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FILOLOGIA ROMÂNICA História Interna da Língua Portuguesa FORMAS CONVERGENTES, FORMAS DIVERGENTES, SINCRÉTICAS E ANALOGIAS UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO – UEMA CESTI - UEMA FORMAS CONVERGENTES, FORMAS DIVERGENTES, SINCRÉTICAS E ANALOGIAS 1. FORMAS CONVERGENTES As formas convergentes são palavras que têm exatamente a mesma forma, mas provêm de origens distintas. São os homônimos perfeitos, em português. Formas convergentes = mesma forma, origens diferentes FORMAS CONVERGENTES, FORMAS DIVERGENTES, SINCRÉTICAS E ANALOGIAS As formas convergentes podem ter origem em: a) Duas ou mais palavras, com um campo semântico diferente, latinas . Ex: sanu > sano > são (= sadio) sunt > são (= verbo ser, eles são) sanctu > sancto > santo > sãto> são (= santo) rivum > rivo > rio (= subst.) rideo > ridio > riio > rio (verbo; eu rio) filare > filar > fiar (= tecer) fidare > fidar > fiar (= confiar) FORMAS CONVERGENTES, FORMAS DIVERGENTES, SINCRÉTICAS E ANALOGIAS FORMAS CONVERGENTES, FORMAS DIVERGENTES, SINCRÉTICAS E ANALOGIAS 2. FORMAS DIVERGENTES As formas divergentes, também chamadas de doublets pelos franceses e de allotropi pelos italianos, são duas ou mais palavras (no nosso caso, portuguesas) que têm a sua origem num mesmo étimo latino, mantendo uma relação semântica. Formas Divergentes = mesma origem, formas diferentes As formas divergentes foram organizadas dentro do seguinte quadro esquemático: FORMAS CONVERGENTES, FORMAS DIVERGENTES, SINCRÉTICAS E ANALOGIAS FORMAS CONVERGENTES, FORMAS DIVERGENTES, SINCRÉTICAS E ANALOGIAS 1) Formas divergentes hereditárias: Há divergência hereditária quando duas ou mais formas de comum base etimológica divergem, no decorrer da História, devido a incidências que perturbaram a sua evolução lingüística normal. a) Divergentes fonético-históricas: como vimos, em épocas diferentes e em regiões diversas e afastadas geograficamente, o tratamento histórico dos fonemas pode mudar. Ex: plagam > plaga plagam > plaga > praga plagam > plaga > chaga FORMAS CONVERGENTES, FORMAS DIVERGENTES, SINCRÉTICAS E ANALOGIAS b) Divergentes de vestígios casuais: é bom saber que o ACUSATIVO é o caso lexicogênico do português, ou seja, é através de tal caso da língua latina que as palavras passaram do latim para a nossa língua. Porém, às vezes, as palavras penetram no português através do caso acusativo e, paralelamente, através de um outro caso, com outra forma. Ex: dracone (ACUSATIVO) > dragão draco (NOMINATIVO) > drago Ambas as palavras portuguesas (dragão e drago) se originaram do mesmo vocábulo em latim, porém, uma veio através do vocábulo no caso acusativo (dracone) e a outra veio através do caso nominativo (draco). Veja mais esse exemplo: daemoniu (ACUSATIVO) > demônio daemon (NOMINATIVO) > demo FORMAS CONVERGENTES, FORMAS DIVERGENTES, SINCRÉTICAS E ANALOGIAS Há ainda os chamados genitivos patronímicos: são aplicados em nomes próprios de pessoas e indicam filiação. Ex: Álvaro - Álvares (= filho de Álvaro) Antônio - Antunes (= filho de Antônio) Pero - Peres (= filho de Pero) Rodrigo - Rodrigues (= filho de Rodrigo) c) Divergentes de flexão gênero-numérica: as palavras neutras, no singular, terminadas em -u originaram, no português, as palavras masculinas (mesmo sendo neutras em latim). Ex: ovum > ovo FORMAS CONVERGENTES, FORMAS DIVERGENTES, SINCRÉTICAS E ANALOGIAS Por outro lado, as palavras neutras, no plural, terminadas em –a originaram, na nossa língua, palavras femininas. Ex: ova > ova No latim vulgar, o neutro singular da 4ª declinação foi absorvido pelo masculino singular da 2ª declinação, enquanto que o neutro plural da 4ª declinação, pelo feminino singular da 1ª declinação. FORMAS CONVERGENTES, FORMAS DIVERGENTES, SINCRÉTICAS E ANALOGIAS FORMAS CONVERGENTES, FORMAS DIVERGENTES, SINCRÉTICAS E ANALOGIAS OBS: Essas que eram as mesmas palavras em latim – porém uma estava no plural e a outra no singular – originaram palavras diferentes em português. Daí termos a flexão de número para as duas formas: o ovo – os ovos; a ovas – as ovas. FORMAS CONVERGENTES, FORMAS DIVERGENTES, SINCRÉTICAS E ANALOGIAS FORMAS