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A RELAÇÃO ENTRE DIREITO, ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: UMA VISÃO CRÍTICA Professor: Dr. Ivan Dias da Motta DIREÇÃO Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site shutterstock.com Diretoria Executiva Pedagógica Janes Fidelis Tomelin Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Head de Projetos Educacionais Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Projeto Gráfico Thayla Guimarães Designer Educacional Giovana Vieira Cardoso Editoração Victor Augusto Thomazini Ilustração Marcelo Goto C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; MOTTA, Ivan Dias da. Direito e Desenvolvimento. Ivan Dias da Motta. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. 40 p. “Pós-graduação Universo - EaD”. 1. Desenvolvimento econômico. 2. Economia. 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 330 CIP - NBR 12899 - AACR/2 01 02 03 04 sumário 06| A RELAÇÃO ENTRE DIREITO E ECONOMIA 09| A PASSAGEM DO ESTADO LIBERAL PARA O ESTADO SOCIAL E, FINALMENTE, PARA O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 13| O DIREITO AO DESENVOLVIMENTO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 24| A FUNÇÃO DA ECONOMIA NA CONSTITUÇÃO FEDERAL DE 1988 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Compreender a relação e participação do Direito para o desenvolvimento de uma economia que proporcione uma sociedade mais justa e equilibrada. • Apresentar e compreender a importância do Direito como elemento de participação estruturante nas questões de ordem econômica e desenvol- vimentista, e não apenas como elemento normativo. • Aprofundar no estudo acerca do direito ao desenvolvimento previsto na Constituição de 1988, bem como a sua importância. • Compreender a função do desenvolvimento econômico a partir da dispo- sição normativa presente na Constituição de 1988. PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • A relação entre Direito e Economia • A passagem do Estado Liberal para o Estado Social e, finalmente, para o Estado Democrático de Direito • O Direito ao desenvolvimento da Constituição Federal de 1988 • A função da economia na Constituição Federal de 1988 A RELAÇÃO ENTRE DIREITO, ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: UMA VISÃO CRÍTICA INTRODUÇÃO introdução Para uma compressão melhor sobre a ideia central que move e motiva a existência deste Programa de Pós-Graduação, será necessário aprofundar o conhecimen- to da relação entre Direito, Economia e Desenvolvimento. Se na sua essência, a economia se preocupa em gerenciar a escassez, esta- belecendo diretrizes e ações para superar estes momentos, mas reconhecendo que a abundância se caracteriza muito mais como momentos de passagem, ela auxilia no gerenciamento da abundância para amenizar os momentos aonde a abundância deixará de existir; mas no campo de desenvolvimento as relações nem sempre são claras, como também nem sempre são compartilhadas por todos os atores que as compõem. Desenvolvimento econômico nem sempre significa distribuição de riqueza e amenização das desigualdades sociais, em função de que, na linha de visada da própria lógica capitalista, a função do capital é acumular capital e, também, concentrar capital, o que fortalece a pequena classe seleta que o detém, afinal, é mais fácil negociar condições de aplicação e desenvolvimento do capital com poucas pessoas do que ter que compartilhar esse poder com um grande número de pessoas. Quando se trata de poder, quanto maior for a concentra- ção, maior serão os riscos, bem como maior será a liberdade de enfrentar as diversidades. Pode ser perverso, mas é a lógica capitalista. No entanto, como forma de enfrentar, amenizar e evitar complicações, na maioria das vezes, irremediáveis, o Direito se apresenta como um elemento im- portante, por ter ferramentas capazes de, se necessário for, deslocar as questões do campo meramente normativo-consequencial, para o campo do diálogo, capaz de superar a norma, não no sentido de desprezá-la, mas de orientar para não se ter problemas com ela e, ao mesmo tempo, buscar uma solução mais ade- quada para os inevitáveis conflitos de ordem social, que caracterizam a imensa maioria das ações pertinentes ao campo econômico e do desenvolvimento. Pós-Universo 6 A RELAÇÃO ENTRE direito e economia Pós-Universo 7 A relação entre Direito e Economia e, como consequência, o Desenvolvimento é mais evidente do que se pode pensar, estabelecendo uma relação intrínseca entre eles, inclusive com a própria existência humana, até porque, quando se fala em Direito, necessariamente, tratamos de uma relação entre seres humanos, uma relação de afe- tação entre pessoas que convivem em uma sociedade em que existem parâmetros delimitadores e, ao mesmo tempo, garantidores de condições mínimas e razoáveis para a convivência em sociedade. É lógico que essas condições mínimas e razoáveis são construções datadas dentro de um tempo histórico, portanto, não são as mesmas em todos os períodos históricos. O Direito se refere sempre à pretensão de posse sobre alguma coisa, ainda que essa coisa possa não ser concreta, palpável; existem casos em que o Direito estabelece valores como forma de restituir o direito de alguém, como é o caso das indeniza- ções pela ofensa à honra e à moral, sendo assim, a indenização em si estabelece uma relação de ordem econômica. O mesmo poderia se verificar em outras situações, como o pátrio poder de um pai sobre o seu filho, que pertence ao pai, enquanto este tiver condições de propi- ciar ao filho uma vida minimante digna, pois, embora um filho careça de amor, são necessárias condições econômicas para suprir algumas de suas necessidades mais fundamentais, como alimentação e vestimentas. Sendo assim, se o Direito na relação com o indivíduo tem uma forte ligação eco- nômica, há de se considerar, em uma sociedade que deseja ser organizada, mais justa e solidária, uma relação mais ampla entre Direito e Economia, com vistas a um Desenvolvimento, situando essa relação no campo do desenvolvimento econômi- co, pois, independentemente da ideologia capitalista ou, ainda, em menor zona de influência, de correntes ideológicas que se oponham ao capitalismo, uma coisa é certa: sem desenvolvimento econômico não pode existir distribuição de riquezas e correções das desigualdades historicamente construídas. Contudo, é preciso compreender que, na realidade, o Direito não cria normas, regras, pois estas, necessariamente, originam-se a partir da vontade do legislador, e o Direito apenas fornece a técnica e o instrumental dogmático para que elas tenham clareza e produzam as eficácias e objetivos quando da sua criação. Nesse sentido, o Direito não legisla - e nem o poderia - mas apenas orienta, para, em seguida, quando da elaboração das leis, fornecer um parâmetro balizador para que as decisões possam ser tomadas por todos aqueles que dessa norma necessitam. Pós-Universo 8 A perspectiva adotada nessa linha de visa não é o Direito enquanto poder judi- ciário, tampouco o Direito enquanto campo normativo, mas o Direito a partir de uma outra dimensão, o Direito como Instituição Social, na mesma linha de pensamento desenvolvido por John Rawls, na obra Teoria da Justiça, quando afirma o importante papel que uma Instituição Social temdentro do contexto de construção e manuten- ção de uma sociedade mais justa. Considerando o Direito a partir de um constructo social, ele também assume a função de um agente de construção e de preservação de todas as formas e meios para que se possa construir uma sociedade mais justa e equilibrada, sendo assim, como uma Instituição Social, e, nessa condição, não extrapola os limites da atuação do Direito, muito pelo contrário, chama o Direito para também ser um dos respon- sáveis para regular o desenvolvimento econômico, que é o objeto desse estudo. Quando do surgimento do Estado Moderno, a regulação econômica não se fazia necessária, pois essa forma de ser do Estado não só dava a ele poderes sobre quase tudo, mas também o direito de quase nada intervir. Nessa época, o processo de globa- lização propriamente dita ainda estava em gestação e a economia ainda se submetia parcialmente às