Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
LIBRAS LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS 2011 2 APRESENTAÇÃO Car@ alun@: A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é a língua utilizada pelas comunidades surdas do Brasil, reconhecida oficialmente pela Lei Nº 10.436/2002 e pelo Decreto 5626/2005. O Curso Básico de LIBRAS que você está realizando tem como objetivo proporcionar o aprendizado básico dessa língua, apresentar aspectos das comunidades surdas, da cultura e das identidades surdas e aspectos lingüísticos (gramaticais) da LIBRAS através de aulas teóricas e práticas. As aulas teóricas serão expositivo-dialogadas com base nos textos desta apostila. As aulas práticas serão desenvolvidas através de estratégias visuais para o uso da LIBRAS, não devendo haver fala ou tradução aos colegas dos sinais e das expressões que estão sendo produzidas, visto que o objetivo é proporcionarmos aulas em que uma língua visual-gestual seja utilizada. Serão trabalhados classificadores e expressões faciais e corporais e realizadas conversações em sinais em duplas ou grupos. Com isso, acreditamos que vocês poderão estabelecer uma comunicação básica com os surdos em LIBRAS. Desejamos, com isso, que o uso da Língua Brasileira de Sinais seja ampliado em nossa instituição. Um bom curso a tod@s! 3 1 COMUNIDADES, CULTURA, IDENTIDADES E MOVIMENTO SURDO ProfªAdriana da Silva Thoma Uma língua só pode ser utilizada em contato com outros sujeitos, portanto, em comunidade. Em comunidade, valores e experiência são compartilhados e vão engendrando modos de ser e estar no mundo e esses valores e experiências constituem aquilo que chamamos de cultura. Em um contexto cultural comunitário, identidades ou modos de ser surdo são constituídos. Partindo desses entendimentos, o texto que segue problematiza a questão dos nomes (surdo-mudo, deficiente auditivo ou surdo? língua ou linguagem de sinais?) e as marcas que constituem a surdez e os surdos, bem como questões que envolvem a constituição da língua de sinais, das comunidades, da cultura, das identidades e do movimento surdo. 1.1 Sobre os nomes: surdo-mudo, deficiente auditivo ou simplesmente surdo? Língua ou linguagem de sinais? Com grande freqüência somos questionados sobre qual o melhor nome para se referir às pessoas surdas: deficiente auditivo, surdo-mudo ou simplesmente surdo? Como se referir a comunicação dos surdos: língua ou linguagem de sinais? Os termos carregam significados e por isso as perguntas são relevantes. O senso comum costuma atribuir mudez à surdez e, por isso o termo surdo- mudo é bastante utilizado. Porém, nem do ponto de vista clínico nem do ponto de vista cultural essa idéia faz sentido. Do ponto de vista clínico-biológico são considerados mudos aqueles que possuem algum impedimento nos variados órgãos envolvidos na emissão da fala e os surdos, em geral, não possuem esse impedimento; o que ocorre é uma falta de feedback, ou seja, não falam porque lhes falta a audição. Mas esse não é o argumento mais importante para os surdos, que se valem de uma compreensão cultural da surdez para dizer que se comunicam em um modalidade gestual visual até hoje pouco conhecida entre os ouvinte: pela língua de sinais (LS) falam com as mãos e ouvem com os olhos. A comunidade surda organizada representada pela FENEIS (Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos) fez uma campanha, algum tempo atrás, e buscou divulgar essa idéia em camisetas e adesivos onde se lê: Surdo- mudo: apague essa idéia, colocando um X sob a palavra mudo. 4 O termo deficiente auditivo é o termo clínico que define o grau da surdez e que aparece nas audiometrias que dizem se a perda da audição do sujeito surdo é leve, moderada, severa ou profunda, classificações apresentadas em gráficos de freqüência e em medidas de decibéis. Para a comunidade surda esse também não é um bom termo, pois coloca em primeiro plano o déficit, aquilo que falta para os surdos em relação a uma norma ouvinte. Em uma perspectiva cultural, podemos dizer que os deficientes auditivos são aqueles que vivem a condição da surdez como deficiência, aqueles que são subjetivados pelo discurso da ausência e conduzidos a passar a vida correndo atrás da cura da surdez, através do aprendizado da leitura labial e da fala. O termo surdo tem sido o preferido pela comunidade surda. Surdo não como deficiente, mas como minoria lingüística. Essa é uma discussão que teve início nos anos de 1960, quando os primeiros estudos da área da lingüística foram desenvolvidos por William Stokoe nos Estados Unidos e que comprovaram que a língua de sinais possui status lingüístico e deve ser reconhecida como língua. Houve época em que se convencionou utilizar s minúsculo para se referir a surdez como deficiência e S maiúsculo para se referir à surdez como uma categoria cultural, mas hoje isso caiu em desuso e temos utilizado simplesmente surdo quando nos referimos aqueles que são usuários da língua de sinais e que construíram uma identidade surda em comunidades de surdos. Esses termos de referência aos surdos estão situados em duas grandes formas representacionais: uma que denominamos de clínico-terapêutica e outra que denominamos de sócio-antropológica. A representação clínico-terapêutica entende os surdos como deficientes e os classifica segundo graus de perda e a representação sócio-antropológica entende os surdos como sujeitos pertencentes a um grupo cultural e lingüístico minoritário. Ambas estão presentes na história da educação de surdos até os dias atuais, não sendo possível falarmos que, apesar das mudanças sociais e culturais da contemporaneidade, a visão clínico-terapêutica tenha sido superada em prol de uma visão sócio-antropológica. 1.2 Marcas surdas e a invisibilidade da surdez no corpo 5 A surdez é invisível. Invisível enquanto marca física no corpo daqueles que são surdos. Podemos estar diante de um sujeito surdo e não sabermos que ele é surdo, pois ainda que diante de nós estejam pessoas sinalizando, não podemos dizer que todas são surdas. Pode ser (e é provável que sim) que entre os sinalizantes tenha ao menos um que seja surdo, mas não há como termos certeza disso já que há muitos ouvintes conhecem e se utilizam da língua de sinais para comunicarem-se com outros (surdos ou ouvintes) que conheçam essa língua. Quais são, então, as marcas da surdez? Podemos dizer que a língua de sinais é o principal marcador surdo, apesar do que acabo de dizer acima. E talvez, justamente por ser a marca que mais identifica os surdos, essa forma de comunicação foi, ao longo dos tempos (e talvez até hoje) considerada um empecilho para a inclusão dos surdos na sociedade. Além da LS, podemos destacar também, como marcadores surdos, o olhar, a presencialidade e a cultura visual. O olhar não como recompensa à falta de audição, mas como uma experiência que constitui modos de ser surdo. Essa experiência necessita da presença do outro: é mais fácil a comunicação frente a frente com interlocutores que sabem sinais e os surdos, em geral, sentem-se bem na presença de amigos (surdos ou ouvintes) com quem possam conversar em sinais. A escola, nesse sentido, é um espaço de encontro significativo, pois é nela que muitos surdos se constituem como sujeitos culturais e conseguem romper com as amarras sociais que os colocam na condição de deficientes a quem falta algo, como sujeitos que necessitam ser corrigidos, forçadamente e com grande esforço, através do aprendizado da língua oral da maioria ouvinte. A experiência visual e a presença do outro para sinalizar são, assim, marcadores importantes que constituem as identidades e a diferença surda. QUAL DELES É SURDO? (Francesco Tonucci,1997) 6 1.3 Comunidades surdas Pelas razões acima citadas, podemos dizer que muitos surdos,quando conhecem outros surdos, sentem necessidade de estar em comunidade e a escola é um espaço importante para a constituição da comunidade surda, sendo o primeiro lugar de encontro da maioria daqueles que pertencem à famílias ouvintes. Mas além da escola, também os clubes e associações são espaços importantes que promovem uma vida em comunidade mais tranqüila aos surdos. Bauman (2003) em sua obra intitulada Comunidades: a busca por segurança no mundo atual nos diz que: “Comunidade” é uma dessas palavras que transmitem