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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO-UEMA CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE CAXIAS-CESC DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA-DHG CURSO: GEOGRAFIA LICENCIATURA CAXIAS – MA, 2014 A ENERGIA ELÉTRICA COMO UM FATOR DE ALTERAÇÃO NO ESPAÇO RURAL DO POVOADO BUENOS AIRES 1º DISTRITO DE CAXIAS-MA JACKSON DA SILVA VALE A ENERGIA ELÉTRICA COMO UM FATOR DE ALTERAÇÃO NO ESPAÇO RURAL DO POVOADO BUENOS AIRES 1º DISTRITO DE CAXIAS-MA Monografia apresentada ao Departamento de Geografia do Centro de Estudos Superiores de Caxias, CESC, da Universidade Estadual do Maranhão, UEMA, como pré-requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Geografia. Orientadora: Profª. Drª. Maria Tereza de Alencar CAXIAS – MA, 2014 V149e Vale, Jackson da Silva A energia elétrica como um fator de alteração no espaço rural do povoado Bueno Aires 1º Distrito de Caxias-MA / Jackson da Silva Vale.__Caxias-MA: CESC/UEMA, 2014. 61f. Orientador: Profª. Dra. Maria Tereza de Alencar. Monografia (Graduação) – Centro de Estudos Superiores de Caxias-MA, Curso de Licenciatura em Geografia. 1. Técnicas. 2. Espaço rural – Alterações. 3. Buenos Aires - Povoado. I. Título. CDU 93 . A ENERGIA ELÉTRICA COMO UM FATOR DE ALTERAÇÃO NO ESPAÇO RURAL DO POVOADO BUENOS AIRES 1º DISTRITO DE CAXIAS-MA JACKSON DA SILVA VALE Monografia apresentada ao Departamento de Geografia do Centro de Estudos Superiores de Caxias-CESC, da Universidade Estadual do Maranhão- UEMA, como pré-requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado em Geografia. Apresentado em ______/_______/___________ BANCA EXAMINADORA _______________________________________________________________ Profª Mest: Maria Francisca Silva de Oliveira CESC/UEMA _______________________________________________________________ Profª. Drª. Maria Tereza de Alencar CESC/UEMA _______________________________________________________________ Prof: Josafá Ribeiro dos Santos CESC/UEMA AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar a DEUS, pois sem a luz divina nada se pode alcançar, as bênçãos que ele me fez ao longo da minha vida foram cruciais para que eu chegasse até aqui, e convicto que continuarei seguindo os passos dele. À minha família que sempre estão solícitos a me apoiarem, e em especial a minha mãe Cristineide Fernandes da Silva Vale por está ao meu lado, e ser minha razão de incentivo, vontade e determinação. Á minha orientadora Professora Drª Maria Tereza de Alencar que me auxiliou bastante na construção e elaboração do presente trabalho. A todos os meus professores que fizeram parte desse percurso durante as disciplinas cursadas em todo período acadêmico. Ao meu pai Francisco de Oliveira Vale, e a minha irmã Cintia Fernandes da Silva Vale, que auxiliaram nos levantamentos dos dados em campo. A minha amiga Eliane Nascimento dos Reis que também me ajudou muito quando precisei. Agradeço imensamente a todos que colaboraram direta ou indiretamente na elaboração deste trabalho. muito obrigado! Dedico á Deus por ter concedido condições para que esse trabalho acadêmico se concretizasse. Todas as pessoas que tiveram parcela significativa quando auxiliaram nos levantamentos de dados, pesquisa teórica, dicas de produção, correções, idéias, enfim, em todos os mecanismos fundamentais para produção de um trabalho acadêmico. Obrigado! Todo aquele que crê em Jesus Cristo, recebe perdão paz com deus e vida eterna! “porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito, para que todo o que crê nele não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:16 Jesus Cristo ressuscitou dos mortos e vive. Ele diz: “Estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos...” Apocalipse 1:18 RESUMO O acesso á energia elétrica tornou-se fator indispensável ao desenvolvimento e ao bem estar individual e coletivo. Nos grandes centros urbanos se construiu todo um estilo de vida baseado no consumo de bens e informações relacionados ao uso da energia, principalmente da energia elétrica. As atividades profissionais, de lazer, de educação e a interligação na sociedade em rede são notadamente atividades dependentes da disponibilização da eletricidade. A necessidade de universalizar o acesso á energia em todo o território seja urbano ou rural, acarretou o surgimento de programas como o “Luz da Terra”, lançado em 1995, e o “Luz do Campo”, instituído em 1999. Nessa linha, o governo federal no mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, criou o programa “Luz para Todos”, como uma nova política pública voltada para acabar com o déficit energético do país. O objetivo deste trabalho no espaço rural do povoado Buenos Aires 1º distrito de Caxias-MA, foi buscar analisar que tipo de alterações ocorreu com a chegada da energia elétrica. A metodologia utilizada foi à pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo com aplicação de questionários aos moradores locais. Os resultados encontrados indicaram que as alterações ocorridas no povoado foram segundos os moradores para melhor, muitos pontos positivos apontados na melhoria de vida e pouco pontos negativos lembrado. Foram apontadas como principais melhorias o uso de geladeira para se conservar alimentos, esse eletrodoméstico foi detectado em todas as residências visitadas, a água encanada foi expressivamente defendida como fator de qualidade de vida, assim como o acesso ao posto de saúde na localidade. Contudo, a aceitação da energia elétrica foi imensamente defendida pelos moradores. Palavras-chave: Técnicas, alterações no espaço rural, Povoado Buenos Aires. ABSTRACT The access to electricity has become indispensable factor for development and well- being individually and collectively . In large urban centers are built a whole lifestyle based on consumption of goods and information related to energy use , especially of electric power. Professional activities, leisure , education and interconnection in the network society activities are markedly dependent on the availability of electricity. The need to provide universal access to energy throughout is urban or rural territory caused the emergence of programs such as " Light of the Earth " , released in 1995 , and " Light Field " , established in 1999 . Along these lines, the federal government under President Luiz Inácio Lula da Silva , created the " Light for All " program , as a new public policy to end the energy deficit in the country . The aim of this study in the countryside populated Buenos Aires 1st district of Caxias, MA , was seeking to analyze what changes occurred with the arrival of electricity . The methodology used was the literature research and field research with questionnaires to local residents . The results indicated that the changes in the town were the 2nd best for the residents , many positive points highlighted in the improvement of life and poorly remembered negatives . Were identified as major improvements using refrigerator to preserve food , this appliance was detected in all visits residences , tap water was significantly advocated as a quality of life factor , as well as access to the health center in the locality . It is concluded that the acceptance of electric power was greatly favored by the locals . Keywords : Technical , changes in rural areas , town Buenos Aires . LISTA DE SIGLAS GEER – Grupo Executivo de EletrificaçãoRural INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária PNER – Plano Nacional de Eletrificação Rural BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento PLC – Programa Luz no Campo MME – Ministério de Minas e Energia STF – Supremo Tribunal Federal FUER – Fundo de Eletrificação Rural CDE – Conta de Desenvolvimento Energético RGR – Reserva Global de Reversão CNU – Comissão Nacional de Universalização BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica CGN – Comitê Gestor Nacional CGEs – Comitês Gestores Estaduais ABRADEE – Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia Elétrica OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras IEA – Agência Internacional de Energia LISTA DE FOTOS Figura do povoado Buenos Aires 1º Distrito de Caxias-MA ......................................... 41 Foto 1: Usina de Beneficiamento de Arroz ................................................................... 47 Foto 2: Contraste do pote e filtro de barro com geladeira ............................................ 47 Foto 3: Água encanada ................................................................................................ 48 Foto 4: Pia na cozinha de um morador ........................................................................ 48 Foto 5: Posto de Saúde do povoado ............................................................................ 48 Foto 6: Panorâmica do povoado .................................................................................. 48 Foto 7: Serralheria particular de um morador ............................................................... 49 Foto 8: Casa de farinha ................................................................................................. 49 Foto 9: Moradores jogando baralho á noite .................................................................. 50 Foto 10: Moradores ao lado do seu aparelho de TV ..................................................... 50 Foto 11: Uso noturno do prédio da escola .................................................................... 51 Foto 12: Poste de energia elétrica, com transformador ................................................. 