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1 MBA EM GESTÃO E TECNOLOGIA DE RESIDUOS 2 AUDITORIA AMBIENTAL 3 SUMÁRIO AUDITORIA AMBIENTAL............................................................................................ 2 SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL E AUDITORIA AMBIENTAL ............................ 4 Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico .......................................................... 4 Desenvolvimento Sustentável ................................................................................... 11 Gestão Ambiental ...................................................................................................... 12 Normas ISO 14.000 e a Gestão Ambiental ............................................................... 22 O QUE É AUDITORIA AMBIENTAL .......................................................................... 33 HISTÓRICO DA AUDITORIA AMBIENTAL ............................................................... 36 AUDITORIA AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO EMPRESARIAL E POLÍTICA PÚBLICA DA EVOLUÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL NO MUNDO ....... 43 Auditoria .................................................................................................................... 45 Auditoria Ambiental ................................................................................................... 45 Impactos e Passivos Ambientais ............................................................................... 48 CLASSIFICAÇÃO DAS AUDITORIAS AMBIENTAIS (TIPOS DE AUDITORIAS) ..... 59 Classificação de Acordo com os Objetivos da Auditoria ........................................... 61 ITENS ESSENCIAIS À APLICAÇÃO DA AUDITORIA AMBIENTAL ......................... 62 O Auditor Ambiental .................................................................................................. 66 AS ETAPAS DA AUDITORIA AMBIENTAL ............................................................... 68 PLANEJAMENTO E PREPARAÇÃO DA AUDITORIA .............................................. 71 APLICAÇÃO DA AUDITORIA NO LOCAL ................................................................ 76 Plano de Ação ........................................................................................................... 94 ROTEIRO PARA A APLICAÇÃO DE AUDITORIAS AMBIENTAIS ........................... 96 QUESTIONÁRIO DE PRÉ-AUDITORIA .................................................................... 98 Modelos de Questionários de Pré-Auditoria .............................................................. 99 PROTOCOLO DE AUDITORIA AMBIENTAL .......................................................... 102 O CENÁRIO ATUAL E AS TENDÊNCIAS DA AUDITORIA AMBIENTAL ............... 128 Certificação de Sistemas de Gestão Ambiental ...................................................... 130 SISTEMAS INTEGRADOS DE GESTÃO ................................................................ 134 Importância e Tendências das Auditorias Compulsórias ......................................... 135 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 138 4 SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL E AUDITORIA AMBIENTAL Antes de aprofundar o conteúdo sobre Auditoria Ambiental é necessário introduzir alguns conceitos, como a Gestão Ambiental, e explicar o porquê da importância crescente da adoção de técnicas de melhoria ambiental no mundo globalizado. Afinal, a melhoria ambiental, o desenvolvimento sustentável e seus imperativos são diretrizes do processo de Gestão Ambiental, que, por sua vez, tem como uma de suas ferramentas a Auditoria Ambiental. Este curso tem como objetivo contribuir com a difusão dos conhecimentos, técnicas e modos de aplicação da Auditoria Ambiental no contexto brasileiro. Nos diversos módulos procura-se mostrar a sua importância e a adoção de posturas ambientalmente corretas não só como ferramenta para inclusão no mercado globalizado, mas também pelos impactos positivos propiciados para a sociedade como um todo. O público-alvo do curso são os estudantes, empresários, profissionais autônomos, associações e organizações que trabalham com a área ambiental ou desejam conhecer mais sobre este tema. Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico A partir da segunda metade do século XX o acelerado crescimento demográfico mundial e a expansão da capacidade técnico-produtiva das indústrias começaram a colocar em evidência que os recursos naturais mundiais e sua capacidade de regeneração natural são limitados, e que sua escassez pode significar uma séria ameaça ao futuro e bem-estar da humanidade. E para agravar a situação observa-se o aumento crescente da demanda mundial por produtos e serviços, o que explica a forte pressão sobre os meios de produção de energia e a busca por novas fontes energéticas. Os recursos naturais são fundamentais para a sobrevivência da humanidade, pois além de propiciarem o desenvolvimento tecnológico eles são responsáveis pela manutenção da vida na Terra, já que estão diretamente ligados aos processos energéticos e aos ciclos bioquímicos, como o hidrológico, o do carbono, do fósforo, etc. É importante citar que na natureza não existe lixo, pois o resíduo de um processo natural é matéria-prima de outro, estabelecendo uma contínua reciclagem 5 de matéria e energia, o que garante a renovação dos recursos naturais (observe a figura 1). Exemplo: animais comem as plantas, animais morrem, bactérias decompositoras decompõem o corpo do animal em nutrientes e minerais que nutrem o solo, plantas precisam de nutrientes do solo para crescer. Em sua definição, recursos naturais são elementos da natureza com utilidade para o homem, com o objetivo de desenvolvimento da civilização, sobrevivência e conforto da sociedade em geral. Podem ser renováveis, ou seja, após certo tempo serão naturalmente repostos, como a energia do Sol e do vento, e não renováveis, como o petróleo, o gás natural e minérios em geral, recursos estes com estoques limitados. CICLOS NATURAIS DE RECICLAGEM DOS RECURSOS NATURAIS EVIDENCIAM QUE NA NATUREZA NÃO EXISTEM RESÍDUOS No entanto, é necessário entender o conceito de capacidade de suporte do meio, que é o nível de utilização dos recursos ambientais que um sistema ambiental ou um ecossistema pode suportar, garantindo-se a sustentabilidade e a conservação de tais recursos e o respeito aos padrões de qualidade ambiental (vide figura 2). Não importa se o recurso é renovável ou não renovável, o meio ambiente sempre tem uma capacidade máxima de suporte relacionada ao tempo que aquele recurso leva 6 para se regenerar naturalmente (exemplo: capacidade de autodepuração de corpos d’água). POPULAÇÃO MÁXIMA SUSTENTÁVEL PELO BRASIL CONSIDERANDO O IMPACTO AMBIENTAL DE CADA HABITANTE FONTE: Revista Veja, edição 2071, 30 jul. 2008. Todos os problemas ambientais atuais são resultantes de um padrão de desenvolvimento econômico que não buscava mitigar os impactos ambientais de sua produção e desenvolvimento tecnológico, ou seja, não adotava posturas ambientalmente corretas ou trabalhava dentro da capacidade de suporte do meio ambiente. A figura 3, a seguir, ilustra a relação entre meio ambiente e desenvolvimento econômico: o meio ambiente fornece os insumos e energia necessária, ou seja, toda a matéria-prima que entra nas diversas fases de uma cadeia produtiva, desde a extração do recurso natural até o uso e consumo final do produto, e em todas as fases são gerados resíduos que são dispostos no meio ambiente, muitas vezes, sem o tratamento adequado ou acima da capacidade de suporte do meio. Essa interação insustentável entre o homem e o ambiente gerou osproblemas ambientais atuais que causam consequências adversas, principalmente à saúde humana e para a economia mundial. 7 FIGURA - EFEITOS DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SOBRE O MEIO AMBIENTE A maneira de gerir a utilização dos recursos naturais é o fator que determina o grau de impacto das ações antrópicas sobre o ambiente natural. O grau de impacto é função de três variáveis: a diversidade dos recursos extraídos do ambiente, a velocidade de extração destes recursos (se permite ou não a sua reposição) e a forma de disposição e tratamento dos seus resíduos e efluentes. Uma análise da United Nations Environment Programme (UNEP) ou Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente sobre os grandes problemas mundiais da atualidade em relação ao ambiente levantou 12 grandes dificuldades que preocupam pesquisadores, administradores e gerentes da área ambiental, são elas: 1. Crescimento demográfico rápido: Mesmo considerando que a taxa de fecundidade das mulheres está diminuindo nos países desenvolvidos, o crescimento demográfico aliado ao desenvolvimento tecnológico acelera a pressão sobre os sistemas e recursos naturais, e em geral traz como consequência, mais impactos ambientais, em razão do aumento na produção industrial e aos padrões de consumo. 8 2. Urbanização acelerada: além do rápido crescimento demográfico, a aglomeração de população em áreas urbanas está gerando grandes centros com 15 milhões de habitantes ou mais. Esses centros de alta densidade populacional demandam maiores recursos, energia e infraestrutura, além de criarem problemas complexos de caráter ambiental, econômico e principalmente social. TABELA- VARIAÇÃO DO CRESCIMENTO POPULACIONAL ESTIMADO EM 1992, PARA O PERÍODO DE 1965 A 2025 FONTE: Sebrae, 2004. 