uma sensação boa: é bom “pertencer a uma comunidade”, “estar em comunidade”. Associamos a ela imagens de um lugar aconchegante, onde podemos nos refugiar das ameaças que nos espreitam “lá fora”, e de um mundo no qual gostaríamos de viver mas que, infelizmente, não existe. Ao contrário de grande parte de comunidades culturais e lingüísticas minoritárias, como as de alemães, italianos, japoneses, indígenas, ciganos e outros, a comunidade surda não possui um território geográfico definido. A surdez é um acontecimento disperso1 e os surdos vivem em um “país invisível” (WRIGLEY, 1996). A escola de surdos tem sido apontada como o lugar onde as comunidades surdas emergem e muitos a defendem como sendo de crucial importância para que as crianças surdas se encontrem com outros surdos e constituam de modo positivo. No encontro com outros surdos é que as crianças surdas se percebem como diferentes e não como deficientes e inferiores. Quando isoladas e convivendo apenas com ouvintes, essas crianças tendem a se olharem e a se narrarem de modo negativo, como sujeitos incompletos a quem falta algo. O encontro surdo-surdo possibilita uma forma oposicional e positiva de ser surdo e é comum que após esse encontro muitos surdos passem a ter orgulho da sua condição, percebendo suas possibilidades e reinventando modos de ser e estar no mundo. 1 Estima-se que mais de 90% das crianças surdas são filhas de pais ouvintes e esses, na grande maioria das vezes, desconhecem outros surdos e a língua de sinais e tendem a ver a surdez como um problema. Em geral são orientados, pelos especialistas da área médica que avaliam a surdez, a evitarem o uso de sinais e estimularem seus filhos a falar e ler lábios, de modo a que se assemelhem a norma ouvinte e sejam incluídos socialmente, adaptando-se `a maioria 7 Mas pertencer a uma comunidade nem sempre pode ser tranqüilo, pois “em troca da segurança prometida, a vida em comunidade parece nos privar da liberdade, do direito de sermos nós mesmos” (2003). Nas comunidades surdas, podemos entender essa dualidade quando líderes e militantes surdos esperam que todos estejam engajados do mesmo modo nas lutas surdas, que todos sejam fluentes na língua de sinais e não usem a oralidade para se comunicar, que dêem as costas às “coisas dos ouvintes”... 1.4 Cultura surda Para Stuart Hall (1997), a cultura “determina uma forma de ver, de interpelar, de ser, de explicar, de compreender o mundo”. O viver e compartilhar experiências em comunidades é o que possibilita a (re)invenção e o desenvolvimento de uma cultura surda. A cultura surda é constituída de códigos, hábitos, humor e histórias que são compartilhados entre seus integrantes em espaços como as escolas, as associações e em famílias surdas. A cultura dos surdos é uma cultura visual e a língua de sinais é o código mais compartilhado e o marcador cultural que mais aproxima os surdos, aquele que faz com que se sintam à vontade nos espaços comunitários em que se reúnem e que permite a troca de experiências. È pela língua de sinais, como um marcador cultural, que as identidades surdas vão sendo constituídas e significadas culturalmente no grupo. 1.5 Identidades surdas O que é ser surdo? A ausência da audição é condição suficiente para dizermos que um sujeito é surdo, do ponto de vista cultural? SURDOS NO TRABALHO Imagem de Maristela Alano In: Direitos humanos e surdez: a acessibilidade promovendo a cidadania dos surdos (2002) 8 Os surdos são homens, mulheres, homossexuais, heterossexuais... são negros, índios, brancos, ocidentais ou orientais... são pobres, ricos, trabalhadores ou desempregados... são honestos ou nem tanto... vivem em situação de dependência dos ouvintes ou de forma livre e independente. São tantas condições quantas forem possíveis de pensarmos. Ser surdo é um traço identitário que se hibridiza com outros na constituição de um sujeito e não pode ser reduzida a condição biológica do não ouvir. A surdez é uma experiência constituída na relação com outros (surdos ou ouvintes) e não há como descrevermos a todos os surdos segundo alguns tipos ou categorias fixas e puras. Ser surdo é uma condição plural e as identidades surdas podem ser tantas como podem ser qualquer outra, embora, como busquei demonstrar na seção acima, alguns marcadores sejam comuns à maioria dos surdos que se narram como sujeitos surdos culturais. 1.6 Movimento Surdo O Movimento Surdo articula as lutas políticas dos surdos, entre as quais a luta pelo reconhecimento e a oficialização da língua de sinais e diferentes países. No Brasil, o movimento surdo teve importante papel na conquista desse direito, que se materializa na Lei Nº 10.436/2002 e no Decreto 5626/2005. O Movimento Surdo está representado em entidades como a Federação Mundial de Surdos (FMS), na Finlândia, que reúne federações de diferentes países. No Brasil, a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS) é a que articula as lutas e dá visibilidade às demandas dos surdos em todo o território nacional. A FENEIS tem sede no Rio de Janeiro e escritório regional no Rio Grande BANQUETES SURDOS França, Século XVIII In: COUTURIER & KARACOSTAS (1990) 9 do Sul desde o ano de 1996, quando iniciaram-se as atividades na cidade de Porto Alegre. Com a abertura de um escritório na capital gaúcha, muitas conquistas aconteceram nos últimos anos e o número de Associações de Surdos nas cidades do interior do estado aumentou significativamente. Talvez uma das maiores conquistas das lutas articuladas pelo movimento surdo seja a divulgação da língua de sinais em espaços de trabalho onde os surdos estão entrando cada vez com mais freqüência e o ensino dessa língua como obrigatória em todos os cursos de formação de professores. 1.7 Fragmentos da História da Educação dos Surdos2 Século XVI Primeiras tentativas de educação dos surdos. Girolamo Cardano (1501-1578) abole o conceito de que o surdo não pode ser ensinado. 1520-1584 Pedro Ponce de Leon, monge beneditino (Espanha), é o primeiro educador a desmutizar surdos. 1712-1789 Samuel Heinick é considerado na época o maior educador de surdos da Alemanha, segue o método de oralização de Giovanni Conrado Amam. Funda a primeira escola pública baseada no método oral (1750). 1750 O abade Charles Michel de L‟Epée inicia a instrução formal de duas crianças surdas, com grande êxito. Em 1760, transforma sua casa na primeira escola pública para surdos (Instituto de Surdos e Mudos em Paris), utilizando uma abordagem gestualista. 1745-1751 O abade Etienne François Dechamps, também na França, abre em sua casa uma escola para crianças surdas, utilizando uma abordagem gestualista, e publica diversos trabalhos. 1802 Jean-Marie Garpard Itard, médico, é o primeiro a fazer treinamento auditivo com os hipoacústicos. A partir daí, surgem novos estudos sobre o treinamento auditivo e a leitura labial; o método oral passa a ser mais divulgado e aceito. Alexander Grahan Bell, gênio da tecnologia e da telefonia, de uma família tradicional no trabalho com a fala, defende o ensino dos surdos apenas pelo método oral. 1815 Thomas Hopkins Gallaudet visita o abade L‟Epée com o objetivo de conhecerseu trabalho. Convida um dos melhores alunos (Laurent Clerc) para implantar nos Estados Unidos o ensino a surdos utilizando a Língua de Sinais. Fundam a primeira escola americana para surdos em Connecticut, em 1817. 1821-1885 Aparecem as primeiras escolas especiais para surdos na América Latina. 1835 16% dos professores de escolas públicas americanas para surdos são surdos; em 1858, 40,8%; em 1870, 42,5%. 1857 Eduard Huet, professor de francês surdo, convidado por D. Pedro 2 SÁ, Nídia Regina Limeira de. Educação de Surdos: a caminho do bilingüismo. Niterói: EDUFF, 1999. 10 II, cria no Rio de Janeiro o Instituto Nacional dos Surdos-Mudos – INSM3. Começa provisoriamente em uma sala do Colégio Wassiman (no centro do Rio de Janeiro), com duas crianças surdas. 1864 Criada nos Estados Unidos a Universidade Nacional para Surdos-Mudos, hoje Universidade Gallaudet4. 