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Universidade Joaquim Chissano Escola Superior De Relações Internacionais Curso De Relações Internacionais e Diplomacia Trabalho De Conclusão de Licenciatura Tema: Impactos das Políticas de Conteúdo Local na Participação das Pequenas e Médias Empresas na Indústria de Hidrocarbonetos Nigeriana: Lições Para Moçambique O Candidato O Supervisor Lucas Ernesto Cossa Dr. Kilton Portugal Maputo, Dezembro de 2020 Declaração de Autoria Eu, Lucas Ernesto Cossa, declaro, por minha honra, que o presente trabalho é da minha autoria e que nunca foi anteriormente apresentado para avaliação em alguma Instituição de Ensino Superior, Nacional ou de outro País. __________________________________________ (Lucas Ernesto Cossa) Termos de Responsabilização Trabalho a ser submetido na Universidade Joaquim Chissano como cumprimento parcial dos requisitos necessários para a conclusão do grau de licenciatura em Relações Internacionais e diplomacia. O Candidato O Supervisor ____________________________ ___________________________ Lucas Ernesto Cossa Kilton Portugal, MA Índice Agradecimentos ................................................................................................................. i Dedicatória........................................................................................................................ ii Lista de Abreviaturas, Siglas e Acrónimos ..................................................................... iii Lista de Gráficos ............................................................................................................... v Sumário Executivo .......................................................................................................... vi INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1 Delimitação Espacial e Temporal ..................................................................................... 1 Contexto ........................................................................................................................... 2 Justificativa ....................................................................................................................... 3 Problematização................................................................................................................ 3 Objectivos ......................................................................................................................... 5 Geral ................................................................................................................................. 5 Específicos ........................................................................................................................ 5 Questões de Pesquisa ........................................................................................................ 5 Hipóteses .......................................................................................................................... 5 Metodologia do Trabalho ................................................................................................. 6 Método de Abordagem ..................................................................................................... 6 Métodos de Procedimento ................................................................................................ 6 Técnicas de Pesquisa ........................................................................................................ 7 Estrutura do Trabalho ....................................................................................................... 7 CAPÍTULO 1: QUADRO TEÓRICO E CONCEPTUAL ............................................... 9 1.1. Quadro Teórico .......................................................................................................... 9 1.1.1. Paradigma Pluralista ............................................................................................... 9 1.1.1.1. Contexto do Surgimento do Paradigma Pluralista ............................................... 9 1.1.1.2. Precursores do Paradigma Pluralista ................................................................... 9 1.1.1.3. Pressupostos do Paradigma Pluralista ............................................................... 10 1.1.1.4. Aplicabilidade do Paradigma Pluralista na Pesquisa ......................................... 11 1.1.2. Teoria de Desenvolvimento Económico de Hirschman ....................................... 11 1.1.2.1. Contexto de Surgimento da Teoria de Desenvolvimento Económico de Hirschman ....................................................................................................................... 11 1.1.2.2. Precursores da Teoria de Desenvolvimento Económico de Hirschman ............ 12 1.1.2.3. Pressupostos de Teoria de Desenvolvimento Económico de Hirschman .......... 12 1.1.2.4. Aplicabilidade da Teoria de Desenvolvimento Económico de Hirschman ....... 12 1.1.3. Complementaridade das Teorias em Uso ............................................................. 13 1.2. Quadro Conceptual .................................................................................................. 13 1.2.1. Conteúdo Local .................................................................................................... 13 1.2.2. Indústria de Petróleo e Gás Natural ...................................................................... 14 1.2.3. Pequenas e Médias Empresas ............................................................................... 15 CAPÍTULO 2: POLÍTICAS DE CONTEÚDO LOCAL NA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL NA NIGÉRIA ........................................................... 17 2.1. História Da Indústria de Petróleo e Gás Natural na Nigéria .................................... 17 2.1.1. Produção de Petróleo ............................................................................................ 18 2.1.2. Produção de Gás Natural ...................................................................................... 19 2.2. Políticas De Conteúdo Local ................................................................................... 20 2.2.1. Políticas de Conteúdo Local na Nigéria ............................................................... 21 2.2.1.1. Objectivos das Políticas de Conteúdo Local da Nigéria.................................... 22 2.2.1.2. Política de Instalação de uma Empresa Petrolífera Nacional ............................ 23 2.2.1.3. Política de Desenvolvimento de uma Estrutura de Conteúdo Local ................. 24 2.2.1.3.1. Lei de Conteúdo Local Especifica .................................................................. 24 2.2.1.3.2. Conselho de Monitoramento e Avaliação ...................................................... 25 2.2.1.4. Política do Fundo do Apoio ao Desenvolvimento do Conteúdo Local ............. 26 2.2.2. Argumentos da Aplicação das Políticas de Conteúdo Local na Nigéria .............. 27 CAPITULO 3 - IMPACTOS DAS POLÍTICAS DE CONTEÚDO LOCAL NA PARTICIPAÇÃO DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS NA INDÚSTRIA DE HIDROCARBONETOS NIGERIANA .......................................................................... 29 3.1. Pequenas e Médias Empresas .................................................................................. 29 3.1.1. Pequenas e Médias Empresas Na Nigéria ............................................................ 30 3.2. Impactos das Políticas de Conteúdo Local na Participação das PMEs da Indústria de Hidrocarbonetos Nigeriana ............................................................................................. 32 3.2.1. Impactos da Política de Instalação de uma Empresa PetrolíferaNacional........... 32 3.2.2. Impactos da Política de Desenvolvimento de uma Estrutura de Conteúdo Local 33 3.2.2.1. Impactos da Lei de Conteúdo Local Específica ................................................ 33 3.2.2.2. Os Impactos do Conselho de Monitoramento e Avaliação ............................... 35 3.2.3. Impactos Política do Fundo do Apoio ao Desenvolvimento do Conteúdo Local 36 CAPITULO 4: LIÇÕES DA APLICAÇÃO DAS POLÍTICAS DE CONTEÚDO LOCAL NA PROMOÇÃO DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS NIGERIANAS NA INDÚSTRIA DE HIDROCARBONETOS PARA MOÇAMBIQUE ........................... 39 4.1. Indústria de Hidrocarbonetos de Moçambique ........................................................ 39 4.2. Conteúdo Local em Moçambique ........................................................................... 40 4.3. Pequenas e Médias Empresas em Moçambique ...................................................... 41 4.4. Lições da Aplicação das Políticas de Conteúdo Local na Participação das Pequenas e Médias Empresas Nigerianas na Indústria de Hidrocarbonetos para Moçambique .... 42 4.4.1. Lição da Política de Instalação de uma Empresa Petrolífera Nacional ................ 43 4.4.2. Lição da Política de Desenvolvimento de uma Estrutura de Conteúdo Local ..... 43 4.4.2.1. Lei de Conteúdo Local Especifica ..................................................................... 44 4.4.2.2. Conselho de Monitoramento e Avaliação ......................................................... 45 4.4.3. Lição da Política do Fundo do Apoio ao Desenvolvimento do Conteúdo Local . 45 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 47 Recomendações .............................................................................................................. 