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Contabilidade Créditos Centro Universitário Senac São Paulo – Educação Superior a Distância Diretor Regional Luiz Francisco de Assis Salgado Superintendente Universitário e de Desenvolvimento Luiz Carlos Dourado Reitor Sidney Zaganin Latorre Diretor de Graduação Eduardo Mazzaferro Ehlers Gerentes de Desenvolvimento Claudio Luiz de Souza Silva Luciana Bon Duarte Roland Anton Zottele Sandra Regina Mattos Abreu de Freitas Coordenadora de Desenvolvimento Tecnologias Aplicadas à Educação Regina Helena Ribeiro Coordenador de Operação Educação a Distância Alcir Vilela Junior Professora Autora Alexandra Medeiros Escobar Revisor Técnico Valdomiro Benjamin Junior Técnico de Desenvolvimento Priscila dos Santos Coordenadoras Pedagógicas Ariádiny Carolina Brasileiro Silva Izabella Saadi Cerutti Leal Reis Nivia Pereira Maseri de Moraes Equipe de Design Educacional Adriana Mitiko do Nascimento Takeuti Alexsandra Cristiane Santos da Silva Angélica Lúcia Kanô Cristina Yurie Takahashi Diogo Maxwell Santos Felizardo Elisangela Almeida de Souza Flaviana Neri Francisco Shoiti Tanaka João Francisco Correia de Souza Juliana Quitério Lopez Salvaia Jussara Cristina Cubbo Kamila Harumi Sakurai Simões Karen Helena Bueno Lanfranchi Katya Martinez Almeida Lilian Brito Santos Luciana Marcheze Miguel Mariana Valeria Gulin Melcon Mayra Bezerra de Sousa Volpato Mônica Maria Penalber de Menezes Mônica Rodrigues dos Santos Nathália Barros de Souza Santos Paula Cristina Bataglia Buratini Renata Jessica Galdino Sueli Brianezi Carvalho Thiago Martins Navarro Wallace Roberto Bernardo Equipe de Qualidade Aparecida Daniele Carvalho do Nascimento Gabriela Souza da Silva Vivian Martins Gonçalves Coordenador Multimídia e Audiovisual Adriano Tanganeli Equipe de Design Visual Adriana Matsuda Caio Souza Santos Camila Lazaresko Madrid Carlos Eduardo Toshiaki Kokubo Christian Ratajczyk Puig Danilo Dos Santos Netto Hugo Naoto Inácio de Assis Bento Nehme Karina de Morais Vaz Bonna Lucas Monachesi Rodrigues Marcela Corrente Marcio Rodrigo dos Reis Renan Ferreira Alves Renata Mendes Ribeiro Thalita de Cassia Mendasoli Gavetti Thamires Lopes de Castro Vandré Luiz dos Santos Victor Giriotas Marçon William Mordoch Equipe de Design Multimídia Alexandre Lemes da Silva Cláudia Antônia Guimarães Rett Cristiane Marinho de Souza Eliane Katsumi Gushiken Elina Naomi Sakurabu Emília Abreu Fernando Eduardo Castro da Silva Mayra Aniya Michel Iuiti Navarro Moreno Renan Carlos Nunes De Souza Rodrigo Benites Gonçalves da Silva Wagner Ferri Objetivos Específicos Temas • Entender a contabilidade como ciência, suas técnicas e a importância do sistema de informação como ferramenta. Alexandra Medeiros Escobar Contabilidade Aula 01 Professora A Contabilidade: Ciência, Técnica e Sistema de Informação Introdução 1 A contabilidade: ciência 2 As técnicas contábeis 3 Contabilidade como sistema de informação Considerações finais Referências Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 3 Introdução Nesta aula vamos conhecer a origem da contabilidade, quando foram os primeiros registros notadamente contábeis e como se deu a evolução destes até o momento em que a contabilidade passou a ser considerada ciência. Apresentaremos a contabilidade como a ciência que estuda o patrimônio e suas mutações, e a importância deste estudo para uma entidade. Abordaremos, inicialmente de forma superficial, as técnicas contábeis utilizadas para os registros, controle e análise dos dados contábeis e, por fim, será apresentada a contabilidade como sistema de informação empresarial. 