Buscar

Apostila de Casos (1)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 55 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 55 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 55 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

License-520936-68753-0-6
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Estudo de caso: 
Belo Monte de quê?
Introdução
Quando nós nos deparamos com grandes construções, perguntamo-nos o quão 
impactante em nossas vidas elas podem ser. Um exemplo dessas construções são 
pontes, grandes edifícios e as hidroelétricas.
Em se tratando de recursos hídricos, lembramos como Brasil é um gigante nesse 
aspecto. Flora, fauna, um ecossistema rico e pautado na diversidade, resistente 
em um mundo de crescimento e consumo dos recursos naturais. Resistência que 
infelizmente não é significado de sucesso. Relatórios de diversas organizações de 
defesa do meio ambiente demonstram que os danos causados ao ecossistema 
brasileiro, em específico ao amazônico, tem sido cada vez maior. Queimadas, 
desmatamento, poluição, uso indevido dos recursos que parecem abundantes, e 
que são finitos e sensíveis. 
O Brasil tem cerca de 12% da água doce disponível no mundo para consumo humano. 
O que nos garante hoje certo conforto – temos recursos energéticos importantes, 
já que existe vento, biocombustíveis, petróleo e água. As hidroelétricas respondem 
por cerca de 63% da energia produzida no nosso território, como mostra a imagem 
a seguir do site www.em.com.br: 
 
License-520936-68753-0-6
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Atualmente, o Brasil conta em seu arsenal com Itaipú (PR), Tucuruí (PA), Ilha Solteira 
(SP), Xingó (AL e SE), Paulo Afonso IV (BA), dentre outras grandes Usinas em projeto 
ou construção. Entre as que já estão em fase de construção se encontra a Usina de 
Belo Monte, localizada no Pará, sede de outras 3 das 10 maiores usinas hidrelétricas 
do brasil – em fase de projeto, construção ou operação – que será implantada no 
Rio Xingú. 
A Usina de Belo Monte, aporta no território paraense e tem uma relação direta e 
contínua com diversas cidades da região, principalmente com a cidade de Altamira, 
que sofreu resultados diretos da presença do empreendimento. Ressalta-se que a 
cidade não é a única afetada pela megaconstrução. 
Trata-se de um empreendimento gigantesco, que trará diversos impactos nas 
mais diferentes dimensões. Com um custo estimado em R$ 30 bilhões de reais, 
aproximadamente 25 mil trabalhadores envolvidos diretamente e um prazo de 
44 meses, a usina tem previsão de motorização total para início de 2019. É um 
empreendimento da Norte Energia S.A. 
O assunto vem levantando diversas opiniões e polêmicas desde o seu início, divide 
opiniões e posições técnicas e de moradores, inclusive resultando em diversos 
processos movidos pelo Ministério Público Federal. A obra tem impulsionado 
fortemente a economia local, alterado a rotina das pessoas e criado uma 
movimentação que recebe grande visibilidade dentro e fora do Brasil.
License-520936-68753-0-6
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
De acordo com uma reportagem da Folha de São Paulo intitulada “A Batalha de Belo 
Monte” realizada em 06 de dezembro de 2013,
“Índios, ribeirinhos e moradores de Altamira se queixam de não 
terem sido suficientemente consultados sobre o aproveitamento do 
Xingu. O governo federal responde dizendo que realizou 142 eventos, 
incluindo quatro audiências públicas (em Belém, Altamira, Vitória do 
Xingu e Brasil Novo), que reuniram 6.000 pessoas; 30 reuniões em 
aldeias (1.700 participantes); e 61 em comunidades (2.100 presentes). 
A ausência de consulta adequada a todos os povos indígenas é uma 
das razões alegadas em duas dezenas de ações que o Ministério 
Público Federal move contra Belo Monte”. 
O que acaba então levantando pontos sensíveis como: as populações ribeirinhas 
e indígenas que vivem na região da construção, as rotinas das cidades pelas 
quais passam, os movimentos de migração que acabam gerando, as estruturas e 
infraestruturas locais. O ecossistema que é alterado em todo o processo, seja na 
remoção, extração ou quando trazem materiais diferentes para aquele ambiente. 
De que forma o Governo brasileiro envolveu as populações indígenas 
no planejamento do projeto de Belo Monte?
O Governo brasileiro adotou uma abordagem no planejamento do 
projeto envolvendo as comunidades que serão afetadas. A Fundação 
Nacional do Índio (Funai) realizou mais de 30 reuniões entre 2007 
e 2010, com a participação de cerca de 1.700 indígenas em aldeias 
locais, para discutir questões ligadas ao projeto da barragem de Belo 
Monte.
Muitos líderes comunitários também estiveram ativamente envolvidos 
em reuniões públicas realizadas na elaboração do Estudo de Impacto 
Ambiental (EIA). Além disso, cerca de 200 indígenas participaram 
de audiências públicas promovidas pelo Instituto Brasileiro do Meio 
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), especialmente 
em Altamira.
(Projeto da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, Perguntas Mais 
Frequentes, Ministério de Minas e Energia, 2011). 
Vale ressaltar que a formação societária da empresa Norte Energia S.A. é composta 
basicamente dos seguintes sócios: Eletrobrás (composta pela Eletrobrás, Chesf e 
Eletronorte) tem 49,98%; Fundos de Pensão (com a Petros e Funcef) leva 20%; Belo 
Monte Participações 10%; Amazônia (Cemig e Light) tem 9,77%; Autoprodutoras 
de Energia (caso da Vale e Sinobras) possuem 10%; e Outras Sociedades 0,25% do 
empreendimento.
License-520936-68753-0-6
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
A composição acionária revela que a usina de Belo Monte é um negócio de quem já 
tem histórico e influência no ramo. Ainda que tenha começado, em 2010, com um 
aglomerado de empresas médias do ramo de construção civil, a composição do 
grupo veio evoluindo para entes economicamente bem mais fortes. 
Os impactos apontados nos estudos de viabilidade do projeto veem sendo motivo 
de grande parte do impasse, por apontar necessidade de grande intervenção dos 
empreendedores em questões socioambientais que significam um valor financeiro 
elevado, acabando por evidenciar as precariedades já existentes nas localidades. 
Panorama e cenários
Berço de uma riqueza biológica incomensurável, a região amazônica guarda 
também riquezas culturais de valores inestimáveis. As culturas indígenas que ainda 
resistem e persistem no local são demonstração dessa cautela que é exigida. Um 
olhar antropológico é indispensável para o trato e percepção dessas comunidades.
Grande parte da economia local se baseia na pesca de peixes ornamentais, 
atividade que será gravemente afetada com as mudanças no fluxo do rio causadas 
com a instalação da hidrelétrica. Estudos estão sendo feitos juntos a Universidade 
Federal do Pará em busca de técnicas que permitam aos indígenas e ribeirinhos 
que costumam viver dessa prática o cultivo dessas espécies. 
Figura 02. Biólogo usa mamadeira para alimentar filhote de macaco capturado 
em área desmatada para a construção da hidrelétrica de Belo Monte. 
Fonte: Lalo de Almeida - 29.ago.13/Folhapress. http://imguol.com/c/bol/fotos/2013/12/20/biologo-usa-mamadeira-para-alimentar-filhote-de-macacocapturado-em-area-desmatada-para-a-
construcao-da-hidreletrica-de-belo-monte-1387559411614_956x500.jpg
License-520936-68753-0-6
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
“O Brasil está pagando caro por ter escolhido a opção mais barata 
para sua matriz energética em vez de ter ampliado o mix de 
possibilidades, investindo mais em fontes alternativas de energia. 
O setor elétrico está afundado num gargalo sem fim porque o país 
se tornou dependente das hidrelétricas. Com a falta de chuvas e 
o baixo nível dos reservatórios, as termelétricas, que deveriam ser 
acionadas apenas em casos emergenciais, foram incorporadas 
ao sistema, elevando o custo do megawatt/hora (MWh) a níveis 
recordes”. Simone Kafruni, 12/05/2014. 
Reservas indígenas são um ponto constante dos debates acerca da construção, 
sendo essas comunidades de grande importância, ainda que sejam aportados 
nas condições apresentadas nas medidas da Eletronorte para a região, outros 
empreendimentos locais passam por cima da necessidade de respeitoa essas 
tribos. 
Os moradores das cidades na rota da construção sofrem também forte alteração 
em suas vidas, o fluxo de carros, os engarrafamentos, aumento populacional, 
violência, e a precariedade nos serviços públicos ofertados demonstram como 
a infraestrutura local é extremamente sensível ao aumento populacional trazido 
pela construção da usina. É importante compreender que uma parte desses 
trabalhadores deve se instalar no local, mas que a maioria deve ir em busca de 
outras oportunidades de emprego assim que as obras terminarem.
 
Moradores circulam por passarelas precárias entre as palafitas próximas ao igarapé Ambe. 
Fonte: Lalo de Almeida - 1ºset.13/Folhapress
Entre as condições para liberação do projeto estão investimentos maciços nas 
condições sanitárias e de serviços básicos para a população local. Ainda que a obra 
termine, esses investimentos permanecem, como forma de amenizar os impactos 
causados. Ainda assim, não é possível dimensionar de forma precisa a realidade 
dos impactos que serão causados com a instalação da Usina Belo Monte no rio 
Xingú. Uma obra que causa impacto para toda a biodiversidade, nas relações 
ambientais e sociais.
License-520936-68753-0-6
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Em documento oficial, o Ministério de Minas e Energia organizou um informativo 
sobre as “Perguntas mais frequentes sobre o Projeto Belo Monte” em fevereiro de 
2011. Quando questionados acerca do item “Populações Indígenas”, o governo 
federal fez a seguinte declaração:
“Alguma terra indígena será alagada como resultado da usina de Belo 
Monte?”
“Não. Nenhuma das 10 terras indígenas localizadas na área de 
influência do projeto será alagada.”
