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Sujeito de direito no Ius Romano

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Sujeito de direito no Ius Romano 
Sílvio de Salvo Venosa 
Direito Civil - Parte Geral 
 
۩. Pessoa Natural 
 
O Direito regula e ordena a sociedade. Não existe sociedade 
sem Direito, não existe Direito sem sociedade. 
A sociedade é composta de pessoas. São essas pessoas que a 
constituem. Os animais e as coisas podem ser objeto de Direito, mas 
nunca serão sujeitos de Direito, atributo exclusivo da pessoa. 
O estudo do Direito deve começar pelo conhecimento das 
pessoas, os sujeitos de direito, porque são elas que se relacionam dentro 
da sociedade. Vimos que um homem só em uma ilha deserta não está 
subordinado a uma ordem jurídica. No momento em que aparece um 
segundo homem nessa ilha, passam a existir relações jurídicas, direitos e 
obrigações que os atam, que serão os sujeitos da relação jurídica. 
Portanto, em qualquer instituto jurídico que se estude, em 
qualquer situação jurídica, deve-se partir de um ponto fundamental, 
questionando-se: qual é a relação jurídica existente? Quem faz parte 
dessa relação jurídica? Quais são os sujeitos de direito dessa relação? O 
homem é a destinação de todas as coisas no campo do Direito. 
A palavra persona no latim significa máscara de teatro, ou em 
sentido figurado, o próprio papel atribuído a um ator, isto porque na 
Antigüidade os atores adaptavam uma máscara ao rosto, com um 
dispositivo especial que permitia emitir a voz. Pela evolução de sentido, o 
termo pessoa passou a representar o próprio sujeito de direito nas 
relações jurídicas, como se todos nós fôssemos atores a representar um 
papel dentro da sociedade. 
O fato é que em nosso conhecimento vulgar designamos 
pessoa a todo ser humano. No sentido jurídico, pessoa é o ente suscetível 
de direitos e obrigações. 
No direito moderno, consideram-se pessoas tanto o homem, 
isoladamente, como as entidades personificadas, isto é, certos grupos 
sociais que se denominam pessoas jurídicas; os romanos levaram muito 
tempo para conceber tais pessoas como entidades diversas de seus 
componentes, isto é, as pessoas humanas que no campo jurídico hoje 
denominamos pessoas físicas ou pessoas naturais. 
Os romanos não possuíam termo específico para designar os 
sujeitos de direito, pois persona é usado nos textos com a significação de 
ser humano em geral, aplicando-se também aos escravos que não eram 
sujeitos da relação jurídica; eram considerados coisas (res). 
Portanto, a personalidade, conjunto de atributos jurídicos ou 
aptidões, no Direito Romano e em todas as civilizações antigas, não era 
atributo de todo ser humano. A personalidade era considerada privilégio 
que exigia certas condições. 
Pelo art. 2o do Código Civil de 1916, todo homem é capaz de 
direitos e obrigações na ordem civil. Ou, no novo Código: "Toda pessoa é 
capaz de direitos e deveres na ordem civil." Anterior redação do Projeto 
do Código Civil de 2002, levando em consideração a absoluta igualdade 
de direitos das pessoas na Constituição atual, substituiu a palavra homem 
por ser humano (art. 1o). Essa alteração era meramente cosmética, pois 
sempre se entendeu que a referência a Homem, genericamente, diz 
respeito a toda a humanidade. 
Basta para tanto que o homem tenha nascido com vida (art. 2o; 
antigo, art. 4o do Código Civil) para que se lhe atribua personalidade, 
passando a ser sujeito de direito. Mesmo o nascituro, isto é, aquele 
concebido, mas ainda não nascido, apesar de ainda não ter 
personalidade,1 como veremos, já terá, em nosso direito positivo, 
resguardados seus direitos. 
Sabe-se que no Direito Romano os textos aludem à forma 
humana. Quem não tivesse forma humana não era considerado ser 
humano; mas os antigos romanos não descreviam o que era forma 
humana. Acreditavam na possibilidade de alguém nascer de mulher com 
alguma característica de animal e não consideravam humanos os que 
nascessem com deformações congênitas, tais como a acefalia (ausência 
de cabeça), ausência de membros. No entanto, os romanos já protegiam 
os direitos do nascituro. 
Personalidade jurídica, pois, deve ser entendida como a aptidão 
para adquirir direitos e contrair obrigações. A capacidade jurídica dá a 
extensão da personalidade, pois, à medida que nos aprofundarmos nos 
conceitos, veremos que pode haver capacidade relativa a certos atos da 
vida civil, enquanto a personalidade é terminologia genérica. 
Nesse diapasão, distingue-se a capacidade de direito ou 
jurídica, aquela que gera a aptidão para exercer direitos e contrair 
obrigações da capacidade de fato, que é a aptidão "pessoal" para praticar 
atos com efeitos jurídicos. Exemplo: o homem maior de 18 anos entre nós 
(maior de 21 anos no Código de 1916), na plenitude de sua capacidade 
mental, tem ambas as capacidades, a de direito e a de fato, pode ser 
sujeito de direito, podendo praticar pessoalmente atos da vida civil; já o 
alienado mental, interdito por decisão judicial, não deixa de ter 
personalidade, como ser humano que é, possuindo capacidade jurídica, 
podendo figurar como sujeito de direito, porém necessita de que alguém, 
por ele, exercite a capacidade de fato que não possui, por lhe faltar o 
devido discernimento. Seus atos da vida civil são praticados por curador. 
Após essas noções introdutórias, vejamos como os romanos 
encaravam o problema da capacidade. 
 