1 A contabilidade: ciência Neste componente curricular, nosso objetivo é conhecer a contabilidade como ciência social aplicada, como técnica e como sistema de informação. Como conhecimento, a contabilidade é considerada uma ciência social, com plena fundamentação epistemológica. A epistemologia – do grego, epistéme, “ciência”; “conhecimento”, + logia, “estudo”, – é o conjunto de conhecimentos que tem por objeto o conhecimento científico, visando explicar os seus condicionamentos. O tema de nossa primeira aula foi escolhido para que, desde o início, possamos esclarecer um velho “mito”. Muitos de vocês, ao comentarem que fizeram a opção pelo curso de Ciências Contábeis, devem ter ouvido de diversas pessoas: “poxa você deve gostar muito de matemática” ou qualquer coisa parecida com isto. Existe um grande equívoco da maioria das pessoas, e talvez alguns de vocês também pensem desta forma, porém, a contabilidade não está estritamente ligada a matemática, nem sequer é uma ciência exata! A contabilidade é uma ciência social. Isto quer dizer que não lidamos com números? Não, de forma alguma. Os números são, sim, fundamentais em nossa profissão, porém, o que chamamos de ciência contábil é a análise dos dados gerados por meio de técnicas específicas. E como estamos falando de análise de dados, ou melhor, de análise do patrimônio – que sofre alterações devido a impactos internos e externos –, vê-se, portanto, que temos uma ligação muito maior com a ciência social, pois a mesma estuda de uma forma geral a sociedade humana. Além de falarmos da contabilidade como ciência, vamos falar de suas técnicas e da grande importância dos sistemas de informação atuais. E para entendermos o hoje, vamos começar pelo início da história da contabilidade, ou por aquilo que acreditamos ser este início. Um dos registros mais antigos e acessíveis a todos é a Bíblia. Independentemente de qualquer crença, nela podemos encontrar registros considerados contábeis, claro que bem diferentes dos registros feitos atualmente. Isto ocorre em vários livros diferentes como, por exemplo: Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 4 Em Gênesis, primeiro livro da Bíblia, capítulo 41, versículo 49, compara-se a riqueza acumulada por José com a areia do mar. Outro fato interessante é narrado no livro de Jó, capítulo 1, versículo 3, em que todo o seu patrimônio é detalhado, e nos últimos versículos é narrada a perda de todo este patrimônio. Embora sofra essa perda, Jó continua temente a Deus e deste fato provém a expressão “Paciência de Jó” para se referir a alguém com muita paciência. Ainda neste livro, em seu último capítulo, versículo 12, narra-se que Jó recupera seu patrimônio e o torna ainda maior que o perdido. Nos dois exemplos citados, vê-se referência à riqueza das pessoas, ou seja, o seu patrimônio. No primeiro livro de Reis, capítulo 4, versículo 21, é mencionado o pagamento de tributos, e nos versículos de 22 a 26 são relatadas as “despesas” da casa de Salomão e, mais uma vez, o seu patrimônio. Desta forma, podemos verificar a importância dada aos relatos patrimoniais desde esta época. Ainda neste mesmo livro, no capítulo 10, novamente são narrados os bens anualmente recebidos pelo rei Salomão, que, por sua vez, só vêm a aumentar o patrimônio do rei. No Evangelho de São Mateus, capítulo 18, é mencionada a história do rei que perdoou a dívida de um de seus servos; logo, entendemos que esta dívida estava registrada mediante algum tipo de relatório. E, para finalizarmos, no Evangelho de São Lucas, capítulo 14, é mencionada a necessidade de planejamento e controle ao gerenciar uma construção; e no capítulo 16, conta-se a história do administrador que, denunciado, foi obrigado por seu senhor a prestar contas da administração e este o desligou da função. Como vimos, são diversos os exemplos e todos estão relacionados ao registros de patrimônio das pessoas – mesmo quando falamos em despesas ou ganhos, indiretamente nos referimos a este patrimônio que, quanto mais despesas houver, menor ficará, e quanto mais ganho, maior ficará. Estas informações deixam claro o quanto a contabilidade é antiga e a sua importância, e estas mesmas informações mostram que, no início, a contabilidade era muito diferente daquela praticada hoje. Analisando suahistória, pode-se verificar que sua evolução foi amplamente impulsionada pela economia. Com o crescimento econômico, as sociedades necessitam de um maior controle do fluxo de dinheiro, e este controle é feito pelos registros contábeis que se aperfeiçoam a cada motivação econômica no mundo. Em 1833, a Academia de Ciências da França entendeu que a contabilidade era uma ciência social. Apesar de utilizar métodos quantitativos, não se constitui de uma ciência exata ou matemática, pois se ocupa de