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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E DESENVOLVIMENTO DOS DIREITOS HUMANOS Professoras: Dra. Daniela Menengoti Ribeiro Me. Mariane Helena Lopes Diretoria de Design Educacional Débora Leite Diretoria de Pós-graduação e Graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Head de Pós-graduação e Extensão Fellipe de Assis Zaremba Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Projeto Gráfico Thayla Guimarães Designer Educacional Marcus Vinicius A. S. Machado Editoração Arthur Murilo Heicheberg Qualidade Textual Felipe Veiga da Fonseca DIREÇÃO Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site shutterstock.com C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; RIBEIRO, Daniela Menengoti; LOPES, Mariane Helena. DIREITOS HUMANOS E REALIDADES REGIONAIS. Daniela Menengoti Ribeiro; Mariane Helena Lopes. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. 39 p. “Pós-graduação Universo - EaD”. 1. Direitos Humanos. 2. Regionais. 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. xxxxx CIP - NBR 12899 - AACR/2 01 02 03 04 sumário 06| ORIGEM, DESENVOLVIMENTO E FUNDAMENTOS DOS DIREITOS HUMANOS 11| OS DIREITOS HUMANOS NOS MOVIMENTOS REVOLUCIONÁRIOS 20| A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS DE 1948: MARCO HISTÓRICO E IDEOLÓGICO DA CONSOLIDAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 27| O INDIVÍDUO E SEU PAPEL NO DIREITO INTERNACIONAL E NA CONSOLIDAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Conhecer a origem dos direitos humanos. • Analisar o contexto histórico. • Compreender a Declaração Universal dos Direitos Humanos. • Demonstrar o indivíduo e seu papel no Direito. PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Origem, desenvolvimento e fundamentos dos direitos humanos • Os Direitos Humanos nos movimentos revolucionários • A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948: marco histórico e ideológico da consolidação dos Direitos Humanos • O indivíduo e seu papel no Direito Internacional e na consolidação dos di- reitos humanos FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E DESENVOLVIMENTO DOS DIREITOS HUMANOS INTRODUÇÃO introdução Neste estudo realizaremos o estudo dos movimentos históricos que contribuí- ram para o desenvolvimento dos direitos humanos por meio de um resgate cronológico e do pensamento de doutrinadores clássicos e contemporâneos dedicados à temática. Verificaremos, inicialmente, que os direitos humanos têm como alicerces, tanto princípios e direitos que se constituem a partir de aspirações da socieda- de, em virtude de seus valores morais, como, também, apresentam uma base filosófica, que considera esses direitos como um ideal. A reflexão teórica sobre os fundamentos dessa categoria de direitos nos países ocidentais será observada paralelamente à evolução econômica e à va- lorização do homem. Observaremos que sua concepção atual é produto de uma lenta formação e fruto de conquistas por meio das lutas pela proteção das sociedades como um todo. É por meio da laicização do direito, e, da positivação das Constituições fran- cesa e americana, bem como das reivindicações desses movimentos sociais, que se iniciam o processo de consolidação dos direitos humanos. Nesse sentido, perceberemos que as declarações clássicas de direitos do homem foram redigidas com base em um conceito intrínseco dos direitos in- dividuais como absolutos e inatos. Os instrumentos internacionais partem da premissa de que os direitos pro- tegidos são inerentes a todos os seres humanos, sendo anteriores e superiores ao Estado e a todas as formas de organização política. Essa imersão é fundamental para compreendermos as reflexões lançadas sobre esses direitos no campo teórico, e sua consequente aplicação prática, re- fletida na legislação abundante em relação à proteção dos direitos humanos que coloca cada vez mais o ser humano no centro das atenções, tendo como fonte de inspiração a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Pós-Universo 6 ORIGEM, DESENVOLVIMENTO E FUNDAMENTOS DOS DIREITOS HUMANOS Pós-Universo 7 Para compreendermos a noção de direitos humanos, é preciso considerar, ainda que brevemente, sua ideologia. Nesse viés, os direitos humanos têm como característica uma fundação de princípios e de direitos, e constituem-se a partir de aspirações da sociedade em virtude de seus valores morais. Além disso, apresentam um aspecto altamente filosófico, a ponto de considerar-se que não são direitos no sentido posi- tivamente jurídico, mas um ideal. Como assevera Michel Villey, “ o progresso atual dos “Direitos Humanos” não deixa de implicar negação do positivismo legalista: longe de receber sua autoridade dos textos positivos do Estado, eles se apresentam como inferidos de uma ideia do “homem”; as leis atêm-se a “declará-los”. Essa figura dos direitos humanos atesta a sobrevi- vência da filosofia da Escola do Direito Natural, em seu tempo a continuadora de uma tradição escolástica; com muitas escolas de teologia tendo feito do direito o instrumento da lei moral (VILLEY, 2007, p. 21-22). No que tange à sua significação, várias foram as tentativas da doutrina em definir os direitos do homem sem se conseguir chegar a um fundamento absoluto. Para Norberto Bobbio, essas dificuldades derivam, em primeiro lugar, porque direitos do homem, visto que trata dos direitos do homem como homem, é uma expres- são vaga e de que a maioria das definições é tautológica: “direitos do homem são os que cabem ao homem enquanto homem” refere-se apenas ao estatuto deseja- do ou proposto para esses direitos, e não a seu conteúdo; “direitos do homem são aqueles que pertencem, ou deveriam pertencer, a todos os homens, ou dos quais nenhum homem pode ser despojado” – ou, quando se acrescenta alguma referência ao conteúdo, introduzem-se termos avaliativos: “direitos do homem são aqueles cujo reconhecimento é condição necessária para o aperfeiçoamento da pessoa humana, ou para o desenvolvimento da civilização etc.” (BOBBIO, 2004, p. 17). Em segundo lugar, com a mudança das condições históricas, o elenco de direi- tos modificou-se e continua a modificar-se. Direitos declarados absolutos no final do século XVIII, como a propriedade sagrada e inviolável, foram submetidos a limi- tações nas declarações contemporâneas, assim como os direitos das declarações do século XVIII sequer mencionavam os direitos sociais nas recentes declarações (BOBBIO, 2004, p. 18). Pós-Universo 8 O que observamos é que as declarações clássicas de direitos