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Neurologia K A R E N O L I V E I R A A�heimer LMF 1. Introdução + DSM-5 + Demências + Epidemiologia + Fatores de risco Referências: Introdução: KAPLAN, HI. & SADOCK, B. Compêndio de Psiquiatria. 9ª edição. Porto Alegre: Artes Médicas, 2007 ; DMS-5; Tratado de Geriatria e Gerontologia. Freitas, E.V.; Py, L.; Neri, A. L.; Cançado, F. A. X.C.; Gorzoni, M.L.; Doll, J. 3ª. Edição. Grupo Editorial Nacional (GEN), 2011 Introdução + DSM-5 Em 1907, Alois Alzheimer descreveu pela primeira vez a condição que mais tarde adquiriu seu nome. Ele descreveu uma mulher de 51 anos com um curso de quatro anos e meio de demência progressiva. O diagnóstico final de doença de Alzheimer requer exame neuropatológico do encéfalo; mesmo assim, demência do tipo Alzheimer é habitualmente diagnosticada no contexto clínico depois que outras causas de demência foram excluídas da consideração diagnóstica. Subtópico Demências A demência, também denominada transtorno neurocognitivo maior na 5 a edição do DSM (DSM-5), caracteriza-se por prejuízo grave na memória, no julgamento, na orientação e na cognição. As subcategorias são: Demência do tipo Alzheimer Normalmente ocorre em indivíduos com idade superior a 65 anos, é o tipo de demência mais comum, frequentemente associada à demência senil, definida como um processo envolvendo ẞ-amiloide e neurodegeneração límbica e isocortical, caracterizada principalmente por amnésia anterógrada. A evolução da doença leva a perda da memória recente, déficits cognitivos, como disfunções de linguagem, redução da velocidade de pensamento, dificuldade na orientação espaço-temporal, além de déficit na função executiva, alterações de comportamento, humor e personalidade, essas condições tornam o paciente bastante debilitado e dependente. Doença vascular A demência vascular é o segundo tipo de demência mais frequente. A maioria dos casos é decorrente de vários infartos corticais por oclusão de grandes artérias cerebrais ou infartos menores afetando substância branca (leucoaraiose) e núcleos subcorticais. Demência por Parkinson A demência por Parkinson surge á medida que a doença de Parkinson piora, sendo uma consequência das alterações que ocorrem a nível cerebral, pois há alterações relacionadas com a cognição e comportamento da pessoa Demência frontotemporal: é a terceira maior causa de demência em idosos, causada por acúmulo da proteína Tau, podendo ainda ser causada por alterações na TDP-43 ou sarcoma fused-in. Este quadro se caracteriza por degeneração neuronal, gliose e 1 consequentemente a uma atrofia cortical, mais concentrada nos lobos frontal e temporal, e consequentemente a alterações comportamentais e de linguagem. Demência com corpos de Lewy: se dá através do comprometimento de regiões específicas do cérebro devido à presença de estruturas proteicas, conhecidas como corpos de Lewy, que se desenvolvem dentro das células cerebrais e provocam sua degeneração e morte, resultando na demência. Esse tipo de demência pode acontecer simultaneamente com a Doença de Alzheimer. Epidemiologia Nos países desenvolvidos, a prevalência da doença é aproximadamente 1,5% em torno dos 65 anos até alcançar 30%, em média, ao redor dos 80 anos. Nos Estados Unidos, 3% a 11% das pessoas com 65 anos ou mais e 25% a 47% daquelas com mais de 85 anos têm demência. A doença de Alzheimer é uma doença crônica do envelhecimento, e tanto a incidência quanto a prevalência da doença aumentam com a idade. As estimativas de sua prevalência revelam que menos de 1% dos indivíduos com menos de 65 anos de idade são clinicamente afetados, enquanto cerca de 5% são acometidos entre 65 e 75 anos, cerca de 20% entre 75 e 85 anos e provavelmente mais de 50% com 85 anos de idade ou mais. A prevalência crescente com o avanço da idade deve-se ao fato de que a incidência específica da idade ou o número de novos casos que surgem no decorrer de um período específico de tempo aumentam acentuadamente de menos de 1% por ano antes dos 65 anos de idade para cerca de 6% por ano em indivíduos com 85 anos ou mais. A duração média dos sintomas desde os primeiros sintomas perceptíveis até a morte é tipicamente de 10 a 20 anos ou mais. No Brasil, a estatística é muito semelhante à mundial. Em estudo populacional realizado em Catanduva, município com 100 mil habitantes, no Estado de São Paulo, 25% dos idosos foram avaliados, encontrando prevalência de demência semelhante à literatura. Herrera e col. observaram prevalência de 7,1% de casos de demência (118 habitantes) em uma população de 1.656 indivíduos com idade igual ou maior que 65 anos. A taxa de incidência anual foi de 7,7 casos por 100.000 habitantes. Os estudos brasileiros apresentam prevalência e incidência próximas aos estudos estrangeiros. A etiologia mais freqüente da síndrome demencial foi a DA. Em Catanduva, 55,1% dos casos de demência receberam este diagnóstico. Subtópico Referências: Herrera E Jr, Caramelli P, Nitrini R. Estudo epidemiológico populacional de demência na cidade de Catanduva, estado de São Paulo. Rev Psiq Clin, 1998;25:70-73. Patterson CJ, Gauthier S, Bergman H, et al. The recognition, assessment and management of dementing disorders: conclusions from the Canadian Consensus Conference on Dementia. CMAJ, 1999;160:(Suppl12):S1-S15. Ritchie K, Lovestone S. The dementias. Lancet, 2002;360:1759-1766. Subtópico Texto Fatores de Risco GREENBERG, D; Neurologia clínica [recurso eletrônico] – 8. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: AMGH, 2014. P-120-121. Fatores de risco Os fatores de risco mais conclusivamente associados com risco aumentado para doença de Alzheimer são idade mais 2 avançada, sexo feminino e genótipo APOE4. Outros fatores que podem estar implicados em alguns estudos incluem história familiar de doença de Alzheimer, depressão, baixo nível educacional, tabagismo, diabetes, hipertensão e dieta gordurosa. Além de APOE4, foram identificados diversos outros genes que modificam o risco, mas a magnitude de seus efeitos é pequena. Não existem evidências definitivas de que o risco de doença de Alzheimer pode ser reduzido por dieta, fármacos ou alterações no estilo de vida. No entanto, engajamento cognitivo, atividade física, uma dieta com baixo teor de gorduras e rica em vegetais, e uma ingestão leve a moderada de álcool são medidas apoiadas por alguns dados. O risco de doença de Alzheimer também é influenciado pelo padrão hereditário de isoformas do gene da apolipoproteína E (APOE) e2, e3 e e4. O risco aumenta em cerca de três vezes, com um alelo apolipoproteína E e4 (APOE4) e, em cerca de 12 vezes, com duas cópias de APOE4; cada cópia de APOE4 também reduz a idade de início em cerca de cinco anos. Diferente de APOE4, APOE2 parece conferir uma proteção relativa contra a doença de Alzheimer. O mecanismo pelo qual o genótipo APOE modifica a susceptibilidade à doença de Alzheimer é desconhecido, mas pode envolver a ligação da proteína APOE à Ab. SOUZA,C; Fatores associados à demência em idosos. Ciênc. saúde coletiva v.25 n.2. 2020. Disponível em https://www.scielosp.org/article/csc/2020.v 25n2/603-611/. Acesso em 07/11/2020 perdas cognitivas decorrentes das demências são mais prevalentes na população feminina, entre indivíduos com baixa escolaridade que não praticam atividade física, aqueles de baixa condição econômica com idade avançada e em situação de fragilidade. Outros fatores de risco associados à demência são: hipertensão arterial diabetes, mellitus depressão e a baixos níveis de vitamina D, sendo o último um fator modificável. No estudo de Baumgart et al. destaca a importância de estudos que visem analisar fatores de risco modificáveis à demência, já que esses são passíveis de intervenção, destacando a prática de comportamentos saudáveis FREITAS, E; Doença de Alzheimer. In: FREITAS, E; Tratado de geriatria e gerontologia. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. P.600-669 As evidências científicas sugerem uma etiologia multifatorial para a DA: fatores genéticos e ambientais, possivelmente agindo por meio decomplexas interações, modulariam o risco de desenvolvimento da doença. A identificação de fatores de risco e, eventualmente, de fatores protetores relacionados com a DA é de fundamental importância devido às potenciais implicações para a prevenção da doença, possibilitando futuras intervenções naqueles passíveis de modificação. Além disso, o reconhecimento desses fatores poderá fornecer importantes pistas para o entendimento da fisiopatogenia da doença. Até o momento, os fatores de risco não modificáveis estabelecidos para a DA são: idade, gênero feminino (após 80 anos de idade), síndrome de Down, história familial positiva e gene de suscetibilidade (genótipo Apo ε4). Indiscutivelmente, a idade é o fator de risco mais importante para o desenvolvimento de demências, em geral, e da DA, em particular, podendo isso ser constatado a partir do aumento progressivo das demências a partir de 60 anos de idade. Existem, entretanto, controvérsias sobre o que ocorre nos indivíduos com mais de 95 anos de idade. Caso as taxas de incidência de demência continuem a aumentar nos muito idosos, todos, então, irão desenvolver um quadro demencial em algum momento de suas vidas desde que permaneçam vivos por tempo suficiente para que a síndrome se manifeste. Do contrário, alguns indivíduos nunca irão 3 desenvolver demência durante suas vidas dentro de um período viável de existência. Quanto ao gênero, embora muitos estudos tenham demonstrado maior prevalência da DA na população feminina, a diferença pode ser explicada por maior incidência ou sobrevida mais longa nas mulheres acometidas pela DA. Considerando-se que as mulheres com a DA vivem mais do que os homens com a DA, existem aproximadamente duas vezes mais mulheres do que homens com essa doença. Jorm e Jolley (1998), em uma metanálise, encontraram maior incidência da DA apenas em mulheres muito idosas, enquanto Galo et al. (1998), em metanálise menor, concluíram que as mulheres sempre apresentam incidência mais elevada se comparadas aos homens. Por isso, o gênero feminino é tido como fator de risco estabelecido, sobretudo após os 80 anos de idade. Nos estudos brasileiros, a DA é mais comumente encontrada em mulheres, mesmo após correção das variáveis: idade, escolaridade e nível socioeconômico. Com relação à síndrome de Down, foi demonstrado que todos os seus portadores que chegam aos 40 anos de idade apresentam as alterações neuropatológicas típicas da DA, possivelmente por apresentarem uma cópia extra do gene da proteína precursora de amiloide (APP), codificada no cromossomo 21. Surpreendentemente, por motivos desconhecidos, alguns desses indivíduos não desenvolvem demência, mesmo alcançando idade superior a 50 anos. A história familial positiva de demência é também considerada como um importante fator de risco para a DA. Uma metanálise de estudos de caso-controle realizada por van Duijn et al. (1991) revelou que o risco de desenvolver a DA é 3,5 vezes maior em indivíduos que têm pelo menos um parente em primeiro grau com demência. A história familial está associada a um risco maior para a DA de início precoce do que para a DA de início tardio. O risco de um parente em primeiro grau desenvolver a DA dependerá da longevidade. Um estudo norte-americano estimou um risco de 5% aos 70 anos de idade e de 33% aos 90 anos. Na maior investigação realizada entre todos os gêmeos registrados na Suécia com idade superior a 65 anos, Gatz et al. (2006) confirmaram a presença de uma grande influência da herança genética para o desenvolvimento da DA independente do gênero. O estudo incluiu 11.884 pares de gêmeos dentre os quais havia, em 392 pares, um ou ambos com o diagnóstico da DA e estimou a importância da hereditariedade para a enfermidade em 58%. Aproximadamente 10% dos casos da DA têm história familial positiva. Algumas famílias mostram um padrão de herança autossômica dominante para o desenvolvimento da DA de início precoce. Por meio de estudos genéticos e moleculares, foram identificadas mutações capazes de causar a doença em muitas delas. Essas mutações são responsáveis por uma parcela pequena de casos relacionados com a rara forma familial de início precoce da DA (< 65 anos). Atualmente, foram evidenciadas mutações em 3 genes. São eles: o gene da proteína precursora de amiloide (APP), o gene da pressenilina 1 (PSEN-1) e o gene da pressenilina 2 (PSEN-2), localizados nos cromossomos 21, 14 e 1, respectivamente. Essas mutações ocasionam alterações no metabolismo da APP e, em última análise, promovem um aumento na formação do peptídio Aβ 42, principal componente das placas senis. Após exaustiva investigação científica, nenhuma dessas mutações foi encontrada nos casos de forma esporádica da DA (Reznik-Wolf et al., 1998). Estudos recentes sugerem a existência de possíveis mutações relacionadas com algumas formas da DA de início tardio, no DNA mitocondrial e em um locus em uma região no cromossomo 12, próximo ao marcador de DNA D12S1042. No que diz respeito aos genes de suscetibilidade, destaca-se o da apolipoproteína E (ApoE) como único locus confirmado para o desenvolvimento da DA de início tardio. O genótipo da ApoE revelou-se como um importante fator de risco, embora existam marcantes variações étnicas e geográficas. A ApoE é uma proteína plasmática envolvida no transporte de colesterol e, provavelmente, no reparo neuronal, sendo codificada por 4 um gene localizado no braço longo do cromossomo 19. Esse gene apresenta 3 alelos comuns – ε2, ε3 e ε4 –, os quais diferem apenas pela permuta de dois aminoácidos nas posições 112 e 158. · O alelo ε3 reflete a presença de Cys112 e de Arg158 e ocorre em 75% da população caucasiana · O alelo ε2 (Cys112 e Cys158) · o alelo ε4 (Arg112 e Arg158) estão presentes aproximadamente em 10 e 15% entre os caucasianos. A presença do alelo ε4 está relacionada com um risco aumentado para a DA (frequência aproximada de 40%), ao passo que o alelo ε2 parece conferir um discreto efeito protetor (frequência aproximada de 2%). De acordo com Farrer et al. (1997), o risco é maior em caucasianos e em japoneses e é menor entre africanos e hispânicos. De fato, em caucasianos, o genótipo ε4/ε4 está associado a um risco 15 vezes maior para a DA do que naqueles com genótipo ε3/ε3, enquanto o genótipo ε3/ε4 está associado a um risco 3 vezes maior para a DA. Além disso, a apresentação dos sintomas da DA é mais precoce nos indivíduos portadores do alelo ε4. Em contraste, 35 a 50% dos pacientes com a DA não possuem nenhum alelo ε4. Dessa forma, apesar da importância da genotipagem da ApoE em estudos longitudinais de populações de risco, vale ressaltar que a presença do alelo ε4 não é determinante para a ocorrência da DA, sendo apenas considerado um gene de suscetibilidade, ou seja, implica apenas uma probabilidade aumentada da doença. Sendo assim, os testes genéticos de genotipagem da ApoE não são recomendados, na prática clínica, como método de triagem para o diagnóstico da DA ou para a avaliação do risco do desenvolvimento da doença. Uma das peculiaridades que devem ser consideradas no estudo do polimorfismo da ApoE no Brasil é a característica multirracial de nossa população, embora ainda existam alguns grupamentos étnicos específicos e populações indígenas isoladas. Alguns estudos de caso-controle realizados em nosso meio foram revistos por Nitrini (2000). Em geral, revelam uma frequência alélica para o alelo ε4 reduzida, tanto entre os controles quanto entre os pacientes com a DA de início tardio em relação ao encontrado nos países do hemisfério norte. Almeida e Shimokomaki (1997) investigaram a prevalência do alelo ε4 na cidade de São Paulo, em 43 casos da DA provável e 56 controles, encontrando as taxas de 22,1 e de 8,9%, respectivamente, enquanto Souza et al. (1998), em cidade do interior do estado de São Paulo, verificaram taxas de 25 e 7% em 18 pacientes com a DA e 14 controles, respectivamente. Em estudos realizados em São José do Rio Preto, Cação et al. (2001, 2007) encontraram uma prevalência um pouco maior do aleloε4 nos pacientes com DA de início tardio (38%) e em seus familiares em primeiro grau (32%), se comparados à população geral (27%). O polimorfismo da ApoE não diferenciou DA familial do tipo tardio da DA esporádica após análise realizada em pacientes e familiares em primeiro grau dos dois grupos também comparados com controles, embora tenha sido observada uma frequência mais elevada do alelo ε4 comparando-se os familiares dos probandos aos do grupo-controle. Considerando-se o pequeno número de indivíduos incluídos nesses estudos, serão necessárias investigações mais extensas com amostras aleatórias representativas da população brasileira para que genótipo da ApoE seja mais bem conhecido em nosso meio. Além disso, resultados recentes de estudos de associação genômica ampla realizadas com milhões de polimorfismos em centenas de indivíduos identificaram vários outros genes de suscetibilidade para o desenvolvimento da DA de início tardio que são comuns na população geral, mas com pequeno efeito genético (risco relativo de 1,1 a 1,3), a saber: ABCA7, BIN1, CASS4, CD33, CD2AP, CELF1, CLU, CR1, DSG2, EPHA1, FERMT2, HLA-DRB5-DBR1, INPP5D, MS4A, MEF2C, NME8, PICALM, PTK2B, SLC24 H4-RIN3, SORL, e ZCWPW1 (Bertram et al., 2010; Karch e Goate, 2015). Dentre eles, destacam-se 2 grandes estudos de rastreio genômico realizados com DNA de 36.000 indivíduos que evidenciaram uma associação dos seguintes 3 novos loci: 5 · CLU (também denominado APOJ) no cromossomo 8, · CR1 (complement component 3b/4b receptor 1) no cromossomo 1, ambos envolvidos com a eliminação de placas amiloides, · PICALM, que está envolvido na neurotransmissão sináptica (Lambert et al., 2009; Harold et al., 2009). Adicionalmente, a análise do genoma em grandes bancos de dados, realizada por tecnologias emergentes, revelou as seguintes variantes raras que também podem aumentar o risco da DA e influenciar o processamento da APP: fosfolipase D3 – PLD3 e TREM2 (Guerreiro et al., 2014; Cruchaga et al., 2014). Além desses, diversos genes têm sido estudados, como o da butirilcolinesterase variante K, localizado no cromossomo 3, o da alfa-2 macroglobulina, importante para o clearance de Aβ (maior componente dos depósitos de proteína beta-amiloide). De acordo com Blaker et al. (1998), uma deleção nesse gene aumenta o risco para o desenvolvimento da DA em 7 vezes. Outros loci propostos incluem o da antiquimotripsina (ACT-A), o da fosfolipase A2 (PLA2), o de histocompatibilidade (HLA-A) e o de receptor de lipoproteínas de baixa densidade. Existem evidências de que o alelo HLA-A2 esteja associado à modulação da idade de início da DA e que a presença de dois alelos “A” de α1- antiquimotripsina (ACT) associados ao alelo Apo ε4 eleve o risco da DA em 4 vezes. Segundo Gattaz et al. (1996), a atividade da PLA2 que influencia o processamento e a secreção da APP está significativamente reduzida no córtex parietal e frontal dos pacientes com a DA, e essa redução está correlacionada com um início precoce da doença, com um número mais elevado de neurofibrilas e placas senis e com óbito prematuro. No Brasil, Cordeiro et al. (2010) analisaram 3 polimorfismos genéticos que codificam enzimas do grupo das PLA2 em 58 pacientes com DA de início tardio e 107 controles saudáveis, pareados, e encontraram associação genotípica somente com o polimorfismo Banl cPLA2. Os autores sugerem que este polimorfismo pode estar envolvido com fator de suscetibilidade para a DA de início tardio na população brasileira. Muitos desses resultados, porém, precisarão ser reproduzidos em outros estudos de caso-controle para serem confirmados. Como os fatores de risco para a DA até aqui descritos não são passíveis de sofrer modificação, uma das principais linhas de investigação, desde os primeiros estudos de caso-controle, tem sido a dos fatores ambientais. Uma das evidências indiretas da sua importância foi objetivamente demonstrada por meio de 2 estudos de gêmeos, os quais sugerem que apenas 50 a 75% da predisposição dessa população para a DA podem ser atribuídos a fatores genéticos. Dentre os possíveis fatores ambientais, além do baixo nível educacional, foram mais consistentemente associados à DA: hipercolesterolemia e hipertensão arterial sistólica na meia-idade, diabetes melito, tabagismo atual, hiper-homocisteinemia, inatividades física e cognitiva, depressão, baixo suporte social, solteiros e trauma craniano. Os resultados obtidos em grandes estudos epidemiológicos da DA, como o estudo de Rotterdam e do Norte de Manhattan, sugerem que o risco da doença aumente nos indivíduos com menor escolaridade e baixo nível socioeconômico. Uma das hipóteses para explicar a associação entre demência e baixa escolaridade é a menor capacidade de compensação para qualquer déficit cognitivo. Nesse sentido, indivíduos com nível educacional alto, quando pareados com outros de nível educacional mais baixo, porém no mesmo estágio de gravidade de demência, apresentavam maior déficit perfusional em córtex parietotemporal, implicando melhor capacidade de compensar os danos neuropatológicos da doença. Caramelli et al. (1995) demonstraram que o padrão neuropsicológico de comprometimento cognitivo pode ser diferente em indivíduos com escolaridade alta, estando algumas áreas mais preservadas do que outras. Como a baixa escolaridade – incluindo o analfabetismo – é frequente em nossa população, sobretudo entre os indivíduos idosos, esse fator de risco se reveste de 6 grande interesse para países como o Brasil. A ligação potencial entre a doença vascular e a DA ganhou grande importância nos últimos anos. Na década de 1990, vários estudos epidemiológicos e de necropsia sugeriram que fatores vasculares, tais como história de hipertensão arterial e de hipercolesterolemia na meia-idade, de diabetes melito tipo II e de hiper-homocisteinemia, estavam associados a um maior risco independente tanto para doença cerebrovascular quanto para a DA (associação com manifestações clínicas e neuropatológicas). Apesar de a associação entre a enfermidade e fatores vasculares estar mais bem estabelecida, os seus mecanismos ainda são obscuros. Estudos in vitro mostraram que a adição de colesterol em células nervosas aumenta a concentração do peptídio beta-amiloide (Aβ). Além disso, foi demonstrado que o decréscimo da clivagem da fração Aβ da APP relaciona-se com a espessura da membrana celular, sendo as membranas mais espessas e ricas em colesterol as que produzem mais Aβ. É fato que, independente da elucidação desses mecanismos, tal associação apresenta várias implicações clínicas para o tratamento e a prevenção da DA. Ainda que os fatores de risco vasculares promovam apenas um pequeno aumento no risco para a DA, será significativo o número total de indivíduos por eles afetados. Entre os fatores protetores, os estudos observacionais relacionam os seguintes: gênero masculino, nível educacional elevado, vida ativa com estimulação cognitiva constante, engajamento em atividades sociais e de lazer, suporte e rede sociais disponíveis, atividade física regular, dieta mediterrânea, dieta rica em antioxidantes e vitaminas (E, C, B6, B12 e folato), ausência de traumas cranianos, presença do alelo ε2, níveis baixos de colesterol, consumo moderado de álcool (vinho tinto) e uso de medicamentos: estatinas, anti-hipertensivos, terapia de reposição estrogênica (algumas formulações), anti-inflamatórios não esteroides, antioxidantes, agonistas de receptores histamínicos H2. O tratamento da doença vascular, principalmente da hipertensão arterial sistêmica, anterior à manifestação do declínio cognitivo, é considerado como de importância para a redução do risco para desenvolvimento da DA. No que se refere à atividade física, uma metanálise de estudos com mais de 5 anos de duração mostrou evidências de redução do risco de declínio cognitivo, de demência e da DA para os indivíduos com maior engajamento nas atividades (Rockwood e Middleton, 2007). Em outra metanálise que incluiu estudos com 1 a 12 anos de duração, o alto nível de atividade físicafoi associado com 38% de redução de risco de declínio cognitivo se comparados aos sedentários (Sofi et al., 2011). No Estudo Pietà (Barbosa et al., 2009), em uma coorte de indivíduos muito idosos vivendo na comunidade, o envelhecimento cerebral bem-sucedido livre de doenças neuropsiquiátricas foi associado a maior nível de escolaridade, ao gênero masculino, ao estado conjugal (casados ou união estável), à ausência de diagnóstico prévio de depressão e ao uso de menor número de medicamentos. Dados obtidos de metanálise de fatores de risco modificáveis realizada por Xu et al. (2015) sugerem que intervenções efetivas como dieta, medicamentos, exposição bioquímica, condições psicológicas, doenças preexistentes e estilo de vida poderão diminuir a incidência de novos casos da DA. Os resultados de estudos longitudinais prospectivos, bem como de ensaios clínicos controlados de prevenção, estão sendo aguardados para que haja melhor definição do papel protetor desses agentes contra a DA, visto que a maior parte dos estudos que descreve esses fatores protetores apresenta grau de evidência fraca. Por fim, vale ressaltar que é esperado o desenvolvimento de um modelo unificado de predição de risco para a DA, considerando-se os diversos fatores de risco conhecidos com precisão discriminativa e transportabilidade (p. ex., em populações, idades e gênero específicos). Tang et al. (2015) realizaram análise estratificada de 1.234 estudos dos quais 21 foram considerados elegíveis de acordo com os critérios de inclusão. Embora nenhum modelo de predição de 7 risco tenha sido recomendado, reforçou-se a necessidade de valorizar o tempo de seguimento (p. ex., índice de massa corporal [IMC] e hipertensão mais relevantes em adultos de meia-idade do que em idosos), a influência de cada um dos fatores de acordo com a etiologia da demência (p. ex., nível educacional, estado de saúde, diabetes) e a complexa interação de todas as variáveis. 