fatos decorrentes da ação humana. Torna-se uma ciência social porque possui objeto de estudo próprio: o estudo do patrimônio de uma determinada entidade. Na contabilidade, o objeto de estudo é sempre o PATRIMÔNIO de uma entidade, este definido como o conjunto de recursos à disposição da organização, independentemente de Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 5 sua finalidade, que pode ou não incluir o lucro. O essencial é que o patrimônio disponha de autonomia em relação aos demais recursos patrimoniais existentes, o que significa que a entidade pode dispor dele livremente dentro dos limites estabelecidos pela ordem jurídica e, sob certo aspecto, pela racionalidade econômica e administrativa. Cabe lembrar, ainda, que o patrimônio também é objeto de outras ciências sociais, como a Economia, a Administração e o Direito, que o estudam sob outros aspectos. A Contabilidade estuda o patrimônio em seus aspectos quantitativos e qualitativos, e busca, primordialmente, apreender – no sentido mais amplo possível – e entender as mutações sofridas pelo patrimônio, em uma visão prospectiva. As mutações tanto podem decorrer da ação do homem quanto, embora quase sempre secundariamente, dos efeitos da natureza sobre o patrimônio. Conforme citado por diversos autores, entre eles Borinelli e Pimentel (2010), em relação ao aspecto qualitativo do patrimônio, entende-se a natureza dos elementos que o compõem como os recursos financeiros, os recursos a receber ou a pagar expressos em moeda, máquinas, estoques de materiais ou de mercadorias etc. Com relação ao atributo quantitativo, refere-se à expressão dos componentes patrimoniais em valores, o que demanda que a Contabilidade assuma uma posição sobre o que seja “valor”, visto que os conceitos sobre a matéria são extremamente variados. A escola italiana de contabilidade teve várias correntes de pensamentos contábeis, todos desenvolvidos após a divulgação do método das partidas dobradas feita pelo Frei Luca Pacioli, que não foi o criador do método, mas sim o grande responsável por sua propagação. É importante frisarmos que esta é até hoje a principal técnica contábil. A primeira corrente de pensamento contábil foi o contismo, que tinha como principal foco as contas contábeis, sobretudo devido à grande influência do método das partidas dobradas. Os estudiosos deste método preocupavam-se em controlar a movimentação da empresa por meio dos saldos das contas. Cada conta movimentada possuía um registro próprio e exclusivo, e toda movimentação ocorrida na conta durante o período era registrada em um mesmo local. Dentro de tal pensamento, baseavam-se nos saldos das contas a pagar e a receber. Edmundo Degranges desenvolveu a teoria das cinco contas, que, por sua vez, contempla a atividade comercial. Para ele, as contas a ser controladas seriam: 1) Mercadorias; 2) Dinheiro; 3) Efeitos a receber; 4) Efeitos a pagar e 5) Lucros e Perdas. Após o pensamento contista, surgiu o personalismo, cujo objetivo é dar personalidade às contas e esclarecer a relação de direito e obrigações das atividades empresariais. Os principais nomes desta escola foram Francesco Marchi, responsável pelo lançamento do personalismo científico, e Giuseppe Cerboni, que a partir da ideia de Marchi, criou o conceito jurídico de direitos e obrigações, embora o tratamento “exclusivo” das contas já existisse desde o método das partidas dobradas e da escola contista. No personalismo, estas contas foram praticamente transformadas em “pessoas”. Cerboni já destacou em seus estudos a teoria logismográfica fundamentada na inter-relação entre Economia, Administração e Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 6 Contabilidade, que, de certa forma, é como a vemos até hoje, visto que estas três áreas estão estritamente ligadas à gestão das empresas. Outro fato muito importante ainda na escola personalista foi a elaboração do balanço, utilizando duas contas em nome do proprietário da empresa e em nome de terceiros, além de, mediante o controle financeiro, apresentar a sugestão de balanços orçamentários. O neocontismo descartou a personificação das contas e passou a ter como foco o patrimônio. Este novo rumo dado aos