52 Foto 13: Poço artesiano ................................................................................................ 52 Foto 14: Sistema de água encanada ............................................................................ 52 LISTA DE TABELAS 1 - Tempo de residência no Povoado Buenos Aires. Tabela 1 ........................................................................................................................ 42 2 – Pessoas beneficiadas por programas governamentais. Tabela 2 ........................................................................................................................ 43 3 – Valor mensal gasto com energia elétrica. Tabela 3 ........................................................................................................................ 46 LISTA DE GRÁFICOS 1 – Objetivos do Programa Luz para Todos. Gráfico 1 ....................................................................................................................... 21 2 – Principal atividade do responsável pelo domicilio. Gráfico 2 ....................................................................................................................... 43 3 – Renda familiar. Gráfico 3 ....................................................................................................................... 44 4 – Melhoriais na comunidade com a disponibilidade de energia elétrica. Gráfico 4 ....................................................................................................................... 45 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 13 1. A HISTÓRIA DA ELETRIFICAÇÃO RURAL NO BRASIL ....................................... 15 1.1 Luz da Terra ............................................................................................................ 18 1.2 Luz no Campo ......................................................................................................... 19 1.3 Luz para Todos ....................................................................................................... 21 2. AS TÉCNICAS COMO FATOR DE TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO .............................................................................................................. 24 3. ALTERAÇÕES NO ESPAÇO RURAL A PARTIR DA INSERÇÃO DA TÉCNICA ... 28 4. ENTENDENDO O “PROGRAMA LUZ PARA TODOS” ........................................... 32 5. A ENERGIA ELÉTRICA COMO UM FATOR DE ALTERAÇÃO NO ESPAÇO RURAL DO POVOADO BUENOS AIRES – 1º DISTRITO DE CAXIAS - MA .............. 38 6. ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................................ 40 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 53 13 INTRODUÇÃO A disponibilidade de energia elétrica no meio rural é um importante vetor de desenvolvimento. A partir desse recurso, é possível favorecer a irrigação, automatizar processos, beneficiar produtos e permitir, em alguns casos, atividades produtivas no período noturno. Através do Decreto nº 4.873, de 11 de novembro de 2003, que instituiu o Programa Nacional de Universalização do acesso e uso da Energia Elétrica (Luz para Todos), e alterado pelo Decreto nº 6.442, de 25 de Abril de 2008, visou prover, até o ano de 2010, o acesso á energia elétrica da população do meio rural brasileiro em sua totalidade.(MME,2011) Segundo as metas traçadas pelo governo o programa, além de levar energia elétrica á população rural, oferece soluções para utilizá-la como vetor de desenvolvimento social e econômico em comunidades de baixa renda, contribuindo para a redução da pobreza e para o aumento da renda familiar. O acesso á energia elétrica facilita a integração aos serviços de saúde, educação, abastecimento de água e saneamento, bem como aos programas sociais do Governo Federal.(GEER,2009) Os objetivos que levaram a esse presente estudo foram o de analisar que tipos de alterações ocorreram no espaço rural do povoado Buenos Aires. E observando o local de pesquisa relatar quais alterações houve, sejam mudanças positivas de melhorias de vida, sejam fatos negativos relacionados com a energia elétrica. Segundo o ponto de vista do governo federal, ao viabilizar o acesso à energia elétrica, os programas de universalização buscam favorecer a permanência das famílias no campo, melhorando a qualidade de vida. Com a chegada da energia, as famílias adquirem eletrodomésticos e equipamentos rurais elétricos, o que permite o aumento da renda, a melhoria do saneamento básico, da saúde e da educação, fortalecendo o capital social dessas comunidades, (MME,2011). Observada á importância da temática, notou-se que seria proveitoso discorrer sobre o assunto em âmbito geográfico, é de se lembrar que essa produção leva em consideração só um povoado, que se localiza a cerca de 36 km da cidade de Caxias 14 Maranhão, os resultados aqui expressos é delimitado nesta localidade de primeiro distrito caxiense. A universalização do acesso energético é vista pelo governo como elemento fundamental para o desenvolvimento da sociedade rural, tendo em vista não somente a questão do favorecimento econômico, mas, sobretudo na qualidade de vida, daí então se observou o quão seria interessante analisar se a pretensão do governo se comprova na realidade do Povoado Buenos Aires. Para realização desse estudo se estabelece a realização de uma pesquisa bibliográficapara proporcionar uma fundamentação teórica, baseada em obras dos seguintes autores: Santos, Milton / Moreira, Ruy / Sposito, Maria / Corrêa, Roberto Lobato / também Almeida, Prado / Fani, Ana Alessandri / Trigoso, Morante. Realizou-se também uma pesquisa de campo, onde foram escolhidos 24 chefes de famílias para responderem a um questionário, o povoado possui 120 famílias, portanto, a amostra corresponde a 20% do numero total de residências para o levantamento da pesquisa. Este trabalho apresenta a seguinte estrutura: no primeiro capítulo: A história da eletrificação rural no Brasil, onde far-se-á um resgate histórico do processo de levar a energia elétrica para o espaço rural brasileiro. No segundo capítulo: As técnicas como fator de transformação do espaço geográfico, e no terceiro capítulo: Alterações no espaço rural a partir da inserção da técnica, Ressalta-se estudos publicados de vários autores que já se manifestaram no tocante a energia elétrica no espaço rural, e tratando da técnica como fator determinante de alteração do espaço geográfico. O quarto capítulo: Entendendo o programa luz para todos, destaca-se o processo de criação, funcionamento, controle, e divisões de responsabilidades do programa “Luz Para Todos” do Governo Federal. No penúltimo capítulo, com o mesmo título desse trabalho: A energia elétrica como um fator de alteração no espaço rural do povoado Buenos Aires 1º distrito de Caxias-MA, descreve-se uma visão ampla e pautada em pesquisa de campo, do advento da energia elétrica no povoado Buenos Aires, o que a eletricidade proporcionou na vida dos moradores em seus mais diferentes aspectos. Por último o sexto capítulo: análise dos dados elenca-se os resultados da pesquisa, usando gráficos, tabelas e fotografias. 15 1. A HISTÓRIA DA ELETRIFICAÇÃO RURAL NO BRASIL A eletrificação rural no Brasil se iniciou em São Paulo, e sua aparição está ligada aos interesses da cafeicultura que prescindia deste e de outros investimentos, como a extensão da malha ferroviária e ampliação dos portos. Surgia assim , em 1923, no município de Batatais para operar equipamentos de um cafeicultor no beneficiamento de sua produção específica (MME,2011). Os serviços de eletricidade, desde a distribuição, eram baseados em altos de concessão e em contratos firmados entre o concessionário e o poder público. A concessionária do município de Batatais, depois da crise de 1929 elevou a tarifa de energia dos clientes rurais. Em função disso houve uma ação judicial contra a empresa, baseada em lei de 1909 que protegia interesse de consumidores da zona urbana (JUCÁ,1998). Segundo Oliveira (2000), “este acontecimento colocou em pauta o contrato entre a eletrificação rural e a urbana, evidenciando a baixa atratividade da eletrificação rural para as concessionárias, devido a uma relação custo beneficio desfavorável.” Tem inicio nesse momento, uma discussão sobre a questão tarifária, fato que ocorre até os dias atuais, demonstrando que a eletrificação rural, para ser viabilizada, necessita de algum tipo de subsídio, diferenciando-se das demais classes de consumidores. Além disso, as distribuidoras privadas de energia limitavam seu atendimento ao segmento que apresentava retorno econômico satisfatório, atendendo, prioritariamente, aos consumidores dos grandes centros urbanos. Com isso a expansão da eletrificação rural ficava comprometida, especialmente pelo baixo índice de rentabilidade de negócio (Oliveira,2000). Aproximadamente vinte anos após o inicio da eletrificação no Brasil, surgem as cooperativas de eletrificação rural, e que foram aos poucos expandindo-se no pais. Existe um certo consenso no sentido de atribuir a forte tradição associativa dos imigrantes europeus radicados no interior do Rio grande do Sul o grau de pioneirismo no desenvolvimento de iniciativas associativistas (OCB,2012). A primeira cooperativa de eletrificação no pais foi a Cooperativa de Força e Luz, fundada em 02/04/1941, na localidade de quatro irmãos, município de Erechim, constituída por um grupo de 18 agricultores. O grande objetivo da maioria de cooperativas era o fornecimento de eletricidade a distritos e vilarejos, gerando a 16 energia mediante o aproveitamento hidrelétrico