condições estabelecidas por esse Estado. Foi o amadurecimento da globalização, a descentralização da economia e demais atividades, assim como as profundas mudanças das relações de produção, o prevalecimento do Estado Liberal na sua mais pura forma e mudanças na estrutura social que fizeram o embrião da re- gulação da economia manifestar suas reais possibilidades. Sendo assim, “regulação constitucional da atividade econômica é um aconteci- mento histórico relativamente recente, associado que está à passagem do Estado Liberal ao Estado Social ou, se preferirmos, ao fenômeno da socialização [...]” (COELHO, 2010, p. 1533). Destaca-se que a socialização do Estado, embora tenha sofrido influência dos movimentos de ideologia socialista, mormente de vertente marxista, não se trata de prevalência do chamado socialismo real, mas sim o Estado assumindo aspec- tos de ordem social que não estavam presentes no Estado Liberal. Contudo, não se pode afirmar que o direito relacionado às questões econômicas não estava presente no Estado Liberal, pois era evidente a sua participação no campo privado, como na esfera do Direito Civil e mesmo nas legislações trabalhistas embrionárias, mas não o estava no sentido preventivo e propriamente coletivo. Pós-Universo 9 A PASSAGEM DO ESTADO LIBERAL para o estado democrático de direito para o estado social e, finalmente, Pós-Universo 10 A passagem do Estado Liberal ao Estado Social pode ser simbolizada pela mudança de paradigmas do primeiro, que se preocupava apenas com a organização e proteção do espaço territorial, pouco ou nada realizado em termos de intervenção social, para o do seu segundo momento, em que o Estado Social passa a servir como um escudo de contenção e, ao mesmo tempo, interventor, sempre que necessário, da exploração ca- pitalista selvagem sobre as populações de menor poder de reação e de enfrentamento dos problemas que naturalmente surgem a partir dessa forma de ser do capitalismo. No Brasil, a relação entre direito e desenvolvimento econômico fica mais evi- dente e direta a partir da Constituição Federal de 1988, quando, então, o Brasil se alinha aos países que aderiram ao novo modelo constitucional pós-Segunda Guerra Mundial, embora tardiamente, trazendo para a sociedade brasileira uma Constituição de forte cunho social. Nesse sentido, o modelo brasileiro tratou desse problema, di- vidindo-o em três temas básicos para a questão do desenvolvimento econômico no século XX, por meio do Princípio da Função Social da Propriedade, Princípio da Livre Concorrência e do Princípio da Defesa do Consumidor. A primeira questão aqui é definir o significado de Princípios para o Direito, oriundo da Filosofia; sendo assim, a Função Social da Propriedade caracteriza-se como “ [...] um princípio jurídico e não como uma regra de direito, a sua imple- mentação insere-se no jogo concertado de complementações e restrições recíprocas em que consiste o processo de aplicação/concretização dessas pautas axiológicas – por natureza abertas, indeterminadas e plurissignifica- tivas – enquanto mandatos de otimização (COELHO, 2010, p. 1536). Nesse sentido e com forte influência das doutrinas cristãs e das diversas formas de so- cialismo que se manifestam de forma mais intensa na Europa e, depois, nas Américas, toda propriedade precisa ter uma função social, ou seja, produzir algo que possa - ainda que indiretamente - ser benéfico à toda a sociedade. No Estado Social, mesmo que o direito de propriedade privada seja considerado um “bem sagrado”, o é desde que também possa atender questões de ordem social, por exemplo, uma grande extensão de terreno sem construção alguma ou, ainda, com uma construção que se encontra inativa e, de certa forma, dificulta o desenvolvimento de uma determinada área urbana, pode ser considerada como uma propriedade que não cumpre sua função social. O capital precisa gerar benefícios sociais, caso contrário, retira da sociedade a sua fonte de acumulação, mas lhe retorna quase nada, a não ser a forma de consumo. Pós-Universo 11 É bom esclarecer que a função social da propriedade não retira de quem tem a posse o direito de ser indenizado pelo valor justo do bem que, sob determinação judicial, está sendo-lhe retirado a posse e transferida para o Estado ou para quem a justiça determinar. Quanto ao Princípio da Livre Concorrência, está associado à livre iniciativa que, em um Estado Democrático de Direito, as pessoas têm de desenvolver suas poten- cialidades e vontades, desde que não entrem em colisão com a legislação existente. A livre iniciativa nada mais é do que a projeção da liberdade individual na “produção, circulação e distribuição das riquezas” (REALE, 2002, p. 199), as- segurando que, desde que o faça de forma lícita, terá direito a colher os respectivos benefícios dessa sua empreitada. Fonte: Reale (2002). atenção O exercício da livre iniciativa está associado ao da livre concorrência que “ tem caráter instrumental, significando o ‘princípio econômico’ segundo o qual a fixação de preços das mercadorias e serviços não deve resultar de atos cogentes da autoridade administrativa, mas sim do livre jogo das forças em disputa de clientela na economia de mercado (COELHO, 2010, p. 1537). Entretanto, a livre concorrência não significa que as pessoas e empresas possam exercer todas as práticas possíveis de mercado, mas tão e somente aquelas que permitam a continuação da livre concorrência como uma forma salutar de equilibrar os preços e ofe- recer às pessoas a possibilidade de escolher qual produto ou serviço adquirir. Exemplo mais evidente e corriqueiro em nosso dia a dia é com o cartel de preços de combus- tíveis, o que impossibilita a livre concorrência para se constituir em prática ilícita. Por último, o Princípio da Defesa do Consumidor. Considerando que, de forma direta, é o consumidor o grande agente de realização e, também, a quem se destina o desenvolvimento econômico, a Constituição Federal de 1988 resolveu tutelar de forma especial o consumidor - que é o agente econômico mais vulnerável das relações de consumo, principalmente atuando de forma direta, por meio das Procuradorias de Defesa do Consumidor na defesa de seus direitos. Pós-Universo 12 É notório que, no sistema capitalista vigente, a teoria de Adam Smith da mão in- visível da economia não funciona tão bem. Levando em consideração que a natureza humana mais se aproxima do homem hobesiano, foi necessária uma ação de carac- terística protetiva e interventiva na ordem econômica; sendo assim, “ [...] o direito do consumidor é exteriorização do reequilíbrio da relação de consumo, não somente pela limitação ou eliminação de determinadas prá- ticas no mercado, mas também pelo fortalecimento do consumidor em detrimento do fornecedor (MORAES, 2010, p. 123). Portanto, é possível inferir que o Estado brasileiro, a partir da Constituição Federal de 1988, procurou dar aos pilares constituintes do desenvolvimento econômico um viés que possibilite um acompanhamento e aintervenção no campo jurídico, em momentos em que se observam anomalias na economia. Pós-Universo 13 O DIREITO AO constituição federal de 1988 desenvolvimento da Pós-Universo 14 Na Constituição Federal de 1988, o termo desenvolvimento, de forma geral, é apre- sentado por 48 vezes, embora em nem todas apareçam como desenvolvimento econômico, é possível, por inferência, que mesmo quando se trata de questões per- tinentes ao desenvolvimento da pessoa humana, o alicerce para tal se encontre em condições econômicas, para que o desenvolvimento econômico venha a aconte- cer, e, também, pode apresentar-se sob a condição do desenvolvimento do Estado e no campo da iniciativa privada. No Preâmbulo da Constituição Federal, o legislador originário nos expõe os princí- pios que a norteiam. Embora os princípios não sejam normas jurídicas propriamente ditas, no campo do Direito, apresentam-se como meta-direitos que, ainda que sejam abstratos, nos orientam a buscar condições superiores àquelas em que vivemos. Assim, encontra-se posto na referida Constituição: Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegu- rar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supre- mos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL (BRASIL, 1988, grifo nosso). quadro resumo É claro e objetivo o legislador originário, quando nos apresenta que a Constituição Federal deve “assegurar o exercício do desenvolvimento”, apresentando-o no seu aspecto geral, ou seja, econômico, social, individual, coletivo, humano e outros, pois é evidente que, sem desenvolvimento associado em todas as suas esferas, não podemos esperar muito de uma sociedade. Sendo assim, a perspectiva que a Constituição Federal assume com relação ao desenvolvimento é a de permitir a pro- moção da condição humana. Pós-Universo 15 A Constituição Federal de 1988 tutela o desenvolvimento econômico e o coloca sobre a proteção do Direito, desde que este não signifique apenas aquele desenvolvi- mento que permita o acúmulo de bens e capitais nas mãos de uma pequena parcela da população, portanto, é preciso compreender, sob essa perspectiva e segundo Rambalducci (2014, p. 87), que: “ [...] o Desenvolvimento Econômico, entendido em sua acepção mais ampla, deveria trazer em sua definição a expressão “tornar feliz a humanidade”, o que permitiria suprimir a infindável lista de adjetivos, ao mesmo tempo que exporia a pretensão penúltima de seu alcance. Se o preâmbulo não tem poder de norma, de determinar; os demais artigos que compõem a Constituição Federal assumem essa função, neste sentido, tem-se que: “ Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; (BRASIL, 1988). Embora somente o inciso III venha a se referir de forma direta à questão do desen- volvimento, é possível inferir, no século XXI e com toda a tecnologia e conhecimento acessível a maior parte da população, que os outros dois incisos - o I e o III - só poderão ser realizados no seu maior grau de extensão – de forma que os excluídos sejam mi- norias que não produzam grandes interferências no conjunto dos aspectos gerais –, quando o desenvolvimento econômico for atingido e, a partir desse momento, exis- tirem uma distribuição justa de riqueza e a oferta de oportunidades que possibilitem às pessoas construir suas vidas de forma autônoma à participação direta do Estado. A questão da erradicação da pobreza e a redução das desigualdades sociais não se faz apenas de forma retórica e, tampouco, com base apenas em ideologias de pro- moção humana, é justamente nesse aspecto que corrobora a economia, no sentido de componente fundamental do desenvolvimento econômico. No século XXI, não se pode mais acreditar que questões meramente de ordem metafísica venham a ser Pós-Universo 16 a única esperança de mudanças da estrutura social de problemas que já atravessam longa jornada histórica, portanto, o que se espera do desenvolvimento econômico, tal qual preconizado pela Constituição Federal, é que, com o auxílio do Estado e de todas as Instituições Sociais, dentre as quais, o Direito, trate da questão referente à distribuição de riqueza. Sendo assim, fica evidente que “a questão da distribuição de riqueza é importante demais para ser deixada apenas para economistas, sociólogos e filósofos. Ela interessa a todo mundo, e é melhor que seja assim mesmo” (PIKETTY, 2014, p.10). Nessa mesma linha de raciocínio desenvolvida por Piketty (2014) é que se insere a importância e a necessidade, reforçando a responsabilidade que tem o Direito, en- quanto Instituição Social, de regular a economia, o desenvolvimento econômico e, também, todos os fatores adjacentes e consequentes da existência deles. Para deixar mais evidente a importância do desenvolvimento econômico ao suporte jurídico para a sua existência é que o legislador constitucional originá- rio também insere às questões pertinentes a esse tema na categoria de Direitos e Garantias Fundamentais, mais comumente conhecida como Direitos Fundamentais, que norteiam e determinam um campo vasto do direito contemporâneo brasileiro. Sendo assim, temos que: “ Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabi- lidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que traba- lhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento; [...] XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à proprieda- de das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômi- co do País (BRASIL, 1988, grifos nossos). Pós-Universo 17 Que todos são iguais na forma da lei é mera consequência do poder que tinha a bur- guesia, quando realizou a Revolução Industrial e, depois, a Revolução Francesa como meio de introduzir uma ilusão de igualdade. No entanto, decorrido todo esse tempo e já no século XXI, se a igualdade jurídica é um bem inegociável, as questões pertinentes às desigualdades sociais ainda são tímidas e a maioria fica apenas na retórica do discurso. A desigualdade social, que está associada com o crescimento e desenvolvimen- to econômico, pode ser observada a partir de uma análise da relação da renda per capita, reforçando essa visão, Piketty (2014) demonstra que a desigualdade social é ainda mais acentuada na América do que o centro e a periferia da Europa, pois “O bloco Estados Unidos/Canadá, com mais de 350 milhões de habitantes e 40.000 euros de PIB por habitantes, e a América Latina, com 600 milhões de habitantes e 10.000 euros por habitante, exatamente a média mundial” (PIKETTY, 2014, p. 67). Interpretando os dados, pode-se verificar que a América Latina tem, aproxima- damente, 71,42% a mais de habitantes, mas uma renda per capita 4 vezes inferior à da América do Norte. É de inferência inquestionável - a sociologia nos mostra isso - que onde se tem mais gente com menor poder aquisitivo, o encaminhamento da soluçãoou amenização dos problemas é de grau de dificuldade maior, principalmente quando o desenvolvimento econômico não permite a geração de renda suficiente para o Estado e a população amenizarem esses problemas. Fica evidente que a “lei irá dispor dos meios” e que a “lei assegurará” as condições necessárias ao desenvolvimento na sua mais ampla possibilidade, desde que o fim buscado seja propiciar uma vida melhor para todos os brasileiros. Com essas evidências, ainda que iniciais, fica saliente que, quando se trata de eco- nomia e desenvolvimento, o viés adotado pelo legislador constitucional originário foi o do liberalismo, principalmente no sentido de permitir uma ampla participação de todos os cidadãos na existência não apenas política, mas também econômica e social. No entanto, embora o princípio seja liberal e, nesse sentido, dentro do liberalis- mo clássico, quanto menor a presença do Estado, melhor o será para todos. O Estado brasileiro, por contingências e experiências históricas, é sabedor da importância de uma participação mais efetiva do Estado, assim, no artigo 21, que trata das compe- tências da União, tem-se a seguinte determinação: “ IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do terri- tório e de desenvolvimento econômico e social; Pós-Universo 18 XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos; [...] Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacio- nal (BRASIL, 1988, grifos nossos). Se compete à União estabelecer diretrizes para o desenvolvimento urbano e estabe- lecer condições para o equilíbrio do desenvolvimento, nos remete a visão de que o desenvolvimento em toda a sua acepção deve produzir o bem para a humanidade, está nos pressupostos do chamado liberalismo clássico. Portanto, é também função do Estado brasileiro adotar todos os dispositivos necessários para o desenvolvimento econômico, que permita a existência das demais formas de desenvolvimento, encon- tre as condições necessárias para a sua concretização, tomando sempre o cuidado de ampliar o máximo possível a acessibilidade desse desenvolvimento. É de se notar que uma das características do campo da política é o de sempre estar aberto a mudanças, sejam elas de curto, médio e longo prazo. O embate políti- co se dá pela prevalência dos interesses da maioria, e nem sempre o resultado desse embate se transformará em políticas públicas capazes de produzir as transformações necessárias para o desenvolvimento. Contudo, é da alçada do Direito não a elabo- ração das leis, mas a aplicação delas, estabelecendo parâmetros mínimos na forma de sua interpretação e aplicação, a que se chama segurança jurídica; sendo