do homem foram redigidas com base em um conceito intrínseco dos direitos individuais como abso- lutos e inatos, transmitindo ao indivíduo a ideia que haviam sido inspirados em um direito divino dos reis e os direitos imprescritíveis outorgados por Deus à Igreja. Apesar dos direitos humanos terem sido introduzidos considerando dois impor- tantes momentos históricos – primeiro, a Reforma com sua invocação à autoridade absoluta da consciência individual e, segundo, a rebelião do capitalismo incipiente com a sua insistência na liberdade e iniciativa individual, contra a sujeição da Igreja e do Estado – nem de longe resultam de raciocínios isolados advindos de um grupo apenas ou de um movimento. Sua concepção atual é produto de uma lenta formação e fruto de conquistas por meio daslutas pela proteção das sociedades como um todo. Segundo Heiner Bielefeldt (2000, p. 37), “ Isso vale para a ideia da inviolabilidade da dignidade de cada ser humano ou para o tema da solidariedade humana cosmopolita, bem como para a afir- mação da liberdade e da igualdade originais de todas as pessoas ou, ainda, para a concepção do direito natural universal, que serve de parâmetro crítico anterior a todos os regulamentos jurídicos positivos. Para isso, vale lembrarmos o estoicismo da tradição grega, que no período helenísti- co, com o fim da democracia e das cidades-estados, atribuiu ao indivíduo que tinha perdido a qualidade de cidadão, uma nova dignidade, resultando no significado fi- losófico conferido ao universalismo de Alexandre “o Grande”, em que o “mundo é uma única cidade – cosmo-polis – da qual todos participam como amigos e iguais” (LAFER, 2009, p. 119). É em Hugo Grotius (1583 – 1645) que encontramos a laicização do direito natural (SÃO LEOPOLDO, 2000, p. 146) e o consequente apelo à razão como fundamento do direito aceitável por todos, porque comum aos homens independente de suas crenças religiosas – o que também somou à tradição dos direitos humanos. O direito natural laicizado difundiu largamente, entre os séculos XVII e XVIII, a tese do contrato social como explicação da origem do Estado, da sociedade e do direito. Afirmava-se desta maneira, que o Estado e o Direito não são prolongamento de uma sociedade natural originária e orgânica, como a família, mas de uma construção con- vencional, baseada na vontade dos indivíduos (LAFER, 2009, p. 122). Pós-Universo 9 Grotius (1583 – 1645) (2004) sustentava que toda norma jurídica, de direito interno ou internacional, cria direitos e obrigações para as pessoas as quais se dirige, e já em meados de XVII, ele admitia a possibilidade da proteção internacional dos direitos humanos contra o próprio Estado. No pensamento grociano, “[...] o Estado não é um fim em si mesmo, mas um meio para assegurar o ordenamento social consoante à inteligência humana, de modo a aperfeiçoar a sociedade comum que abarca toda a humanidade” (TRINDADE, 2006, p. 11-12). Ao estabelecer uma relação de fundamentação entre direito natural e direito positivo, Immanuel Kant (1724 – 1804) criticava tanto o positivismo dogmático, que prescinde do direito natural, como um direito natural dogmático, que prescinde do direito positivo: “ [...] o direito positivo deve encontrar seu critério de justiça e seu fundamen- to no direito natural; por outro lado, uma comunidade não pode reger-se apenas pelo direito natural, que deve assim fundar um direito positivo (NOUR, 2004, p. 5). Portanto, na percepção de Kant (1724 – 1804), portanto, a doutrina natural não visa elaborar um sistema jurídico que subsista por si, mas apenas o fundamento e os prin- cípios de qualquer legislação positiva. Já Hans Kelsen (1881 – 1973) critica o direito natural alegando que esta teoria idealista institui um dualismo no mundo jurídico, ao colocar ao lado do direito real – ou seja, positivo, criado pelos homens e, portanto, variável – um direito ideal, natural, imutável, que se identifica com a justiça. A teoria do direito natural, a partir desse ponto de vista, apoia-se na existência de duas ordens jurídicas justapostas: uma ordem superior, ideal e imutável, composta de regras históricas do direito natural, e uma ordem imposta pelo legislador humano, composta por regras de mudança, que são as regras do direito positivo (SHAKANKIRI, 1972, p. 211). A ideia clássica de direito natural abordada por diversos autores, no período que vai do século XVII ao XVIII, busca, em termos gerais, conjugar o Direito, a Moral e a Política. Nestes termos, destaca Celso Lafer que, para o jusnaturalismo moderno, o Direito e a Política passaram a ser encarados como campos nos quais o discurso dei- xaria de ser convincente e passaria a ser necessário. Pós-Universo 10 Na visão jusnaturalista (GROSSI, 2004, p. 114), que inspirou o constitucionalismo, os direitos do homem eram vistos como direitos inatos e uma verdade evidente, por isso dispensavam, tanto a violência quanto a persuasão e o argumento. “ A proclamação dos direitos do homem surge como medida deste tipo, quando a fonte da lei passa a ser o homem e não mais o comando de Deus ou os costumes. De fato, para o homem emancipado e isolado em socieda- des crescentemente secularizadas, as Declarações de Direitos representavam um anseio muito compreensível de proteção, pois os indivíduos não se sentiam mais seguros de sua igualdade diante de Deus, no plano espiritual, e no plano temporal no âmbito dos estamentos ou ordens das quais se ori- ginavam (LAFER, 2009, P. 123). Sob tal viés, a positivação das declarações nas Constituições, que ocorreu a partir da Revolução Americana e da Revolução Francesa, buscava conferir aos direitos uma dimensão permanente e segura que se consolidava na ideia de solidariedade e de fraternidade, ainda que decorrentes de movimentos revolucionários. Pós-Universo 11 OS DIREITOS HUMANOS NOS Movimentos Revolucionários Pós-Universo 12 Como já nos referimos, a proclamação dos direitos do homem surge quando a fonte da lei passa a ser o indivíduo e não mais o comando de Deus ou dos costumes. Nessa circunstância, a positivação das declarações nas Constituições francesa e americana buscou conferir aos direitos uma dimensão permanente e estabilizadora. Nesse processo, juntamente com os elementos de natureza religiosa ou filosófica vinculados à afirmação do indivíduo, destaca-se a importante contribuição dos movi- mentos para a atual definição dos direitos humanos. É essa evolução, com suas crises, que dará vida aos movimentos sociais que reivindicam ideias de direitos humanos. É nesse contexto que surgem os ideais da