via construção própria ou de pequenos geradores acionados por motores. (MME, 2011). O primeiro importante marco legal que se refere á questão da eletrificação do campo segundo OLIVEIRA (2001), foi a promulgação do Estatuto da Terra (Lei 4.504), em 1964.Tratou-se, então, de um dos primeiros passos na tentativa de diminuir o déficit nas áreas rurais, onde o Estatuto ordenou a inclusão obrigatória da eletrificação rural e de outras obras de infra-estrutura nos planos de Reforma Agrária. O Estatuto da Terra determinava que a realização dessas obras devesse ser realizada essencialmente através de cooperativas, com o apoio financeiro do Banco Nacional de Crédito Cooperativo. Os projetos de eletrificação rural feitos pelas cooperativas rurais teriam prioridade nos financiamentos e receberiam auxílio dos Governos Federal, Estadual e Municipal. (OLIVEIRA, 2001). Em meados dos anos 70 é criado o grupo executivo de eletrificação rural (GEER), subordinado ao INCRA, que movimentava os fundos do I Plano Nacional de Eletrificação Rural (I PNER), suprido com recursos provenientes do fundo de eletrificação rural (FUER), instituído, nesta ocasião, através de um contrato de empréstimo celebrado com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), considerado segundo OLIVEIRA (2000), a primeira iniciativa com intuito de alavancar a eletrificação rural no Brasil. Mas o crescimento da eletrificação rural foi absolutamente desigual, em que pese o fato de que a expansão se deu fundamentalmente nos estados do Sul, contribuindo para isso a existência de cooperativas já consolidadas e a existência de pequenas e médias propriedades com nível de renda compatível com os investimentos necessários para implantar novos projetos. (MME, 20011). Na década de 1980 o setor elétrico foi bastante prejudicado devido ás restrições financeiras no setor público, resultando na redução de investimentos. Conseqüentemente, os recursos destinados pelas concessionárias á eletrificação rural ficaram bastante limitados (OCB,2012). Entretanto, com um número ainda elevado de domicílios sem eletricidade, em 1991, a Lei 8.171, intensificou a intenção de inserção da eletrificação na política de desenvolvimento agrícola. A lei, que dispõe sobre a política agrícola, em seu artigo 47 determina que o poder público implante obras que tenham como objetivo o bem- 17 estar social de comunidades rurais, compreendendo barragens, açudes, estradas, energia, lazer, comunicação, entre outros (OLIVEIRA, 2001). O capítulo XXI, que trata somente a respeito da eletrificação rural, determina no artigo 93 que o Poder Público tem o dever de “implementar a política de eletrificação rural, com a participação dos produtores rurais, cooperativas e outras entidades associativas”. A freqüente recusa por parte das concessionárias em investimentos em áreas rurais, devido principalmente aos altos custos de operação para atender pouca demanda, incentivaram a criação da Lei 8.987, de 1995, que estabeleceu que estas deveriam exercer, por sua conta e risco, as obras necessárias para a expansão do serviço de energia elétrica (ANEEL, 2007). A Lei determinou ainda que o consumidor pague como contrapartida, uma tarifa, o que afasta, portanto, a participação dos consumidores nas contribuições financeiras necessárias para a execução do serviço. (MACHADO, 2006). No ano seguinte, a Lei 9.427 institui a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). O Capítulo I, artigo 2º, define que a ANEEL tem por finalidade “regular e fiscalizar a produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica, de acordo com alegislação e em conformidade com as diretrizes e as políticas do governo federal” (ANEEL, 2007). Dados do ano de 2004 da ANEEL demonstravam que 70 concessionárias participavam de programas de eletrificação nas áreas rurais. Dentre elas, a concessionária Coelba (Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia) possui o índice mais elevado de atendimento na área rural: 1.106.320 domicílios. Percebe-se, através da apresentação sucinta destes principais marcos, que o processo de eletrificação rural foi gradativo, lento e, muita vezes, levaram-se em consideração apenas os interesses das concessionárias, deixando em segundo plano o que realmente interessava: levar energia elétrica ás áreas rurais ainda não atendidas por este benefício. O termo universalização, que foi amplamente difundido através da Lei 10.438, do ano 2002, dispõe sobre a expansão da oferta de energia elétrica emergencial, 18 recomposição tarifária extraordinária, cria o Programa de Incentivo ás Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e dispõe sobre a universalização do serviço público de energia elétrica (GEER, 2005). A Resolução Aneel nº 223 determina que consumidores de todas as classes (residencial, comercial, industrial, rural) não mais arcarão com despesas de ligação á rede elétrica, que passarão a ser de responsabilidade exclusiva das distribuidoras. (ANEEL, 2007). Os programas de universalização de energia, normalmente, possuem características semelhantes em seus planejamentos. Destacam-se as seguintes: a) Altos investimentos para expansão da rede, devido á conexão de clientes distantes da infra-estrutura já existente; b) Altos custos operacionais decorrentes do aumento das distâncias e conseqüente redução da produtividade das equipes de operação e manutenção de redes; c) Baixo consumo e baixa capacidade de pagamento dos serviços pela população beneficiada, normalmente localizada em regiões de menor desenvolvimento econômico (INSTITUTO ACENDE BRASIL, 2007). A partir destes fatos serão analisados, a seguir, os programas governamentais de eletrificação rural: 1.1 Luz da Terra O programa “Luz da Terra” foi criado em 1995 e baseou-se em um modelo de grande sucesso aplicado no Rio Grande do Sul. O Estado de São Paulo instituiu uma Comissão Especial de Eletrificação Rural (CEER) com os objetivos de avaliar a situação da zona rural e propor ações para solucionar os problemas encontrados. Definiu-se a necessidade de se estabelecer uma estratégia que desenvolvesse um programa de ações pertinentes a todas as concessionárias (MME,2011). O BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, juntamente a Escola Politécnica da Universidade de São Pulo (USP), propôs ao governo do Estado de São Paulo a criação de um programa de eletrificação rural com o objetivo explícito de atendimento a população mais pobre (MME,2011). 19 A Comissão de Eletrificação Rural do Estado de São Paulo (CERESP) foi instituída com a tarefa de coordenar a implantação no Estado. Os trabalhos da CERESP levaram a criação do programa de eletrificação rural “Luz da Terra”, que privilegiou a extensão da malha elétrica em função das características do Estado (RIBEIRO, 2000). Ainda segundo RIBEIRO (2000), este programa no decorrer de sua implantação, demonstrou ser mal aplicado e suas falhas foram estruturadas pelo caráter político das decisões. Dentre os problemas relatados, o mais agravante diz respeito ao pagamento da ligação de energia elétrica. Como já relatado anteriormente, a população rural que não tem acesso a este beneficio possui baixa renda, entretanto o projeto apresentava a seguinte divisão nos custos: De acordo com o projeto 5% do valor eram de responsabilidade da concessionária responsável pela área, 15% deveriam ser pagos pelo interessado, 80% financiados com recursos do BNDES pelos próprios interessados. Assim, com o custo da ligação em torno de R$ 1.500 por residência, o morador rural deveria pagar R$ 225 para a instalação e o restante, em parcelas de R$ 30, financiados pelo BNDES (RIBEIRO, 2000). O Governo Estadual partiu do princípio de que as concessionárias não possuíam interesse em expandir suas redes á área rural, pois a população não tem poder de compra e o lucro esperado com o consumo de energia retornaria de forma lenta, a longo prazo. Assim, o programa ficou á margem da maximização de lucros. O CERESP, juntamente com o programa “Luz da Terra”, assinou contrato com o programa que viria a seguir, “Luz no Campo”, em maio de 2000, o que possibilitou complementar recursos e facilitar o acesso de pessoas impedidas de obter crédito. Apesar da estimativa de zerar o déficit na região do Estado, foram efetivadas 40 mil ligação a um custo de R$ 80 milhões (SUGIMOTO, 2002). 1.2 Luz no Campo O programa “Luz no Campo” foi instituído em dezembro de 1999, sob responsabilidade da Eletrobrás, com a meta de ligar um milhão de domicílios em três anos, tempo relativamente curto. Seu objetivo principal era suprir de energia elétrica 20 as áreas rurais não atendidas, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida no campo (BRASIL, 2007). O “Luz no Campo” destinou R$ 1,77 bilhões, provenientes da Reserva Global de Reversão (RGR), para financiamentos a agentes executores, concessionárias de energia elétrica e cooperativas de eletrificação rural. Houve uma complementação de R$ 930 milhões por parte dos agentes executores e dos governos Federal, Estadual e Municipal (SUGIMOTO, 2002). Até junho de 2002, foram atendidas 419 mil novas famílias, beneficiando cerca de 2,08 milhões de habitantes. Deste total, 98 mil ligações atenderam residentes em municípios relacionados ao Projeto Alvorada. O Projeto Alvorada possuía como missão reforçar e intensificar o gerenciamento de ações com impacto na melhoria das condições de vida nos estados do Acre, Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Sergipe e Tocantins e nas microrregiões e municípios dos demais estados, que apresentem IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) menor ou igual a 0,500, nas áreas de educação, saúde, saneamento, infra-estrutura, turismo, entre outros. Dentre as ações principais referentes ao Ministério de Minas e Energia destacava-se a priorização das ações relacionadas com a eletrificação rural e energia dos eixos Norte e Nordeste (BRASIL,2007). O programa, porém, apresentou uma falha semelhante ao programa anterior, onde os residentes de áreas rurais também deveriam pagar por uma determinada taxa de instalação. Problema grave foi relatado em Mato Grosso, onde cerca de 40 mil famílias ainda tem de pagar pela energia elétrica. O Projeto de Lei nº 661, deste ano, dispõe sobre a anistia de dívidas dos consumidores de energia elétrica contraídas no âmbito do programa (BRASIL, 2007). Observou-se que a pesquisa socioeconômica de campo ainda não foi apresentada e os resultados mais específicos não foram divulgados em site oficial durante a pesquisa realizada para a confecção deste trabalho. A falta destes dados inviabiliza um maior aprofundamento sobre a avaliação do programa. 