۩. Homem sujeito de Direito - Status Libertatis 
 
No Direito Romano, faltavam noções para qualificar as formas 
de capacidade. Não possuíam termos gerais para qualificar a capacidade 
de direito ou a capacidade de fato. Entendia-se que o indivíduo possuía 
certa aptidão para cada ato determinado de sua vida civil, com termos 
específicos, como o commercium, em relação às atividades que 
envolviam direitos patrimoniais; o connubium, que se referia à capacidade 
de contrair matrimônio pelo ius civile; o testamenti factio, referente à 
capacidade de fazer testamento; o ius sufragii, que era o direito de votar 
nos comícios e o ius honorum, o direito de poder ser investido em uma 
das magistraturas romanas, por exemplo. 
Os homens livres distinguiam-se dos escravos. 
No Direito Romano, a princípio, eram necessárias duas 
condições para que o ser humano adquirisse personalidade jurídica, no 
sentido em que conhecemos o instituto modernamente: que fosse livre e 
cidadão romano. 
Os romanos distinguiam três status dentro de sua sociedade. 
Entende-se como status o conjunto de atributos de uma posição que o 
indivíduo ocupava em sua condição de ser livre ou escravo (status 
libertatis); em sua condição de cidadão romano (status civitatis) e em sua 
condição familiar (status familiae). Esses estados podiam ser alterados, 
com a perda total ou parcial por meio da capitis deminutio, como veremos 
adiante. 
Entendia-se como homem livre aquele que não pertencia a 
outrem. A noção do status libertatis, portanto, não se referia à liberdade 
civil ou à liberdade física. 
O estado de homem livre adquire-se ou pelo nascimento ou por 
ato posterior ao nascimento. Quando o pai e a mãe eram livres e a 
criança nascesse de seu casamento legítimo, passava a ser livre desde o 
momento do nascimento. Posteriormente, admitiu-se que, se a mãe 
tivesse sido livre durante qualquer época da gestação, a criança nasceria 
livre. 
Após o nascimento, a liberdade poderia ser adquirida pela 
alforria, por meio de vários modos permitidos pela lei ou pela prescrição, 
quando um escravo gozasse, de boa-fé, da posse da liberdade, durante 
10 ou 20 anos (Cuq, 1928:78). 
Entre os homens livres, distinguem-se os ingenui, os nascidos 
de livre estirpe e que jamais foram escravos, e os liberti, aqueles que 
nasceram ou caíram em estado de servidão e que conseguiram, 
posteriormente, a liberdade. 
A perda da liberdade denominava-se capitis deminutio maxima 
e implicava a perda da capacidade jurídica. 
O ingênuo (ingenuus) é a pessoa nascida livre e que jamais 
deixou de sê-lo. Pouco importava se seu pai fosseingênuo ou liberto. A 
ingenuitas era a condição de o homem ser livre. 
Os ingênuos podiam ser cidadãos romanos, latinos ou peregrinos 
(estrangeiros). Quando cidadão romano (status civitatis), o ingênuo 
possuía todos os direitos dessa condição. Os ingênuos latinos ou 
peregrinos sofriam restrições no estado civil. 
A ingenuitas era considerada a mais alta situação social. 
Os libertos eram aqueles que haviam sido escravos e haviam 
adquirido a liberdade. Chamavam-se assim também os filhos dos libertos. 
Justiniano, após certa evolução, concedeu a ingenuitas a todos os 
libertos, desaparecendo as diferenças entre ingênuos e libertos. 
 