8 2. Fisiopatologia Patogênese Genética Em cerca de 1% dos pacientes, a Doença de Alzheimer é um distúrbio familiar que Resulta de uma mutação em uma de três proteínas de membrana relacionadas funcionalmente proteína precursora b-amiloide (APP, de amyloid precursor protein), preseniliNa 1 (PS1), ou presenilina 2 (PS2). O início da Doença nesses pacientes costuma ocorrer entre os 30 e os 60 anos. Pacientes com síndrome de Down (trissomia 21) também desenvolvem doença de Alzheimer precocemente (média de Início aos 50 anos), o que parece estar relacionado Com uma cópia extra do gene APP localizado no Cromossomo 21. Embora a causa da doença de Alzheimer esporádica seja desconhecida, os defeitos de genes na doença de Alzheimer familiar fornecem pistas, implicando a APP, uma proteína com propriedades neurotróficas, e as presenilinas, que estão envolvidas no metabolismo da APP. O risco de doença de Alzheimer também é Influenciado pelo padrão hereditário de isomorfas do gene da apolipoproteína E (APOE). O risco aumenta em cerca de três vezes, Com um alelo apolipoproteína E (APOE4) e, em cerca de 12 vezes, com duas cópias de APOE4, cada cópia de APOE4 também reduz a idade de início em cerca de cinco anos. Diferente De APOE4, APOE2 parece conferir uma proteção Relativa contra a doença de Alzheimer. O mecanismo pelo qual o genótipo APOE modifica a Susceptibilidade à doença de Alzheimer é desconhecido, mas pode envolver a ligação da proteína APOE à Ab. Ab e placas neuríticas A Ab é o principal constituinte das placas neuríticas e também está depositada nos vasos sanguíneos cerebrais e meníngeos na doença de Alzheimer. A Ab é um peptídeo de 38 a 43 aminoácidos, produzido por clivagem proteolítica da proteína transmembrana APP. O processamento normal de APP envolve sua clivagem pela enzima a-secretase, que não produz Ab, e pela b-secretase e g-secretase, resultando principalmente em um fragmento de 40 aminoácidos (Ab40), que é secretado e depurado pelo cérebro. Na doença de Alzheimer, é produzida uma quantidade desproporcional de Ab42, uma forma mais longa da molécula, com um aumento da tendência de agregação. As presenilinas 1 e 2 contribuem com a atividade da g-secretase. Evidências para um papel causal da Ab na doença de Alzheimer incluem o envolvimento de mutações de APP em alguns casos familiares e a neurotoxicidade de Ab em algumas circunstâncias. No entanto, existe pouca correlação entre a extensão da deposição de placas amiloides no cérebro e a gravidade da demência na doença de Alzheimer. Uma explicação para essa disparidade é que os oligômeros solúveis Ab, mais do que as placas insolúveis, podem ser o agente tóxico. Outra possibilidade é que a agregação Ab produz doença de Alzheimer indiretamente, por meio da promoção da formação de emaranhados neurofibrilares contendo tau. Tau e emaranhados neurofibrilares Tau é uma proteína citoplasmática que liga a tubulina e estabiliza os microtúbulos, estruturas cito esqueléticas que ajudam a manter a estrutura celular e facilitam o transporte intracelular. Na doença de Alzheimer e em outras tauopatias, a tau se torna hiperfosforilada e se dissocia dos microtúbulos, os microtúbulos desmontam, e agregados de tau hiperfosforilada se unem para formar os emaranhados neurofibrilares. Não se sabe como isso leva a um comprometimento funcional, mas um defeito no transporte axonal pode estar envolvido. Um papel causal para a patologia da tau na doença de Alzheimer é apoiado pelas observações de que a abundância de emaranhados neurofibrilares se correlaciona bem com a gravidade da doença e de outras tauopatias (p. ex., demência frontotemporal), nas quais o 9 processamento de Ab é normal, mas também pode produzir demência. Disfunção sináptica A doença de Alzheimer é acompanhada por disfunção precoce e perda de sinapses, afetando principalmente a transmissão excitatória no hipocampo e no córtex cerebral. Essas alterações podem contribuir com a perda da memória. Perda neuronal e atrofia cerebral Certas populações neuronais são preferencialmente perdidas na doença de Alzheimer, incluindo os neurônios glutamatérgicos no córtex entorrinal e o setor CA1 do hipocampo, assim como os neurônios colinérgicos no prosencéfalo. Nas áreas afetadas, observa-se atrofia cerebral focal. Envolvimento vascular A extensão com a qual a patologia vascular pode contribuir com a doença de Alzheimer é controversa. Evidências dessa conexão incluem a sobreposição entre os fatores de risco para doença vascular e doença de Alzheimer (incluindo genótipo APOE) e o envolvimento de vasos sanguíneos na angiopatia amiloide. Fisiopatologia da doença de Alzheimer Envolve duas principais estruturas: placas neuríticas e emaranhados neurofibrilares. As placas neuríticas são núcleos de amiloide, rodeados de neuritos em degeneração (neuritos distróficos), que por sua vez são fragmentos de axônios e dentritos neuronais. O principal componente amiloide dessas estruturas é o peptídeos ẞ-amiloide, o qual é derivado de uma proteína precursora de amiloide (APP) a partir de processamentos específicos indevidos – são proteínas Mutantes, dobradas de forma inadequada e que causam inflamação nos diversos órgãos que podem se depositar. Essas placas são encontradas principalmente no hipocampo, Amígdala e no neocórtex, geralmente Poupando o córtex motor e sensorial (o que também ocorre com os emaranhados neurofibrilares). A PET TC (tomografia por emissão De pósitron), realizada com ligantes com afinidade pelo ẞ-amiloide, mostram que a proteína amiloide começa a se acumular no neocórtex em até cerca de 20 anos antes de surgirem os sinais clínicos da demência provocada pela doença de Alzheimer. Quando isso ocorre, muitos depósitos de peptídeos ẞ-amiloide são encontrados nas placas neuríticas do neo-córtex, assim, essas placas representam o estágio final do processo de Alzheimer, mas vale ressaltar que a quantidade desse peptídeo não está Relacionado com a gravidade da doença. Contudo, acredita-se que esses depósitos são os principais agentes relacionados à indução ou aceleração da lesão neuronal.Os emaranhados neurofibrilares, por sua vez, são agregados intracelulares de uma forma bastante fosforilada da proteína tau, associada a microtúbulos. A proteína tau fosforilada se autoagrega, levando à formação dos emaranhados. Essas estruturas são frequentemente encontradas no córtex entorrinal, prosencéfalo basal, núcleos da rafe, além do hipocampo e amígdala. Entretanto, à medida que a doença progride, os emaranhados neurofibrilares têm sua extensão regional aumentada. Essas estruturas aparecem no lobo temporal medial e tronco Cerebral em pessoas sem déficits de cognição por volta da quarta década de vida, porém em pessoas com predisposição à doença de Alzheimer, ocorre disseminação transináptica Desses emaranhados para áreas de associações corticais. Assim, quando surgem os sintomas da doença, os emaranhados neurofibrilares são encontrados no neocórtex de associação dos lobos frontal, parietal e temporal, e nos estágios mais avançados da doença eles são encontrados nos Lobos occipitais e córtices motor e Sensitivo primários. A localização dos emaranhados neurofibrilares está diretamente relacionada à evolução clínica dos sintomas específicos do Alzheimer, bem 10 como a gravidade da doença. Com isso, nas manifestações clinicas iniciais, a maior concentração dessas estruturas é no Córtex entorrinal e no hipocampo, regiões relacionadas com a memória episódica declarativa. Porém, vale pontuar que essas estruturas não são específicas da doença de Alzheimer, podendo ser encontradas em outras doenças neurológicas. Quadro Clínico + Estágios A manifestação clínica inicial mais comum da doença de Alzheimer é a amnésia anterógrada. Isso pode ser identificado a partir de algumas queixas como esquecimento de eventos e conversas recentes, colocação errada de objetos, problemas para acompanhar datas, perder-se em vizinhanças conhecidas e dificuldade para lembrar de completar tarefas usuais. No Alzheimer leve, a função da memória episódica declarativa pode ser perdida, porém o conhecimento prévio pode permitir que os pacientes sigam suas rotinas normais, a menos que algo além do usual seja demandado deles. No entanto, nesse estágio da doença, podem ocorrer erros na tomada