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Psicopedagogia clinica

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Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 
 
1
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO DE: 
 
FUNDAMENTOS GERAIS DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA-
INSTITUCIONAL 
 
 
 
 
 
AUTORIA: 
 
HIRAN PINEL 
 
 
 
 
 
Copyright © 2008, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 
 
 
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 
 
2
Módulo De: Fundamentos Gerais da Psicopedagogia Clínica-Institucional 
Autoria: Hiran Pinel 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Todos os direitos desta edição reservados à 
ESAB – ESCOLA SUPERIOR ABERTA DO BRASIL LTDA 
http://www.esab.edu.br 
Av. Santa Leopoldina, nº 840/07 
Bairro Itaparica – Vila Velha, ES 
CEP: 29102-040 
Copyright © 2008, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 
 
 
Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 
 
3
Apresentação 
Esse texto, de natureza estritamente didático-pedagógica, objetiva apresentar alguns 
fundamentos da psicopedagogia. Trata-se de um "guia" que pode dar sentido/norte à vida 
acadêmica do aluno e do seu ser leitor. Sendo apenas uma luz que ilumina a trajetória, ele 
não pretende ser exaustivo e muito menos definitivo, visto ser tendencioso, já que o 
organiza-dor do texto assume que suas escolhas são baseadas na vivência de ser psicólogo, 
educa-dor, professor e pesquisa-dor. Para maior aprofundamento a pessoa interessada pode 
recorrer às bibliografias citadas. 
 
 
Muitas vezes, o leitor encontrará palavras que contém em si, outro termo. Para "brincar" com 
as muitas possibilidades de construir textos, muitas vezes quis, ao meu bel prazer, dar 
destaque por meio de um ou dois hífens, o lúdico e a reutilização dos sentidos da linguagem. 
Quando eu digo uma palavra, não quero dizê-la apenas, mas desejo que ela se nos 
multiplique muitos significados-sentidos que possa ter ou vir a ter. Eu só não fiz esse jogo 
quando as palavras eram citações na íntegra de outros autores. 
 
 
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4
 
Objetivo 
Conhecer as bases da Psicopedagogia Clínica-Institucional bem como os múltiplos fatores 
que contribuíram para a sistematização e consolidação desse campo do saber. 
 
 
Ementa 
Psicopedagogia: fundamentos sócio-culturais, biológicos-organicista, filosóficos e 
psicológicos. Campos norteadores da ação psicopedagógica. 
 
Sobre o Autor 
Hiran Pinel é Doutor em Psicologia em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano 
pelo Instituto de Psicologia da Universidade do Estado de São Paulo (IPUSP). É Mestre em 
Educação (área de concentração: Desenvolvimento Humano e Processos Educacionais) pelo 
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo 
(PPGE/UFES). É Psicólogo pela Faculdade Dom Bosco de São João Del Rey, MG. É 
Bacharel em Psicologia e Licenciado em Psicologia pelo Instituto Cultural Newton Paiva 
Ferreira de Belo Horizonte, MG. É registro no Conselho Federal de Psicologia sob o número 
04/1798, onde obteve os títulos de residência em Psicologia Clínica e Psicopedagogia. 
 
 
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5
Já foi: psicólogo educacional-comunitário; psicólogo de instituições públicas (FEBEM-ES; 
Juizado da Infância e da Juventude; hospital público); psicopedagogo clínico-institucional; 
psicopedagogo de jovens e adultos; psicopedagogo dos Recursos Humanos em 
organizações etc. Foi professor do ensino médio (rede pública) e de ensino superior (escola 
privada e pública). Foi orientador educacional em escola pública e particular. 
Desde 1977 é psicólogo clínico e psicopedagógico. Atualmente é professor adjunto da 
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), estando trabalhando no Centro Pedagógico 
(CP), no quadro docente do Departamento de Fundamentos em Educação e Orientação 
Educacional (DFEOE) e do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE). 
Como pesquisador estas inserido no núcleo temático: Contextos Sócio-pedagógicos da 
Educação; na linha de pesquisa: Educação Especial: Abordagens e Tendências; no subtema 
(singularidade na pluralidade de ser pesquisador): práticas educativas extra-escolares em 
Educação Especial e em Psicopedagogia Clínico-Institucional (os diversos sentidos-sentidos 
da psicopedagogia & da Educação Especial em contextos não-escolares). 
 
 
 
 
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6
SUMÁRIO 
UNIDADE 1 ........................................................................................................... 9 
O QUE É PSICOPEDAGOGIA .......................................................................... 9 
UNIDADE 2 ......................................................................................................... 13 
FUNDAMENTOS SÓCIOCULTURAIS ............................................................ 13 
UNIDADE 3 ......................................................................................................... 16 
FUNDAMENTOS BIOLÓGICO-ORGANICISTAS ........................................... 16 
UNIDADE 4 ......................................................................................................... 18 
FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS .................................................................... 18 
UNIDADE 5 ......................................................................................................... 24 
FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS................................................................. 24 
UNIDADE 6 ......................................................................................................... 26 
CAMPOS NORTEADORES DA AÇÃO PSICOPEDAGÓGICA ...................... 26 
UNIDADE 7 ......................................................................................................... 30 
UNIDADE 8 ......................................................................................................... 32 
A PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO EM VYGOTSKY ........................ 32 
UNIDADE 9 ......................................................................................................... 36 
A PSICOLOGIA DE APRENDIZAGEM EM VYGOTSKY ................................ 36 
UNIDADE 10 ....................................................................................................... 42 
FUNDAMENTOS PSICANALÍTICOS .............................................................. 42 
UNIDADE 11 ....................................................................................................... 46 
A ABORDAGEM PSICANALÍTICA NA PSICOPEDAGOGIA .......................... 46 
UNIDADE 12 ....................................................................................................... 48 
CONCEITOS-CHAVES NA PSICANÁLISE ..................................................... 48 
UNIDADE 13 ....................................................................................................... 51 
 
 
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7
VISÃO DA NATUREZA HUMANA ................................................................... 51 
UNIDADE 14 ....................................................................................................... 52 
CONSCIÊNCIA E INCONSCIÊNCIA ............................................................... 52 
UNIDADE 15 ....................................................................................................... 54 
ANSIEDADE ..................................................................................................... 54 
UNIDADE 16 ....................................................................................................... 55 
MECANISMOS DE DEFESA DO EGO ........................................................... 55 
UNIDADE 17 ....................................................................................................... 58 
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE ............................................... 58 
UNIDADE 18 .......................................................................................................60 
O PRIMEIRO ANO DE VIDA: A FASE ORAL ................................................. 60 
UNIDADE 19 ....................................................................................................... 62 
DO PRIMEIRO AO TERCEIRO ANO: A FASE ANAL ..................................... 62 
UNIDADE 20 ....................................................................................................... 64 
DO TERCEIRO AO QUINTO ANO: A FASE FÁLICA ..................................... 64 
UNIDADE 21 ....................................................................................................... 66 
O PROFISSIONAL QUE SE PROPÕE SENTIR-PENSAR-AGIR 
PSICOPEDAGOGIA ........................................................................................ 66 
UNIDADE 22 ....................................................................................................... 70 
A ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO CLÍNICO ............................................. 70 
UNIDADE 23 ....................................................................................................... 72 
A ATUAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA INSTITUCIONAL ................................... 72 
UNIDADE 24 ....................................................................................................... 77 
PSICOPEDAGOGIA, CIÊNCIA, ARTE E PESQUISA ..................................... 77 
UNIDADE 25 ....................................................................................................... 84 
UNIDADE 26 ....................................................................................................... 87 
ARTIGOS ESCOLHIDOS ................................................................................ 87 
UNIDADE 27 ....................................................................................................... 93 
 
 
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8
Uma parte do cotidiano do projeto ................................................................... 93 
UNIDADE 28 ....................................................................................................... 97 
Conclusão ........................................................................................................ 97 
UNIDADE 29 ....................................................................................................... 99 
DESEMPENHO ESCOLAR, AUTOCONCEITO E .......................................... 99 
UNIDADE 30 ..................................................................................................... 103 
"- OLHA O PASSARINHO! Diga "XIS"! : ....................................................... 103 
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 112 
GLOSSÁRIO ..................................................................................................... 113 
 
 
 
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9
UNIDADE 1 
Objetivo: Permitir aos alunos uma compreensão geral do campo da Psicopedagogiga e suas 
principais características, bem como do papel da atuação do Psicopedagogo. 
O QUE É PSICOPEDAGOGIA 
 
A primeira questão, a saber, é: O que é psicopedagogia? Para início de 
conversa temos que concordar com Bossa (1994) que a palavra 
psicopedagogia é complexa. Quanto mais tentamos elucidá-la, menos 
clara ela nos parece. 
Se consultarmos um dicionário clássico de termos técnicos encontraremos: 
Psicopedagogia: Termo cujo aparecimento no início do século XX não pôde causar 
admiração, de tal modo parecia evidente, na época, a privilegiada relação da pedagogia com 
a psicologia, que era considerada renovadora do conhecimento do sujeito da educação: a 
criança. No final do século, esse privilégio é contestado. As realidades da educação 
dependem igualmente, e até mais, de uma sociopedagogia, cuja ausência no inventário das 
ciências demonstraria a força de ideologia psicologista. A psicopedagogia é uma das 
possíveis abordagens da situação educacional, a que leva em consideração seus 
componentes psicológicos: característicos dos indivíduos e dos grupos, relações 
professores-alunos, articulação dos conteúdos e dos métodos com os processos 
individualizados de aprendizagem, etc.(HOMELINE, in DORON e PAROT, 1998; p. 634) 
Já Allessandrini (1996) é objetiva: 
A psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem a partir da contextualização teórico-
prática que advém da pedagogia e da psicologia. A práxis psicopedagógica apresenta 
propostas educacionais que convidam a criança a participar ativamente de seu processo de 
 