CONVERGENTES, FORMAS DIVERGENTES, SINCRÉTICAS E ANALOGIAS 2) Formas divergentes de empréstimo: Ocorre quando uma palavra de mesmo étimo latino que uma já existente no português é tomada de empréstimo de uma língua estrangeira. Passa a haver, então, no léxico, duas palavras com o mesmo étimo latino: uma por formação interna e outra pro empréstimo lingüístico. Ex: planum > plano (erudita) > chão (popular) > piano (italiano) > lhano (espanhol) > opera > obra (popular) > ópera (italiano) FORMAS CONVERGENTES, FORMAS DIVERGENTES, SINCRÉTICAS E ANALOGIAS 3) Formas divergentes de formação interna: No processo de evolução e criação de palavras dentro da própria língua, verifica-se a acumulação de formas. Isso se dá por dois processos: a) Divergentes de prefixação: ocorre quando prefixos de mesmo valor semântico concorrem para a formação de palavras. Concorrem: - prefixo latino e prefixo latino: multissecular, plurissecular - prefixo latino e prefixo grego: neolatino, novilatino - prefixo e seus alomorfes: trespassar, traspassar, transpassar FORMAS CONVERGENTES, FORMAS DIVERGENTES, SINCRÉTICAS E ANALOGIAS b) Divergentes de sufixação: ocorre quando sufixos de igual ou semelhante valor semântico concorrem para a formação de palavras. Ex: banquinho, banqueta - valor diminutivo amigão, amigalhão - valor aumentativo negritude, negrura, negridão - sufixo formador de substantivo FORMAS CONVERGENTES, FORMAS DIVERGENTES, SINCRÉTICAS E ANALOGIAS 3. FORMAS SINCRÉTICAS As formas sincréticas não podem ser confundidas com formas divergentes. Enquanto aquelas são palavras que têm a sua origem num mesmo étimo latino, apresentando, porém, formas diferentes, essas são palavras que ainda variam a sua forma na língua. Acontece em dois planos, principalmente: a) b > v / v > b Ex: travesseiro / trabesseiro assovio / assobio vergamota / bergamota b) ou > oi / oi > ou Ex: loiro > louro coisa > cousa oiro > ouro FORMAS CONVERGENTES, FORMAS DIVERGENTES, SINCRÉTICAS E ANALOGIAS 4. ANALOGIA A analogia faz parte do processo de evolução de qualquer língua. É a tendência que a língua tem de uniformizar-se, generalizando as normas, excluindo as exceções ou submetendo alguns fenômenos a outros semelhantes. As três características da analogia são: - Termo ativo: é o termo que exerce influência sobre outro. Ele serve modelo para outro. - Termo passivo: é o termo que sofre a influência, que é modelado pelo termo ativo. - Termo analógico: é o termo resultante da influência do ativo sobre o passivo. Ex: termo passivo: terremoto termo ativo: terra termo analógico: terramoto - O termo terremoto, por analogia, é modificado para terramoto, uma vez que terremoto é um tremor de terra. FORMAS CONVERGENTES, FORMAS DIVERGENTES, SINCRÉTICAS E ANALOGIAS - termo passivo: versoriam - termo ativo: varrer - termo analógico: vassoura - Por analogia ao verbo varrer, o vocábulo versoriam, virou, em português vassoura, quando sua evolução natural seria: versoriam > versoria > versoira > vessoira > vessoura [ > vassoura ] - desnasalização do a - hipértese - assimilação consonantal regressiva total - assimilação vocálica progressiva parcial - analogia com o verbo varrer FORMAS CONVERGENTES, FORMAS DIVERGENTES, SINCRÉTICAS E ANALOGIAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, Gentil de. Estudos Leopoldenses:ortografia portuguesa e etimologia. Vol. 21, n. 79-80. São Leopoldo: UNISINOS, 1984. ALI, Said M. Gramática histórica da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 1965. BACK, Sebald, HECKLER, Evaldo. Curso de lingüística 1. São Leopoldo: UNISINOS, 1988. COTRIM, Gilberto. História e consciência do mundo. São Paulo: Saraiva, 1994. COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976. FARIA, Ernesto. Dicionário escolar latino-português. Rio deJaneiro: FENAME, 1975. PEZZINI, Anete Amorim, SILVA, Pedro Pinto. Língua portuguesa: anotações sobre morfologia e sintaxe. São Leopoldo: UNISINOS,1998. RÓNAI, Paulo. Não perca o seu latim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. São Paulo: Cultrix, 1974. WALTER, Henriette. A aventura das línguas no ocidente. São Paulo: Mandarim, 1997.
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