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Acidente na infância Aula 25 18.05.2021 Dra.Ariane ZollPropedêutica Pediátrica Definida como o grupo de situações em que a criança ou adolescente acaba de sofrer algum dano físico e/ou psíquico, por um trauma independente da ação direta de um outro. Os acidentes na infância representam um grave problema para o sistema de saúde em todo o mundo. Lesões não intencionais são as maiores causas de morbidade e mortalidade na infância, correspondendo a cerca de 25% das causas de mortes entre crianças de 5-9 anos de idade. Dados da Organização Mundial de Saúde demonstram que os acidentes na infância são responsáveis por aproximadamente 830.000 mortes por ano. No Brasil, os acidentes de trânsito e os afogamentos são as principais causas de mortalidade, seguidos por sufocações, queimaduras, quedas e intoxicações. Acidente x Maus Tratos 📌 Momento em que a criança está sozinha; 📌 Rápida procura do serviço de saúde; 📌 História concreta e clara; 📌 Lesões compatíveis com a história; 📌 Sentimento de culpa e ansiedade. 📌 Deve ser notificado; 📌 Momentos em que a criança está acompanhada; 📌 Demora em procurar atendimento; 📌 História vaga; 📌 Lesões incompatíveis com a história; 📌 Pais estranhamente tranquilos. Pode chegar com fraturas e muitas vezes, com fraturas em vários estágios de equimose. Prevenção Ativa 📌 Vigilância e acompanhamento; 📌 Impedir comportamento de risco; 📌 Retirar criança do ambiente de risco; 📌 Esconder objetos perigosos; 📌 Equipamentos de segurança (capacetes, boias, etc). Dependem da atenção constante Prevenção Passiva 📌 Não dependem da presença ou atenção do adulto; 📌 O risco é reduzido na ausência de supervisão; 📌 Portões, travas de portas e gavetas, protetores de quinas, etc. Afogamento Afogamento é o processo de experimentar dificuldade respiratória devido a submersão ou imersão em líquido (OMS, 2002). 📌 Submersão - a via aérea é levada abaixo da superfície do líquido; 📌 Imersão - o líquido é lançado contra a via aérea. 📌 Se não há sint resp, NÃO É AFOGAMENTO! No Brasil, em 2012, segundo dados do Datasus, morreram 1.876 crianças e adolescentes de até 19 anos vítimas de afogamento e submersão acidentais. Entre as mortes, 44,3% aconteceram em águas naturais; 40,8% foram catalogadas como afogamento e submersão não especificados; e 5,1% corresponderam a afogamentos consequentes a queda em águas naturais. Os óbitos predominaram no gênero masculino (78,3%); quanto à faixa etária, 38,1% ocorreram com jovens de 15 a 19 anos. Ana.appa1 Para prevenir afogamentos: jamais deixar a criança sozinha durante o banho, principalmente quando estiver utilizando banheira; nunca deixar baldes, bacias ou tanques com água ao alcance das crianças; frequentar piscinas somente com vigilância contínua. Crianças pequenas constituem um grupo de risco para afogamento, principalmente quando a residência está localizada nas imediações de águas naturais (açudes, lagoas, lagos, poços) ou piscinas e há desatenção dos responsáveis pela segurança da criança. No Brasil, os jovens do gênero masculino são as vítimas mais frequentes de óbitos por afogamento. Consideram-se como fatores de risco: ter contato frequente com a água, nadar e praticar atividades esportivas aquáticas sob o efeito do álcool. Nadar desacompanhado por outras pessoas também é inseguro. Os visitantes, por desconhecerem os perigos das águas locais, também representam um grupo vulnerável ao afogamento. Visando à segurança, recomenda-se que, se houver piscina na propriedade, deve-se cercá-la em todos os lados; o portão deve fechar automaticamente e a fechadura deve ser trancada de maneira automática. Cisternas, poços e reservatórios de água devem dispor de coberturas ou cercas. Crianças precisam de vigilância contínua, atenta, próxima e exclusiva, por um adulto responsável, enquanto praticam atividades na água ou estão