 
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aprendizagem, o que configura a necessidade de uma mudança qualitativa no ensinar e no 
aprender. O aprender vivido de forma mais integrada propõe intrínsecas e extrínsecas 
{questões} à aquisição do conhecimento. (p.21) 
O fato é que, segundo Visca (1987), a psicopedagogia nasceu com uma ocupação empírica 
pela necessidade de atender crianças com dificuldades de aprendizagem, cujas causas eram 
estudadas pela medicina e psicologia. Para ter-se uma idéia, no Brasil, a profissão de 
psicólogo, registrada em 1962, diz em uma de suas leis que é direito privativo deste 
profissional o uso de métodos e técnicas psicológicas objetivando orientação 
psicopedagógica. 
Com o decorrer do tempo, o que inicialmente foi uma ação subsidiária destas disciplinas, foi 
se perfilando como um conhecimento independente e complementar, possuidor de um objeto 
de estudo (o processo de aprendizagem) e de recursos diagnósticos, corretores/tratamento e 
preventivos próprios. 
Geralmente o especialista em psicopedagogia obtém este "título" em algum curso oficial e/ou 
livre/aberto. Ele deve intitular-se usando sua graduação. Em um cartão profissional de 
apresentação, o correto, por exemplo: "PEDAGOGO COM ESPECIALIZAÇÃO EM 
PSICOPEDAGOGIA" OU "PROFESSOR DE PSICOLOGIA COM ESPECIALIZAÇÃO..." 
OU... 
 
O psicopedagogo, para Allessandrini (1996), pode reprogramar projetos 
educacionais, facilitadores de uma aprendizagem mais dinâmica e 
significante, supervisionando programas, treinando educadores e atuando 
junto a profissionais de educação, ou então buscando o aprimoramento de 
qualidade de aprendizagem do sujeito que apresenta dificuldades escolares. 
O especialista em Psicopedagogia pode atuar tanto em nível clínico quanto institucional, pois 
ele se propõe a compreender e atuar nos vínculos presentes entre o ato de ensinar e a ação 
de aprender, assim como nas possíveis barreiras que impedem seu fluir harmonioso. Para 
 
 
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Fagali (1987) a proposta da Psicopedagogia é trabalhar basicamente com as relações 
afetivas ocorridas durante a aprendizagem, de modo a garantir que o sujeito seja criativo, 
espontâneo, perseverante e transforma-dor ao trabalhar seu próprio pensamento. 
Para tornar-se especialista nessa área, todo e qualquer profissional de nível superior, 
preferencialmente, deve fazer um curso de Psicopedagogia. Normalmente, o caráter 
multidisciplinar da Psicopedagogia se revela pelo número de graduações diferenciadas que 
freqüentemente comparecem a tal curso: pedagogos, psicológicos, fonoaudiólogos, 
terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, licenciados, médicos (pediatras, psiquiatras, 
neurologistas etc.). 
Para Alicia Fernandez (1990) esse saber, o da Psicopedagogia, só é possível com uma 
formação que se oriente sobre três pilares: 
a) Prática clínica: Em consultório individual-grupal-familiar; em instituições educativas e 
sanitárias; 
b) Construção Teórica: Permeada pela prática de forma que, a partir desta, a teoria 
psicopedagógica possa ser tecida; 
c) Tratamento psicopedagógico-didático: Constitui num espaço para a construção do 
olhar e da escuta clínica, a partir de análise de seu próprio aprender, que configuram a 
atitude psicopedagógica.Refere-se à super-visão clínica e técnica do psicopedagogo, 
onde terá à sua disposição um profissional mais abalizado a orientar a prática do 
outro. 
 
Em um sentido mais amplo, concordamos com Bossa (1994) que a Psicopedagogia se ocupa 
da aprendizagem humana, que adveio de uma demanda - o problema de aprendizagem, 
colocado num território pouco explorado, situado além dos limites da Psicologia e da própria 
Pedagogia - e evoluiu devido à existência de recursos, ainda que embrionários, para atender 
esta demanda, constituindo-se, assim, numa prática. O trabalho psicopedagógico ilumina-se 
 
 
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curativo (clínico) ou preventivo. Para os psicopedagogos existencialistas ele se ilumina 
CUIDADOR: CUIDAR DO OUTRO SER EM SER. 
No trabalho preventivo, a instituição, enquanto espaço físico e psíquico da aprendizagem é 
objeto de estudo da Psicopedagogia, uma vez que são avaliados os processos didático-
metodológicos e a dinâmica institucional que interferem no processo de aprendizagem. 
(BOSSA, 1994; p. 12). Geralmente é realizado um diagnóstico da instituição, seu clima e 
cultura e se faz uma proposta de intervenção, geralmente grupal. 
 
 
 
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13
UNIDADE 2 
Objetivo: Permitir aos alunos visualizar as bases sócio-culturais para o processo de produção 
histórica dos saberes em Psicopedagogia, registrando suas referências fundamentais e suas 
tendências. 
FUNDAMENTOS SÓCIOCULTURAIS 
Bossa (1994) fez um interessantíssimo resgate histórico do campo da Psicopedagogia. O 
movimento da Psicopedagogia no Brasil remete-nos à Argentina. Devido à proximidade 
geográfica e ao acesso fácil à literatura (inclusive pela facilidade dos brasileiros 
compreenderem o espanhol), as idéias dos argentinos muito têm influenciado nossas 
práticas. 
A psicopedagogia, tal qual proposta por este movimento é ainda ensinada no Brasil por 
muitos argentinos, além disso, autores argentinos escreveram os primeiros artigos, 
resultando dos primeiros esforços no sentido de sistematizar um corpo teórico próprio da 
psicopedagogia. Vale citar: Sara Paín, Jorge Visca, Alicia Fernández etc. 
A Psicopedagogia Argentina é bem marcada por autores franceses como Jacques Lacan, 
Maud Mannoni, Fraçoise Dolto, Júlian de Ajuriaguerra, Janine Mery, Michel Lobrot, Pierre 
Vayer, Maurice Debesse, René Diatkine, George Mauco, Pichón-Riviére etc. O famoso 
psicopedagogo argentino Jorge Visca, recentemente falecido (2000/2001), ao criar a 
Epistemologia Convergente na clínica psicopedagógica (Visca, 1987) fez convergir a 
Psicanálise, a Epistemologia Genética de Piaget e a Psicologia Social de Enrique Pichon-
Riviere, cujas teorias tem fortes tendências marxistas. 
Vamos estudar, com base no método e técnica de pesquisa psicobiográfico, um desses 
autores. Propomos o nome de Enrique Pichón-Riviere, e vamos dedicar essa pequena e 
audaciosa psicobiografia ao nosso querido amigo e estudioso da Psicanálise o Senhor Júlio 
Arturo Garcia, argentino-brasileiro-capixaba. 
 
 
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Rivière: nasceu em 1907; faleceu em 1977. Ele é considerado por 
Roudinesco e Plon (1998) como o verdadeiro pai fundador do freudismo 
argentino. Ele exerceu o poder mais pelo seu magistério oral (conferências, 
cursos, etc) do que por seus escritos. Ao lado de Marie Langer constitui a 
figura mais eminente da escola psicanalítica latino-americana. 
Pichón-Riviére nasceu em Genebra, de uma família de origem francesa que 
se estabeleceu em 1911 no Chaco e depois em Goya, no norte do país, região povoada 
pelos índios guaranis. Passou ali melancólica infância: "seu desejo de ser analista lhe adveio 
de uma vontade de ver com clareza entre duas culturas". Enrique se revela ser da 
contestação, do prazer pelas vivências antagônicas (ROADINESCO e PLON, 1998; p. 592). 
Com 19 anos, o jovem (dizem: o belo) Enrique começou estudar medicina na Faculdade de 
Buenos Aires. Sempre melancólico e bebendo para "tratar" de suas depressões, interessou-
se pela medicina, política e poesia. No hospital, onde já formado trabalhou, organizou uma 
equipe de futebol. Vejam os senhores leitores: sintam o ser lúdico e expressivo de Enrique. 
Também atuou como cronista literário. Seu melhor amigo foi o psiquiatra Frederico 
Aberastury, cuja irmã, a já famosa e finérrima Lady Arminda Aberastury, desposou em 1936. 
No mesmo ano, engajou-se com entusiasmo no comitê de apoio aos republicanos espanhóis, 
com o escritor Robert Arlt (1900-1942). 
Esse renomado autor vem contribuir sobre o aspecto social do aprender. A importância do 
trabalho em grupo vem ampliar o projeto psicopedagógico no sentido de não se prender a 
um psicologismo e uma redução da individualidade no "ensinar". O conceito aprender implica 
uma relação dinâmica e dialética do homem no contexto social. Ele considera o homem 
como um ser de necessidades que só se satisfaz socialmente. Nas relações de produção o 
homem emerge como sujeito, com uma forma de pensamento, sentimento e ação. Sua teoria 
afirma que temos de agir, refletir, incorporando teorias que expliquem nossas ações, e ai 
podemos transformar. A proposta de modificação é sempre no "aqui-e-agora", pois nele está 
o presente, o passado e futuro. Refletir significa apreender o significado "daquilo-mesmo". 
 