50 Referências Bibliográficas .............................................................................................. 51 Artigo De Revista Científica .......................................................................................... 53 Publicações Oficiais ....................................................................................................... 55 Portais De Inernet ........................................................................................................... 55 Anexos ............................................................................................................................ 59 i Agradecimentos O processo de aprendizagem é complexo e não poucas vezes é constituído por obstáculos e desafios que geralmente testam-nos até ao limite. Porque é assim, é necessário fazer-se acompanhar por um corpo que lhe suporte. Nesta ordem de ideia, dedico esta página, em forma de agradecimentos, para aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para que este projecto se tornasse uma realidade. Expresso, antes de todos, o meu agradecer ao Senhor meu Deus, o todo-poderoso pela mão estendida, proteção, inspiração e suporte sobrenatural, pois mostrou-se mais do que o esperado em momentos em que tudo parecia perdido. Seguido, quero agradecer ao meu supervisor, Kilton Portugal pelo apoio incondicional, observações objectivas e acima de tudo pela disponibilidade para atender a este desafio. Agradecer a minha família na qualidade de meu suporte, meu ponto seguro e responsável pelo apoio material e emocional com destaque para o Ernesto Cossa e Teresa Matine (meus pais) que me apoiaram incondicionalmente para trilhar esse caminho. Ao Amosse Cossa e Frederico Cossa (irmãos) pelo apoio proporcionado. Amavelmente agradeço a Deyse Assunta Daniel Gabriel Maganja minha eterna companheira. Quero expressar o meu muito obrigado ao corpo directivo da UJC que no momento em que perdi meu pai concedeu-me uma bolsa para continuar com os estudos. Endereçar também o meu agradecimento a todos docentes do UJC. Aos meus grandes companheiros da academia – muito obrigado. Por grandes companheiros me refiro a todos aqueles que estiveram lá, no terreno comigo a travar a batalha. Vai o destaque para o Grupo Best Diplomats composto por Sadam Messias, Agostinho Bahule, António Jr Manuel, Judite Carolina Sigaúque e Sónia Daniel. Muito Obrigado ii Dedicatória Dedico este trabalho em memória do meu pai Ernesto Chacate Cossa e a minha sobrinha Yónisse Frederico Cossa. iii Lista de Abreviaturas, Acrónimos e Siglas AEO – African Economic Outlook; AGIP – Azienda Generale Italiana Petroli. Art. – Artigo; CL – Conteúdo Local; CRM – Constituição da Republica de Moçambique; CTA – Confederação das Associações Económicas de Moçambique; DCN – Divisão de Conteúdo da Nigéria; ECL – Estrutura de Conteúdo Local; EGPME – Estatuto Geral de Pequenas e Medias Empresas; EIA – Energy Information Administration; EMN – Empresa Multinacional; ENH – Empresa Nacional de Hidrocarbonetos; ENI – Ente Nazionale Idrocarburi (Empresa Nacional de Hidrocarbonetos); EPI - Empresa Petrolífera Internacional; EPN – Empresa Petrolífera Nacional; FMI - Fundo Monetário Internacional; FTDF - Fundo de Desenvolvimento de Tecnologia do Petróleo; GdM – Governo de Moçambique; GFdN – Governo Federal da Nigéria; IDH – Índice de Desenvolvimento Humano; INP – Instituto Nacional de Petróleos; IPEME – Instituto de Promoção de Pequenas e Medias Empresas; ITP – Instituto de Treinamento de Petróleo; iv MPME – Micro, Pequenas e Medias Empresas; MRC – Ministério de Recursos Petrolíferos; MT – Metical (moeda nacional); NBS – National Bureau of Statistics NCDMB – Nigerian Content Development and Monitoring Board; NICF – Nigerian Intervention Content Fund; NNOC – Nigerian National Oil Corporation; NNPC – Nigeria National Petroleum Corporation; No. – Número; OMC – Organização Mundial do Comércio; ONU – Organização das Nações Unidas; OPEP - Organização dos Países Produtores e Exportadores de Petróleo; PCN – Plano de Conteúdo Nigeriano; PED – Países em Desenvolvimento; PIB – Produto Interno Bruto; PME – Pequenas e Medias Empresas; RCL – Requisitos de Conteúdo Local; RdM – República de Moçambique; RFdN – República Federal da Nigéria; SEPLAT - Seplat Petroleum Development Company; Tcf – Trillion cubic feet – Triliões de pés cúbicos; TRIMS – Trade Related Investment Measures; USD – Dólar dos Estados Unidos de América. Vol. – Volume. v Lista de Gráficos Gráfico 3.1. Pequenas e Médias Empresas na Nigéria ……………………………………. 31 Gráfico 3.2. Impactos das PCL na Participação das PMEs na Indústria De Hidrocarbonetos Nigeriana …………………………………………………………………………….……37 Gráfico 4.1. Empresas em Moçambique…………………………………………….….. 42 vi Sumário Executivo Esta pesquisa analisa os impactos das políticas de conteúdo local na participação das pequenas e médias empresas na indústria de hidrocarbonetos nigeriana no intervalo de 2000 à 2018 e a posterior procura tirar lições para Moçambique. Para que essa análise fosse possível, recorreu-se a uma revisão literária acompanhada de métodos avaliativos como a indução, o acompanhamento de seminários e a participação em formações. A proposição principal foi de que devido ao baixo nível económico e da legislação do conteúdo local na Nigéria, todas as operações na indústria petrolífera eram executadas por estrangeiros resultando na fraca participação das pequenas e médias empresas locais. Em resposta, o Governo Federal Nigeriano criou diversas políticas de conteúdo local como forma de garantir a participação do empresariado nigeriano na indústria. Analisando essas políticas, foi possível concluir que a criação de uma estrutura de conteúdo local composta por uma lei específica de conteúdo local e um conselho de monitoramento e a criação de uma empresa petrolífera nacional tiveram um impacto positivo na participação das pequenase medias empresas na indústria de hidrocarbonetos, servindo assim, como as principais lições para Moçambique. Palavras-chave: Políticas de Conteúdo Local, Pequenas e Médias Empresas, Industria de Hidrocarbonetos 1 INTRODUÇÃO A presente pesquisa tem como tema: Impactos das Políticas de Conteúdo Local na Participação das Pequenas e Médias Empresas na Indústria de Hidrocarbonetos Nigeriana: Lições Para Moçambique. Entende-se por indústria de hidrocarbonetos a indústria de Petróleo e o Gás Natural ou ainda a Indústria Petrolífera. Delimitação Espacial e Temporal A pesquisa tem como delimitação espacial a República Federal da Nigéria (RFdN) e a Republica De Moçambique (RdM). A escolha da RFdN deve-se ao facto deste ser o país que ocupa uma posição cimeira na aplicação eficiente das Políticas de Conteúdo Local (PCL) na indústria de hidrocarbonetos em África. Segundo o informe da African Economic Outlook (AEO) (20181) a Nigéria lidera o ranking (classificação) da aplicação das PCL em África com cerca de 28% dos objectivos alcançados contra, por exemplo, 21% de Uganda, 19% do Gana e 22% da Angola. Escolheu-se também a Nigéria como a fonte das lições para RdM por ser constituído por um tecido de Pequenas e Médias Empresas (PME) semelhante ao moçambicano (Ihua, 2019:04). A escolha da RdM justifica-se pelo facto de ser um país abundantemente dotado de recursos minerais e com pouca experiência nessa indústria. Segundo Mithá (20182), Moçambique precisa buscar experiências em países com experiência na aplicação das PCL para não cair nos mesmos erros, como a Dutch Disease 3. Quanto à delimitação temporal, a pesquisa em análise apresenta-se no intervalo de 2000 à 2018. A opção pelos anos indicados é justificada por compreender um espaço temporal marcado por diversas aplicações legislativas e investimentos avultados na indústria de hidrocarbonetos na Nigéria. A Escolha de 2000 como marco inicial justifica-se pelo facto de ter sido neste ano em que foi introduzida a PCL denominada por Nigerian Content (CN - Conteúdo Nigeriano) com objectivo principal de aumentar a participação das empresas locais e desenvolvimento de mão-de-obra local (Nwapa, 2007:28). A escolha de 2018 como marco final deve-se ao facto de ter sido nele em que se atingiu o pico das ligações da indústria 1 AEO (2018), Structural Transformation and Natural Resources. http://dx.doi.org/10.1787/aeo-2013-en visitado aos 06 de Novembro de 2019. 