nas proximidades. A pessoa encarregada da vigilância não deve usar telefone, estar sob efeito de álcool ou drogas, participar de jogos de carta e tampouco dedicar-se à leitura. Além desses cuidados, recomenda-se o uso de coletes salva-vidas enquanto as crianças estão na água ou nas imediações, mesmo para as que sabem nadar. Deve haver condições para ressuscitação cardiopulmonar imediata em casos de acidentes na água. Saber que a asfixia, o afogamento e as quedas são as principais causas externas de morbimortalidade no ambiente doméstico em crianças, do nascimento até o fim da idade escolar. Principais Fatores de Risco 📌 Sexo masculino 📌 Idade < 14 anos 📌 Uso de álcool 📌 Pobreza 📌 Pouca instrução 📌 Área rural 📌 Comportamento de risco 📌 Falta de supervisão 📌 Epilepsia (aumento de 15-19x o risco) Prognóstico Chance de morte ou sequelas neurológicas graves conforme o tempo de submissão: 📌 0-5 minutos - 10% 📌 6-10 minutos- 56% 📌 11-25 minutos - 88% 📌 0 > 25 minutos - 100% Água gelada pode melhorar um pouco esse prognóstico Resgate Necessidade de RCP 📌 Áreas com salva-vidas treinados: 0,5% 📌 Resgate por populares: até 30% Sempre que possível, tentar resgatar de fora da água. Prevenção Aprender a nadar 🏊 Nunca nadar desacompanhado; Preferir locais com salva-vidas; Obedecer toda a sinalização; Nunca entrar na augura após ingerir álcool; Saber vestir coletes salva-vidas; Conhecer as condições do clima e água antes de entrar; Entrar com o pé am água rasas ou desconhecidas; Não superestime s própria capacidade; Cuidado com correntes marítimas; Defina regras de segurança em seu ambiente; Supervisão constante de crianças perto da água; Aprender primeiros socorros e RCP; Cercar piscinas - reduz em 50-70% a incidência; Sinalize locais de água rasa. Por mais que a bebês e crianças saiba nadar, ela não tem capacidade cognitiva para se salvar. Ela só adquire essa capacidade quando estiver na pré-escola. Quedas No Brasil, segundo o Datasus, em 2014, cerca de 6% de todas as hospitalizações de crianças até 9 anos de idade foram por causas externas (307/100.000 habitantes). As quedas foram responsáveis por 39% desses casos, um número 4 vezes maior que o das internações por traumatismos de trânsito e por choque elétrico e 10 vezes maior do que por queimaduras e intoxicações. As quedas também predominam entre os atendimentos de emergência, correspondendo a cerca de 2/3 dos atendimentos. Início a partir de cerca de 4 meses: trocador, cama e sofá; Quanto mais independência de movimentos, mais comuns: cadeiras, móveis, tropeções, escadas. Principais consequências 📌 Fratura de membros 📌 Fratura de clavícula 📌 TCE Para prevenir quedas: banir o uso de andadores; instalar grades ou redes de proteção nas janelas de andares altos; instalar portões com tranca em escadas. As quedas representam os acidentes mais comuns (50%), seguidas por riscos relacionados com o próprio equipamento, como quebra e montagem (23%). Outros tipos de lesões decorrem de encarceramentos e colisões com outras crianças ou contra o equipamento estático. As mortes estão relacionadas ao uso de cordas, vestuário, quedas e falhas estruturais. TCE - Fatores de Risco 📌 Queda do nível de consciência, mudança de comportamento (esp. se > 2h) 📌 Achados neurológicos focais; 📌 Sinais de fratura de base de crânio; 📌 Crise convulsiva; 📌 Abaulamento de fontanela; 📌 Vômitos repetidos ou por mais de 6 horas; 📌 Mecanismo de trauma de alta energia (acima de 1 metro, ejeção, alta velocidade); 📌 Hematoma sungares (especialmente se acima de 2 cm e não frontal); 📌 Queda sobre superfície dura 📌 Trauma sem testemunha com possibilidade de mecanismo importante; 📌 História vaga de trauma ou ausênciade história com sinais e sintomas de TCE. “máquina da morte” Dentre os fatores mais importantes na avaliação de segurança estão: localização, tipo de piso, infraestrutura, projeto, espaçamento, inspeção