 
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15
Neste sentido, o grupo é o espaço onde se aprende a pensar com novas matrizes, 
explicitando os padrões passados já interiorizados e que muitas vezes geram resistências às 
mudanças. O grupo é o real contexto do aprender. 
O "grupo operativo" (GO) é o grupo que se propõe, através de tarefas, a aprender a pensar, 
operar uma dada realidade, fazer crítica e autocrítica, explicitando os medos para as 
mudanças, integrando teoria e prática. Mas para aprender é necessário tornar explícito o que 
está implícito - medos, vínculos internos - tomando consciência das resistências para poder 
superá-las. Esse processo se desenvolve através da dinâmica do grupo, no jogo de papéis, 
lidando com as projeções, diferenças, limitações e reais possibilidades (FAGALI e VALE, 
1993; p. 19-20). 
A ligação dos argentinos com os brasileiros ocorre em uma Argentina sob efeito dos 
governos déspotas tal qual no Brasil com sua ditadura militar apoiada pelo empresariado. 
Entretanto os psicólogos argentinos foram alvo do ódio dos militares já que como se vê, pelo 
trabalho desenvolvido por Pichón-Riviére, a proposta não é de submissão, não é de uma 
psicoterapia e/ou psicanálise fechada em um mundo chamado consultório... O trabalho 
proposto é desalienante. Desalienar era algo que o despotismo não esperava dos 
psicólogos. Até hoje se espera que o psicólogo "doure pílula". Como diz a canção de 
Caetano Veloso, na voz de Roberto Carlos: "Sou o que soa/sua, eu não douro pílula {por 
isso} nenhuma força virá me fazer calar". 
 
 
 
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UNIDADE 3 
Objetivos:Permitir aos alunos visualizar as bases biológico-organicistas para o processo de 
produção histórica dos saberes em Psicopedagogia, registrando suas referências 
fundamentais e suas tendências. 
FUNDAMENTOS BIOLÓGICO-ORGANICISTAS 
Mery (1985) fez uma lista de personalidades da área psicopedagógica. No final do século 
XIX, educadores como Itart, Pereire, Pestalozzi e Leguin começaram a se dedicar às 
crianças que apresentavam problemas de aprendizagem devido a múltiplos fatores. Segundo 
Bossa (1994), Mery aponta esses educadores como pioneiros no tratamento dos problemas 
de aprendizagem, observando, porém, que eles se preparavam mais pelas deficiências 
sensoriais e pela debilidade mental do que propriamente pela desadaptação infantil. 
Em 1898, Clarapéde e Neville, introduziu na escola pública as "classes especiais", 
destinadasà educação de crianças com retardo mental. Esta foi a primeira iniciativa 
registrada de médicos e educadores no campo da reeducação. Entre 1904 e 1908 iniciam-se 
as primeiras consultas médico-pedagógicas, cujo objetivo era encaminhar crianças para as 
classes especiais. 
Ainda nos fins do século XIX surgiu Seguin e Esquirol. Então a neuropsiquiatria infantil 
passou a se ocupar dos problemas neurológicos que afetam a aprendizagem. Nessa época a 
psiquiatra italiana Maria Montessori criou um método de aprendizagem destinado 
inicialmente às crianças com algum retardo. Sua principal preocupação está na educação de 
vontade e na alfabetização, via estimulação dos órgãos dos sentidos - sendo por isso 
classificado como sensorial. 
Declory criou os famosos Centros de Interesse, que perduram até hoje. Já na segunda 
metade do século XX surgem os primeiros centros de reeducação para delinqüentes infantis 
 
 
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e juvenis. Nos Estados Unidos cresce o número de escolas particulares e de ensino 
individualizado para crianças de aprendizagem lenta. 
No Brasil perdurou a cresça de que os problemas de aprendizagem tinham como causa 
fatores orgânicos. Podemos verificar essa concepção organicista de "problema de 
aprendizagem" em vários trabalhos que tratam da questão como "distúrbio", onde em geral a 
sua causa é atribuída a uma disfunção do sistema nervoso central. Em 1970, por exemplo, 
foi amplamente divulgado o trabalho dos brasileiros Antonio Lefèvre (médico) e sua esposa 
Beatriz Lefèvre (pedagoga). Eles trabalharam com crianças agitadas, que apesar do bom 
potencial de inteligência, rendiam de modo inadequado nas atividades escolares. Essas 
crianças que hoje são denominadas com Déficits de Atenção (com e sem hiperatividade), 
eram consideradas portadoras de Disfunção Cerebral Mínima (D.C.M.). 
Novos brasileiros famosos são: Helena Antipoff, Maria Helena Novaes, Dinah Martins de 
Souza Campos, Odette Lourenço Van Kolk, Genny G. de Moraes, Maria Alice Vassimon, 
Madre Cristina Sodré Dória... O psicólogo Helvécio de Siqueira e Silva, professor da UFES2, 
criou a Comunidade Agrícola Gritizza para atender jovens delinqüentes (SILVA, 1989). 
Constata-se nos trabalhos psicopedagógicos teorias atuais de Jean Piaget, Vygotsky, Emilia 
Ferreiro... Além deles há o resgate de Freud, Jung, Lacan, Rogers, Skinner... 
 
 
 
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UNIDADE 4 
Objetivos: Permitir aos alunos visualizar as bases filosóficas para o processo de produção 
histórica dos saberes em Psicopedagogia, registrando suas referências fundamentais e suas 
tendências. 
FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS 
Aspectos filosóficos da psicopedagogia podem ser compreendidos pelos mais diversos 
enfoques. Poderíamos estudar Heidegger e Sartre, por exemplo, que embasam psicólogos 
em algumas práticas psicopedagógicas fenomenológicas existenciais. Neste tópico, 
entretanto estaremos nos referindo à filosofia da inclusão. Para alcançar esse objetivo 
recorreremos a Correia (1999), a André et al (1999) e um texto organizado por Carvalho 
(1997). 
As sociedades têm, ao longo da história, utilizado de recursos punitivos para pessoas que 
"ousam" ou são diferentes, bem como agridem simbólica ou concretamente pessoa com 
necessidades (de saúde; educação; de afeto; de alimentação etc.) especiais e o aluno com 
necessidades educativas (Adaptação Curricular: individual e/ou grupal) 
especiais (n.e.e.). 
Ser portador de deficiência nunca foi fácil. Não se aceita o diferente e suas 
diferenças. Pode-se esconder essa diferença, tanto melhor, pois a saciedade é 
hipócrita e finge que não vê a dor do outro que não pode dizer a que veio! 
Com base nos padrões de normalidade estabelecidos pelo contexto sociocultural, legitima-se 
a ideologia do domina-dor. Assim, desde a Antiguidade até os nossos dias, as sociedades 
demonstram dificuldade em lidar com o diferente, as diferenças, aquilo que é novo. Todos 
resistem ao que é ameaça-dor à nossa estrutura de personalidade, ao nosso pretenso e 
harmonioso ser. 
 
 
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A humanidade tem toda uma história para comprovar como os caminhos das pessoas com 
deficiência têm sido repletos de obstáculos, riscos e limitações. O que observamos é o 
quanto tem sido difícil a sobrevivência do ser, seu desenvolvimento e sua convivência 
(consigo mesmo e para com a sociedade). Pessoas nascem com deficiências em todas as 
culturas, etnias e níveis sócio-econômicos e sociais, e de "perto são pessoas" (gente como a 
gente: o que é humano não nos pode ser estranho) e se olharmos bem, também portamos 
temporária ou definitivamente nossos déficits. Todos somos diferentes e temos o direito de 
expressá-la. 
A forma de conceber a deficiência e de lidar com seus portadores tem variado ao longo dos 
séculos. 
Atualmente, os preconceitos ainda existem em diferentes graus, os mitos são perpetuados 
(em detrimento dos fatos), as contradições conceituais prevalecem, assim como as atitudes 
ambivalentes, as resistências, a inquietação e as muitas formas de discriminações. Isso 
acontece, não que seja um sinal dos tempos modernos, nem dos avanços contemporâneos 
do conhecimento, nem da evolução dos costumes ou dos valores essenciais do homem ou 
algo da "monstruosidade que é a pós-modernidade", justo ela que propões a convivência na 
diversidade do ser! Ao contrário, os preconceitos, estigmas e estereótipos tem raízes 
psicológicas, psicanalíticas (inconscientes), históricas e culturais. As atuais posturas 
discriminativas fortaleceram-se no tempo, no equívoco compartilhado e transmitido 
culturalmente. 
A evolução da concepção de deficiência sofreu alguma evolução, entretanto, vivenciamos, 
ainda, uma fase assistencialista. Nesta etapa a pessoa diferente é vista como aquela que 
precisa de ajuda. Há, nesse sentido, as pessoas que se dedicam a esse atendimento, 
fazendo-o (e aí é o assistencialismo) de forma caritativa, negando que o ser diferente deve 
ser incluído, aceito com suas diferenças. Ser da Inclusão significa isso: conviver 
saudavelmente com as diferenças. Saudável é entrar em conflito, sem deixar de respeitar e 
advogar ali mesmo há diferenças e necessidades educativas ou outra necessidade que 
clamam por serem satisfeitas. 
 