3. Desmatamento: a taxa anual de desmatamento das florestas, especialmente das tropicais, ocasiona diversos problemas como erosão, diminuição da produtividade dos solos, perda de biodiversidade, assoreamento de corpos hídricos, etc. 4. Poluição marinha: a poluição marinha está se agravando cada vez mais devido a: descargas de esgotos domésticos e industriais, por meio de emissários submarinos, desastres ecológicos de grandes proporções, como naufrágio de petroleiros, acúmulo de metais pesados no sedimento marinho nas regiões costeiras e estuários, perda de biodiversidade (exemplo: espécies frágeis de corais), poluição térmica de efluentes de usinas nucleares, etc. 5. Poluição do ar e do solo: ocasionada principalmente pelas indústrias, agroindústria e automóveis, por meio de: emissões atmosféricas das indústrias, disposição inadequada de resíduos sólidos (exemplo: lixões) e de resíduos 9 industriais que causam poluição do solo, acúmulo de aerossóis na atmosfera, provenientes da poluição veicular e industrial, contaminação do solo por pesticidas e herbicidas, etc. 6. Poluição e eutrofização de águas interiores – rios, lagos e represas: a poluição orgânica proveniente dos centros urbanos e atividades agropecuárias gera uma variedade de efeitos sobre os recursos hídricos continentais, os quais são fundamentais para o abastecimento público das populações. Essa pressão resulta na deterioração da qualidade da água, causada pelo fenômeno da eutrofização, acúmulo de metais pesados no sedimento, alterações no estoque pesqueiro e geralmente inviabiliza alguns dos usos múltiplos dos recursos hídricos. 7. Perda da diversidade genética: o desmatamento e outros problemas ambientais acarretam perda de biodiversidade, ou seja, em extinção de espécies e perda da variabilidade da flora e da fauna. A biodiversidade e seus recursos genéticos são fundamentais para futuros desenvolvimentos tecnológicos. 8. Efeitos de grandes obras civis: a construção de obras civis de grande porte, como represas de usinas hidrelétricas, portos e canais, gera impactos consideráveis e difíceis de mensurar sobre sistemas aquáticos e terrestres. 9. Alteração global do clima: o aumento da concentração dos gases estufa na troposfera terrestre (primeira camada da atmosfera) e de partículas de poluentes está causando um fenômeno conhecido como aquecimento global, que é o aumento da temperatura do planeta, devido à maior retenção da radiação infravermelha térmica na atmosfera. Cada grau Celsius de aumento da temperatura terrestre irá trazer consequências diferentes e estas são acumulativas. Segundo o 2º relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), apenas 1ºC a mais já é suficiente para derreter as geleiras de topos de montanha do mundo todo, comprometendo abastecimentos locais de água, e se o aumento chegar a 4ºC estima-se que até 3,2 bilhões de pessoas poderão sofrer com a falta d’água e que a subida do nível do mar irá ameaçar a existência de cidades costeiras em todo o planeta. As previsões de aquecimento para o fim deste século estimam entre 1,8ºC e 4ºC a mais na média da temperatura mundial. 10. Aumento progressivo das necessidades energéticas e suas consequências ambientais: o aumento da demanda energética devido ao crescimento populacional, urbanização e crescente desenvolvimento tecnológico 10 geram a necessidade da construção de novas usinas hidrelétricas e termelétricas, grandes e pequenas usinas nucleares, etc. E quanto maior a utilização de combustíveis fósseis (termelétricas, carvão mineral) mais gases de efeito estufa são lançados na atmosfera. Outros tipos de matrizes energéticas como hidrelétricas e usinas nucleares possuem impactos ambientais associados à sua construção e operação (exemplo: falta de tratamento para os resíduos nucleares). 11. Produção de alimentos e agricultura: a agricultura de alta produção é uma grande consumidora de energia, de pesticidas e de fertilizantes. A expansão das fronteiras agrícolas aumenta as taxas de desmatamento e perda de biodiversidade. 12. Falta de saneamento básico: principalmente nos países subdesenvolvidos, a falta de saneamento básico é um problema crucial devido às inter-relações entre doenças de veiculação hídrica, distribuição de vetores, expectativa de vida adulta e taxa de mortalidade infantil. E também pela poluição orgânica gerada pelo aporte de esgotos domésticos e drenagem pluvial em corpos d’água devido à falta de infraestrutura adequada e a lançamentos irregulares. Dentre os problemas ambientais que afetam o Brasil, podemos listar os mais críticos: 1. Desmatamento, que acarreta em perda de Biodiversidade; 2. Erosão devido a desmatamento e manejo inadequado do solo na agricultura e pecuária; 3. Poluição das águas e solos devido à falta de saneamento básico nas áreas urbanas e rurais; 4. Falta de políticas de gerenciamento de resíduos sólidos nas áreas urbanas, gerando “lixões”; 5. Poluição industrial. No entanto, a partir da década de 70 a humanidade começou a tomar consciência dos seus impactos sobre a natureza em virtude, principalmente, às consequências econômicas que as reações da natureza a esses impactos geravam, como mais gastos com saúde pública. Isso levou ao surgimento de uma nova abordagem de desenvolvimento econômico conciliatório com a preservação ambiental. Surgiu assim o conceito de desenvolvimento sustentável. 11 Desenvolvimento Sustentável A expressão “Desenvolvimento Sustentável” foi criada em 1987 com a publicação do Relatório Brundtland, intitulado “Nosso futuro comum”, pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas. E em 1992, na Conferência Mundial sobre Meio Ambiente no Rio de Janeiro (Rio-92), ao assinarem a “Agenda 21” quase 200 países firmaram um compromisso de busca coletiva por um mundo sustentável do ponto de vista ecológico e socioeconômico, ou seja, atingir a sustentabilidade passou a ser o maior desafio para a humanidade no séculoXXI. Para alcançar a sustentabilidade é necessário primeiro que o desenvolvimento da sociedade seja sustentável. Assim surgiu o conceito de Desenvolvimento Sustentável, que é definido como o desenvolvimento que “atende às necessidades das presentes gerações sem prejudicar o atendimento das necessidades das gerações futuras”. O desenvolvimento sustentável não consiste apenas na busca de um novo modelo de desenvolvimento aliado à conservação do meio ambiente, mas sim na busca pelo desenvolvimento que seja ao mesmo tempo ambientalmente adequado, economicamente viável e socialmente justo, estes três fatores formam o triângulo da sustentabilidade. TRIÂNGULO DA SUSTENTABILIDADE 12 FONTE: Ecoesfera Empreendimentos Sustentáveis, 2008. O conceito de Desenvolvimento Sustentável parece certamente um objetivo utópico e inatingível, pois envolve uma mudança de comportamento em toda a sociedade, afinal está diretamente associado ao modo como trabalhamos, produzimos, vivemos nossas vidas e ao modo com que os países e instituições conduzem suas políticas. Mas as pressões de consumidores e organizações sobre as cadeias produtivas, e dos indivíduos sobre os governos e instituições, vêm gerando modelos de desenvolvimento, sistemas de gestão e ferramentas, como a auditoria ambiental, que buscam compatibilizar o desenvolvimento econômico, o social e o meio ambiente. Há dois conceitos muito utilizados na área ambiental e diretamente relacionados com os pressupostos do desenvolvimento sustentável: preservação e conservação; são conceitos distintos, mas erroneamente são empregados com o mesmo significado. Conservação implica uso racional de um recurso qualquer, ou seja, em adotar um manejo de forma a obter rendimentos garantindo a autossustentação do meio ambiente explorado. Já preservação apresenta um sentido mais restrito, significando a ação de apenas proteger um ecossistema ou recurso natural de dano ou degradação, ou seja, não utilizá-lo, mesmo que racionalmente e de modo planejado. Gestão Ambiental A gestão ambiental pode ser entendida como um processo adaptativo e contínuo, por intermédio do qual as organizações definem seus objetivos e metas relativos à proteção do meio ambiente, à saúde de seus empregados e aos seus impactos sobre clientes e comunidades, além de selecionar estratégias e meios para atingir estes objetivos. Os sistemas de gestão ambiental podem ser aplicados a qualquer atividade econômica, pública ou privada, principalmente nos empreendimentos potencialmente poluidores, como indústrias e agroindústrias, pois esse sistema possibilita que a organização controle e minimize os riscos ambientais das suas 13 atividades. A gestão ambiental é um processo contínuo, ou seja, envolve constante avaliação da interação da empresa com o meio ambiente externo. Assim, os objetivos e metas podem ser redefinidos várias vezes durante o processo. MEIO AMBIENTE EXTERNO À ORGANIZAÇÃO FONTE: Fiesp, 2007. A gestão ambiental integra em seu significado: 1. A política ambiental, que é o conjunto consistente de princípios doutrinários que conformam as aspirações sociais e/ou governamentais no que concerne à regulamentação ou modificação no uso, controle, proteção e conservação do ambiente. Uma estratégia ambiental adequada, expressa por meio de uma política ambiental. É o marco inicial para que as empresas considerem os aspectos ambientais das suas operações. 