Revolução Americana de 1776, decor- rente do conflito entre os colonos e a Coroa inglesa, e que teve suas raízes no Tratado de Paris de 1763. O tratado pôs fim a Guerra dos Sete Anos, anunciando a vitória da Inglaterra sobre a França, e deixou a nação vencedora na posse de ricos territórios no continente americano, já colonizados, culminando na elaboração da Declaração dos Direitos da Virgínia. Reza o artigo 1º do documento, de inspiração iluminista, no qual as Treze Colônias da América do Norte declararam sua independência do Reino Unido: “ Todos os homens nascem igualmente livres e independentes, têm direitos certos, essenciais e naturais dos quais não podem, por nenhum contrato, privar nem despojar sua posteridade: tais são o direito de gozar a vida e a li- berdade com os meios de adquirir e possuir propriedades, de procurar obter a felicidade e a segurança (CONSTITUTION SOCIETY, [2018], on-line1, tradu- ção nossa). Enquanto isso, em 14 de julho de 1789, eclodia a Revolução Francesa, marcada pelo lema liberté, égalité, fraternité – liberdade, igualdade, fraternidade – e pela tomada da Bastilha, prisão onde eram encarcerados adversários do regime e um dos símbo- los do totalitarismo. Esse movimento revolucionário trouxe importante renovação institucional, possibilitando o surgimento do primeiro Estado jurídico, guardião das liberdades individuais. Pós-Universo 13 Tal cenário abrigava grandes pensadores, como Montesquieu (1689 – 1755), d’Alembert (1717 – 1783), Voltaire (1694 – 1778) e Rousseau (1712 – 1778), entre outras expressões do chamado Iluminismo. Os ideais pregados por essa corrente de pensamento geraram consequências para o sistema político, a monarquia e o sistema social vigentes, culminando com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, promulgada pela Assembleia Nacional Francesa em 26 de agosto, de 1789, que definiu os direitos inerentes à pessoa humana, hoje, inscritos nas Constituições democráticas contemporâneas ocidentais. A filosofia política do liberalismo, preconizada por John Locke (1632 – 1704) e Montesquieu, cuidou de salvar a liberdade decompondoa soberania na pluralida- de dos poderes. A teoria tripartida dos poderes, como princípio de organização do Estado constitucional, é a principal contribuição desses pensadores. Para Georg Jellinek (1851 – 1911) (JELLINEK, 2000), que pretendia romper o vínculo que identificava os direitos naturais com os direitos humanos, as declarações de di- reitos do século XVIII introduziram, na ordem constitucional, um novo tipo de direito relativo à pessoa humana (JELLINEK, 2000, p. 143) e que não encontrava justificativa no corpo da teoria dos direitos subjetivos. Consolidou-se no direito positivo à noção, até então conhecida apenas no direito natural, dos direitos subjetivos do membro do Estado frente ao Estado como um todo. Segundo Émile Boutmy, os direitos humanos tinha um caráter eminente- mente francês, encontrando sua origem no pensamento dos filósofos do século XVIII, principalmente nos ideias de Rousseau. Fonte: Jellinek (2000). quadro resumo Esses direitos proclamados face ao Estado haviam sido teoricamente sistematizados nos direitos públicos subjetivos, que fundamentam-se no entendimento de que, uma vez que a prestação jurídica assume natureza pública, o mesmo aplica-se ao direito do indivíduo (BARRETO, 2010, p. 245). Segundo Celso Lafer (2009), na interação entre governantes e governados que an- tecede a Revolução Americana e a Revolução Francesa, os direitos do homem surgem e afirmam-se como direitos individuais face ao poder do soberano no Estado absolutista. Pós-Universo 14 “ Representavam, na doutrina liberal, através do reconhecimento da liberda- de religiosa e de opinião dos indivíduos, a emancipação do poder político das tradicionais peias do poder religioso e através da liberdade de iniciativa econômica a emancipação do poder econômico dos indivíduos do jugo e do arbítrio do poder político (LAFER, 2009, p. 126). Em outras palavras, antes da Revolução, as leis e regulamentos eram relacionados com a boa vontade dos soberanos. Após a Revolução, elas passaram a ser editadas de modo racional, com base no compromisso entre idealistas liberais e conservado- res do mundo industrial, muitas vezes aliados contra a classe trabalhadora. Todavia foi também na Europa que as massas trabalhadoras mais reivindicaram em favor da democracia e dos direitos sociais. Marcaram esse período os movimen- tos revolucionários, de 1848, na Europa central e oriental (França, Estados Alemães, Áustria, Checoslováquia e Itália), que eclodiram em função de regimes governamen- tais autocráticos, de crises econômicas, da falta de representação política das classes médias e do nacionalismo das minorias, e a Comuna de Paris, de 1871, que imple- mentou a abolição do trabalho noturno, a legalização dos sindicatos, a abolição da pena de morte, a educação gratuita e o fim dos descontos salariais. O Pós-Segunda Guerra foi sobremaneira generoso com o Direito Constitucional na Europa e influenciou a consolidação do Estado Democrático de Direito também nas Américas. O período inaugura o movimento de reflexão internacional compro- metido com a defesa da dignidade humana e de consolidação da internacionalização dos direitos humanos. A Constituição de Weimar representa o auge da crise do Estado Liberal do século XVIII e a ascensão do Estado Social do século XX. Foi o marco do movimento constitucionalista que consagrou direitos sociais, de segunda geração/dimensão, relativos às relações de produção e de trabalho, à edu- cação, à cultura, à previdência. Fonte: as autoras. saiba mais Pós-Universo 15 A partir de tal transformação, as Constituições ocidentais possuem mais do que funda- mento de validade superior ao do ordenamento, passando a consubstanciar a própria atividade político-estatal, a partir do estabelecimento dos direitos fundamentais e dos mecanismos de sua concretização. Essas condições favorecem uma forma de convivên- cia que garante a democracia, mas, acima de tudo, os direitos humanos (LAFER, 2009). A contribuição dos movimentos pós- guerras na definição dos direitos humanos A Primeira Guerra Mundial e a Crise da Bolsa de 1929 levaram ao crescimento dos sindicatos, que reivindicavam a nacionalização das principais indústrias, a redução da jornada de trabalho sem perda dos salários e a defesa do poder de compra diante da inflação. É exigida uma série de medidas sociais destinadas a valorizar o emprego e o consumo em massa. “ No final da Primeira Guerra Mundial se tentou imediatamente