos mais comuns à vivência de uma criança: 39 Manaus- AM 2020 CRONOGRAMA Aplicar o uso dos métodos básicos que levem o aluno a estimular o desejo de compreender o que o professor está lhe informando; estabelecer metodologias com os pais que estimulem a formação intelectual e desperte a capacidade de desenvolver formas de configurações do uso de gestos e figuras de linguagens. FASES DE ESTUDO DURAÇÃO EM MESES Fevereiro Março Abril Maio Junho Tema X Título X Problema X Hipótese X Objetivo (Geral e Especifico) X Justificativa X Referencial Teórico X Metodologia X Recursos X Cronograma X Até mesmo o conto de histórias que podem influenciar o desenvolvimento dos alunos. Os contos de histórias em geral são introduzidos desde que as crianças entram na pré-escola e. como acontece também com as crianças ouvintes (Perroni, 1992), as histórias são contadas várias vezes, até que, valendo-se das perguntas do adulto, em um primeiro momento, as crianças comecem a relatá-las. Nota-se que depois de algum tempo, as "crianças se apropriam do papel de "leitores", olhando as letras e "lendo" as figuras para os colegas de classe. Depois que as crianças demonstram já conhecer uma história, dramatizam-na, escolhendo os papéis. Desde cedo são incentivadas a registrar algum aspecto da história. Inicialmente, tal registro se dá por intermédio de desenhos e, nas classes mais avançadas, pela escrita. Percebe-se que, como na criança ouvinte, inicialmente os desenhos são basicamente constituídos de garatujas sem significado consistente. Aos poucos vão tomando forma e significado, até que os alunos passam a 40 Manaus- AM 2020 fazer uma previsão do que será desenhado. Depois de algum tempo as formas vão se aproximando do real e podem até ser reconhecidas mesmo fora do contexto. Correspondência entre escrita e objetos Num primeiro momento, as mesas e cadeiras são etiquetadas com os nomes das crianças, escritos pelo professor juntamente com a criança, na cor escolhida por ela. Reconhecendo c identificando seu nome, a criança localizará sua cadeira e mesa, num primeiro momento com a ajuda do professor e depois de algum tempo de trabalho, sozinha. Posteriormente, espera-se que ela seja capaz de fazer o mesmo com os objetos dos colegas. Não há um momento específico para esta atividade. • Informações sobre a surdez: Continuar com o Mural “Mãos livres” e ampliá-lo por meio eletrônico (e-mail, Facebook); utilizar outros meios impressos e virtuais; encontros voltados para a formação de professores que trabalham com os alunos surdos em diferentes horários e oportunidades; encontros com as famílias; continuar com o projeto Se liga, surdo! Estendendo para toda a comunidade escolar. • Conhecer a Libras: Retomar os cursos de Libras à comunidade e aos educadores da escola, com maior oferta de horários; Libras como disciplina curricular para todas as turmas da escola. • Divulgar a cultura surda: Retomar o Festival de Arte e Cultura Surda; criar periódicos que envolva toda a comunidade escolar; criar um espaço próprio para esta expressão na Semana Cultural da escola. • Presença de adultos surdos na escola: Continuar com o Se liga, surdo! Podendo aumentar o número de encontros anuais para cinco; aumentar o número de professores surdos na escola; professor surdo para ensino da disciplina de Libras aos ouvintes; atividades extraclasses com alunos surdos e ouvintes, juntamente com adultos surdos; presença de profissionais surdos relacionados com os conteúdos curriculares. • Contato das famílias com surdos
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