assim, o Direito assume uma função ímpar, que é a de garantir que, até que a lei não seja mo- dificada, seja aplicada com a menor variação possível para sua interpretação. É da construção de todo e qualquer processo democrático que queira permane- cer vivo e atuante que o Direito, com fundamento na lei, pode oferecer estabilidade nas decisões oriundas da existência da lei, diferente do campo da política. Nesse sentido, o artigo 21, no inciso IX, deixa claro o papel e a responsabilidade da União, enquanto Poder Executivo e representante legítimo do Estado, quanto à possibilidade que pode ser facultativa, mas em momentos emergenciais atua como “dever de fazer” com relação à ordenação do território nacional, aliando este ao de- senvolvimento econômico e social. Pós-Universo 19 Destacando que o Estado não é um mero expectador quando se trata de desen- volvimento econômico, característica do chamado Estado Social, pode agir, quando for o caso, como agente interventivo e gerador de desenvolvimento econômico. Sendo assim, conforme determina a Constituição Federal de 1988, “ Art. 43. Para efeitos administrativos, a União poderá articular sua ação em um mesmo complexo geoeconômico e social, visando o seu desenvolvimen- to e à redução das desigualdades regionais. § 1º - Lei complementar disporá sobre: I - as condições para integração de regiões em desenvolvimento; II - a composição dos organismos regionais que executarão, na forma da lei, os planos regionais, integrantes dos planos nacionais de desenvolvimen- to econômico e social, aprovados juntamente com estes (grifos nossos). Mais uma vez, fica evidente o papel do Estado na correção das desigualdades regio- nais que dificultam o desenvolvimento econômico, ao mesmo tempo em que, sob o aspecto jurídico, a participação do Direito no acompanhamento e fiscalização da execução dessas políticas públicas, principalmente por meio do Ministério Público Federal e Estadual, que, na defesa do interesse público, pode solicitar todos os esclare- cimentos necessários ao cumprimento ou não da realização dessas políticas públicas. O caráter interventivo da União como aquela que agrega o pacto federativo está presente até mesmo na possibilidade de concessão de ordem tributária e fiscal, pre- sente no artigo 151, que apresenta o seguinte teor: “ É vedado à União: I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-e- conômico entre as diferentes regiões do País; (BRASIL, 1988, grifo nosso). Pós-Universo 20 É o estado promotor do desenvolvimento socioeconômico como forma de procurar diminuir as diferenças de ordem regional, assim, ao menos em tese, promover uma melhor integração econômica entre as diversas regiões que compõem o pacto fede- rativo, pois é difícil a existência de um desenvolvimento econômico nacional quando as desigualdades entre algumas regiões se apresentam de forma brutal. Exemplo desse descompasso oriundo, entre outros elementos, de um desenvol- vimento econômico que, no caso do Brasil, não se apresenta de forma uniforme, é a renda per capita do Acre, que é de R$ 11.567,00; a de São Paulo, que é de R$ 30.243,00, e a do Maranhão, que é de R$ 6.888,00 (IBGE, 2015). Dentro dessa perspectiva, a de que existem muitos brasis dentro do Brasil, é que a relação entre Direito e Desenvolvimento Econômico, amparada pela Constituição Federal, se faz necessária, num primeiro momento, como agente regulador e, num segundo momento, como a via considerada a última esperança da maior parte da população mais carente. O Direito como garantidor dos direitos, ainda que esse fato possa gerar um fenô- meno crítico para o nosso modelo político atual, que é o da judicialização da política, tem a função apenas de decidir quem é o culpado ou o inocente, e não julgar cons- truções de ordem social. Existem, até mesmo dentro da Constituição Federal, questões no âmbito da in- tervenção direta da União no campo do desenvolvimento econômico, em que fica evidente a necessidade da aplicação do Direito enquanto norma, e não mais como Instituição Social, do destino de recursos maiores para regiões mais carentes, como: “ Art. 159. A União entregará: [...] c) três por cento, para aplicação em programas de financiamento ao setor produtivo das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, através de suas instituições financeiras de caráter regional, de acordo com os planos regio- nais de desenvolvimento, ficando assegurada ao semi-árido do Nordeste a metade dos recursos destinados à Região, na forma que a lei estabelecer (BRASIL, 1988, grifos nossos). Pós-Universo 21 Ao contrário do que se possa pensar, não se trata de favorecimento a essa região, mas de cumprir um dos princípios que norteiam o pacto federativo, que, na realidade, já se encontrava presente na obra O Federalista, deMadison, Jay e Hamilton, considera- dos pela Ciência Política os fundadores do federalismo moderno, ou seja, o pacto se justifica pela necessidade de fortalecer o todo, ainda que, por momentos de exceção, algumas regiões tenham que receber benefícios maiores do que aquelas regiões que, dado o seu desenvolvimento mais adiantado e acelerado, podem obter outras formas de recursos, que, normalmente, não chegariam a regiões menos desenvolvidas. A questão do desenvolvimento econômico na Constituição Federal se coloca, em determinados momentos, na aplicação de recursos em setores específicos, dando di- retrizes tanto principiológicas como normativas, permitindo a coexistência do Direito enquanto Instituição Social, quanto no poder que deve aplicar a norma, como ocorre com o turismo: “ Art. 180. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios promoverão e incentivarão o turismo como fator de desenvolvimento social e eco- nômico (BRASIL, 1988, grifo nosso). Sendo assim, a Constituição Federal de 1988 deixa clara a necessidade de participa- ção e intervenção do Estado no desenvolvimento social e econômico, no sentido de promover e incentivar, o que não quer dizer estatizar o setor econômico e produtivo necessário a esse desenvolvimento. A vantagem para o desenvolvimento econômi- co no tocante ao turismo está na possibilidade de fixar a mão de obra local em uma atividade que não pode ser substituída pela máquina e tecnologia direta e, também, porque, “ [...] segundo pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisa Econômica – FIPE5, a hotelaria, um segmento intensivo em mão de obra e com grande parti- cipação na atividade turística, demanda cerca de R$ 16.198,60 do valor de produção da atividade para a geração de uma unidade de emprego. Valor este bem menor do que o demandado por outros setores econômicos, tais como indústria têxtil (R$ 27.435,20), construção civil (R$ 28.033,00) e siderur- gia (R$ 68.205,90) (BRASIL, on-line). Pós-Universo 22 Esse é apenas um exemplo da importância do desenvolvimento econômico para procurar equilibrar regiões com maior desenvolvimento com aquelas que carecem do desenvol- vimento econômico e precisam do Estado e de suas políticas públicas para incentivá-lo, assim como do Direito, da Instituição Social capaz de orientar a sociedade sobre os seus direitos e, também, encontrar meios de fazer com que o Estado cumpra o que prometeu, seja nos seus princípios norteadores da busca da diminuição da injustiça e da desigual- dade social, seja no seu aspecto jurídico com a efetiva concretização das leis. Mesmo no tocante a um assunto que tem conotação mais técnica do que filosó- fica, como é o caso do Sistema Financeiro, a Constituição Federal de 1988 conseguiu relacioná-lo como uma construção coletiva e a serviço dessa coletividade, isso pode ser conferido quando, no artigo 192, se tem a seguinte determinação: “ O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvol- vimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será re- gulado por leis complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram (BRASIL, 1988, grifos nossos). Dentro dessa perspectiva - que é a visão constitucionalista do Direito - fica evidente a associação que se procurou construir e esclarecer de que, quando se trata de de- senvolvimento e, de forma mais específica e como pilar para as demais formas, do desenvolvimento econômico, o seu telos deve