redigir uma declaração geral dos direitos dos grupos, sob forma do princípio da autode- terminação nacional, mas em seguida se comprovaram sua insuficiência e vagueza quando se apreciaram os resultados dos últimos esforços feitos para levá-lo à prática (GROCE; CARR; ARON, 2002, p. 11). No decorrer do século XX, a sociedade reduziu as possibilidades de consumo e as li- berdades civis, com a ascensão do fascismo, o qual vigorou até o final da Segunda Guerra Mundial. Em 1932, nos Estados Unidos, o New Deal, do presidente Franklin Roosevelt (1882 – 1945), marcou a busca de um novo compromisso sobre o qual concordassem as principais forças sociais. O compromisso incluiu a proibição do trabalho infantil, a semana de quarenta horas nos escritórios e de trinta e cinco horas nas usinas, e a im- plementação do salário mínimo. Pós-Universo 16 Na França, em 1936, com a Frente Popular, que foi uma coalizão de partidos de esquerda que ficou no poder entre 1936 a 1938, os Acordos Matignon (MINISTÈRE DU TRAVAIL, [2018], on-line)2 contemplaram normas e convenções coletivas que abarcavam, entre outras regras, a cláusula do salário mínimo e a das duas semanas de férias pagas. A instauração de leis – a exemplo das favoráveis à redução do tempo de trabalho e ao aumento do salário do trabalhador – especialmente introduzidas por medidas de proteção social, correspondeu às reivindicações geradas pelo desenvolvimento do modo de regulação e da revolução industrial. “ [...] a extensão do desemprego no período de paz entre as duas guerras, com sua aguda depressão econômica, significou uma crise para o desen- volvimento da declaração dos direitos do homem, iniciada no século: entre outras coisas, conduziu a um rápido desenvolvimento de planos de previ- dência social, que se opunham a muitos de seus conceitos individualistas tradicionais. Entretanto, esses conceitos haviam sido ameaçados, de outra forma, pelo desenvolvimento da União Soviética, depois da Revolução de 1917 (GROCE; CARR; ARON, 2002, p. 11). Observamos que tal conjunto de reformas sociais é, de certa forma, a resposta que a democracia dá à crise dos anos 1920 a 1930 e reforça, assim, os direitos humanos. Essas reivindicações sociais permitem verificar, de um lado, como o desenvolvimen- to econômico exigiu o reconhecimento desses direitos e, de outro, como os direitos humanos contribuíram para a modificação dos modos da regulação econômica. Em meio às persistentes ameaças de um mundo caracterizado por uma série de altos e baixos referentes à proteção dos direitos humanos, foi sob a perspectiva de positivação de direitos que surgiram sistemas de normas mais eficazes, para garan- tia de ordem individual e também social. A sociedade civil, representada em vários níveis de interesses e valores, organiza- -se para encaminhar ações em prol de políticas sociais e públicas, protestos sociais, manifestações simbólicas e pressões políticas. Sob tal recorte, o movimento contra a segregação racial consolida-se no início da década de 1960, particularmente em 1963, e conduz à promulgação do Civil Rights Act, em 1964, e do Voting Rights Act, em 1965. Pós-Universo 17 Atualmente, as articulações de redes de movimentos provocam o debate de temas transversais relacionados a várias faces da exclusão social e à demanda por novos direitos. Essa transversalidade implica o alargamento da concepção de direi- tos humanos e a ampliação da base das mobilizações. Coroa-se,assim, o período histórico em que proliferaram tratados internacionais e legislações nacionais nas áreas civil, política, econômica e cultural, buscando po- sitivar e ressaltar a necessidade de um processo de reconstrução e do respeito aos direitos e aos seres humanos como condição para a própria sobrevivência da huma- nidade. Tais documentos tiveram como fatores básicos a expansão das organizações internacionais, com o propósito de cooperação, o que pode ser verificado com a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948. No Brasil, tal desenvolvimento ocorreu na mesma época, mas duas fases carac- terizaram o contexto pátrio e latino-americano: o período dos regimes ditatoriais e o período da transição política aos regimes democráticos, marcado pelo fim das di- taduras militares (PIOVESAN, 2011, p. 123). Celso Lafer (2009) lembra que, do século XVIII até nossos dias, o elenco dos direi- tos do homem contemplados nas constituições e nos instrumentos internacionais alterou-se com a mudança das condições históricas. “ É difícil, consequentemente, atribuir uma dimensão permanente, não-variável e absoluta para direitos que se revelaram historicamente relativos. Algumas liberdades, como a de opinião, a de pensamento e a de associação – e no campo econômico a do consumidor – revelaram-se mais abrangentes do que outras – por exemplo, a empresarial ou a de propriedade, por força da interação histórica do legado liberal, que enfatiza a liberdade do indivíduo, e do legado socialista, que realça o igualitarismo (LAFER, 2009, p. 124). Pós-Universo 18 Raymond Aron lembra que, essencialmente, os direitos individuais, políti- cos e intelectuais não se modificaram entre 1789 e 1948, “[...] os juristas e os políticos continuam a enunciá-los em termos semelhantes (embora com algumas exceções significativas). Por outro lado, a Declaração de 1948 desva- loriza certos direitos (propriedade) intermediários entre os direitos políticos e os econômicos, e comporta um capítulo de direitos sociais com o qual os constituintes franceses não sonhavam. Fonte: Groce, Carr e Aron (2002, p. 28). fatos e dados Segundo Norberto Bobbio (2004), ainda que este processo de novos direitos tenha sido favorecido pelos ideais da cultura liberal-burguesa e pela doutrina do jus-raciona- lismo, o mesmo deve-se em grande parte à estreita conexão com as transformações da sociedade. Para o autor, essa multiplicação de novos direitos processou-se por três razões: a) aumento da “quantidade de bens considerados merecedores de tutela”; b) exten- são da “titularidade de alguns direitos típicos a sujeitos diversos do homem”; e c) o homem “é visto na especificidade ou na concreticidade de suas diversas maneiras de ser em sociedade, como criança, velho, doente etc.”, diferente da concepção ge- nérica e abstrata de antes (BOBBIO, 2004, p. 63). No entanto, independente do posicionamento adotado, em relação à origem dos direitos humanos, a necessidade de uma ação internacional mais eficaz para declará-los e protegê-los impulsionou o processo de sua internacionalização, culmi- nando com a elaboração de