1880 Congresso Internacional de Educadores de Surdos realizado em Milão, na Itália. Graham Bell usa todo o seu prestígio na defesa do Oralismo. Juan Jacob Valade Gabel, professor do Instituto de Paris, apresenta um método de educação visando a eliminar os gestos e as Línguas de Sinais. Trava-se grande disputa. Os professores surdos são excluídos da votação. O Oralismo vence com a recomendação da proibição oficial do uso das Línguas de Sinais nas escolas. Início do século XX A maior parte das escolas americanas para surdos usa o método oral puro. 1902-1912 Comercialização dos primeiros aparelhos de surdez. 1911 É remodelado o regulamento do Instituto Nacional de Surdos (que já havia excluído a expressão Surdos-Mudos) e o método oral fica oficialmente mantido em todas as disciplinas. As meninas são mantidas fora da instituição até 1932. 1915 O INS muda-se para um imponente prédio na Rua das Laranjeiras, 232, onde está até hoje. 1933 Para atender a demanda feminina, é fundado o Instituto Santa Terezinha em São Paulo, ligado à Igreja Católica5. 1960 Willian Stokoe, nos Estados Unidos, publica o primeiro estudo lingüístico sobre a ASL, demonstrando que é uma língua com todas as características equivalentes às das línguas que se utilizam da modalidade oral. Década de 1960 Dorothy Shifflet, professora secundária, mãe de menina surda, descontente com os métodos oralistas, começa a utilizar um método combinado de linguagem sinalizada, fala, leitura labial e treino auditivo, numa escola na Califórnia, denominando seu trabalho de Total Approach – Abordagem Total. 1968 Roy Holcomb, professor surdo, adota o Total Approach com todos os surdos da instituição; passa a chamar o método de Total Communication – Comunicação Total. 1969 Eugênio Oates, missionário americano, faz a primeira tentativa de registrar a Língua de Sinais Brasileira. Publica um pequeno dicionário de Sinais o qual vem a ser o primeiro ato de atenção à Língua de Sinais em nosso país. 1977 Criado no Rio de Janeiro a Federação Nacional de Educação e Integração dos Deficientes Auditivos, FENEIDA, com diretoria de ouvintes. 1978 Gallaudet promove um Congresso Internacional; difunde as idéias da Comunicação Total e influencia diversos países. 3 Hoje Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), situado na Rua das Laranjeiras, 232, Rio de Janeiro. 4 Segundo Reis (1992) atualmente o Tsukuba College of Technology, fundado no Japão em 1987, e a Universidade de Gallaudet são as duas únicas escolas superiores para surdos no mundo. 5 Muitas famílias de surdos no Brasil são constituídas de ex-alunos do INES e do Santa Terezinha. Provavelmente estas duas escolas constituíram o berço da LSCB tal como a conhecemos hoje” (BRITO, 1993, p.6-7). 11 Final da década de 70 Introduzida a Comunicação Total no Brasil pela professora Ivete Vasconcelos, fundadora da Escola Santa Cecília, escola especial particular para surdos, sob a influência do Congresso Internacional de Gallaudet. 1978 O Dutch Council of Deaf, na Holanda, institui um grupo para investigar a Comunicação Total. Publicam, em 1981, os resultados do estudo, afirmando que a comunicação manual ajuda no desenvolvimento da fala. 1981 Parlamento da Suécia aprova lei que dá direito aos surdos de serem bilíngües. 1981 Início das pesquisas sistematizadas sobre a Língua de Sinais no Brasil. 1982 Quatro das cinco escolas para surdos na Holanda mudam do Oralismo para a Comunicação Total. 1983 Criação no Brasil da Comissão de Luta pelos Direitos dos Surdos. 1983 Implantação na Suécia de um novo currículo que valoriza a Língua de Sinais. 1983-1984 A Associação de Surdos da Alemanha lança um documento reivindicando o reconhecimento da Língua de Sinais. Em 1984, as autoridades educacionais autorizam apoio financeiro para pesquisas sobre a utilização do alemão sinalizado, como resultado de intensas discussões no seio da comunidade acadêmica. 1981 Início das pesquisas sistematizadas sobre a LIBRAS no Brasil. Na 33ª Reunião Anual da SBPC, em Salvador (BA), pela primeira vez a lingüista Lucinda Ferreira Brito fala sobre Bilingüismo para surdos. 1982 Elaboração em equipe de um projeto subsidiado pela ANPOCS e pelo CNPq intitulado Levantamento lingüístico da Língua de Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros (LSCB) e sua aplicação na educação. A partir desta data, diversos estudos lingüísticos sobre a LIBRAS são efetuados sobre a orientação da lingüista Lucinda Ferreira Brito, principalmente na UFRJ. A educação de surdos passa a ser alvo de estudos para diversas Dissertações de Mestrado. 1984 A lingüista Eulália Fernandes defende sua tese de doutorado: O Surdo e seu Desempenho Lingüístico, no Rio de Janeiro. 1985 Durante a Conferência Latino-Americana de Surdos, em Buenos Aires, é criado o GELES, Grupo de Estudos sobre Linguagem, Educação e Surdez. 1986 O Centro SUVAG (PE) faz sua opção metodológica pelo Bilingüismo, tornando-se o primeiro lugar no Brasil em que efetivamente esta orientação passou a ser praticada. 1987 Lançada a proposta para a Implementacion de la Educacion Bilingue en el Sordo, pelo Consejo Nacional de Educacion (Uruguai). 1987 Criação da Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos (FENEIS), em 16/05/1987, sob a direção de surdos. 1989 Eulália Fernández publica o livro Problemas lingüísticos e cognitivos do surdo. 1990 Carlos Sanchéz, assessor de Educação Especial na Venezuela, 12 implanta um trabalho bilíngüe em 42 escolas públicas do seu país. 1991 A LIBRAS é reconhecida oficialmente pelo Governo do Estado de Minas Gerais (lei nº 10.397 de 10/1/91). 1993 Lucinda Brito publica o livro Integração social e educação de surdos. 1994 Começa a ser exibido na TV Educativa o programa VEJO VOZES (out/94 a fev/95), usando a Língua de Sinais Brasileira. 1995 Criado por surdos no Rio de Janeiro o Comitê Pró-Oficialização da Língua de Sinais. 1995 Lucinda Ferreira Brito publica o livro Por uma gramática de Línguas de Sinais. 1996 Iniciam-se pesquisas e estudos sobre a Educação de Surdos no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRGS. Funda- se o NUPPES (Núcleo de Pesquisas em Políticas Educacionais para Surdos), sob a orientação do Prof. Carlos Skliar. 1996 Instala-se, em Porto Alegre, um escritório regional da FENEIS (Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos), que tem sede no Rio de Janeiro. 1999 A LIBRAS é oficializada no Rio Grande do Sul (lei nº 11.045, publicada no Diário Oficial do Estado do dia 31 de dezembro de 1999). 2005 Decreto nº 5.626/05 - Regulamenta a Lei 10.436 que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS 2008 A disciplina de LIBRAS começa ser oferecida como obrigatória em cursos de Licenciatura na UFRGS. No dia 28 de junho de 2008 iniciam as aulas do Curso de Letras- Libras na UFRGS, oferecido na modalidade de ensino à distância e coordenado pela UFSC, com 30 alunos surdos (Licenciatura)e 30 alunos ouvintes (Bacharelado). 13 2 LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA: estudos lingüísticos Profª Lodenir Becker Karnopp “Contrário ao modo como muitos definem a surdez – isto é, como um impedimento auditivo – pessoas surdas definem-se em termos culturais e lingüísticos.” (Wrigley 1996, p. 13). A população surda global está estimada em torno de quinze milhões de pessoas (Wrigley 1996, p. 13), que compartilham o fato de serem lingüística e culturalmente diferentes em diversas partes do mundo. No Brasil, estima-se que, em relação à surdez, haja um total aproximado de mais de cinco milhões, setecentos e cinqüenta mil casos (conforme Censo Demográfico de 2000), sendo que a maioria das pessoas surdas utiliza a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Censo Demográfico - 2000 Total c/surdez Idade: 0 -17 Idade: 18 -24 5.750.805 519.460 256.884 Tabela 1: Quantitativo de Surdos no Brasil (www.feneis.com.br) As línguas de sinais existem em comunidades lingüísticas de pessoas surdas. Entretanto, o reconhecimento formal do status lingüístico das línguas de sinais é bastante recente. Encontramos declarações da UNESCO, da Organização Mundial da Saúde, da Federação Mundial dos Surdos e do Encontro Global dos Especialistas sobre o status lingüístico das línguas de sinais. A UNESCO, apenas em 1984, declarou que “a língua de sinais deveria ser reconhecida como um sistema lingüístico legítimo e deveria merecer o mesmo status que os outros sistemas lingüísticos (Wrigley, 1996, p. xiii)“. A Federação Mundial do Surdo, em julho de 1987, adotou sua primeira Resolução sobre Línguas de Sinais, rompendo com uma tradição oralista. O Encontro Global de Especialistas, em dezembro de 1987, apresentou entre suas principais recomendações a seguinte: pessoas surdas e com grave impedimento auditivo [devem] ser reconhecidas como uma minoria lingüística, com o direito específico de ter sua língua de sinais nativa aceita como sua primeira língua oficial e como o meio de comunicação e instrução, tendo serviços de intérpretes para a língua de sinais (Wrigley, 1996, p. xiv). No Brasil, a partir da luta da comunidade de surdos, que se organizaram em associações, instituições e através da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS) ocorreu a oficialização da LIBRAS, conforme consta na lei federal 10.436 (24/04/2002) a seguir: 14 LEI FEDERAL Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002 Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. Art. 2º Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. Art. 3º As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor. Art. 4º O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente. Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa. Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 24 de abril de 2002; 181º da Independência e 114º da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Paulo Renato Souza As línguas de sinais são denominadas línguas de modalidade gestual-visual (ou espaço-visual), pois a informação lingüística é recebida pelos olhos e produzida pelas mãos e rosto. Os articuladores primários das línguas de sinais são as mãos, que se movimentam no espaço em frente ao corpo e articulam sinais em determinadas locações neste espaço. Um sinal pode ser articulado com uma ou duas mãos. Um mesmo sinal pode ser articulado tanto com a mão direita quanto com a mão esquerda; tal mudança, portanto, não é distintiva. Sinais articulados com uma mão são produzidos pela mão dominante (tipicamente a direita para destros e a esquerda para canhotos), sendo que sinais articulados com as duas mãos também ocorrem e apresentam restrições em relação ao tipo de interação entre ambas as mãos. O objetivo deste texto é introduzir alguns estudos realizados na área da lingüística das línguas de sinais. Para isso, inicialmente discutiremos aspectos compartilhados entre línguas orais e línguas de sinais. Em seguida, detalharemos aspectos lingüísticos envolvidos na produção dos sinais. 15 2.1 Aspectos compartilhados entre línguas de modalidades diferentes6 A lingüística é o estudo científico das línguas naturais e humanas e as pesquisas realizadas nesta área incluem tanto as línguas orais quanto as línguas de sinais. A lingüística está voltada para a descrição e explicação da estrutura, do uso e do funcionamento das línguas. Muitas pessoas desconhecem a área da lingüística relacionando-a simplesmente com o uso de diferentes línguas ou gramáticas normativas. No entanto, lingüística é a área que se preocupa com temas como a linguagem e a comunicação humana, procurando desvendar a complexidade das línguas e as diferentes formas de comunicação. A lingüística é uma ciência que busca respostas para problemas relacionados à linguagem, tais como: Qual a natureza da linguagem humana? Como a comunicação se constitui? Quais os princípios que determinam a habilidade dos seres humanos em produzir e compreender uma língua? A lingüística discute tais questões com a finalidade de elaborar uma teoria da linguagem humana e uma teoria da comunicação. (Quadros e Karnopp 2004) O trabalho de um gramático é explicar, e não determinar, as leis de uma língua. É precisamente isto que os lingüistas tentam fazer – descobrir as leis de uma língua, assim como as leis que dizem respeito a todas as línguas. Neste sentido, podemos perceber que há diferenças entre as línguas orais e as línguas de sinais, mas também encontramos aspectos comuns entre elas, aspectos que são compartilhados entre essas diferentes línguas. A lingüística procura responder as seguintes questões: quais os aspectos lingüísticos compartilhados entre as línguas de sinais e as línguas orais? Quais as diferenças entre as línguas de sinais, por exemplo, entre a língua de sinais brasileira e a língua de sinais portuguesa? Uma das principais diferenças a considerar entre as línguas de sinais e as línguas orais é em função do modo como essas línguas são produzidas e percebidas. Utilizamos para as línguas orais o termo oral-auditivo e para as línguas de sinais o termo gestual-visual. O termo visual-gestual significa aqui o conjunto de elementos lingüísticos manuais, corporais e faciais necessários para a articulação do sinal em um determinado espaço de enunciação7, oposto ao termo oral-auditivo que representa a produção da informação lingüística através do aparelho fonador. Quanto à percepção, nas línguas de sinais, a construção das sentençase dos significados ocorre através da visão e nas línguas orais através da audição. Desta forma, nas línguas de sinais, já que a informação lingüística é recebida pelos olhos, os sinais são construídos de acordo com as possibilidades perceptuais do sistema visual humano. Nas investigações sobre os universais lingüísticos compartilhados entre línguas orais e línguas de sinais, encontramos uma sistematização proposta em Fromkin & Rodman (1993, p. 24-6) e abordada em Salles et al. (2003). Devemos salientar que, em muitos casos, a comparação entre línguas de modalidades diferentes não é imediata nem muito adequada, mas o objetivo é apresentar através disso uma breve descrição da língua. 2.1.1 Onde houver seres humanos, haverá língua(s) Todas as sociedades (comunidades) utilizam uma (ou mais) língua(s). A língua está inserida em uma cultura. O quadro abaixo enumera algumas línguas, com o objetivo de exemplificar as muitas línguas usadas no mundo. Apesar do grande número de línguas existentes, metade da população mundial fala apenas quinze línguas. Como 6 Esta seção tem como base o capítulo 1 de QUADROS E KARNOPP (2004) e KARNOPP (1999). 7 O espaço de enunciação dos sinais é o local onde os sinais são realizados, ou seja, sinais são produzidos no corpo e no espaço em frente ao corpo (denominado espaço neutro). 16 se pode ver no quadro, se falarmos chinês mandarim, inglês, hindi e russo, poderemos nos comunicar com mais de um bilhão de pessoas. (Fromkin & Rodman 1993, p. 337-341) Quadro 1: Algumas línguas no mundo Ramo Língua Principais áreas geográficas onde se fala Nº de falantes Posição em ( ) FAMÍLIA INDO-EUROPÉIA Germânico Dinamarquês o D i n a m a r c a 5.000.000 Holandês Holanda; Indonésia 13.000.000 Inglês América do Norte, Grã- Bretanha, Austrália, Nova Zelândia (2) 300.000.000 Frísio Norte da Holanda 400.000 Flamengo Bélgica 5.000.000 Alemão Alemanha, Áustria, Suíça 100.000.000 Islandês Islândia 200.000 Norueguês Noruega 4.300.000 Sueco Suécia 8.000.000 Ídixe (sem área determinada) 4.000.000 Românico (Latim) Catalão Andorra, Espanha 5.000.000 Francês França, Bélgica, Suíça, Canadá (11) 75.000.000 Italiano Itália, Suíça (12) 60.000.000 Português Portugal, Brasil (7) 100.000.000 Provençal Sul da França 9.000.000 Romeno Romênia 20.000.000 Espanhol Espanha, América Latina (3) 200.000.000 OBS: Selecionamos somente essas línguas como ilustração. O quadro apresentado pelos autores é completo e inclui as línguas da família indo-européia e não indo-européia. A língua mais falada no mundo é o Mandarim (do ramo Sino-Tibetano), no Norte da China, usada por 387.000.000 de pessoas. No entanto, no Brasil, podemos considerar as muitas línguas aqui existentes. Além da língua portuguesa, temos as línguas indígenas, as línguas de sinais, as línguas de migração e quilombolas. Se considerarmos as línguas indígenas veremos que, ao final do século XV, havia em torno de 1175 línguas indígenas faladas no Brasil. Atualmente restam somente 180 línguas indígenas diferentes faladas no Brasil, as quais pertencem a mais de 20 famílias lingüísticas. (Rodrigues, 1993). Além da LIBRAS, conhecida também como LSB (Língua de Sinais Brasileira) há registros da existência, no Brasil, de uma outra língua de sinais entre índios Urubu-Kaapor, habitantes da floresta amazônica (Ferreira Brito, 1990). Os índios Urubu-Kaapor utilizam a denominada LSKB (Língua dos Sinais Kaapor Brasileira), 17 que não apresenta relação estrutural ou lexical com a LIBRAS, devido à inexistência de contato entre ambas. Algumas línguas de sinais do mundo: Língua de Sinais Brasileira Língua de Sinais Portuguesa Língua de Sinais Holandesa Língua de Sinais Americana Língua de Sinais Boliviana Língua de Sinais Argentina Língua de Sinais Britânica Língua de Sinais Chilena 2.1.2 Não há línguas primitivas Todas as línguas são igualmente complexas e igualmente capazes de expressar qualquer idéia. O vocabulário de qualquer língua pode ser expandido a fim de incluir novas palavras (ou sinais) para expressar novos conceitos. CELULAR CELULAR ilustra um sinal criado no contexto do recente surgimento dessa tecnologia.8 2.1.3 Todas as línguas mudam ao longo do tempo Vejamos alguns exemplos de sinais que mudaram ao longo do tempo. Sinal CANAL DE TELEVISÃO. O primeiro utilizando o controle remoto (utilizado atualmente); o segundo expressa a mudança de canal de forma manual, girando o botão (utilizado no passado). 