21 1.3 Luz para Todos O programa “Luz para Todos” foi criado com o objetivo principal de promover o acesso á energia elétrica para famílias de baixo poder aquisitivo, residentes no meio rural, e atender as demandas comunitárias de escolas, postos de saúde e sistemas de bombeamento de água, através da extensão de redes ou atendimento descentralizado (MME,2005). As metas do programa (Gráfico 1), como já poderiam ser previstas, possuem maiores investimentos nas regiões Norte (R$ 2,7 bilhões) e Nordeste (R$ 4,4 bilhões) do país. Conseqüentemente, essas regiões receberão um maior percentual de atendimento até o término do programa. Gráfico 1 – Objetivos do programa Luz paraTodos. Fonte: Instituto Acende Brasil, 2007. Com início em 2004, o programa foi instituído pelo Decreto nº 4.873, de 11 de novembro de 2003, e como meta prover, até o ano de 2010, o acesso á energia elétrica á totalidade da população do meio rural brasileiro. Entretanto, a regulamentação da agência Nacional de Energia Elétrica estabelece como limite nacional o ano de 2015 e, além disso, afirma que parte da população será atendida somente no final deste prazo (INSTITUTO ACENDE BRASIL, 2007). 22 O programa “Luz para Todos” possui a integração entre os ministérios da Ciência e Tecnologia, Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Educação, Saúde, Desenvolvimento Agrário, Defesa, Desenvolvimento Social e Combate á fome e Banco do Brasil, visando o desenvolvimento econômico associado á implantação de programas sociais (MME, 2008). A integração de ações entre os Ministérios participantes possibilita que a chegada da energia elétrica não se torne apenas um vetor para o aumento do consumo. As necessidades básicas devem ser supridas assim como as sociais, econômicas e ambientais da região. É necessário compreender que a eletrificação não é meramente uma questão técnica ou econômica e sim um processo social, de inclusão da população (REIS,2000). Exemplo disto é o ocorrido após a chegada da eletricidade através do programa “Luz para Todos” nas 98 residências da comunidade remanescente de quilombos Degredo, localizada a 45 km da sede de Linhares, Espírito Santo. O Centro Comunitário de produção de Degredo foi inaugurado e idealizado em parceria com a Associação de Mulheres de Degredo, a Associação de Moradores e de Pescadores, o Instituto Raízes da Terra, a Secretaria Estadual de Agricultura, a Prefeitura de Linhares, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Esta integração demonstra resultados positivos, como a montagem de núcleos de corte e costura, apicultura e artesanato, ampliando a renda dos moradores e a oferta de empregos na região (GEER,2005). Para a avaliação parcial do programa, foi desenvolvida uma pesquisa pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em parceria com o Ministério de Minas e Energia, envolvendo 24 estados brasileiros, exceto Amapá, Roraima e Distrito Federal. Através dos resultados constatou-se que: 26,3% compraram novos aparelhos de televisão, 17,8% adquiriram televisores usados, 35,7% compraram geladeira e 14,3% ventiladores. Além disso, 23% dos entrevistados responderam que, caso a energia elétrica não chegasse, pelo menos um membro da família iria embora. Estimou-se, então, que 200 mil pessoas abandonariam o campo, já que 1,1 milhões de casas recebem energia através do projeto (SANTANA, 2007). 23 Entretanto, assim como os programas analisados anteriormente, o “Luz para Todos” também apresenta algumas distorções, segundo o Instituto Acende Brasil (2007). Destacam-se as seguintes: a) A insuficiência de recursos para cobrir os altos custos de implantação, operação e manutenção do programa de universalização, b) O risco de inviabilização das tarifas de energia em regiões menos desenvolvidas, onde os impactos tarifários do programa são mais expressivos. Tais entraves são acarretados, principalmente, pelo principal diferencial do programa que não obriga o pagamento da instalação pelo proprietário rural. Desta forma, os encargos são repassados aos consumidores através do aumento da tarifa na área de concessão e não apenas daqueles diretamente beneficiados (FSP, 2008). A divisão dos investimentos, no inicio da implantação do programa, deu-se da seguinte maneira: 10% financiados pelos Estados e os 90% restantes financiados pelos consumidores, através das taxas nas contas de luz. A saída encontrada pelo governo foi limitar esta tarifa a 8%, transferindo o ônus do programa ás concessionárias, que são obrigadas a implementá-lo, sem garantia da cobertura dos custos (FSP, 2008). Essa situação, segundo Cláudio Sales (FSP,2008), cria um dilema no campo das políticas públicas, onde aumentar a tarifa para Estados carentes não é desejável, mas a transferência do ônus para as empresas compromete a capacidade de investimento do setor. Sales indica duas medidas que o governo deveria adotar: a primeira é garantir o equilíbrio dos custos do investimento e compatibilizá-lo com a capacidade de pagamento dos consumidores, a segunda é dar maior transparência ao programa, afim dos consumidores poderem avaliar os custos e dificuldades da implantação do programa. 24 2. AS TÉCNICAS COMO FATOR DE TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO Extraído de leituras relacionadas às diferentes técnicas utilizadas pelo homem no seu respectivo espaço, pode-se colocar algo que inclusive é discutido no meio educacional: que o ser humano ao logo de sua história extraia da natureza somente o que necessitava para sua sobrevivência na terra, isso foi se modificando na medida em que foram sendo desenvolvidas técnicas na sociedade na intenção de melhorar o cotidiano das pessoas. Historicamente quando a espécie humana passa a desenvolver sua capacidade de produzir seus meios de sobrevivência, surge a partir daí a concepção de dominação da natureza, utilizando-a para tornar realidade vários interesses do homem, que ora surgem as facilidades, mas, também, mesmo que de forma involuntária faz surgir o sedentarismo (SEVERINO, 1941). O homem é capaz de se adaptar as mais diversas condições que a natureza lhe impõe. Levando em consideração que o homem nesse momento é capaz de desenvolver e aperfeiçoar suas técnicas, o mesmo não é visto mais como um ser passivo, mas sim ativo e social, pois é a partir dai que se expande e se distribui , acarretando sucessivas mudanças demográficas e sociais não só nos continentes, mas também em cada país, em cada região e em cada lugar (SANTOS 1988). Segundo Santos (1988), a principal forma de relação entre o homem e o meio, é dada pela técnica. As técnicas são um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaço. As técnicas além de produzir espaço também produzem história através das ações impostas pelo homem nos objetos encontrados na natureza. É perceptível também que por meio das técnicas podemos compreender a forma e o lugar como nossos antepassados viviam e fazer uma relação com o nosso modo de vida, podendo dessa forma perceber e entender como acontece à dinâmica do espaço. (SANTOS 1988). 25 As técnicas, de um lado, dão-nos a possibilidade de empirização do tempo e, de outro lado, a possibilidade de uma qualificação precisa da materialidade sobre a qual as sociedades humanas trabalham. (SANTOS 1926-2001. P.34.) Santos (1988) relata, que é o lugar que atribui às técnicas o princípio de realidade histórica, relativizando o seu uso, integrando-as num conjunto de vida, retirando assim de sua abstração empírica e lhes atribuindo efetividade histórica. E, num determinado lugar, não há técnicas isoladas, de tal modo que o efeito de idade de uma delas é sempre condicionado pelo das outras, O que há num determinado lugar é a operação simultânea de várias técnicas, por exemplo, técnicas agrícolas, industriais, de transporte, comércio, técnicas que são diferentes segundo os produtos e qualitativamente diferentes para um mesmo produto, segundo as respectivas formas de produção. Essas técnicas particulares, essas "técnicas industriais", são manejadas por grupos sociais portadores de técnicas socioculturais diversas e se dão sobre um território que, ele próprio, em sua constituição material, é diverso, do ponto de vista técnico. São todas essas técnicas, incluindo as técnicas da vida, que nos dão a estrutura de um lugar (SANTOS 1926-2001.) Entretanto pode-se dizerque em um estado, cidade ou povoado, pode haver a existência de várias técnicas diferentes, e o que vai diferenciá-la são determinados grupos sociais que possuem mais ou menos recursos financeiros, essa diferença de recursos interfere diretamente na qualidade de determinado produto como também na própria estrutura de um determinado lugar. O espaço por ser dinâmico está apto ás transformações, que aparecem devido à velocidade com que os avanços tecnológicos e dos meios de comunicação chegam. O mundo contemporâneo mudou, pois o que era só local, atualmente passou a ser globalizado, porém, há tecnologias que muita das vezes fica restritas a uma minoria da população, sendo que a maior parte dessa população está desprovida desses benefícios principalmente populações que vivem no meio rural (SANTOS 1926-2001). Por meio dos avanços tecnológicos, juntamente com os meios de comunicação, foi que a mundialização se tornou praticamente uma regra, pois o homem muda de lugar, devido às facilidades que tais avanços proporcionam. Fluxos 26 de produtos, mercadorias, idéias, tudo circula às vezes sem nem se perceber, em uma verdadeira complexidade existente nos dias atuais. Esse mundo globalizado não nos permite pensar ou ouvir de forma isolada porque a velocidade que se propagam as informações, os meios de comunicação faz com que o homem cada vez mais se torne interativo com outras culturas e espaços habitados diferentes. (SANTOS. 