Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Português Instrumental! Pontuação!!! A VIDA ENTRE PARÊNTESES (Moacyr Scliar. Jornal Zero Hora, 05/02/1992) � Leitor pergunta por que uso tantos parênteses nas minhas crônicas (leitores inteligentes conseguem descobrir no texto particularidades significativas). A pergunta me fez pensar (não chega a ser um evento raro na minha existência, mas pensar entre parênteses não era algo que eu fizesse com frequência). E então me dei conta de que os sinais gráficos, mais que as letras (por muito importantes que estas sejam), veiculam emoções. Quanta emoção numa exclamação! E pode haver dúvida maior que a do ponto de interrogação? Sobre isso sempre somos reticentes… Mas temos que admitir que certos sinais, como, por exemplo, a vírgula, esta pequenina serpente que, de espaço em espaço, atravessa o caminho, sempre acidentado, de nossa frase, é uma evidência, não muito clara, decerto, mas evidência, sim, de nossa indecisão. � Já os parênteses (a discussão a respeito foi propositalmente omitida no parágrafo anterior) têm uma significação (alguns não admitirão que é uma significação, mas enfim), os parênteses, dizia eu quando os parêntese me interromperam, traduzem não apenas uma forma de escrever, mas, (o que é mais importante), um modo de viver. Sim, porque se pode viver (ainda que não plenamente) entre parênteses. O garoto (ah, esses garotos) que no meio do tema se distrai pensando na sua coleguinha (aquela lindíssima) está vivendo entre parênteses. O executivo, que no meio da tarde (nessas horas que os americanos chamam de “menores” mas que para muitos são as maiores), sai para uma escapada (e deem a esta escapada a interpretação que vocês quiserem) está vivendo como? (a pergunta era para ficar soando retoricamente, mas não me furto a dar aqui a resposta: entre parênteses). � Sim, confesso: gosto de parênteses (deve ser uma espécie de perversão). Uma vez escrevi um livro chamado (O Ciclo das Águas). O título era assim mesmo, entre parênteses, (eu queria simbolizar com isto um ciclo fechado). Deu tanta confusão que, nas edições seguintes, tive de tirar os parênteses (para escapar dos parênteses, só mesmo assim, em novas edições. Lamentável é que a vida tenha uma única edição. Muitas vezes esgotada. Muitas vezes entre parênteses). � A língua escrita apresenta muitas diferenças em relação à língua falada. � Na fala, podemos contar com uma série de recursos para transmitir nossa mensagem, tais como gestos, tom de voz, expressão facial, entoação. Enfim, quando falamos, nossa mensagem vem reforçada por inúmeros recursos que não temos quando escrevemos. Para tentar reproduzir, na escrita, os recursos de que dispomos na fala, contamos com vários sinais gráficos denominados sinais de pontuação. � Os sinais de pontuação servem para marcar pausas na leitura ou na melodia da frase. � O emprego dos sinais de pontuação não é somente marcado por regras. Existem também razões de ordem subjetiva, ou de estilo, que determinam a pontuação de um texto. Os sinais de pontuação usados em português são: � vírgula , � ponto . � ponto-e-vírgula ; � dois pontos : � ponto de interrogação ? � ponto de exclamação ! � reticências … � travessão – � aspas “ ” � parênteses ( ) � ____________________________________________ � O USO DE CADA SINAL DE PONTUAÇÃO � VÍRGULA(, ) � Marca uma pausa de curta duração e serve para separar elementos de uma oração e orações de um período. � Quando a frase não segue a ordem natural ou direta (sujeito + predicado + complementos), o uso da virgula se faz necessário para que a mensagem seja interpretada corretamente. Isso acontece quando intercalamos alguma palavra ou expressão entre os termos imediatos, quebrando a sequência natural da frase. � Exemplo: Fomos, depois do almoço, ao cinema. (a sequência natural é: Fomos ao cinema depois do almoço) � Além disso, usa-se a virgula: � para separar termos do mesmo valor sintático, usados numa sequência. � Exemplo: Ela era alta, bonita, simpática, inteligente. � nas datas. Exemplo: Brasília, 04 de janeiro de 2010. � para indicar o supressão do verbo, em uma oração. � Exemplo: Fomos ao cinema; eles, ao teatro. (foram) � para separar o aposto ou qualquer outra expressão explicativa. � Exemplo: Jorge Amado, autor de “Gabriela, cravo e canela”, é um excelente escritor brasileiro. (autor de Gabriela, cravo e canela – aposto) � No período composto por subordinação formado por orações substantivas, adjetivas e/ou adverbiais, o uso da vírgula vai obedecer aos mesmos princípios de uso para separar os termos, como no período simples. � “ O enunciado não se constrói com um amontoado de palavras e orações porque elas se organizam segundo princípios gerais de dependência e de independência sintática e semântica que são recobertos por unidades melódicas e rítmicas que sedimentam estes princípios.” (adaptado) � (Evanildo Bechara, Moderna Gramática Portuguesa. 37a. Edição, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2009) � Cabe, ainda, salientar que a vírgula pode alterar a interpretação de uma mensagem. Veja: � – Não atirem! – Não, atirem! � Por isso, ao redigir um texto, deve-se cuidar para que a pontuação, principalmente a vírgula, esteja no lugar adequado a fim de evitar mal-entendidos. Como afirma Evanildo Bechara, a frase é um enunciado que obedece a princípios gerais sintáticos, semânticos e melódicos e nem sempre a ordem direta será a melhor alternativa para tornar clara uma mensagem. � PARÊNTESES ( ) � Usa-se os parênteses para inserir, no texto: � a) uma explicação. � b) uma reflexão ou comentário sobre o que se afirma.
Compartilhar