É com base na presente situação que trazemos uma possível análise a essa 
problemática tão complexa. Conforme é desenvolvido uma busca sobre as 
grandes construções, é perceptível que a consciência de todos os seus impactos 
é de responsabilidade das organizações e instituições que são autoridades nesses 
campos. No caso de Belo Monte, os pareceres sobre as medidas necessárias para a 
liberação das obras foi resultado dos estudos desenvolvidos pelo Ibama (O Instituto 
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). 
Toda a estrutura burocrática moderna construída sobre as decisões que são tomadas 
pelo estado ganha uma visibilidade ainda maior nessas situações. Perceber que a 
legalidade é presente em todas as ações que são tomadas pelos responsáveis do 
empreendimento ainda não é garantia de que seja cumprido aquilo que realmente 
seja justo, é basicamente impactante.
Max Weber, filósofo alemão que desenvolveu suas ideias principalmente no século 
XIX, tratava da burocracia de uma maneira diferente. Para Weber a burocracia seria 
uma estruturação das relações normativas de maneira que todas as medidas fossem 
as mais profissionais e objetivas possíveis. Ou seja, atendendo a uma hierarquia e 
uma separação de papeis bem definidas. De tal maneira que a burocracia era uma 
forma de organização que tendia a objetivar e a garantir uma execução da norma 
que fosse rápida, segura, eficiente e principalmente profissional. 
A atual concepção de burocracia é então diferente daquela adotada pelo pensador 
clássico. Ainda assim todo o processo no qual se encontra a usina hidrelétrica 
pode sim ser analisado pela lente da teoria burocrática weberiana. Basta que 
nos perguntemos se as organizações estatais que permitem e facilitam as 
grandes empreitadas o fazem com base na responsabilidade com os resultados 
apresentados em seus estudos ou simplesmente pela forte pressão exercida pelo 
poder econômico exercido pelos grandes grupos financeiros. 
License-520936-68753-0-6
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
As permissões e consequências de uma construção como a da Hidrelétrica de 
Belo Monte só retratam a consequência de uma burocracia feita sem o devido 
atendimento dos requisitos necessários para seu bom funcionamento. As hierarquias, 
profissionalização e todas outras ferramentas organizacionais da administração 
pública parecem ganhar uma flexibilidade muito nítida a outras formas de poder 
nesses momentos. De tal forma que o dever do Estado em ser soberano e proteger 
a vontade da maioria parece sucumbir em prol do desejo de lucro de um grupo. 
Apresentação do problema
Sem dúvida, a burocracia a soberania e o progresso são elementos fundamentais 
para a formação de um Estado forte e desenvolvido. No entanto, as culturas, 
tradições e principalmente o povo são palavras-chave da própria definição do 
Estado Moderno que se perpetua até os dias atuais na contemporaneidade. 
1. Nesse contexto, o que deve falar mais alto? Como devemos entender a relação 
entre território e desenvolvimento social?
2. O que pensar sobre a construção da Usina de Belo Monte? Como devemos analisar 
as justificativas das partes envolvidas?
3. O que você acha que o isolamento, até mesmo geográfico, que a região norte 
possui em relação ao Brasil, é um fator que dá mais segurança para os grupos em 
posições desfavoráveis? 
4. Como podemos contextualizar a Teoria Utilitarista neste caso real?
5. Como podemos entender o conceito de consequencialismo, criado pela Teoria 
Utilitarista? 
6. Como podemos contextualizar o conceito de Justiça defendido por Sócrates?
7. Como é que nós podemos encarar uma burocracia que parece tão parcial? 
Vamos refletir. 
License-526522-67802-0-6
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Estudo de caso: 
projeto de lei nº 8099/2014 – criacionismo e 
o respeito ao estado laico brasileiro: só uma 
teoria? 
Introdução
O criacionismo foi colocado em pauta nacional, porém, desta vez, de maneira 
sistemática e fadada ao inconstitucionalismo. Aos dias 13 de Novembro de 2014, foi 
apresentado à Casa Legislativa pelo Pastor Deputado Marco Feliciano (PSC/SP) o 
Projeto de Lei que se instaura obrigatório, em escolas públicas e privadas, o ensino 
do criacionismo. 
Criacionismo, é aqui entendido, como o nome dado à teoria que justifica a origem 
do universo e da vida através de Deus. Essa teoria está no livro de gênesis, no qual 
compõe a mitologia cristã, e também no Alcorão, nos quais alegam que a criação 
de todas as coisas se deu em 6 dias. Bastante criticada no âmbito acadêmico e 
cientifico, os criacionistas, então, se transvestiram. Uma nova nomenclatura foi 
explanada, para assim, semanticamente, ser aceito em toda a plenitude científica: 
Teoria do Design Inteligente (TDI). 
Do grego theoria, que em seu contexto histórico indicava observar, examinar, o 
conceito vem ganhando significações, entendendo-se, contemporaneamente, por 
complexo de ideias, partindo de um determinado tema, no qual está em busca da 
veracidade da realidade, transmitindo uma noção geral de verdade. Sistematização, 
comprovação científica e credibilidade, são os três aspectos gerais de Teoria. 
Teorias são estabelecidas e perduram até que outra seja apresentada e derrube os 
argumentos da outra. Logo, passa-se a questionar a linearidade da nova Teoria do 
Design Inteligente, anteriormente chamada de Criacionismo. 
Panorama e cenários
No que diz respeito ao contexto nacional, lembramos a atuação do Estado 
Democrático de Direito, onde o poder emana do povo e que todos são iguais perante 
a lei, em seu artigo 19, da Constituição Cidadã de 1988, a saber: 
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos 
Municípios: 
License-526522-67802-0-6
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-
lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes 
relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a 
colaboração de interesse público;
Este Projeto de Lei, não só abre questionamentos políticos, como jurídicos-sociais. 
Entram em questão temáticas sobre a dignidade humana amplamente defendida 
em tratados e declarações internacionais, como por exemplo a Declaração Universal 
dos Direitos Humanos(DUDH), o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação, e a já mencionada Constituição Federal do Brasil – 
sem maturação suficiente e calejada dos golpes políticos já sofridos. 
É sabido que, em instituições de ensino que permeiam bases religiosas, como as 
Escolas Adventistas, é aludido para os discentes o criacionismo. Todavia, nos moldes 
colocados pelo Pastor Deputado Marco Feliciano, torna-se inviável a propagação 
de tal conteúdo em espaços públicos, uma vez que tal teoria faz parte de um 
arcabouço de determinadas religiões. Cabe nesse contexto lembrar que vivemos 
em um Estado Laico, em seu texto constitucional. 
Diversas foram as reações objetivando questionar a fragilidade científica e da 
importância para o social do projeto. Associações e Instituições acadêmicas se 
manifestaram mediante cartas abertas ao Pastor-Deputado. Dentre elas estão a 
Associação Brasileira de Ensino de Biologia (SBEnBIO) e a Associação Brasileira de 
Pesquisa em Educação em Ciências (ABRAPEC) que, juntas, levaram ao conhecimento 
público suas alinhadas colocações, a citar: 
4) Deste modo, um projeto de lei que determina a instituição de UMA 
determinada crença religiosa em todo o sistema público de ensino é 
flagrantemente inconstitucional, por violar frontalmente o conteúdo 
do art. 5º, inc. VI, da Constituição da República. Sua instituição não 
poderia se dar nem mesmo por emenda constitucional, já que o direito 
em questão é assegurado por cláusula pétrea e, com isso, é vedada 
até mesmo a hipótese de deliberação de proposta de emenda que 
tivesse conteúdo tendente a abolir a inviolabilidade da liberdade 
de crença/religião. Teor completo em: http://www.abrapec.ufsc.br/
wp-content/uploads/2014/11/documento-conjunto-SBEnBio-ABRAPEC-
final-12-1.pdf. 
Em 24 de novembro de 2014, no 12º ponto abordado pelas associações fica claro a 
síntese das argumentações apresentadas em documento:
“Ao contrário do que proclama o texto da PL8099/2014, seu objetivo 
não é o debate (que na verdade já existe na maioria das escolas), mas 
sim a ocupação por movimentos religiosos institucionalizados dos 
mais diversos espaços (a escola e seu currículo são apenas alguns 
License-526522-67802-0-6
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
deles), na defesa política de um determinado modelo de sociedade. 
Não se enganem os incautos. Isso não é um embate entre Religião 
e Ciência e muito menos um debate sobre a defesa da pluralidade. 
Esse episódio exibe a marca de uma disputa entre os arautos de uma 
agenda política que se apresentam como defensores da Religião e 
da pluralidade a fim de angariar seguidores e aqueles que se opõem 
a ela.
Pelos motivos acima expostos, o projeto de lei apresentado pelo 
deputado Marco Feliciano representa uma tentativa de ingerência 
indevida do proselitismo religioso na educação básica pública e 
privada. Nós, professores e pesquisadores que trabalhamos com o 
ensino de Ciências, envolvidos verdadeiramente em todos os debates 
relacionados à sua construção e diálogo com outras perspectivas, só 
podemos rejeitá-lo (grifo o documento)”. 
Questiona-se aqui o papel da escola e das instituições reguladoras, como um todo. 
Se faz necessário compreender que Evolução faz parte do conhecimento científico 
como, por exemplo, a tela desta máquina, na qual permite sua leitura. Assim, também, 
o método científico é utilizado para explicar as origens do nosso Universo. De 
igual natureza, em 1859 foi publicado o livro que daria início a grande (re)evolução 
científica-biológica On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the 
Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life, ou comumente conhecido 
A Origem das Espécies, do inglês Charles Darwin. A teoria apresentada pelo seu 
mentor, Darwin, era a de que as espécies se originavam de processos estritamente 
naturais, sendo, portanto, uma versão científica baseada em fatos e evidências. 