۩. Escravidão 
 
Em Roma, como em todos os povos da Antigüidade, a 
escravidão era normalmente aceita como instituição. Os escravos eram 
de várias categorias e geralmente bem tratados pelos senhores; muitos 
gozavam de benefícios que os aproximavam bastante dos homens livres. 
Nas classes inferiores, eram comuns os casamentos de 
escravos com pessoas livres. 
Os escravos, na realidade, sustentavam a economia do 
Império, desempenhando as mais diversas funções, desde as domésticas 
até as agrícolas, trabalhando em minas e como escribas. 
Perante o ius civile, o escravo está na posição de coisa (res), 
sendo, portanto, suscetível de qualquer transação comercial. Matar 
escravo equivalia a destruir coisa alheia. Por influência de doutrinas 
filosóficas gregas, aos poucos reconheceu-se que o escravo é homem. 
A origem da escravidão em Roma deflui de três aspectos, 
basicamente: nasce escravo o filho de mulher que é escrava no momento 
do parto, qualquer que seja a condição do pai; pelo direito das gentes 
torna-se escravo o inimigo feito prisioneiro (assim também o cidadão 
romano, se feito prisioneiro no estrangeiro; retornando à pátria readquiria 
a condição de homem livre) e pelas várias formas do antigo ius civile. 
Eram muitas as formas do ius civile para reduzir alguém à 
condição de escravo, se bem que numericamente os escravos dessa 
categoria fossem poucos em relação às outras origens. Por exemplo, o 
que se recusava a servir no exército, ou seja, o renitente ao recrutamento, 
tornava-se escravo (indelectus), assim também aquele que se subtraísse 
às obrigações do censo (incensus) ou o devedor insolvente; este poderia 
ser vendido como escravo além do rio Tibre (trans Tiberim). 
A escravidão termina com a manumissão (manumissio), o ato 
de alforria do escravo. Havia diversas formas de manumissão. 
Entre as do antigo ius civile podem ser mencionadas a vindicta, 
que se verificava perante o magistrado (cônsul, pretor, governador de 
Província). Deveriam estar presentes o senhor e o escravo, bem como 
uma terceira pessoa, o adsertor libertatis. Quando o escravo não possuía 
personalidade jurídica, o adsertor representava-o. Este tocava o escravo 
com uma varinha (vindicta), símbolo da propriedade, demonstrando o 
desejo de conseguir a liberdade, e pronunciava palavras solenes. O 
senhor (dominus) não contradizia essa declaração, pois já concordara 
previamente, e o magistrado declarava a manumissão por meio da 
addictio libertatis. Com o tempo, desaparece a figura do adsertor, 
bastando a aprovação do senhor e atividade do magistrado (Meira, 
s.d.:77). 
O ius civile possuía outras formas de alforria. Uma delas era 
pelo censo manumissio censu. Só poderiam constar do censo os homens 
livres. Se o senhor inscrevesse o escravo no censo era porque desejava 
libertá-lo. Também pelo testamento do senhor a alforria poderia ficar 
estabelecida. 
Essas formas de direito civil variavam de época para época 
dentro da evolução do Direito Romano. 
O direito pretoriano criou outros modos de manumissão, mais 
simples, menos solenes, como a inter amicos, por simples declaração de 
vontade do senhor; a per mensam, caso em que o senhor se sentava com 
o escravo à mesa, em um banquete, e a manumissio per epistulam, 
quando o senhor escrevia ao escravo ausente manifestando seu desejo 
de libertá-lo. 
Na época cristã, após Constantino, surge a manumissio in 
sacrosanctis, quando o senhor declarava na igreja, perante os fiéis, a 
libertação do escravo. 
As formas mais constantes e numerosas de manumissão eram 
por testamento (Gaudemet, 1967:559). Na República, ocorreu o maior 
número de alforrias. Como os escravos começassem posteriormente a 
rarear e em virtude da perda do antigo formalismo nas manumissões, 
essa mão-de-obra foi sensivelmente reduzida, tanto que no início do 
Império houve necessidade de reduzir a possibilidade de manumitir. 
Foram promulgadas várias leis a fim de coibir excessos. 
 