declarações universais e a criação de sistemas normativos regionais. Tal processo torna possível a responsabilização do Estado no domínio inter- nacional, quando as instituições nacionais mostrarem-se falhas ou omissas na tarefa de proteger os direitos do indivíduo. O processo de internacionalização dos direitos humanos – que, por sua vez, pres- supõe a delimitação da soberania estatal – passa, assim, a configurar importante resposta na busca de um novo paradigma (PIOVESAN, 2011, p. 176). Pós-Universo 19 A chamada Paz de Westfália firmada em Münster e Osnabrück, em 1648, trouxe a primeira previsão positivada da concepção de igualdade sobera- na entre os Estados. Desvincularam-se da Santa Sé os nascentes Estados europeus, iniciando-se um processo de identidade própria. Guido Soares lembra que “a denominada Paz de Westafália consagraria a regra que passa- ria a ser conhecida em sua formulação no latim cartorário da época: hujus regio, ejus religio, traduzido, literalmente, ‘na região dele, a religião dele’. Na verdade, a regra da Westfália nada mais quer significar do que: na região (leia-se, no território) sob império de um príncipe, esteja vigente unicamen- te uma ordem jurídica, sua ordem jurídica [...] o próprio Estado, como uma forma de organização da sociedade, nasceria, assim, com a marca indelével de possuir, como condição essencial para sua existência, uma base territo- rial, e o sistema jurídico nacional que dele se origina, por outro lado, passaria a ser eminentemente territorial. Fonte: Soares (2002, p. 30-31). fatos e dados Pós-Universo 20 A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS DE 1948: marco histórico e ideológico da Consolidação dos Direitos Humanos Pós-Universo 21 Sabemos que os direitos humanos estão inteiramente ligados à defesa do indivíduo contra as arbitrariedades do exercício do poder, em especial do poder do Estado. Nestes termos, a “liberdade torna-se assim no conceito fundador dos direitos humanos, da liberdade política e de todos os direitos que asseguram ao homem o pleno exer- cício de uma vida política” (BARRETO, 2010, p. 60). Tanto o conceito de dignidade humana como o de direitos humanos estão no mesmo plano – referem-se à pessoa humana –, mas, nesse plano, a dignidade situa-se em nível mais profundo na essência do homem, de modo que a liberdade lhe será subsumida. A separação dos dois conceitos – “dignidade” e “direitos humanos” – pode ser reali- zada por meio do exame da filosofia dos direitos humanos e da filosofia da dignidade humana, como condição metodológica preliminar para chegarmos ao conceito de dignidade. Somente assim, poderemos compreender que o conceito de dignida- de humana situa-se em plano epistemológico distinto daquele em que se situam os de direitos humanos e, com isto, poderemos evitar a simplificadora identificação dos dois conceitos. O resultado dessa simplificação epistemológica terminaria por sujeitar o conceito de dignidade humana, que procuramos definir, ao conceito de direitos humanos, que se encontra juridicamente estabelecido. Essa construção con- ceitual poderá ser realizada na medida em que atentarmos para uma constatação básica, a de que a dignidade humana encontra-se fora da esfera conceitual, em que se encontram definidos os direitos humanos. Assim, poderemos concluir como a dig- nidade humana, na sua acepção jurídica, não pode ficar restrita a campos definidos pelo direito positivo, mas pressupõe, para sua materialização jurídica, perspectivas mais amplas do que permite o espaço jurídico positivado (BARRETO, 2010, p. 58-59). Pós-Universo 22 A separação dos dois conceitos – “dignidade” e “direitos humanos” – pode ser realizada através do exame da filosofia dos direitos humanos e da filosofia da dignidade humana, como condição metodológica preliminar para che- garmos ao conceito de dignidade. Somente assim poderemos compreender que o conceito de dignidade humana situa-se em plano epistemológico dis- tinto daquele onde se situam os de direitos humanos e com isto poderemos evitar a simplificadora identificação dos dois conceitos. O resultado dessa simplificação epistemológica terminaria por sujeitar o conceito de dignida- de humana, que procuramos definir, ao conceito de direitos humanos, que se encontra juridicamente estabelecido. Essa construção conceitual poderá ser realizada na medida em que atentarmos para uma constatação básica, a de que a dignidade humana encontra-se fora da esfera conceitual onde se encontram definidos os direitos humanos. Assim, poderemos concluir como a dignidade humana, na sua acepção jurídica, não pode ficar restrita a campos definidos pelo direito positivo, mas pressupõe para sua materia- lização jurídica perspectivas mais amplas do que permite o espaço jurídico positivado. Fonte: Barreto (2010, p. 58-59). quadroresumo A constatação de que no substrato dos direitos humanos encontra-se um valor moral surge em razão de dois fenômenos sociopolíticos: a barbárie nazista e a biomedici- na. Ambas suscitam temor e a necessidade explícita de proteção do ser homem por meio do reconhecimento de sua dignidade (BARRETO, 2010, p. 60), e é dessa forma que o ser humano emerge como sujeito de direitos emanados diretamente do Direito Internacional e dotado de capacidade processual para reivindicá-los. Em 1945, a promoção do indivíduo aparece, principalmente, em duas esferas: no âmbito do Direito Internacional Penal, no caso dos crimes perpetrados pelos nazis- tas e condenados perante uma jurisdição internacional, e na Carta das Nações Unidas. Pós-Universo 23 Como exemplo no caso do Tribunal Internacional, pode-se citar o Tribunal de Nuremberg reuniu-se em 20 de novembro de 1945 e ao final decre- tou 11 condenações à morte, três prisões perpétuas, duas condenações a 20 anos de prisão, uma a 15 anos e outra a 10 anos. Os réus foram enqua- drados e responsabilizados como sujeitos de Direito Internacional Público. Diante, porém, da ausência de norma instituída, o tribunal fundamentou as condenações na violação do direito costumeiro internacional que proíbe os crimes contra a humanidade. Fonte: as autoras saiba mais A Carta das Nações Unidas, que, embora expresse uma concepção de direitos humanos restrita às liberdades individuais, já consagra a busca de um mínimo ético a ser obser- vado pelos países que integram a ONU. Em verdade, a Carta das Nações Unidas não atribuiu conteúdo expresso aos direitos humanos e liberdades fundamentais, deixan- do tal tarefa à Declaração Universal dos Direitos Humanos (PIOVESAN, 2011, p. 128). A Segunda Guerra