estudos contábeis nos trouxe grandes avanços com relação aos estudos da administração de empresas e da análise do patrimônio. Também na escola neocontista, iniciou-se a divisão das contas em ativo, passivo e situação líquida, ou resultado, como tratamos hoje. O grande avanço desta escola está ligado ao controle do patrimônio, que continua sendo o objeto da contabilidade atualmente, e a separação entre o passivo, ou seja, as dívidas da empresa, e a situação líquida. A corrente do controlismo, assim como todas as outras, deu sua contribuição para a contabilidade: seus estudiosos consideravam como o objeto o controle econômico das aziendas (empresas/patrimônio) e o estudo dos fatos que resultavam na variação do patrimônio das empresas. Foi muito importante com relação à organização do processo contábil, isto por ter o controle como objeto. As críticas geradas ao controlismo acabaram dando origem ao aziendalismo. Seu início foi dado pelos estudiosos Giuseppe Cerboni e Fabio Besta, que já haviam contribuído à contabilidade anteriormente por meio do personalismo e do controlismo, respectivamente. Reconhecendo falhas nos sistemas defendidos anteriormente, estes estudiosos resolveram focar os seus estudos nas aziendas, porém, sem abandonar as teorias já analisadas e sim acrescentando a parte científica da contabilidade a todo o processo organizacional, administrativo e de controle. O principal defensor desta teoria foi Gino Zappa, que conseguiu visualizar que a corrente controlista tinha ideias muito restritas e ampliou esta visão para o estudo focado em gestão. Para Zappa, a azienda era um complexo econômico e as operações não poderiam ser fenômenos isolados, mas, sim, parte de um conjunto buscando um determinado fim. As grandes contribuições de Zappa foram considerar toda a gestão da empresa de forma única e introduzir a ideia do resultado, já formado pela comparação entre receitas e custos da entidade. A última teoria europeia que vamos abordar é o patrimonialismo: suas teorias foram defendidas por Vicenzo Masi e trazem o patrimônio como objeto da contabilidade. Sob este pensamento, o patrimônio se transforma em decorrência das atividades econômicas e todas as contribuições devem ser conhecidas, pois, somente desta forma, os motivos das modificações poderão ser analisados corretamente. Esta análise será feita sempre considerando um determinado período. De certa forma, a teoria patrimonialista já defendia a análise do patrimônio da forma que o fazemos atualmente, pois em seus fundamentos dizia que o patrimônio deveria ser analisado de forma estática, com relação à situação patrimonial naquele momento – como fazemos ao analisar o balanço patrimonial de apenas um período –, e de forma dinâmica, para Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 7 analisar as variações que provocaram aumento ou redução na situação patrimonial – como fazemos ao analisarmos a demonstração do resultado das empresas. O conhecimento sobre o objeto contábil está em constante desenvolvimento, como, aliás, ocorre nas demais ciências em relação a seus respectivos objetos. Por esta razão, deve- se aceitar como natural o fato da existência de possíveis componentes do patrimônio cuja apreensão ou avaliaçãose apresentam difíceis ou inviáveis em determinado momento. Como já mencionado anteriormente, a evolução da sociedade e da economia são fortes aliados à evolução contábil e, por este motivo, a partir do final do século XIX e início do século XX, com o desenvolvimento do mercado de capital norte-americano, o foco do desenvolvimento contábil voltou-se para este continente e teve início com muita força a Escola Norte-Americana de Contabilidade. É claro que isto não significa que todos os estudos e avanços feitos na escola europeia tenham sido em vão ou muito menos que esta “nova” escola tenha surgido do zero. Porém, o grande desenvolvimento comercial e industrial ocorrido nos Estados Unidos, e que contou com a participação de inúmeros acionistas, gerou uma maior necessidade de controle, principalmente pensando na proteção daqueles acionistas minoritários, que não possuíam influência na administração do negócio. Essas duas forças, o grande desenvolvimento