2. O planejamento ambiental, que é o estudo prospectivo que visa a adequação do uso, controle e proteção do ambiente às aspirações sociais e/ou governamentais expressas formal ou informalmente em uma política ambiental, por meio da coordenação, compatibilização, articulação e implantação de projetos de intervenções estruturais e não estruturais; 3. O gerenciamento ambiental, que é o conjunto de ações destinado a regular o uso, controle, proteção e conservação do meio ambiente, e a avaliar a 14 conformidade da situação corrente com os princípios doutrinários estabelecidos pela política ambiental. Observa-se assim que o gerenciamento ambiental, um conceito muito confundido com gestão ambiental, na verdade é parte integrante da gestão ambiental. A gestão ambiental é uma abordagem sistêmica de preocupação com os aspectos ambientais em todos os processos de uma organização (figura 6), incluindo até os aspectos de segurança e saúde ocupacional dos funcionários da operação. A figura 6 demonstra como o meio ambiente é um assunto universal em uma empresa, abrangendo um universo muito mais amplo do que a princípio se parece. Por ser um processo adaptativo e contínuo, a gestão ambiental busca a melhoria contínua, ou seja, é um processo de inovação incremental, focada e contínua, envolvendo toda a organização, que visa trazer uma contribuição significativa para a empresa por meio de pequenos ciclos sistemáticos de mudanças. Uma das definições para melhoria contínua é a busca pela excelência e por melhores resultados e níveis de desempenho de processos, produtos e atividades da empresa. A figura demonstra como a melhoria contínua é intrínseca a todas as etapas do processo da gestão ambiental por intermédio do ciclo PDCA. Assim, após o estabelecimento da Política Ambiental da organização, segue-se o Planejamento das Ações a serem tomadas (P), sua implementação e Operação (D), o Monitoramento dos resultados (C) e consequentes Ações Corretivas (A). 15 FIGURA - LIGAÇÃO DA ÁREA DE MEIO AMBIENTE COM AS DEMAIS ÁREAS FUNCIONAIS DE UMA ORGANIZAÇÃO FONTE: Adaptado de Seiffert, 2005. 16 16 A MELHORIA CONTÍNUA EM TODAS AS ETAPAS DA GESTÃO AMBIENTAL FONTE: Fiesp, 2007. O que significa ciclo PDCA? Na implantação de um sistema de gestão ambiental e em sua reavaliação periódica aplica-se o ciclo PDCA. Este ciclo possui quatro fases específicas: 1 – Plan: etapa de planejamento, quando são definidas as metas e métodos para desenvolvimento do plano de execução; 2 – Do: etapa de execução propriamente dita das ações e medição dos resultados; 3 – Check: etapa de avaliação, que consiste na comparação dos resultados obtidos com as metas planejadas na fase P; 17 4 – Act: etapa de ação, que envolve buscar soluções para eliminar problemas que tenham sido identificados na etapa de avaliação. Após a escolha da solução mais efetiva, recomeça o ciclo com o planejamento de sua implantação (P). Se a etapa de avaliação não identifica problemas, novas metas devem ser estabelecidas e o ciclo novamente recomeçado. DETALHAMENTO DAS ETAPAS DO CICLO PDCA FONTE: Sebrae, 2004. Cada volta do ciclo PDCA deve sempre gerar um progresso, mesmo pequeno, assim cada mudança dá início a um novo ciclo que tem como base o ciclo anterior. Ou seja, o ciclo PDCA é uma espiral que promove a Melhoria Contínua (figura 9). ESPIRAL DO CICLO PDCA QUE CARACTERIZA SUA MELHORIA CONTÍNUA 18 FONTE: Sebrae, 2004. Objetivos de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA): Estabelecer uma Política Ambiental; Identificar e controlar aspectos e impactos ambientais; Definir e documentar tarefas, responsabilidades, autoridades e procedimentos; Identificar, monitorar e cumprir requisitos legais (a empresa precisa atender todas as exigências da legislação ambiental em vigor, como o licenciamento ambiental); Promover comunicação entre os setores da empresa e com os clientes; Estabelecer objetivos, metas e medir desempenho ambiental; Treinar colaboradores internos (funcionários) e parceiros; Atender e evitar situações de emergência; Identificar oportunidades de negócios ambientais; Integrar o SGA com outros sistemas existentes e; Promover melhoria contínua. Para cumprir estes objetivos, um Sistema de Gestão Ambiental possui alguns elementos ou ferramentas básicas: Política Ambiental; 19 Implantação do Programa de Gestão Ambiental considerando a avaliação ambiental inicial da empresa (isto é, os programas e práticas ambientais já existentes); Definir a estrutura organizacional e área corporativa que responderá pela gestão ambiental; Integração da gestão ambiental com as várias atividades da organização; Monitoramento, medição e registros dos aspectos ambientais; Ações corretivas e preventivas; Auditorias ambientais; Análises críticas do Sistema de Gestão Ambiental; Treinamento dos funcionários e comunicação interna entre os diversos setores da empresa; Comunicação com clientes e fornecedores; Analisando os itens acima, podemos observar que a auditoria ambiental é uma ferramenta para assegurar que política ambiental e os objetivos ambientais da empresa sejam atingidos, e que também ajuda a controlar e aperfeiçoar o desempenho ambiental de acordo com a política ambiental da companhia. FIGURA- COMPONENTES DA GESTÃO AMBIENTAL E SUAS RELAÇÕES FONTE: Sebrae, 2004. 20 De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE (2004) existem cinco itens que procedimentos simples de gestão ambiental devem enfocar na busca de melhoria do desempenho ambiental e de aspectos econômicos de uma companhia. São os cinco menos que são mais: 1) Minimização do desperdício de água na produção; 2) Minimização do desperdício de energia por unidade de produção; 3) Minimização das perdas de matéria-prima por unidade de produção; 4) Minimização da geração de resíduos; 5) Minimização da poluição. Assim, dentro de um contexto organizacional a gestão ambiental abrange o conceito de ecoeficiência: produzir mais com o menor impacto ambiental possível, ou seja, reduzindo o consumo de recursos naturais e a geração de resíduos; e é uma forma de fazer com que as organizações evitem problemas com multas ambientais ou inadimplência legal, pois preconiza o respeito a toda a legislação vigente. Uma das grandes razões para a adoção da prática de ecoeficiência são os ganhos financeiros envolvidos, pois se reduzem as perdas na cadeia produtiva, principalmente as perdas de matéria-prima. Afinal, por que implementar Sistemas de Gestão Ambiental? A crescente conscientização ambiental da sociedade aumentou a pressão sobre a comunidade empresarial de que os padrões de produção e consumo correntes são insustentáveis. Assim, as empresas entenderam que, para continuarem funcionando, terão que integrar, cada vez mais, componentes ambientais às suas estratégias comerciais e seu planejamento estratégico. Atualmente as empresas que oferecem mais informações sobre o seu desempenho ambiental melhoram as relações com acionistas, fornecedores e consumidores e isso representa uma vantagem de mercado. Normalmente a implementação de um sistema de gestão ambiental é um processo voluntário. O grande motivo para a implantação desse sistema é que o meio ambiente representa ao mesmo tempo riscos e oportunidades. Para que uma empresa seja bemsucedida ela deve controlar os riscos e desenvolver as oportunidades. Ao optar pela implantação de um SGA, as companhias não recebem apenas benefícios financeiros, como economia de matéria-prima, menores gastos com 21 resíduos, aumento na eficiência na produção e vantagens de mercado, mas sim, estão também diminuindo os riscos de não gerenciar adequadamente seus aspectos ambientais, como acidentes, multas por descumprimento da legislação ambiental, incapacidade de obter crédito bancário e outros investimentos de capitais, e perda de mercados por incapacidade competitiva. MOTIVOS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL FONTE: Sebrae, 2004. Benefícios da adoção de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA): Conformidade legal, evita: Penalidades; Indenizações civis e processo criminal; Menor tolerância das autoridades; Paralisação das atividades; Mudança de local. Melhoria da imagem da companhia (reputação), pois: Os consumidores preferem produtos ecologicamente corretos, e o mercado reconhece e valoriza organizações ambientalmente corretas cada vez mais; Instituições financeiras e seguradoras avaliam o desempenho ambiental das empresas; Transparência e empresas “limpas” são bem vistas. Melhoria da competitividade (vantagem de mercado), pois: Compromisso ambiental é prática básica no comércio internacional; 22 Consumidores mais influentes começam a exigir critérios ambientais; Padrões internacionais mais rigorosos para acesso a mercados; Com a globalização da economia mundial e a criação de grandes blocos internacionais, como a União Europeia, o cuidado com o meio ambiente passa a ser um fator estratégico. Redução de custos, devido à: Minimização dos desperdícios de matéria-prima e insumos; Eliminação de risco de passivo ambiental e despesas dele decorrentes. Conformidade junto à matriz e/ou clientes; Prevenir problemas X corrigir problemas (minimiza despesas com remediação e multas); Melhoria contínua (estar sempre um passo adiante dos concorrentes). Concluindo, cuidado com meio ambiente não é apenas sinônimo de despesa, pois o gerenciamento ambiental também pode significar economia de insumos, maior valor agregado ao produto, novas oportunidades de negócios e boa