ser o de servir e ampliar os interesses da coletividade, demonstrando, assim, que a visão constitucional acerca do homem e de sua condição humana é sempre no sentido de buscar uma construção coletiva. Constudo, as questões de ordem econômica não podem estar associadas somente com a produção imediata de bens, com vistas às condições de acumulação, até porque o homem não é apenas o que tange as suas diversas e inexoráveis relações com a economia, mas constitui-se de uma abrangência conceitual muito mais ampla. Nesse sentido, a própria ideia de desenvolvimento econômico também atinge ques- tões de ordem cultural, pois: “ Art. 216-A. O Sistema Nacional de Cultura, organizado em regime de cola- boração, de forma descentralizada e participativa, institui um processo de gestão e promoção conjunta de políticas públicas de cultura, democrá- ticas e permanentes, pactuadas entre os entes da Federação e a sociedade, tendo por objetivo promover o desenvolvimento humano, social e econô- mico com pleno exercício dos direitos culturais (BRASIL, 1988, grifos nossos). Pós-Universo 23 Sendo assim, compreende-se que por meio da cultura também é possível promover de- senvolvimento econômico, pois, com relação às demais formas, isso nos parece evidente. A Lei Nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991, mais conhecida como Lei Rouanet, é uma das políticas públicas que associam desenvolvimento humano, cultural e social com desenvolvimento econômico, criando formas de subsídios e angariação de recursos para promoção de eventos de natureza cultural. Quanto ao Direito, a sua colaboração é do interpretar, esclarecer e orientar a aplicação correta da lei, de- senvolvendo um papel importante no campo preventivo, dando, assim, uma maior efetividade à aplicação da lei, seus recursos e colaborando para que o objetivo da lei seja atingido de forma plena. Não se trata meramente de aplicar a lei, mas de orientar como se evitar a ter problemas com ela, pois, em termos sociais e de desenvolvimen- to, é muito mais eficaz e de retorno mais imediato quando as coisas são realizadas de acordo com a lei e não contra ela, pois, nesse caso, além do processo ser moroso, só traz para a sociedade a satisfação da punição. Mesmo quando se trata do campo da ciência e tecnologia, o legislador constitu- cional tratou de dar destaque à preocupação com o desenvolvimento econômico, quando o Cap. IV – Da Ciência e Tecnologia assim determina: “ Art. 219. O mercado interno integra o patrimônio nacional e será incenti- vado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e sócio-econômico, o bem-estar da população e a autonomia tecnológica do País, nos termos de lei federal (BRASIL, 1988, grifos nossos). Se o mercado interno integra o patrimônio nacional, é dever do Estado zelar pelo equilíbrio e clareza das relações econômicas que o compõem, com finalidade de via- bilizar o desenvolvimento econômico, criando políticas públicas e incentivos para o desenvolvimento de tecnologias criadas dentro do país, isso não quer dizer que o protecionismo poderá ser praticado sob qualquer forma, o que inviabilizaria a possi- bilidade de um desenvolvimento econômico dentro da realidade global em que vive a sociedade atual, mas sim no tocante a dar condições propícias ao desenvolvimento científico e tecnológico que possa fornecer condições para o nosso desenvolvimento. Inserido dentro dessa perspectiva e aliando-a à necessidade de propiciar o desen- volvimento econômico de regiões mais distantes e menos favorecidas, principalmente por estarem longe dos grandes centros de consumo, é que se institui a Zona Franca de Manaus. Pós-Universo 24 A FUNÇÃO DA ECONOMIA na constitução federal de 1988 Pós-Universo 25 Diante do exposto e do conceito de desenvolvimento econômico associado à Constituição Federal de 1988, fica evidente a preocupação do Estado com o de- senvolvimento econômico e o papel importante destinado ao Direito, tanto como Instituição Social quanto como aquele que associa o exercício de funções de ordem jurídica, na condição de regulador da atividade econômica necessária ao cumprimen- to da proposta constitucional e do conjunto de Instituições Jurídicas necessárias à existência e consolidação do Estado Democrático de Direito. Nessa linha de raciocínio e com a preocupação de não atrelar a ideia de Direito somente ao campo efetivadordas normas jurídicas, superando uma visão positivista herdada de forma mais pontual das teorias de Hanz Kelsen, Coutinho (2013) avança para demonstrar uma visão mais abrangente sobre o direito, sendo assim: “ [...] o direito é tudo menos indiferente quando se trata de trajetórias de desen- volvimento. Ele não apenas define e cristaliza, a seu modo, fins substantivos, como ainda molda e forja instituições encarregada de persegui-los, influen- ciando, ainda, as ações e processos destinados a implementar as políticas públicas (COUTINHO, 2013, p. 95). Essa perspectiva leva em consideração que vivenciamos, necessariamente, o Estado Democrático de Direito, condição essa que coloca o Direito como relacionado a todas as esferas da existência humana e que não pode ser indiferente à nenhuma situação em que se coloque em risco e, como consequência, em degradação a condição humana. No desenvolvimento de sua linha de visão sobre o papel do Direito, Coutinho nos ensina que este assume quatro papéis fundamentais e passa a analisar o Direito como objetivo, o Direito como ferramenta, o Direito como arranjo institucional e o Direito como vocalizador de demandas (COUTINHO, 2013, p. 102), entendendo, nesse sentido, de que se trata de desenvolvimento econômico inserido dentro de políticas públicas. Enquanto política pública, esse tipo de ação, com seus objetivos e metas, parte de uma vontade política, no campo extrajudicial, mas quando superada essa fase de ordem e vontade política é que passa a existir o Direito como “uma diretriz normati- va (prescritiva) que delimita, ainda que de forma geral e sem determinação prévia de meios, o que deve ser perseguido em termos de ação governamental” (COUTINHO, 2013, p. 99). Nesse sentido, o Direito não diz de onde devem vir as receitas, de onde tirar, reduzir, mas determina de forma prescritiva que a política pública, de forma es- pecífica a que trata de desenvolvimento econômico, deve ser realizada. Pós-Universo 26 Portanto, do ponto de vista do Direito como objetivo, “o direito positivo cristaliza opções políticas e as formaliza como normas cogentes, determinando o que deve ser” (COUTINHO, 2013, p. 102). Sendo assim, o que estava no campo da argumentação, da construção dialética, do embate político propriamente dito, quando se transforma na “vontade geral”, para adotar um termo de Rousseau, e que se molda perfeitamen- te nesse caso, o que pertencia ao campo da política, precisa, agora, buscar o apoio necessário do campo do Direito, para que este seja “cristalizado” e que se encontrem formas democrático-jurídicas para dar efetividade a essa “vontade geral”. O próximo passo será buscar inserir o Direito como ferramenta, nesse sentido, “como caixa de ferramenta o direito oferece distintos instrumentos e veículos para implementação dos fins da política” (COUTINHO, 2013, p. 102), com isso, o Direito não apenas oferece o suporte jurídico técnico necessário e intrínseco à sua própria forma de ser, mas possibilita ao campo da política colocar à disposição dela outros instrumentos, não apenas com o intuito de dar garantias jurídicas, mas também de meios de verificação do andamento e cumprimento das políticas públicas, com ca- pacidade de possibilitar não só uma reparação, mas de se antecipar aos fatos, com o acompanhamento diuturno do cumprimento das determinações do campo político. Em outras palavras, o Direito coloca à disposição da política um cabedal de instru- mentos preventivos e de acompanhamento da execução e realização dessas políticas públicas; porém, no desenvolvimento da teoria proposta por Coutinho, ainda é ne- cessário um outro arranjo, que é o de estabelecer o Direito como arranjo institucional, capaz de articulações que superam a tradição normativa do Direito, ou seja, “o direito define tarefas, divide competências, articula, orquestra e