1988). A dinâmica do espaço e da sociedade desde sua evolução histórica não se da de forma homogênea, pois os valores e culturas de cada povo são empregados de acordo com cada momento histórico, isso acaba tendo influência tanto na transformação e modificação do espaço como também na qualidade de vida de uma determinada população. As características da sociedade e do espaço geográfico, em um dado momento de sua evolução, estão em relação com um determinado estado das técnicas. Desse modo, o conhecimento dos sistemas técnicos sucessivos é essencial para o entendimento das diversas formas históricas de estruturação, funcionamento e articulação dos territórios, desde os albores da historia até a época atual. (SANTOS 1926-2001p. 111) Com os avanços tecnológicos, o homem dar características para o espaço habitado, no caso urbano os mesmos tornam-se cada vez mais artificial pelas obras do homem; a paisagem cultural substitui a paisagem natural, com o progresso das ciências e das tecnologias a produção se intensifica; os progressos da química e da genética juntamente com as novas possibilidades criadas pela mecânica, multiplicam a produtividade agrícola e reduz a necessidade de mão-de- obra no campo (SANTOS 1982). Ainda segundo Santos (1982), o espaço urbanizado seja nas cidades como no campo, vai se tornando um espaço cada vez mais instrumentalizado, culturizado, tecnificado e cada vez mais trabalhado segundo os avanços da ciência. O fato de que a energia elétrica, por exemplo, a mesma é responsável pela descentralização industrial. Então há de se perceber que, os avanços tecnológicos são responsáveis pela dinâmica e transformação do espaço habitado pelo homem, e que foi a partir dai que o espaço ganhou uma nova forma, também se percebe que essas tecnologias não são distribuídas igualitariamente, produzindo assim desigualdades na própria transformação do espaço como também do homem. Entretanto, fica claro que os meios técnicos-científicos são responsáveis pela transformação do espaço e do próprio homem. 27 No espaço rural brasileiro, o homem a princípio mantinha uma relação de dependência com a natureza, retirando somente o que precisava para sua subsistência, as técnicas tiveram evolução a partir do momento que o homem não é mais dominado pela natureza, passando a desenvolver relações tanto sociais como de trabalho com outras pessoas, é nesse momento que criam instrumentos capazes de interferir na natureza adaptando-as as suas necessidades. Após dominar a natureza o homem vai aperfeiçoando suas técnicas de trabalho de acordo com suas necessidades e exigências do mercado que por sua vez é muito competitivo (SEVERINO, 1941). Ainda segundo Severino (1941), esse período é marcado pelas inovações, técnicas e o conseqüente aperfeiçoamento dos instrumentos de trabalho. É um período em que os assentamentos humanos não se fundam mais nas ofertas da natureza, e as condições econômicas não dependem exclusivamente de condições naturais preexistentes. Santos (1988) coloca que é impossível vivermos sem tecnologia em um mundo tão globalizado, pois elas são irreversíveis, na medida em que em um primeiro momento são um produto da historia, e em um segundo momento, elas são produtoras da história, haja vista que diretamente participam desse processo. No Brasil, a modernização agrícola teve um grande impulso com a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no ano de 1971. Com o objetivo de atender à necessidade de instrumentos mais eficientes e articulação mais eficaz. No mesmo período, foi reestruturado e dinamizado o sistema nacional de assistência técnica e extensão rural, por meio da criação da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater,2007). A partir da Revolução Verde, os avanços no que diz respeito à mecanização do campo no Brasil ganharam outra dimensão, pois a produção na época teve grandes proporções com relação ao aumento de alimentos. Mas se sabe que essas tecnologias na maioria das vezes ficam restritas nas mãos de poucos. Baseado no que foi expresso, se percebe o quanto a tecnologia é capaz de transformar não somente o espaço, mais o nosso modo de vida. E uma das características marcantes desse sistema é a rapidez de sua difusão. Essa inovação 28 se tornou mais rápida após a segunda guerra mundial, ela também pode ser medida com outros parâmetros, como por exemplo, o respectivo período de desenvolvimento constituído pela soma de dois momentos, o período de incubação e o período de desenvolvimento comercial, ou em outras palavras, o tempo que dura entre o encontro de uma nova tecnologia, sua ocultação como válida para fins industriais e sua afirmação histórica, com uso generalizado. (SANTOS, 1999). 3. ALTERAÇÕES NO ESPAÇO RURAL A PARTIR DA INSERÇÃO DA TÉCNICA Sobre o contexto histórico da Energia elétrica no Brasil pode se ressaltar que a Constituição Federal de 1946 pode ser considerada como um momento de inflexão da infraestrutura nacional, haja vista a sinalização de atuação estatal direta nos setores de capital intensivo, notadamente o energético. É a primeira Carta Maior que enuncia expressamente a competência da União para legislar sobre energia, bem como a riqueza do subsolo (GEER,2005). Ao prever competência para legislar sobre energia elétrica, a Constituição Federal de 1946 emancipou o conceito de eletricidade do aproveitamento hídrico, de forma a reconhecer juridicamente a existência tecnológica de outras matrizes pela separação entre o aproveitamento da energia elétrica e da água.(MME,2011) Segundo Sanches (2006), entre 1946 á 1993 a história pautava-se a respeito da estatização do setor de energia onde ocorreu em um período de grande turbulência política no país. Com o fim do Estado Novo, ocorrido com a deposição de Getúlio Vargas, toma posse o jurista cearense José Linhares, que exerceu a presidência por convocação das forças Armadas, por ser presidente do Supremo Tribunal Federal – STF. Ficou no cargo em torno de três meses, quando toma posse o marechal mato- grossense Gaspar Dutra, por intermédio de eleições diretas, na qual apoiou sua campanha com base no Plano Salte (Saúde, Alimentação, Transporte e Energia) (Sanches,2006). Nessa questão energética brasileira, teóricos como Beltrão Sposito, (2006), ressalta que a energia elétrica propicia um processo de urbanização, uma vez quefaz parte dos quesitos básicos para considerar evolução urbana de um lugar. 29 A respeito da Incorporação de infra-estrutura (telefonia, energia elétrica, pavimentação, entre outras). O uso de tais infra-estruturas facilita a vida de qualquer pessoa e é comum que todos procurem formas de ter sido analisado como processo de urbanização do campo. (Sposito,2006, p. 32) Corrêa (1998), coloca que em dezembro de 1950 foi firmado acordo junto ao governo dos Estados Unidos denominado Comissão Mista Brasil – Estados Unidos para o Desenvolvimento Econômico. Em 1951, com o retorno pela via democrática de Getúlio Vargas ao poder, a comissão iniciou suas atividades. Observa-se que a principal conclusão dos estudos da comissão, que jamais chegou a ser formalmente aprovada, foi identificar que a escassez de eletricidade inviabilizava a industrialização. Os estudos técnicos apontavam como solução a necessidade de criar condições para eliminar obstáculos ao fluxo de investimentos, públicos e particulares, estrangeiros e nacionais, necessários para promover o desenvolvimento econômico. (Corrêa, 1998). Ainda de acordo com Corrêa, (1998). A evolução da economia brasileira é marcada por um processo de concentração de renda que persiste mesmo com alterações na política econômica e flutuações no desempenho econômico. Apesar dos picos de crescimento econômico e dos avanços sociais dos últimos anos, ainda persistem índices de pobreza bastante elevados, caracterizados por baixos índices absolutos de renda e desigualdades sociais existentes desde o período colonial. Para Corrêa (1998), tanto o modelo de substituição de importações na década de 1950 e parte de 1960 quanto o modelo voltado para exportações pós-1964 excluíam um caminho alternativo baseado num projeto nacional centrado na elevação do poder político e do padrão de consumo das massas urbanas e rurais. A pobreza está associada à insuficiência de renda, sua falta ou escassez, uma pessoa que possui renda média inferior à estabelecida pela linha de pobreza estará dentro dessa