License-526522-67802-0-6
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Situação atual
Frente a intensidade dos discursos e sua a devida proporção, o Ministério da 
Educação (MEC) se posicionou, visto que “A nossa posição é objetiva: criacionismo 
pode e deve ser discutido nas aulas de religião, como visão teológica, nunca nas 
aulas de ciências”, como declarou a secretária da Educação Básica do Ministério da 
Educação, Maria do Pilar. 
 
A Criação de Adão, Michelangelo Buonarotti, 1511.
De acordo com o artigo do colunista Hélio Schwartsman, “problemas científicos se 
resolvem com mais pesquisa, não pedindo socorro a papai do céu”. Esse depoimento 
do escritor foi uma resposta aos argumentos apresentados pelos defensores da 
TDI, como apresenta a seguir o texto:
“SÓ UMA TEORIA”
SÃO PAULO - “É só uma teoria”. É com essa expressão que os adeptos 
do design inteligente tentam diminuir a importância e o alcance da 
evolução darwiniana e, assim, abrir espaço para a ideia de que a vida 
é complexa demais para ter surgido sem o auxílio de uma inteligência.
A teoria do design inteligente (TDI) poderia ser relegada ao campo das 
cantilenas religiosas e ignorada, se seus entusiastas não tentassem 
travesti-la de ciência e pressionar para que seja ensinada nas escolas 
públicas, como defenderão os participantes do 1° Congresso Brasileiro 
de TDI a realizar-se em Campinas.
License-526522-67802-0-6
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Se a turma da TDI quer prestar um favor ao ensino, deveria começar 
por parar de confundir os sentidos de “teoria”. A rigor, toda explicação 
científica é sempre “só uma teoria”, isto é, algo que aceitamos como 
verdade provisória até que surja uma explicação mais precisa ou 
completa.
E, em linhas gerais, a síntese darwiniana está tão solidamente 
estabelecida quanto a lei da gravidade, que também é “só uma 
teoria”. As corroborações vêm de todas as frentes, desde a evolução 
de bactérias (notadamente o trabalho de Richard Lenski) até 
modelos de computador, passando pelo experimento natural da 
resistência a novos antibióticos.
É claro, porém, que ainda há buracos e pontos obscuros a explicar. 
Uma teoria que não tenha problemas é uma má teoria. Ou ela não 
tem conteúdo empírico que a ponha à prova ou é tão logicamente 
abstrusa que nem pode ser contestada. Mas não dá para, ao menor 
sinal de dificuldade, inferir um deus ou uma inteligência, como faz o 
pessoal da TDI. A gravidade, por exemplo, tem problemas até mais 
sérios que a evolução. Ela é incompatível com a mecânica quântica. 
Mas nem por isso as pessoas saem por aí dizendo que é Deus quem 
guia a órbita dos planetas ou lança os objetos ao chão”. (Folha de 
São Paulo, Opinião. Disponível em: (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/
opiniao/193602-so-uma-teoria.shtml )
A consistente influência das religiões judaico-cristã na sociedade brasileira é 
um elemento constatado facilmente. O que questiona-se são as imposições – 
por si só opressoras – em que as crianças e adolescentes sofrem, de maneira 
psicológica, na qual foi naturalizada. Sem ainda opinião formada, de maneira 
individual e selecionada, que é um complexo processo – e eterno – de construção 
e desconstrução – essas crianças e adolescentes acabam por perpetuar discursos, 
não dando devido valor a certos pontos, essenciais para a natureza humana na 
atual lógica de sistema e conjuntura social. 
Destaca-se da mesma forma, a possibilidade de ceifar, também, a liberdade e 
autonomia do(a) professor(a) em classe, onde seria obrigado a professar tal 
discurso que vai de encontro com o seu preparo e formação, ignorando assim os 
PCN’s e Projeto Político Pedagógico, por exemplo, considerando deve considerar a 
diversidade do âmbito histórico-cultural. 
Nos moldes apresentados, porém, o que está tramitando no Congresso sem 
obstáculos, objeções e modificações em seu texto, o Projeto de Lei argumenta em 
seu artigo primeiro, que: 
License-526522-67802-0-6
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Art. 1º Fará parte da grade curricular nas RedesPúblicas e Privadas de 
Ensino, conteúdos sobre criacionismo. § 1º - Os conteúdos referidos neste 
artigo devem incluir noções de que a vida tem sua origem em Deus, como 
criador supremo de todo universo e de todas as coisas que o compõe. 
Teor completo em: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_
mostrarintegra?codteor=1286780&filename=PL+8099/2014. 
Excluindo as ideologias partidárias, é fundamental debater de maneira efetiva e 
produtiva sobre ambas as teorias e suas consequências quando e como passadas. 
Porém, deve ser propagada o respeito a literalidade e ao bom senso da imatura 
Constituição Federal Brasileira, fruto de uma organização democrática. 
Apresentação do problema
De acordo com Artigo 18º da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948,
“Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência 
e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou 
de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou 
convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, 
pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.”
Tal artigo abre inúmeras interpretações acerca da relação educação/ensino/religião 
nos espaços formais, como a escola. Sabemos que a faculdade de acreditar em 
algo e de o manifestar é conhecida como liberdade religiosa. No passado e no 
presente, as pessoas têm sido ameaçadas pelas suas crenças e também por aquilo 
em que não acreditam. Além disso, a perseguição por motivos religiosos ainda hoje 
se verifica.
Nesse contexto, algumas perguntas se fazem pertinentes:
1. De acordo com a CF de 1988, ninguém pode ser forçado a revelar os seus 
pensamentos ou a aderir a uma religião ou fé. Como professores e alunos lidariam 
com o ensino do Criacionismo em sala de aula?
2. Como podemos entender o conceito de alteridade, determinismo biológico e 
cultural frente ao ensino do Criaciosnismo nas aulas de Religião e não de Ciências 
Biologicas/Físicas?
3. Como podemos entender a diferença entre ciência e filosofia quanto ao 
conhecimento construido neste contexto?
4. Quais as consequências da substituição do conceito de Criacionismo pela TDI? 
Até que ponto encontramos os limites entre ciência e religião?
License-526522-67802-0-6
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
5. Qual o papel do Estado brasileiro no âmbito constitucional?
6. Como caracterizar o papel do Estado e da sociedade civil a partir das teorias dos 
filósofos Hegel, Marx e Engels?
License-525848-67801-0-7
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Estudo de caso: 
comunidades tradicionais e o papel do estado: 
como entender relações de poder em um 
contexto de (in)justiça social? 
Introdução
Compreender a diversidade da formação cultural brasileira é forma de se identificar. 
De perceber nosso caminho e revisar de onde viemos, para então, sabermos aonde 
ir. A nossa localização geográfica e a maneira como nos relacionamos com ela é 
importante. A casa ou as casas onde nascemos, crescemos, passamos as férias, 
todas elas carregam forte significação na nossa vida.
As comunidades quilombolas no Brasil passam por situações delicadas. Ainda que 
boa parte mantenha legalidade e legitimidade reconhecidas e respeitadas sobre a 
extensão e os limites de seu território físico e cultural, ainda existe uma parcela que 
luta, de forma pesada e ininterrupta pelo mesmo reconhecimento, muitas vezes 
isoladas, já que não possuem forte vínculo com a parte externa à comunidade. 
As comunidades remanescentes de quilombolas representam no cenário sociocultural 
brasileiro símbolos que (re)significam processos de luta e resistência contra as 
várias formas de escravidão, preconceito e discriminação do povo negro, de vários 
outros grupos excluídos pela história e de seus herdeiros. Desde 1947 (p.31), Clóvis 
Moura, acompanhado por pressupostos sociológicos, já chamava-nos atenção para 
a relevância dos pesquisadores levarem em consideração o dinamismo de suas 
ações. “Dessa forma, não podemos deixar de ver o quilombo como um elemento 
dinâmico de desgaste das relações escravistas. Não foi manifestação esporádica 
de pequenos grupos de escravos marginais, desprovidos de consciência social, mas 
um movimento que atuou no centro do sistema nacional, e permanentemente.” 
Em atividade paralela, a Fundação Cultural Palmares, órgão ligado ao Ministério 
Brasileiro da Cultura desenvolve projetos culturais que visam a preservação do 
patrimônio histórico-cultural do povo negro e de seus descendentes, tendo como 
missão incentivar lutas pela cidadania, identidade e desenvolvimento social atrelado 
à liberdade. Em 2003, O Banco Mundial realizou o encontro “Vozes Quilombolas” cuja 
temática foi “Educação e Trabalho em Comunidades Remanescentes de Quilombos” 
que teve como objetivo valorizar e premiar os trabalhos desenvolvidos na promoção 
da cidadania nas regiões do Nordeste através de projetos comunitários ligados a 
educação e trabalho de jovens quilombolas.
License-525848-67801-0-7
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Cabe ao seguinte texto nos fazer questionar sobre as relações entre os conceitos das 
Ciências Humanas, os fundamentos e princípios dos direitos humanos e a relação 
do homem com o ambiente. De tal forma, que trabalhar essas pontuações frente 
a questões de afrobrasilidade é, sem dúvida, fazer uma crítica a nossa realidade 
sistemática ou fática. 
O que temos, então? Primeiro, passamos a compreender que a sociedade, conforme 
a vemos, é fruto de relações. As pessoas, a todo momento, relacionam-se com as 
coisas e com outras pessoas. Essas relações, as vezes não acontecem de maneira 
direta, pois podem surgir conforme nós interagimos com as instituições. 
Panorama e cenários 
O homem foi passando das suas fases de interação social, tornando-as mais 
complexas e as relações de poder passaram a fazer parte do seu cotidiano. Maneiras 
de compreender essas relações de poder foram desenvolvidas durante a história, 
de forma consciente ou não. De Platão à Nicolau Maquiavel, de Aristóteles a Michel 
Foucault, as relações de poder entre os homens e homens e entre os homens e o 
Estado foram desenvolvidas, creditadas, desacreditadas e descontruídas. 