8 Agradeço aos surdos que contribuíram com as ilustrações de sinais. 18 2.1.4 As relações significado e significante são arbitrárias Nas línguas de sinais, os sinais são arbitrários e imotivados, apesar da aparente semelhança entre sinal e referente. Nas línguas orais e de sinais temos, portanto, a arbitrariedade do signo, pois o significante é arbitrário em relação ao significado. Algumas pessoas consideram a língua de sinais uma língua icônica ao considerar sinais como CASA, ÁRVORE e CARRO. CASA ÁRVORE CARRO 1 CARRO 2 Exemplos como esses são considerados como sinais icônicos (pictográficos). No entanto, pode-se dizer que um sinal não é imediatamente ou naturalmente identificado, já que cada língua pode abordar um aspecto visual diferente em relação, por exemplo, ao mesmo objeto, diferenciando os sinais de língua para língua. Os sinais são diferentes de uma língua para outra e também passam por mudanças através dos tempos. (KARNOPP, 1994). O que pode haver é uma exploração do espaço de enunciação na realização de alguns sinais, relacionando a questões culturais (por exemplo, o sinal AMAR pode ter o coração/ tórax como ponto de articulação). 2.1.5 Todas as línguas utilizam um conjunto finito de unidades Essas unidades são combinadas para formar elementos significativos ou palavras, os quais por sua vez formam um conjunto infinito de sentenças possíveis. Todas as gramáticas contêm regras de um tipo semelhante para formação de palavras e sentenças. Um processo recorrente de formação de palavras na LIBRAS é a derivação e a composição. Um dos exemplos de derivação na Língua de Sinais Brasileira é a incorporação de numeral, nos sinais, ONTEM, ANTEONTEM, 1HORA, 2HORAS, 3HORAS, 4HORAS, UM-MÊS, DOIS-MESES, TRÊS-MESES, QUATRO-MESES... 19 (Figura retirada de Quadros e Karnopp 2004, p. 107) 2.1.6 Toda língua falada inclui segmentos sonoros discretos Elementos como p, n, ou a, os quais podem ser definidos por um conjunto de propriedades ou traços. Toda língua falada tem uma classe de vogais e uma classe de consoantes. Línguas de sinais apresentam segmentos discretos na composição dos sinais. Nas línguas faladas encontramos o conjunto das vogais e das consoantes. Elas são combinadas para formar morfemas e palavras, por exemplo, se juntarmos os segmentos sonoros /m/, /a/, /p/ podemos formar a palavra /mapa/. Nas línguas de sinais encontramos os seguintes segmentos que compõem os sinais: Configuração de mão, locação, movimento, orientação de mão e expressões não-manuais. Se juntarmos alguns desses elementos podemos formar morfemas e sinais, conforme exemplo a seguir: Exemplo de segmentos que formam sinais (retirado de Quadros e Karnopp 2004, p. 51) UM-MÊS DOIS-MESES TRÊS-MESES QUATRO-MESES 20 2.1.7 Todas as línguas apresentam categorias gramaticais (ex: nome, verbo) “uma das principais funções da morfologia é a mudança de classe, isto é, a utilização da idéia de uma palavra em uma outra classe gramatical. Forma-se um novo sinal para poder utilizar o significado de um sinal já existente num contextoque requer uma classe gramatical diferente.” (Quadros e Karnopp 2004, p. 96) (Retirado de Quadros e Karnopp 2004, p. 97) 2.1.8 Universais semânticos, como fêmea ou macho, animado ou humano, são encontrados em todas as línguas Segundo Ilari (2002, p. 39-40), para entendermos o significado das palavras, dispomos de dois recursos: através da análise componencial ou por protótipos. Tanto nas línguas orais quanto nas línguas de sinais observamos que ocorre a utilização tanto da análise componencial quanto da análise por protótipos para a identificação de aspectos nocionais do significado das palavras ou dos sinais. 2.1.9 Todas as línguas possuem formas para indicar tempo passado, negação, pergunta, ordem, etc Quadros e Karnopp (2004) afirmam que a negação, por exemplo, é um processo produtivo na língua de sinais brasileira. Há alguns sinais que podem incorporar a negação através da alteração de um dos parâmetros. Nos exemplos a seguir, o movimento é alterado, acarretando, assim, o aparecimento da incorporação da negação ao sinal. TELEFONAR TELEFONE SENTAR CADEIRA 21 Retirado de Quadros e Karnopp 2004, p. 110) 2.1.10 Pessoas de todas as línguas são capazes de produzir e compreender um conjunto infinito de sentenças 2.1.11 Qualquer criança, nascida em qualquer lugar do mundo, de qualquer origem racial, geográfica, social ou econômica, é capaz de adquirir qualquer língua à qual está exposta Obviamente que crianças surdas expostas à língua de sinais irão adquirir essa língua, visto que essa é uma língua que podem perceber/ compreender e produzir de forma espontânea, da mesma forma que crianças ouvintes adquirem a língua oral à qual estão expostas. 2.2 O SINAL As línguas de sinais começaram a ser pesquisadas pela lingüística a partir de 1960. Uma das primeiras descrições sobre a estrutura, uso e funcionamento das línguas de sinais foi feita por W. Stokoe na Língua de Sinais Americana. Stokoe propôs um esquema lingüístico estrutural para analisar a formação dos sinais na American Sign Language (ASL). Estava preocupado em identificar as unidades que formam os sinais. A partir de pesquisas, propôs a decomposição de sinais em três unidades ou parâmetros que não carregam significados isoladamente, a saber: (1) a. Configuração de mão (CM) b. Locação da mão (L) c. Movimento da mão (M) TER NÃO-TER GOSTAR NÃO-GOSTAR 22 Análises posteriores sugeriram a adição de outras unidades ou parâmetros, por exemplo, orientação da mão e expressões não-manuais (expressões faciais e corporais). Todas essas unidades formam os sinais nas línguas de sinais e isso foi aceito por muitos pesquisadores e identificado em muitas línguas de sinais. O estudo dessas unidades isoladamente é realizado por uma das áreas da lingüística, denominada de Fonética e Fonologia das línguas de sinais. Estudos realizados pela lingüística das línguas de sinais descrevem e/ou explicam alguns dos aspectos de diferentes línguas de sinais, incluindo outras áreas além da fonética e fonologia, tais como morfologia (estudo das palavras/sinais), sintaxe (estudo das sentenças/frases), semântica (estudo do significado) e pragmática (estudo do uso da língua). A seguir serão apresentadas as propriedades de cada unidade/parâmetro em LIBRAS, isto é, propriedades de configurações de mão, movimentos, locações, orientação de mão, bem como dos aspectos não-manuais dessa língua, conforme descrição feita por Ferreira Brito (1990, 1995) e Quadros e Karnopp (2004). 2.2.1 Língua Brasileira de Sinais A LIBRAS, assim como as outras línguas de sinais, é basicamente produzida pelas mãos, embora movimentos do corpo e da face também desempenhem funções. Como vimos, as principais unidades que formam sinais são locação, movimento e configuração de mão. Uma das tarefas de um investigador de uma língua de sinais particular é identificar as configurações de mão, as locações e os movimentos que têm um caráter distintivo9. Isso pode ser feito comparando-se pares de sinais que contrastam minimamente, um método utilizado na análise tradicional de fones distintivos das línguas orais. Nas línguas orais, podemos exemplificar o caráter distintivo com as palavras: bala, fala, cala, mala, rala, gala). O valor contrastivo dos parâmetros fonológicos é ilustrado na figura 2 abaixo, em que se observa que o contraste de apenas um dos parâmetros provoca diferença no significado dos sinais. Fig. 2: Pares mínimos na LIBRAS (Quadros & Karnopp 2004) 9 Pequenas diferenças na forma como os sinais são produzidos, mas que acarretam mudanças de significado, por exemplo, os sinais ilustrados na figura 2. Sinais que se opõem quanto à Configuração de mão PEDRA QUEIJO Sinais que se opõem quanto ao Movimento TRABALHAR VÍDEO Sinais que se opõem quanto à Locação APRENDER SÁBADO 23 Esses exemplos mostram a complexidade das línguas de sinais. No entanto, como os sinais são produzidos em contextos discursivos e não isoladamente, podemos abstrair o significado dos sinais a partir dos contextos em que são produzidos. 