Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A gota é uma doença que acomete exclusivamente os seres humanos. A presença de níveis plasmáticos elevados de ácido úrico pode levar ao depósito de cristais de ácido úrico nas articulações, principalmente na primeira articulação metatarsofalangiana (do hálux). As crises agudas de gota causam dor intensa, mas tipicamente ocorrem com pouca frequência. Embora as pirimidinas, como a citosina, a timidina e a uracila, sejam metabolizadas e excretadas diretamente pelo corpo, o metabolismo das purinas representa um desafio para o organismo (notavelmente os nucleotídios guanina e adenina). Os intermediários do metabolismo das purinas são tóxicos, exigindo uma rigorosa regulação na síntese e na degradação das purinas. Além disso, o produto de degradação final do metabolismo das purinas é o ácido úrico, que é pouco solúvel no sangue e na urina. O ácido úrico é eliminado pelos rins (65%) e pelo trato gastrintestinal (GI) (35%). O ácido úrico é filtrado e secretado pelos rins pelos mesmos mecanismos que processam outros ânions orgânicos. Cerca de 90% do ácido úrico filtrado são reabsorvidos, e apenas 10% aparecem na urina. A excreção renal é importante para a manutenção dos níveis plasmáticos normais de ácido úrico, e a presença de insuficiência renal frequentemente resulta em níveis plasmáticos elevados de uratos. Qualquer variável capaz de diminuir a solubilidade do urato pode promover o depósito de cristais de urato. A gota ocorre mais comumente nas articulações periféricas. O urato é menos solúvel em temperaturas mais baixas, o que pode explicar a distribuição periférica dos depósitos de cristais de urato. Além disso, o líquido sinovial das articulações é mais ácido do que o sangue, favorecendo a formação de cristais. A história natural da gota caracteriza-se por quatro estágios. No primeiro estágio, ocorre hiperuricemia assintomática, devido à degradação aumentada de purinas ou a uma diminuição na excreção de urato. Para pacientes com gota sintomática, a segunda fase envolve um episódio agudo de artrite. Tipicamente, esse episódio consiste no rápido início de dor aguda em uma única articulação. O final de uma crise leva à terceira fase, a fase intercrítica ou de intervalo, caracterizada por hiperuricemia sem gota sintomática aguda. Alguns indivíduos apresentam somente uma crise aguda de gota e permanecem na fase de intervalo por longos períodos ou até mesmo pelo resto da vida. Ataques recorrentes e crônicos de gota, que constituem a quarta fase. Tipicamente, esses episódios tornam-se poliarticulares e mais graves. Durante uma crise de gota, os cristais de urato no líquido sinovial e no tecido sinovial ativam o complemento. A ativação do complemento leva à fagocitose dos cristais opsonizados por monócitos/macrófagos e liberação de fatores quimiotáticos, como C3a e C5a. Os fatores secretados pelos monócitos e outros fatores quimiotáticos estimulam o recrutamento dos neutrófilos, estabelecendo uma alça de retroalimentação positiva que envolve a liberação de IL-8 e de leucotrieno B4 (não indicados). A combinação desses fatores constitui a resposta inflamatória típica da gota aguda. As intervenções farmacológicas consistem em inibir a resposta inflamatória ao inativar os monócitos e neutrófilos (glicocorticóides e colchicina) ou ao diminuir os níveis de mediadores inflamatórios liberados (glicocorticóides e AINE). Existem duas estratégias principais para o tratamento da gota: (1) manejo das crises agudas de artrite gotosa; e (2) manejo a longo prazo da gota crônica. Manejo da gota aguda AINE Os AINE inibem a ciclooxigenase (COX) e, portanto, inibem a síntese de prostaglandinas e de tromboxanos. Os metabólitos do ácido araquidônico desempenham um importante papel na resposta inflamatória aos cristais de urato na articulação. Os efeitos adversos graves dos AINE consistem em sangramento, retenção de sal e de água e insuficiência