Alguns conceitos sobrevivem às constantes modificações das construções científicas 
sobre política e sociedade. Karl Marx , filósofo alemão do século XIX, é um exemplo 
forte disso. Suas ideias sobre o sistema capitalista permeiam as fundamentações 
de diversos textos e posicionamentos até a atualidade. Nicolau Maquiavel, nascido 
no século XV, também é muito importante para a ciência política. Defendendo o 
Estado acima de todas as outras instituições, criou a figura do Príncipe, livre dos 
laços morais comuns aos outros homens, e que tinha como obrigação viver o Estado, 
conquistar para que não fosse conquistado.
Em Maquiavel encontramos a figura do Estado soberano frente a oposição ferrenha 
que Marx faz ao Estado opressor. Marx posiciona o Estado como uma instituição 
a serviço da dominação, atendendo aos interesses das classes dominantes, e 
que portanto é violenta com o povo. Já Maquiavel percebe o Estado como uma 
instituição necessária para o progresso e proteção do homem, e para que esse 
Estado fosse pleno, estudou o governante perfeito: O Príncipe. 
Desde muito cedo o homem tende a se organizar em grupos, pequenos ou grandes, 
para resistir, às dificuldades impostas pela natureza ou por outros grupos rivais. O 
homem resiste, algo em que os pensadores parecem concordar. Maquiavel, conforme 
sua ideia de que devemos conquistar para não sermos conquistados é como uma 
ponte para que entendamos como podem as relações de poder estimular o homem 
a resistir, ainda que seja ele o oprimido.
License-525848-67801-0-7
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Quando tocamos as questões de resistência, vale ressaltar que a violência por 
vezes se apresenta nas relações de poder. E não necessariamente na forma física, 
mas muitas vezes de maneira simbólica. A violênciasimbólica é aquela que atinge 
o indivíduo de maneira ideológica e não o permite resistir, já que na maior parte 
das vezes essa agressão toca o próprio querer, e ação que está sendo manipulada 
parece voluntária. 
O filósofo francês Michel Foucault , pensador do século XX, coloca as relações de 
poder como berço do conhecimento. Assim, resistir, afastar, repudiar, é ao mesmo 
tempo conhecer. O que nos permite entrar na seguinte situação: Para Marx, vivemos 
numa sociedade desigual, repressora, onde o Estado é forma de dominação. Para 
Foucault, são essas mesmas relações de poder que nos permitem conhecer, de uma 
forma geral. São as relações violentas que estabelecemos na sociedade que nos 
permitem conhecer a mesma. Maquiavel surge então como contrapeso, com um 
Estado que cuida do homem por meio do Príncipe, que ao ser o melhor governante, 
constrói a melhor cidade. 
De tal maneira que é necessário romper com o que o próprio Marx chamaria de 
alienação. Interpor a vontade de conquistar e controlar a si mesmo contra a força 
que o domina. É até certo ponto, conhecer verdadeiramente as relações que estão 
na sociedade, é ser seu próprio príncipe. 
Portanto, indiferente da maneira como a legislação se apresente, é preciso entender 
o caso brasileiro, na medida em que a lei resguarda e protege as questões culturais 
em seu texto. Percebemos que o embate de resistência acontece principalmente no 
dia a dia e nas relações diárias onde a violência simbólica ganha o ar de inexistência 
que lhe cabe. 
Pesquisas sobre as comunidades quilombolas como o “Projeto Quilombos” da 
Universidade de Campinas (UNICAMP), patrocinado pela Fundação Ford (ABA-FORD), 
iniciado em 1994 e finalizado em 2002, teve como propósito “gerar as bases de uma 
sistemática para acompanhamento dos laudos periciais a partir das demandas de 
comunidades negras rurais, que pretendem em suas ações a aplicação do artigo 
68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal 
de 1988”, conforme Eliane Cantarino, antropóloga e professora da Universidade 
Federal Fluminense, uma das coordenadoras do estudo, que revela a importância 
de voltarmos nossos olhares para essa temática. O artigo 68 pressupõe que “aos 
remanescentes das comunidades de quilombos que estejam ocupando suas terras 
é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos 
definitivos”. 
License-525848-67801-0-7
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
O Quilombo Rio dos Macacos, localizado na região metropolitana de Salvador, na 
Bahia é um dos exemplos da representatividade histórica e social das comunidades 
tradicionais remanescentes, ademais de ser um exemplo das relações de poder 
entre Estado e sujeito. Por ser área de antiga fazenda de cana-de-açúcar, após a 
desativação da fazenda a comunidade escrava permaneceu no local. A Marinha 
das Forças Armadas Brasileira, também se instalou próximo, com a Base Naval de 
Aratu.
Situação atual 
Conforme os anos foram passando, a Marinha teve interesse na terra na qual os 
quilombolas viviam para ampliação de suas instalações. Em face a essa posição, 
os quilombolas se posicionaram em resistência e permanência. Frente a um 
debate sobre a utilidade do território ao Estado e a sua proteção e a conservação 
da Comunidade Tradicional, com valor histórico-cultural singular, iniciaram as 
disputas jurídicas e extrajudiciais. De acordo com a Comissão de Direitos Humanos 
e Legislação Participativa (CDH) um dos problemas mais urgentes é a falta de 
regulamentação das terras que ocupam. 
Em 2 de janeiro de 2013, a Comunidade Rio dos Macacos protestou contra o silêncio 
da presidente Dilma, de acordo com o site da Rede Globo G1 :
“Comunidade cobra apoio da presidente para reconhecimento de 
território. População quilombola se defende de ação da Marinha que 
pede despejo”.
 
Manifestantes realizam protesto no Terminal Marítimo de São Tomé de Paripe, próximo a Base Naval de Aratu, 
onde a presidente Dilma Rousseff permanece hospedada em sua folga de fim de ano, em Salvador. 
(Foto: Ed Ferreira/Estadão Conteúdo). 
License-525848-67801-0-7
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
“Os moradores da comunidade quilombola Rio dos Macacos, território localizado 
em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, e controlado pela Marinha 
do Brasil, protestaram no início da tarde desta quarta-feira (2) em frente à Base 
Naval de Aratu, onde a presidente Dilma Rousseff se hospeda há seis dias.
Uma das líderes comunitárias, Rosimeire Santos, disse que a manifestação foi 
realizada para pedir apoio da presidente à causa do quilombo, que se defende na 
Justiça de ação da Marinha que pede a retomada da área, que tem cerca de 300 
mil hectares. Em outubro de 2012, a Justiça Federal decidiu pela desocupação do 
território, que abriga quase 50 famílias, mas a Defensoria Pública da União entrou 
com recurso contra o despejo e até o momento não foi notificada de nenhuma 
decisão da 2ª instância.
A assessoria de imprensa que acompanha a presidente na Bahia disse que não 
tem informação se Dilma teve conhecimento do protesto. “É um absurdo que a 
presidente, sabendo do que está acontecendo, de todo o massacre, passe o ano 
novo perto e sequer marque uma reunião com a gente. Vem para a Base Naval 
mesmo sabendo o que estão fazendo com os quilombolas? Cada vez mais a 
Marinha aumenta a violência”, alega Rosimeire Santos. 
A quilombola contou casos de violência vividos por parentes no mês de dezembro. 
De acordo com ela, no dia 31 de dezembro, durante a virada do ano, uma criança 
de seis anos percebeu homens armados escondidos atrás de sua casa. “Ela está 
fora de si”, contou. “Eles ainda atiraram contra os meus irmãos também em 
dezembro, graças a Deus não pegou [os tiros]. Eles têm coragem de tirar foto da 
gente, se vamos para um bairro próximo, somos seguidos por um carro prata ou 
vermelho. A saída e a entrada da comunidade agora têm câmera e portão. A gente 
vive uma verdadeira senzala, mas enquanto tiver gente viva, a gente vai lutar”, 
complementou. São três processos judiciais em andamento, cada um com dez 
réus, todos com o mesmo teor, que é a reintegração de posse da área. 
Posição da Marinha
Em comunicado enviado no dia 4 de janeiro, a assessoria de comunicação do 
Comando do 2° Distrito Naval informa que tem sofrido uma “campanha difamatória 
por parte dos ocupantes irregulares” como estratégia para “sensibilizar” a opinião 
pública. 
“A estratégia adotada tem sido propalar acusações levianas contra a MB, com o 
único intento de vitimizar os autintitulados quilombolas, de forma a desviar o foco 
do assunto e impedir qualquer discussão racional e jurídica, sob o fraco argumento 
de comportamento arbitrário dos militares”, complementou a nota.
License-525848-67801-0-7
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
O Comando argumenta que todas as denúncias de violência feitas pelos moradores 
são “vagas e imprecisas, não trazendo dados concretos que permitam aferir a 
materialidade ou autoria da suposta ilegalidade, tampouco apontam as provas das 
alegadas arbitrariedades”.
Ressalta que a Marinha apura as denúncias abertas por meio do Inquérito Policial 
Militar (IPM). “Vale repisar que o tratamento dispensado aos moradores sempre foi 
respeitoso e humano, importando destacar que, no presente caso, a Marinha tem 
trabalhado, em cooperação com as autoridades do Governo Federal, para encontrar 
uma solução pacífica para a questão, tendo em vista que a missão constitucional 
da MB está relacionada com a defesa do povo brasileiro, razão pela qual esta Força 
repudia qualquer ato de violência”, destacou o Comando.
Proposta da união
“O Brasil não vai abrir mão da Base Naval de Aratu”, garantiu, em agosto de 2012, 
o assessor especial do Ministério da Defesa, José Genoíno, a respeito do território 
do quilombo. Ele explicou que o terreno é fundamental para o sistema nacional 
de proteção do Atlântico. Por conta disso, a União fez a proposta de transferiras 
famílias para um território distante cerca de 500 metros da área atual. No novo 
local, a ideia é construir novas casas, sob supervisão da população remanescente 
de escravos, e uma entrada autônoma - hoje a portaria é a mesma usada pelos 
oficiais órgãos militares.