e manutenção dos brinquedos e equipamentos. Cuidados 📌 Nunca deixar no trocador ou na cama; 📌 Conforme o desenvolvimento, baixar a grade do berço; 📌 Cuidado com cadeiras com encosto, poltronas, sofás e outros móveis que podem ser “escapados”, principalmente se próximo a janelas; 📌 Redes de segurança nas janelas; 📌 Impedir o acesso a escadas com portões (nas duas extremidades); 📌 Nunca usar andadores. Determinados tipos de eventos traumáticos são característicos de certas idades. Asfixias e quedas predominam no 1 ano de vida, seguidas por queimaduras e aspiração de corpo estranho. A partir dos 2 anos de idade, as quedas passam a liderar o ranking, seguidas por asfixias, queimaduras e afogamentos em menores de 5 anos e por atropelamento, queimaduras e intoxicações nos pré-escolares maiores. Sufocamento Maior causa de morte em lactentes até 1 ano de vida. “Síndrome da morte súbita infantil” Causas 📌 Leite e alimentos; 📌 Obstrução de vias aéreas por tecidos ou por compressão; 📌 Brinquedos; 📌 Moedas. Fatores de risco 📌 Mamar deitado ou sozinho; Não colocar para arrotar; 📌 DRGE; 📌 Travesseiros e colchões macios demais; 📌 Coberturas pesados/ roupas apertadas; 📌 Dormir de bruços; 📌 Dormir na cama dos pais; 📌 Irmãos pequenos. O termo intoxicação exógena refere-se às consequências clínicas e/ou bioquímicas decorrentes da exposição aguda a substâncias encontradas no ambiente (água, ar, alimentos, plantas, animais peçonhentos, etc.) ou isoladas (pesticidas, medicamentos, produtos de uso industrial ou domiciliar, entre outros). Intoxicação Exógena As intoxicações exógenas são importante causa de morbidade, constituindo relevante problema de saúde pública. Na faixa etária abaixo dos 6 anos, as intoxicações não intencionais são frequentes em virtude da curiosidade da criança em explorar o ambiente. Em crianças maiores e adolescentes, predominam as intoxicações intencionais e por drogas de abuso. O reconhecimento precoce dos sinais e sintomas das síndromes tóxicas (toxíndromes) e a instituição da terapêutica adequada são essenciais para o prognóstico favorável no atendimento da criança vítima de intoxicação. História Clínica A história de intoxicação nem sempre é clara. Na grande maioria das vezes, é comum os pais negarem a possibilidade da ingestão acidental de alguma substância. A anamnese é importante para direcionar os acontecimentos e reconhecer os sinais e sintomas das toxíndromes. Questionar sobre todos os medicamentos ou substâncias potencialmente tóxicas disponíveis em casa, local de armazenamento, hábitos diários e condição de saúde da criança e dos seus cuidadores fornece informações que corroboram a suspeita da intoxicação. Geralmente, a criança, previamente hígida, apresenta, de forma súbita e inexplicada, sinais e sintomas progressivos que podem acometer os vários sistemas: neurológico, respiratório, cardiovascular, gastrointestinal e metabólico. A avaliação da criança vítima de intoxicação deve ser minuciosa e abranger os diversos sistemas: Quando o tóxico for conhecido, é importante estimar a quantidade ingerida, o tempo decorrido do contato com a substância, a sintomatologia inicial, quais medidas foram tomadas até a chegada ao serviço de emergência e se foram feitas manobras de reanimação. Sinais e sintomas semelhantes causados por doses tóxicas de substâncias químicas diferentes caracterizam as toxíndromes. Exame Físico 📌 sistema respiratório: frequência respiratória, movimentos respiratórios, ausculta pulmonar. 