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NPJ I SEÇÃO 5 CONSTITUCIONAL

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AO EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE/ VICE-PRESIDENTE DO COLENDO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO/SP
Autos nº [....]
Recorrente: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Recorrido: MUNICÍPIO DE ROSANA-SP
 O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, nos presentes autos, por intermédio da sua Procuradora de Justiça abaixo assinada, no uso de suas atribuições legais, com fulcro no artigo 102, III, “a” da Constituição Federal, e artigo 1.003, parágrafo quinto, do Código de Processo Civil, vem mui respeitosamente perante Vossa Excelência, tempestivamente, interpor os presentes:
RECURSO EXTRAORDINÁRIO
em face do r. acórdão prolatado pela colenda Câmara Especial, deste Egrégio Tribunal, vide folhas n°(...), que negou provimento aos embargos de declaração opostos pelo recorrente na ação ordinária em tela ajuizada em face do município de Rosana/SP, conforme razões expostas.
 Requer seja recebido o presente recurso, já que presente todos os requisitos de admissibilidade, intimando-se recorrido para oferecer contrarrazões em 15 (quinze) dias, conforme art. 1.030 do CPC.
 O preparo é dispensável no presente caso, visto se tratar de recurso interposto por membro do Ministério Público, conforme legislação vigente. 
 Que seja atribuído efeito suspensivo ativo ao recurso, nos termos do artigo 1.029, parágrafo quinto, III c/c artigo 995, parágrafo único, ambos do Código de Processo Civil, para evitar lesão grave de difícil ou incerta reparação, vide documento juntado às folhas n°.... (em anexo).
 Por fim, requer seja dado seguimento ao recurso, nos termos dos artigos 1.030, II a V e 1.030, V, do CPC, encaminhando-se os autos para o Egrégio Supremo Tribunal Federal para julgamento.
Local_________, data__/__/____.
Isabella
Procuradora de Justiça
RAZÕES DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO
COLENDO SUPREMO TRUBUNAL FEDERAL
DIGNÍSSIMO MINISTRO-PRESIDENTE; 
ILUSTRE RELATOR;
DOUTOS MINISTROS;
Recurso Extraordinário em ação ordinária
Processo de origem nº [...]
Recorrente: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Recorrido: MUNICÍPIO DE ROSANA - SP
I - DOS FATOS
 Trata-se de Recurso Extraordinário em ação ordinária ajuizada pelo recorrente em face do município de Rosana no Estado de São Paulo, tendo em vista a não criação de vagas do ensino fundamental infantil no município em comento, sendo então proposta uma Ação Civil Pública (ACP) com pedido de tutela de urgência em razão de as crianças não terem acesso à escola e correrem o risco de perder o ano letivo.
 Após proposta a ação, os fatos foram de desencadeando com a decisão do magistrado de primeiro grau, entretanto, este indeferiu a tutela liminar, bem como sentenciou improcedente a Ação Civil Pública, fundamentando a sua decisão no fato de o direito à educação ser um direito social e, por isso, teria natureza de norma programática, não cabendo ao judiciário interferir na Administração Pública para concretizar tais direitos. 
 Após isso, este recorrente interpôs recurso de Apelação, sendo os autos remetidos ao Tribunal de Justiça de São Paulo, o qual restou também improvido, sob fundamentação de que os direitos fundamentais em discussão, apesar de previstos na constituição, devem se submeter à ‘’reserva do possível’’. 
 Posto isso, após ciência do Acórdão do referido Tribunal, foram opostos os chamados Embargos de Declaração pelo autor, ora recorrente, em face do acórdão que julgou a ação improcedente, a fim de que o órgão julgador esclarecesse a sua decisão, pré-questionando expressamente aos dispositivos constitucionais desrespeitados pela decisão colegiada, tendo o colendo Tribunal de Justiça negado provimento ao recurso, sob a alegação de que não precisa o Tribunal fundamentar a decisão com todos os argumentos trazidos pelas partes, mantendo a decisão recorrida. 
 É em face do mencionado acórdão que se interpõe o presente Recurso Extraordinário, conforme segue.
II - DA REPERCUSSÃO GERAL
 Existe repercussão geral na causa, obedecendo a exigência do artigo 102, parágrafo primeiro, da CF/88 e artigo 1.035 do CPC. A causa versa sobre questão relevante sob o ponto de vista econômico, jurídico, político ou social e ultrapassa os interesses subjetivos do processo, visto se tratar de direito fundamental à educação para crianças e adolescentes.
Trata-se de assunto de destacada importância e que é de suma relevância para a coletividade, sendo sua apreciação de utilidade para outras pessoas, relações, processos e para a sociedade como um todo.
III - DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE
III.1 DA TEMPESTIVIDADE, CABIMENTO E PREPARO
 O Recurso utilizado é adequado, tendo cabimento, com base no artigo 102, III, “a” CFRB/88, já que se trata de interposição em face de acórdão que contrariou dispositivos da Constituição. 
A interposição é tempestiva, pois foi realizada no prazo de 15 (quinze) dias, conforme artigo 1.003, parágrafo quinto, do Código de Processo Civil.
 As verbas do preparo são dispensáveis no presente caso, por se tratar de recurso interposto pelo Ministério Público, conforme o que dispõe o artigo 1.007, parágrafo primeiro, do CPC.
III.2 DO PREQUESTIONAMENTO E DO ESGOTAMENTO DAS VIAS RECURSAIS ORDINÁRIAS.
 O recorrente registra que resta obedecido o requisito do pré-questionamento, por meio dos embargos de declaração opostos pelo recorrente, que se prestaram a este fim, vide folhas n°(...), conforme art. 1.025 do CPC, súmula 98 do STJ e súmula 282 do STF.
 Não há intenção de inovar na narrativa dos fatos, teses e fundamentos jurídicos, muito menos no conjunto probatório. O presente Recurso também não se destina à reanálise de fatos e provas, em obediência à sumula 279 do STF.
 Todos os fatos, matérias e fundamentos alegados neste recurso foram pré-questionados pelas instâncias inferiores, não havendo mais a possibilidade de recurso a instâncias inferiores, obedecendo-se, portanto, o que dispõe a súmula 281 do STF.
III.3 DOS DEMAIS REQUISITOS DE ADMINISSIBILIDADE
 Afirma o recorrente que restam obedecidos todos os demais requisitos de admissibilidade. Há legitimidade e interesse recursal (o recorrente é parte e é possível decisão mais favorável), inexistindo fato impeditivo ou extintivo de direito de recorrer (desistência, aceitação ou renúncia) e foram obedecidas todas as regras de regularidade formal do recurso.
IV. DO EFEITO SUSPENSIVO
 Requer o recorrente que seja atribuído efeito suspensivo ativo ao presente recurso, nos termos do artigo 1.029, parágrafo quinto, II e III do Código de Processo Civil c/c parágrafo único do artigo 995 da mesma norma legal em comento.
Isso porque o acórdão recorrido negou o direito à educação fundamental para crianças e adolescentes do município de Rosana/SP, o que constitui grave violação a direito fundamental, sendo que a cada dia que passa as crianças e adolescentes atingidos estão sendo prejudicados pelo retardamento do seu desenvolvimento científico e social, com o risco de perderem o ano letivo.
 Portanto, a concessão de efeito suspensivo ativo ao recurso é medida essencial para evitar lesão grave ou de difícil ou incerta reparação, estando presentes os requisitos do fumus bonis iuris e o periculum in mora, conforme demonstra o conjunto probatório dos autos. Ressalta-se que, caso o dito efeito suspensivo ativo já tenha sido atribuído no juízo originário, que o mesmo seja mantido até o final, como medida de justiça.
V. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS DO PEDIDO DE REFORMA
 Conforme já esposado, o mérito recursal versa sobre o direito fundamental à educação, que foi violado pelo município de Rosana/SP ao negar a disponibilização/criação de vagas de ensino fundamental à população local, sob o argumento de ausência de recursos financeiros suficientes, principalmente por causa da realização de obras de um grandiosoestádio de futebol no município.
 Ocorre que o Tribunal de Justiça de São Paulo julgou não provido o recurso de apelação interposto por este recorrente, sob o argumento de que o fato de o apelado não dispor de recursos financeiros suficientes é motivo hábil à improcedência da ação.
 Em razão da omissão do acórdão impugnado quanto aos dispositivos constitucionais violados, este recorrente opôs embargos de declaração para fins de pré-questionamento e reforma da decisão, o qual, contudo, foi improvido, sob o fundamento de que o Tribunal não seria obrigado a fundamentar a decisão com base em todos os argumentos trazidos pelas partes, mantendo integralmente os termos do acórdão impugnado, principalmente no tocante à tese da “reserva do possível’’. 
 Conforme se observa, o acórdão impugnado fere cabalmente diversos dispositivos da Constituição Federal de 1988, negando à crianças e adolescentes um direito fundamental subjetivo, de natureza indisponível, qual seja, o direito à educação básica.
 A educação é um direito social acessível a toda a população, sendo dever do Estado a sua promoção e desenvolvimento, conforme dispõem os arts. 6 e 205 da Carta Magna de 88. Vejamos:
Art. 6º - São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. 