de medicamentos e dificuldade para lidar com o dinheiro e finanças, requerendo o auxílio de familiares, além de mudanças no comportamento, personalidade e humor, manifestados como humor deprimido, que pode ocorrer em paralelo ao acometimento da memória, apatia, perda de iniciativa e perda de interesse pelos hobbies, por exemplo. Uma parcela menor de pacientes pode ainda cursar com insônia ou anorexia, fato que não tem relação com maior ou menor gravidade da doença. Também há relatos de delírios e comportamento psicótico, que aumentam com a progressão da doença e podem ser persistentes em cerca de 20% dos casos. Esse quadro progride à medida que a doença avança para os estágios Intermediário e Avançado. Nessas fases, o paciente encontra dificuldades cada vez maiores para realizar suas tarefas diárias, tornando-se dependente para atividade básicas, como alimentar-se, vestir-se e fazer a higiene. No estágios terminais da doença, todas as capacidades de comunicação podem ser perdidas, porém em muitos casos a mobilidade é preservada até tardiamente. Os pacientes com doença de Alzheimer costumam vir a óbito pelas mesmas doenças que afetam idosos debilitados que não apresentam essa demência, como sepse, pneumonia e insuficiência cardíaca, principalmente devido ao fato de que esses indivíduos perdem a capacidade de expressar suas necessidades e a falta de um cuidado adequado e bem treinado pode vir a deixar passar sinais de desconforto, que quando não notados precocemente, evoluem para quadros mais graves. Por exemplo, pacientes com Alzheimer em locais quentes ou condições favoráveis podem sofrer desidratação, cujos sinais podem passar despercebido pelo cuidador, evoluindo a óbito por choque hipovolêmico. A duração e evolução clínica da doença de Alzheimer é longa, porém variável, levando o paciente com demência leve até a morte no período de 2 a 3 anos ou uma década. Vale pontuar que, apesar do principal sintoma dessa doença ser déficit de memória, há formas atípicas dessa síndrome, como a atrofia cortical posterior, na qual os déficits são visuoespaciais (praxia construtiva) sem a amnésia anterógrada. Estágios Na fase da pré demência, os sintomas são muito sutis e muitas vezes atribuídos, de forma equivocada, ao envelhecimento natural ou ao estresse. Nesse momento, quando se suspeita de doença de alzheimer, pode-se aplicar testes neuropsicológicos que permitem revelar a doença até oito anos antes da pessoa cumprir os critérios para diagnóstico de Alzheimer. Além da perda de memória recente, essa fase pode incluir sintomas como 11 mudanças sutis na atenção, apatia, irritabilidade e sintomas depressivos. No estágio inicial ou leve, para muitos considerado o primeiro estágio, os sintomas de pré-demência se agravam e o paciente pode se encontrar com dificuldade para encontrar palavras, desorientado no tempo e no espaço e com dificuldades para tomar decisões. No estágio intermediário, são comuns dificuldades mais evidentes no dia-a-dia, com esquecimento de fatos mais marcantes, como o nome de pessoas próximas; dificuldade com higiene pessoal e autocuidados; incapacidade de cozinhar e cuidar da casa; maior dificuldade para falar e se expressar com clareza; alucinações e alterações de comportamento. No estágio avançado, que também é chamado de estágio terminal cursa com prejuízo gravíssimo da memória, com incapacidade de registrar dados e muita dificuldade em recuperar informações antigas, como o reconhecimento de pessoas e locais familiares. Nessa fase, o paciente pode já não conseguir alimentar-se normalmente, apresentando dificuldade em deglutir, além de poder haver incontinência urinária e fecal e comportamento inadequado intensificado. A doença pode progredir ainda com dificuldades motoras, sendo necessário auxílio para caminhar, como o uso de cadeira de rodas ou até mesmo ficar acamado. Nesse estágio, o paciente apresenta alto risco de desenvolver infecções, escaras e necessidade de hospitalização. Vale ressaltar que a Doença de Alzheimer não apresenta cura ou tratamentos capazes de reverter a doença, e acredita-se que 70% do risco de desenvolvê-la esteja associado à genética. Outros fatores de risco incluem antecedentes de lesões na cabeça, depressão e hipertensão arterial. No entanto, há alguns estudos que apontam que o risco de se desenvolver Alzheimer pode ser diminuído com exercícios mentais, físicos e controle da obesidade. Referências: E-book Neurologia 2019, volume único, MEDCEL, Marcelo Freitas Schimd. Neurologia Clínica, 8º edição, LANGE - David A. Greenberg, Artmed. Robbins & Cotran Patologia - Bases Patológicas Das Doenças - 9ª Edição. 12 3. Neurorradiologia Referência TC:https://radiopaedia.org/cases/33753/studies/34907?lang=us&referrer=%2Farticles%2Falzhe imer-disease-1%3Flang%3Dus%23image_list_item_10618264 Demência de longa data - 84, feminino Achados: Perda acentuada de volume é observada envolvendo hipocampos e giros para-hipocampais, especialmente anteriormente, com preservação relativa do resto do lobo temporal. Sem hemorragia intracraniana. Hipodensidade periventricular e de substância branca profunda em concordância com isquemia moderada de pequenos vasos. Nenhuma evidência de infarto agudo. Os ventrículos estão aumentados, mas seu tamanho não foi alterado em comparação com a TC anterior com uma distância biventricular máxima de 4,6 cm. Nenhuma fratura calvarial ou anomalia óssea suspeita observada. As imagens dos seios paranasais e das células aéreas da mastoide estão claras. As características são consistentes com a impressão clínica da doença de Alzheimer. RM: https://radiopaedia.org/cases/64234/studies/73011?lang=us&referrer=%2Farticles%2Falzheime r-disease-1%3Flang%3Dus%23image_list_item_43682138 Declínio cognitivo progressivo, particularmente memória de curto prazo, 74. Achados:Rastros de biópsia bilateral são novamente observados nos lobos frontais. Varreduras volumétricas coronais mostram atrofia do hipocampo em desacordo com as mudanças no resto do cérebro. Vários pequenos focos de queda de sinal na imagem ponderada de suscetibilidade estão de acordo com o diagnóstico suspeito de angiografia amilóide. Nenhuma evidência de siderose superficial. Anormalidade grave está presente na substância branca periventricular e subcortical. Nenhuma evidência de difusão restrita ou aumento de contraste nessas regiões. MRA (não mostrado) permanece normal. A perfusão MR (não mostrada) sugere regiões de perfusão diminuída nos lobos temporoparietais Conclusão: No geral, as características sugerem um diagnóstico de doença de Alzheimer com angiografia amilóide associada A B 13 https://radiopaedia.org/cases/33753/studies/34907?lang=us&referrer=%2Farticles%2Falzheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23image_list_item_10618264 https://radiopaedia.org/cases/33753/studies/34907?lang=us&referrer=%2Farticles%2Falzheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23image_list_item_10618264 https://radiopaedia.org/cases/64234/studies/73011?lang=us&referrer=%2Farticles%2Falzheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23image_list_item_43682138 https://radiopaedia.org/cases/64234/studies/73011?lang=us&referrer=%2Farticles%2Falzheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23image_list_item_43682138 TC na atrofia cerebrocortical, mostrando dilatação ventricular (A) e acentuação dos sulcos corticais (B). Subtópico Imagens estruturais de RM ponderada em T1 de dois pacientes (A e B) com doença de Alzheimer, incluindo, em cada paciente, imagens sagitais (fileira superior) e axiais (fileira inferior) selecionadas. A mostra um padrão de atrofia mais proeminente nas regiões parietais. B mostra o padrão de atrofia mais proeminente nas regiões temporais. Subtópico O eletroencefalograma e outras medidas neurofisiológicas são inespecíficos, revelando um alentecimento do ritmo de fundo ou outras alterações que não são diagnósticas de qualquer distúrbio cerebral em particular. De modo semelhante, os exames de imagem de rotina por TC ou RM não revelam nenhuma anormalidade estrutural macroscópica, a não ser a atrofia, particularmente no início da evolução da doença. Posteriormente, na evolução da doença, observa-se tipicamente a ocorrência de atrofia cortical e subcortical significativa, embora não seja totalmente específica (Figura 50.3). Mais importante, tornou-se evidente que tanto o LCS quanto o exame de imagem funcional do cérebro podem exibir marcadores relativamente sensíveis e específicos da doença de Alzheimer. O exame de imagem do cérebro tornou-se importante no diagnóstico da doença de