classificação. Com relação à pobreza no meio rural brasileiro, dados do Banco Mundial (2001) também confirma que a pobreza rural está essencialmente concentrada nos domicílios agrícolas localizados em áreas distantes, fora de áreas que atendem a qualquer critério de aglomeração rural, caracterizando-se por locais de pequena ou 30 nenhuma infraestrutura, poucas estruturas permanentes e baixa densidade populacional. De acordo com Morante Trigoso (2004) a eletrificação deve vir acompanhada de iniciativas e ações que abranjam a saúde, a educação, a produção e muitos outros setores complementares. A visão dos formuladores do Programa Luz para Todos era coerente com aquela de todo o Governo Federal de que a energia elétrica é condição necessária, mas não suficiente para o desenvolvimento. A falta de regularização na expansão do setor elétrico rural sob o controle das concessionárias privadas ocasiona aumento abusivo no valor, levando a ações judiciais que exigiam a redução dessas tarifas. Já naquele momento, este acontecimento colocou em pauta o confronto entre a eletrificação rural e a urbana, evidenciando a baixa atratividade da eletrificação rural para as concessionárias, devido a uma relação custo-benefício desfavoráveis (ANEEL, 2007). Depois de vinte anos do aparecimento da energia elétrica no Brasil é que foram criadas as primeiras Cooperativas de Eletrificação Rural. Elas contavam com a participação de estados e municípios e, expandindo pelo Brasil, criavam um sentido associativista, muito característico dos imigrantes europeus daquele período (ANEEL, 2007). A eletrificação passa a ter caráter cada vez mais importante, e sempre vindo associada às mudanças na questão econômica, eleva as transformações no cotidiano social dos lugares, Maria Sposito na obra Cidade e Campo, ressalta esse pensamento no trecho. As Pessoas, portanto, encontram-se imbuídas por uma lógica em que a rapidez dos acontecimentos determina o ritmo de seu modo de vida. Trabalho, descanso, compras e lazer são cadenciados pelo compasso da lógica do capital de maneira mais efetiva.(Sposito, 2006, p. 46). Baseado nas informações do ministério de Minas e Energia é apenas em 1970 que é criado o Grupo Executivo de Eletrificação Rural (GEER), subordinado ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que é o responsável por movimentar fundos do I Plano Nacional de Eletrificação Rural (I PNER), o qual recebia recursos do Fundo de Eletrificação Rural (FUER), criado pelo contrato de 31 empréstimo com o Banco Interamericano para o Desenvolvimento (BID), (MME,2011). Além dos diversos elementos regulamentares que permitiam o funcionamento do setor elétrico em âmbito nacional e ações pontuais de Governos Estaduais, o atendimento ao meio rural é realizado por demanda espontânea e é somente em 1999 que se cria um Programa voltado para a disponibilização de energia elétrica de maneira massiva para o meio rural. O Programa Nacional de Eletrificação Rural - Programa Luz no Campo - foi criado por decreto presidencial e coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, contando com suporte técnico, financeiro e administrativo da Eletrobrás. Tinha como meta disponibilizar energia elétrica para um milhão de propriedades e domicílios rurais ao longo de três anos. Além de incrementar a eletrificação rural, o Programa Luz no Campo buscava estimular a intensificação das atividades rurais, integrando programas e ações de desenvolvimento rural.(MME,2003) Na visão de Fugimoto, o Programa Luz no Campo foi implementado por intermédio de critérios técnicos que exigiam a: ...otimização dos traçados de redes e linhas, encurtando distâncias; a utilização, em larga escala, de sistemas elétricos monofásicos, notadamente monofásicos com retorno por terra – MRT; a escolha de materiais e equipamentos alternativos, de menor custo; o atendimento prioritário às cargas típicas rurais e o incentivo à participação dos interessados no fornecimento de mão-de-obra não especializada, em áreas de menor poder aquisitivo”.(FUGIMOTO,2005,p. 27). A rede elétrica é estendida até onde a relação benefício-custo justifique sua instalação. Os responsáveis pela provisão do serviço ficam à espera de atingir um nível de consumo que justifique os grandes investimentos. Além disso, limitantes de caráter geográfico e ambiental (ilhas, florestas, montanhas, áreas de conservação ambiental, reservas extrativistas, etc.) impossibilitam a extensão da rede elétrica, tornando ainda menos atrativo esse perfil de atendimento. A geração local utilizando tecnologias alternativas, como pequenas quedas, a eólica, biomassa ou solar- fotovoltaica, constitui opções técnicas factíveis que carregam os mesmos problemas de viabilidade econômica e muitas vezes de gestão futura. (MME,2003). 32 4. ENTENDENDO O “PROGRAMA LUZ PARA TODOS” O Governo Federal lançou em novembro de 2003 o desafio de acabar com a exclusão elétrica no país. Com o Programa “Luz para Todos, teve em sua criação como meta, levar energia elétrica para mais de 10 milhões de pessoas do meio rural até o ano de 2008. O programa tem o Ministério de Minas e Energia como setor coordenador, operacionalizado pela Eletrobrás e executada pelas concessionárias de energia elétrica e cooperativas de eletrificação rural. Para o atendimento da meta inicial, forão investidos R$ 20 bilhões. O Governo Federal destinou cerca de R$ 14,3 bilhões e o restante sendo partilhado entre governos estaduais e as empresas de energia elétrica. Os recursos federais saíram de fundos setoriais de energia - a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e a Reserva Global de Reversão (RGR). Segundo o site do programa Luz para Todos, o mapa da exclusão elétrica no país revela que as famílias sem acesso à energia estãomajoritariamente nas localidades de menor Índice de Desenvolvimento Humano e nas famílias de baixa renda. Cerca de 80% estão no meio rural, por isso, o objetivo do governo foi o de utilizar a energia como vetor de desenvolvimento social e econômico destas comunidades, contribuindo para a redução da pobreza e aumento da renda familiar. A chegada da energia elétrica facilitará a integração dos programas sociais do governo federal, além do acesso a serviços de saúde, educação, abastecimento de água e saneamento. Durante a execução do Programa, novas famílias sem energia elétrica em casa foram localizadas e, em função do surgimento de um grande número de demandas, o Luz para Todos foi prorrogado para ser concluído a princípio no ano de 2010. Porém, o Programa foi novamente prorrogado, agora para ser continuado até meados de 2015, para possibilitar que todas as famílias brasileiras façam parte do objetivo de universalização da energia elétrica (GEER,2005). 33 Objetivos do Programa LPT. Dado o contexto apresentado, em que 80% da exclusão elétrica está no meio rural, o Governo Federal, por meio do Ministério de Minas e Energia, elaborou o Programa Luz para Todos, que objetiva garantir o acesso ao serviço público de energia elétrica a todos os domicílios e estabelecimentos do meio rural, melhorar a prestação de serviços à população beneficiada, intensificar o ritmo de atendimento e mitigar o potencial impacto tarifário, por meio da alocação de recursos subvencionados e pelo complemento de recursos financiados, (GEER,2005). Além disso, o Programa Luz para Todos se integra aos diversos programas sociais e de desenvolvimento rural implementados pelo Governo Federal e pelos Estados, para assegurar que o esforço de eletrificação do campo resulte em incremento da produção agrícola, proporcionando o crescimento da demanda por energia elétrica, o aumento de renda e a inclusão social da população beneficiada, (GEER,2005). Formas de atuação O Programa Luz Para Todos tem como agentes executores as concessionárias e permissionárias de distribuição de energia elétrica e as cooperativas de eletrificação rural autorizadas pela Aneel, sendo que, em condições excepcionais, quando os agentes executores estiverem impedidos de operacionalizar a implementação do Programa, fica a Eletrobrás, na condição de interveniente, autorizada a delegar a operacionalização do Programa à uma das empresas coordenadoras regionais, mencionadas no item 5.4. Para alcançar seus objetivos e otimizar a utilização dos recursos públicos, o Programa prioriza o atendimento com tecnologia de rede de baixo custo e, de forma complementar, com sistemas de geração descentralizada com rede isolada e sistemas individuais. 34 Nesse cenário, o Programa destina recursos a projetos que visem ao atendimento de futuros consumidores situados em áreas rurais e privilegiará o caráter social do investimento. A distribuição dos recursos setoriais (Conta de Desenvolvimento Energético - CDE e Reserva Global de Reversão - RGR) baseia-se principalmente na necessidade de mitigar os impactos tarifários das diversas áreas de concessão, nas carências regionais e na contrapartida financeira oferecida pelos estados e Agentes Executores. O Programa fomenta a integração com outras ações ministeriais, envolvendo seus participantes na construção da inter setorialidade das políticas públicas, (GEER,2005). Contempla ainda, ações para capacitar, entre outros, os agentes executores e os técnicos de desenvolvimento, para estimular o uso eficiente e produtivo da energia elétrica. Por meio de processos de capacitação, podem ser identificadas oportunidades e/ou apresentados projetos para as áreas rurais que contemplem a implementação tanto de programas de informação aos consumidores como de projetos de uso eficiente e produtivo da energia elétrica. Para estabelecer as premissas de implantação do Programa Luz Para Todos. O Governo Federal, os Estados e os Agentes Executores confirmaram Termo de Compromisso, com a interveniência da Agência Nacional de Energia Elétrica Aneel e da Eletrobrás, no qual definiram-se as metas anuais de atendimento no meio rural e os percentuais de participação financeira de cada uma das fontes de recursos que compõem o Programa, (GEER,2005). 