2.2.2 Configuração de Mão (CM) As configurações de mão da LIBRAS foram descritas a partir de dados coletados nas principais capitais brasileiras, sendo agrupadas verticalmente segundo a semelhança entre elas, mas ainda sem uma identificação enquanto básicas ou variantes. Dessa forma, o conjunto de configurações de mão refere-se apenas às manifestações de superfície, isto é, de nível fonético, encontradas na LIBRAS. Quadro 1: As Configurações de Mão da LIBRAS (Ferreira Brito e Langevin, 1995) Um sinal pode ser produzido com uma única configuração de mão, por exemplo, MÃE. Mãe com a mão direita Mãe com a mão esquerda 24 Exemplo do sinal mãe (pode ser articulado com a mão esquerda ou com a mão direita) Percebe-se que a configuração de mão pode permanecer a mesma durante a articulação de um sinal (PAI), ou pode passar de uma configuração para outra, por exemplo, SOL. Além disso, os sinais podem ser produzidos com as duas mãos, por exemplo, TELEVISÃO e VOTAR. Pai (sinal articulado com uma mão) Televisão (sinal articulado com as duas mãos – condição de simetria) Votar (sinal articulado com as duas mãos – condição de dominância) O alfabeto manual (abecedário), utilizado também na LIBRAS, é usado na soletração manual de palavras da língua portuguesa (ou de outras línguas), em especial, nomes próprios que ainda não tem um sinal correspondente. As configurações de mão é uma das unidades que formam os sinais. 2.2.3 Movimento (M) Nas línguas de sinais, a(s) mão(s) do enunciador realiza o movimento no espaço de enunciação. O movimento é definido como uma unidade complexa que pode envolver uma vasta rede de formas e direções, desde os movimentos internos 25 da mão, os movimentos do pulso e os movimentos direcionais no espaço (Klima e Bellugi 1979). As variações no movimento são significativas na gramática da língua dos sinais. Um exemplo disso são as cores na Língua de Sinais Americana (AZUL, VERDE, AMARELO e ROXO) articuladas no espaço neutro. O movimento básico do sinal AZUL (BLUE) envolve um pequeno contorno na mão. Todavia, se esse movimento é alterado ocorre mudança no significado do sinal: Fig. 3: Exemplos de sinais na American Sign Language (Baker e Padden 1978, p.12) O exemplo na fig. 3 mostra que o movimento pode variar (de certo modo previsto pelas regras da língua), do que resulta um significadodiferente mas relacionado ao da forma base (Baker e Padden 1978, p. 11-12). Mudanças no movimento servem também para distinguir verbos. Na Língua de Sinais Americana, cem pares de nomes/verbos foram investigados, já que esses nomes/verbos possuíam significados associados e supostamente não diferiam no modo de fazer o sinal. Eles tentaram descobrir, por exemplo, como o sinal CADEIRA (substantivo) poderia ser diferente do sinal SENTAR (verbo). Concluíram que os verbos, em geral, apresentam movimentos variados. Alguns verbos são produzidos com um movimento simples; outros, com movimento repetido. Mas os nomes têm uma característica comum: tendem a ter movimentos mais curtos, são sempre repetidos e tensos (Supalla e Newport 1978). Essa distinção também foi encontrada na LIBRAS, conforme investigações de Quadros e Karnopp (2004). As variações no movimento podem estar também ligadas à direcionalidade do verbo. A forma básica do verbo OLHAR, por exemplo, tem um movimento para fora (do emissor em direção ao receptor), e significa “eu olho para você”. Se o movimento dá-se na direção oposta, isto é, se o sinal move-se do receptor em direção ao emissor, então o significado é “você olha para mim”. Assim, o significado de um sinal está relacionado com a direção do movimento. Estudos na LIBRAS sobre a sintaxe e verbos direcionais podem ser conferidos em Quadros e Karnopp (2004). O movimento pode estar nas mãos, pulsos e antebraço. Os movimentos identificados na LIBRAS e em outras línguas de sinais estão relacionados ao tipo de movimento (reto, circular, alternado, simultâneo...), à direção do movimento (unidirecional/ bidirecional/ multidirecional), à maneira (categoria que descreve a 26 qualidade, a tensão e a velocidade do movimento) e à freqüência do movimento (número de repetições de um movimento). 2.2.4 Locação (L) ou Pontos de Articulação Locação ou ponto de articulação é aquela área no corpo em que o sinal é realizado. Na LIBRAS, assim como em outras línguas de sinais até o momento investigadas, o espaço de enunciação é uma área que contém todos os pontos dentro do raio de alcance das mãos em que os sinais são produzidos. Fig. 5: Espaço de realização dos sinais (Ferreira Brito 1990, p. 33) Dentro desse espaço de enunciação, pode-se determinar um número finito (limitado) de pontos, que são denominados „pontos de articulação‟. Alguns pontos são mais precisos, tais como a ponta do nariz, e outros são mais abrangentes, como a frente do tórax. O espaço de enunciação é um espaço ideal, no sentido de que se considera que os interlocutores estejam face a face. Pode haver situações em que o espaço de enunciação seja totalmente reposicionado e/ou reduzido; por exemplo, se um enunciador A faz sinal para B, que está à janela de um edifício, o espaço de enunciação será alterado. O importante é que, nessas situações, os pontos de articulação têm posições relativas àquelas da enunciação ideal. Os pontos dividem- se em quatro regiões principais: cabeça (testa, rosto, orelha, nariz, boca, queixo, bochechas...), mão (palma, dedos, juntas, costas das mãos...), tronco (pescoço, ombro, busto, estômago,cintura, braços, antebraço, cotovelo, pulso...) e espaço neutro. (Ferreira Brito e Langevin, 1995) 2.2.5 Orientação da Mão (Or) Orientação é a direção para a qual a palma da mão aponta na produção do sinal. Ferreira Brito (1995, p. 41) enumera seis tipos de orientações da palma da mão na LIBRAS: para cima, para baixo, para o corpo, para a frente, para a direita ou para a esquerda. 27 Fig. 6: Orientações de Mão (retirado de Marentette 1995, p. 204) 2.2.6 Expressões Não-manuais (ENM) As expressões não-manuais (movimento da face, dos olhos, da cabeça ou do tronco) prestam-se a dois papéis nas línguas de sinais: marcação de construções sintáticas e de sinais específicos. As expressões não-manuais que têm função sintática marcam sentenças interrogativas sim-não, interrogativas, topicalizações etc. As expressões não-manuais podem também marcar referência específica, referência pronominal, partícula negativa, advérbio ou aspecto. Expressões não-manuais da LIBRAS podem ser encontradas no rosto, na cabeça e no tronco. Deve-se salientar que duas expressões não-manuais podem ocorrer simultaneamente, por exemplo, as marcas de interrogação e negação. Conclusão Com essa introdução aos estudos da lingüística das línguas de sinais, esperamos que nossas discussões sobre a LIBRAS seja relevante no aprendizado dessa língua, bem como na discussão de temas relacionados ao funcionamento e ao uso dessa língua. 28 29 3 AULA PRÁTICA DE LIBRAS Profª Carolina Hessel Silveira SALA DE AULA 3. 1 ALFABETO MANUAL 30 3.2 NÚMEROS 31 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 É importante observar diferenças pequenas entre os sinais de letras e números. Vou mostrar neste material, letras e números do alfabeto manual que é comum as pessoas confundirem; observe com atenção essas diferenças. A Configuração de Mão (CM) representa a forma que a mão assume durante a realização de um sinal; movimento representa o deslocamento de uma ou de ambas as mãos no espaço; posição mostra a direção da palma da mão: para cima, para baixo, para dentro, para fora, para direita, para esquerda, na diagonal. Exemplos de diferenças pequenas: Nas letras A e S, as CM são diferentes; o A é com polegar ao lado do dedo indicador e S com polegar sobre o dedo médio, com a mão fechada, como um soco. *** As CM de F e T são parecidas, só que no F o polegar fica pra fora e no T o polegar fica por dentro no dedo indicador. Estas CM geralmente são muito confundidas pelas pessoas; até as crianças surdas pequenas confundem. 