coordena relações interseto- riais no setor público e entre este e o setor privado” (COUTINHO, 2013, p. 102). Como resultado dessa articulação, o Direito passa a agir como um dos atores fundamentais para a existência das políticas públicas, pois permite que todas as partes envolvidas engendrem esforços para a realização dessas políticas. Dentro dessa perspectiva, o Direito sai de sua condição tradicional como agente preventivo e de execução do conteúdo propriamente dito do contrato para assumir uma posição de ator que permite uma articulação entre as partes, em todos os mo- mentos de realização dessas políticas públicas. Nesse aspecto, o Direito assume, também, um papel de articulação política, no sentido de fornecer subsídios e ins- trumentos que possam orientar o Estado e os cidadãos que o compõem em todos os passos existentes nas políticas públicas. Pós-Universo 27 Extrapolando a visão e importância da forma tradicional de ser do Direito, pode-se avançar e destacar o papel importante do Direito enquanto Instituição Social, ator ativo e proativo na construção de uma sociedade mais justa, primeiramente, quando analisamos o papel do Direito e sua participação na relação entre os municípios e as políticas públicas, sejam elas oriundas de ação da União, do Estado, em consonân- cia com as possibilidades legislativas, da criação de suas próprias políticas públicas, seja no sentido de inovar, pois existem determinadas ações que precisam ser exer- cidas a nível de localidade ou, ainda, de ações de reforços àquelas da ordem de outras esferas. Dentro dessa área de ação, pode-se destacar a importante participação do Direito, em consonância com aquelas políticas públicas de desenvolvimento econô- mico, no sentido de estabelecer parâmetros de acompanhamento e aplicabilidade dos recursos disponíveis e na obtenção de novos recursos. Destaca-se no mundo contemporâneo, dentro de uma democracia que precisa ampliar a sua forma de participação, em que o Estado é insistentemente chamado para ter uma partici- pação mais ativa, principalmente no amparo aos excluídos e mais necessitados, a questão da governança. Embora o conceito tenha sofrido mudanças adaptadas ao atual momento, Kissler e Heidemann (1997), traduzindo e citando o conceito desenvolvido por Löffer, propõem interpretar esse conceito de governança como sendo: “ [...] uma nova geração de reformas administrativas e de Estado, que têm como objeto a ação conjunta, levada a efeito de forma eficaz, transparente e compartilhada, pelo Estado, pelas empresas e pela sociedade civil, visando uma solução inovadora dos problemas sociais e criando possibilidades e chances de um desenvolvimento futuro sustentável para todos os partici- pantes (KISSLER; HEIDEMANN, 1997). A transparência é um dos aspectos fundamentais na governança, como forma de acompanhar e poder corrigir eventuais distorções na aplicação dos recursos e enca- minhamento da execução das políticas públicas; sendo assim, ela também convida todos a participarem desse processo, não apenas como contribuintes e cidadãos que exemplarmente recolhem seus impostos e cumprem suas funções clássicas na sociedade, mas que também participam em todas as etapas da existência dessas po- líticas públicas. Pós-Universo 28 A segunda perspectiva é o destaque que também merece o Direito, na pro- posta de análise desenvolvida até esse momento, mas, agora, no campo do Direito Empresarial e sua relação com a Governança Corporativa. Para o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, a: “ Governança Corporativa é o sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo as práticas e os relacionamentos entre proprietários, conselho de administração, diretoria e órgãos de con- trole. As boas práticas de Governança Corporativa convertem princípios em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor da organização, facilitando seu acesso ao capital e contri- buindo para a sua longevidade (IBGC, online). É notório que o desenvolvimentoeconômico, que possibilite ao Estado a distribui- ção de riquezas para a busca da diminuição das desigualdades sociais, tem uma dependência, também, com o desenvolvimento do setor privado em todas as suas dimensões e formas de ser. Corroborando com essa perspectiva, o Direito se propõe a ser inserido como um ator que participa ativamente de todos os momentos e fases necessários ao fortale- cimento e longevidade do setor privado, propiciando, por meio do instrumental que lhe é próprio, ferramentas capazes de possibilitar a esses setores não simplesmente o enfrentamento dos problemas, mas com a previsão e antecipação de problemas que poderão surgir a curto, médio ou longo prazo, colocando em risco a continui- dade da existência das empresas. A ideia de Governança Corporativa, portanto, aquela voltada ao setor privado propriamente dito, em consonância com o Direito dentro da perspectiva em análise, fornece subsídios para o estabelecimento de relações objetivas e com a clareza ne- cessária para que todos os envolvidos no processo possam, por meio de uma análise específica, identificar os avanços, detectar os retrocessos e formas de reencaminha- mento dos objetivos traçados. Pós-Universo 29 Na sua terceira linha de ação, na relação entre Direito e desenvolvimento eco- nômico, está a existência de um suporte necessário a qualquer forma de existência humana, que é o meio ambiente. A necessidade de tutela do meio ambiente já é ponto pacífico, e desnecessária seria a sua abordagem nesse momento, contudo, quando se trata de uma relação delicada e complexa, como a questão do desenvol- vimento econômico e o meio ambiente, novamente o Direito surge como um ator importante, não no sentido de fornecer subsídios para a punição dos agentes infra- tores, mas como aliado fundamental para tutelar, proteger e garantir o postulado constitucional de que todos têm direito a um meio ambiente sadio e equilibrado, inclusive a obrigação irrenunciável de garantir esses mesmos direitos para as gera- ções futuras. Que o desenvolvimento econômico é necessário para a melhoria das condições humanas é ponto indiscutível, tanto quanto o é a necessidade de que ele se realize de forma harmônica com o meio ambiente, ainda que toda e qualquer interferência no meio ambiente sempre traga certo grau de degradação dele. Embora diversas sejam as vertentes que tratam do respectivo tema, a definição de sustentabilidade apresenta alguns aspectos comuns a essas vertentes, ou seja, “ a sustentabilidade requer um padrão de vida dentro dos limites impostos pela natureza. Utilizando uma metáfora econômica, deve se viver dentro da capacidade do capital natural. Embora o capital natural seja fundamental para a continuidade da espécie humana sobre a Terra, as tendências mostram uma população e consumo médio crescentes, com decréscimo simultâneo deste mesmo capital. Estas tendências levantam a questão de quanto capital natural é suficiente ou necessário para manter o sistema (BELLEN, 2003, p. 73). Fica evidente que, à medida que o desenvolvimento econômico juntamente com as práticas individuais não compreendem que o meio ambiente é um bem que está se esgotando, todo o processo corre o risco de entrar em colapso. Novamente, o Direito assume uma posição importante não só porque contém os instrumentos de tutelas necessários, mas também porque pode orientar, com fundamento na legis- lação ambiental existente, todos os cuidados que se deve ter para não ocorrer uma afronta a essa legislação e, por consequência, a intervenção necessária e jurídica das ações precisas a esse desenvolvimento. Pós-Universo 30 Em um país como o Brasil, a carência de empregos e de possibilidade de desen- volvimento econômico em determinadas regiões faz com que, quando se apresenta a mínima possibilidade de emprego e de desenvolvimento, as questões de ordem ambiental sejam parcialmente ignoradas, exemplo recente é a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu. A polêmica se situa em torno dos benefícios que poderão ou não trazer a construção dela. Nesse sentido, os próprios moradores se mostram dividi- dos quanto à existência da obra, embora seja evidente que o Brasil precisa ampliar o seu potencial hidroelétrico