Área quilombola
O relatório técnico finalizado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma 
Agrária (Incra) em agosto de 2012 comprovou que o território do Rio dos Macacos 
é um quilombo de remanescentes de escravos. Segundo Rosimeire Santos, até este 
dia 2 de janeiro de 2013 o resultado do relatório não foi publicado no Diário Oficial 
do Estado e da União.
Repressão
As denúncias de repressão aos residentes do quilombo são foco de ação do 
Ministério Público Federal (MPF-BA). A Procuradoria direcionou recomendação ao 
Comando do 2º Distrito Naval da Marinha no dia 1° de junho, com o intuito de coibir 
“constrangimento físico e moral” à população do local. A procuradoria solicitou 
que o órgão militar “exerça o controle e a fiscalização efetiva dos atos praticados 
por oficiais subordinados” e que repreenda qualquer tipo de “prática arbitrária ou 
License-525848-67801-0-7
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
agressiva” com medidas disciplinares. A Defensoria Pública do Estado afirma que 
46 famílias residem atualmente no local, ocupado há pelo menos 150 anos”.
Após 1 ano, em 6 de janeiro de 2014, o site da Rede Globo G1 novamente 
publicou uma matéria sobre um dos confrontos travados entre a 
Marinha e a Comunidade Rio dos Macacos, conforme descrição a 
seguir: 
“Familiares de dois irmãos alegam que eles foram agredidos por 
oficiais da Marinha na tarde desta segunda-feira (6), no Quilombo 
Rio dos Macacos, em Simões Filho, cidade da região metropolitana 
de Salvador.
De acordo com um dos familiares que não quis se identificar, os 
irmãos Edinei dos Santos e a Rosimeire dos Santos moram no local e 
precisaram sair para matricular as filhas dela, mas quando voltaram e 
pediram para o oficial abrir o portão de acesso ao Quilombo Rio dos 
Macacos, o rapaz agrediu os irmãos.
“Ele [Edinei] chegou de carro e pediu para o rapaz abrir o portão. O 
homem não abriu e pediu que Edinei saísse do carro, como ele disse 
que não ia sair, aí o homem chegou perto dele e já foi pegando ele 
pela garganta, chutaram a mulher, as crianças saíram correndo para 
chamar ajuda. Colocaram até uma arma dento da boca dos dois e 
depois eles foram presos” conta. 
Ainda de acordo com a testemunha, as agressões de oficiais da 
Marinha são constantes. “A gente vive isso direto, mas hoje eles não 
respeitaram nem as crianças foi o fim. Eles ainda disseram que com 
a farda eles não vão fazer nada, mas lá fora [na rua], eles podem 
fazer”, diz a pessoa que não quis se identificar.
Segundo familiares dos irmãos, eles foram soltos ainda na noite desta 
segunda e prestaram queixa na Polícia Federal, no bairro de Água de 
Meninos, em Salvador.
Em nota, a Marinha disse que os irmãos foram presos, pois foram 
violentos com os oficiais. Leia abaixo na íntegra.
“O Comando do 2º Distrito Naval informa que, por volta das 16h00 de 
hoje (06), foram detidos, no tombo pertencente à União, situado no 
Complexo Naval de Aratu e administrado pela Marinha do Brasil, o 
Sr. Edinei Messias dos Santos e a Sra. Rosimeire Messias dos Santos, 
moradores da comunidade conhecida como Rio dos Macacos.
As detenções foram motivadas pelas ameaças proferidas pelo Sr. 
Edinei contra as sentinelas de serviço e em razão do comportamento 
License-525848-67801-0-7
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
violento da Sra. Rosimeire, que tentou, inclusive, apoderar-se da arma 
de um dos militares. Os dois foram liberados após a situação ter sido 
controlada.
Um Inquérito Policial Militar (IPM) será instaurado, com apoio do Ministério Público 
Militar, a fim de apurar o ocorrido.” 
Apresentação do problema 
Relatos dos moradores, páginas na internet e algumas reportagens demonstraram 
que a população local reclamava de constante violência por parte da Marinha, vista 
como manifestação do Estado. As formas de resistência geraram em agosto de 
2014 uma decisão judicial que declarava aproximadamente 100 hectares, como 
território da comunidade quilombola. Alegando que não se tratava de um território 
tão pequeno, permanecem em resistência, buscando aumentar o território 
reconhecido. Diante dos problemas e conflitos aqui apresentados, cabe-nos alguns 
questionamentos: 
1. Como é possível equilibrar a questão? Até que ponto o homem é mais importante 
que o Estado? É possível atender a todas as partes?
2. De um lado o Estado, do outro a população quilombola. Frente a essa situação, 
qual a posição adequada a se tomar? Pensar no Estado como forma de nos defender 
e como instituição inerente aos homens ou como repressor e violento?
3. Como podemos entender o conceito de Estado, de relações de poder e justiça 
social nos dias atuais a partir do caso em questão?
4. Como entender os conceitos de alteridade e cultura nesse contexto? 
5. O que você faz no seu cotidiano para perceber e combater essas relações de 
dominação?
License-435632-67800-0-5
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Estudo de caso: 
terapia antirretroviral (tar) e cultura: como 
cuidar, sem segregar?
Introdução
A Constituição Federal escreve em seu artigo primeiro, como fundamento da 
República Brasileira, a dignidade da pessoa humana. E no artigo 5º, diz: “Todos 
são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. São todas formas de 
integrar ao Direito do nosso país valores sobre os Direitos Humanos. 
Pensando sobre Igualdade, Dignidade e os processos de formação dos nossos 
valores, temos um caso interessante do posicionamento de instituições e órgãos 
que são politicamente muito importantes, por suas práticas afetarem a vida das 
pessoas em vários graus. Na vida íntima, na relação com as outras pessoas e na 
relação delas com o Estado. 
Em Julho de 2014 a Organização Mundial da Saúde, órgão das Nações Unidas, 
lançou as “Diretrizes Consolidadas para Prevenção, Diagnóstico, Tratamento e 
Cuidados em HIV para Populações-Chave” . O guia traz algumas medidas como a 
indicação de Tratamento com Antirretroviral (TAR) para os grupos considerados de 
risco, como os homens que fazem sexo com outros homens, prisioneiros, usuários 
de drogas injetáveis, trabalhadores do sexo e transgêneros. Conforme os dados da 
OMS, não são apenas esses os grupos de risco , mas sim as populações-chave para 
o controle da epidemia do vírus. O TAR surge então como uma maneira de evitar 
o contágio, reduzir as infecções e garantir um controle da epidemia nos próximos 
anos, evitando novos casos.
License-435632-67800-0-5
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Panorama e cenários
Em 11 de julho de 2014, o site da BBC (versão para o Brasil), publicou a seguinte 
notícia:
OMS recomenda antirretrovirais para gays como prevenção ao HIV
“A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou, pela primeira 
vez, que homens gays ativos tomem medicamentos antirretrovirais 
além de usar preservativos para evitar contaminação pelo HIV.
A organização afirma que o que chama de “medicamento de profilaxia 
pré-exposição” pode reduzir a incidência do HIV entre 20% e 25% 
globalmente, segundo estimativas.
Isto evitaria, segundo os cálculos da OMS, até 1 milhão de novos casos 
nesse grupo em um período de dez anos.
A entidade diz que esse grupo tem 19 vezes mais chance de contrair 
o HIV do que a população em geral. “Taxas de infecção por HIV entre 
homens que têm relações sexuais com homens continuam altas quase 
em todos os lugares, e novas opções de prevenção são necessárias 
com urgência”, afirmou a OMS em relatório divulgado nesta sexta-
feira.
A OMS define que a “profilaxia pré-exposição é uma forma de as pessoas 
que não têm HIV, mas que correm o risco de infecção, prevenirem-
se tomando uma única pílula (geralmente uma combinação de dois 
antirretrovirais) todos os dias”.
Mas GottfriedHimschall, diretor do departamento de HIV da OMS, 
ressaltou à agência France Presse que “em um relacionamento estável 
em que ambos são soronegativos e não há risco, não há motivo algum 
para ingerir o medicamento”.
A OMS também afirmou em sua declaração que grupos importantes 
- não apenas homens que têm relações sexuais com homens, mas 
também “detentos em prisões, pessoas que usam drogas injetáveis, 
prostitutas e transgêneros” - não estão recebendo serviços adequados 
em prevenção e tratamento do HIV e isso ameaça a resposta global 
ao avanço do vírus.
“Estas pessoas estão sob risco maior de infecção por HIV e, ainda 
assim, são as que têm menores possibilidades de acesso à prevenção 
do HIV, exames e serviços de tratamento. Em muitos países eles 
são deixados de fora dos planos nacionais (de combate ao) HIV e 
License-435632-67800-0-5
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
leis e políticas discriminatórias são grandes obstáculos ao acesso”, 
informou a organização.
A OMS divulgou nesta sexta-feira as novas diretrizes para o tratamento 
e prevenção do HIV, “Diretrizes Consolidadas para Prevenção, 
Diagnóstico, Tratamento e Cuidados em HIV para Populações-Chave”.
As diretrizes foram anunciadas pouco antes da Conferência 
Internacional sobre Aids, que começa em Melbourne, na Austrália, 
no dia 20 de julho”. (Fonte: BBC. http://www.bbc.co.uk/portuguese/
noticias/2014/07/140711_oms_hiv_remedios_preventivos_fn) 
Situação atual
A notícia traz boas perspectivas para a saúde pública no Brasil. No entanto, uma 
leitura mais profunda pode nos levar a pensar em outras questões mais subjetivas: 
por um lado, é inevitável a determinação de grupos de alto risco pela OMS; por 
outro, há que se cuidar para que estes grupos não se tornem ainda mais segregados 
pelas instituições públicas: mídia, religião, etc.