2 Mithá, Omar (2018), PCA da Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH), em sua intervenção na conferência sobre Necessidades de Transporte Aéreo dos Megaprojectos, Maputo; 3 Dutch Disease (Doença holandesa) é um termo econômico que relaciona o declínio da produção manufatureira com a exportação de recursos naturais. Segundo ela, a existência de recursos naturais abundantes em um país tenderia a atrapalhar, de certa forma, o seu desenvolvimento econômico (Reis, 2019). http://dx.doi.org/10.1787/aeo-2013-en 2 petrolífera e de gás natural a economia nigeriana. De acordo com Adenikinju (2018:36), foram criados mais de 30.000 empregos diretos e indiretos para nigerianos desde 2010, dos quais, cerca de 20% foram criados em 2018 e foram facilitados mais de 300 contratos entre as PMEs e a indústria de hidrocarbonetos no igual período, dos quais 40% em 2018, registrando-se um incremento em valor real de cerca de um bilião de nairas4 e um incremento relativo de cerca de 35% do total das ligações. Salientar que informações de anos fora da delimitação são usados para interpretação de diversos dados e projeções. Contexto Esta pesquisa insere-se num contexto em que os países produtores de hidrocarbonetos aplicam Requisitos de Conteúdo Local (RCL5) nessa indústria. Países pioneiros na exploração e produção de hidrocarbonetos como o Inglaterra e a Noruega e os subsequentes como o Brasil, Angola, Indonésia, Cazaquistão, entre outros, implementaram as PCL na indústria de hidrocarbonetos com o argumento de promover desenvolvimento económico interno do país, pois acredita-se que as PCL criam incentivo ao investimento, emprego para nacionais na indústria petrolífera, promoção das novas industrias e fortificação dos outros sectores da cadeia de valor da indústria de hidrocarbonetos (Pereira, et al, 2019:640). Pereira (ibid:642) contextualiza a aplicação das PCL nos Países Em Desenvolvimento (PED) tendo em perspectiva duas razões. A primeira é de prover proteção para as indústrias petrolíferas locais recém-estabelecidas como a Seplat Petroleum Development Company (SEPLAT6) para o caso da Nigéria e empresas relacionadas de serem filtradas no acesso as oportunidades da indústria petrolífera devido ao rigor de competitividade internacional. A segunda, pela necessidade dos PED serem transferidos tecnologia avançada e pelo desejo de criar uma base industrial doméstica que opere no mercado internacional. Foi neste contexto que a Nigéria implementou as PCL na indústria petrolífera (Adedeji, et al, 2016:62). De acordo com a Confederação das Associações Económicas de Moçambique – CTA (20167), assim como os países pioneiros e os subsequentes recorreram a PCL na indústria de hidrocarbonetos, Moçambique não ficou alheio a aplicação destas políticas. Com a 4 Naira é a moeda nacional nigeriana, o seu símbolo é ₦. 5 Requisitos de Conteúdo Local são parte das Politicas de Conteúdo Local. 6 A SEPLAT é uma empresa independente de petróleo e gás da Nigéria formada em 2009 para buscar oportunidades de petróleo e gás upstream (Seplat, 2018:09). 7 Confederação das Associações Económicas – CTA (2016) Avaliação das Opções de Política para a Participação Local e Conteúdo Local em Moçambique, CTA: Maputo. 3 descoberta de elevadas quantidades de Gás Natural em cerca de 150 trillion cubic feet (tcf – triliões de pés cúbicos) na Bacia de Rovuma, o Governo de Moçambique (GdM) publicou o Decreto-Lei n. 21/2014 – a Lei dos Petróleos, de 18 de Agosto e o Decreto-Lei n. 02/20148 de 02 de Dezembro que, entre diversos objetivos, visavam intensificar os RCL. Justificativa Na literatura económica e de Relações Internacionais (RI) o debate em torno das PCL na indústria de hidrocarbonetos é relativamente novo. Por conseguinte, existe um número limitado de trabalhos acadêmicos sobre o tema e deste numero limitado, verificou-se que apenas Aigboduwa e Oisamoje (20139), Monday (201210 e 201511), e Balouga (201212) falam estritamente das PCL na Nigéria na perspectiva de PME. Os diversos relatórios e artigos publicados sobre as PCL de países como Noruega, os países do Mar Cáspio, Nigéria, Brasil, entre outros apresentam uma análise do CL a partir da metodologia de encadeamentos que a indústria petrolífera estabelece com a economia de forma geral através de cobrança de royalties13, rendas de locação e impostos. Esta pesquisa é relevante pois para além de analisar o CL na perspectiva dos encadeamentos, foca-se no uso da PCL para a participação de PMEs em termos qualitativos e quantitativos. A pesquisa é pertinente na medida em que vêm fechar a lacuna existente na literatura económica sobre as PCL na participação de PMEs, não só, analisa os impactos da aplicação de PCL na Nigéria e projeta lições para Moçambique. Problematização Existe uma divergência de opiniões sobre a aplicação das PCL na indústria de hidrocarbonetos. Diversos autores como Rodrick (201014) e Gereff (201315) argumentam de 8 Aprova o regime jurídico e contratual aplicável ao Projeto de GNL nas Áreas 1 e 4 da Bacia do Rovuma. 9 Aigboduwa Joseph E. e Oisamoje Michael D. (2013), Promoting small and medium enterprises in the Nigerian oil and gas industry; European Scientific Journal January, Vol.9, No.1, 72 – 89; 10 Monday,J. (2012). Local Content Policy and Performance of Small to Medium-scale Oil Servicing Enterprises in Nigeria. Obafemi University: Obafemi; 11 _______ (2015), Local Content Policy, Human Capital Development and Sustainable Business Performance in the Nigerian Oil and Gas Industry, Journal of Management and Sustainability; Vol. 5, No. 1, 73 – 81; 12 Balouga, Jean (2012), Nigerian Local Content: Challenges and Prospects. IAE: New York; 13 Royalty - trata-se da compensação financeira paga ao proprietário da terra ou área em que ocorre a extração ou mineração de petróleo ou gás natural. 14 Rodrik, Dani (2010) The Return of Industrial Policy. http://www.policyinnovations.org/ideas/innova tions/data/000165 acesso aos 03 de Outubro de 2020. 15 Gereff, G. (2013), Global Production System and Third World Development, Cambridge Press: Cambridge. https://pt.wikipedia.org/wiki/Extrativismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Minera%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Petr%C3%B3leo https://pt.wikipedia.org/wiki/G%C3%A1s_natural http://www.policyinnovations.org/ideas/innova%20tions/data/000165 http://www.policyinnovations.org/ideas/innova%20tions/data/000165 4 forma favorável com a sua aplicação pois para estes, as PCL podem ajudar a corrigir falhas do mercado, integrar as empresas nacionais as redes económicas mundiais, contribuir para a produtividade e competitividade de produtos e empresas nacionais através de transferências de conhecimento que ocorre de Empresas Petrolíferas Internacionais (EPI) para firmas domésticas (Nwapi, 2016:205). No entanto, Lec (2011:09) defende uma posição diferente pois para o autor, as PCL são um instrumento pobre para direcionar a contribuição inadequada do sector extractivo para o desenvolvimento econômico local, porque criam distorções, ineficiência e corrupção. Harrison e Rodriguez-Clare (2010:21) concordam com Lec (2011:09) e acrescentam que a imposição de condições quantitativas ou qualitativas sobre as EPIs com relação à contratação de mão-de-obra doméstica quando a existente não tem as habilidades desejadas, não só desencoraja o investimento, mas também coloca uma pressão indevida sobre as EPIs. Fernández e Musso (2011:89) defendem que qualquer interferência ou exigência em relação à contratação de mão-de-obra ou firmas domesticas relacionada ao CL pode ser entendida como uma política protecionista, criando conflitos nos acordos internacionais que os Estados estabelecem como é o caso do Acordo sobre Medidas de Investimento Relacionadas ao Comércio (Trade Related Investment Measures - TRIMS) da Organização Mundial do Comércio (OMC), que não permite certas PCL16. Tradicionalmente, na Nigéria, grandes EPIs dominaram a indústria de hidrocarbonetos devido a suas vantagens tecnológicas e financeiras, para além da falta de regulamentação adequada na indústria (Adenikinju, 2018:03). Segundo Ozigbo (2008:53), aquando da descoberta dos recursos energéticos na Nigéria, devido ao baixo nível do CL, todas operações na indústria eram executadas por estrangeiros o que despoletou na fraca participação das PMEs nigerianas. Como resposta, em 2010 o Governo Federal da Nigéria (GFdN) desenhou e implementou PCL legisladas como estratégia de capacitação das PMEs e de criação de uma base industrial robusta (Monday, 2015:76). Nisto, urge-nos questionar: Quais são os impactos das políticas de conteúdo local na participação das pequenas e médias empresas da indústria de hidrocarbonetos nigeriana e que lições podem ser tiradas para Moçambique? 16 Algumas exigências de CL que a TRIMS proíbe são: obrigar uma firma a comprar produtos de origem domestica (descriminação de origem); limitar a quantidade de produtos que uma firma pode importar dependendo da quantidade que exporta; proibir uma firma de fazer intercâmbio na importação; e restringir exportações e importações. 5 Objectivos Geral Compreender os impactos das políticas de conteúdo local na participação das pequenas e médias empresas na indústria de hidrocarbonetos da Nigéria. Específicos Estudar a razão das políticas de conteúdo local da indústria de hidrocarbonetos nigeriana; Analisar os impactos das políticas de conteúdo local na participação das pequenas e médias empresas na indústria de hidrocarbonetos nigeriana; Extrair as lições da aplicação das políticas de conteúdo local na participação das pequenas e médias empresas na indústria de hidrocarbonetos nigeriana para Moçambique. Questões de Pesquisa Qual é a razão das políticas de conteúdo local na indústria de hidrocarbonetos nigeriana? Quais são os impactos das políticas de conteúdo local na participação das pequenas e médias empresas na indústria de hidrocarbonetos nigeriana? Que lições podem ser extraídas da aplicação das políticas de conteúdo local na participação das pequenas e médias empresas na indústria de hidrocarbonetos nigeriana para Moçambique? Hipóteses A necessidade de promover a participação das empresas nigerianas na cadeia de valor da indústria de hidrocarbonetos pode ter originado a proposição das políticas de conteúdo local na Nigéria; Todas as pequenas e médias empresas ligadas a indústria petrolífera podem ser resultantes da aplicação das políticas de conteúdo nigeriano; A criação de um fundo de financiamento a pequenas e médias empresas pode ser a melhor lição da Nigéria para Moçambique. 