o mais urgente possível, para ampliar a sua capacidade de desenvolvimento, que, inevitavelmente, está sempre associado com as disponibilidades de matrizes energéticas, renováveis e baratas. Diante da inevitável construção da obra, a população se posicio- nou da seguinte forma: LEGADO DA OBRA Terminada a obra, Altamira cará... Pontos negativos da usina Em % 1º Aumento da violência 2º Trânsito e acidentes 3º Poluição de destruição da natureza 39 20 15 1º Empregos 2º Progresso da cidade 3º Atração de empresas 39 20 15 Pontos positivos da usina Em % Figura 1 - Legado da Obra de Altamira Fonte: Leite (2013, online). fatos e dados Sendo assim, o Direito assume posição de destaque quando atua de forma solidá- ria com todos os atores envolvidos para buscar caminhos e soluções no sentido de, primeiro, amenizar todos os efeitos colaterais da construção da usina, assim como apontar a necessidade de existência de instrumentos objetivos de aferição para o cumprimento da política pública ambiental em toda a sua abrangência. Pós-Universo 31 O último aspecto a ser analisado é com relação ao desenvolvimento econômi- co, o Direito e os Direitos Fundamentais no contexto nacional. Quanto aos Direitos Fundamentais, “são conceituados como direitos subjetivos, assentes no direito ob- jetivo, positivados no texto constitucional, ou não, com aplicação nas relações das pessoas com o Estado ou na sociedade” (MORAES, 2010, p. 503). São fundamentais porque, sem eles, a pessoa não exerce a sua condição de ser humano aliada a de cidadão, capaz de realizar seus direitos e deveres junto ao Estado e à sociedade. Para facilitar a compreensão didática desses Direitos Fundamentais, elencados nos artigos 5º até o 17º da Constituição Federal de 1988, eles podem ser classificados pelo critério material, que diz respeito ao atrelamento de tutelas desses direitos. Podem ser assim classificados: Direitos Fundamentais, são próprios do homem-indivíduo; Direitos Coletivos, característicos do homem pertencente a uma categoria, classe ou grupo; Direitos Sociais, aqueles próprios do homem-social; Direito à Nacionalidade, próprios do homem-nacional que precisa se identificar com uma pátria, um território, um Estado organizado; e, finalmente, os Direitos Políticos, aqueles que permitem ao homem-cidadão a realização de sua plenitude política (MORAES, 2010, p. 517-518). Embora não conste, de forma direta, no texto constitucional, o direito ao desen- volvimento como Direitos Fundamentais já é pacífico que o legislador constitucional não tinha por obrigação esgotar todas as possibilidades, mas oferecer princípios que permitissem ao cidadão brasileiro e, de forma mais ampla, ao ser humano, ter instrumentos e meios necessários ao seu pleno desenvolvimento, e as questões rela- cionadas ao desenvolvimento econômico não podem ser desconsideradas nos seus aspectos mais amplos. De forma recíproca, é difícil admitir a possibilidade de um de- senvolvimento econômico dentro do modelo constitucional adotado sem levar em consideração a importância da concretização dos Direitos Fundamentais. Pós-Universo 32 Corroborando com todo o desenvolvimento do tema proposto, o Direito se apre- senta não simplesmente como Poder Judiciário, na condição estabelecida pela relação entre os demais dois poderes, a saber Legislativo e Executivo, mas com a missão e responsabilidade de agir também como Instituição Social, capaz de interagir com a sociedade, a política e os demais poderes, sem extrapolar as suas funções constitu- cionais. O próprio Supremo Tribunal Federal tem dispositivos regimentais, em que convoca a sociedade para expor à Corte questões de grande relevânciaanalisadas por ela, são as chamadas Audiências Públicas: “ No âmbito do Supremo Tribunal Federal, as audiências públicas foram regu- lamentadas pela Emenda Regimental 29/2009, que atribuiu competência ao Presidente ou ao Relator, nos termos dos arts. 13, XVII, e 21, XVII, do Regimento Interno, para ‘convocar audiência pública para ouvir o depoimento de pessoas com experiência e autoridade em determinada matéria, sempre que enten- der necessário o esclarecimento de questões ou circunstâncias de fato, com repercussão geral e de interesse público relevante’ debatidas no Tribunal (STF, [2018], on-line). Finalizando, e conforme demonstrado, no Estado Democrático de Direito, com a ex- pansão do papel e da importância do Estado nessa nova forma de ser da democracia no século XX e XXI, assim como o fato do desenvolvimento econômico ser uma das principais molas propulsoras para a construção de uma sociedade mais justa e soli- dária, fica evidente que novos papéis e atores precisam ser convocados a participar desse novo momento, assim como redefinir a participação dos atores já existentes, mas, agora, extrapolando as suas participações clássicas. A própria ideia que con- solidou o Estado Moderno, que foi a da tripartição dos poderes, oriunda de forma mais incisiva de Montesquieu, mas já presente na filosofia política de John Locke, um liberal por excelência, precisa ser superada e a sociedade reinventar uma nova forma de ser do Estado. atividades de estudo Este estudo caracterizou-se por aprofundar questões pertinentes às colaborações que o Direito pode dar, como um elemento estrutural importante, principalmente no enfrenta- mento e na relação com a economia e com o desenvolvimento, bem como a estruturação de uma visão crítica. Com essas referências, responda as questões a seguir. 1. Quais são os aspectos alcançados pela relação entre Direito, Economia e Desenvolvimento? Assinale a alternativa correta. a) Se o Direito na relação com o Estado tem uma forte ligação econômica, há de se considerar, em uma nação que deseja ser organizada, mais justa e solidária, uma relação mais ampla entre Direito e Economia, com vistas a um Desenvolvimento. b) A relação entre Direito e Economia e, como consequência, o Desenvolvimento é mais evidente do que se pode pensar, estabelecendo uma relação intrínse- ca entre eles, inclusive com a própria existência humana, até porque, quando se fala em Direito, necessariamente, tratamos de uma relação entre seres humanos, uma relação de afetação entre pessoas que convivem em uma sociedade em que existem parâmetros delimitadores e, ao mesmo tempo, garantidores de condi- ções mínimas e razoáveis para a convivência em sociedade. c) O Direito busca criar normas e regras, pois estas, além de originar-se a partir da vontade do legislador, também surgem da manifestação do Direito, que também fornece a técnica e o instrumental dogmático para que elas tenham clareza e pro- duzam as eficácias e objetivos quando da sua criação. d) O Direito não consegue assumir a função de um agente de construção e de pre- servação de todas as formas e meios para que se possa construir uma sociedade mais justa e equilibrada. e) Nenhuma das alternativas anteriores. atividades de estudo 2. A passagem do Estado Liberal ao Estado Social pode ser simbolizada: a) Pela mudança de paradigmas do primeiro, que se preocupava apenas com a or- ganização e proteção do espaço territorial, pouco ou nada realizado em termos de intervenção social, para o do seu segundo momento, em que o Estado Social passa a servir como um escudo de contenção e, ao mesmo tempo interventor, sempre que necessário, da exploração capitalista selvagem sobre as populações de menor poder de reação e de enfrentamento, dos problemas que naturalmen- te surgem a partir dessa forma de ser do capitalismo. b) Pela mudança de aspectos do segundo, que não se preocupava apenas com a or- ganização e proteção do espaço territorial, pouco ou nada realizado em termos de intervenção social, para o do seu segundo momento, em que o Estado Liberal passa a servir como um escudo de contenção e, ao mesmo tempo interventor. c) Pela manutenção de paradigmas do primeiro, que não se preocupava apenas com a organização e proteção do espaço territorial, pouco ou nada realizado em termos de intervenção social, para o do seu segundo momento, em que o Estado Social passa a servir como um escudo de contenção e, ao mesmo tempo interventor. d) Pelo desenvolvimento pós Segunda Guerra Mundial. e) Nenhuma das alternativas anteriores. atividades