۩. Condição de liberto - patronato 
 
Os vínculos do liberto persistiam com seu antigo senhor, o 
patronus, e ele tomava o nome gentílico do patrão, o que marcava seu 
ingresso jurídico na família do ex-senhor. 
Ficava o liberto sujeito ao obsequium com relação ao patrono. 
Era o dever de respeito e reverência. Uma obrigação de caráter social, 
que se manifestava juridicamente pela proibição de o liberto chamar o 
patrono a Juízo para qualquer ação judicial, sem permissão do 
magistrado. Em tempos arcaicos, esse dever representava um meio-termo 
entre a liberdade e a escravidão, já que o patrão poderia usar da manus 
injectio contra o liberto, aprisionando-o, caso faltasse com suas 
obrigações, podendo até condená-lo à morte, em caso de falta grave. 
Em épocas mais recentes, os deveres do liberto são 
abrandados. Compreendem dever de deferência com relação ao patrão. 
Em caso de ingratidão do liberto, o patrono poderia obter a 
revogação do benefício por meio da revocatio in servitutem. 
Enquanto o obsequium importava em dever geral de 
deferência, havia uma obrigação mais concreta para o liberto que se 
denominava operae. Eram serviços a que o escravo se obrigava por meio 
de um compromisso, consubstanciado em juramento, já que o escravo 
não podia civilmente se obrigar. Eram tarefas que o liberto se 
comprometia a fazer para o patronus, como o exercício de uma profissão 
ou de um trabalho específico. Como a promessa feita pelo escravo não 
era jurídica, prometia contratar com o patrão após libertado. Muitas, 
porém, eram as causas de isenção das operae, mormente quando haviam 
sido impostas tão-só para agravar a situação do liberto. 
Sob a denominação de bona, entendia-se que o patrão possuía 
direito sucessório no caso de morte do liberto, no tocante a seus bens, 
como o dever de o liberto prestar assistência (alimentos) ao patrão, em 
caso de necessidade. Esse direito vinha já da Lei das XII Tábuas. Os 
descendentes do patrono permaneciam ingênuos, isto é, livres das 
obrigações do patrono. 
O patronato sofre grandes modificações na época de 
Justiniano: desde que o manumitente renunciasse a tais direitos, 
deixariam de existir. O imperador também poderia conceder a 
ingenuidade, desde que o patrono não se opusesse ou se concedesse ao 
liberto um anel de ouro próprio dos cavaleiros. 
 
۩. Status Civitatis 
 
A cidadania romana é essencial para a capacidade jurídica, que 
resulta de dispositivos do ius civile. 
Os homens livres podiam ser cidadãos (cives) ou estrangeiros 
(peregrini). As normas do ius civile eram reservadas apenas aos cidadãos 
romanos; os estrangeiros só podiam praticar atos do ius gentium. 
Os libertos, para os fins do status civitatis, distinguem-se em: 
cives romani, libertados pelo ius civile; latini iuniani, antigos habitantes do 
Lácio, escravos outrora, que haviam adquirido o direito de comerciar; sua 
capacidade jurídica era limitada, e os dediticci, originalmente estrangeiros 
subjugados que aceitavam a soberania romana. Estes últimos não podiam 
em nenhum caso obter a cidadania romana. 
No ano de 212, o Imperador Caracala, pela Constitutio 
Antoniana, estendeu a cidadania a todos os habitantes do Império, como 
forma de poder controlá-los melhor. 
A perda da cidadania romana chamava-se Capitis Deminutio 
Media.Perdia tal cidadania o cidadão que fosse feito escravo, se se 
naturalizasse cidadão de outro Estado, se se tornasse membro de uma 
colônia latina ou se fosse condenado a certas penas perpétuas, como, por 
exemplo, a deportação. 
 