Alzheimer, pode ajudar na detecção precoce da doença e pode ser útil em estudos de pesquisa após tratamento da doença. Os exames de imagem do cérebro incluem imagem “estrutural”, imagem “funcional” e imagem “molecular”. As técnicas de imagem estrutural, incluindo TC e RM, são usadas para descartar outras causas de demência, como tumores ou acidente vascular encefálico (AVE). Entretanto, na doença de Alzheimer, o exame de imagem estrutural tipicamente revela dilatação dos ventrículos laterais e alargamento dos sulcos corticais, particularmente nas regiões temporal e parietal (ver Figura 50.3). Essa atrofia cortical não é específica da doença de Alzheimer, visto que pode ser observada em alguns indivíduos idosos com funcionamento normal no exame clínico e testes neuropsicológicos. Nessa última década, foram desenvolvidas abordagens de RM para medir alterações volumétricas precisas no cérebro, que podem ser úteis para diferenciar a doença de Alzheimer da demência frontotemporal e que têm sido usadas no monitoramento da terapia com fármacos em fase de investigação. As técnicas de imagem funcionais do cérebro incluem tomografia computadorizada por emissão de fótons únicos (SPECT), tomografia por emissão de pósitrons (PET) e ressonância magnética funcional (RMf). Apesar de utilizar diferentes tecnologias, as técnicas de imagem funcionais compartilham uma 14 sensibilidade para o metabolismo cerebral – a captação de glicose no caso da PET com 18F-fluorodesoxiglicose, ou as medidas de fluxo sanguíneo estreitamente correlacionadas da SPECT com 99mTc hexametilpropileno-aminoxima (HMPAO) ou RMf. Os exames com PET ou SPECT revelam um padrão característico de hipometabolismo e hipoperfusão na parte proximal do lobo temporal e parte posterior do lobo parietal, com preservação da função dos núcleos cinzentos profundos e córtex sensitivo e motor primários (ver Figura 50.4A). Com a resolução espacial superior oferecida pela RMf, os estudos começaram a mapear padrões de disfunção em sub-regiões menores do lobo temporal medial, a área geral onde se acredita que ocorra o início da doença. Na formação hipocampal, a RMf de alta resolução mostrou que, diferentemente dos estágios iniciais da doença de Alzheimer que acometem o córtex entorrinal, o envelhecimento normal envolve o giro denteado, uma sub-região hipocampal vizinha. Por fim, o avanço mais recente na imaginologia cerebral é capaz de detectar as características moleculares da doença de Alzheimer: as placas contendo amiloide e os emaranhados neurofibrilares. O primeiro reagente de imagem molecular para a detecção das placas neuríticas in vivo foi o “composto B de Pittsburg” (PIB, cuja formulação química é 11C-6-OH-benzotazol-1), porém existem atualmente três reagentes marcados com 18F aprovados: o florbetapir, o florbetabem e o flutemetamol, e, com base em estudos clínicos e de necropsia, foi demonstrado que todos eles apresentam ligação cortical do radioligante na doença de Alzheimer (ver Figura 50.4B). A ausência de ligação cortical é inconsistente com a doença de Alzheimer. Entretanto, como seria esperado de uma doença que começa com pequenas quantidades de depósito assintomático de Aβ42, uma fração substancial de idosos clinicamente normais (p. ex., cerca de 25% dos indivíduos com mais de 65 anos de idade, com proporções crescentes em faixas etárias mais avançadas) apresenta alguma ligação, compatível com a possibilidade de desenvolvimento posterior de doença de Alzheimer. Novos radioligantes em fase de investigação para a tau agregada, bem como reagentes radiofarmacêuticos para SPECT e PET a fim de examinar os sistemas dopaminérgicos, prometem fornecer maior arsenal de biomarcadores avançados de imagem molecular que poderão auxiliar no diagnóstico e avaliação precoces da doença. FIGURA 50.4 A. Imagens de um paciente submetido a PET com 18F-fluorodesoxiglicose. A fileira superior mostra cortes sagitais, a fileira do meio, cortes axiais, e a fileira inferior, cortes coronais. As imagens demonstram diminuição da atividade metabólica cerebral nas regiões parietais, temporais bilaterais e, em menor grau, frontais. Observe que, nesse esquema de codificação de cor, as cores “mais frias”, como verde e azul, indicam menor atividade, enquanto as cores “mais quentes”, como amarelo, vermelho e branco, representam maior atividade. (Esta figura encontra-se reproduzida em cores no Encarte.) B. PET com 18F-florbetapir em dois indivíduos, com esquema de imagem em preto e branco, em que a intensidade do preto representa uma maior captação do florbetapir. Cada fileira mostra um exemplo 15 de cortes de imagem cerebral axial, sagital e coronal. A fileira superior é de um indivíduo controle normal, mostrando a captação cerebral do radioligante apenas na substância branca. A fileira inferior mostra as imagens de um paciente com doença de Alzheimer, mostrando a extensa captação do radioligante na substância cinzenta em todo o córtex cerebral, incluindo as regiões frontal, temporal e parietal, bem como os núcleos da base. Figura 4. Imagens coronais em série de uma RM de um paciente com Alzheimer. A imagem da esquerda foi de um exame realizado quando o paciente se apresentava clinicamente normal e a imagem da direita foi feita 11 anos depois, quando o paciente apresentava demência. Observa-se uma drástica atrofia hipocampal com a evoluçãoda doença. Fonte: GOLDMAN, Lee, SCHAFER, Andrew L, et al. Goldman-Cecil. Medicina. 25ª ed. Rio de Janeiro. Elsevier, 2018. Sub Sub Tópico Figura 5. Imagens do PET-TC e RM em indivíduos normais, com doença de Alzheimer e com DFT (FTD em inglês). O sinal verde representa baixos níveis de ligação inespecífica da substância branca. As setas representam a retenção proeminente do agente da imagem amiloide nos cortices frontal e parietal. Fonte: https://radiologyassistant.nl/assets/demen tia-role-of-mri/a509797720938b_FDG-pet.jp g Figura 6. Imagem do FDG-PET. As cores mais quentes (amarela e laranja) representam as áreas de captação normal de glicose, enquanto as cores frias (azul e verde) representam as regiões com hipometabolismo, mostrando que na doença de Alzheimer, há um hipometabolismo nas regiões temporal e parietal. MCI: comprometimento cognitivo leve (em inglês Mild cognitive impairment) Fonte: https://doctorlib.info/pharmacology/stahls -essential-psychopharmacology-4/stahls-e ssential-psychopharmacology-4.files/imag e554.jpg Sub Sub Tópico 16 Figura 1 - Ressonância magnética de crânio em corte coronal: (A) hipocampo normal e (B)atrofia hipocampal Figura 3 - Ressonância magnética de crânio em corte axial: (A) sequência T2 de um paciente com demência por multi-infarto; (B) sequência T2 de um paciente com demência por infarto estratégico; (C) sequência FLAIR de uma paciente com demência vascular subcortical (Binswanger) PEC-CT https://radiopaedia.org/cases/22715/studi es/22740?lang=us&referrer=%2Farticles%2F alzheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23ima ge_list_item_3242748 17 https://radiopaedia.org/cases/22715/studies/22740?lang=us&referrer=%2Farticles%2Falzheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23image_list_item_3242748 https://radiopaedia.org/cases/22715/studies/22740?lang=us&referrer=%2Farticles%2Falzheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23image_list_item_3242748 https://radiopaedia.org/cases/22715/studies/22740?lang=us&referrer=%2Farticles%2Falzheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23image_list_item_3242748 https://radiopaedia.org/cases/22715/studies/22740?lang=us&referrer=%2Farticles%2Falzheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23image_list_item_3242748 Paciente com deficiência cognitiva., 55, feminino PET-CT: As imagens de FDG PET-CT mostram uma diminuição da atividade metabólica no córtex parietotemporal bilateral. TC: A tomografia computadorizada mostra aumento dos sulcos cerebrais e perda de volume giral associada a leve dilatação compensatória do sistema ventricular. Isso talvez seja mais acentuado nas regiões parietais. Esses são achados inespecíficos, às vezes encontrados na população assintomática dessa faixa etária. SPECT https://radiopaedia.org/cases/10896/studie s/11326?lang=us&referrer=%2Farticles%2Fal zheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23image _list_item_871213#images Déficit de memória. Achados: A perfusão cerebral com 99mTc-ECD mostra hipoperfusão temporoparietal bilateral. Caso Link:https://radiopaedia.org/cases/22196/s tudies/22226?lang=us&referrer=%2Farticles %2Falzheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23i mage_list_item_3060519#images