32 A CM de G é parecida com a CM de Q e com a CM do número 7. Quais são as diferenças? Na CM de G, os dedos indicadores e polegar ficam para cima. A CM de Q e do número 7 são iguais, só a posição é diferente. Em Q o indicador e o polegar são abaixados; no número 7, os dois ficam quase na horizontal. *** Todas as CM são iguais, só têm movimento e posições diferentes; P não tem movimento; H tem movimento de rotação; K tem movimento para cima. *** As CM de 6 e de 9 são iguais, só muda a posição; na do número 6, a palma está para cima; na de número 9, a palma está para baixo. Fonte das ilustrações: Adaptado de Alfabeto Manual em LSB, Contracapa. Coleção “Aprendendo LSB” Volume I Básico – Curso de Língua de Sinais Brasileira - Nelson Pimenta. 33 EXERCÍCIOS: I) Escrever os nomes que estão abaixo: 1) : 2) : 3) : 4) : 5) : 6) : 7) : 8) : 9) : 10) : 11) : 12) : II) Ditado: Nome E-mail Celular Endereço 34 3.3 CUMPRIMENTOS NOME - Identificar os nomes dos colegas através de sinais e manual alfabeto. a) MEU NOME10 b)VOCÊ NOME? QUEM É? – Identificar os nomes dos colegas, quem é quem na sala de aula. a) QUEM VOCÊ? b) QUEM EL@? ONDE? – Identificar os nomes dos colegas, sinalizar onde eles estão na sala de aula. a) ONDE FULANO? Cumprimento com aluno(a) e professor: A: OI TUDO BEM? B: EU BEM. (balança a cabeça afirmando e sinal de positivo) C: EU MAIS OU MENOS. (balança a cabeça negando) D: EU MAL (balança a cabeça negando e sinal de negativo) ATIVIDADES: Diálogo em dupla: (NOME e PRAZER) Obs: As frases não estão estruturadas em Língua Portuguesa, mas sim em LIBRAS. Questão: (1) A: OI TUDO BEM? MEU NOME MARA B: BEM, VOCÊ É NARA? A: NÃO, ERRADO. MEU NOME MARA B: DESCULPE, BOM NARA! A: PRAZER Questão (2): A: DESCULPA, VOCÊ IVO? B: NÃO, MEU NOME RUIA: PRAZER B: BOM CONHECER! A: CONHECER IVO, ONDE MORA? B: CONHECER, MORA LÁ. A: AH, MUITO OBRIGADO! B: DE NADA A: TCHAU! 10 As frases que estão escritas com letras maiúsculas não estão estruturadas em Língua Portuguesa, mas sim em LIBRAS. 35 3. 4 PRONOMES PESSOAIS Na língua de sinais usa-se a apontação para indicar: As pessoas: EU, TU, EL@, NÓS, VOCÊS, ELES. Localização: AQUI, ALI, LÁ. Pronomes Demonstrativos: ESTE, ESSE. 3.5 ROTINA: ATIVIDADES DIÁRIAS Vocabulários: acordar tomar café tomar banho ir / vir trabalhar almoçar lanche intervalo fim voltar jantar olhar tv internet estudar namorar dormir mulher/homem menina/menino passear começar EXERCICIO: 1. __________________________________________________ 2. __________________________________________________ 3. __________________________________________________ 36 4. __________________________________________________ 5. ______________________________________________ . 6. ____________________________________________________ 3. 6 USO DE EXPRESSÕES Expressões faciais são formas de comunicar algo, um sinal pode mudar completamente seu significado em função da expressão facial utilizada. Quadros e Pimenta (2006) explicam que existem dois tipos diferentes de expressões faciais: as afetivas e as gramaticais (lexicais e sentenciais). As afetivas são as expressões ligadas a sentimentos / emoções. Veja os exemplos: As expressões faciais gramaticais lexicais estão ligadas ao grau dos adjetivos: 37 E as expressões faciais gramaticais sentenciais estão ligadas às sentenças: INTERROGATIVAS 38 AFIRMATIVAS / NEGATIVAS EXCLAMATIVAS Outro pronome interrogativo: Para que Exemplo: PARA QUE ESTUDAR? EXERCICIOS: a) ALEGRIA e) ESTRANHEZA i) RAIVA b) ADMIRAÇÃO f) ZANGADO j) TRISTEZA c) DÚVIDA g) PENSATIVO k) ESPANTO d) MEDO h) DESÂNIMO l) SATISFAÇÃO 2) O professor sinaliza os números em ordem e as frases e a/as aluno/as anotam o que professor sinalizou. ( ) Quem faltar hoje? ( ) Fazer o que? ( ) Quem saber LIBRAS? ( ) Você saber? Como? ( ) O que você quer? ( ) Como você vir? ( ) Falar o que? ( ) Para que namorar? ( ) Onde UFRGS? ( ) Quem nascer Porto Alegre? ( ) Onde sala? ( ) Porque ele não vir aula? ( ) Pode vir minha casa? ( ) Quer passear? 39 3. 7 ADVÉRBIO DE TEMPO TURNOS DE DIA MANHÃ TARDE NOITE MADRUGADA DIAS DA SEMANA . Vocabulário: dia, semana, semana que vem, hoje, ontem, amanhã, até, bom final de semana, bom domingo, bom dia, boa tarde, boa noite, dia todo, todo dia, todas quartas. EXERCÍCIO: Preencha a tabela abaixo com suas atividades regulares durante a semana. Domingo Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Manhã Tarde Noite QUANDO e DIA Simultaneamente aos pronomes ou expressões interrogativas Sempre há uma expressão facial indicando que a frase está na forma interrogativa. A pergunta com QUANDO requer, na resposta, um advérbio de tempo na resposta ou a um dia específico. Por isso há três sinais para “quando”. Um sinal especifica passado: QUANDO-PASSADO (palma da mão virada para o emissor e o braço à altura do ombro com um movimento para o corpo do emissor). 40 Outro sinal especifica futuro: QUANDO-FUTURO (palma da mão direita virada para o emissor e o braço dobrado à frente do emissor com um movimento circular para fora do corpo do emissor). Outro sinal soletrado especifica o dia: DIA. Exemplos: 11 1. VOCÊ VIAJAR QUANDO? (FUTURO) 2. TRABALHO JÁ COMEÇAR , QUANDO? (PASSADO) 3. VOCÊ VIR MINHA CASA. VOCÊ PODER QUANDO? 4. VOCÊ NASCER DIA? MÊS? 5. DIA AULA LIBRAS TERMINAR? 3. 8 NÚMEROS ORDINAIS Nos números 1º ao 9º a mão sempre treme; nas dezenas a mão fica parada. Diálogo em dupla (TEMPO): Obs: As frases não estão estruturadas em Língua Portuguesa, mas sim em LIBRAS. Questão: (1) A: OI TUDO BEM? B: TUDO! A: VOCÊ PASSEAR AMANHÃ? B: SIM VOCÊ? A: EU NÃO. IR TRABALHAR B: AH! PENA! Questão: (2) A: AMANHÃ COMEÇA AULA? B: NÃO, SEMANA QUE VEM, COMEÇA AULA. A: TODOS DIAS? B: NÃO, TODA TERÇA-FEIRA MANHÃ. A: AH, QUERO FAZER MATRÍCULA ONDE? B: 7ª ANDAR, BOA SORTE! A: OBRIGADO, TCHAU! Fonte: Adaptação de FELIPE, Tanya; MONTEIRO, Myrna. LIBRAS em Contexto: Curso Básico: Livro do Professor/. 4º edição - Rio de Janeiro: LIBRAS Editora Gráfica, 2005. 41 3.9 . QUE-HORA e QUANTA-HORA Na LIBRAS para se referir a horas, usa-se a mesma configuração dos numerais para quantidade. Após doze horas (depois do meio-dia), não se continua a contagem, começa-se a contar novamente: HORA 1, HORA 2, HORA 3, acrescentando o sinal TARDE, quando necessário, porque geralmente pelo contexto já se sabe se está referindo à manhã, tarde, noite ou madrugada. A expressão interrogativa QUE-HORA? (apontar para o pulso com a expressão facial para frase interrogativa) se relaciona com o tempo cronológico (quando foi). Já a expressão interrogativa QUANTA-HORA (um círculo ao redor do rosto com a expressão facial para frase interrogativa) está sempre relacionada ao tempo gasto para se realizar alguma atividade ou acontecer alguma coisa (quanto tempo gastou, levou), exemplo: QUE-HORA? 1. AULA COMEÇAR QUE-HORA AQUI? 2. VOCÊ TRABALHAR COMEÇAR QUE-HORA? 3. AULA TERMINAR QUE-HORA? 4. QUE-HORA ENCONTRAR? 5. VOCÊ DORMIR QUE-HORA? QUANTA-HORA? 1. VIAJAR PORTO ALEGRE ATÉ CAXIAS QUANTA-HORA? 2. TRABALHAR UFRGS QUANTA- HORA? 3. AULA LIBRAS QUANTA-HORA? Fonte: FELIPE, Tanya; MONTEIRO, Myrna. LIBRAS em Contexto: Curso Básico: Livro do Professor/. 4º edição - Rio de Janeiro: LIBRAS Editora Gráfica, 2005. (Adaptado) 3. 10 AMBIENTE DE ESTUDOS UNIVERSIDADE / FACULDADES: UFRGS, ULBRA, PUC, UNISINOS, FEEVALE professor aluno curso disciplina semestre formar passar reprovar colega prova vestibular. largar ensinar fazer matrícula trancar coordenação reitor mailto:QUANT@-HORA mailto:QUANT@-HORA 42 Exercício: Para ler. Mulher nome Ana homem nome Ivo dois colegas trabalho. Ana estuda pedagogia UFRGS, Ivo estuda matemática também UFRGS. Ana vai formar este ano 2011, Ivo vai formar ano breve 2014. Ana trabalha professora escola primeira série ensino fundamental. Ivo trabalha professor matemática escola ensino médio. Fique atento(a) através da sinalização da professora que vai perguntar em LIBRAS e você responde assinalando V (verdadeiro) ou F (falso) para as afirmações abaixo. a) V ( ) F ( )____________________________________________________ b) V ( ) F ( )____________________________________________________ c) V ( ) F ( )____________________________________________________ d) V ( ) F ( )____________________________________________________ e) V ( ) F ( )____________________________________________________ 3. 