35 - Quadro demonstrativo de gestão do programa “Luz para Todos”. Gestão Participativa. Como o programa funciona: A gestão do Luz para Todos é partilhada com todos os órgãos interessados: governos estaduais, distribuidoras de energia, ministérios, agentes do setor e comunidades. Com os governos estaduais, foram assinados protocolos de adesão ao programa. Além de participarem da gestão do Programa, os governos estaduais também entram com recursos para a eletrificação das comunidades. Comissão Nacional de Universalização. O Programa conta com uma Comissão Nacional de Universalização (CNU), coordenada pelo Ministério de Minas e Energia e integrado pela Casa Civil e pelo Ministérios de Desenvolvimento Agrário; Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Integração Nacional; Educação; Saúde; Meio Ambiente; Ciência e Tecnologia; Indústria do Desenvolvimento e Comércio Exterior e também pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social); ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) e o Fórum de Secretários de Energia. O CNU estabelece ações interministeriais para o desenvolvimento das comunidades rurais. A estrutura executiva do Programa é composta pelo Comitê Gestor Nacional (CGN) e pelos Comitês Gestores Estaduais (CGEs). Tipificação dos recursos Os recursos necessários ao desenvolvimento do Programa virão do Governo Federal, por meio da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e da Reserva Global de Reversão (RGR), dos governos estaduais envolvidos e dos Agentes Executores – concessionárias e permissionárias de distribuição de energia elétrica e cooperativas de eletrificação rural. Poderão também ser utilizados recursos de outros órgãos da Administração Pública e de outros agentes. Conta de Desenvolvimento Energético – CDE A Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) disponibiliza recursos a título de subvenção econômica (fundo perdido). O principal critério para alocação dos recursos da CDE entre os Agentes Executores tem por base as carências regionais, a antecipação das metas e a mitigação, por área de concessão, do potencial impacto tarifário do Programa. Considerou-se como montante mínimo de recursos oriundos da CDE para o Programa um valor igual ao disponibilizado pelas Unidades da Federação. Reserva Global de Reversão – RGR Os recursos provenientes da Reserva Global de Reversão são disponibilizados na forma de financiamento, complementando as demais fontes. A RGR poderá, ainda, ser utilizada como subvenção econômica, na forma da Lei nº 10.762, de 11 de novembro de 2003. Fonte: Grupo Executivo de Eletrificação Rural – GEER, 2005. 36 Estados e municípios Os recursos provenientes dos estados e municípios são a título de subvenção econômica, definidos a partir da elaboração do Termo de Compromisso. A participação financeira dos municípios, quando ocorrer, será computada em conjunto com a participação do Governo Estadual. Os recursos a serem aportados pelos estados são estabelecidos em instrumento jurídico apropriado, a ser celebrado entre este estado e o respectivo Agente Executor, conforme definido no Termo de Compromisso. (GEER,2005). Agentes executores - concessionárias e permissionárias de distribuição de energia elétrica e cooperativas de eletrificação rural autorizadas pela ANEEL. A participação financeira do Agente Executor, a título de contrapartida, será definida entre o MME e o Agente Executor e firmada no Termo de Compromisso. (GEER,2005).Custos Indiretos: Custos contabilizados pelos Agentes Executores, referentes a serviços próprios (Administração e engenharia, incluindo projetos, fiscalização, topografia e tributos relacionados), confecção e instalação de placas de obras, licenças ambientais e indenizações para passagem de redes. Os custos indiretos serão aceitos até o percentual da participação do capital próprio do Agente Executor no valor total do programa de obras, estabelecido no Termo de Compromisso, limitado a 15% (quinze por cento) do valor total de custos diretos comprovados de cada módulo das planilhas do Programa Luz para Todos do efetivamente realizado. Custos Diretos: 37 Custos com aquisição de materiais e equipamentos e com despesas de mão de obra de terceiros e transporte de terceiros para a execução das obras. A rubrica “Transporte de Terceiros” deverá estar limitada a 5% do valor total de cada módulo unitário, exceto no caso onde houver necessidade de transporte fluvial, que será analisado pela Eletrobrás. O programa de obras É a quantificação do número de consumidores a serem atendidos, bem como o detalhamento dos materiais, equipamentos e serviços, com os respectivos custos, que serão utilizados para o cumprimento das metas de atendimento firmadas no Termo de Compromisso. É elaborado pelas concessionárias e permissionárias de distribuição de energia elétrica e cooperativas de eletrificação rural, mediante o preenchimento das planilhas disponíveis na página do MME – www.mme.gov.br/luzparatodos e apresentado à Eletrobrás, por meio do endereço: projrural@eletrobras.com. Análise e procedimentos A Eletrobrás efetuará a análise técnica e orçamentária do Programa de Obras, assistida pelo Ministério de Minas e Energia, interagindo com as concessionárias e permissionárias de distribuição de energia elétrica e cooperativas de eletrificação rural, até que se obtenha condição técnico-financeira adequada e compatível com os recursos previstos. Uma vez acordada essa condição, a Eletrobrás encaminhará a análise ao Ministério de Minas e Energia – Diretoria do Programa Luz Para Todos, que emitirá seu parecer. Obtido o parecer favorável, o Programa de obras será viabilizado. mailto:projrural@eletrobras.com 38 5. A ENERGIA ELÉTRICA COMO UM FATOR DE ALTERAÇÃO NO ESPAÇO RURAL DO POVOADO BUENOS AIRES – 1º DISTRITO DE CAXIAS – MA Com base na avaliação das mudanças ocorridas no espaço rural pesquisado, o efeito causado pelo recurso da energia elétrica modificou vários pontos do cotidiano dos moradores no povoado Buenos Aires, alterações de caráter econômico, bares, usinas de beneficiamento de arroz, casas de farinhas para produção da farinha, fizeram sumir os hábitos tradicionais. De acordo com Reis (2000), o atendimento ás regiões rurais proporciona impactos positivos na melhoria da qualidade de vida e acesso a condições básicas para o exercício da cidadania. Comunidades isoladas podem utilizar serviços como iluminação, bombeamento d`água, comunicação, refrigeração, além de iluminação para postos de saúde, escolas e em processos da agricultura. Segundo o presidente da associação de moradores do povoado, após o incremento da energia elétrica, se percebeu até uma diminuição de saídas do povo da localidade para residir na cidade, os moradores melhoraram a qualidade de vida, quanto ao direito dos benefícios de infra-estrutura, e de adquirirem eletrodomésticos e equipamentos rurais elétricos. O acesso à energia gera elevação dos padrões e da qualidade de vida, e se configura como conquista de cidadania. Pelo uso da energia elétrica o cidadão se apropria de seu direito à informação e se apercebe de um sentimento de integração à sociedade. A energia elétrica é um vetor de coesão social, além de ser, enquanto política social, estruturante, abrindo caminho para outras políticas de inclusão, tais como inclusão digital, (ANEEL,2008). A energia possibilita a extensão do dia para atividades de estudo, lazer, integração social. A saúde é beneficiada, na medida em que fontes outras de iluminação (a querosene, vela, diesel etc.) podem ser eliminadas. A possibilidade de conservação de alimentos em geladeiras ao invés de antigas técnicas (como a de salgar as carnes, por exemplo) garante uma melhor qualidade da alimentação e uma vida mais sadia, (ANEEL,2008). Segundo a GEER, (2007) a energia elétrica pode ser encarada como fator de promoção da qualidade de vida, de produção, desenvolvimento econômico e de geração de emprego e renda. A exclusão social também se dá por falta de acesso a 39 energia. O desenvolvimento tecnológico, ao passo que traz benefícios à humanidade, aumenta a distância entre os sem e os com energia. Sem (2000), enfatiza que a energia participa como um importante elemento de rompimento do ciclo de pobreza ao incrementar as capacidades competitivas dos indivíduos e das comunidades rurais. De certo que a energia não é capaz de romper por si só este ciclo, mas a chegada da eletricidade possibilita um maior poder de escolha para os indivíduos, ao tornar disponível um número maior de alternativas de conversão de capacidades em renda. Esta nova liberdade adquirida já torna a condição dos habitantes rurais fundamentalmente distinta daquela em que viviam antes da eletrificação. O uso da energia elétrica pode melhorar o valor da produção agropecuária pela modernização de processos produtivos que agregam valor ao produto como utilização de desintegradores, resfriadores e do bombeamento de água. Contudo, a intensificação do uso da energia elétrica no campo depende de programas do governo, pois a iniciativa privada não tem interesse em realizá-lo. O retorno do investimento é demorado e, sem financiamento adequado, torna-se um objetivo distante, sobretudo para o pequeno produtor. A questão que se coloca é que não se sabe qual é a forma e a velocidade como a energia elétrica penetrou nas regiões e nos imóveis agrícolas e, portanto, qual sua relação com o domicílio e com o valor da produção. Dependendo dessa forma, podem-se ter regiões e imóveis diferenciados no que se refere à relação da produção agropecuária com o consumo de energia elétrica. Contudo o acesso ao serviço de energia, não é apenas a luz que chega à casa dos brasileiros. Ela possibilita o desenvolvimento econômico das comunidades, ajudando na redução da pobreza e da fome. Por isso, o programa também tem uma equipe trabalhando no planejamento e execução de ações integradas em várias comunidades, que passam a ter uma vida melhor com a chegada da energia e das novas possibilidades de produção e trabalho que ela proporciona. 