6 Metodologia do Trabalho A metodologia usada neste trabalho está direcionada a análise de dados obtidos para a interpretação do fenómeno em estudo. Para o efeito, foram usados métodos e técnicas. Dos métodos, foram aplicados o indutivo para abordagem, pois partiu-se do particular para geral e para o procedimento os métodos comparativo, o histórico e o monográfico. Das técnicas, foram empregues as técnicas documental e a bibliográfica. Método de Abordagem Em metodologia, a abordagem é o caminho geral que conduz a pesquisa. Neste trabalho, o método em uso é o indutivo. Método Indutivo – Para Lakatos e Marconi (2006:86) a indução é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral, não contida nas partes examinadas, parte de algo particular para uma questão geral. Nesta pesquisa, permitiu que através de análise do comportamento relacional entre o regime jurídico da indústria de hidrocarbonetos e a participação das PMEs em Nigéria retirar ilações que possam ser aplicadas para Moçambique. Métodos de Procedimento Em metodologia, o procedimento são os caminhos particulares que conduzem a pesquisa. Neste trabalho, os métodos usados são o método comparativo, o histórico e o monográfico. Método Histórico - Segundo Lundin (2016:139) consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje. Nesta pesquisa, para além de fundamentar os processos históricos para a compreensão da indústria de hidrocarbonetos e a utilização de PCL na Nigéria apresenta o comportamento das EPI a e a sua relação com o empresariado local e a evolução dos processos ligados a instituições e leis reguladoras deste setor Método Monográfico - Para Lundin (Ibid:140) parte do princípio de que um caso, estudado com profundidade, pode ser considerado representativo de muitos outros casos, ou até de todos os casos iguais ou semelhantes. Este método justifica a escolha de Nigéria para a 7 análise das PCL na indústria petrolífera e a relação com as PMEs a fim de se obter uma generalização para a representação deste caso em Moçambique. Método Comparativo – para Marconi e Lakatos (2007:107) este método realiza comparações com a finalidade de verificar similitudes e explicar divergências. Nesta pesquisa foi empregue na compreensão das diferenças e semelhançasentre os RCL estabelecidos pela Lei de CL nigeriano e as disposições dos decretos de RCL moçambicanos, para além de confrontar a situação das PMEs nigerianas das PMEs moçambicanas a fim de desenvolver dados através dos quais foram observadas as lições para Moçambique. Técnicas de Pesquisa Em metodologia, as técnicas são os procedimentos operacionais que servem de mediação prática para a realização das pesquisas conduzidas (Marconi e Lakatos, 2007:62). Nesta pesquisa fez-se o uso da técnica documental e bibliográfica. Técnica Documental - Segundo Lundin (2016:147), é um procedimento de pesquisa baseado em fontes primárias para a apresentação das abordagens. Trata-se de fontes primárias toda a informação obtida em bruto como os arquivos públicos e particulares, estatísticas oficiais, recenseamento, etc. Por meio desta técnica foram explorados dados publicados pelos jornais, dados estatísticos do sector industrial, dados das organizações internacionais (OI) que tutelam o sector económico e energético internacional. Técnica Bibliográfica - Para Lundin (2016:147), esta técnica baseia-se em um conjunto de informação já retrabalhada por autores especialistas na matéria em questão e analisada ao redor de um suporte teórico segundo uma cadeia de raciocínio próprio. Esta técnica foi útil no processo de recolha de dados em diferentes obras como livros, artigos de revista científica, opiniões, artigos independentes, entre outros, que abordam as PCL, as PMEs e analises feitas a diferentes trabalhos publicados e não publicados em diferentes contextos. Estrutura do Trabalho O presente trabalho encontra-se subdividido em cinco partes – os elementos pré-textuais, a introdução, o desenvolvimento (compreendido por quatro capítulos), a conclusão e os elementos pós-textuais. A parte dos elementos pré-textuais visa, de uma forma geral, fazer uma demonstração prática com objectivo de localizar o leitor sobre aspetos técnicos do 8 trabalho. A parte introdutória apresenta o trabalho, deixando claro os objectivos, os procedimentos, o problema, as pré-respostas, a relevância, o contexto, entre outros elementos introdutórios. O desenvolvimento está subdividido em capítulos, organizados da seguinte forma: O primeiro capítulo que versa sobre o referencial teórico e marco conceptual. As lentes são o Paradigma Pluralista e a Teoria de Desenvolvimento Económico de Hirschman que ajudam-nos a compreender a relevância do estudo das PCL na dinâmica das RI e os seus impactos na economia nigeriana. A discussão conceptual baseia-se nos conceitos de Conteúdo Local, Indústria de Petróleo e Gás Natural e Pequenas e Médias Empresas; O segundo capítulo estuda estreitamente as PCL aplicadas na indústria petrolífera e de gás natural na Nigéria. Apresenta o histórico de descoberta e os contornos de exploração e produção dos hidrocarbonetos, a legislação aplicável e as razões de implementação de algumas políticas de conteúdo local na Nigéria; No terceiro capítulo analisa-se os impactos das políticas de conteúdo local na participação das PMEs na indústria de hidrocarbonetos nigeriana. Apresenta-se primeiro o tecido empresarial em que se enquadram as PME e a posterior discute-se os impactos das PCL na promoção desta repartição de empresas na indústria de hidrocarbonetos; No quarto capítulo extraem-se as lições da aplicação das políticas de conteúdo local na participação das pequenas e médias empresas nigerianas na indústria de hidrocarbonetos para moçambique. Primeiro apresenta-se a indústria de hidrocarbonetos, as disposições de conteúdo local e a estrutura das PMEs em Moçambique para tirar-se as lições. Finda a secção do desenvolvimento, segue-se a conclusão e elementos pós-textuais. Na conclusão traz-se de forma sucinta as ilações gerais obtidas ao longo da análise do tema em pesquisa, tendo-se em consideração a validação ou não das hipóteses, respostas das questões de pesquisa, entre outros elementos conclusivos. Nos elementos pós-textuais, apresentam-se as fontes e juntou-se os anexos relevantes e julgados necessários ao trabalho. 9 CAPÍTULO 1: QUADRO TEÓRICO E CONCEPTUAL Neste capítulo apresenta-se as teorias e os conceitos que orientam a leitura do tema em pesquisa. As teorias usadas foram o paradigma pluralista e a teoria de desenvolvimento económico do Hirschman. A discussão conceptual baseia-se nas definições de Conteúdo Local, Pequenas e Médias Empresas e Indústria de Petróleo e Gás Natural. 1.1. Quadro Teórico Para se estudar a razão das PCL, a análise dos impactos das PCL na participação das PMEs na indústria de hidrocarbonetos e para a extração de lições para Moçambique, foram usadas duas teorias -o paradigma pluralista e a teoria de desenvolvimento económico do Hirschman. 1.1.1. Paradigma Pluralista O paradigma pluralista é uma lente muito importante na análise da política mundial. Para a sua melhor compreensão nessa pesquisa, é apresentado o seu contexto de surgimento, os percursores, os pressupostos e a sua aplicabilidade. 1.1.1.1. Contexto do Surgimento do Paradigma Pluralista Segundo o excerto de Ludin (2016:191) a origem do pluralismo pode ser encontrada no pensamento político da antiga Grécia e dos liberais dos seculos XVIII e XIX e, mais recentemente, nos escritos académicos sobre o comportamento de grupos de interesses e organizações. Tal como o termo sugere, os pluralistas veem as Relações Internacionais (RI) em termos de multiplicidade dos atores desafiando a posição privilegiada17 em que os realistas colocam o Estado. 1.1.1.2. Precursores do Paradigma Pluralista Na perspectiva de Viotti e Kauppi (1993:299), não é fácil destrinçar os precursores no pluralismo devido ao facto de muitos dos seus escritores não terem sido estudiosos do ramo 17 Para os realistas o Estado é o actor principal ou o mais importante das RI, é um actor unitário no processo decisório e racional na sua relação com o ambiente externo e, os assuntos de segurança estão no topo de hierarquia dos assuntos das RI e assim o centro onde os demais actores e assuntos orbitam (Pecequilo, 2004:24) 10 das RI, mas sim economistas, cientistas sociais, teólogos, ou cientistas políticos interessados em políticas domésticas. No entanto, Hugo Grotius (162518) destaca-se por defender a necessidade de criação de leis para regular as RIs (incluindo o comércio) regidas por direito internacional. Destaca-se também o Edward Carr (193919), por defender o papel da moralidade nas RIs, os fundamentos da lei, a santidade dos tratados, a solução judicial de disputas internacionais, mudanças pacíficas e as perspectivas de uma nova ordem internacional (ibid, 2005:321). 1.1.1.3. Pressupostos do Paradigma Pluralista Segundo Viotti e Kauppi (1993:229-230) os pressupostos básicos para este paradigma são: Os actores não estatais são entidades importantes na política mundial. Portanto, no sistema internacional outros actores tais como, as OIs, as Empresas Multinacionais (EMN), os grupos terroristas, etc. tem um papel preponderante na dinâmica das RI; O Estados não é ator unitário. É algo abstrato e não pode ser tratado como um ser físico que sempre age de maneira coerente; é composto por burocracias, grupo de interesses e indivíduos que tentam influenciar a política externa; O Estado não é um ator racional. Pela sua visão fragmentada, assume-se que o choque de interesses, a negociação e a necessidade de compromissos fazem com que, por vezes, o processo de tomada de decisão não seja racional; A agenda das RIs é extensiva, apesar de a segurança nacional ser importante. Para estes teóricos, a agenda tem que abranger questões que tem a ver com a economia, com a sociedade e com questões ecológicas que emergem da crescente interdependência entre os Estados e as sociedades.Nos pressupostos acima arrolados, Ludin (2016:193) acrescenta que os pluralistas rejeitam a dicotomia high politcs versus low politics20 aceite pela maioria dos realistas e salientam que as questões socioeconómicas são, por vezes, tão importante quanto as militares. 