reputação para as empresas identificadas como ecologicamente corretas. Normas ISO 14.000 e a Gestão Ambiental NORMAS ISO 14.000: O compêndio de normas ISO 14.000 é um pacote internacional de regulamentações de adesão voluntária para a certificação de sistemas de gestão ambiental (SGA) e outras ações de caráter ambiental. A adoção e certificação de normas ISO 14.000 por uma organização demonstra sua preocupação com o meio ambiente, pois obriga que a empresa assuma posturas proativas com relação às questões ambientais e tenha capacidade técnica para se adaptar às mudanças que o mercado exigir. A Série de Normas ISO 14.000 foi elaborada e publicada internacionalmente em 1996 pela ISSO, sigla em inglês para “Organização Internacional de Normalização”. Esta organização reúne organizações de normalização de mais de 100 países do mundo, entre as quais a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) do Brasil. A área da ISO responsável pela 23 Série ISO 14.000 é o Comitê Técnico Ambiental 207, chamado ISO/TC207, que foi fundado em 1993, o comitê correspondente no Brasil é o de Gestão Ambiental, o CB-38 da ABNT. Estas normas foram traduzidas para o português pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e no Brasil são chamadas de família de normas NBR ISO 14.000. CERTIFICADO: É o produto da Certificação, uma declaração formal e explícita de “autenticidade”, de que a empresa está atuando dentro dos padrões necessários pela norma para obter a certificação. É válido apenas por um período específico de tempo. Para renovação do certificado a empresa precisa demonstrar seu comprometimento com a melhoria contínua. EXEMPLO DE CERTIFICADO ISO 14001:2004 EMITIDO EM INGLÊS PARA UMA EMPRESA DO SETOR AERONÁUTICO FONTE: Fiesp, 2007. As normas ISO 14.000 não buscam estabelecer padrões e parâmetros de desempenho ambiental mínimo, os quais devem ser preconizados pela legislação ambiental local, mas sim padronizar processos. Elas apresentam os elementos necessários à construção de um sistema que alcance as metas ambientais estabelecidas pela organização. O objetivo do compêndio de normas ISO 14000 é estabeleceruma base comum para uma gestão ambiental mais uniforme, eficiente e 24 eficaz, assim será mais fácil confiar na autenticidade das declarações de processos certificados por estas normas. TABELA - COMPÊNDIO DE NORMAS NBR ISO 14.000 FONTE: Sebrae-SC, 2004. Podemos observar na tabela acima que dentro do compêndio de normas ISO 14.000, as normas ISO 14.010, 14.011 e 14.012 tratam exclusivamente de auditorias ambientais, seus princípios gerais, procedimentos e critérios para a qualificação de auditores. A norma ISO 14.001 define os requisitos mínimos para que um sistema de gestão ambiental (SGA) seja eficaz e as etapas para sua implantação como: estabelecimento de uma política ambiental adequada à realidade da empresa, FAMÍLIA DE NORMAS NBR ISO 14.000 NORMAS PASSÍVEIS DE AVALIAÇÃO DE CONFORMIDADE ISO 14.001 Sistema de Gestão Ambiental - Especificações para Implantação e Guia ISO 14.040 Análise do Ciclo de Vida - Princípios Gerais NORMAS AUXILIARES ISO 14.004 Sistema de Gestão Ambiental (SGA) - Diretrizes Gerais ISO 14.010 Guias para Auditoria Ambiental - Diretrizes Gerais ISO 14.011 Diretrizes para Auditoria Ambiental e Procedimentos para Auditorias ISO 14.012 Diretrizes para Auditoria Ambiental - Critérios de Qualificação de Auditores ISO 14.020 Rotulagem Ambiental - Princípios Básicos ISO 14.021 Rotulagem Ambiental - Termos e Definições ISO 14.022 Rotulagem Ambiental - Simbologia para Rótulos ISO 14.023 Rotulagem Ambiental - Testes e Metodologias de Verificação ISO 14.031 Avaliação da Performance Ambiental ISO 14.032 Avaliação da Performance Ambiental dos Sistemas de Operadores ISO 14.041 Análise do Ciclo de Vida – Inventário ISO 14.042 Análise do Ciclo de Vida - Análise dos Impactos ISO 14.043 Análise do Ciclo de Vida - Migração dos Impactos 25 planejamento, implementação e operação, avaliação, ações corretivas (ciclo PDCA) e auditoria ambiental. FIGURA - RESUMO DO CICLO DE UM SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL CERTIFICADO PELA ISO Observa-se que o ciclo PDCA é intrínseco ao processo FONTE: Sebrae, 2004. Atualmente, a certificação de um Sistema de Gestão Ambiental pela ISO 14.001 é um requisito essencial para as empresas que desejam competitividade em um contexto de mercado globalizado por meio da melhoria de seu desempenho ambiental, e pode ser aplicada a qualquer atividade econômica, fabril ou prestadora de serviços. Em 2004, a norma internacional de Sistema de Gestão Ambiental ISO 14.001 foi revisada e atualizada e já está publicada em português pela ABNT, como NBR ISO 14001:2004. A certificação, hoje, é um fator determinante de competitividade não só para empresas de grande porte, mas para as de médio e pequeno porte também. No contexto internacional, apesar das normas ISO 14.000 serem de adesão voluntária pelas organizações, elas são consideradas importantes instrumentos de controle da qualidade ambiental. 26 26 Nas páginas a seguir estão figuras com gráficos e tabelas extraídos do Anuário 2008 - Análise Gestão Ambiental, uma publicação da Análise Editorial, que compila as práticas ambientais das maiores empresas do Brasil. O objetivo destes extratos do anuário é demonstrar a realidade atual da gestão e certificação ambiental no país. O anuário resume os dados coletados em 2008 e compara com os dados anteriores de 2007. Observe com atenção os dados dos extratos abaixo, principalmente aqueles destacados em vermelho. Eles demonstram como os conceitos sobre gestão ambiental adquiridos nas seções anteriores são aplicados na prática. A figura demonstra a amostra utilizada para totalização dos resultados do anuário. No total, 649 empresas de diversos setores econômicos foram entrevistadas. Observe que os ramos de atividades mais entrevistados foram: alimentos, metalurgia e siderurgia, química e petroquímica, e de veículos e peças; ou seja, indústrias com características de alto potencial poluidor. FIGURA – QUALIFICAÇÃO DA AMOSTRA TOTALIZADA (649 EMPRESAS) DO ANUÁRIO 2008 - ANÁLISE GESTÃO AMBIENTAL 27 FONTE: Adaptado de Análise Gestão Ambiental, 2008. FIGURA - RESULTADOS DE PRÁTICAS E PROCEDIMENTOS DO ANUÁRIO 2008 - ANÁLISE GESTÃO AMBIENTAL 28 FONTE: Adaptado de Análise Gestão Ambiental, 2008. FIGURA - CONTINUAÇÃO DOS RESULTADOS DE PRÁTICAS E PROCEDIMENTOS DO ANUÁRIO 2008 - ANÁLISE GESTÃO AMBIENTAL 28 29 FONTE: Adaptado de Análise Gestão Ambiental, 2008. FIGURA – TOTALIZAÇÃO POR SETOR DOS RESULTADOS DE PRÁTICAS E PROCEDIMENTOS DO ANUÁRIO 2008 ANÁLISE GESTÃO AMBIENTAL 29 30 FONTE: Adaptado de Análise Gestão Ambiental, 2008. Observa-se nas figuras que a principal norma aplicada além da ISO 14.001 (sobre SGA) é a norma de Auditorias Ambientais, e o setor que mais a aplica é o Industrial. TOTALIZAÇÃO POR SETOR DOS RESULTADOS DE ORGANIZAÇÃO E RESPONSABILIDADES PELA GESTÃO AMBIENTAL DO ANUÁRIO 2008 - ANÁLISE GESTÃO 30 31 RESULTADOS RELATIVOS À TREINAMENTO E POLÍTICAS DE DIVULGAÇÃO E INFORMAÇÃO DO ANUÁRIO 2008 - ANÁLISE GESTÃO AMBIENTAL 31 AMBIENTAL FONTE: Adaptado de Análise Gestão Ambiental, 2008. 32 As informações iniciais da figura, relativas ao treinamento, demonstram que o treinamento dos funcionários é essencial nas implantações de sistemas de gestão ambiental e de outras ações ambientais. Aproximadamente 90% das empresas entrevistadas afirmam realizar treinamentos relativos à gestão e riscos ambientais. 32 FONTE: Adaptado de Análise Gestão Ambiental, 2008. 33 Já os dados da figura sobre as políticas de divulgação e informação demonstram a veracidade da informação de que as organizações que possuem programas ambientais procuram dar publicidade das suas ações visando marketing, vantagens de mercado e melhoria da imagem institucional, pois 80% das empresas pesquisadas afirmam possuir programa de comunicação das suas ações ambientais. Observando o quadro da figura 19, que assegura que 49 empresas gastaram R$ 7,4 bilhões de reais nos últimos três anos com passivos ambientais, isto é, remediando os seus impactos negativos sobre o meio ambiente, podemos ter uma ideia dos altos benefícios financeiros que podem ser proporcionados pela implantação de sistemas de gestão ambiental, já que os mesmos visam principalmente impedir a ocorrência de passivos ambientais. O QUE É AUDITORIA AMBIENTAL Atualmente a auditoria ambiental é considerada uma das ferramentas da gestão ambiental de mais destaque. A competição internacional e o processo acelerado de fusões e aquisições de empresas passaram a requerer verificações rigorosas, para que passivos ambientais existentes pudessem ser avaliados e seu valor levado em consideração nos negócios, criando assim a necessidade de auditorias ambientais. Além de necessitarem de grandes custos para sua remediação, passivos e danos ambientais pode ferir a imagem de uma empresa, o que levou as organizações a estabelecerem processos sistemáticos de verificação dos cuidados com o meio ambiente, como a auditoria ambiental, em suas matrizes e filiais. A Norma NBR ISO 14.010 define Auditoria Ambiental como o “processo sistemático e documentado de verificação, executado para obter e avaliar, de forma objetiva, evidências de auditoria para determinar se as atividades, eventos, sistemas de gestão e condições ambientais específicos ou as informações relacionadas a estes estão em conformidade com os critérios de auditoria e para comunicar os resultados deste processo ao cliente”. Resumindo e simplificando o conceito acima temos que a Auditoria Ambiental é “um processo sistemático e formal de verificação, por uma parte auditora,se a conduta ambiental e/ou desempenho ambiental de uma entidade auditada atendem a um conjunto de critérios especificados”. (PHILIPPI JR. & AGUIAR, 2004). 