📌 pele e mucosas: temperatura, coloração, odor, hidratação; 📌 boca: hálito, lesões corrosivas; 📌 olhos: conjuntivas, pupila, movimentos extraoculares; 📌 SNC: nível de consciência, estado neuromuscular; 📌 sistema cardiocirculatório: frequência e ritmo cardíaco, ausculta cardíaca, pressão arterial, perfusão periférica; Diagnóstico Laboratorial Exames laboratoriais devem ser solicitados de acordo com a história e os achados de exame físico. Inicialmente, a dosagem da glicemia, a avaliação de eletrólitos e dos distúrbios acidobásicos e a realização do eletrocardiograma podem revelar informações que otimizam a abordagem. O exame qualitativo da urina, à procura da substância tóxica, é inespecífico e não fornece informações confiáveis em relação ao tempo de exposição à droga. A sua interpretação deve ser criteriosa e não deve ser realizada de rotina. A detecção da droga ou de seus metabólitos pode não indicar a ingestão aguda, pois muitas substâncias podem ser detectadas dias após o seu uso. A dosagem sérica das drogas tóxicas não influencia no tratamento e também não deve ser realizado de rotina, salvo em algumas exceções, como na ingestão de paracetamol, salicilatos, etanol, ferro e lítio. Alguns marcadores sanguíneos podem indicar intoxicação, como a atividade da colinesterase sanguínea superior a 50%, altamente sugestiva de intoxicação por organofosforados, e a dosagem de meta-hemoglobinemia superior a 15%. Tratamento O atendimento inicial da criança vítima de intoxicação objetiva o suporte e a estabilização das funções cardiorrespiratórias e a correção dos distúrbios graves que podem representar risco de morte. Juntamente com a estabilização inicial, é de fundamental importância: 📌 Reconhecer a toxíndrome e identificar o agente causal; 📌 Realizar manobras de descontaminação; 📌 Realizar manobras de eliminação; 📌 Utilizar antídotos quando a substância tóxica permitir. Medicamentos Uso mais comum: analgésicos, AINH, anti-alérgicos, antigripais, etc; Os sintomas podem não ser imediatos; Tentar estabelecer o medicamento exato, o momento exato e a dose consumida. Álcool 🍺 Mais comuns - bebidas, cosméticos, enxaguante bucais; Verificar a fonte, o tempo desde o consumo e s quantidade. Pesticidas Mais comuns: inseticidas, formicidas, raticidas Se possível, descobrir a marca exata. Cáusticos Soda cáustica Prevenção Medicamentos e substâncias perigosas devem estar sempre fora do alcance; Armários trancados ou com travas. Auxílio ao tratamento 📌 Ceatox 📌 CCI Queimaduras Avanços no tratamento, ressuscitação hídrica, excisão cirúrgica precoce com curativos efetivos, controle da infecção, tratamento da lesão inalatória e suporte nutricional são fundamentais na redução da letalidade das queimaduras na faixa etária pediátrica. As vítimas de queimaduras devem ser tratadas seguindo protocolos de trauma, garantindo-se sempre permeabilidade de vias aéreas, ventilação, circulação, ressuscitação hídrica e analgesia. Também é importante restaurar o volume intravascular, prevenindo hipotensão arterial, hipoperfusão tecidual e choque; assim, a oxigenação para os tecidos lesados será mantida e a recuperação da ferida será mais rápida. Em situações específicas, recomendar a hospitalização das crianças. Não há indicação de antibióticos sistêmicos em queimados não infectados, além de levarem ao aparecimento de bactérias resistentes. A nutrição enteral precoce preserva a integridade da mucosa intestinal e melhora o fluxo sanguíneo e a motilidade. Classificação 1° grau: limita-se ao epitélio. Notam-se eritema, calor e dor. Não há bolhas. Não causam agressão fisiológica; 2° grau: destruição da epiderme e parte da derme. Anexos cutâneos são poupados. É a partir deles que a reepitelização ocorre. Há formação de bolhas. São subclassificação em espessura parcial superficial ou profunda. As superficiais, protegidasdas infecções, cicatrizam-se em até 21 dias; 3° grau: toda a derme é destruída, incluindo folículos pilosos e terminações nervosas. São indolores. A resolução ocorre por crescimento do epitélio s partir das margens da ferida ou por enxerto de pele; 4° grau: estende-se à gordura subcutânea, fáscia muscular, músculo ou osso. Associadas com queimaduras elétricas (alta voltagem. Ao avaliar s extensão da