Mundial produziu, de fato, uma legislação abundante em relação à proteção dos Direitos Humanos, que coloca cada vez mais o ser humano no centro das atenções. Essa importância atribuída ao indivíduo na evolução da sociedade, nas últimas décadas, levou-nos a questionar sobre sua autonomia e dignidade, sendo conside- rado, por alguns doutrinadores, como sujeito de direito internacional, ao lado do Estado e das organizações internacionais (PIOVESAN, 2011). A elaboração da Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, deveu-se ao entusiasmo suscitado pela criação da Organização das Nações Unidas (ONU), cuja égide reuniu os Estados, levando em conta as experiências nazifascistas do período da Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de instituir uma nova organização in- ternacional na busca pela paz (PIOVESAN, 2011). A recém-fundada organização atribuiu a Comissão da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) para as Bases Filosóficas dos Direitos Humanos a tarefa de estabelecer a fundamentação dos direitos humanos constantes da Declaração (UNESCO, 2002). Pós-Universo 24 Sob tal recorte previa-se que “ Esta declaração comum deve reconciliar de alguma maneira as diversas de- clarações divergentes e opostas que existem agora. Deve, além disso, ser suficientemente precisa como para ter um verdadeiro significado de inspira- ção que há de levá-la à prática, mas também suficientemente geral e flexível como para ser aplicável a todos os homens e poder ser modificada com a fi- nalidade de que se ajuste aos povos que se encontram em diferentes fases de desenvolvimento social e político, sem deixar, não obstante, de ter signi- ficação para eles e para suas aspirações (UNESCO, 2002, p. 14). A Comissão realizou um estudo aprofundado que resultou na Declaração Universal dos Direitos Humanos aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948. O texto da Declaração anuncia, no artigo 3º, que “toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal” (BRASIL, 2014, on-line)3, além de dispor sobre a direito à igualdade (UNIC, [2018], on-line)4, os direitos civis e fami- liares, os direitos políticos (BRASIL, 2014, on-line)3 e os direitos econômicos e sociais. Frente ao documento, o indivíduo não tem, todavia, somente direitos, mas também um conjunto de compromissos para com a comunidade na qual vive e onde de- senvolve sua personalidade. A afirmação desses compromissos é igualmente uma novidade do direito contemporâneo, uma vez que as leis internas ocupavam-se tão somente dos direitos do indivíduo. Ressalta-se que a Declaração Universal não possui força jurídica obrigatória e vin- culante perante os indivíduos ou os Estados e, neste ponto, parece desprovida de efeitos práticos. O fato decorre de a mesma configurar uma declaração e não um tratado. Por atestar o reconhecimento universal dos direitos humanos fundamentais, todavia caracteriza-se como costume internacional (FINNIS, 2007, p. 234) e atinge manifesto valor moral. Pós-Universo 25 A ausência de força jurídica vinculante da Declaração e a necessidade de sua ju- dicialização culminaram com a elaboração do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, aprovado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em dezembro de 1966, e aberto à adesão dos Estados, do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, em vigor no âmbito internacional a partir de janeiro de 1976. Os dois pactos consolidam a expressão do regime normativo de proteção internacional em sua globalidade. A Declaração Universal dos Direitos Humanos e os dois pactos constituem a Carta Internacional dos Direitos Humanos. “ A Carta Internacional dos Direitos Humanos inaugura, assim, o sistema global de proteção desses direitos, ao lado do qual já se delineava o sistema regio- nal de proteção, nos âmbitos europeus, interamericano e, posteriormente, africano. O sistema global, por sua vez, viria a ser ampliado com o advento de diversos tratados multilaterais de Direitos Humanos, pertinentes a deter- minadas e específicas violações de direitos, como o genocídio, a tortura, a discriminação racial, a discriminação contra mulheres, a violação dos direi- tos das crianças, entre outras formas específicas de violação. Daí a adoção da Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, da Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanas ou Degradantes, da Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial, da Convenção sobre a eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher, da Convenção sobre os Direitos da Criança, entre outras (PIOVESAN, 1997, p. 152-153). A Declaração Universal de Direitos do Homem, enriquecida pelos pactos político e social – que acrescentaram número significativo de direitos político-sociais ao docu- mento de 1948 –, é considerada a mais importante e ampla de todas as declarações das Nações Unidas e uma fonte de inspiração fundamental para os esforços nacio- nais e internacionais destinados a promover e proteger os direitos humanos e as liberdades fundamentais. Pós-Universo 26 Sobre a influência da Declaração em diversos ordenamentos jurídicos, John Finnis nos lembra que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, foi usada como modelo não apenas para o Pacto sobre Direitos Civis e Políticos e sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais das Nações Unidas (1966), mas também para as Constituições dos Estados contemporâneos. “Tais documentos tão minuciosamen- te ajuizados merecem atenção por parte de quem deseja analisar os problemas da vida humana em comunidade, em termos de direitos humanos, naturais ou jurídi- cos” (FINNIS, 2007, p. 207). Destarte, diante da humanização e internacionalização reinauguradas em 1948 pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, a proteção dos direitos humanos ocupa reconhecidamente posição central na agenda internacional nesta passagem de século. Os múltiplos instrumentos internacionais revelam uma unidade fundamen- tal de concepção e propósito, partindo da premissa de que os direitos protegidos são inerentesa todos os seres humanos, sendo anteriores e superiores ao Estado e a todas as formas de organização política (FINNIS, 2007). Por conseguinte, tais instrumentos têm sido postos em operação no enten- dimento de que iniciativas de proteção a esses direitos não podem exaurir-se na ação do Estado. Mais do que isso, reconhecem o indivíduo como portador de direi- tos que independem do Estado, e é considerado a mola propulsora da articulação de uma rede transnacional de