18 Grotius, Hugo (1625), The Law of War and Peace. Liberal Arts Press: New York; 19 Carr, Edward H. (1939), The Twenty Year’s Crisis, 1919-1939: An Introduction to the Study of International Relation. Macmillan: London; 20 As high politics são as políticas respeitantes à lei e ordem e à guerra e paz. São tradicionalmente as políticas de segurança e defesa ligadas aos interesses estratégicos dos Estados. Por contraponto, as chamadas low politics, são as políticas relativas às vertentes socioeconómicas (Sousa, 2005:97). 11 1.1.1.4. Aplicabilidade do Paradigma Pluralista na Pesquisa Este paradigma aplica-se na pesquisa por defender a existência de diversos actores nas RIs e a relevância de assuntos económicos na agenda das RIs. Como se pode compreender, um dos pressupostos deste paradigma defende que os actores não-estatais são entidades importantes na política mundial, o que sustenta a relevância das EPIs que operam na Nigéria na mátris das RIs e no estabelecimento de diversas políticas domesticas e internacionais da Nigéria, não só, também dos países de origem destas EPIs. O outro pressuposto deste paradigma sustenta que a agenda das RIs é extensiva, o que revela o papel indispensável das ligações económicas e energéticas que a Nigéria estabelece com outros actores como os Estados, as OIs e as EPIs. 1.1.2. Teoria de Desenvolvimento Económico de Hirschman Esta teoria revelou-se de deveras importância no estudo de desenvolvimento económico de diversos países subdesenvolvidos e defendeu diversas políticas industriais. Para sua melhor compreensão, nesta pesquisa, apresenta-se o contexto do surgimento, os percursores, os pressupostos e a sua aplicabilidade. 1.1.2.1. Contexto de Surgimento da Teoria de Desenvolvimento Económico de Hirschman A teoria sobre desenvolvimento econômico de Albert Hirschman (195821) foi desenvolvida durante as décadas de 60 e 70, do século XX. Hirschman (1982:17), após presenciar a influência de intervenções estrangeiras nos países em crise da América Latina, questionou se essas intervenções seriam benéficas ou não para aquelas sociedades. Assim, Hirschman inicia os estudos em busca da elaboração de uma teoria adequada aos PED, uma vez que, para ele, a imposição de doutrinas econômicas estrangeiras não preenchiam as lacunas e nem promoviam o desenvolvimento nesses países. Silva (2005:40) acrescenta que a teoria surgiu da necessidade de elaborar um modelo que visasse proporcionar o desenvolvimento econômico dos PED e identificar qual seria o maior problema enfrentado por esses países na procura do desenvolvimento. 21 Hirschman, Albert O. (1958), The strategy of economic development, Yale University Press: New Haven. 12 1.1.2.2. Precursores da Teoria de Desenvolvimento Económico de Hirschman Esta teoria de desenvolvimento foi proposta pelo Albert Hirschman na sua obra The Strategy of Economic Development (A Estratégia do Desenvolvimento Econômico) publicada em 1958, onde trata do tema do desenvolvimento económico dos PED. Hirschman contribuiu para o desenvolvimento possibilitando um diagnóstico ao subdesenvolvimento na tentativa de encontrar possíveis soluções para o crescimento econômico das sociedades desprovidas de modelos de desenvolvimento económico-social existentes na altura (Silva, 2005:40). 1.1.2.3. Pressupostos de Teoria de Desenvolvimento Económico de Hirschman Por ser uma teoria de desenvolvimento económico engloba diversos assuntos relacionados com o desenvolvimento no seu todo. No entanto, para os efeitos desta pesquisa, limita-se apenas nos pressupostos associados ao tema em estudo. Dentre diversos pressupostos, Hirschman (1958:58-59) defende que para que haja desenvolvimento: É necessário uma sequência de investimentos a ser feita dentro da própria estrutura produtiva, criando-se políticas de encadeamentos para trás e para frente. A primeira se refere à pressão exercida pela demanda de atividades econômicas não-primárias por insumos, que induziria a formação de indústrias fornecedoras desses insumos. A segunda se refere à possibilidade que a implementação de atividades que não atendessem exclusivamente à procura final ofereceria ao aparecimento de novas atividades que usassem os produtos como insumos em sua produção. É necessário que haja uma economia política que promova a substituição das importações por industrialização. Esta substituição deve obedecer diferenciados estágios em que o setor de bens de consumo final deve ser o primeiro a aparecer, em substituição aos produtos importados. Só mais tarde, a industrialização atinge estágios superiores, com a instalação dos setores de bens intermediários e de capital. 1.1.2.4. Aplicabilidade da Teoria de Desenvolvimento Económico de Hirschman Esta teoria aplica-se na pesquisa por defender a necessidade de criação de encadeamentos e a substituição das importações por industrialização para desenvolvimento económico de um país. O primeiro argumento que defende a necessidade de criação de encadeamentos, serve de base para explicar a razão da proposição das PCL, ajudando desta forma na interpretação 13 da lei no contexto da promoção das PMEs na Nigéria. O segundo argumento, que promove a substituição das importações por industrialização, sustenta a criação de tutela protecionista a fim de promover PMEs locais através do incentivo a participação local no processo de exploração e produção de recursos petrolíferos na Nigéria. 1.1.3. Complementaridade das Teorias em Uso O paradigma pluralista e a teoria de desenvolvimento económico do Hirschman são teorias complementares no estudo dos impactos das PCL nas PMEs na Nigéria no âmbito das RI. Essa complementaridade verifica-se na medida em que enquanto o paradigma pluralista justifica a relevância e a importância do estudo das PCL na dinâmica das RI no concerne ao relacionamento económico e político que a Nigéria estabelece com outros Estados, EMN, OIs, etc. a teoria de desenvolvimento económico do Hirschman ajuda a compreender os impactos directos que as PCL trazem para a economia local nigeriana e sobretudo nas PMEs. 1.2. Quadro Conceptual Para os efeitos de compreensão desta pesquisa, recorreu-se a diversos conceitos. No total, apresenta-se três conceitos-chave, nomeadamente: Conteúdo Local, Industria de Petróleo e Gás Natural e o conceito de Pequenas e Médias Empresas. Contudo, vários outros conceitos foram definidos ao longo da pesquisa para proporcionar uma melhor compreensão. 1.2.1. Conteúdo Local O conceito de CL é contextual na medida em que cada país, dependendo das políticas industriais e económicas, enverga o seu próprio conceito. No Brasil, por exemplo, o CL é definido como uma ferramenta de política que visa incrementar a participação da indústria nacional de bens e serviços, em bases competitivas, nos projetos de exploração e desenvolvimento da produção de petróleo e gás natural (RINA-Brasil, s/d22). No Gana é definido como a quantidade ou percentagem de materiais, pessoal, finanças, bens e serviços produzidos localmente e prestados na cadeia de valor da indústria petrolífera e que podem ser medidos em termos monetários (Nwapi, 2016: 199). Na Noruega, diferentemente do 22 RINA-Brasil (s/d) Conteúdo Local ANP. Disponível em: http://www.rinabrasil.com.br/nossos- servi%C3%A7os/certifica%C3%A7%C3%A3o/conteBAdo-local-anp acesso aos 21 de outubro de 2019. http://www.rinabrasil.com.br/nossos-servi%C3%A7os/certifica%C3%A7%C3%A3o/conteBAdo-local-anphttp://www.rinabrasil.com.br/nossos-servi%C3%A7os/certifica%C3%A7%C3%A3o/conteBAdo-local-anp 14 Brasil e do Gana, não existe uma definição do que seria CL na legislação, limitando-se em descriminar os RCL (CCSI, s/d:02). Em Moçambique não há uma definição legislada do que seria CL. No entanto, a CTA (2014:07) define-o como o valor acrescentado ou criado na economia moçambicana através da utilização da força laboral local, ações de capacitação doméstica relevante para o fornecimento de materiais, bens e serviços por pessoas singulares moçambicanas ou empresas detidas maioritariamente por moçambicanos, transferência de tecnologias, ligações produtivas e desenvolvimento da indústria local. A Nigerian Oil and Gas Industry Content Development Act, 2010 (NOGICD23) define CL (NOGICD, 2010:01) como: [A] quantidade do valor agregado composto ou criado na economia nigeriana através da utilização de recursos humanos e materiais nigerianos para o fornecimento de bens e serviços à indústria petrolífera com qualidade aceitável, padrões de saúde, segurança e meio ambiente, a fim de estimular o desenvolvimento das capacidades locais24. Para efeitos deste trabalho, o conceito de CL é usado no contexto do NOGICD, pois este engloba as três vertentes apresentadas: o local bem definido – economia nigeriana, o valor agregado – linha de fornecedores locais e a utilização e capacitação da mão-de-obra local e firmas locais, para além de demonstrar semelhanças com os conceitos usados por outros países acima apresentados. São definidas como PCL, nesta pesquisa, as intervenções governamentais que procuram aumentar, a longo prazo, a percentagem de emprego ou de produtos e serviços que são fornecidos localmente em cada fase da cadeia de valor da indústria de petróleo e de gás natural (Tordo, et al, 2013:18). 