 
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Na visão da caridade, os ajuda-dor-es não reconhecem o impacto do social e político no ser. 
Tais caridosos devem ser cuidadosamente cuidados, pois podem ser perigosos, pois sua 
atuação tende a "calar" a voz do oprimido, gerando nele culpa e subserviência a quem doa 
alimentos, roupas etc. Obviamente é que em um país em crise como o Brasil, é essencial 
assistir, mas ao fazê-lo é vital que se faça com dignidade, reconhecendo no outro seu direito 
de cidadão de receber o que lhe é concreta ou simbolicamente tirado, usurpado! 
Os técnicos, mesmo os especializados são vistos como beneméritos, e as pessoas que se 
dedicam como voluntárias à causa dos portadores de deficiência, as que criam as 
instituições e lutam pela sua manutenção, costumam ser exaltados pelo seu espírito 
humanitário. (Carvalho, 1997; p.19). Porque exaltar? Muitos desses beneméritos abatem, 
com suas ações, no imposto de renda. Muitos ainda ganham tanto, e tanto, que o mínimo 
que a sociedade espera deles é sua contribuição, o seu retorno e não depósitos em bancos 
suíços! 
Goffman escreveu um excelente livro chamado "Estigma", e Foucault escreveu "Vigiar e 
Punir". Esses livros valem a pena serem lidos, estudados. A leitura servirá para se 
compreender os modos como as pessoas diferentes são tratadas, abordadas... Nestes livros 
podemos detectar, sem entrarmos em detalhes, que: 
a) as pessoas diferentes ainda são identificadas e socialmente rotuladas; 
b) tende-se a generalizar as suas limitações e a minimizaras suas limitações e a 
minimizar os seus potenciais; 
c) a diferença está sempre tão presente e enfatizada para o seu portador (porta a dor?) e 
para os que o cercam, que justifica os seus sucessos e fracassos, os seus atos e 
realizações. 
 
Para se chegar à filosofia inclusiva e a luta atual para a sua efetivação prática, a sociedade 
passou pela exclusão, segregação, institucionalização,..., integração e inclusão. A integração 
 
 
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propunha (na prática) a colocação do aluno diferente ou com necessidades educativas 
especiais em sala comum, sem reconhecer-lhe as diferenças, sem propor modificações que 
na instituição, na organização, quer no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem. 
Hoje, no Brasil, a inclusão é garantida pela Constituição Federal. Entretanto, desde 1986, no 
mundo, esse tema é discutido, pelo menos quando utilizamos o termo inclusão. 
Madeleine Will, Secretária de Estado para a Educação Especial dos Estados Unidos da 
América, fez um discurso que apelava para uma mudança radical no que dizia respeito ao 
atendimento das crianças com n.e.e. e em "risco educacional" (de rua; sob domínio de 
Ganges, drogadas e prostituídas etc). Dizia ela que, dos 39 milhões de alunos matriculados 
em escolas públicas, cerca de 10% eram alunos com n.e.e. e que outros 10 a 20% embora 
fossem considerados com n.e.e., demonstravam problemas de aprendizagem e 
comportamento que interferiam com a sua realização escolar. 
A solução para Will passava por uma cooperação entre professores - do ensino regular e de 
educação especial - que permitisse a análise das necessidades educativas dos alunos com 
problemas de aprendizagem e o desenvolvimento de estratégias que respondessem a essas 
mesmas necessidades. 
Essa proposta consagrou-se como princípio da filosofia de inclusão. Nesse sentido é cada 
vez maior o número de pais e educadores que defendem a integração (no sentido mesmo da 
inclusão) da criança deficiente na classe regular, incluindo as deficientes mentais severas ou 
profundos. Afirma-se que as necessidades educativas dos alunos não devem requerer um 
sistema dual, pois ele pode fomentar atitudes injustas e desapropriadas em relação à sua 
educação. 
Em junho de 1994, realizou em SALAMANCA, na Espanha, a "Conferência Mundial sobre 
necessidades educativas especiais (n.e.e): Acesso e Qualidade". Esse evento inspirou-se no 
"princípio da inclusão" e no reconhecimento da necessidade de atuar com o objetivo de 
conseguir escola para todos, instituições que incluam todas as pessoas, aceitem as 
 
 
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diferenças, apóiem a aprendizagem e respondam as necessidades educativas especiais 
individuais e em pequenos grupos. 
Segundo a maioria dos especialistas, a inclusão significa atender o aluno com n.e.e., 
incluindo aquele com n.e.e. severas, na classe regular com o apoio de serviços especiais 
pertencentes à educação especial (sala de apoio, de recursos e/ou consultórios ou sala de 
psicopedagogia, por exemplo, dentro ou fora da escola). 
Entretanto para efetivar a inclusão é necessária a participação total do Estado, bem como da 
comunidade, da escola, da família e finalmente do aluno. 
Todo o sentir-pensar-agir a inclusão na escola, junto ao aluno com n.e.e., tende estimular o 
seu desenvolvimento nos planos acadêmicos, sócio-emocional e pessoal. Nem sempre esta 
tarefa é fácil, mas existem relatos técnico-científicos onde se desenvolveram os sucessos 
como os encontrados em André et al. (1999) 
Entretanto quando se lê a DECLARAÇÃO DE SALAMANCA o que se checa é um discurso 
legal situado no plano ideal, pois os governos são suficientemente cínicos para desviar 
verbas da educação, e na mídia revelem o interesse pelos "descamisados". Puro engodo! Se 
a lei fosse para beneficiar os legitimadores do sistema, aplicava-se uma Medida Provisória. 
Mas como é para beneficiar crianças, descreve-se o fato: justiça morosa, burocracia etc. 
Essas justificativas, nesse contexto, são arte-e-manhãs da qual, o povo está 
desesperançado, descrente... Nesse sentido vale a pena estudarmos os trabalhos de 
Seligman sobre a produção do desamparo adquirido, uma infelicidade apreendida: de nada 
adianta emitir um comportamento, pois não serei escutado (recompensado)! 
O movimento de inclusão, entretanto sempre existiu! São focos de luta, de resistência, de 
enfrentamento... Os movimentos de oposição mundiais e nacionais são a base dessa 
discussão... Há que se destacar o movimento dos jovens pela paz e pelo amor ("hippie"), os 
movimentos negros, a violência do nazismo como uma imagem de que aquilo não pode mais 
ocorrer (apesar de continuar acontecendo, não de modo tão frontal), a resistência de M. 
Gandhi (desobediência civil), o movimento iê-iê-iê (Jovem Guarda), o Tropicalismo e o grito 
 
 
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de "é proibido proibir" (grito de Caetano Veloso e dos jovens estudantes franceses nas suas 
trincheiras urbanas), um cantor de rock (Elvis Presley) que ao cantar revelava portar em si os 
cantores de blues do Harlém (negros), oposição dos brasileiros à ditadura militar, os atuais 
movimentos dos gays etc. Os pais de crianças portadoras de necessidades especiais foram 
planejando, executando e avaliando associações, Organizações Não Governamentais, 
grupos de auto-ajuda etc. A sociedade civil, diante a pandemia da AIDS mostrou sua força 
em contraposição a um Estado perverso e inoperante. Os gays começaram amostrar suas 
caras, a não Ter vergonha do amor que sentem. As mulheres passaram a exigir mais 
dignidade e a participar das situações de mando: Pinel (2001) diz que o homem no poder 
revelou seu fracasso, pois seu símbolo, a JUSTIÇA, não conseguiu dar conta de si-do-outro; 
já a mulher, e aquilo que a melhor representa, no plano mitológico, a MISERICÓRDIA, 
mostra-se disponível a sê-lo... Como se observa, o movimento inclusivista aconteceu na 
sociedade como o todo e contaminou a escola com seus princípios de cidadania, justiça e 
respeito/permissão à DIVERSIDADE. 
 
 
 
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UNIDADE 5 
Objetivos: Permitir aos alunos visualizar as bases psicológicas para o processo de produção 
histórica dos saberes em Psicopedagogia, registrando suas referências fundamentais e suas 
tendências. 
FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS 
 
Quando se fala em aspectos psicológicos da psicopedagogia se pensa basicamente no 
desenvolvimento e aprendizagem do ser humano. Há nestas áreas nomes significativos de 
pesquisadores: Jean Piaget, Lev Semenovich Vygotsky, David Ausubel, Jerome Bruner, 
Sigmund Freud, Carl Ronson Rogers, Paulo Freire, Emília Ferreiro etc. 
Neste tópico estudaremos um representante da corrente sócio-histórica e cognitivista: seu 
nome é Vygotsky. Suas idéias são muito discutidas e utilizadas. Entretanto livros didáticos, 
de excelentes níveis, como os de Bock, Furtado e Teixeira (1999) e Pinel (2001) trazem 
todos esses teóricos citados. Sobre Piaget vale à pena ler seus livros editados em 1970 e 
1975. Sobre Vygotsky (1991, 1984; Calviño e Torre, 1996). Sobre Ausubel (Moreira e Masini, 
1982). Sobre Bruner (1973, 1971). Sobre Rogers e Freire (Misukami, 1986). Sobre Freud e 
outros teóricos (Hall e Lindsey, 1998). De Ferreiro (1985). 
Para abordarmos Vygotsky, recorreremos fundamentalmente a Bock, Furtado e Teixeira 
(1999). 
Vygotsky (ou Vygotsky ou Vigotskii etc.) nasceu em 1896, no Bielo-Rus, e faleceu 
prematuramente aos 37 anos de idade. Ele foi um dos teóricos que buscou uma alternativa 
dentro do materialismo dialético para o conflito entre as concepções idealistas e mecanicistas 
na Psicologia. Ele foi ignorado no Ocidente, e entre 1936 e 1956. Também, por motivos 
 
 
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políticos, foi rechaçadona ex-União Soviética, sua terra: alguns comentam que os 
camaradas bolchevistas achavam sua teoria por demais elaborada, a ponto de confundir e 
não esclarecer à classe operária. É adequado pontuar que a Psicologia soviética tinha, 
naquele tempo de "alimentar-se" nos trabalhos do fisiologista e prêmio Nobel I. Pavlov! 
Porém, atualmente, seu trabalho vem sendo estudado e valorizado em todo mundo. Bruner o 
estuda nos Estados unidos da América; Khol e outros o estudam no Brasil. 
Vygotsky concebia uma inter-relação (indissociabilidade) entre desenvolvimento e 
aprendizagem, um aspecto interferindo dialeticamente no outro: afeto-cognição se interagem. 
Entretanto, para fins didáticos, utilizaremos produção de Bock, Furtado e Teixeira (1999) que 
apresentam o tema de modo dividido: a abordagem de Vigotski para o desenvolvimento; a 
abordagem de Vigotskii para a aprendizagem. 
 