de estudo 3. Qual foi o objetivo do legislador ao garantir constitucionalmente o desenvolvimen- to econômico? Assinale a alternativa correta. a) O legislador buscou, primeiramente, garantir o desenvolvimento econômico em âmbito estatal, ou seja, a partir das previsões acerca da exportação e importação. b) Antes da garantia constitucional, o direito ao desenvolvimento estava previsto nas legislações internacionais, já que as relações comerciais se davam por meio dos produtos manufaturados dos grandes centros. c) A Constituição Federal de 1988 tutela o desenvolvimento econômico e o coloca sobre a proteção do Direito, onde este significa apenas aquele desenvolvimen- to que permita o acúmulo de bens e capitais nas mãos de uma pequena parcela da população. d) É claro e objetivo o legislador originário, quando nos apresenta que a Constituição Federal deve “assegurar o exercício do desenvolvimento”, apresentando-o no seu aspecto geral, ou seja, econômico, social, individual, coletivo, humano e outros, pois é evidente que, sem desenvolvimento associado em todas as suas esferas, não podemos esperar muito de uma sociedade. Sendo assim, a perspectiva que a Constituição Federal assume com relação ao desenvolvimento é a de permitir a promoção da condição humana. e) Nenhuma das alternativas anteriores. 4. Qual é a contribuição de Coutinho (2013) quanto à aplicação do direito como ferra- menta? Assinale a alternativa correta. a) “o direito como ferramenta cristaliza opções políticas e as formaliza como normas cogentes, determinando o que deve ser”. b) “como caixa de ferramenta o direito oferece distintos instrumentos e veículos para implementação dos fins da política”. c) “uma diretriz normativa (prescritiva) que delimita, ainda que de forma geral e sem determinação prévia de meios, o que deve ser perseguido em termos de ação governamental”. d) “o direito como ferramenta define tarefas, divide competências, articula, orquestra e coordena relações intersetoriais no setor público e entre este e o setor privado”. e) Nenhuma das alternativas anteriores. resumo Reforçando a perspectiva da relação e da importância entre Direito, Economia e Desenvolvimento, desenvolvida na Unidade III, o objetivo foi desenvolver uma linha de raciocínio que pudesse mostrar alguns exemplos de campo de ação em que o Direito pode, realmente, auxiliar a hu- manidade, na obtenção de condições mais favoráveis para o enfrentamento originário de todo e qualquer processo que possa exigir mudanças radicais das próprias estruturas da sociedade, como é o caso da globalização e do desenvolvimento. Em um país de dimensão continental, como é o caso do Brasil, em que se pode encontrar inú- meros “brasis”, com indicadores que podem caminhar do lastimável e deplorável, por exemplo, a violência contra a mulher, até aquele capaz de apresentar indicadores de países de primeiro mundo, como número de celulares por habitantes, é necessário que se produza mudanças radi- cais quando se trata de desenvolvimento econômico e humano. Mudanças radicais sempre implicam em retirar as pessoas de suas zonas de conforto e apresen- tar-lhes uma nova forma de ser, o que poderá gerar revoltas sociais. Sendo assim, novamente, o Direito se apresenta como um aliado importante na construção de um país mais justo e com um menor grau de desigualdade social.material complementar Direito Econômico e Desenvolvimento Autor: Guilherme Perussolo; Natália Munhoz Machado Prigol Editora: Ithala Sinopse: o livro aborda temas relacionados ao Direito Econômico e Desenvolvimento, proporcionando aos leitores um panorama geral a respeito de assuntos atuais que foram objeto de intenso estudo por parte dos pesquisadores colaboradores. Trata-se de um compilado de artigos que, apesar de trazerem recortes temáticos diferentes, entrelaçam-se ao desenhar uma análise econômica e apresentar estudos de casos práticos. As abordagens também evi- denciam a maturidade das pesquisas realizadas e expõem de diferentes modos possíveis soluções e interpretações quando diante de lacunas da lei. O objetivo da obra foi o de pro- vocar uma reflexão com relação à importância de se discutir assuntos relacionados ao Direito Econômico e Desenvolvimento, na esperança de motivar novos estudos a respeito do tema e de servir de apoio a tantos outros. referências BELLEN, H. M. V. Desenvolvimento Sustentável: Uma Descrição das Principais Ferramentas de Avaliação. Ambiente & Sociedade, v. 7, n. 1. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/asoc/ v7n1/23537.pdf>. Acesso em: 30 jan. 2018. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Presidência da República, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 28 jan. 2018. COELHO, I. M. Princípios da Ordem Econômica e Financeira. In: MENDES, G. F.; COELHO, I. M.; BRANCO, P. G. G. Curso de Direiro Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2010. COUTINHO, D. R. Direito, Desigualdade e Desenvolvimento. São Paulo: Saraiva, 2013. HAMILTON, A. Relatório sobre as manufaturas. Rio de Janeiro. Solidariedade americana, s/d. IBGC. Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Governança Corporativa. [2018]. Disponível em: <http://www.ibgc.org.br/index.php/governanca/governanca-corporativa>. Acesso em: 30 jan. 2018. KISSLER, L.; HEIDEMANNI, F. G. Governança pública: novo modelo regulatório para as relações entre Estado, mercado e sociedade? Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro, v. 40 n. 3, 2006. MALAGUI, M. L. et al. A quem pertence o amanhã? Ensaios sobre o neoliberalismo. São Paulo Loyola. 1997. MORAES, G. P. Curso de Direito Constitucional. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2010. PIKETTY, T. O Capital no Século XXI. Trad. Mônica Baumgarten de Bolle. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. RAMBALDUCCI, M. J. G. Apresentação. In: BENFATTI, F. F. N. Direito ao Desenvolvimento. São Paulo: Saraiva, 2014. REALE, M. 1910. Lições preliminares de direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. STF. Supremo Tribunal Federal. Apresentação. [2018]. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/ portal/audienciaPublica/audienciaPublicaPrincipal.asp>. Acesso em: 30 jan. 2018. resolução de exercícios 1. b) A relação entre Direito e Economia e, como consequência, o Desenvolvimento é mais evidente do que se pode pensar, estabelecendo uma relação intrínseca entre eles, inclusive com a própria existência humana, até porque, quando se fala em Direito, necessariamente, tratamos de uma relação entre seres humanos, uma relação de afe- tação entre pessoas que convivem em uma sociedade em que existem parâmetros delimitadores e, ao mesmo tempo, garantidores de condições mínimas e razoáveis para a convivência em sociedade. 2. a) Pela mudança de paradigmas do primeiro, que se preocupava apenas com a or- ganização e proteção do espaço territorial, pouco ou nada realizado em termos de intervenção social, para o do seu segundo momento, em que o Estado Social passa a servir como um escudo de contenção e, ao mesmo tempo interventor, sempre que necessário, da exploração capitalista selvagem sobre as populações de menor poder de reação e de enfrentamento, dos problemas que naturalmente surgem a partir dessa forma de ser do capitalismo. 3. d) É claro e objetivo o legislador originário, quando nos apresenta que a Constituição Federal deve “assegurar o exercício do desenvolvimento”, apresentando-o no seu aspecto geral, ou seja, econômico, social, individual, coletivo, humano e outros, pois é evidente que, sem desenvolvimento associado em todas as suas esferas, não podemos esperar muito de uma sociedade. Sendo assim, a perspectiva que a Constituição Federal assume com relação ao desenvolvimento é a de permitir a pro- moção da condição humana. 4. b) “como caixa de ferramenta o direito oferece distintos instrumentos e veículos para implementação dos fins da política”. _2jxsxqh A RELAÇÃO ENTRE direito e economia A PASSAGEM DO ESTADO LIBERAL para o estado social e, finalmente, para o estado democrático de direito O DIREITO AO desenvolvimento da constituição federal de 1988 A FUNÇÃO DA ECONOMIA na constitução federal de 1988
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