1.2.2. Indústria de Petróleo e Gás Natural É definido como Indústria de Petróleo e Gás Natural o sector de produção de hidrocarbonetos resultantes de processos físico-químicos sofridos pela matéria orgânica que se depositou juntamente com fragmentos de rochas durante a formação de rochas sedimentares há milhões de anos atrás (Yergin, 2012:03). Ainda que esta definição apresente similaridades na 23 Lei de Desenvolvimento de Conteúdo Nigeriano na Industria de Petróleo e Gás Natural de 2010. 24 [The] quantum of composite value added or created in the Nigerian economy through the utilization of Nigerian human and material resources for the provision of goods and services to the Petroleum Industry within acceptable quality, health, safety and environment standards in order to stimulate the development of indigenous capabilities 15 formação dos hidrocarbonetos em causa (petróleo e gás natural) em termos de propriedades químicas e físicas, existem particularidades e diferenças claras e tangíveis entre as indústrias de cada hidrocarboneto em termos dos insumos, mercado e poder. Segundo (Yergin, 2012:674), o petróleo é o maior insumo na matriz energética global, desempenha um importante papel geopolítico e de segurança energética global. Mathias (2010:48) acrescenta que o petróleo já alcançou a sua internacionalização, mundialização, globalização e faz parte de uma indústria madura. Ademais, o petróleo é uma commodity25 negociada no mercado spot26, em que o seu desempenho é diretamente afetado por uma entidade – a Organização dos Países Produtores e Exportadores de Petróleo (OPEP) e já foi usada como “arma” em 1973 (Yergin, 2008:912). O gás natural faz parte de uma indústria de rede à semelhança da indústria de energia elétrica, é intensiva em capital, infraestrutura de transporte e distribuição, os investimentos tem longo prazo de maturação, e possui alta especificidade dos ativos (AIE, 2012:19). A negociação deste insumo via spot são baixas, não existe uma entidade reguladora influente, e é uma indústria moderadamente internacional e mundial, mas não global (Yergin, 2012:679). Nesta pesquisa, embora reconheçam-se estas diferenças, para efeitos de interpretação dos fenómenos económicos e socias decorrentes da exploração e produção destes hidrocarbonetos na Nigéria, assume-se a indústria de petróleo e gás natural como o sector de produção de hidrocarbonetos resultantes de processos físico-químicos sofridos pela matéria orgânica que se depositou juntamente com fragmentos de rochas durante a formação de rochas sedimentares há milhões de anos. Assume-se que os dados apresentados sobre essas industrias são agregados, sendo interpretado com a mesma significância. 1.2.3. Pequenas e Médias Empresas A definição do tamanho de uma empresa e a sua classificação em micro, pequena ou média tem sido geralmente baseada em critérios como volume de negócios, número de trabalhadores empregados ou valor de ativos e investimentos. A classificação nos EUA e Canadá é definida em termos de rotatividade anual e número de funcionários pagos, 25 Commodity (mercadoria) é o termo empregado para designar produtos de escala global, cujo grau baixo (ou mesmo inexistente) de industrialização permite que sejam utilizados como matéria-prima. 26 Negociação spot são as transações a vista imediatas feitas na bolsa de mercadorias internacional (Mathias, 2010:48). 16 enquanto no Japão é conceituado com base no tipo de indústria, capital realizado e número de funcionários (Ayaggari, 2003:32). Na Nigéria o conceito de PMEs foi definido pelo Banco Central da Nigéria (BCN) e pelo Conselho Nacional da Indústria (CNI). De acordo o BCN (2003:74) são pequenas empresas aquelas com uma força laboral de 11 - 100 trabalhadores e um custo total não superior a 50 milhões de nairas, incluindo capital de giro e excluindo o custo da terra, enquanto as médias empresas são definidas como empresas com uma força de trabalho entre 101 - 300 trabalhadores, com um custo total superior a 50 milhões, mas inferior a 200 milhões de nairas, incluindo capital de giro e excluindo o custo da terra. O CNI definiu uma PME como um empreendimento com uma base máxima de ativos de 200 milhões de nairas, com exclusão dos custos de terra e capital de giro e com uma força de trabalho de no mínimo 10 e no máximo 300 funcionários (Lawal e Ijaiya, 200727). Em Moçambique, O Estatuto Geral das Micro, Pequenas e Médias (EGMPME) não define o que é uma PME. Porém, apresenta as características que a constituem, nomeadamente: o número de trabalhadores e o volume de negócios anuais. Assim, são pequenas empresas aquelas compostas por 5 a 49 trabalhadores e volume anual de negócios de 1 200 000 a 14 700 000 meticais28 e médias aquelas compostas por 50 a 90 trabalhadores e volume anual de negócios de 14 700 001 a 29 900 000 meticais. Para os efeitos desta pesquisa, usam-se os conceitos do BCN, EGMPME e do CNI por duas razões. A primeira por que os dados são relativamente semelhantes, não permitindo uma interpretação dúbia, obedecem a um critério aceite internacionalmente e são usados em diversos estudos. Segundo, são métricas não muito distantes da realidade das PMEs com padrões desejáveis para a indústria petrolífera e de gás natural e demonstram uma semelhança entre os conceitos dos dois países. 27 Lawal, Wahab A. e Ijaiya, Muftau A.(2007), Small and medium scale enterprises' access to commercial banks' credits and their contribution to GDP in Nigeria. https://www.econbiz.de /Record/small-and-medium- scale-enterprises-access-to-commercial-banks-credits-and-their-contribution-to-gdp-in-nigeria-lawal-wahab/ 10003664616 Acesso aos 03 de Abril de 2020. 28 Metical é o nome oficial da moeda moçambicana. Representa-se por MT nas cotações domésticas e MZN nas cotações internacionais. https://www.econbiz.de/Search/Results?lookfor=person%3A%22Lawal%2C+Wahab+A.%22&type=Allhttps://www.econbiz.de/Search/Results?lookfor=person%3A%22Ijaiya%2C+Muftau+A.%22&type=All 17 CAPÍTULO 2: POLÍTICAS DE CONTEÚDO LOCAL NA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL NA NIGÉRIA Neste capítulo estuda-se as políticas de conteúdo local aplicadas na indústria petrolífera e de gás natural na Nigéria. Para o estudo, apresenta-se o histórico de descoberta e os contornos de exploração e produção dos hidrocarbonetos naquele país e apresentam-se também, a legislação aplicável e as razões de implementação de algumas políticas de conteúdo local. 2.1. História Da Indústria de Petróleo e Gás Natural na Nigéria Segundo a Nigeria National Petroleum Corporation (NNPC) (s/d29) a história da indústria de petrolífera na Nigéria remonta ao ano de 1908. Neste ano, o Governo Colonial deu licença de exploração à Betumen Corporation e a British Colonial Petroleum que deram início a atividades exploratórias na região de Araromi no Oeste da Nigéria. No entanto, a exploração foi interrompida devido a eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914, e foram retomadas em 1937, quando a Shell D'Arcy foi concedida uma licença para a prospeção e exploração de petróleo em todo território. Contudo, as actividades foram também interrompidas pela eclosão da Segunda Guerra Mundial, e foram retomadas em 1947. Cerca de 48 anos depois tinham sido perfurados 28 poços que culminou com a primeira descoberta de petróleo na região de Delta do Níger em 1956, e a produção começou em 1958 (Okonmah, 1997:16). Com a independência da Nigéria em 1960 houve a abertura da indústria para a entrada de outras EPI como a Mobil, AGIP, Safrap, Tenneco e Amoseas através da atribuição a estes os direitos exploratórios em áreas onshore30 e offshore31 da Delta do Níger. Com a entrada de novas EPIs, a produção de petróleo da Nigéria teve o seu pico, aumentando para 0,9 milhões de barris por dia (mb/d) em 1969 (dos 0.51 mb/d de 1958) (Hassan, 2012:09). A participação na Organização das Nações Unidas (ONU) e na OPEP por parte da Nigéria influenciou na indústria de petróleo e gás natural naquele país. Segundo o NNPC (201432) a princípio o interesse do governo nigeriano na indústria petrolífera era limitado à cobrança de royalties, rendas de locação e impostos, mas isso mudou com a resolução da ONU sobre 29 NNPC (s/d) History of the Nigerian Petroleum Industry, disponivel em: https://nnpcgroup.com/NNPC- Business/Business-Information/Pages/Industry-History.aspx consultado aos 02 de Abril de 2020. 30 Onshore – são actividades de extração do petróleo ou gás natural no continente, ou seja, em terra firme. 31 Offshore - são actividades petrolíferas localizadas no alto mar (geralmente em águas profundas). 32 NNPC (2014) Upstream Ventures, disponível em: https://www.nnpcgroup.com/NNPC-Business/ Upstream-Ventures/Pages/Oil-Production.aspx consultado as 27/01/2020. consultado aos 02 de Abril de 2020 https://nnpcgroup.com/NNPC-Business/Business-Information/Pages/Industry-History.aspx https://nnpcgroup.com/NNPC-Business/Business-Information/Pages/Industry-History.aspx https://www.nnpcgroup.com/NNPC-Business/%20Upstream-Ventures/Pages/Oil-Production.aspx%20consultado%20as%2027/01/2020 https://www.nnpcgroup.com/NNPC-Business/%20Upstream-Ventures/Pages/Oil-Production.aspx%20consultado%20as%2027/01/2020 18 Soberania Permanente sobre os Recursos Naturais (SPRN33). Com esta resolução o Governo Federal da Nigéria (GFdN) tomou medidas para controlar a indústria através da promulgação da Lei do Petróleo34 em 1969 que dava o direito de propriedade e controle de todos os recursos petrolíferos ao GFdN. Em 1971 a Nigéria aderiu à OPEP e adotou a Resolução N. XVI.90 (1968:0835) que insta aos Estados membros a adquirir o controlo acionário em concessões detidas por EPI, tendo estabelecido no mesmo ano, através do Decreto No 33/71 a Nigerian National Oil Corporation (NNOC) e o Ministério de Recursos Petrolíferos (MRC) para esse fito, que mais tarde, em 1977, fundiram-se formando a NNPC. Em conformidade com decreto N. 33/71, a NNPC adquiriu o controlo acionário das EPI que operavam no país. Esse marco denota a importância dos atores não estatais nas RI. Em 2014, 56 anos depois, a NNCP possuía Joint Ventures36 com seis EPI (NNPC, 2014): 1. Shell (SPDC) composto por NNPC (55%), Shell (30%), Elf (10%) e Agip (5%); 2. Chevron (CNL) composto por NNPC (60%) e da viga (40%); 3. Mobil (MPNU) composto por NNPC (60%) e a Mobil (40%); 4. AGIP (NAOC) composto por NNPC (60%) AGIP (20%) e Phillips Petroleum (20%). 