 
 
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UNIDADE 6 
Objetivos: Apresentar reflexões acerca dos campos norteadores da ação psicopedagógica 
CAMPOS NORTEADORES DA AÇÃO PSICOPEDAGÓGICA 
 
No livro "Psicopedagogia: teoria e prática", Lamonico (1992) enuncia os campos teóricos 
norteadores da ação psicopedagógica: 
a) Abordagem psiconeurológica 
Abordagem fundamentada na biologia, psicologia e processos educativos e de treinamento. 
 
Pinel (2001/2002;p.107-114) estudou as bases neurais da aprendizagem-
desenvolvimento, buscando compreender alguns mecanismos 
psicofisiológicos e neuropsicológicos associados aos aspectos cognitivos. 
Destaca Pinel (2001/2002; p.108) que é importante ai estudioso do 
psicopedagogia uma atitude de compreensão e esforço intelectual na 
pesquisa do aluno com problemas de aprendizagem escolar: o aluno deve 
abordado no seu ser total (holístico), que envolve o ORGANISMO 
(fisiologia), CORPO (o modo como se percebe; como percebe e se 
movimenta no espaço; seu esquema corporal: imagem e conceito corporal; introjeção das 
partes do corpo e todo o corpo), o DESEJO (sua vontade de sentido; sua motivação mais 
profunda; seu querer; sua auto-estima; suas forças e fragilidades etc.) e a INTELIGÊNCIA 
(aspecto não mensurável, referindo-se a capacidade do aluno/pessoa solucionar os 
problemas que se interpõem a sal frente, no seu cotidiano de ser; aborda o modo - criativo ou 
não - de solucionar problemas etc.). 
 
 
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Os distúrbios biológicos do crescimento e do desenvolvimento que for capaz de interferir 
prolongadamente no METABOLISMO refletem de modo negativo no crescimento e 
desenvolvimento. Os principais fatores podem ser agrupados em: 
Disfunções endócrinas. Ex.: nanismo hipofisário e tireoidiano; gigantismo; puberdade 
precoce etc. 
2. Fatores genéticos. Ex.: acondroplasia; síndrome de Down; síndrome de Turner etc. 
3. Desnutrição. O mecanismo de desnutrição gera um atraso no desenvolvimento-
aprendizagem, e esse é muito complexo e inclui a formação escassa de somatomedina C. 
4. Doenças crônicas. Essas doenças, quando de longa duração perturbam o metabolismo, 
atrasando o crescimento.Como é o caso da insuficiência digestiva e de certas afecções 
renais, pulmonares e cardíacas. 
5. Além desses fatores, reafirmamos que problemas emocionais (conflitos e violências no lar; 
o modo de ser da criança diante do alcoolismo paterno, por exemplo, e o sentimento da 
criança diante dos jogos psicopatológicos da família; abuso sexual etc.) e infecções 
freqüentes (verminoses e intoxicações etc.) também prejudicam o desenvolvimento-
aprendizagem. 
 
As características físicas de uma criança estimulam seus familiares, coleguinhas, 
professores e outras pessoas significativas em sua vida-vivida, a criar, de modo fantasiaso, a 
respeito dela, uma imagem marcada pelos estigmas, estereótipos e preconceitos. Muitas 
vezes, esses algozes são destruidores do ser, e então persistem, pois estão localizados no 
inconsciente (Pinel, 2001/2002). Quais as conseqüências desses atos 
perversos e tão pré-sentes na nossa hipócrita sociedade? 
O ambiente escolar poderá ser percebido como agradável, suportável 
ou intolerável... E isso será resultado do modo como a criança é (ou 
 
 
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se sente), como se aceita. Tais subjetividades e comportamentos explícitos foram e são 
construído por meio dessas intersubjetividades patologizadas, desrespeita-dor - as do 
desenvolvimento e aprendizagem do ser. Pode ser que toda essa vivência dolorida faça a 
criança/adolescente ou quaisquer pessoas sentir-se (ou de fato) segregada ou ridicularizada. 
Evidentemente, essas situações, de alguma forma interferem na aprendizagem e afetam 
todo o conjunto da vida humana. Pinel (2002) estudou os efeito de uma guerra (nazismo X 
crianças judaicas) na produção artística da criança, revela-dor-a de tristeza, sentimentos de 
ser pior e culpada pelo que aí se colocou, apesar de ter também detectado o "otimismo 
trágico" (Frankl, 1981), isto é, apesar das adversidades, o ser enfrenta e resiste, mas porque 
há uma guerra? Interesse de quem se mantém uma guerra? Etc. 
A auto-estima (Pinel, 2001/2002) é uma variável psicológica muito importante para o 
rendimento (sucesso-fracasso) da criança na escola. Não gostar de si implica em um alto 
grau de contaminação psíquica, que fere inclusive o organismo, o corpo, o desejo e a 
inteligência. 
Moura (1993) pontua que "muitas crianças crescem precocemente, apresentando peso e 
altura que sugerem uma idade maior que a real. Quem convive com essas crianças, inclusive 
os professores, tende a esperar demais delas e a julgá-las unicamente por seu físico, 
esquecendo (?) (grifo e interrogação nossos) que uma criança cuja maturação física é 
precoce enfrenta exigências para as quais não está psicologicamente 
pronta, e isso é uma causa geradora de ansiedade" (p. 55). 
Assim, a vida escolar da criança, sob cruéis pressões, por parte de outras 
crianças e por parte dos adultos (professores, diretores, merendeiras, 
outros adultos presentes na escola etc.) podem produzir no ser 
desprezado, ansiedade e sentimento de inadequação, aponto desses 
sentimentos de menos-valia acompanhá-la e, mais tarde, perturbar sua vida. É que a 
imagem negativa de si mesma elaborada na construção EU+TU+NÓS pode ficar 
profundamente arraigada e, quando adolescente, adulta e idosa, embora tenha crescido e 
mudado, ela ainda se sentirá inadequada, desagradável e indesejável. 
 
 
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Essas questões psico-afetivas são vitais quando pensamos, sentimos e principalmente 
agimos para efetivação da FILOSOFIA DA INCLUSÃO: Como criar alternativas de incluir o 
outro se não me incluo no mundo dos diferentes? Como dar passos maiores de inclusão, se 
nem respeitar o ser de mim eu consigo? 
O ajudador, por meio de uma psicopedagogia institucional, pode desenvolver trabalhos 
grupais, desenvolvendo o espírito crítico. Para isso, pode, por exemplo, ensinar ao grupo 
VER a realidade e detalhes de injustiças elaboradas na intersubjetividades. Depois é 
necessário levar ao grupo AVALIAR a situação concreta de pessoas que se desprezam e 
desprezam os outros, constando os efeitos dessas relações desrespeitosas. E, finalmente, 
estimular o grupo a AGIR, por meio de planos de intervenção, objetivando mudar atitudes e, 
de imediato, os comportamentos indesejáveis à socialização do ser. 
 
 
 
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UNIDADE 7 
Objetivo: Apresentar de forma sintética os cinco campos norteadores para a ação 
Psicopedagógica. Abordagens: Psiconeurológica, Neuropsiquiátrica, Comportamental, 
Epistemologia Convergente, Fenomenologia 
 
a) Abordagem neuropsiquiátrica 
Abordagem fundamentada na medicina e medicalização dos problemas de aprendizagem. 
 
b) Abordagem comportamental 
Abordagemfundamentada nos trabalhos de laboratório de Psicologia experimental de 
Watson (Behaviorismo Metodológico) e B.F. Skinner (Behaviorismo Radical). O enfoque está 
na observação e descrição clara dos comportamentos inadequados, a identificação daquilo 
que mantém (reforça/recompensa) esse comportamento patológico e a intervenção de 
modificação, por meio de técnicas, do comportamento e a instalação de um novo mais 
adequado. Programas psicopedagógicos como a ANÁLISE DE TAREFAS (Pinel, 1987) 
utilizam-se das propostas do neobehaviorismos. Filosoficamente o behaviorismo é 
condenável, pois defende a tese que o homem é uma tabula rasa, sem história e dele 
fazemos nosso bel prazer. Entretanto, mesmo psicólogos sócio-históricos como Bock et al. 
Tem defendido as benesses desses treinamentos para a psicologia do Excepcional. 
 
c) Abordagem da Epistemologia Convergente 
Criada por JORGE VISCA, essa abordagem trabalha com a Psicanálise (transferência e 
contra-transferência; resistência etc.); a Epistemologia Genética de Jean Piaget (exame 
 
 
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clínico de Piaget; raciocínio clínico; etapas universais de idade etc.) e a Psicologia Social de 
E. Pichón-Rivière (aprendizagem centrada na tarefa). É uma das abordagens mais modernas 
da psicopedagogia, e que fornece muita identidade no ofício de quem atua. 
 
d) Abordagem Fenomenológica 
O mais importante nessa abordagem são as atitudes e posturas de envolvimento existencial 
com aquilo que se põe ao meu ser holístico e o necessário distanciamento reflexivo da coisa, 
e então apreender o sentido. Heidegger e Sartre são dois filósofos que fundamentam tais 
práticas. Viktoe Emil ou Emanuel Frakl, Boss, Binswanger, Rúdio, J. Wood et al., 
Angerami-Camom e Pinel são alguns psicólogos, que fundamentados nos filósofos, 
recriaram alternativas de diagnóstico, prevenção e tratamento psicopedagógico. 
Hoje a formação de especialistas em Psicopedagogia se dá via cursos, livros, curso de pós-
graduação "latu-sensu", e no Rio de Janeiro já há escolas superiores de Psicopedagogia 
como a da Universidade Estácio de Sá. No curso de Pedagogia da Universidade Federal do 
Espírito Santo já consta há mais de 6 anos a disciplina "Introdução à Psicopedagogia", tendo 
já sido oferecida a disciplina "Pedagogia Terapêutica". Para o semestre 2001/2 está previsto 
o oferecimento da disciplina "Intervenção Psicopedagógica". A BOL parece ser a primeira 
Instituição a oferecer um curso livre, na área da Psicopedagogia. 
 