lesão, somente as lesões de 2° e 3° graus deve, ser consideradas. Recomenda-se hospitalização das crianças nas seguintes situações: 📌 Queimaduras de 2° grau acometendo mais de 10% da superfine corpórea; 📌 Queimaduras elétricas (incluindo acidentes por raios) ou químicas; 📌 Queimaduras de 2° ou 3° graus em face, órgãos genitais e períneo; 📌 Vitimização infantil ou falta de condições de tratamento domiciliar; 📌 Doenças crônicas de base ou lactentes jovens; 📌 Queimaduras de 3° grau acometendo mais de 5% da superfície corpórea; 📌 Lesões inaladoras; 📌 Queimaduras associadas a trauma concomitante; 📌 Queimaduras circunferências. Queimaduras são relatadas em 10% de crianças submeti- das a abuso físico. As lesões agudas ou cicatriciais de forma numular, mais intensas em área central, podem sugerir queimaduras por cigarro. As queimaduras com limites bem definidos e grau de comprometimento homogêneo, com a forma do objeto (p.ex., ferro de passar roupas) ou por submersão, encontradas mais frequentemente em nádegas, mãos e pés (em luva ou meia) são altamente suspeitas de trauma intencional. Para prevenir queimaduras: testar a temperatura da água do banho com o cotovelo; sempre verificar a temperatura de mamadeiras e outros alimentos quentes; não manusear líquidos ou alimentos quentes com a criança no colo; esconder fósforos, velas e isqueiros; evitar o uso de roupas de tecidos sintéticos que sejam facilmente inflamáveis; não fumar dentro da casa. A lesão térmica provoca uma intensa resposta metabólica, maior que qualquer outra doença ou trauma. Ocorre grande perda de fluidos corpóreos e pode haver sobrecarga nos sistemas cardíaco, pulmonar e renal. A aldosterona promove retenção de sódio pelos rins, enquanto o ADH estimula a reabsorção tubular renal de água. Pode, então, ocorrer retenção de grandes quantidades de água e sal durante a ressuscitação hídrica, acompanhada de aumento do peso. Vários mediadores químicos são liberados e ocorre alteração da permeabilidade vascular, com passagem de fluido intravascular para o interstício e edema na área queimada. Após uma grande queimadura (20% ou mais), o edema também se forma em tecidos não queimados, em razão da intensa hipoproteinemia. Se a perda de volume intravascular é excessiva, associada à evaporação pela ferida, ocorre hipotensão, podendo evoluir para choque. O paciente apresenta enchimento capilar lento, a pele não lesada é pálida e fria e podem ocorrer taquicardia, taquipneia, oligúria, letargia e hipotermia. Se as perdas não são corrigidas, sobrevêm hipotensão sistêmica, hipoperfusão tecidual e morte. Nas primeiras 24 horas, em resposta a dor, medo, hipóxia e hipovolemia, há liberação maciça de hormônio adrenocorticotrófico e antidiurético (ADH). Os níveis de cortisol, aldosterona e GH estão elevados e a secreção de insulina está inibida. Hiperglicemia é comum (em lactentes, pode haver uma hipoglicemia resultante de estoques de glicogênio reduzidos e metabolismo basal maior). Essa fase é caracterizada por redução da pressão arterial, débito cardíaco, temperatura e consumo de oxigênio. As consequências são hipovolemia, hipoperfusão e acidose lática, causadas por perdas excessivas. À medida que o líquido do edema do 3° espaço volta para o intravascular, o sódio e a água são lentamente excretados pelo rim. A antidiurese promovida pelo ADH persiste após correção da volemia. Portanto, o débito urinário não reflete a volemia, perdendo um pouco seu valor como guia de hidratação. Após 24 horas da lesão térmica e realizada a ressuscitação adequada, inicia-se uma segunda fase, que pode durar vários dias. Há hipermetabolismo, débito cardíaco e consumo de oxigênio aumentados, acentuado catabolismo tecidual, perdas urinárias de nitrogênio aumentadas e alterações no metabolismo da glicose. A magnitude e a duração da resposta hipermetabólica são proporcionais à gravidade da lesão (com platô em 60% da extensão de queimadura). Há constante hipertermia, mesmo na ausência de infecção, por cauda de um reajuste do centro de termorregulação hipotalâmico, em parte por pirógenos leucocitários e em parte por respostas endócrinas. As crianças são particularmente suscetíveis à hipotermia, necessitando de cuidado para reduzir a perda de calor. A temperatura ambien- te deve ser mantida em 30 a 33°C e a umidade em 80%, para reduzir a demanda energética e perdas evaporativas. No grande queimado, ocorrem proteólise aumentada da musculatura esquelética, lipólise e neoglicogênese. Se o paciente não for bem nutrido, desenvolverá desnutrição proteico-calórica grave. Provas de função hepática alteradas também são frequentes, mesmo antes do uso de nutrição parenteral. Hemoglobina ou mioglobina livres na urina são observadas com frequência após choques elétricos de alta voltagem e após queimaduras muito profundas causadas por chamas. Nesses casos, deve-se proporcionar um débito urinário mais elevado, para prevenir a precipitação nos túbulos coletores. A taxa de mortalidade em crianças com queimaduras térmicas isoladas é 1 a 2%, mas chega a 40% na presença de lesão inalatória. A intoxicação por monóxido de carbono é a causa mais frequente de morte por inalação de fumaça. São evidências de lesão inalador: 📌 Incêndio em espaços fechados; 📌 Narinas, sobrancelhas ou cílios chamuscados; 📌 Queimaduras faciais e do pescoço; 📌 Secreções carbonáceas; 📌 Rouquidão, tosse, chiado. O monóxido de carbono (CO) é o gás responsável por mais de 80% das lesões inaladoras. Ele não é tóxico para os pulmões, porém a afinidade da hemoglobina pelo CO é 250 vezes maior que o oxigênio (O2). Tanto a pressão arterial de oxigênio (PaO2) quanto à saturação de oxigênio (SatO2) medidas pelo oxímetro de pulso permanente normais, pois a fração de O2 dissolvido no plasma não se altera. O edema dos tecidos supraglóticos pode obstruir as vias aéreas, e os sintomas clínicos podem levar 12 horas para parecer. A reposição hídrica e a hipoprotrinrmia agrava ainda mais o edema de mucosa. Deve-se considerar intoxicação por CO até a dosagem de carboxi-hemoglobinemia ser realizada. Administra-se O2 umidificado a 100% e considera-se terapia com O2 hiperbárico. A broncoscopia precoce ajuda no diagnóstico, que pode não ser evidente em radiografias por vários dias. Sepse é a principal causa de morte nas crianças queimadas. As portas de entrada mais importantes são a ferida, o trato respiratório, o trato urinário, cateteres endovenosos e , possivelmente, o trato gastrointestinal. Ocorre principalmente a partir do 1 ano de vida; Líquidos: água quente, sopa, chá, álcool em chamas (churrasco); Outros! Pó de café, brigadeiro, assadeiras, porta do forno; Fora da cozinha: ferro elétrico, alisador de cabelo, fogos de artifício. Tratamento Devem sempre ser garantidos permeabilidade de vias aéreas, ventilação, circulação, ressuscitação hídrica, débito urinário satisfatório e analgesia. Roupas e acessórios devem ser removidos. Irrigação com água gelada deve ser evitada, pois pode causar hipotermia em grandes queimados. Manter a criança aquecida com lençóis ou cobertores limpos ou estéreis, se possível. Nas queimaduras químicas, deve-se remover a substância e irrigar com grande quantidade de água por pelo menos 30 minutos. As vítimas de queimaduras devem ser tratadas seguindo protocolos de trauma. Deve-se incluireletrocardiograma e evitar esquecimento de outras lesões associadas. Lesões elétricas podem produzir lesões teciduais profundas, trombose endovenosa, parada cardiorrespiratória, fraturas decorrentes de contrações musculares e arritmias cardíacas. Acidentes com veículos motorizados, quedas ou explosões podem resultar em lesões de crânio, viscerais ou ósseas Deve-se ainda: 📌 Instituir acesos venoso e ressuscitação hídrica em superfície corpórea queimada (SCQ) maior que 15% ou menor em casos com evidências de inalação de fumaça; 📌 Instalar sonda nasogástrica nos pacientes com mais de 20% de área queimada ou alteração do nível de consciência. Esvaziar o estômago para prevenir distensão gástrica, vômitos ou aspiração; 📌 Proceder cateterização vesical para medir débito urinário; 📌 Realizar profilaxia de úlcera de estresse e de tromboembolismo; 📌 Administrar toxidez tetânico se a única vacinação for há mais de 5 anos. Se o paciente tiver recebido uma ou nenhuma dose de vacina, aplicar imunização antitetânica seriada. Enquanto a superfície queimada permanecer aberta, requerendo trocas frequentes de curativos e debridamentos, os opioides endovenosos devem continuar a ser administrados. Conforme a ferida cicatriza espontaneamente ou depois de oclusão cirúrgica, pode-se prescrever opioides orais, 20 minutos antes do procedimento. Fentanil, um opioide potente, também pode ser utilizado para dor. A ansiedade diminui a tolerância à dor. Os benzodiazepínicos podem atenuá-la e devem ser administrados 30 minutos antes do procedimento (midazolam é o preferido). Uma vez que as feridas estejam cicatrizando, utiliza-se o paracetamol ou anti- inflamatórios não hormonais. Analgesia endovenosa e sedação são fundamentais. Os narcóticos devem ser prescritos por via endovenosa em doses pequenas e frequentes. O mais utilizado é o sulfato de morfina. Realizar escarotomia descompressiva nas lesões térmicas profundas e circunferenciais, pois exercem garroteamento que leva à isquemia da extremidade ou insuficiência respiratória restritiva pela limitação dos movimentos torácicos. Soluções isotônicas salinas devem ser prontamente infundidas em uma via endovenosa periférica calibrosa. Recomenda-se poupar as áreas queimadas, exceto em queimaduras extensas, nas quais se reservam as áreas sadias como áreas doadoras. Crianças com queimaduras extensas devem ter dois acessos endovenosos. Se necessário, deve ser instituído um acesso central. Quando o acesso venoso não for conseguido rapidamente, a opção é o acesso intraósseo. Uma administração inicial de 20 mL/kg/h pode ser iniciada, enquanto um cálculo preciso é efetuado. Esquecer de elevar a extremidade lesada resulta em piora do edema, podendo comprometer o fluxo sanguíneo para áreas isquêmicas, o que, por sua vez, resulta em progressão da ferida e aumenta a chance de infecção. Prevenção 📌 Limitar acesso à cozinha (especialmente durante a preparação dos alimentos); 📌 Cuidado com pontas de rolhas e outros objetos que possam ser puxados; 📌 Não deixar que crianças pequenas se sirvam sozinhas; 📌 Desestimular a compra de fogos de artifício. Acidentes de Trânsito Maior causa de mortalidade de 1-14 anos; Crianças como ocupantes de veículos, pedestres ou ciclistas. Ocupantes de Veículos Pedestres Ciclistas Transporte inadequado 📌 Banco da frente 📌 Assentos especiais ausentes ou inadequados 📌 Mau uso de cinto de segurança Adolescentes 📌 Conduta de risco - dirigir sem carta, sem cinto, embriagado, em alta velocidade, etc. Falta de noção do perigo; Baixa altura: falta de visibilidade dos motoristas; Atravessar em locais ou momento errado; Distância dos pais, pouca supervisão; Brincadeiras na calçada Desrespeitar às leis de trânsito; Horários ou espaços inconvenientes; Falta de uso de capacete. Prevenção Obediência escrupulosa às leis de trânsito, especialmente quanto ao transporte de crianças e cintos de segurança; Nunca levar crianças no banco da frente; Sempre segurar as crianças pela mão ao andar na rua; Educação nas leis de trânsito desde cedo; Uso de capacete com a bicicleta. Referências MARTINS, Christine Baccarat de Godoy. Acidentes na infância e adolescência: uma revisão bibliográfica. Revista Brasileira de Enfermagem, Londrina, p. 344-348, maio 2006. Disponível em: https:// www.scielo.br/pdf/reben/v59n3/ a17v59n3.pdf. Acesso em: 18 maio 2021