34 A auditoria ambiental é o retrato do desempenho ambiental da empresa em um determinado momento, ou seja, verifica se até aquele ponto a empresa está atendendo os padrões ambientais estabelecidos pela legislação ambiental vigente. Ou seja, a auditoria ambiental visa principalmente verificar o sistema de gestão ambiental de uma organização. É uma ferramenta importante que deve ser usada pelas empresas para controlar a observância a critérios e medidas estipulados com o objetivo de evitar a degradação ambiental, que em geral decorre quando há falta ou pouco controle do impacto ambiental das operações. A auditoria ambiental identifica áreas de risco e problemas de infração ou desvio no cumprimento das normas padronizadas, apontando tanto os pontos fortes da operação quanto os fracos. Assim, é interessante que a operação candidata à certificação ambiental estude e conheça mais sobre os benefícios e exigências da ferramenta auditoria ambiental antes da implantação de um sistema de gestão ambiental. É importante diferenciar que a auditoria ambiental é uma ferramenta de gestão ambiental e não um instrumento de controle ambiental, pois não estabelece as normas e padrões a serem seguidos e a tecnologia necessária para tal, mas sim busca avaliar se as normas existentes estão sendo observadas pela operação, se a empresa possui uma política ambiental e se é capaz de melhorar o seu desempenho ambiental constantemente (melhoria contínua). Assim, o sistema de gestão ambiental passou a sistematizar a auditoria ambiental como a prática que permite melhoria contínua, pois sua metodologia permite identificar práticas que não estão em conformidade (práticas não adequadas também chamadas comumente de práticas não conformes) e quais as medidas necessárias para corrigir esses erros. 35 FIGURA - CICLO DE MELHORIA CONTÍNUA GERADO PELAS AUDITORIAS FONTE: Philippi Jr. & Aguiar, 2004. A classificação de uma auditoria ambiental é definida pelo seu objetivo. Nos próximos módulos serão detalhados todos os diversos tipos de auditorias ambientais para diferentes necessidades, tais como: 1. Auditoria Ambiental de certificação; 2. Auditoria Ambiental de acompanhamento; 3. Auditoria Ambiental de verificação de correções (ou de follow-up); 4. Due dilligence; 5. Auditoria de descomissionamento (decomissioning); 6. Auditoria de desempenho ambiental; 7. Auditoria pontual. 36 HISTÓRICO DA AUDITORIA AMBIENTAL HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL NO MUNDO FONTE: Sebrae, 2004. Acompanhando a evolução da gestão ambiental no mundo, a partir da década de 1970 as indústrias começaram a se preocupar com a aplicação e a melhoria das tecnologias para tratamento das emissões de poluentes. Nessa época, diversos processos, em especial na indústria química, petroquímica e de energia, estavam sujeitos a acidentes graves, como vazamentos tóxicos, explosões e incêndios, e esses acidentes ocorriam e geravam prejuízos não só ambientais, mas também sociais e econômicos. Assim, a auditoria ambiental surgiu nos Estados Unidos no final da década de 70, como obrigação imposta por agências regulamentadoras após acidentes graves. A primeira destas exigências foi aplicada em 1978 para a Allied Chemical. A empresa então estabeleceu um programa corporativo de auditorias de meio ambiente, saúde e segurança ocupacional, em consequência de um acidente ocorrido em 1977. Outros acidentes que geraram auditorias ocorreram em 1979, com a United States Steel, e com a Occidental Petroleum, em 1980. Além desses casos, outros acontecimentos foram os que mais influenciaram na adoção de Programas de Auditorias Ambientais, como: 37 1- O vazamento radioativo na usina de Three Mile Island, nos EUA, em 1979; 2- E o vazamento de Isocianato de Metila na Fábrica da Union Carbide, em Bhopal, na Índia, em 1984 (quando mais de 2.000 pessoas morreram). Na mesma época muitas empresas também começaram a aplicar a auditoria ambiental para se prepararem para inspeções da Environmental Protection Agency - EPA (Agência de Proteção Ambiental – órgão governamental de controle ambiental americano) e/ou para melhorar suas relações com o poder público. Já na Europa, a auditoria ambiental começou a ser utilizada nas filiais de empresas norte-americanas por influência das suas matrizes. O primeiro registro de auditoria ambiental na Europa ocorreu na Holanda em 1985. Em seguida, a prática da auditoria passou a ser disseminada em outros países, como Inglaterra, Noruega e Suécia, também por influência de matrizes americanas. Mesmo que a prática da gestão e da auditoria ambiental tenha surgido na década de 70, foi apenas no início dos anos 90 que apareceram as primeiras normas para padronização dos métodos de implantação destes sistemas. Em 1992, no Reino Unido, surgiu a primeira norma de sistema de gestão ambiental normatizando a auditoria ambiental: a BS 7750 (BSI, 1994), baseada na BS 5770 de Sistema de Gestão da Qualidade. Em seguida, outros países, como França e Espanha, também criaram normas para a implantação de sistemas de gestão ambiental e condução de auditorias ambientais. Em 1995, entrou em vigor o Regulamento da Comunidade Econômica Europeia - CEE no 1.836/93, que trata do sistema de gestão e auditoria ambiental da União Europeia (Environmental Management and Auditing Scheme - EMAS). Em 2001 este sistema foi revisado e foi aberto para todos os setores econômicos, incluindo serviços públicos e privados. Uma comissão propôs revisar o regulamento novamente em 2008. A busca de uma normalização padronizada internacionalmente para a auditoria ambiental começou a ser discutida em 1991 com a criação do Strategic Advisory Group on Environment – Sage no âmbito da ISO - sigla em inglês para “Organização Internacional de Normalização”. O resultado dessa discussão foi a Série de Normas ISO 14.000, elaborada e publicada internacionalmente em 1996 por esta organização que reúne organizações de normalização de mais de 100 38 países do mundo, entre as quais a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), do Brasil. É importante lembrar que em 2004 a norma internacional para a certificação de Sistemas de Gestão Ambiental ISO 14.001 foi revisada e atualizada e já está publicada em português pela ABNT, como NBR ISO 14001:2004. Já no Brasil, a auditoria ambiental surgiu por meio da legislação de alguns estados e municípios no início da década de 90. Também na mesma época algumas filiais no país de empresas norte- americanas conduziram auditorias ambientais por exigência de suas matrizes. Atualmente no Brasil, a auditoria ambiental não é mais um procedimento restrito somente a filiais ou subsidiárias de empresas estrangeiras. No entanto, esta prática continua sendo mais aplicada em filiais de empresas estrangeiras e em empresas que apresentam algum vínculo mercadológico com o setor externo, principalmente nas que buscam maior competitividade no exterior. VANTAGENS E DESVANTAGENS EM APLICAR A AUDITORIA AMBIENTAL A auditoria ambiental pode ser entendida como uma ferramenta básica para indicar a saúde ambiental de uma empresa. Assim, quando a direção da empresa está comprometida com melhoria contínua e possui recursos disponíveis para corrigir as não conformidades detectadas, a auditoria ambiental permite obter benefícios como: Identificação e registro das práticas que estão conformes e não conformes com a legislação vigente; Identificação e registro das práticas que estão conformes e não conformes com a políticaambiental da empresa (caso haja uma); Conscientização da diretoria sobre as práticas não conformes da empresa e necessidades de mudanças, evitando surpresas e possibilitando planejamento de ações; Assessoria na implementação e melhoria da qualidade ambiental da empresa; 39 Assessoramento na alocação eficiente de recursos (financeiro, tecnológico e humano) segundo as necessidades de melhoria mais urgentes: priorização de investimentos; Avaliação, controle e redução do impacto ambiental gerado pela atividade; Identificação de passivos ambientais, existentes ou potenciais; Minimização dos resíduos gerados e dos recursos usados pela empresa, o que pode levar à diminuição de custos de produção; Produção de informações e dados organizados sobre o desempenho ambiental da empresa, que podem ser acessadas por investidores e clientes; Promoção de conscientização e educação ambiental dos empregados, além de melhorias à saúde ocupacional; Prevenção de acidentes e multas ambientais; Melhoria da imagem junto ao público, à comunidade e o setor público; Redução de conflitos com os órgãos públicos responsáveis pelo controle ambiental; Melhoria de posicionamento em mercados com requerimentos ambientais específicos, como para exportação. No entanto, existem desvantagens na aplicação da auditoria ambiental, como: Necessidade de recursos adicionais (financeiro, tecnológico e humano) para implementar os programas de melhoria; Possibilidade de ocorrer gasto expressivo de recursos para atender a melhoria das não conformidades detectadas; Falsa-sensação de segurança em relação à prevenção de acidentes e multas ambientais, caso a auditoria tenha sido conduzida de modo incompleto e de forma inexperiente; Possibilidade que a empresa sofra pressões de órgãos governamentais e grupos ambientais para demonstrar seus resultados de desempenho ambiental. 