 
 
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UNIDADE 8 
Objetivo: Possibilitar aos alunos a compreensão dos conceitos principais da teoria acerca do 
desenvolvimento infantil desenvolvida por Vygotsky, Luria e Leontiev. 
A PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO EM VYGOTSKY 
 
Um pressuposto básico da obra de Vygotsky é que as origens das 
formas superiores de comportamento consciente - pensamento, 
memória, atenção voluntária etc. -, formas essas que diferenciam 
o homem dos outros animais, devem ser achadas nas relações 
sociais que o homem mantém. Vygotsky percebia o homem como 
um ser ativo, cidadão, com possibilidade de ser, conseqüência dessas relações advindas de 
fora (meio) para dentro (eu). Entendia o homem como ser de cuidado na alteridade, que age 
sobre o mundo, sempre em relações sociais, e transforma essas ações para que constituam 
o funcionamento do seu ser (interno). 
O desenvolvimento infantil é visto a partir de três aspectos: instrumental, cultural e histórico. 
E é Luria, seu seguidor, que ao lado de Leontiev, é o mais famoso, que nos ajuda a 
compreender esses três aspectos: 
 O aspecto instrumental refere-se à natureza basicamente mediadora das funções 
psicológicas complexas. Não apenas respondemos aos estímulos apresentados no 
ambiente, mas os alteramos e usamos suas modificações como um instrumento de 
nosso comportamento. Bock et al. (1999) dá-nos um exemplo disso: trata-se do 
costume de amarrar um barbante no dedo para lembrar algo. O estímulo - o laço no 
dedo - objetivamente significa apenas que o dedo está amarrado. Ele adquire sentido, 
por sua função mediadora, fazendo-nos lembrar algo importante. 
 
 
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 O aspecto cultural da teoria envolve os meios socialmente estruturados pelos quais a 
sociedade organiza os tipos de tarefa que a criança em crescimento enfrenta, e os 
tipos de instrumentos, tanto mentais como físicos, de que a criança pequena dispõe 
para dominar aquelas tarefas. Um dos instrumentos básicos criados pela humanidade 
é a linguagem. Vygotsky então passou a dar ênfase, em toda sua obra, à linguagem e 
sua relação com o pensamento. 
 O aspecto histórico funde-se com o cultural, pois os instrumentos que o homem usa, 
para dominar seu ambiente e seu próprio comportamento, ,foram criados e 
modificados ao longo da história social da civilização. Os instrumentos culturais 
expandiram os poderes do homem e estruturaram seu pensamento, de maneira que, 
se não tivéssemos desenvolvimento, a linguagem escrita e a aritmética, por exemplo, 
não possuiríamos hoje a organização dos processos superiores que possuímos. 
 
Assim a história da sociedade e o desenvolvimento do homem caminham juntos e, mais do 
que isso estão de tal forma intrincados, que um não seria o que é sem o outro. Com essa 
perspectiva, é que Vygotsky estudou o desenvolvimento infantil. 
As crianças, desde o nascimento, estão em constante interação com 
os adultos, que ativamente procuram incorporá-las a suas relações e a 
sua cultura. No início, as respostas das crianças são dominadas por 
processos naturais, especialmente aqueles proporcionados pela 
herança biológica. É através da mediação dos adultos que os 
processos psicológicos mais complexos tomam forma. Inicialmente, 
esses processos são interpsíquicos (partilhados entre pessoas), isto é, 
só podem funcionar durante a interação das crianças com os adultos. 
À medida que a criança cresce, os processos acabam por ser executados dentro das 
próprias crianças - intrapsíquicos. 
 
 
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É através desta interiorização dos meios de operação das informações, meios estes 
historicamente determinados e culturalmente organizados, que a natureza social das 
pessoas tornou-se igualmente sua natureza psicológica. 
No estudo feito por Vygotsky, sobre o desenvolvimento da fala, sua 
visão fica bastante clara: inicialmente, os aspectos motores e verbais 
do comportamento estão misturados. A fala envolve os elementos 
referenciais, a conversação orientada pelo objeto, as expressões 
emocionais e outros tipos de fala social. Como a criança está cercada por adultos na família, 
a fala começa a adquirir traços demonstrativos, e ela começa a indicar o que está fazendo e 
de que está precisando. Após algum tempo, a criança, começa a fazer distinções para os 
outros com o auxílio da fala, começa a fazer distinções para si mesma. Então a fala vai 
deixando de ser um meio para dirigir o comportamento dos outros e vai adquirindo a função 
de autodireção. 
Fala e ação, que se desenvolvem independentes uma da outra, em determinado momento 
do desenvolvimento convergem, e esse é o momento de maior significado no curso do 
desenvolvimento intelectual, que dá origem às formas puramente humanas de inteligência. 
Forma-se, então, um amálgama entre fala e ação; inicialmente a fala acompanha as ações e, 
posteriormente, dirige, determina e domina o curso da ação, com sua função planejadora. 
O desenvolvimento está, pois, alicerçado sobre o plano das interações. O sujeito faz sua, 
uma ação que tem, dando-lhe um significado partilhado. Assim, a criança que deseja um 
objeto inacessível apresenta movimentos de alcançá-lo, e esses movimentos 
são interpretados pelo adulto como "desejo de obtê-lo", e então lhe dáo objeto. 
Os movimentos da criança afetam o adulto e não o objeto diretamente; e a 
interpretação do movimento pelo adulto permite que a criança transforme o 
movimento de agarrar em gesto de apontar. O gesto é criado na interação, e a 
criança passa a ter controle de uma forma de sinal, a partir das relações sociais. 
Todos os movimentos e expressões verbais da criança, no início de sua vida, são 
importantes, pois afetam o adulto, que os interpreta e os devolve à criança com ação e/ou 
 
 
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com fala. A fala egocêntrica (conversar "comigo-mesmo" ou com um imaginário), é 
vigotsnianamente como uma forma de transição entre a fala exterior e a interior. A fala inicial 
da criança tem, portanto, um papel fundamental no desenvolvimento de suas funções 
psicológicas. 
Para Vygotsky, as funções psicológicas emergem e se consolidam no plano da ação entre 
pessoas e tornam-se internalizadas, isto é, transformam-se para constituir o funcionamento 
interno. O plano interno não é a reprodução do plano externo, pois ocorrem transformações 
ao longo do processo de internalização. Do plano interpsíquico, as ações passam para o 
plano intrapsíquico. Considera, portanto, as relações sociais como constitutivas das funções 
psicológicas do homem. Essa visão é interacionista. 
Vygotsky deu ênfase ao processo de internalização como mecanismo que intervém no 
desenvolvimento das funções psicológicas complexas. Essa é reconstrução interna de uma 
operação externa e tem como base a linguagem. O plano interno não preexiste, mas é 
constituído pelo processo de internalização, fundado nas ações, nas interações sociais e na 
linguagem. 
 
 
 
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UNIDADE 9 
Objetivo: Apresentar a teoria da Aprendizagem segundo Vygotsky 
A PSICOLOGIA DE APRENDIZAGEM EM VYGOTSKY 
 
Após 60 anos depois da morte de Vygotsky, o autor volta à tona com o merecido 
reconhecimento pela sua contribuição à Educação Especial, a Psicopedagogia e 
à Psicologia. 
Na década de 20 e início dos anos 30, Vygotsky dedicou-se à construção da 
crítica à noção de que se poderia construir conhecimento sobre as funções psicológicas 
superiores humanas a partir de experiências com animais. Ele criticou, também, as 
concepções que afirmavam serem as propriedades intelectuais dos homens resultado da 
maturação do organismo, como se o desenvolvimento estivesse predeterminado e, o seu 
afloramento, vinculado apenas a uma questão de tempo. Vygotsky buscou as origens sociais 
destas capacidades humanas. Além disso, via o pensamento marxista como uma fonte 
científica de grande valor para a solução dos paradoxos científicos fundamentais que 
incomodavam a Psicologia no início do século. 
Bock et al (1999) sistematizam as idéias de aprendizagem em Vygotsky: 
 Os fenômenos devem ser estudados em movimentos e compreendidos como em 
permanente transformação. Na Psicologia, isso significa estudar o fenômeno 
psicológico em sua origem e no curso de seu desenvolvimento. 
 
 
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 A história dos fenômenos é caracterizada por mudanças qualitativas e quantitativas. 
Assim, o fenômeno psicológico transforma-se no decorrer da história da humanidade, 
e processos elementares tornam-se complexos. 
 As mudanças na “natureza do homem" são produzidas por mudanças na vida material 
e na sociedade. 
 O sistema de signos (a linguagem, a escrita, o sistema de números) é pensado como 
um sistema de instrumentos, os quais foram criados pela sociedade, ao longo de sua 
história. Esse sistema muda a forma social e o nível de desenvolvimento cultural da 
humanidade. A internalização desses signos provoca mudanças no homem. Seguindo 
a tradição marxista, Vygotsky considera que as mudanças que ocorrem em cada um 
de nós têm sua raiz na sociedade e na cultura. 
 