11 LOCALIZAÇÕES A professora sinalizará os números em ordem e os sinais dos locais.O/a(s) alunas (os) anotarão qual é o número e escreverão o nome do local que a professora sinalizou. ( ) _______________ ( ) _________________ ( ) _______________ ( ) _______________ ( ) _________________ ( ) __________________ 43 ( ) _______________ ( ) __________________ ( ) __________________ ( ) _______________ ( ) _________________ ( ) _________________ Outros: POSTO DE GASOLINA, PADARIA, LIVRARIA, PRAÇA, ETC. Vocabulário: Frente, Lado, atrás, perto e longe 3. 12 FAMÍLIA Conheçaos sinais da família. Pai Mãe Filh@ Irm@ Vov@ Ti@ Prim@ Bebê Espos@ Marido Cunhad@ Sogr@ Madrinha Padrinho Gême@ Net@ Solteir@ Namorad@ Noiv@ Casad@ Viuv@ Separad@ Divorciad@ Padrasto Madrasta Exercício: Cada aluno deve produzir pequena descrição da própria família e apresentar para os colegas em LIBRAS. REFERÊNCIAS BATTISON, R. Lexical borrowing in American Sign Language. Silver Spring, MD: Linstok, 1978. BAUMAN, Zigmund. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar E., 2003. BRASIL. Lei Nº 10.436/2002. ______. Decreto 5626/2005. BRITO, Lucinda Ferreira. Por uma gramática de Língua de Sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; UFRJ, Departamento de Lingüística e Filologia, 1995. 44 COUTURIER, L. et KARACOSTAS, A. Le pouvoir des signes. Institut National de Jeunes Sourds de Paris, 1990. FELIPE, Tanya; MONTEIRO, Myrna. LIBRAS em Contexto: Curso Básico: Livro do Professor/. 4º edição - Rio de Janeiro: LIBRAS Editora Gráfica, 2005. FROMKIN, V. & RODMAN, R. An Introduction to Language. Forth Worth: 5ª ed., Harcourt Brace Jovanovich College, 1993. HOEMANN, H. The Transparency of Meaning of Sign Language Gestures. Sign Language Studies 7, 1975. p. 151-161. ILARI, Rodolfo. Introdução ao estudo do léxico - brincando com as palavras. São Paulo: Contexto, 2002. JORDAN, J. K. & BATTISON, R. A Referential Communication Experiment with Foreign Sign Languages. Sign Language Studies 10, 1976. p. 69-80. KARNOPP, L. B. Aquisição do parâmetro configuração de mão na Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS): estudo sobre quatro crianças surdas, filhas de pais surdos. Porto Alegre, PUC: Dissertação de Mestrado, 1994. KLIMA, E. & BELLUGI, U. Wit and poetry in American Sign Language. Sign Language Studies 8, p.203-24, 1975. MOURA, Maria Cecília de. O surdo, Caminhos para uma nova Identidade. Rio de Janeiro: Ed. Revinter, 2000. PIMENTA, Nelson ; QUADROS, Ronice Muller de . Curso de Libras 1. 1. ed. Rio de Janeiro: LSB Vídeo, 2006. v. 1. 104 p. QUADROS, Ronice Müller. Educação de Surdos: A Aquisição da Linguagem. Porto Alegre: Editora Artmed, 1997. QUADROS, Ronice Muller; KARNOPP, Lodenir. Língua de Sinais Brasileira: Estudos Lingüísticos. Porto Alegre: Editora Artmed, 2004. RODRIGUES, Aryon D. (1993). Línguas indígenas: 500 anos de descobertas e perdas. D.E.L.T.A 9, 1, 83-103. SACKS, Oliver. Vendo vozes – uma jornada pelo mundo dos surdos. Rio de Janeiro: Imago, 1990. SALLES, Heloisa M. M. Lima, FAULSTICH, Enilde, CARVALHO, Orlene L., RAMOS, Ana A. L. Ensino de Língua Portuguesa para Surdos: caminhos para a prática pedagógica. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2003. TONUCCI, Francesco. Com olhos de criança. Tradução Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. WILCOX, Sherman. Aprender a ver. Rio de Janeiro: Editora Arara Azul, 2005. WOODWARD, J. C. Jr. Signs of change: historical variation in American Sign Language. Sign Language Studies, 10: 81-94, 1976 WRIGLEY, Owen. The politcs of deafness. Washington: Gallaudet Universty Press, 1996. Sites consultados: http://www.acessobrasil.org.br/libras/ (dicionário) http://www.editora-arara-azul.com.br/ http://www.feneis.com.br/page/index.asp http://www.ines.org.br/ http://www.lsbvideo.com.br/ Elaboradores: Carolina Hessel Silveira, Carolina Comerlatto Sperb, Claudio Henrique Nunes Mourão e Erika Vanessa de Lima Silva http://www.acessobrasil.org.br/libras/ http://www.editora-arara-azul.com.br/ http://www.feneis.com.br/page/index.asp http://www.ines.org.br/ http://www.lsbvideo.com.br/ 45 ANEXO 1 - Legislação (Retirado de http://www.feneis.org.br/page/legislacao.asp) As conquistas da comunidade surda estão intrinsecamente ligadas às aprovações do legislativo. Por isso, a Feneis desenvolve um trabalho de divulgação junto às entidades filiadas e/ou não filiadas para que estas mobilizem e conscientizem os surdos da existência de seus direitos. Legislação Específica / Documentos Internacionais LEIS Constituição Federal de 1988 - Educação Especial Lei nº 9394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBN Lei nº 9394/96 - LDBN - Educação Especial Lei nº 8069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente - Educação Especial Lei nº 8069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente Lei nº 8859/94 - Estágio Lei nº 10.098/94 - Acessibilidade Lei nº 10.436/02 - Libras Lei nº 7.853/89 - CORDE - Apoio às pessoas portadoras de deficiência Lei n° 8.899/94 - Passe Livre Lei nº 9424/96 - FUNDEF Lei nº 10.845/04 - Programa de Complementação ao Atendimento Educacional Especializado às Pessoas Portadoras de Deficiência Lei nº 10.216/01 - Direitos e proteção às pessoas acometidas de transtorno mental Plano Nacional de Educação - Educação Especial DECRETOS Decreto nº 5.626/05 - Regulamenta a Lei 10.436 que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Decreto nº 2.208/97 - Regulamenta Lei 9.394 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional Decreto nº 3.298/99 - Regulamenta a Lei no 7.853/89 Decreto nº 914/93 - Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência Decreto nº 2.264/97 - Regulamenta a Lei nº 9.424/96 Decreto nº 3.076/99 - Cria o CONADE Decreto nº 3.691/00 - Regulamenta a Lei nº 8.899/96 Decreto nº 3.952/01 - Conselho Nacional de Combate à Discriminação Decreto nº 5.296/04 - Regulamenta as Leis n° 10.048 e 10.098 com ênfase na Promoção de Acessibilidade PORTARIAS Portaria nº 976/06 - Critérios de acessibilidade os eventos do MEC Portaria nº 1.793/94 - Formação de docentes Portaria nº 3.284/03 - Ensino Superior Portaria nº 319/99 - Comissão Brasileira do Braille Portaria nº 554/00 - Regulamenta Comissão Brasileira do Braille Portaria nº 8/01 - Estágios RESOLUÇÕES Resolução CNE/CEB nº 1 - Estágio Resolução CNE/CP nº 1/02 - Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores Resolução CNE/CEB nº 2/01 - Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica Resolução CNE/CP nº 2/02 - Institui a duração e a carga horária de cursos Resolução nº 02/81 - Prazo de conclusão do curso de graduação Resolução nº 05/87 - Altera a redação do Art. 1º da Resolução nº 2/81 46 PARECERES Parecer nº 17/01 AVISO Aviso Circular nº 277/96 DOCUMENTOS INTERNACIONAIS Carta para o Terceiro Milênio Declaração de Salamanca Conferência Internacional do Trabalho Convenção da Guatemala Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes Declaração Internacional de Montreal sobre Inclusão LEI DE LEGENDA LEI Nº 2.469, DE 19 DE JUNHO DE 2002. ANEXO 2 – Símbolo Internacional da Surdez Retirado de http://www.feneis.org.br Lei nº 8.160, de 08 de Janeiro de 1991 ANEXO 3 – Dia do Surdo 26 DE SETEMBRO DIA NACIONAL DO SURDO A Comunidade Surda Brasileira comemora em 26 de setembro, o Dia Nacional do Surdo, data em que são relembradas as lutas históricas por melhores condições de vida, trabalho, educação, saúde, dignidade e cidadania. A Federação Mundial dos Surdos já celebra o Dia do Surdo internacionalmente a cada 30 de setembro. No Brasil, o dia 26 de setembro é celebrado devido ao fato desta data lembrar a inauguração da primeira escola para Surdos no país em 1857, com o nome de Instituto Nacional de Surdos Mudos do Rio de Janeiro, atual INES-Instituto Nacional de Educação de Surdos. http://www.feneis.org.br/page/diadosurdo.asp Acesso em 08/08/08 http://aacpdappls.net.ms.gov.br/appls/legislacao/secoge/govato.nsf/1b758e65922af3e904256b220050342a/74f8e15bb18cab5f04256c5d00498b23?OpenDocument&Highlight=2,Legenda http://www.feneis.org.br/ http://www.feneis.org.br/page/diadosurdo.asp
Compartilhar