40 Uma vantagem externa proporcionada pela auditoria ambiental é que para o setor público e a sociedade sua aplicação pelas empresas, com a divulgação dos resultados e desempenho, é tida como um instrumento auxiliar dos órgãos ambientais na proteção do meio ambiente. AUDITORIA AMBIENTAL E LEGISLAÇÃO Um dos principais critérios a ser considerado na realização de auditorias ambientais é o efetivo cumprimento da legislação. O tipo de legislação ambiental a ser considerado é variável e irá depender do tipo de auditoria que está sendo realizado e do perfil de negócios da empresa. O levantamento, análise e identificação da legislação vigente aplicável às atividades da organização a ser auditada é uma etapa indispensável e imprescindível à execução da auditoria ambiental, pois a verificação do cumprimento da legislação federal, estadual e municipal é um dos seus principais objetivos. A auditoria ambiental ainda não é prevista pela legislação federal, existe apenas um projeto de lei no Congresso Nacional (Projeto de Lei nº 1.254/2003). No entanto, em alguns estados e municípios brasileiros ela já se encontra incorporada à legislação ambiental. No Rio de Janeiro a auditoria ambiental deve ser realizada anualmente e é exigida para refinarias, oleodutos e terminais de petróleo e seus derivados, instalações portuárias, instalações destinadas à estocagem de substâncias tóxicas e perigosas, unidades de tratamento de resíduos tóxicos ou perigosos e de esgoto doméstico, fontes térmicas e radioativas para geração de energia elétrica e para a instalação de indústrias petroquímicas, químicas, siderúrgicas e metalúrgicas (art. 5º da Lei nº 1.898/1991). TABELA - EXEMPLOS DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE AUDITORIA AMBIENTAL 41 Estado/Município Situação Lei no 10.627 de 16/01/1992 regulamentação Espírito Santo Lei no 4.802 de 02/08/1993 Regulamentada 3 anos Não Cita Santos (SP) Lei no 10.627 de 05/011/1991 Sem regulamentação 2 anos Externa São Sebastião (SP) Lei no 848 de 10/04/1992 Regulamentada 2 anos Externa Vitória (ES) Lei no 3.968 de 15/09/1993 Regulamentada 2 anos Externa FONTE: Adaptado de D’Avignon et al., 2001. Também no estado do Rio de Janeiro a Lei nº 1.898/1991, em seu artigo 1º, afirma que se denomina auditoria ambiental a realização de avaliações e estudos destinados a determinar: níveis efetivos ou potenciais de poluição ou de degradação ambiental, provocados por atividades de pessoas físicas ou jurídicas; condições de operação e de manutenção dos equipamentos e sistemas de controle da poluição; medidas a serem tomadas para restaurar o meio ambiente e proteger a saúde humana; Periodicidade Critérios para auditoria Federal Lei n o 9.966 de 28/04/2000 (portos, instalações portuárias, plataformas e instalações de apoio) Em vigor anos 2 Externa Rio de Janeiro Lei n o 1.898 de 26/11/1991 Regulamentada 1 ano Interna / Externa Minas Gerais Sem 3 anos Externa 42 capacitação dos responsáveis pela operação e manutenção dos sistemas, rotinas, instalações e equipamentos de proteção do meio ambiente e da saúde dos trabalhadores. Abaixo estão alguns artigos da Lei nº 1.898/1991 que ilustram a aplicação prática de conceitos vistos nas seções anteriores. Art. 6º - Sempre que constatadas quaisquer infrações deverão ser realizadas auditorias trimestrais até a correção das irregularidades, independentemente da aplicação de penalidade administrativas. Art. 7º - As diretrizes para a realização de auditorias ambientais em indústrias poderão incluir, entre outras, avaliações relacionadas aos seguintes aspectos: I - Impactos sobre o meio ambiente provocados pelas atividades de rotina; II - Avaliação de riscos de acidentes e dos planos de contingência para evacuação e proteção dos trabalhadores e da população situada na área de influência, quando necessária; III - Atendimento aos regulamentos e normas técnicas em vigor no que se refere aos aspectos mencionados nos Incisos I e II deste artigo. IV - Alternativas tecnológicas, inclusive de processo industrial, e sistemas de monitoração contínua disponíveis no Brasil e em outros países, para a redução dos níveis de emissão de poluentes; V - Saúde dos trabalhadores e da população vizinha. Art. 8º - Todos os documentos relacionados às auditorias ambientais, incluindo as diretrizes específicas e o currículo dos técnicos responsáveis por sua realização, serão acessíveis à consulta pública. Art. 9º - A realização de auditorias ambientais não exime as atividades efetiva ou potencialmente poluidoras ou causadoras de degradação ambiental do atendimento a outros requisitos da legislação em vigor. (Lei nº 1.898/1991 do Rio de Janeiro). Com o aumento da legislação ambiental que trata do tema constata-se a existência de conflitos e incompatibilidades entre os atos normativos, principalmente em relação aos seguintes aspectos: Definições; Objetivos; 43 Classificação dos tipos de auditoria; Tipologia das atividades a serem auditadas; Diretrizes e periodicidade das auditorias; Fases de execução do processo; Permitir a participação popular no processo (consulta pública) ou não; Relatório final e sua publicidade; Requisitos e exigências de qualificação de auditores ambientais; Responsabilidades e atuações dos órgãos ambientais; Infrações e sanções. Assim, são necessários estudos urgentes para harmonizar, compatibilizar e padronizar as exigências da legislação ambiental que regulamentam as auditorias ambientais. Principalmente quando as leis são aplicáveis a um mesmo local, exemplo: estados e municípios, ambos com legislações sobre o assunto, como Espírito Santo e Vitória (a capital do estado). AUDITORIA AMBIENTAL COMO INSTRUMENTODE GESTÃO EMPRESARIAL E POLÍTICA PÚBLICA DA EVOLUÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL NO MUNDO A auditoria ambiental é um processo que nasceu na iniciativa privada, mas que vem sendo gradativamente incorporado às políticas públicas como instrumento de gestão e controle ambiental. Na maioria dos estados a auditoria ambiental não é um instrumento obrigatório por lei, sendo de caráter voluntário, e mesmo assim devido às suas características próprias é um instrumento eficiente de auxílio à fiscalização pelos órgãos públicos de controle ambiental. No entanto, não se devem confundir as auditorias ambientais com outros processos de avaliação, como as fiscalizações realizadas pelos órgãos ambientais. A auditoria é um instrumento de gestão e melhoria contínua, não só uma inspeção de conformidade. As fiscalizações dos órgãos ambientais, por exemplo, em geral podem ser feitas sem aviso prévio e a companhia não pode recusar a visita, já as auditorias são programadas e voluntárias. Após a observação dos resultados da utilização sistemática da auditoria ambiental por algumas empresas, esta ferramenta passou a ser cogitada pelos 44 governos e órgãos ambientais como um instrumento eficaz de política pública para o controle e monitoramento das atividades potencialmente poluidoras. Nas políticas públicas as auditorias podem ser usadas como instrumentos voluntários ou como obrigatórios, geralmente dentro dos processos de licenciamento ambiental. Outro exemplo de auditoria como instrumento obrigatório ocorreu em 2000, em que após acidentes ocorridos nas instalações da Petrobrás o Conselho Nacional de Meio ambiente (CONAMA) exigiu auditorias ambientais por parte da empresa. Porém, no caso em que a empresa realize o processo de auditoria ambiental voluntariamente, que é geralmente o que ocorre, seria interessante que fosse previsto algum benefício em lei para estes empreendedores, como a simplificação do seu processo de licenciamento ambiental. Principalmente por que a auditoria ambiental é um instrumento que verifica todas as ações de controle ambiental e todos os aspectos ambientais de uma empresa, ou seja, é um procedimento que tem o mesmo objetivo que o Licenciamento Ambiental (observe os extratos abaixo). A Resolução normativa CONAMA nº 237/1997 define o licenciamento ambiental como o procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso. A licença ambiental é um documento com prazo de validade definido, em que o órgão ambiental estabelece regras, condições, restrições e medidas de controle ambiental a serem seguidas pela atividade que está sendo licenciada. Ao receber a Licença Ambiental o empreendedor assume os compromissos para a manutenção da qualidade ambiental do local em que se instala. PLANEJAMENTO E CONDUÇÃO DA AUDITORIA AMBIENTAL Antes de abordar os novos conteúdos sobre a aplicação de uma auditoria ambiental é importante relembrarmos alguns conceitos apresentados anteriormente. 