Vygotsky tem parte de sua obra dedicada às questões escolares.Por isso vamos reunir 
algumas considerações importantes feitas por esse renomado pedagogo e psicólogo bielo-
russo (judeu, portanto!) e que podem contribuir para olharmos os chamados "problemas de 
aprendizagem" sob uma nova perspectiva: a das relações sociais que caracterizam o 
processo de ensino-aprendizagem. 
Para Vygotsky, a aprendizagem sempre inclui relações entre as pessoas. A relação do 
indivíduo com o mundo, está sempre mediada pelo outro. Não há como aprender o mundo se 
não tivermos o outro, aquele que nos fornece os significados que permitem pensar o mundo 
a nossa volta. Veja bem, Vygotsky defende a idéia de que não há um desenvolvimento 
pronto e previsto dentro de nós que vai se atualizando conforme o tempo passa ou 
recebemos influência externa. O desenvolvimento não é pensado como algo natural nem 
mesmo como produto exclusivo da maturação do organismo, mas como um processo em 
que estão presentes a maturação do organismo, o contato com a cultura produzida pela 
humanidade e as relações sociais que permitem a aprendizagem. E aí aparece o "outro" 
 
 
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como alguém fundamental, pois este outro é quem nos orienta no processo de apropriação 
da cultura. 
Para Vygotsky, o desenvolvimento é um processo que se dá de fora para dentro. É no 
processo de ensino-aprendizagem que ocorre a apropriação da cultura e o conseqüente 
desenvolvimento do indivíduo. 
A aprendizagem da criança inicia-se muito antes de sua entrada na escola, isto porque 
desde o primeiro dia de vida, ela já está exposta aos elementos da cultura e à presença do 
outro, que se torna o mediador entre ela e a cultura. A criança vai aprendendo a falar e a 
gesticular, a nomear objetos, a adquirir informações a respeito do mundo que a rodeia, a 
manusear objetos da cultura; ela vai se comportando de acordo com as necessidades e as 
possibilidades. Em todas essas atividades está o "outro". Parceiro de todas as horas é ele 
que lhe diz o nome das coisas, a forma certa de se comportar; é ele que lhe explica o mundo, 
que lhe responde aos "porquês", enfim, é o seu grande intérprete do mundo. São esses 
elementos apropriados do mundo exterior que possibilitam o desenvolvimento do organismo 
e a aquisição das capacidades superiores que caracterizam o psiquismo humano. 
A escola surgirá, então, como lugar privilegiado para este desenvolvimento, pois é o espaço 
em que o contato com a cultura é feito de forma sistemática, intencional e planejada. O 
desenvolvimento - que só ocorre quando situações de aprendizagem o provocam - tem seu 
ritmo acelerado no ambiente escolar. O professor e os colegas formam um conjunto de 
mediadores da cultura que possibilita um grande avanço no desenvolvimento da criança. 
A criança não possui instrumentos endógenos para o seu desenvolvimento. Os mecanismos 
de desenvolvimento são dependentes dos processos de aprendizagem, estes, sim, 
responsáveis pela emergência de características psicológicas tipicamente humanas, que 
transcendem à programação biológica da espécie. O contato e o aprendizado da escrita e 
das operações matemáticas fornecem a base para o desenvolvimento de processos internos 
altamente complexos no pensamento da criança. 
 
 
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O aprendizado, continuam Bock et al (1999), quando adequadamente organizado, resulta em 
desenvolvimento mental, pondo em movimento processos que seriam impossíveis de 
acontecer. Esses princípios diferenciam-se de visões que pensam o desenvolvimento como 
um processo que antecede à aprendizagem, ou como um processo já completo, que a 
viabiliza. 
A partir destas concepções, Vygotsky construiu o conceito de zona de desenvolvimento 
proximal, referindo-se às potencialidades da criança que podem ser desenvolvidas a partir do 
ensino sistemático. A zona de desenvolvimento proximal é a distância entreo nível de 
desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de 
problemas pela criança, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado pela solução de 
problema sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros. 
Este conceito de zonas (proximal; real; potencial) é importante porque nos possibilita delinear 
o futuro imediato da criança e seu estado dinâmico de desenvolvimento. Além disso, permite 
ao professor olhar seu educando de outra perspectiva, bem como o trabalho conjunto entre 
colegas. Aliás, Vygotsky acreditava que a noção de zona de desenvolvimento proximal já 
estava presente no bom senso do professor, quando este planejava seu trabalho. 
Assim, Vygotsky insistia na importância de a Educação pensar o desenvolvimento da criança 
de forma prospectiva, e não retrospectiva, como era feito. Sua crítica foi contundente. 
Segundo Vygotsky, a escola pensa a criança e planeja o ensino de forma retrospectiva por 
considerar, como condição para a aprendizagem, o nível de desenvolvimento já conquistado 
pela criança. No seu entender, a escola deveria inverter esse raciocínio e pensar o ensino 
das possibilidades que o aprendizado já obtido traz. O bom ensino é aquele que se volta 
para as funções psicológicas emergentes, potenciais, e pode ser facilmente estimulado pelo 
contato com os colegas que já aprenderam determinado conteúdo. 
A aprendizagem é, portanto, um processo essencialmente social, que ocorre na interação 
com os adultos e os colegas. O desenvolvimento é resultado desse processo, e a escola, o 
lugar privilegiado para essa estimulação. A Educação passa, então, a ser vista como 
processo social sistemático de construção da humanidade. 
 
 
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Sintetizando, poderíamos dizer que, para Vygotsky, as relações entre aprendizagem e 
desenvolvimento são indissociáveis. O indivíduo, imerso em um contexto cultural, tem seu 
desenvolvimento movido por mecanismo de aprendizagem acionados externamente. A 
matéria-prima deste desenvolvimento encontra-se, fundamentalmente, no mundo externo, 
nos instrumentos culturais construídos pela humanidade. Assim, o homem, ao buscar 
respostas para as necessidades de seu tempo histórico, cria, junto com outros homens, 
instrumentos que consolidam o desenvolvimento psicológico e fisiológico obtido até então. 
Os homens de outra geração, ao manusearem estes instrumentos, apropriam-se do 
desenvolvimento ali consolidado. Eles aprendem e se desenvolvem ao mesmo tempo, 
adquirindo possibilidades de responder a novas necessidades com a construção de novos 
instrumentos. E assim caminha a humanidade... 
A partir destas concepções de Vygotsky, a escola torna-se um novo lugar - um espaço que 
deve privilegiar o contato social entre seus membros e torná-los mediadores da cultura. 
Alunos e professores devem ser considerados parceiros nesta tarefa social. O aluno jamais 
poderá ser visto como alguém que não aprende, possuidor de algo interno que lhe dificulta a 
aprendizagem. O desafio está colocado. Todos são responsáveis no processo. Não há 
aprendizagem que não gere desenvolvimento; não há desenvolvimento que prescinda da 
aprendizagem. Aprender é estar com o outro, que é mediador da cultura. Qualquer 
dificuldade neste processo deverá ser analisada como uma responsabilidade de todos os 
envolvidos. O professor torna-se figura fundamental; o colega de classe, um parceiro 
importante; o planejamento das atividades torna-se tarefa essencial e a escola, o lugar de 
construção humana. (p.123-126) 
1. Zona do Desenvolvimento Real (ZDRe) - Trata-se de considerar aquilo que a criança traz 
consigo; sua história. A criança é então avaliada. A partir deste diagnóstico dialógico e sócio-
cultural, o professor começa a trabalhá-la, tendo em vista uma Zona do Desenvolvimento 
Potencial (ZDPot). O que planejamos (para o futuro) em relação ã criança. 
 
 
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2. Zona do Desenvolvimento Proximal (ZDProx) - O professor, nessa Zona extremamente 
abstrata, através da linguagem e outros signos e por meio de instrumentos (giz; lousa; livros; 
Vídeo; CDs etc.), vai aproximando a ZDRe para a ZDProx. 
 
 
 
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UNIDADE 10 
Objetivo: Possibilitar ao aluno a compreensão dos principais conceitos da teoria Psicanalítica 
desenvolvida por Freud. 
FUNDAMENTOS PSICANALÍTICOS 
 
Vamos abordar neste tópico a questão da "transferência", aspecto este que nos reporta à 
relação psicopedagogo (a) e cliente/orientando/aluno. Para o desenvolvimento deste assunto 
recorreremos a Mery (1985) e Raudinesco e Plon (1998). 
O termo transferência foi progressivamente introduzido por Sigmund Freud (s/d) 
e Sandor Ferenczi, entre 1900 e 1909, para designar um processo constitutivo 
do tratamento psicanalítico mediante o qual os desejos inconscientes do cliente 
concernentes a objetos externos passam a se repetir, no âmbito da relação psicopedagógica 
clínica, na pessoa do psicopedagogo, colocado na posição desses diversos objetos. 
Na linguagem corrente, o termo inconsciente é utilizado como adjetivo, para designar o 
conjunto dos processos mentais que não são conscientemente pensados. Pode também ser 
empregado como substantivo, como uma conotação pejorativa, para falar de um indivíduo 
irresponsável ou louco, incapaz de prestar contas do seu ato. 
Em psicanálise, o inconsciente é um lugar desconhecido pela consciência: uma "outra cena". 
Na primeira tópica elaborada por Freud, trata-se de uma instância ou um sistema constituído 
por conteúdos recalcados que escapam às outras instâncias, o pré-consciente e o 
consciente. Na segunda tópica, deixa de ser uma instância, passando a servir para qualificar 
o "isso" ou "id" e, em grande parte, o "eu" e o "supereu" ou "superego". 
A transferência é o desenvolvimento de uma atitude emocional do paciente, dirigida ao 
analista quer sob a forma de uma reação afetuosa (positiva) quer de uma reação hostil 
 