renal. Med IX - UFOB @waleska112 Colchicina Liga-se à tubulina, inibindo a sua polimerização e impedindo a formação de microtúbulos. A colchicina inibe a divisão celular, visto que os microtúbulos são essenciais para o alinhamento e a separação dos cromossomos durante a mitose. Os microtúbulos também são essenciais no trânsito intracelular. Na articulação agudamente inflamada, a colchicina limita a resposta inflamatória ao inibir a ativação dos neutrófilos. Com frequência, fármacos que alteram a homeostasia do urato são inicialmente coadministrados com a colchicina para evitar a precipitação de uma crise aguda de artrite gotosa. Glicocorticóides Exercem poderosos efeitos anti-inflamatórios (inibição de PLA2) e imunossupressores. Os glicocorticoides inibem numerosas etapas da resposta inflamatória durante o ataque agudo de gota. Manejo da gota crônica Agentes que Diminuem a Síntese de Ácido Úrico Alopurinol É um análogo estrutural da xantina. Ao inibir a xantina oxidase, o alopurinol diminui a concentração de ácido úrico no sangue. Em virtude de sua estreita semelhança estrutural com a xantina, o alopurinol também atua como substrato da xantina oxidase. A forma oxidada do alopurinol, conhecida como oxopurinol, inibe a xantina oxidase. a inibição da xantina oxidase resulta em aumento dos níveis plasmáticos de hipoxantina e xantina. Ao contrário do ácido úrico, a hipoxantina e a xantina são moderadamente solúveis no sangue e podem ser filtradas pelo rim, sem deposição de cristais. Febuxostate Uma pequena molécula não-purínica que atua como inibidor da xantina oxidase, também está sendo avaliado para o tratamento da gota crônica. Agentes que aumentam a excreção de ácido úrico Probenecid Foi um dos primeiros fármacos utilizados para aumentar a excreção de urato. Trata-se de um inibidor do trocador de ânions de localização basolateral no túbulo proximal. A ação desse trocador consiste em aumentar a secreção de numerosos ânions, incluindo fármacos. Entretanto, os estudos realizados também indicam que o trocador de ânions do túbulo proximal medeia a reabsorção de uratos, por um mecanismo ainda não conhecido. Sulfimpirazona É um agente uricosúrico que atua através do mesmo mecanismo utilizado pelo probenecid. É mais potente do que este último e mostra-se efetiva na insuficiência renal leve a moderada. Além de atuar como agente uricosúrico, a sulfimpirazona possui efeitos antiplaquetários; por conseguinte, deve ser utilizada com cautela em pacientes em uso de outros agentes antiplaquetários ou anticoagulantes. Benzbromarona É um agente uricosúrico cujo mecanismo de ação se assemelha aos do probenecid e da sulfimpirazona. Possui maior eficácia uricosúrica do que o probenecid e a sulfimpirazona, particularmente em pacientes com comprometimento da função renal. Todavia, a incidência freqüente de hepatotoxicidade limitou o uso disseminado desse fármaco. A benzbromarona não foi aprovada para uso nos Estados Unidos, porém está disponível na Europa. Losartana É um antagonista do receptor de angiotensina II que possui efeito uricosúrico modesto. A losartana pode constituir uma escolha terapêutica lógica para pacientes com hipertensão e gota concomitantes, embora nenhum estudo controlado tenha sido conduzido para comprovar que a losartana diminui a incidência de ataques gotosos agudos. • Colchicina: diarreia, náuseas, vômitos, dor abdominal. Necrose hepática, insuficiência renal, mielossupressão. → Doses menores ou menos frequentes em pacientes com IR ou IH, ou preferir AINEs ou AIE. • Alopurinol: sonolência, reação cutânea, reação de hipersensibilidade → Síndrome de Stevens-Johnson (raro), leucopenia, eosinofilia e/ou necrose hepática. Inibe a inativação de varfarina e azatioprina. • Probenecida: geralmente bemtolerada, mas pode induzir irritação GI, hipersensibilidade, erupção cutânea. Superdosagem: convulsões e morte por insuficiência respiratória. Gestação
Compartilhar