indivíduos, movimentos sociais e organizações não- -governamentais em torno de questões de interesse global (FINNIS, 2007). Dessa maneira, o indivíduo constitui uma verdadeira revolução jurídica, possibilitando que reivindiquem seus direitos contra as manifestações do poder arbitrário e atribuindo conteúdo ético às normas tanto do direito público interno como do direito interna- cional (TRINDADE, 2006). A inserção do indivíduo como sujeito de Direito Internacional Público permite que o ser humano deixe de ser mero espectador e torne-se capaz de pleitear o que outrora não lhe foi concedido pelo Estado. No entanto, o debate sobre a fundamentação ra- cional – e, em decorrência, sobre a natureza e validade universal dessa categoria de direitos – acha-se intimamente ligada à eficácia de seus mecanismos garantidores. Pós-Universo 27 O INDIVÍDUO E SEU PAPEL NO DIREITO INTERNACIONAL e na Consolidação dos Direitos Humanos Pós-Universo 28 Quando se fala no direito interno, entendemos que a atuação do indivíduo, como um sujeito de direito, é um tema pacífico no cenário internacional, sempre sendo apresentado conceitos diversos. Ao se falar em direito natural, para aqueles que são adeptos dessa corrente, pode-se dizer que existe uma unidade de princípios do direito e é possível, portanto, admitir que o indivíduo seja sujeito de Direito Internacional Público, assim como os Estados. Este é, inclusive, o grande legado do pensamento de Immanuel Kant, que considera o ser humano um fim em si mesmo, já que na pessoa pulsa a humanidade, e jamais um instrumento de submissão a outrem, sob pena de seus princípios não servirem de parâmetro para leis morais universais. “ O homem, e, duma maneira geral, todo ser racional, existe como fim em si mesmo, não só como meio para o uso arbitrário desta ou daquela vontade. Pelo contrário, em todas as suas acções, tanto nas que se dirigem a ele mesmo como nas que se dirigem // a outros seres racionais, ele tem sempre de ser considerado simultaneamente como fim (KANT, 2009, p. 72). Assim, o direito natural, que tem sua origem na natureza humana – que por sua vez é validada pelo fundamento do direito das gentes –, deve ser aplicado tanto aos in- divíduos como aos Estados (CAVARÉ, 1967, p. 486). Na visão de Jean-Paul Sartre (1905 – 1980), a noção de Deus foi suprimida no ateísmo filosófico do século XVIII, mas não a ideia de que a essência precede a existência: “ Esta ideia pode ser encontrada praticamente em todo lugar: encontramo- -la em Diderot, Voltaire e até mesmo em Kant. O homem seria possuidor de uma natureza humana; esta natureza humana, que é o conceito humano, se encontraria em todos os homens, o que significa que cada homem é um exemplo particular de um conceito universal, o homem; dessa universalidade resulta que, em Kant, o homem da selva, o homem da natureza e o burguês estão todos encaixados na mesma definição e possuem as mesmas qua- lidades básicas. Assim, mais uma vez, a essência do homem precede essa existência histórica com que nos deparamos na natureza (SARTRE, 2010, p. 24-25, marcação nossa) Pós-Universo 29 Já os adeptos ao direito objetivo reconheceram a retomada do monismo jurídico como consequência da participação do indivíduo enquanto sujeito de direito no plano internacional. O Estado, como outras personalidades ditas morais, é uma abstração, criação do espírito em que o aporte para a ciência jurídica é puramente metafísico e sem explicação. O direito reage unicamente aos indivíduos, seja qual for a amplitu- de do grupo de que sejam membros. Assim, a coletividade – e em especial o Estado – não poderia ser sujeito de direitos, mas apenas o indivíduo que, na verdade, seria o legítimo sujeito tanto de direito internacional público quanto de direito interno (CAVARÉ, 1967, p. 487). Para a doutrina positivista, ao contrário, o indivíduo não só não atua como não pode desempenhar qualquer papel no direito internacional público. Por isso, o direito internacional diferencia-se radicalmente do direito interno. Uma de suas caracterís- ticas reside precisamente na existência de um sujeito de direito distinto – o Estado – projetado como pessoa moral dotada de capacidade, titular de soberania, de uma vontade criadora de regras jurídicas (CAVARÉ, 1967). Para Carl Heinrich Triepel (1868 – 1946) e Dionisio Anzilotti (1867 – 1950), os maiores defensores desta teoria, a ordem jurídica internacional não gera direitos nem deveres aos indivíduos, que somente são afetados indiretamente por meio das normas emanadas do Estado de que são nacionais. O indivíduo não pode, portanto, ser considerado sujeito ativo ou passivo das obrigações, e uma vez que não é legíti- mo para exercer qualquer atividade, eventuais atos prejudiciais ou ilícitos não podem ser submetidos à responsabilidade internacional (apud CAVARÉ, 1967, p. 487-488). Segundo Louis Cavaré (1967), foi Hugo Grotius quem particularmente insistiu no papel do indivíduo. Para ele, os indivíduos físicos são os membros essenciais tanto da sociedade interna quanto da internacional. “ Os indivíduos possuem direitos naturais fundamentais: direito de resistên- cia à opressão, de navegar sobre os mares, de se apropriar de territórios sem dono, de comprar a justo preço as coisas necessárias e vitais. [...] Melhor ainda, o papel do indivíduo é essencial na teoria contratual da formação do Estado e para a transformação deste último. O Estado, para Grotius, é tão insepará- vel de seu povo que, ao mover-se, leva o Estado com ele (CAVARÉ, 1967, p. 486-487, tradução nossa). Pós-Universo 30 Grotius (2004) enfatiza o surgimento de regras a partir do consentimento entre os Estados, formando, destarte, um fundamento simultaneamente jusnaturalista e po- sitivista do Direito das Gentes. Para Alfred Verdross (1890 – 1980), o direito internacional divide-se em direito inter- nacional stricto sensu – compreendendo as regras habituais do direito internacional e onde o Estado é o sujeito clássico – e direito internacional lato sensu, que compreende as regras emanadas por organismos internacionais, formando o direito administrativo internacional, o direito penal internacional e o direito privado internacional – e onde o indivíduo é sujeito de direito internacional. (apud CAVARÉ, 1967, p. 490) Na opinião de Hans Kelsen (2010, p. 190), tanto os Estados como os indivíduos possuem subjetividade internacional. Para o jurista, existem tanto regras de direito internacional geral costumeiro quanto de direito interno estabelecidas em tratados e onde os indivíduos detêm deveres e obrigações, bem como há