45 CONCEITOS Auditoria A auditoria é um instrumento de gestão que pode ser definido como o processo de exame e/ou avaliação independente que tem o objetivo de identificar se uma determinada operação cumpre certos requisitos e critérios estabelecidos. Ou seja, são características importantes dos processos de auditoria: 1) O cliente que será auditado e que paga pelo processo; 2) O profissional auditor, que conduz a auditoria; 3) A auditoria é independente, só pode ser realizada por pessoas não envolvidas com a unidade auditada; 4) O objetivo, o escopo e o tipo de auditoria que irão definir o que será auditado. Para que uma auditoria seja bem-sucedida ela deve conter algumas características chaves: FIGURA - CARACTERÍSTICAS CHAVES DA AUDITORIA Auditoria Ambiental 46 No módulo anterior já abordamos a definição de auditoria ambiental, no entanto, devido aos conteúdos novos que serão apresentados a seguir é necessário reforçar o mesmo conceito. O artigo 1º da Lei Estadual do Paraná nº 13.448 de 11/01/2002, que regulamenta a auditoria ambiental neste estado, traz uma definição mais atual e completa para este conceito: Art. 1º - Para os efeitos desta lei, denomina-se Auditoria Ambiental Compulsória a realização de avaliações e estudos destinados a verificar: I - o cumprimento das Normas Legais Ambientais em vigor; II -os níveis efetivos ou potenciais de poluição ou de degradação ambiental por atividades de pessoas físicas ou jurídicas; III -as condições de operação e de manutenção dos equipamentos e sistemas de controle de poluição; IV -as medidas necessárias para assegurar a proteção do meio ambiente, saúde humana e minimizar impactos negativos e recuperar o meio ambiente. Por meio da leitura do conceito acima podemos perceber que existe uma série de problemas e riscos ambientais da operação que um programa de auditoria ambiental deve identificar, desde a parte da operação e dos processos fabris até relacionados à exposição ocupacional e a segurança dos funcionários. Assim, existe uma evolução natural de um programa de auditoria ambiental: 1. Em um primeiro estágio a auditoria ambiental visa identificar os problemas, as não conformidades e corrigi-los; 2. No segundo estágio a auditoria apresenta os pontos a melhorar para garantir que haja conformidade com a política ambiental da empresa; 3. Já no terceiro estágio a auditoria verifica se a gestão ambiental da empresa está condizente com um desempenho ambiental considerado “bom”. FIGURA – EVOLUÇÃO NATURAL DE UM PROGRAMA DE AUDITORIA AMBIENTAL 47 FONTE: D’Avignon et al., 2001. Lembrando que a auditoria ambiental é um instrumento para avaliar a gestão ambiental de uma operação, mas não a substitui, e os seus resultados devem ser motivadores de melhoria contínua para o sistema de gestão ambiental e para a operação. Auditoria Ambiental Compulsória Em geral, os países desenvolvidos, como os Estados Unidos e Canadá, adotam a auditoria ambiental como uma atividade eminentemente voluntária. Já no Brasil, em sentido oposto a essa tendência mundial, está crescendo o número de legislações que objetivam tornar a auditoria ambiental um procedimento obrigatório para diversos setores industriais e empresariais, principalmente os que desenvolvem atividades com alto potencial poluidor. Essa auditoria obrigatória por lei é chamada de auditoria ambiental compulsória e é um tipo específico de auditoria ambiental. Na auditoria ambiental compulsória os dados coletados são divulgados para que o estado e a sociedade tenham controle dos aspectos ambientais e riscos da atividade. Os órgãos públicos são responsáveis por estabelecer os critérios e formas de execução destas 48 auditorias e as empresas são responsáveis pela sua realização, e inclusive pelos custos decorrentes. Assim, este tipo de auditoria também é chamado de auditoria pública, pois é utilizada como instrumento de controle pelo poder público. Atualmente, o setor econômico, principalmente o industrial, faz forte pressão política contra as legislações que obrigam as empresas à realização de auditorias ambientais, principalmente porque não concorda em assumir os custos destas auditorias. No entanto, alguns estados e municípios já possuem leis regulamentadas, como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Vitória, etc. Um caso interessante e bem-sucedido de auditoriaambiental compulsória foi a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) no 265, de 27 de janeiro de 2000, que obrigou o setor industrial petrolífero e as demais empresas com atividades na área de petróleo no estado do Rio de Janeiro a realizar auditorias ambientais, isto devido ao grave acidente de derramamento de óleo ocorrido na Baía de Guanabara na época. Impactos e Passivos Ambientais A resolução CONAMA no 001, de 1986, considera impacto ambiental: ... qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: A saúde, a segurança e o bem-estar da população; As atividades sociais e econômicas; A biota; As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; A qualidade dos recursos ambientais. Um impacto ambiental pode ser negativo ou positivo, ou seja, ele pode tanto trazer prejuízos como benefícios. Podemos dizer também que um impacto ambiental é significativo quando este é importante em relação a outros impactos, que poderiam ser julgados mais como efeitos, ou seja, como simples consequências de uma modificação induzida pelo homem, sem acarretarem prejuízos de valor econômico. 49 Já o passivo ambiental representa uma obrigação de promover investimentos em ações para a extinção ou amenização dos danos causados ao meio ambiente, ações como implantação de procedimentos e tecnologias, indenização às populações, recuperação da área degradada, etc. O passivo ambiental pode ser entendido como o valor econômico de um impacto ambiental que não foi prevenido ou remediado, pois impactos ambientais não mitigados geram custos para sua recuperação, e este valor é o passivo ambiental. Para acabar com um passivo ambiental é necessário um investimento financeiro, que muitas vezes não trará nenhum outro benefício a não ser o ambiental, assim, ocorre frequentemente de ninguém querer assumir a responsabilidade de um passivo ambiental. Outra questão pertinente é que ainda é muito difícil mensurar o valor monetário de um dano ambiental. Um processo produtivo é o ato de transformar matérias-primas em um produto específico por meio de uma linha de produção, a qual tem entradas (insumos e energia) e geram saídas (poluentes e resíduos). A figura 24 demonstra essas principais entradas e saídas. Observe que as saídas podem gerar impactos ambientais adversos e também apresentar riscos para a saúde dos trabalhadores, o que chamamos de riscos ocupacionais. Assim, um programa de gestão ambiental visa justamente minimizar todos os efeitos adversos que possam ser decorrentes destas entradas e saídas de processos produtivos, e por sua vez uma auditoria ambiental tende avaliar a conformidade e o desempenho deste programa. FIGURA – ENTRADAS E SAÍDAS DE UM PROCESSO PRODUTIVO 50 A importância dos conceitos apresentados neste item é demonstrar a parte técnica e de tecnologias ambientais existentes dentro da execução de uma auditoria ambiental. Além disso, será abordado no decorrer desse material as metodologias para o planejamento e a execução de auditorias ambientais, quando se tornará visível o quanto é fundamental entender os conceitos de impacto e passivo ambiental, e de entradas e saídas dos processos produtivos, já que são justamente estes aspectos que constituem o objeto de estudo da gestão e da auditoria ambiental. FIGURA – RAMOS ECONÔMICOS E IMPACTOS AMBIENTAIS De acordo com o ramo econômico de uma empresa, ou seja, com a atividade que ela desenvolve (também chamado de tipologia), os seus impactos ambientais 51 FONTE: Seiffert, 2004. 51 são maiores ou menores (figura 25). Em geral, empresas do ramo industrial possuem os mais altos impactos ambientais justamente porque possuem processos produtivos que geram inúmeros poluentes, o que explica também porque as indústrias oferecem mais riscos ocupacionais para os seus trabalhadores e para o meio ambiente, e porque são atualmente os maiores clientes de auditorias ambientais. A figura abaixo demonstra a relação entre as principais saídas dos processos produtivos, sua dispersão e disposição no meio ambiente, ou seja, no ar, na água e no solo. DISPERSÃO E TRANSPORTE DOS POLUENTES ENTRE AR, ÁGUA E SOLO FONTE: Lora, 2002. 52 Nas páginas a seguir estão algumas figuras com tabelas extraídas do Anuário 2008 - Análise Gestão Ambiental, uma publicação da Análise Editorial, que compila as práticas ambientais das maiores empresas do Brasil. O anuário resume os dados coletados em 2008 e compara com os dados anteriores de 2007. Lembrando que no total, 649 empresas de diversos setores econômicos foram entrevistadas. O objetivo destes extratos do Anuário é demonstrar a realidade atual da gestão ambiental no país, em termos da adoção de práticas de diminuição do consumo de recursos naturais e do tratamento dos resíduos gerados. Observe com atenção os dados, principalmente aqueles destacados em vermelho, eles demonstram como os conceitos sobre diminuição dos impactos ambientais das operações são aplicados na prática. Na figura 27 note que em relação ao consumo de água e energia elétrica os dois principais insumos de processos produtivos, menos do que 7% dos entrevistados, afirmam não desenvolver ações específicas. E na figura 28 note que em 2008 mais do que 40% dos entrevistados afirmam possuir metas de redução do consumo de combustíveis fósseis e de lenha e carvão. Esses dados demonstram a relevância econômica da redução do consumo destes recursos naturais, principalmente em termos de custos. Já as figuras 29 e 30 demonstram os tipos de ações que as empresas brasileiras desenvolvem atualmente em relação aos aspectos ambientais das saídas dos processos produtivos como resíduos, efluentes líquidos, emissões atmosféricas, ruídos e vibrações. Ressaltamos que na figura 28 a expressão “combustíveis fósseis” significa a utilização de gás natural e/ou óleo diesel e/ou gasolina como insumos dos processos produtivos. E na figura 29 a expressão “tratamento de efluentes” significa tratamento de todas as águas residuais ou efluentes líquidos gerados no processo produtivo. 