O tratamento da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) – síndrome 
causada pelo vírus HIV (vírus da imunodeficiência humana.) – é oferecido pelo 
Sistema Único de Saúde no nosso país, que oferece além do tratamento medidas 
gratuitas para o diagnóstico e prevenção.
Vejamos o caso de João Fernando. Com 22 anos de idade, estudante de engenharia, 
filho único, mora com o pai e a mãe num apartamento num bairro de classe média. 
João saiu com os amigos no fim de semana, foram a um bar no centro da cidade. 
E Suellen, 24 anos, mulher transexual, moradora das redondezas, trabalhadora 
do sexo, foi ao mesmo bar. Durante a noite os amigos de João e ele acabaram 
se empolgando, divertiram-se bastante e conforme a noite se desenrolou, João e 
Suellen acabaram trocando alguns olhares e começaram a conversar.
Por ter aparente consciência de sua condição transexual a muito tempo, Suellen 
possui traços delicados e facilmente definidos como femininos, fruto de um uso 
prolongado de medicamentos com base hormonal, em sua maior parte obtidos 
com outras colegas e amigas que fazem tratamento para mudança de sexo. 
A conversa fluiu, perceberam afinidades e uma forte atração física. Saíram do 
bar e foram para a casa de Suellen. Devido a sua atividade profissional, Suellen 
costuma ter preservativo em casa, mas acabaram aquela tarde e ela não teve 
tempo de comprar. João não esperava que fosse transar naquela noite, e não 
trouxe camisinha, caso acontecesse esperava que a parceira estivesse prevenida. 
License-435632-67800-0-5
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
“Camisinha incomoda”, como o mesmo argumentou. Acabaram por fazer sexo sem 
proteção. 
Algum tempo depois, Suellen percebeu que estava tendo uma gripe demorada. Febre 
alta e uma tosse constante a fizeram procurar atendimento médico. Ao procurar 
o atendimento médico, todos os exames foram solicitados, inclusive exames para 
verificação de doenças sexualmente transmissíveis. O resultado informou que ela 
estava infectada. João Fernando, por sua vez, tinha começado a namorar com 
Juliana uma semana depois do encontro com Suellen. Ela ficou grávida, e com o 
parto e os exames da criança, vieram a descobrir que o filho era positivo para o 
HIV. 
A AIDS, assim como outras doenças, é uma forte questão de Saúde Pública, 
principalmente, quando resultado das políticas públicas voltadas para isso. 
Mesmas políticas que são fruto da maneira como os governantes e legisladores se 
posicionam, e portanto dizem respeito a própria estrutura política do país. 
As repercussões sociais da AIDS como um fenômeno coletivo transpassam as 
estruturas normativas. Como é uma doença que deixa o indivíduo dependente de 
um grupo de substâncias químicas por um tempo longo, a doença pode evidenciar 
inclusive as falhas na maneira como as drogas são posicionadas dentro do grupo 
social. Os remédios e seus efeitos na sociedade e a sociedade médica são muito 
importantes nessa relação.
Conforme as pessoas são identificadas com a doença o estigma que cai sobre 
elas é de um peso tamanho que o problema é intensificado. A maneira como a 
sociedade responde à parcela que convive com a doença ainda é até certo ponto 
distante. Mesmo como um Estado que oferece tratamento gratuito e é forte no 
sentido das campanhas de conscientização, o Brasil ainda possui forte resistência 
ao encarar a identificação e participação das diferentes figuras no seu seio social. 
Os grupos que a OMS identificou como populações-chave são ao mesmo tempo 
as populações marginalizadas da sociedade. Presos e detentos, profissionais do 
sexo e as pessoas que manifestam diferentes formas de performance sexual são 
assuntos, no mínimo, delicado para o debate nas diferentes esferas da sociedade. 
License-435632-67800-0-5
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Apresentação do problema
As relações que mantemos com as pessoas e com a sociedade são sempre 
fundamentais para formação de quem somos. O constante processo de socialização 
pelo qual passamos é a maneira como nos condicionamos a adotar uma visão frente 
aos acontecimentos sociais. Essa visão é fruto de como fomos socializados. Não 
que o processo de socialização seja um desses fenômenos marcados por começo, 
meio e fim, ao contrário, a socialização dá-se desde o nascimento até o momento 
em que morremos, é presente sempre que nós temos contato com a sociedade e 
a cultura. De tal maneira que os processos de socialização são diferentes conforme 
as culturas e locais, o que gera pessoas e valores diferentes, também.
A sociedade é ordenada e coordenada por diversas normas, sejam elas normas 
que nos obrigam ou normas que nos indicam o que fazer ou não na sociedade. 
Exemplo dessas normas imperativas – ou coercitivas – são as leis. Já um exemplo 
das normas que não são imperativas, mas que são indicadas e obedecidas para 
uma melhor aceitação e convívio na sociedade, são as normas morais. 
Nossa vida intima acaba sendo regulada também, tanto pelo Direito – que cuida das 
normas legais – quanto pela Ética – que cuida das normas morais – e assim, não é 
possível pensarmos nossos comportamentos sem pensar a maneira como estamos 
ou não dentro dessas normas. Conforme então nos socializamos determinamos o 
que seria o correto ou não. Nossos valores éticos e morais são baseados nesse 
processo. 
A ciência, qualquer que seja, por sua vez, tem sempre o papel de questionar. De 
buscar na própria sociedade maneiras dela se relacionar com a natureza e com 
os outros humanos. É por isso que as vezes passamos um tempo enorme da nossa 
vida acreditando que determinados comportamentos são inofensivos e até mesmo 
corretos, até que nos deparamos com questionamentos mais profundos sobre 
aquilo e descobrimos que as consequências podem ser muito mais complexas do 
que imaginamos. É o caso do uso de algumas substâncias, comer alguns alimentos, 
ou até mesmo comportamentos, e ideias. 
Um fator importante para compreensão das relações e fenômenos sociais como 
fator científico é o processo de desfamiliarização . Afastar-se do objeto para lançar 
sobre ele um olhar científico não trata de uma tarefa tão fácil quanto parece. Quandoprecisamos questionar a Ética e como os Direitos Humanos coletivos e individuais 
são postos em prática, por exemplo, falamos não só sobre uma realidade distante 
da nossa, mas sobre nós mesmos, o que nem sempre é confortável.
License-435632-67800-0-5
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Ficam algumas dúvidas: 
1. Ainda que João nunca mais venha a ver Suellen novamente os dois estão ligados. 
Os dois tiveram processos de socialização diferentes, portanto, lidarão de maneiras 
diferentes com a doença também. Conforme contarem às pessoas próximas, qual 
dos dois sofrerá mais com a reação social?
2. A nossa sociedade, com as normas morais e legais que nos apresenta, promove 
uma sociedade pela Dignidade da Pessoa Humana? E quanto será importante para 
que a Dignidade seja alcançada que a Igualdade seja o caminho para isso?
3. Como podem ser desconstruídas ou revistas a maneira como as “populações-
chave” são vistas na sociedade? Os preconceitos entorno deles auxilia ou dificulta 
na diminuição dos estigmas? 
4. O HIV/AIDS não pode ser encarado como uma forma de segregar ainda mais 
os grupos que passam por processos diferentes da socialização convencional dos 
outros grupos da sociedade. As diferenças devem ser razões de exclusão?
License-528838-68752-0-4
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Estude de caso: (in)tolerências religiosas: 
qual o papel da universidade?
Introdução
A sociedade sempre será um palco de diversidade(s). A cada momento nossas 
identidades e subjetividades estão sendo pressionadas para que se adaptem ou 
reafirmem, o que leva cada um de nós a tomarmos posições diferentes, conforme 
nossas próprias experiências e vontades, durante a vida em sociedade. 
É muito comum ouvirmos que futebol, política e religião são assuntos indiscutíveis. 
É preciso compreender que para a ciência e para toda forma de construir o 
conhecimento, que seja pautada na lógica do questionamento e da procura 
pela verdade, não é possível eleger objetos indiscutíveis, e que o hábito de não 
falarmos sobre esses assuntos é fruto muito mais de um senso comum “do tabu” 
do que necessariamente problemas ou impedimentos reais. São assuntos que 
normalmente fazem parte da esfera particular de cada pessoa mas que também 
acabam influenciando em toda nossa convivência coletiva.
Para alguns autores, como é o caso de Karl Marx, a religião é a manifestação da 
sociedade para uma estrutura de poder que está na construção simbólica dos 
valores que as pessoas carregam. Ele diz:
Hegel parte do Estado e faz do homem o Estado subjetivado; a 
democracia parte do homem e faz do Estado o homem objetivado. 
Do mesmo modo que a religião não cria o homem, mas o homem cria 
a religião, assim também não é a constituição que cria o povo, mas o 
povo a constituição. (MARX, 2010, 50).
No texto percebemos que a preocupação maior de Marx é em relação às formas 
de governo e não necessariamente com religião. Ele propõe uma relação entre 
democracia e as pessoas que lhe compõe e logo em seguida propõe uma relação 
entre a religião e as pessoas que as criam. Dessa forma Marx não fala da religião 
como simplesmente “ópio” entorpecedor, mas como um elemento social criado 
pelos homens, como uma substância que faz parte da sociedade porque o homem 
assim decidiu. 
License-528838-68752-0-4
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
A religião é notoriamente parte de nossas vidas. Faz parte da política, arte, economia 
e inclusive da nossa produção de conhecimento. É por isso que não temos como 
afastar a religião de nossas vidas, e nem precisamos. A religiosidade é parte de 
nossa intimidade, o que significa que todos nós possuímos alguma expressão de 
espiritualidade, em graus maiores ou menores, e até mesmo numa “não-crença” 
ou ateísmo, porque inclusive uma “não-forma” de estar espiritualizado parte desse 
princípio inicial sobre o homem, a sociedade e as religiosidades. 