Feminino, 70, Comprometimento progressivo da memória recente / de curto prazo com preservação relativa da memória remota e autobiográfica. Achados: Os sulcos e ventrículos são ligeiramente mais proeminentes do que o esperado para a idade. As estruturas mesiotemporais, incluindo os chifres temporais dos ventrículos laterais e os sulcos colaterais, são ligeiramente mais proeminentes, com hipocampo bilateral, amígdala e córtex entorrinal reduzidos em volume. Múltiplas lesões hiperintensas FLAIR na substância branca supratentorial, confluentes nas regiões periventriculares, estão de acordo com isquemia de pequenos vasos leve a moderada. Sem restrição de difusão ou suscetibilidade suspeita. Caso Link: https://radiopaedia.org/cases/64586/studi es/73460?lang=us&referrer=%2Farticles%2F alzheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23ima ge_list_item_44245630#images Comprometimento Cognitiva, 75 anos, Fêmea Achados: Alterações isquêmicas crônicas moderadas de pequenos vasos espalhadas por ambos os hemisférios. Os hipocampos apresentam depleção de volume bilateral, simétrica e desproporcional. O restante do cérebro demonstra apenas uma pequena perda generalizada de volume. Múltiplas micro hemorragias localizadas perifericamente são vistas em ambos os hemisférios, sugestiva de angiopatia amilóide cerebral. Os recursos suportam o diagnóstico da doença de Alzheimer 18 https://radiopaedia.org/cases/10896/studies/11326?lang=us&referrer=%2Farticles%2Falzheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23image_list_item_871213#images https://radiopaedia.org/cases/10896/studies/11326?lang=us&referrer=%2Farticles%2Falzheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23image_list_item_871213#images https://radiopaedia.org/cases/10896/studies/11326?lang=us&referrer=%2Farticles%2Falzheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23image_list_item_871213#images https://radiopaedia.org/cases/10896/studies/11326?lang=us&referrer=%2Farticles%2Falzheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23image_list_item_871213#images https://radiopaedia.org/cases/22196/studies/22226?lang=us&referrer=%2Farticles%2Falzheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23image_list_item_3060519#images https://radiopaedia.org/cases/22196/studies/22226?lang=us&referrer=%2Farticles%2Falzheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23image_list_item_3060519#images https://radiopaedia.org/cases/22196/studies/22226?lang=us&referrer=%2Farticles%2Falzheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23image_list_item_3060519#images https://radiopaedia.org/cases/22196/studies/22226?lang=us&referrer=%2Farticles%2Falzheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23image_list_item_3060519#images https://radiopaedia.org/cases/64586/studies/73460?lang=us&referrer=%2Farticles%2Falzheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23image_list_item_44245630#images https://radiopaedia.org/cases/64586/studies/73460?lang=us&referrer=%2Farticles%2Falzheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23image_list_item_44245630#images https://radiopaedia.org/cases/64586/studies/73460?lang=us&referrer=%2Farticles%2Falzheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23image_list_item_44245630#images https://radiopaedia.org/cases/64586/studies/73460?lang=us&referrer=%2Farticles%2Falzheimer-disease-1%3Flang%3Dus%23image_list_item_44245630#images 4. Diagnóstico + Exames + Tratamentos + Qualidade de Vida + Prognóstic Rowland LP, Pedley TA. Merritt: Tratado de Neurologia. 12ª ed. Rio de Janeiro. Editora Guanabara Koogan, 2011. Greenberg, David A. Neurologia clínica. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. Diagnóstico Clínico O diagnóstico da doença de Alzheimer se baseia na história clínica, achados histopatológicos, biomarcadores e exames de imagem. A história clínica direciona o diagnóstico para as demências, sendo provável o acometimento por doença de Alzheimer quando o paciente apresenta início insidioso dos sintomas, ou seja, tem início gradual e evolui para perda de memória, além do agravamento da cognição por relato ou observação de pessoas próximas. Acredita-se que a progressão clínica da doença de Alzheimer compreenda uma fase pré-sintomática de até cerca de 10 anos, caracterizada pela deposição de placas amiloides, seguida por uma fase sintomática de cerca de 10 anos, durante a qual ocorre a formação de emaranhados. Manifestações precoces – o termo leve comprometimento cognitivo (LCC), algumas vezes, é usado para descrever a fase precoce do declínio cognitivo, observado em pacientes que mais tarde recebem um diagnóstico de doença de Alzheimer. O comprometimento da memória recente, em geral, é o primeiro sinal de doença de Alzheimer, e pode somente ser notado por familiares. Com a progressão do distúrbio de memória por meses a vários anos, o paciente se torna desorientado no tempo e no espaço. Afasia, anomia e acalculia podem se desenvolver, forçando o paciente a deixar seu trabalho ou desistir da gestão das finanças familiares. A depressão aparente nos estágios iniciais do distúrbio pode dar lugar a um estado inquieto e agitado. Seguem-se apraxias e desorientação visuoespacial, levando o paciente a se perder com facilidade. Comumente se encontramreflexos primitivos. Um distúrbio de marcha do lobo frontal pode se tornar aparente, com passos curtos, lentos e arrastados, postura em flexão, com base larga e dificuldade para iniciar a marcha. Manifestações tardias – nos estágios mais avançados, perde-se a desenvoltura social que previamente estava preservada, e sintomas psiquiátricos, incluindo psicose com paranoia, alucinações e delírios, podem ser evidentes. Convulsões ocorrem em alguns casos. Nesse estágio, o exame pode demonstrar rigidez e bradicinesia. Características raras e geralmente tardias da doença incluem mioclonia, incontinência, espasticidade, respostas plantares extensoras e hemiparesia. Mutismo, incontinência e um estado acamado são manifestações terminais. Problemas de alimentação, episódios febris, dispneia, pneumonia e dor são complicações frequentes nos meses finais da vida, e o óbito normalmente ocorre 5 a 10 anos após o início dos sintomas. Diagnóstico Diferencial A doença de Alzheimer em fase inicial pode assemelhar-se a depressão ou distúrbios puros de memória, como a síndrome amnésica de Korsako�. A doença de Alzheimer em etapa mais avançada deve ser diferenciada de demência com corpúsculos e Lewy, demência vascular, doença de Creutzfeldt-Jakob e outros distúrbios demenciais. A Doença de Alzheimer pode ser confundida com outras patologias, que devem ser afastadas no momento do diagnóstico. A demência por corpúsculos de Lewy pode ser confundida com Alzheimer devido às características histológicas, porém ela cursa com parkinsonismo, alucinações visuais proeminentes e um tipo específico de distúrbio do sono. Além da da demência por corpúsculos de Lewy, a doença de Alzheimer apresenta outros diagnósticos diferenciais, a saber: doença de Huntington, doença de Wilson, esclerose lateral amiotrófica, entre outras, que se diferem principalmente por apresentarem um component motor não característico da doença de Alzheimer. No entanto, o Alzheimer é comumente confundido com a doença vascular cerebral, da qual é praticamente impossível distinguir. 