5. Elf (EPNL) composto por NNPC (60%) e Elf (40%); e 6. Texaco (Topcon) composto por NNPC (60%), Texaco (20%) e CNL (20%). A indústria de hidrocarbonetos nigeriana completou toda a cadeia de valor. Esta cadeia é composta por três fases: upstream (atividades a montante como perfuração, exploração e produção), midstream (atividades intermediárias como armazenamento e transporte) e downstream (atividades a jusante como refinação e comercialização) (Seplat, 2018:09). 2.1.1. Produção de Petróleo A Nigéria tinha cerca de 37 biliões de barris de reservas comprovadas de petróleo até o final de 2015 - a segunda maior quantidade da África depois da Líbia. A maioria das reservas está localizada no Delta do Rio Níger onshore e na Baía de Benin, no Golfo da Guiné e na Baía de Bonny offshore nas águas profundas e ultra profundas (Oil & Gas Journal, 201637). A 33 Resolução sobre Soberania Permanente sobre Recursos Naturais - 1803 de 14 de Dezembro de 1962. 34 Lei do Petroleo de 1969, Capitulo 10, numero 1 a 3. 35 Resolution No. XVI.90 (1968) Declaratory Statement of Petroleum Policy in Member Countries’, OPEC. 36 Joint Venture é uma associação econômica entre duas ou mais empresas, de ramos iguais ou diferentes, que decidem reunir seus recursos para realizar uma tarefa específica, durante um período determinado. 37Oil & Gas Journal (2016) Worldwide look at Reserves and Production. Disponivel no site: https://www.ogj.com/home/article/world-look-at-reserves-and-production consultado aos 26/03/2020. https://www.ogj.com/home/article/world-look-at-reserves-and-production 19 produção de petróleo atingiu um pico de 2,04 mb/d em 2005, mas começou a declinar após o surgimento da violência de grupos militantes, forçando muitas empresas a interromper a produção. Contribuíram também para o declínio, a falta de transparência nas receitas do petróleo, as tensões sobre a distribuição de receita, os danos ambientais causados por derramamentos de petróleo e as tensões étnico-religiosas locais (Seplat, 2018:09). Em 2008, a produção de petróleo bruto caiu em mais de 25% para uma média de 1,8 mb/d (EIA, 2016:05). Em 2008 foi declarada a amnistia, os militantes chegaram a um acordo com o GFdN, no qual entregavam armas em troca de dinheiro e oportunidades de treinamento permitindo que as empresas reparassem as infraestruturas danificadas e voltassem a fornecer suprimentos. Outro fator que contribuiu para a tendência ascendente da produção de petróleo foi o crescimento da produção de novos campos38 de petróleo (ibid). Em 2015, a Nigéria produziu 1,9 mb/d de petróleo bruto devido ao declínio natural do campo de produção. Em 2018, com a capacidade de produção de petróleo bruto de 2,5 mb/d, a Nigéria passou a ser o maior país produtor de petróleo da África e o sexto maior produtor do mundo (ibid, 2019:08). 2.1.2. Produção de Gás Natural De acordo com a Energy Information Administration (EIA, 201839), o potencial de gás da Nigéria nunca esteve em dúvida dadas as suas reservas comprovadas que são estimadas em 180 tcf, tornando-o no nono maior detentor de gás natural do mundo e no maior em África. Essas reservas permitiram que a produção de gás natural desde 1999 crescesse progressivamente, atingindo um pico de 1.58 tcf em2016, elevando-o no décimo segundo maior produtor do mundo. Segundo a BP (2019:27), a produção de gás continuará a aumentar progressivamente à medida que a demanda local cresce, com perspectiva de atingir cerca de 1.9 tcf em 2022, tendo em vista os planos do GFdN de transformar a Nigéria em uma economia industrialmente diversificada com atenção primária para a demanda de gás local. As operações upstream e downstream jogam um papel fundamental na economia Nigeriana. De acordo com o Fundo Monetário Internacional - FMI (2015:28), esta economia é dependente dos rendimentos das operações upstream na indústria de petróleo e gás, que representam cerca de 95% das suas receitas em divisas, 9,77% do seu PIB e 75% do total de 38 O campo de águas profundas de Usan de 2012; o campo de Bonga North West de 2014; o projeto da Fase 3 Bonga de 2015, O projeto Erha North Phase 2 de 2015. 39 EIA (2018) International Energy Statistics. Dispínivel em: https://www.eia.gov/international/data/world acesso em 04 de Março de 2020. https://www.eia.gov/international/data/world 20 receitas GFdN. Em 2014 por exemplo, a receita de exportação de petróleo e gás natural foi de quase USD87 biliões, representando cerca 58% da receita total do governo naquele ano. 2.2. Políticas De Conteúdo Local As PCL são criadas para promover a utilização de bens e serviços locais numa indústria que, de outra forma, poderia recorrer a fontes estrangeiras para encontrar esses bens e serviços. São empreendidas para reduzir as desigualdades enfrentadas pelas empresas nacionais em relação às empresas estrangeiras, aumentar a participação da indústria nacional em sectores específicos da actividade económica, melhorar o desenvolvimento tecnológico, criar oportunidades de emprego aos nacionais, apoiar a diversificação económica, reduzir a dependência em um sector, e permitir que as empresas nacionais possam competir a nível regional e internacional (Perreira, et al, 2019:635). As PCL podem assumir diversas formas na sua formação, no entanto, destacam-se duas formas – a forma de requisitos e a forma de preferência de preços. A forma de requisitos obriga as empresas estrangeiras a dar preferências a fornecedores locais na aquisição de bens e serviços, preferências para mão-de-obra local em questões de emprego e para percentagem mínimas obrigatórias no uso de matérias-primas locais na produção. A forma de preferências de preço protege as empresas nacionais que participam de licitações de compras, através de criação de procedimentos de licenciamento de importação projetados para desencorajar fornecedores estrangeiros (Cimino, et al, 2014:16). As PCL dividem opiniões entre diversos autores e partes interessadas no que diz respeito a sua implementação. Autores como Fordes (201340), Veloso (200641), Bhagwati (198842) entre diversos outros autores, argumentam a favor da aplicação destas políticas, pois para estes, as PCL ajudam a aumentar o valor acrescentado através da diversificação da economia e por impulsionar as novas descobertas; corrigem as falhas de mercado ou externalidades através da transferência de conhecimento, da promoção de externalidades produtivas e da correcção das falhas do mercado; e, por fim, as PCL seguem um plano de desenvolver os objectivos sociais através da criação do emprego e pela compensação pelos impactos 40 Forbes, Malcolm (2013), The Case for (and against) Local Content Policies in the Petroleum Sector Failure is success if we learn from it.The World Bank:Washington D.C.; 41 Veloso Francisco M. (2006), Understanding Local Content Decisions: Economic Analysis and na Application to the Automobile Industry, Journal of Regional Science, Vol. 46, No. 4;. 42 Bhagwati J.N. (1988), Protectionism, MA: MIT Press: Cambridge;. 21 socioeconómicos adversos das actividades petrolíferas e de gás nas comunidades locais e grupos vulneráveis. Porém, para autores como Alfaro e Rodriguez-Clare (200443), Maloney (200244), Rodrik (200745) as PCL causam má atribuição de recursos ou ineficiências na economia; criam um fosso elevado de desalinhamento entre os instrumentos económicos utilizados e os objectivos políticos; geralmente vão contra a regulamentação internacional e regional relacionada ao comércio; e, criam quadros institucionais altamente corruptos na tentativa de evitar multas e cargos fiscais. No entanto, estes aspectos não tornam as PCL impossíveis de se desenvolver, apenas colocam desafios. 2.2.1. Políticas de Conteúdo Local na Nigéria A história das PCL na Nigéria teve início com a promulgação da Lei do Petróleo de 1969. Esta lei declarou que todos os recursos petrolíferos no solo, subsolo ou qualquer território de jurisdição nigeriana são propriedades de Estado (Lei do Petróleo, 1990: 02). A lei obriga os proprietários de contratos de exploração de petróleo a garantir que dentro de 10 anos a partir do momento da concessão pelo menos 75% dos trabalhadores empregados sejam nigerianos (ibid: 03). Esta lei foi posteriormente substituída pela Lei de Regulamentos de Alteração do Petróleo que entrou em vigor em 1971 (Ovadia, 2013:42). Essa disposição obrigou o governo nigeriano a adquirir 33,3% de participação na Azienda Generale Italiana Petroli (AGIP46). Em 1972 foi promulgada a Lei do Instituto de Treinamento de Petróleo (ITP) que levou ao estabelecimento do ITP em 1973. Embora o instituto tenha sido estabelecido como um pré- requisito para a adesão à OPEP, também foi criado para treinar nigerianos para atender às necessidades de força de trabalho da indústria nigeriana de petróleo e gás. O objetivo era de fornecer educação de qualidade, mão-de-obra qualificada e tecnologia eficiente capaz de atender a indústria continental de petróleo e gás (ITP, 2011: 13). Em 1973 foi promulgada a Lei nº 25 do Fundo de Desenvolvimento de Tecnologia do Petróleo (FDTP), com objectivo de construir capacidade local e desenvolvimento tecnológico interno através do treinamento de nigerianos em vários campos da indústria (ibid). 