۩. Status Familiae 
 
No Direito Romano o estado familiar da pessoa é muito 
importante para determinar sua capacidade jurídica no campo de sua 
atuação no direito privado. 
Eram dois os sentidos empregados para o termo família para os 
juristas romanos. Em sentido amplo, abrangia o conjunto de pessoas que 
descendiam de um parente comum e sob cujo poder estavam caso ele 
estivesse vivo. Em sentido restrito, para caracterizar o próprio status 
familiae: de um lado, existe o pater familias, que não está subordinado a 
nenhum ascendente vivo masculino e, de outro, as filii familias, que 
abrangem todas as demais pessoas que estavam sob a potestas do pater. 
Daí entender-se como sui iuris a pessoa que não possuía 
ascendentes masculinos e que estava livre do pátrio poder. É o pater 
familias. A idade é irrelevante; um menor poderia ter essa qualidade. 
Eram alieni iuris todas as demais pessoas sujeitas ao poder do pater; não 
tinham direitos nem podiam adquiri-los para si. 
Com a morte do pater familias, sua família dividia-se em tantas 
quantas fossem as pessoas do sexo masculino. 
As pessoas unidas pelo vínculo familiar possuíam parentesco 
entre si. No Direito Romano, temos de distinguir duas espécies de 
parentesco: 
"o agnatício (agnatio = agnação) e o cognatício (cognatio = 
cognação). O parentesco agnatício é o que se transmite apenas pelos 
homens; o cognatício é o que se propaga pelo sangue e, em 
conseqüência, tanto por via masculina, quanto por via feminina. Um 
exemplo para esclarecer essa diferença. Públio Cornélio Scipião e 
Cornélia eram irmãos, filhos de Scipião, O Africano; ambos se casaram e 
tiveram descendência (os de Cornélia foram os célebres Tibério e Caio 
Graco); ora, o filho de Públio Cornélio Scipião era agnado do avô, Scipião, 
O Africano; já os filhos de Cornélio eram apenas cognados dele, pois 
entre Tibério e Caio Graco de um lado, e Scipião, O Africano, de outro, 
havia uma mulher - Cornélia - que não transmitia o parentesco agnatício" 
(Alves, 1971, v. 1:123). 
Com Justiniano é abolida a diferença, passando o parentesco a 
ser tão-só o de sangue, o cognatício. 
As mulheres eram também consideradas alieni iuris e 
pertenciam à família do marido ou do pai, enquanto não se casassem. A 
mulher viúva tornava-se sui iuris, mas com direitos restritos, e sua 
situação era indefinida. 
Na época clássica do direito, o poder absoluto do pater foi 
bastante atenuado, principalmente no tocante ao filius familiae e aos 
escravos. 
Certas pessoas capazes de direito eram incapazes de fato, 
como era o caso dos menores de 25 anos no Baixo Império. A idade 
também era levada em consideração para certos atos, como o de fazer 
testamento. 
A perda do estado de família denominava-se Capitis Deminutio 
Minima, quando uma pessoa sui iuris se tornasse alieni iuris, quando um 
filius familiae passasse à guarda de um terceiro, por exemplo, ou quando 
a pessoa, por qualquer modo, se transferisse de família ou se ausentasse 
dela. 
 
Jurisprudência atual 
 
1 "Ilegitimidade de parte - Ativa - Inocorrência - Investigação de 
paternidade - Nascituro - Representação processual pela mãe - 
Personalidade jurídica - Condição de existência - Nascimento com vida - 
Irrelevância - Capacidade de estar em juízo existente - Proteção ao 
nascimento e à gestante, ademais, expressamente prevista na Lei 
8.065/90 - Recurso não provido. Ao nascituro assiste capacidade para ser 
parte. O nascimento com vida investe o infante na titularidade da 
pretensão de direito material, até então apenas uma expectativa 
resguardada" (TJSP - Ap. Cível 193.648-1, 14-9-93, Rel. Renan Lotufo). 
"Ilegitimidade de parte - Ressarcimento por gravidez indesejada 
- Legitimidade da mãe para pleitear alimentos para o nascituro - Aplicação 
do artigo 4o do Código Civil - Recurso não provido" (TJSP - AI 119.074-4, 
20-3-2000, 8a Câmara de Direito Privado - Rel. Mattos Faria). 
"Ação de indenização - Gravidez decorrente de uso de 
anticoncepcional falso - Alimentos - Legitimidade ativa dos pais para 
pleitear indenização em nome do nascituro. Em podendo a obrigação 
decorrente do direito a alimentos começar antes do nascimento e depois 
da concepção, têm os pais, mesmo tratando-se de direito personalíssimo, 
legitimidade para pleiteá-los pelo nascituro, que será indiretamente 
beneficiado, enquanto se nutrir do sangue de sua mãe, e diretamente 
após seu nascimento, pois já que o Código Civil coloca a salvo os direitos 
do nascituro, e não dispõe este ainda de personalidade civil, os 
legitimados para representá-lo desde a gestação seriam seus pais" 
(TAMG - AI Acórdão 0321247-9, 20-12-2000, 3a Câmara Cível - Rel. 
Duarte de Paula).

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