19 Exames Complementares Os exames de imagem auxiliam na determinação do diagnóstico de Alzheimer, que é um diagnóstico de inclusão, ou seja, se o histórico e os exames de imagem sugerirem Alzheimer e outras exclusões possam ser verificadas, é possível confirmar a doença com segurança. Assim, pacientes com suspeita de Alzheimer podem ser submetidos à ressonância magnética (RM), tomografia por emissão de pósitrons (PET-TC) e tomografia de emissão de pósitrons com fluorodesoxiglicose (FDG-PET). As imagens cerebrais podem ser divididas em estruturais, funcionais ou histológicas. As imagens estruturais são fornecidas por RM ou TC, e são usadas principalmente para afastar outras causas de demência, como tumores, hematomas ou acidentes vasculares. Na RM, pacientes com Alzheimer apresentam atrofia difusa exagerada para a idade, envolvendo especialmente a região hipocampal e outras áreas de associações corticais-chave, como os lobos temporais laterais, lobos parietais inferiores, córtex cingulado posterior e lobos frontais laterais. Além disso, a RM também revela a dilatação dos ventrículos laterais e o alargamento dos sulcos corticais, principalmente nas regiões temporais. A RM volumétrica tem sido usada, pois o Alzheimer provoca redução do volume cerebral especialmente no lobo medial, auxiliando no diagnóstico diferencial em relação às outras demências, podendo ser útil no diagnóstico precoce da doença. Na demência frontotemporal (DFT), por exemplo, a atrofia é mais marcante no lobo frontal. Os exames de emissão de pósitron fornecem imagens funcionais, sendo sensíveis ao metabolismo cerebral, sendo úteis para o diagnóstico precoce do Alzheimer, bem como para o acompanhamento da evolução da doença. A FDG-PET se baseia no grau de metabolismo da glicose, exibindo reconstruções da relação de captação de glicose regional no córtex, enquanto a PET-TC avalia especialmente a deposição anormal de amiloide e da proteína tau e, por isso, também é caracterizado como um exame que fornece imagem histológica. Dessa forma, a PET-TC é bastante útil na diferenciação do Alzheimer e outras demências, pois esta doença apresenta maior carga de placas amiloides do que a DFT e outras doenças neurodegenerativas. Porém, como essas placas também estão presentes em pessoas idosas sadias, é questionável se sua identificação auxilia na detecção precoce de Alzheimer. O diagnóstico da doença de Alzheimer definitivo é feito através dos achados histopatológicos, caracterizados pela presença significativa de placas neuríticas e emaranhados neurofibrilares, sendo necessária a presença de pelo menos seis placas neuríticas e emaranhados neurofibrilares visíveis no córtex frontal, temporal ou parietal. Entretanto, o diagnóstico de Alzheimer é predominantemente feito pela história clínica e pelos exames de imagem, visto que a biópsia é um procedimento invasivo e deve ser evitado nos casos em que se pode confirmar a patologia por outros meios. Assim, a certeza definitiva da doença de Alzheimer só é estabelecida por necropsia. Os biomarcadores, por sua vez, podem ser pesquisados no líquido cefalorraquidiano (LCR) através de punção (menos invasiva que a biópsia, porém também é um método que deve ser evitado). O principal biomarcador é o ẞ-amiloide, mas a proteína tau, bem como os genes da PSEN1, PSEN2 e da APP também podem sugerir o diagnóstico de Alzheimer. Tratamento Os tratamentos para doença de Alzheimer são atualmente sintomáticos, visto que não existe nenhum tratamento modificador da doença comprovado. Os tratamentos inespecíficos para os sintomas secundários da doença de Alzheimer podem ser úteis. Incluem o tratamento da sintomatologia depressiva com agentes antidepressivos, incluindo inibidores seletivos da recaptação de serotonina. De forma semelhante, o tratamento dos sintomas psicóticos, como delírios e alucinações, bem como a agitação e a irritabilidade, pode consistir no uso criterioso de medicamentos antipsicóticos. Os efeitos colaterais desses medicamentos podem ser prejudiciais, incluindo parkinsonismo induzido por fármacos. Em alguns 20 estudos, mas não em outros, os neurolépticos têm sido associados a pequenos aumentos na taxa de mortalidade de várias causas. Os ansiolíticos, como os benzodiazepínicos, também podem ser usados; todavia, são geralmente evitados, devido a seus efeitos adversos sobre a cognição. Apesar dos riscos potenciais, o tratamento farmacológico dos sintomas comportamentais com neurolépticos pode ser de grande ajuda para os pacientes e seus cuidadores. Subtópico No momento atual, dispõe-se de cinco tratamentos específicos para a doença de Alzheimer. Esses cinco medicamentos são para alívio sintomático e não parecem modificar a evolução da doença, porém receberam aprovação da U.S. Food and Drug Administration (FDA) para o tratamento específico da doença, com base em ensaios clínicos randomizados, controlados por placebo, de nível 1. Quatro desses medicamentos são inibidores da colinesterase, que aumentam efetivamente os níveis sinápticos de acetilcolina no cérebro por meio da inibição da acetilcolinesterase sináptica, que normalmente hidrolisa a acetilcolina liberada do neurônio pré sináptico na fenda sináptica. A tacrina foi o primeiro desses fármacos [Nível 1],1 porém não é mais usada comumente devido à necessidade de sua administração 4 vezes/dia e à ocorrência de hepatotoxicidade. Os três inibidores da colinesterase atualmente de uso frequente são a donepezila [Nível 1],2–4 a rivastigmina [Nível 1]5 e a galantamina [Nível 1].6 A evidência é de que esses três fármacos apresentam eficácia leve semelhante na melhora da cognição; além disso, podem produzir uma pequena melhora no comportamento e na função de pacientes com doença de Alzheimer leve, moderada ou grave (ver Evidência de Nível 1 na seção seguinte). Outro fármaco, a memantina, foi aprovado para tratamento apenas da doença de Alzheimer moderada a grave, para a qual há evidência de nível 1 [Nível 1]7,8 enquanto essaevidência falta na doença leve. A memantina é um antagonista do receptor N-metil-D-aspartato dependente de atividade, que proporciona um benefício modesto independente na cognição, no comportamento e na função de indivíduos com doença moderada a grave. Esse benefício é observado tanto na monoterapia [Nível 1]7 quanto na terapia concomitante com inibidores da colinesterase [Nível 1]8 nesses pacientes. Subtópico Não se dispõe de tratamentos modificadores da doença. Entretanto, a compreensão cada vez maior da doença de Alzheimer como um distúrbio caracterizado pelo acúmulo de β-amilóide e agregados de tau levou ao estudo de um número significativo de fármacos experimentais, que atualmente estão em fase de investigação. As abordagens atuais para melhorar potencialmente a evolução da doença de Alzheimer consistem em anticorpos monoclonais ou imunizações ativas, planejados para eliminar a proteína amilóide do cérebro, inibidores da β-secretase destinados a diminuir a produção intracerebral de β-amilóide, e outras terapias que pretendem impedir a agregação da proteína tau ou a disfunção neuronal. Curso e Prognóstico O curso clássico de demência é um início na faixa dos 50 ou 60 anos, com deterioração gradual ao longo de 5 a 10 anos, levando, por fim, à morte. A idade de início e a rapidez da deterioração variam conforme o tipo de demência e as características das categorias diagnósticas individuais. A expectativa de sobrevivência média para pacientes com demência do tipo Alzheimer fica em torno de oito anos, com alcance de 1 a 20 anos. Dados sugerem que, em indivíduos com início precoce de demência ou com história familiar de demência, a doença provavelmente desenvolva um curso rápido. Em um estudo recente com 821 indivíduos com doença de Alzheimer, o tempo médio de sobrevivência foi de 3 anos e meio. Depois do diagnóstico de 21 demência, o paciente deve passar por uma bateria completa de exames médicos e neurológicos, porque de 10 a 15% deles apresentam uma condição potencialmente reversível se o tratamento for iniciado antes que ocorra dano cerebral permanente. O curso mais comum de demência se inicia com uma série de sinais sutis que pode, à primeira vista, ser ignorada tanto pelo paciente como pelas pessoas próximas. Um início gradual de sintomas costuma estar associado com mais frequência a demência do tipo Alzheimer, demência vascular, endocrinopatias, tumores cerebrais e transtornos metabólicos. De maneira alternativa, o início de demência em decorrência de lesão cerebral traumática, parada cardíaca com hipóxia cerebral ou encefalite pode ser repentino. Embora sejam sutis, os sintomas da fase inicial de demência se tornam mais evidentes com o avanço do processo, e os familiares podem, então, levar o indivíduo ao médico. Pessoas com demência podem ser sensíveis ao uso de benzodiazepínicos ou álcool, os quais podem precipitar comportamento agitado, agressivo ou psicótico. Nos estágios terminais de demência, o paciente torna-se uma sombra do que costumava ser – profundamente desorientado, incoerente, amnésico e com incontinência urinária e fecal. Com tratamento psicossocial e farmacológico, e talvez devido às propriedades autocurativas do cérebro, os sintomas de demência podem ter um progresso lento durante um período de tempo ou até mesmo recuar um pouco. A regressão dos sintomas, sem dúvida, é uma possibilidade em demências reversíveis (demências causadas por hipotireoidismo, HPN e tumores cerebrais) depois que o tratamento é iniciado. O curso da demência varia desde um avanço constante (observado com frequência na demência do tipo Alzheimer) a uma demência que se agrava aceleradamente (observada em geral na demência vascular) até uma demência estável (como pode ser visto na demência relacionada a lesão cerebral traumática). 22
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