 
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(negativa), a atitude derivando, em ambos os casos, das relações anteriores do paciente com 
um de seus pais ou com os dois, e não da situação analítica atual (Warren, in Mery, 1985; 
p.37). Mas, como já foi observado por vários psicanalistas (Glover, Melaine Klein etc.), "o que 
é transferido, não é apenas um afeto, mas todo um tipo de comportamento" (Lagache, in 
Mery, 1987; p. 37), "é uma situação total, é a totalidade do desenvolvimento" (id., pág. 88). 
Por outro lado, o que surpreende nas manifestações transferenciais é o 
fato de que são "condutas anacrônicas ou irracionais" (Lagache) que se 
produzem sem levar em conta a situação real vivida pelo sujeito; "o fato 
de que ela ultrapassa a medida e afasta-se, (...) do que seria normal, 
racional, dá à transferência um aspecto particular" (S.Freud). Isso pode 
ser explicado se tivermos em mente que "a transferência se deve não 
apenas às idéias e expectativas conscientes do paciente, mas também 
a tudo o que foi recalcado e tornou-se inconsciente" (id). 
Com a descoberta do complexo de Édipo, Freud compreende que "é a relação do indivíduo 
com suas figuras parentais que é revivida na transferência, acompanhada, notadamente, da 
ambivalência pulsional que a caracteriza" (Laplanche e Pontalis, in Mery, 1985; p. 37) 
Freud adotou duas teorias explicativas da transferência: 
a) A teoria dinamista, que corresponde à posição de Freud em A Dinâmica da Transferência 
(1912). 
Todo indivíduo cuja necessidade de amor não é satisfeita inteiramente pela realidade volta-
se inevitavelmente, com certa expectativa libidinal, para todo e qualquer personagem novo 
que entrar em sua vida (S. Freud). Ele espera encontrar, junto a esse novo objeto, 
possibilidades de satisfações instintivas, libidinais ou agressivas,em conformidade com a 
relação infantil da qual o sujeito não se desligou (Bouvet), a disposição para a transferência 
implicando, com efeito, a persistência de um conflito infantil não resolvido (Legache). Cada 
um viverá essa experiência nova de maneira pessoal, uma vez que todo indivíduo, pela ação 
concomitante de uma predisposição natural e dos ocorridos em sua infância, possui uma 
 
 
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maneira pessoal, determinada, de viver sua vida amorosa (S. Freud), que forma uma espécie 
de clichê que ele repete durante sua vida, mas que pode, numa certa medida, ser modificado 
por impressões ulteriores (id). No processo de estabelecimento desse clichê, as tendências 
libidinais satisfeitas desenvolveram-se e orientaram-se para a realidade; a outra parte, 
frustrada, encontrou "um expediente na imaginação ou ficou confinada no inconsciente, à 
espera, (são essas) tendências libidinais à espera (que) são inevitavelmente despertadas 
quando o sujeito entra em contato com um novo objeto" (Legache); o novo objeto "é 
assimilado aos protótipos preexistentes" (id.). "Em razão da predisposição para a 
transferência, o paciente reprojeta suas imagos" (Schlumberger). 
b) A teoria mecanicista, que corresponde à posição de Freud em Além do princípio do prazer 
(1920) 
A transferência é usualmente definida "pela repetição, na 
análise e fora dela, de atitudes emocionais inconscientes 
adquiridas durante a infância no círculo de relações do paciente 
e em particular em sua relação com os pais". (Legache). Esses 
afetos vividos na relação transferencial "emanam", escreve 
Anna Freud "das antigas relações objetais, ou mesmo das totalmente arcaicas e durante a 
análise, ressuscitam sob a influência do automatismo de repetição". Em face de um 
personagem novo, o sujeito "revive em sua relação com o outro experiências precoces 
ligadas principalmente às imagens parentais" (Sami-Ali). Essa reprodução na transferência 
"tem sempre por conteúdo um fragmento da vida sexual infantil, e portanto, do complexo de 
Édipo e de suas ramificações" (Freud). A situação face a face reatualiza no sujeito o conflito 
infantil não resolvido e pode conduzi-lo a manobras defensivas diante da abordagem de 
problemáticas edipianas, tal a "afirmação das identificações imaginárias" (D.Anzieu). Há "um 
deslocamento para o analista dos imagos dos pais, o que permite não apenas pôr em 
evidência as relações afetivas mantidas com elas, mas também ver a evolução dessas 
relações realizar-se sob os nossos olhos (...) vemos o complexo de Édipo delinear-se, armar-
se e desfazer-se" (Schlumberger). De fato, assistimos a tais processos, pois "o paciente age 
seu passado em vez de rememorá-lo" (Lagache) levado por "uma necessidade específica de 
 
 
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repetição" (id). Essa repetição é contrária ao princípio do prazer, "a experiência sexual infantil 
tendo sido uma experiência dolorosa, um fracasso e uma ferida narcísica, seu recalcamento 
por parte do ego estava conforme ao princípio do prazer; sua repetição na transferência (...) 
é contrária ao princípio do prazer e está ligada à compulsão à repetição". (Freud). 
A doutrina clássica não atribuía nenhuma influência específica ao meio, atendo-se à 
espontaneidade da transferência, sem dúvida para diferenciar-se da hipnose e, por outro 
lado, em razão da natureza libidinal da transferência. 
Mas, "segundo a teoria dualista", o meio psicanalítico exerce uma ação positiva na produção 
da transferência (Lagache). O conceito de transferência é ampliado; os objetos passíveis de 
serem alvos de transferência incluem não apenas a pessoa do analista, mas o ambiente, a 
técnica analítica e a vida cotidiana. 
A ênfase colocada por Lagache e outros psicanalistas, como Ida Mc Alpine, na importância 
do meio na produção da transferência permite ao psicopedagogo diferenciar-se do 
psicoterapeuta. Com efeito, sua área de ação é diferente do campo analítico. A relação 
educativa é vivida, num meio particular, cujas particularidades, portanto, devem ser 
precisadas. 
O meio psicopedagógico inclui os dois indivíduos postos em presença, as atividades 
comumente empreendidas, bem como o conjunto das condições materiais e psicológicas que 
regem o desenrolar desses encontros. 
A criança vem em presença do reeducador com suas predisposições naturais e sua história 
pessoal. O psicopedagogo também comparece com suas predisposições e sua história 
pessoal. O psicopedagogo tem um conhecimento desta história, o que lhe permitirá situar a 
maneira de ser da criança em seu contexto, ou seja, em seu passado; isso o ajudará a tomar 
uma distância suficiente em relação à criança para evitar entrar no jogo dela e reproduzir 
com ela um comportamento parental. 
Todos esses fundamentos serão retomados ao longo da vivência do ser psicopedagogo. 
 
 
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UNIDADE 11 
Objetivo: Possibilitar ao aluno a compreensão acerca da contribuição da abordagem da 
Psicanálise para o campo da Psicopedagogia. 
A ABORDAGEM PSICANALÍTICA NA PSICOPEDAGOGIA 
 
6.1. Bases da Psicanálise 
Uma das principais correntes na história da psicologia é a teoria psicanalítica de Sigmund 
Freud. Este sistema teórico é um modelo do desenvolvimento da personalidade, uma filosofia 
da natureza humana e um método de psicoterapia. Historicamente, a psicanálise constitui a 
primeira das três maiores escolas de psicologia, sendo o behaviorismo a segunda, e a 
terceira, ou "terceira força", a psicologia humanista existencial. É importante reconhecer que 
Freud foi o criador de uma abordagem psicodinâmica à psicologia, por lhe ter proporcionado 
um novo modo de olhar e descobrir novos horizontes. Freud estimulou uma grande soma de 
controvérsias, de atividade exploratória e de pesquisa, e lançou os fundamentos sobre os 
quais se fixam muitos sistemas posteriores. 
De um ponto de vista histórico, as maiores contribuições da teoria psicanalítica abrangem as 
seguintes: 
1) A vida mental do indivíduo pode ser compreendida e é possível aplicar-se insight 
sobre a natureza humana para aliviar certas formas de sofrimento. 
2) O comportamento humano é quase sempre governado por fatores inconscientes. 
3) O desenvolvimento durante a primeira infância tem um efeito profundo sobre o 
funcionamento da pessoa adulta. 
 
 
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4) Esta teoria produziu um sistema de referência significativo para a compreensão dos 
meios através dos quais um indivíduo tenta enfrentar a ansiedade, postulando 
mecanismos que servem, ao mesmo indivíduo, para evitar vir a ser dominado pela 
ansiedade. 
5) A abordagem psicanalítica oferece recursos de decifragem do inconsciente por meio 
da análise dos sonhos, resistências e transferências. 
 
Esse artigo bibliográfico, objetiva fornecer ao estudioso da psicopedagogia, fundamentos 
teóricos básicos sobre a Psicanálise. Para isso recorreremos ao texto de Gerald Corey 
(1983;p.25-33), Editado pela Campus, cidade do Rio de Janeiro, cujo título é "Técnicas de 
Aconselhamento e Psicoterapia".Também aqui recorreremos à nossa vivência e outros 
referenciais. 
 
 
 
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UNIDADE 12 
Objetivo: Possibilitar ao aluno a compreensão acerca da contribuição da abordagem da 
Psicanálise para o campo da Psicopedagogia, por meio da apresentação dos conceitos-
chave da teoria psicanalítica. 
CONCEITOS-CHAVES NA PSICANÁLISE 
 
ESTRUTURA DA PERSONALIDADE 
De acordo com a visão psicanalítica, a estrutura da personalidade consiste em três sistemas: 
o id/isso, o ego/eu e o superego/supereu. Trata-se de nomes para processos psicológicos, 
não devendo ser imaginados como termos-vida que, separadamente, agenciem a 
personalidade: o processo desses três sistemas

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