Isso acontece por um motivo simples, religião é um assunto que tem influenciado 
estudos e pesquisas desde o surgimento da sociologia. Conforme os estudos 
avançam, o que se percebe é que são muitas informações importantes e variáveis 
dinâmicas sobre o tema. 
É por fazer parte de tantos espaços de nossas vidas que precisamos nos preparar 
para lidar com a religião e as múltiplas religiosidades que se manifestam em nossa 
convivência coletiva, inclusive nos “espaços de construção do saber”, que de 
forma bem simplista, diz respeito a todo corpo social. Produzimos conhecimento 
nas relações interpessoais, nos questionamentos íntimos, na família, na escola, no 
trabalho e assim por diante, todos conforme suas regras e objetivos. 
Sabendo que a religiosidade tem dado motivo para debates dos mais diferentes 
níveis, desde o comportamento de grupos extremistas no exterior até o 
comportamento de adeptos de determinada religião com os quais convivemos, 
sabemos que a tolerância religiosa precisa ser um princípio em nosso corpo social. 
Essa multiplicidade de crenças é defendida, inclusive na nossa constituição, que 
institui o Brasil como um Estado Laico.
Nossa sociedade também é constituída por outra parte muito importante, a que 
diz respeito à educação, em especial as faculdades e universidades. É papel do 
ensino universitário produzir conhecimentos que são comumente chamados de 
“científicos”. Esses saberes são chamados dessa forma porque toda construção 
científica é baseada nos métodos, o que significa que toda produção de 
License-528838-68752-0-4
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
conhecimento científico precisa estar alinhada com uma responsabilidade na 
forma pela qual é produzida. 
E como principal fonte desse conhecimento denominado científico, a academia – 
outra forma de se chamar o ensino universitário do nosso país – é também parte 
de toda nossa sociedade. Por isso, é fundamental que os conhecimentos e os 
profissionais produzidos sejam úteis e atuantes para a sociedade e que sempre 
digam respeito à melhoria e compreensão mais profunda da vida das pessoas. 
Panorama e cenários
Tendo em vista todas essas questões, a importância de respeito às diferentes 
religiosidades e a importância de construir saberes sobre as religiões e os religiosos, 
justamente por ser parte de nossa sociedade, ficam alguns questionamentos sobre 
o papel das faculdades e universidades e a relação com as (in)tolerâncias religiosas. 
Para fundamentar um exemplo dessa relação, temos a notícia a seguir, que diz 
respeito ao resultado dessas relações entre a religiosidade e educação.
Intolerância religiosa afasta professora de escola na Praça Seca, na 
Zona Oeste
Adereço do candomblé gerou confusão e aluna acusa docente de 
constrangimento
O DIA
Rio - A intolerância religiosa provocou mais uma vítima em escola no 
Rio de Janeiro, desta vez uma menina de 11 anos, aluna de um colégio 
particular na Praça Seca, em Jacarepaguá, Zona Oeste.
Iniciada no fim do ano passado no candomblé, religião de seus pais e 
suas irmãs mais novas, C.T., aluna do 6º ano do Ensino Fundamental, 
acusou uma professora de constrangimento e de tê-la proibido 
de assistir à aula com um adereço feito de palha e amarrado aos 
antebraços, conhecido no candomblé como contraegum.
“Ela disse que eu não poderia ficar na aula porque o contraegum não 
fazia parte do uniforme e eu, sem saber o que fazer, saí de sala”, disse 
a estudante, abatida.
A mãe de C. contou que se assustou ao ir buscar a filha na escola, 
na quinta-feira passada. Disse que a garota estava acanhada e, ao 
ver a mãe, começou a chorar sem saber o que fazer. Orientada pelo 
advogado da família, a mãe foi à 28ª DP (Campinho) prestar queixa 
contra a escola e a professora.
License-528838-68752-0-4
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
“Se ela não pode usar uma fita no antebraço, por baixo do uniforme, 
outras crianças também não podem usar pulseiras, cordões e 
medalhas. O que vale para um tem que valer para todo mundo”, 
disse a mãe da criança.
O babalorixá dafamília, Pai Marcus de Oxóssi, bisneto da famosa Mãe 
Menininha do Gantois, lamentou que ainda tenha que conviver com 
preconceito e intolerância, principalmente em escolas, onde o que 
deveria ser ensinado é o oposto.
“Infelizmente, em pleno século XXI, temos ainda casos e mais casos 
de intolerância religiosa”, disse o babalorixá.
A polêmica, desta vez, parece ter sido contornada sem a necessidade 
de intervenção judicial. A família da jovem foi procurada pela escola, 
e informada que a professora foi afastada do cargo. Também foi 
oferecida uma bolsa de estudos à aluna.
“A escola entendeu o problema e procurou se redimir. Isso é importante 
para servir de exemplo para os alunos”, disse a mãe da estudante.”
Fonte: http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2015-02-11/
intolerancia-religiosa-afasta-professora-de-escola-na-praca-seca-
na-zona-oeste.html 
License-528838-68752-0-4
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Apresentação do problema
Agora para problematizar um pouco sobre a situação, vamos pensar sobre as 
relações que são estabelecidas neste caso. É preciso pensar que 
1. O professor é um profissional, fruto do ensino universitário, que é responsável por 
contribuir para todo o ciclo de construção de conhecimento que nossa sociedade 
constrói. Tendo em vista o comportamento dessa professora em sala de aula, qual 
sua opinião sobre o assunto?
2. Tendo em vista que é necessário estar preparado para lidar com diversos 
tipos de pensamentos, desde hábitos alimentares até questões mais profundas e 
íntimas como caso da religiosidade. Assim, você acredita que a maneira como as 
disciplinas são organizadas e os temas que são abordados atualmente, preparam 
os profissionais para lidar com uma sociedade plural?
3. O que você faria se estivesse no lugar dessa professora?
4. Vamos construir uma pequena situação hipotética. Imaginemos que você possui 
uma religião que diz respeito a uma pequena parte da sociedade, e que é vista de 
maneira preconceituosa pelas outras pessoas, e que você está tentando entrar na 
sua sala de aula para assistir sua aula, e sua professora impede que você entre. O 
que você faria?
License-530079-68749-0-4
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Estudo De Caso: “Andressa Urach” – Qual O 
Papel Da Indústria Cultural E Dos Meios De 
Comunicação De Massa No Cotidiano Dos 
Sujeitos? 
Introdução
Em janeiro deste ano, tornou-se viral nas mídias alternativas mais um caso envolvendo 
corpo e indústria: o caso da Andressa Urach, modelo gaúcha, 27, que conquistou 
os holofotes da mídia em 2012, quando venceu o concurso “Miss Bumbum Brasil”. 
Desde então, trabalhos publicitários dos mais variados foram feitos por ela, a fim 
de manter estática sua vida pública – campanhas para programas de televisão, 
capas de revista, ensaios fotográficos, participação em reality show... Urach ganhou 
espaço e fama. 
Todavia, em sua página pessoal em uma rede social, a modelo publicou uma 
fotografia na qual iria gerar discussões e polêmicas, envolvendo o limite do corpo 
para servir ao mercado midiático-industrial que é sedento por objetos novos – 
substituindo-lhes na mesma velocidade em que os visibilizam. Não obstante, falar 
sobre este caso a partir de uma perspectiva da indústria que cria e destrói suas 
invenções seria leviandade. Abordar o fato Urach é falar de opressão e controle dos 
corpos, da mulher e da sua árdua tentativa de emancipação. 
Na tentativa de preservar seu protagonismo em toda essa história, Andressa Urach 
foi transformada pela mesma indústria cultural que a deturpou em ícone da sua 
opressão diária. Em toda programação de qualquer meio de comunicação de massa 
há um espaço dedicado a tendências da moda, beleza, cuidados com o corpo e toda 
a sorte de regulação – e esta tem um público-alvo muito bem especificado: a mulher. 
License-530079-68749-0-4
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Como se comportar, vestir, como agradar os seus parceiros, chefe, família, ser uma 
boa mãe, boa “de cama”, enfim. É dito como tudo em que possivelmente as vidas 
das mulheres são rodeadas. De revistas para adolescentes a programas de beleza. 
Mas de que beleza estamos falando? Quais corpos são retratados? Para quem (e 
para quê) estes corpos devem ser moldados? 
Vale a pena lembrar que a Indústria Cultural era comumente chamada de Cultura 
de Massa. Porém, ganhou esta nomenclatura por teóricos da Escola alemã de 
Frankfurt, que são: Theodor Adorno e Max Horkheimer, contribuindo para o chamado 
“renascimento cultural”. Entendendo o contexto político-histórico em que eles 
estavam inseridos, então teorizaram o processo de industrialização das culturas, 
onde transformam a cultura em mercadoria. Os corpos e comércio. Os sujeitos em 
instrumento de lucro. Como bem traz em sua obra Indústria Cultural e Sociedade: 
Os produtos da indústria cultural podem estar certos de se‐ rem 
jovialmente consumidos, mesmo em estado de distração. Mas cada 
um destes é um modelo do gigantesco mecanismo econômico que 
desde o início mantém tudo sob pressão, tanto no trabalho quanto no 
lazer, que tanto se 11 assemelha ao trabalho. (ADORNO, 2009, p. 10-11). 
Panorama e cenários
Na primeira metade do século XX o entendimento de mulher era logo associado 
a naturalização dos papéis na sociedade. Casamento e maternidade eram uma 
espécie de condicionante para que a mulher fosse considerada Mulher. A instituição 
familiar era colocada como objeto central da vida das meninas – treinadas para 
serem mulheres e mães. A referência central das suas identidades era pautada 
basicamente por estes elementos, e sem eles a família era desonrada e retaliações 
por certo viriam. 
“Quero tirar todo o bumbum, não aguento mais sofrer”, diz Andressa 
Urach após nova cirurgia”, por Deborah Bresser, do R7.
Apresentadora, que foi operada no fim de semana, permanece 
internada em observação. Andressa Urach continua internada no 
Hospital Alvorada, em São Paulo.