53 RESULTADOS DE PRÁTICAS ADOTADAS EM RELAÇÃO AO CONSUMO DE RECURSOS NATURAIS DO ANUÁRIO 2008 - ANÁLISE GESTÃO AMBIENTAL F ON TE: Ada pta do de Aná lise Ge stã o Am bie ntal , 200 8. C ONTINUAÇÃO DOS RESULTADOS DE PRÁTICAS ADOTADAS EM RELAÇÃO AO CONSUMO DE RECURSOS NATURAIS DO ANUÁRIO 2008 - ANÁLISE GESTÃO AMBIENTAL 54 FONTE: Adaptado de Análise Gestão Ambiental, 2008. RESULTADOS DE PRÁTICAS ADOTADAS EM RELAÇÃO AO TRATAMENTO DE RESÍDUOS GERADOS NO PROCESSO PRODUTIVO DO ANUÁRIO 2008 - ANÁLISE GESTÃO AMBIENTAL 55 55 FONTE: Adaptado de Análise Gestão Ambiental, 2008. CONTINUAÇÃO DOS RESULTADOS DE PRÁTICAS ADOTADAS EM RELAÇÃO AO TRATAMENTO DE RESÍDUOS GERADOS NO PROCESSO PRODUTIVO DO ANUÁRIO 2008 - ANÁLISE GESTÃO AMBIENTAL 56 56 Conforme citado anteriormente, as figuras demonstram os tipos de ações que as empresas brasileiras desenvolvem atualmente em relação aos aspectos ambientais das saídas dos seus processos produtivos, como resíduos, efluentes líquidos, emissões atmosféricas, ruídos e vibrações. Assim, analisando essas figuras, podemos concluir que as principais ações adotadas são: Reúso dos resíduos gerados no próprio processo produtivo ou em outras unidades industriais; Coleta seletiva e reciclagem; Processos para diminuir a geração de resíduos; 57 FONTE: Adaptado de Análise Gestão Ambiental, 2008. 57 Investimento em tecnologiapara reduzir a geração de resíduos ou em tecnologias que não gerem resíduos (tecnologias limpas); Processos para diminuir os impactos ambientais dos resíduos; Unidades de tratamento dos resíduos. Com o passar do tempo percebeu-se que a geração de resíduos industriais, em especial, é resultado da ineficiência de transformação de insumos (como matérias-primas, água e energia) em produtos, acarretando em danos ao meio ambiente e custos para a empresa. E a geração de resíduos passou a ser considerada como um desperdício de dinheiro com compra de insumos, desgaste de equipamentos, horas de empregados, etc., além dos demais custos envolvidos com o seu armazenamento, tratamento, transporte e disposição final. A solução para a minimização destes problemas veio com a adoção de técnicas como a produção mais limpa e a prevenção à poluição, detalhadas a seguir. →P + L ou produção mais limpa: significa a aplicação contínua de uma estratégia econômica, ambiental e tecnológica integrada aos processos e produtos, a fim de aumentar a eficiência no uso de matérias-primas, água e energia, por intermédio da não geração, minimização ou reciclagem de resíduos gerados em um processo produtivo, e consequentemente, reduzir os riscos ao homem e o ao meio ambiente. É uma abordagem corretiva, visa minimizar os impactos ambientais gerados pela produção por meio da revisão e adoção de novos procedimentos. A prioridade da produção mais limpa é evitar a geração de resíduos e emissões, e sua aplicação dentro de uma empresa está relacionada ao seu processo produtivo, aos produtos e aos serviços, da seguinte forma: i. Processos Produtivos: na conservação de matérias-primas, água e energia, eliminação de matérias-primas tóxicas e na redução na fonte da quantidade e toxicidade dos resíduos e emissões gerados; ii. Produtos: na redução dos impactos negativos dos produtos ao longo do seu ciclo de vida, desde a extração de matérias-primas até a sua disposição final; iii. Serviços: na incorporação das questões ambientais no planejamento e execução dos serviços. → 2P ou prevenção à poluição: É o uso de práticas, processos, técnicas ou tecnologias que evitem ou minimizem a geração de resíduos e poluentes na fonte 58 geradora, reduzindo os riscos globais à saúde humana e ao meio ambiente. Inclui modificações nos equipamentos, nos processos ou procedimentos, reformulação ou replanejamento de produtos, substituição de matéria-prima e melhorias nos gerenciamentos administrativos e técnicos da entidade/empresa, resultando em aumento de eficiência no uso dos insumos (matérias-primas, energia, água, etc.). As práticas de reciclagem fora do processo, tratamento e disposição dos resíduos gerados, não são consideradas atividades de prevenção à poluição, uma vez que não implicam redução da quantidade de resíduos e/ou poluentes na fonte geradora, mas atuam de forma corretiva sobre os efeitos e as consequências oriundas do resíduo gerado. As técnicas de prevenção à poluição (P2) estão englobadas dentro da técnica de produção mais limpa (P+L). Assim, podemos concluir que a busca para se atingir a produção sustentável consiste no desenvolvimento de ações capazes de promover a redução de desperdícios, a conservação dos recursos naturais, a redução ou eliminação de substâncias tóxicas, a redução da quantidade de resíduos gerados por processo e produtos e, consequentemente, a redução de poluentes lançados para o ar, solo e águas. A figura 31 abaixo demonstra como existe uma evolução na adoção de técnicas de redução de impactos ambientais. A primeira abordagem sempre é reduzir a geração e diminuir o desperdício de insumos; a segunda etapa busca minimizar os impactos ambientais por meio da melhoria dos processos visando uma produção mais limpa; a terceira esfera já é mais abrangente e só pode ser atingida se as etapas anteriores tiverem sido contempladas, que é o desenvolvimento sustentável. NÍVEIS DE REDUÇÃO DO IMPACTO AMBIENTAL E SUA RELAÇÃO COM O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 59 CLASSIFICAÇÃO DAS AUDITORIAS AMBIENTAIS (TIPOS DE AUDITORIAS) As auditorias ambientais podem ser classificadas de acordo com a natureza da parte auditora e de acordo com os critérios e objetivos da auditoria. No entanto, a classificação mais utilizada é em relação aos objetivos da auditoria. Em geral, é esta classificação das auditorias ambientais que define comumente os tipos de auditoria ambiental (detalhados a seguir). Classificação de Acordo com a Parte Auditora De acordo com a função e o interesse da parte auditora, as auditorias podem ser denominadas de primeira, segunda ou de terceira parte. 1) Auditoria ambiental de primeira parte: é aquela realizada por equipe formada por funcionários da organização auditada. No entanto, como a auditoria 60 FONTE: Adaptado de Seiffert, 2004. 60 deve ser feita por auditores independentes, para manter esta independência, funcionários de uma área devem auditar outras áreas. Em geral a auditoria de primeira parte é requisitada pela alta administração da organização. Não se deve confundir auditoria de primeira parte com auditoria interna, a auditoria interna é realizada segundo critérios e procedimentos da própria empresa. 2) Auditoria ambiental de segunda parte: é realizada por uma equipe com membros ou representantes de uma parte interessada nos aspectos ambientais da organização auditada e que tem poder legal ou de negociação para exigir que seja realizada a auditoria. Os principais exemplos de auditoria de segunda parte são as realizadas por fornecedores ou clientes de uma operação, e as auditorias realizadas por possíveis compradores em processo de aquisição ou fusão com a operação. 3) Auditoria ambiental de terceira parte: é realizada por uma instituição independente, que não tem interesse ou relação direta com as atividades da organização auditada. O principal exemplo são as auditorias de certificação dos sistemas de gestão ambiental pela norma NBR ISO 14.001. Classificação de Acordo com os Critérios da Auditoria As auditorias também podem ser classificadas de acordo com os tipos de critérios utilizados como referência e padrão de conformidade na auditoria, ou seja, os critérios com os quais serão comparados os aspectos ambientais da atividade, como, por exemplo: a) Auditoria de conformidade legal: os critérios desta auditoria são os requisitos da legislação ambiental e regulamentos aplicáveis (normas e resoluções técnicas) em vigor. b) Auditoria de desempenho ambiental: a auditoria que verifica os indicadores de desempenho setorial dos aspectos ambientais da operação, geralmente comparando-os com padrões ou com metas que haviam sido definidas. Exemplo: auditoria de passivo ambiental que visa verificar se o mau desempenho da operação gerou externalidades econômicas. 61 c) Auditorias de sistemas de gestão ambiental: avalia se o sistema de gestão ambiental (SGA) da organização auditada está cumprindo as normas, critérios e procedimentos que foram estabelecidos pelo mesmo. Estas auditorias podem ser de: i. Adequação: para verificar se o sistema atende (é adequado) a padrões exigidos em norma; ii. Conformidade: para verificar se o sistema foi implantado em conformidade com o que havia sido planejado. iii. Eficácia: se os objetivos e metas propostos estão sendo atingidos. Classificação de Acordo com os Objetivos da Auditoria Como já foi mencionada anteriormente, essa é a classificação mais utilizada atualmente: definir o tipo da auditoria segundo os seus objetivos. a) Auditoria ambiental de certificação: avalia a conformidade da empresa com os princípios estabelecidos pelas normas nas quais a empresa deseja se certificar. Este tipo de auditoria deve ser conduzido
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