Art. 205 - A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
 Conforme dispõe o art. 208 da Constituição, o Estado deverá efetivar obrigatoriamente a educação básica gratuita, sendo tal direito de natureza pública subjetiva, ou seja, insuscetível de qualquer recusa por parte do Poder Público:
Art. 208 - O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; 
§ 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
 A Constituição ainda prevê cotas mínimas de investimentos para o desenvolvimento da educação por parte dos entes federados, nos termos do seu art. 212:
Art. 212 - A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino. 
Ademais, no presente caso, trata-se de demanda envolvendo crianças e adolescentes, que tem prioridade de atendimento educacional, conforme art. 227 da CF/88:
Art. 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
 Em reforço ao preceito constitucional, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) também prevê o princípio da prioridade de atendimento à criança e ao adolescente, nos termos dos artigos 4º, 53 e 54. Vejamos:
Art. 4º - É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Art. 53 - A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;
V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais.
 Art. 54 - É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
 Ademais, não restam dúvidas quanto o dever do Município no presente caso, visto que o ente municipal tem atuação prioritária no ensino de educação infantil fundamental, conforme artigo 30, VI, da Constituição Federal, que dispõe:
Art. 30 - Compete aos Municípios:
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental.
 Portanto, tendo em vista que o direito a educação compõe o rol dos direitos fundamentais da república brasileira, conforme a Carta Magna de 88, não poderá o poder público limitar o seu acesso, muito menos preterir tal direito em detrimento de obras públicas na área de lazer, o que ocorreu no presente caso, uma vez que a Administração local justificou a ausência de vagas escolares em razão de gastos financeiros com obras de um grande estádio de futebol no município.
 O direito à educação se insere no rol das cláusulas pétreas, previstas no art. 60, parágrafo quarto, da Constituição Federal, o que impede a sua abolição até mesmo por emenda constitucional, quem dirá por um ato totalmente desarrazoado e desproporcional praticado por um ente público, como é o caso dos autos. Vejamos:
Art. 60 - A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.
 Ademais, é nítida a legitimidade do parquet para atuar no presente caso, tendo em vista que a Ação Civil Pública destina-se a tutela de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos, de natureza fundamental, justamente o que se verifica no presente caso, onde se tutela o direito à educação de diversas crianças e adolescentes que foram privados do direito à educação, conforme artigo 1, IV da Lei n. 7.347/1985 e art. 129, II, da Constituição Federal:
Art. 1º - Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.
Art. 129 - São funções institucionais do Ministério Público:
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;
Portanto, não prospera a tese da ‘’reserva do possível’’ apresentada pelo acórdão impugnado, uma vez que o direito à educação é direito social fundamental indisponível, de natureza subjetiva, não podendo ser tolhido sob nenhum pretexto, para fins de garantir o ‘’MÍNIMO EXISTENCIAL’’ à população.
 Conforme preconiza a jurisprudência dos Tribunais Superiores, especialmente esta Suprema Corte, a tese da ‘’reserva do possível’’ não pode sobrepor-se ao ‘’mínimo existencial’’ do ser humano, sob pena de grave e flagrante violação à Carta Magna de 88.Ademais, não prospera a tese de que o acórdão impugnado via embargos não necessita ser fundamentado com todos os argumentos aventados pelas partes, uma vez que toda decisão judicial deve ser fundamentada de forma completa, levando-se em consideração todos os fundamentos aduzidos pelas partes, conforme art. 5, IX, da Carta Magna de 88:
IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;
 Sendo assim, é indiscutível o dano material e moral que o apelado está causando injustificadamente a esses estudantes, privando-lhes de direitos difusos e coletivos que lhes são garantidos constitucionalmente.
VI - DOS PEDIDOS RECURSAIS
 Ante o exposto, o recorrente formula os seguintes pedidos:
a) Requer seja admitido o presente recurso, já que, como foi demonstrado, foram obedecidos todos os requisitos de admissibilidade;
b) A concessão de efeito suspensivo ativo, nos termos do artigo 1.029, parágrafo quinto, II e III do CPC, a fim de evitar dano de difícil ou incerta reparação, nos moldes citados;
c) Seja reconhecida a repercussão geral da matéria, por extrapolar o interesse subjetivo do processo, atingindo toda a coletividade, nos termos do artigo 102, parágrafo primeiro, da CF/88 e artigo 1.035 do CPC;
d) A intimação do Procurador-Geral da República para adoção das providencias legais, termos do artigo 103, parágrafo primeiro, da Constituição Federal de 1988;
e) Quanto ao mérito, requer seja julgado provido o presente Recurso Extraordinário, para que seja reformado o acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo que indeferiu o pedido de criação e disponibilização de vagas do ensino fundamental infantil no município réu;
f) Requer-se a inversão do ônus sucumbenciais, a fim de condenar o recorrido ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, observado o artigo 85 do CPC.
Nestes termos,
Pede e espera deferimento.
Local_________, data__/__/____.
Isabella
Procuradora de Justiça

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