A apresentadora passou por uma cirurgia, no final da tarde de domingo 
(1º), para drenar uma inflamação no glúteo e na coxa esquerda.
Ainda sonolenta por causa dos remédios, Andressa conversou com o 
R7 e confirmou seu desejo de tirar todo o hidrogel do bumbum.
License-530079-68749-0-4
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
— Na verdade, eu tenho hidrogel e PMMA no bumbum. Eu queria tirar 
tudo, mas os médicos não deixam, não sai tudo de uma vez. Por mim, 
arrancaria tudo, eu não aguento mais sofrer. Mas não pode mexer 
onde não está inflamado. 
Segundo a apresentadora, seu estado geral é bom, mas segue com 
bastante sedação para aliviar a dor. Sobre a previsão de alta, Andressa 
acredita que ainda tenha pelo menos uma semana de internação pela 
frente.
— Acho que vou ficar aqui uns sete dias ainda. 
Na manhã desta segunda-feira (2), a assessoria de imprensa do 
hospital enviou boletim médico afirmando que o quadro de saúde de 
Urach segue estável.
Fonte: R7. Disponível em: http://entretenimento.r7.com/famosos-e-tv/
quero-tirar-todo-o-bumbum-nao-aguento-mais-sofrer-diz-andressa-
urach-apos-nova-cirurgia-02032015 
Em 1920, a Indústria Cultural e os meios de comunicação de massa, em especial o 
cinema, deram visibilidade as representações femininas na sociedade. Na conjuntura 
das conquistas das mulheres europeias, a mulher no mercado de trabalho, na 
educação formal básica, a moda como meio de autonomia, todos esses compondo 
o início de uma possível revolução. 
Apesar de falarmos de novas representações nos meios de comunicação, não se 
pode afirmar a existência de uma “revolução das mulheres”. Identidades rígidas 
ainda eram mantidas, porém agora de um pequeno e diversos viés. 
Da imagem de “boa moça” a “mulher livre” (a partir de 1950, os Anos Dourados). 
Por certo, já era sabido o que se entendia por “boa moça”; e agora, qual era o 
entendimento de mulher livre? Mulher livre não era mais boa moça? A boa moça não 
era uma mulher livre? Os processos regulatórios dos corpos femininos se ocuparamem distinguir cada uma, baseando-se nos preceitos da organização social do cis-
patriarcado, machista, gordofóbica, racista e heteronormativa.
Dos modelos rígidos do início do século passado aos modelos flexíveis (e tão 
opressão quanto) do embrião deste século. Hoje a regra é ser livre. É ser mulher 
“do mundo”, é aceitar qualquer condição para provar a sua liberdade (restrita 
ao seu corpo). Identificamos assim a necessidade de aprovação e de servidão a 
este sistema industrial opressor, no qual ofusca liberdades, vontades e vozes. Não 
é propósito aqui afirmar, entretanto, que Andressa Urach fez do corpo o que a 
indústria quis – pode ter sido a sua vontade, sim. Todavia, observando-a mesma, na 
figura pública que representa, pode-se dizer sem receios que a imagem influência 
License-530079-68749-0-4
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
muitas mulheres em busca de encaixamento social. A fim de seguir um modelo 
especifico, como se as suas felicidades fossem condicionadas a obedecer tais 
normas, regras e signos previamente estabelecidos. 
Da magreza excessiva as pernas extremamente torneadas, o corpo da mulher é 
tido (e permanecido) como território de saciar vontades alheias. Andressa Urach, 
e a infecção que sua perna passou após a colocação do produto conhecido como 
Hidrogel (segundo o portal G1 de notícias, utilizado no Brasil desde 2008, onde a 
composição é de 98% de agua e 2% de poliamida, a fim de aumentar o volume das 
nádegas e coxas), foi mais uma vítima desse sistema de regulação – desta mesma 
Industria que surge com discursos libertários. Não podemos esquecer, por fim, que 
seja qual for a figura representativa em que a Indústria Cultural apresente (nos 
quais os meios de massivos de comunicação estão inseridos) obedece a lógica da 
condição do capital: lucrar. 
License-530079-68749-0-4
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Apresentação do problema
Diante do panorama e tema apresentados, alguns questionamentos surgem como 
proposta de debate:
1. Como podemos relacionar o “dever ser” feminino e as estratégias da Indústria 
Cultural?
2. Como podemos entender uma sociedade racionalizada impinge, resultando 
em processos de subjetivação que se dão por meio do controle, da submissão e, 
paradoxalmente, também do aumento da potência do corpo?
3. Como podemos contextualizar o princípio da Cultura de Massa (Perversa, 
Massificadora e Alienante) com o caso acima mencionado?
4. Como podemos relacionar o caso Andressa Urach com a ideia de sujeito pós-
moderno?
License-528385-68750-0-9
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Estudo De Caso: 
Bolsa Família E As Condicionalidades: 
O Que Uma Política Pública Deve Atender? 
A Lei Ou Priorizar As Famílias?
Introdução
O Programa Bolsa Família implantado em outubro de 2003 e promulgado em 2004 
com a criação da lei nº 10.836 de 09 de janeiro de 2004 pela atual gestão do 
presidente Luis Inácio Lula da Silva que tem por princípio norteador o combate à fome 
e à pobreza no país é resultado da unificação dos Programas de Garantia de Renda 
Mínima (PGRM) – Bolsa Alimentação, Bolsa Escola e Programa Auxílio - Gás com a 
pretensão de uma gestão descentralizada, com destaque para a intersetorialidade 
entre os entes federados, com a participação comunitária e o controle social. Isto 
significa que o modelo e os princípios que orientam o desenho desse programa 
referem-se a “proteção contra riscos; combate à miséria; desenvolvimento de 
capacidades que possibilitem a superação das desigualdades e o exercício pleno 
da cidadania; redistribuição de riquezas; etc”. (IVO, 2004, p.57). 
As três dimensões que pautam o programa estão articuladas de forma que 
promovam o “alívio imediato da pobreza” através da transferência direta da renda 
às famílias beneficiárias, reforcem ação dos direitos básicos nas áreas da 
Saúde e Educação utilizando as condicionalidades (ferramentas criadas para 
controlar e “garantir” o acesso aos serviços médicos e a presença de crianças e 
adolescentes nas escolas), “o que contribui para que as famílias consigam romper 
o ciclo da pobreza entre gerações”. (MDS, 2004).
License-528385-68750-0-9
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Após dez anos de implantação, o Programa Bolsa Família (objeto desse 
estudo) desde o ano de 2006 vem sofrendo pequenas alterações no que concerne 
aos valores dos benefícios recebidos pelas famílias que compõem o programa. Em 
relação às mudanças institucionais que dispõem sobre a política em si, identificamos 
no quadro histórico dois marcos importantes: a Medida Provisória nº 132, de 20 de 
outubro de 2003, que precede a Lei nº 10.836 de 2004 e a Medida Provisória nº411 
que vem a ser até então a última ação que antecede a criação da Lei atual nº 11.692 
que dispõe sobre a inserção Programa Nacional de Inclusão de Jovens -Projovem, 
instituído pela Lei no 11.129, de 30 de junho de 2005 e revogam alguns dispositivos 
da lei anterior.
O Bolsa Família vem sendo alvo de várias análises e disputas eleitorais que marcam o 
marketing político nacional. O que queremos destacar é que observa-se, sobretudo, 
que há um excesso de responsabilidades delegadas às famílias quando o Estado 
e o mercado não conseguem controlar socialmente os impactos provocados por 
mudanças relativas ao trabalho, à educação, a saúde e a própria assistência 
social traduzindo uma realidade perversa como caracteriza Goldani (2005) 
vivida pelo processo de “passagem da mobilização de recursos da pobreza para 
a pobreza de recursos”, problema identificado em pesquisas como a da socióloga 
que Izabel Cristina Firmo Foglia (FOGLIA, 2007). Do mesmo modo, chama-nos 
atenção algumas questões propostas por Nathalie Itaboraí:
Será que temos construído políticas públicas coerentes com a 
presente realidade de ausência de um modelo único de família e com 
a presente valorização da individualidade e dos direitos assegurados? 
Sem perder de vista a importância dos laços afetivos e o papel de 
construção identitária das famílias, podemos nos perguntar: política 
de renda mínima vinculadas à presença de filhos é uma decisão 
legítima? Nossas políticas públicas contemplam a diversidade de 
arranjos familiares, considerando os diferentes ciclos de vida da 
família e suas necessidades específicas? Tem sido dada atenção 
às relações de poder de gênero e geracionais que se desenvolvem 
nas famílias, de forma que as políticas públicas possam incentivar 
arranjos mais igualitários e o empoderamento ou a maior 
autonomia de pessoas vulneráveis? Considerando a questão da 
mulher, e o papel muitas vezes a ela conferido de gerenciadora 
desses programas sociais, trata-se de um reforço aos estereótipos 
familiares da mulher como gerente do lar ou uma tentativa de 
empoderamento feminino? (ITABORAÍ, 2005, p.15).
License-528385-68750-0-9
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Panorama e cenários
Para o caso brasileiro se observa que ao longo das mudanças de governo, 
principalmente para as gestões do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso 
e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além da presidente Dilma Roussef, 
há uma manutenção do predomínio de políticas de caráter focalizado em 
detrimento de programas e ações universalizantes. Vê-se que a crise sofrida 
pelo Welfare State e pela reestruturação do mercado de trabalho trouxe a urgência 
de se rever o debate acerca das relações entre a proteção social e o trabalho, 
retomando o enfoque nos desafios da inserção social, em que pese, nesse sentido, 
o redimensionamento da noção tradicional de direito social. De um lado, temos o 
fortalecimento da implementação de experiências de transferência de renda 
orientadas pela condicionalidade; do outro, a intensificação da polêmica em 
torno da cobrança de contrapartidas dos beneficiários

Outros materiais