normas de direito internacional que se dirigem diretamente a um indivíduo. Foi a partir destas teorias, baseadas no direito natural que os autores clássicos do direito internacional admitiam a subjetividade do indivíduo. Verifica-se, no entanto, que grande parte das normas internacionais que contemplam o indivíduo tem como destinatários os Estados, que ficam obrigados a tomar medidas internas a seu favor. Assim, o indivíduo é atingido indiretamente pela normatividade internacional e, em especial, pelas normas concernentes aos direitos humanos. Sugiro a leitura do texto, a seguir, que ressalta alguns dos pontos principais no desenvolvimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos nos últimos 60 anos, a partir de sua experiência de trabalho, tanto no Sistema Interamericano quanto no Sistema das ONU de Direitos Humanos: PINHEIRO, PauloSérgio. Os sessenta anos da Declaração Universal: atravessando um mar de contradições. Sur, Rev. int. direitos human. [online]. 2008, vol.5, n.9, pp. 76-87. ISSN 1806-6445. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1806- 64452008000200005>. Acesso em: jan.2015. saiba mais atividades de estudo 1. Quando falamos do significado dos direitos humanos, várias foram as tentativas da doutrina em definir os direitos do homem, sem conseguir chegar a um fundamento absoluto. A partir dessa ideia, assinale como pode ser entendido os direitos humanos. a) Os direitos humanos têm como característica uma fundação de princípios e de direitos, e constituem-se a partir de aspirações da sociedade em virtude de seus valores morais. b) Os direitos humanos não tem um cunho filosófico em sua conceituação. c) Os direitos humanos podem e devem ser tratados como direitos do homem. d) Os direitos humanos são aqueles que pertencem ou deveriam pertencer a todos os homens, ou dos quais nenhum homem pode ser despojado. e) Os direitos do homem são aqueles cujo reconhecimento é condição necessária para o aperfeiçoamento da pessoa humana. 2. A Proclamação dos Direitos do Homem surgiu quando a fonte da lei passou a ser o indivíduo e não mais o comando de Deus ou dos costumes. A positivação das de- clarações tanto nas Constituições francesa quanto na americana buscou conferir aos direitos uma dimensão permanente e estabilizadora. Com relação aos direitos humanos, analise as assertivas abaixo: I) A Revolução Americana de 1776 decorreu do conflito entre os colonos e a Coroa inglesa, tendo suas raízes no Tratado de Paris de 1763. II) O Tratado de Paris pôs fim a Guerra dos Sete Anos, anunciando a vitória da Inglaterra sobre a França, deixando a nação vencedora na posse de ricos territórios no conti- nente americano, que já era colonizado, surgindo assim a Declaração dos Direitos da Virgínia. III) A filosofia política do liberalismo cuidou de salvar a liberdade decompondo a soberania na pluralidade dos poderes. IV) Na interação entre governantes e governados que antecedeu a Revolução Americana e a Revolução Francesa, os direitos do homem surgiram para afirmar os direitos individuais em face do poder do soberano no Estado absolutista. É correto o que se afirma em: a) I e II apenas. b) III e IV apenas. c) I, III e IV apenas. d) II, III e IV apenas. e) I, II, III e IV. atividades de estudo 3. Os direitos humanos estão inteiramente ligados à defesa do indivíduo contra as ar- bitrariedades do exercício do poder, especialmente do poder do Estado. Sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 analise as assertivas abaixo: I) O conceito de dignidade da pessoa humana e de direitos humanos estão no mesmo plano, onde a dignidade se situa num nível mais profundo na essência do homem. II) Em 1945 houve uma promoção do indivíduo em duas esferas: no Direito Internacional Penal e na Carta das Nações Unidas. III) A Segunda Guerra Mundial não produziu nenhuma legislação significativa em relação à proteção dos Direitos Humanos. É correto o que se afirma em: a) III apenas. b) I e II apenas. c) II e III apenas. d) I e III apenas. e) I, II e III. resumo Neste estudo realizaremos o estudo dos movimentos históricos que contribuíram para o desen- volvimento dos direitos humanos, por meio de um resgate cronológico e do pensamento de doutrinadores clássicos e contemporâneos dedicados à temática. Verificaremos, inicialmente, que os direitos humanos têm como alicerces tanto princípios e di- reitos que se constituem a partir de aspirações da sociedade, em virtude de seus valores morais, como, também, apresentam uma base filosófica, que considera esses direitos como um ideal. A reflexão teórica sobre os fundamentos dessa categoria de direitos nos países ocidentais será observada paralelamente à evolução econômica e à valorização do homem. Observaremos que sua concepção atual é produto de uma lenta formação e fruto de conquistas por meio das lutas pela proteção das sociedades como um todo. É por meio da laicização do direito e da positivação das Constituições francesa e americana, bem como das reivindicações desses movimentos sociais, que se iniciam o processo de consolidação dos direitos humanos. Nesse sentido, perceberemos que as declarações clássicas de direitos do homem foram redigi- das com base em um conceito intrínseco dos direitos individuais como absolutos e inatos. Os instrumentos internacionais partem da premissa de que os direitos protegidos são inerentes a todos os seres humanos, sendo anteriores e superiores ao Estado e a todas as formas de orga- nização política. Essa imersão é fundamental para compreendermos as reflexões lançadas sobre esses direitos no campo teórico, e sua consequente aplicação prática, refletida na legislação abundante em relação à proteção dos direitos humanos que coloca cada vez mais o ser humano no centro das atenções, tendo como fonte de inspiração a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. material complementar Direitos Humanos - Os 60 Anos da Declaração Universal da Onu Autor: Folmann,Melissa / Annoni,Danielle Editora: Juruá Sinopse: nesta obra são expostos diversos artigos sobre assuntos fun- damentais envolvendo o marco histórico para a humanidade que foi a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Um documentos tão impor- tante que proporcionou à humanidade o reconhecimento de diversos direitos, que só evoluem com o passar dos anos, procurando acompanhar as mudanças em nossa sociedade. referências BARRETO, Vicente de Paulo. O fetiche dos direitos humanos e outros temas. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. 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