40 6. ANÁLISE DOS DADOS Os resultados revelam o perfil das famílias atendidas pelo programa, os números falam por si mesmos a melhoria na qualidade de vida delas após a chegada da eletricidade. As informações abaixo são de cunho investigativo e os dados obtidos para as seguintes informações foram levantados atraves da aplicação de questionário que foi aplicado em 20 % dos chefes de famílias da localidade, o que totalizou 24 residências visitadas. A evidência da felicidade das pessoas ao receberem o benefício do acesso á energia elétrica é notada quando 100% dos entrevistados (24 chefes de família) atribuem ao acesso á eletricidade, o fator de melhoria na qualidade de vida e, todos admitiram também melhoria nas condições de moradia. Nesse ponto, vale destacar os avanços verificados na Saúde, em que 88% dos entrevistados (21 chefes de família) atestam a melhoria na disponibilidade de posto de Saúde, bem como a educação, em que 52 % dos entrevistados (13 chefes de família) apontam melhoria nas atividades escolares, por outro lado 92 % dos entrevistados (22 chefes de famílias) lembraram que o uso da internet é uma problemática, já existe um laboratório de informáticana escola do povoado, porém, não é usado pelos alunos ou outros moradores. Com o acesso a energia elétrica, pode-se dizer que não é apenas a luz que chega à casa de cidadãos da zona rural. Na verdade constata-se que ela possibilita o desenvolvimento econômico das comunidades, tal como também mudanças no comportamento das pessoas, atualmente no povoado escolhido para o desenvolvimento da pesquisa, Buenos Aires 1º Distrito de Caxias, comprova-se inúmeras mudanças com relação à chegada da energia elétrica, e, diga-se de passagem, se percebe que houve mais modificações positivas do que negativas. A localidade está ligada por estrada vicinal á cerca de 36 Km de distância da sede urbana. 41 Figura 1: Povoado Buenos Aires 1º Distrito de Caxias-MA Fonte: Equipe de Cartografia do Centro de Controle de Zoonoses de Caxias, 2009 42 De forma contundente pode-se dizer que o povoado está separado em dois períodos totalmente distintos, que através dos gráficos e tabelas elencam-se alguns quesitos que comprovam as modificações ocorridas no povoado, antes e depois da energia elétrica. Tabela: 01 – Tempo de residência no povoado Buenos Aires. Anos FREQUÊNCIA % 01 á 05 6 á 10 11 á 20 + de 30 03 02 07 12 12,5 8,33 29,16 50 Total 24 100 Fonte: Silva, Novembro, 2012. No povoado Buenos Aires se constatou que metade das pessoas residentes vive ha mais de trinta anos na região. Não se registrou moradores bem recentes de moradia com menos de um ano, o que se observa é que há um numero significativo de moradores que vivem entre onze e vinte anos, em analise pode-se dizer que se trata dos filhos dos moradores mais velhos que se casam e estes por sua vez por serem ainda jovens, possuem essa média de tempo de casamento, conseqüentemente de residência, onde se percebe na tabela 1. Discorrendo sobre as atividades de ocupação, verificou-se que a figura do trabalhador rural ainda sobrepõem as outras atividades que o responsável da família pode ter, o que se coloca em analise de campo e representado no gráfico 2 é a presença do funcionário publico, esse aparece com mais destaque no cenário devido as conquistas que o povoado recebeu após implantação da energia elétrica, como o posto de saúde, as escolas foram ampliadas e passaram a funcionar no período da noite, esses lugares públicos dependem de zeladores, vigilantes, merendeiras no caso da escola, oportunidades de emprego que ficam geralmente com os moradores do povoado. 43 Fonte: Silva, Novembro. 2012 Na tabela 2, analisam-se os benefícios ofertados por parte do governo, que segundo o que se coloca nos programas de eletrificação rural, o beneficio de ter acesso a energia elétrica, deve ser acompanhado com outras oportunidades coletivas para os moradores, destaque nesses programas para a Bolsa Família que numa freqüência de vinte e quatro chefes de famílias entrevistados, dezoito responderam receber o beneficio. Tabela: 02- Pessoas beneficiadas por programas governamentais. RESPOSTA Nº DE VEZES CITADO Bolsa família Aposentadoria Pensão Nenhum 18 06 01 01 Fonte: Silva, Novembro, 2012. 44 Sobre o quesito da renda da família, não se detectou nenhuma que recebe acima de dois salários mínimos, a grande maioria declaram possuir uma renda na faixa de um a dois salários mínimos, esses dados estão representados na seqüência no gráfico 3. Fonte: Silva, Novembro. 2012 Outros importantes fatores que destaca-se na comunidade, foi a construção do posto de saúde que atende os moradores do Buenos Aires e pessoas de povoados vizinhos, o uso do prédio escolar a noite tornou-se uma realidade vantajosa e de grande valia. Porém não há até o presente momento influências voltadas a área de segurança e plantios, o que explica o nível oscilante de resposta no quesito qualidade de vida, entre as opções bom e regular que se verifica no gráfico 4. 45 Gráfico 4: Melhorias na comunidade com a disponibilidade de Energia Elétrica. Fonte: Silva, Novembro, 2012 Como previsto no Programa de Universalização do Acesso e Uso da Energia Elétrica – Luz para Todos. O consumidor tem de arcar com tarifa mensal de uso do recurso, passando a coexistir um gasto no orçamento familiar que varia de acordo com o nível de consumo, as concessionárias calculam cada unidade de consumo através dos medidores de energia, tais aparelhos são instalados quando o responsável pela unidade consumidora faz o pedido de ligação do seu imóvel á rede elétrica. Na tabela 3, pode-se analisar uma variação nas contas de energia dos entrevistados, onde se identificou maior freqüência nas tarifas de R$ 21,00 á R$ 50,00, correspondendo 54,16% dos entrevistados, por se tratar das residências onde os moradores possuem além dos itens básicos de aparelhos domésticos e eletroeletrônicos, como são os casos das populares televisão e geladeira, alguns outros como ventiladores, máquina de lavar, DVDs, liquidificadores. Abaixo da faixa de R$ 21,00 de tarifa energética, há os consumidores mais humildes, hora possuindo só os itens elétricos básicos de casa, além de se identificar três entrevistados que corresponde a 12,5% da amostra, que não pagam tarifa de energia por configura-se unidade consumidora cadastrada em programa de 46 tarifa paga pelo Governo do Estado do Maranhão, que adota essa medida, á cidadãos declaradamente pobres. A partir de R$ 51,00 e na opção acima de R$ 100,00, verificou-se quadro entrevistados que correspondem á 16,66% da amostra, que pagam um valor mais elevado por se tratar de unidades consumidoras com algum tipo de atividade econômica, esse por sua vez fazem uso mais constante da energia elétrica, onde se pode citar, por exemplo, os bares. Tabela: 03 – Valor mensal gasto com energia elétrica. Valor gasto FREQUÊNCIA % Não paga R$ 06,00 á R$ 10,00 R$ 11,00 á R$ 20,00 R$ 21,00 á R$ 30,00 R$ 31,00 á R$ 50,00 R$ 51,00 á R$ 100,00 Acima de R$ 100,00 Não respondeu 03 01 02 06 07 02 02 01 12,5 4,16 8,33 25 29,16 8,33 8,33 4,16 Total 24 100 Fonte: Silva, Novembro, 2012. Dentre o que ocorreu de vantagens podemos citar também, o uso de maquina no beneficiamento de arroz, antes do acesso da energia elétrica esse tipo de trabalho era realizado manualmente com o uso de um objeto artesanal feito do caule de uma determinada árvore, onde se denomina “pilão”, atualmente não se vê com facilidade esse produto nas residências dos moradores, mesmo quando há a falta da energia por um imprevisto na rede de transmissão, os moradores recorrem aos comércios e compram o arroz comercializado, pois em entrevista, as pessoas do lugar são taxativas em dizer que não querem de forma alguma fazer uso do “pilão” 47 mesmo sendo de graça, pois se um dia era uma necessidade, atualmente a máquina de pilar arroz é um avanço que eles não abrem mão de usar, mesmo pagando ou subtraindo alguns quilos de arroz da saca para o dono da máquina. Foto 1. Foto 1: Usina de beneficiamento de Arroz. Fonte: Silva, Novembro. 2012 Dois outros importantes quesitos foram bastante lembrados em entrevista com moradores do povoado, ter uma geladeira e água encanada em casa. O beneficio de ter uma geladeira compondo os produtos de eletrodomésticos da residência, contribui na conservação dos alimentos por dias ou semanas, constituindo uma vantagem enorme, pois não se desperdiça comida como antes. Sem ter a energia elétrica quase todos os dias as donas de casa tinham que jogar em seus quintais o excedente de comida cozinhada para os animais, pois não serviam para o dia seguinte. Foto 2: Contraste do pote e filtro de barro com a geladeira. Fonte: Silva, Novembro. 2012 48 A água encanada para a grande maioria dos