43 Alfaro, L., e A. Rodríguez-Clare, R. (2004), Multinationals and Links: An Empirical Investigation. Economia Journal of LACEA, Vol. 4, No. 2; 44 Maloney, W. (2002), Missed Opportunities: Innovation and Resource-Based Growth in Latin America. Economia Journal of LACEA, Vol. 3 No. 1. 45 Rodrik, Deff (2007), Industrial Development: Stylized Facts and Policies. United Nations: New York: 46 Companhia Geral Italiana de Petróleo. 22 Em 1996 o Decreto de Petróleo n. 23 foi promulgado para ajudar a recuperar campos de exploração de várias EPIs e realocá-los para empresas nigerianas. Em 2000 foi introduzida a PCL denominada por Nigerian Content com objectivo principal de aumentar a participação das empresas locais e desenvolvimento de mão-de-obra local (Nwapa, 2007:28). Em 2003, foi estabelecido um comitê de CL encarregado de desenvolver uma Lei de Conteúdo Local. O projeto foi aprovado pelo Senado em 2006, ratificado pela Câmara dos Representantes em março de 2010 e assinada em abril de 2010 como NOGICD (Ovadia, 2013:43). 2.2.1.1. Objectivos das Políticas de Conteúdo Local da Nigéria De acordo com Olsen (2008:16), uma PCL é um meio e não um objectivo, o objectivo é aumentar a riqueza nacional através do crescimento económico e de mais emprego aos habitantes locais. Em Nigéria, existe uma diversidade de objectivos das PCL, porém, destacam-se os seguintes objectivos (Ovadia, 2013:43 e Gbegi e Adebisi, 2013:03): A expansão dos sectores a montante e a jusante da indústria de petróleo e gás – através de introdução de novas indústrias nigerinas que operem em todos os sectores da cadeia de valor (downstream, midstream e upstream); A promoção da participaçãolocal – efetivado através de criação de leis que dão tratamento preferencial a empresas nigerianas e aos nigerianos no acesso as oportunidades da indústria de hidrocarbonetos; O fomento de transferência tecnológica e do know-how – quando as empresas nacionais são colocadas em ambientes iguais que as empresas estrangeiras, elas ficam expostas a transmissão do saber fazer e aos meios de operacionalização que as ultimas utilizam, o conhecimento e a tecnologia ocorrem através do processo de designado por transbordamentos; A integração da indústria petrolífera à economia convencional por meio de refinarias locais e petroquímicas – esse objectivo visa conectar a economia nigeriana a indústria petrolífera e garantir que esta não se torne dependente de um e único sector. São também parte dos objectivos das PCL da Nigéria, a diversificação das fontes de investimento; a geração de empregos para todas as categorias de nigerianos e o aumento da capacidade de produção local. Para Orgi (2018:11) o objectivo do CL na Nigéria é a adição do valor agregado através da domiciliação da actividade económica no país, ou seja, a passagem do trabalho que anteriormente era feito no estrangeiro para a Nigéria. 23 A Nigéria introduziu várias estratégias como mecanismos de alcance dos objectivos das suas PCL. De forma sucinta são destacadas como princípios orientadores das PCL na Nigéria, a política de instalação de uma Empresa Petrolífera Nacional (EPN), o desenvolvimento de uma Estrutura de Conteúdo Local (ECL) composta por uma lei específica de CL e por um conselho de monitoramento e avaliação, e um fundo do apoio ao desenvolvimento do conteúdo nacional (Orgi, 2018:11). 2.2.1.2. Política de Instalação de uma Empresa Petrolífera Nacional As EPNs controlam mais de 90% das reservas mundiais de petróleo e de gás natural e 75% da produção total (Tordo, et al, 2013:22). Estima-se que cerca de 60% das reservas mundiais não descobertas estão localizadas em países onde as EPNs têm acesso privilegiado a essas reservas e aos principais sistemas de infraestrutura petrolífera. Por isso, as EPNs têm o potencial de moldar a economia e as necessidades de energia dos países ricos em recursos. Na Nigéria a NNCP, a EPN nacional, controla uma parcela importante da produção de petróleo e gás e, como consequência, desempenha um papel importante na adoção e implementação de políticas no setor extrativo, incluindo PCL (Mushemeza, et al, 2017:27). O NNPC é o principal instrumento por meio do qual o GFdN coloca em prática as estratégias de CL. Para a maximização dessa estratégia a NNPC estabeleceu a Divisão de Conteúdo da Nigéria (DCN) em 2004, com função de regulador de CN. A DCN tinha, entre diversos objectivos, desenvolver estratégias para capacitação e aprimoramento de competência de fornecedores locais, conduzir a implementação de CN e monitorizar o seu cumprimento. A DCN declarou que o seu objetivo era elevar o nível de CL para 45% em 2007 e depois para 70% em 2010 (NNPC, 2010:05). Desde a sua formação a NNPC procurou domiciliar as Operações Petrolíferas (OP) através do controlo acionário das EPI que operavam no país (vide página 18 desta pesquisa para mais detalhes). Como resultado, até 2014, a NNPC possuía entre 55% a 60% em cada concessão operada pelas EPIs (NNPC, 201447), facto que contribuiu na realização de objectivos de domiciliação das actividades petrolíferas, expansão dos sectores a montante e a jusante e ao aumento da capacidade de produção local. 47 NNPC (2014) Upstream Ventures, disponível em:https://www.nnpcgroup.com/NNPCBusiness/Upstr eam-Ventures/Pages/Oil-Production.aspx. Consultado aos 27 de Janeiro de 2020. https://www.nnpcgroup.com/NNPCBusiness/Upstr%20eam-Ventures/Pages/Oil-Production.aspx https://www.nnpcgroup.com/NNPCBusiness/Upstr%20eam-Ventures/Pages/Oil-Production.aspx 24 2.2.1.3. Política de Desenvolvimento de uma Estrutura de Conteúdo Local Para a concretização dos objectivos das PCL traçados na Nigéria, o GFdN desenvolveu uma ECL. Esta estrutura, que também designa-se por quadro, é constituída por uma lei específica de conteúdo local e por um conselho de monitoramento e avaliação de conteúdo local. A lei de conteúdo local específica é designada por Nigerian Oil and Gas Industry Content Development Act, 2010, e o conselho de monitoramento é designado por Nigerian Content Development and Monitoring Board (NCDMB48). Importa destacar que este conselho é estabelecido pela NOGICD na secção 4 e encarregado de fornecer orientações, monitorizar, coordenar e implementar as disposições da Lei (Okafor e Aniche, 2014:86). 2.2.1.3.1. Lei de Conteúdo Local Específica A NOGICD foi promulgada em 2010 e desenhado para aumentar a participação das empresas locais na indústria de petróleo e gás, prescrevendo limites mínimos para o uso de serviços e materiais locais e para promover transferência de tecnologia para as empresas nigerianas e o know-how49 para os profissionais nigerianos da indústria petrolífera. A lei aplica-se a todos os operadores, contratados e outras entidades envolvidas em qualquer projecto na indústria de petróleo e gás natural (Monday, 2012:15). A NOGICD releva-se ser um instrumento de grande importância na aplicação de PCL, por comportar os principais objectivos. Dentre diversos, destacam-se cinco objectivos. O primeiro estipula que os operadores independentes nigerianos deverão ser considerados em primeiro lugar na adjudicação de blocos de petróleo, licenças de campos petrolíferos, licenças de elevação de petróleo e em todos os projetos cujo contrato será adjudicado na indústria nigeriana de petróleo e gás (NOGICD, 2010: Seção 3.1). Este objectivo visa garantir que haja aumento da capacidade de produção local e, também, a integração da indústria petrolífera à economia convencional por meio de refinarias locais e petroquímicas. O segundo objetivo estipula que todos os operadores, contratantes e outras entidades envolvidas em qualquer operação, negócio ou transação na indústria petrolífera que necessitem de serviços devem reter apenas os serviços de uma pessoa colectiva nigeriana 48 Conselho de Monitoramento e Desenvolvimento de Conteúdo da Nigéria (CMDCN). 49 Know-how - é um conjunto de conhecimentos práticos adquiridos por uma empresa ou um profissional, que traz para si vantagens competitivas. Está diretamente relacionado com inovação, habilidade e eficiência na execução de determinado serviço (Significados, 2010). 25 (NOGICD, 2010: Seção 51.1). A adjudicação do contrato não se baseará apenas no princípio do menor lance quando uma empresa nigeriana tiver capacidade para executar esse trabalho (…) desde que o valor não excede o preço de oferta mais baixo em 10% (NOGICD, 2010: Seção 16). Entende-se que este objectivo visa a expansão dos sectores a montante e a jusante da indústria de petróleo e gás e a promoção da participação local. O terceiro objetivo estabelece que os nigerianos deverão ser considerados em primeiro lugar no emprego e na formação em qualquer projecto executado por qualquer operador ou promotor de projecto na indústria petrolífera nigeriana (NOGICD, 2010: Seção 28.1). Essa disposição interpreta-se como a estratégia por detrás da promoção da participação local e da geração de empregos para todas as categorias de nigerianos. O quarto objectivo está relacionado com a pesquisa e desenvolvimento das OPs tratado da secção 36 à secção 40. A NOGICD (2010: Seções 36 – 40) declara que a pesquisa e desenvolvimento devem ser realizados por operadores para a promoção da educação, treinamento em pesquisa e desenvolvimento para nigerianos. Essas disposições não exigem que os operadores se envolvam em pesquisa e desenvolvimento diretamente, mas sim que apresentem um plano
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