econômico e os novos investidores, fizeram pressão e no início do século XX surgiu a primeira discussão entre a Bolsa de Valores de Nova Iorque e o Instituto Americano de Contadores Públicos com o objetivo de promulgar os Princípios de Contabilidade. As grandes influências na Escola Norte-Americana, deve-se, basicamente: I. Ao grande avanço e refinamento das instituições econômicas e sociais; II. À Revolução Industrial, com sua influência na Contabilidade de Custos; III. Ao desenvolvimento das Sociedades Anônimas e à fusão de empresas, tornando- se grandes e complexas corporações; IV. Ao aumento do número de investidores de médio porte, que desejavam estar permanentemente informados, e que, para tanto, pressionavam os elaboradores de demonstrações financeiras; e V. Ao fato de o Instituto Americano de Contadores Públicos ser um órgão atuante em matéria de pesquisa contábil. (FAVERO, 2011, p. 22-23) Como o grande incentivador do crescimento contábil é o desenvolvimento socioeconômico, as pressões norte-americanas continuaram e, no ano de 1930, o Instituto Americano de Contadores Públicos nomeou um comitê para cooperar com a Bolsa de Nova Iorque, passando a ter destaque no desenvolvimento dos princípios contábeis. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 8 É importante destacar que a teoria contábil americana apresenta uma grande diferença da teoria europeia, pois o seu desenvolvimento está baseado no trabalho em grupo de pesquisadores. Além disso, por ter nascido impulsionada pelo grande desenvolvimento das empresas formadas por diversos acionistas, esta escola já nasceu com o enfoque em controle e auditoria das informações prestadas. Outro diferença importante a ser mencionada entre estas duas escolas é a forma de ensinar a contabilidade. A contabilidade americana parte dos relatórios contábeis e somente após da familiarização do aluno com as informações é que será explicado como estas foram geradas, pois acredita-se que conhecendo os relatórios, os alunos terão maior facilidade para entender o processo. Também não podemos esquecer que no início da contabilidade as informações disponíveis eram os inventários e apenas mais tarde é que foram criados os processos; logo, seria mais “natural” que conhecêssemos primeiro os relatórios e somente depois as técnicas de registros das informações. Agora que evidenciamos as duas principais origens do ensino da contabilidade, vamos falar de como este ensino está sendo aplicado no Brasil. Por ser a linha de pesquisa mais antiga, a escola europeia de contabilidade foi utilizada durante muito tempo na grande maioria das escolas no Brasil. Porém, com o passar dos anos e com a chegada das multinacionais, aos poucos a contabilidade americana começou a fazer parte das escolas de contabilidade em nosso país. Com a entrada no território nacional de várias empresas de auditoria que buscavam profissionais com conhecimentos voltados à escola americana, aos poucos, esta foi ganhando mercado e hoje é predominante. O objetivo científico da Contabilidade manifesta-se na correta apresentação do patrimônio e na apreensão e análise das causas das suas mutações. A aplicação da Contabilidade a uma entidade particularizada busca prover os usuários com informações sobre aspectos de natureza econômica, financeira e física do patrimônio da entidade e suas mutações, o que compreende registros, demonstrações, análises, diagnósticos e prognósticos, expressos sob a forma de relatos, pareceres, tabelas, planilhas e outros meios. A contabilidade, em particular, procura acompanhar a evolução econômica e financeira de uma entidade, neste caso, o adjetivo “econômico” é empregado para designar o processo de formação de resultado, isto é, as mutações quantitativas e qualitativas do patrimônio, as que alteram o valor do patrimônio líquido, para mais ou para menos, corretamente conhecidas como “receitas” e “despesas”. Já os aspectos qualificados como “financeiros” concernem aos fluxos de caixa. Ou seja, na realização do objetivo central da Contabilidade defrontamo-nos muitas vezes com situações nas quais os aspectos jurídico-formais das transações ainda não estão completa ou suficientemente dilucidados, então, deve-se considerar o efeito mais provável das mutações sobre o patrimônio, quantitativa e qualitativamente, concedendo-se prevalência à substância das transações. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 9 Os relatórios contábeis apresentam de forma resumida e ordenada os dados colhidos pela contabilidade; têm como objetivo relatar às pessoas que utilizam estes dados os principais fatos registrados pela empresa em determinado período. Também conhecidos como informes contábeis, distinguem-se em obrigatórios e não obrigatórios ou principais e gerenciais. Os relatórios principais são os relatórios obrigatórios, aqueles exigidos pela legislação comercial, ou seja, a Lei nº 6404/76, conhecida como a Lei das Sociedades por Ações, que estabelece que, ao fim de cada exercício social, a contabilidade fará elaborar, com base na escrituração mercantil da companhia, as demonstrações financeiras. Estes relatórios estão expressos no art. 176 da Lei nº 6404/76, descrito abaixo: SEÇÃO II Demonstrações Financeiras Disposições Gerais Art. 176. Ao fim de cada exercício social, a diretoria fará elaborar, com base na escrituração mercantil da companhia, as seguintes demonstrações financeiras, que deverão exprimir com clareza a situação do patrimônio da companhia e as mutações ocorridas no exercício: I. balanço patrimonial; II. demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados; III. demonstração do resultado do exercício; e IV. demonstração dos fluxos de caixa; e (Redação dada pela Lei nº 11.638, de 2007) V. se companhia aberta, demonstração do valor adicionado. (Incluído pela Lei nº 11.638, de 2007). É importante mencionar que, embora os relatórios obrigatórios pela lei sejam os cinco mencionados, as companhias abertas estão subordinadas à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e conforme a Instrução CVM Nº 59, de 22 de dezembro de 1986, determina a obrigatoriedade de elaboração da demonstração da mutação do patrimônio líquido para toda companhia aberta. Neste caso a empresa está liberada da elaboração e publicação da demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados. As demais empresas, caso optem por elaborar a demonstração da mutação do patrimônio líquido, também ficam dispensadas da elaboração da demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados. O balanço patrimonial é composto por três grupos: ativo, passivo e patrimônio líquido. Nestes grupos estão representadas as aplicações e as origens dos recursos da entidade, sendo o grupo “Ativo” composto das aplicações dos recursos, e os grupos “passivo” e “patrimônio Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 10 líquido”, das origens dos recursos. O balanço é o símbolo do equilíbrio da empresa e deve obrigatoriamente sempre apresentar o mesmo valor nosdois lados da demonstração, uma vez que não existe aplicação sem origem. A demonstração dos lucros ou dos prejuízos acumulados deve apresentar a movimentação da conta lucros ou prejuízo acumulado. No caso de apuração de lucro, a empresa deve destinar os lucros dentro do período apurado, também deverá destinar o lucro apurado no período nesta demonstração e caso tenha ocorrido algum ajuste referente ao exercício anterior ou reversão de reservas estes devem ser apresentados na demonstração. A demonstração do resultado do exercício resume as operações de resultado da empresa em um determinado período, apresentando todas as receitas geradas pela empresa e todos os custos e despesas incorridos por ela. Este confronto entre receitas, custos e despesas demonstrará um resultado que pode ser de lucro ou de prejuízo. A demonstração dos fluxos de caixa demonstrará toda a movimentação da conta caixa e equivalente de caixa durante o período. Essa demonstração pode ser feita de forma direta (valores totais pagos ou recebidos) ou indireta (pela variação das contas no período) e deve ser dividida em três fluxos: operacionais, de investimentos e de financiamento, e a diferença de apresentação na forma direta ou indireta contemplará apenas o fluxo de caixa operacional. A demonstração do valor adicionado deve demonstrar a “riqueza” gerada pela empresa no período e como esta foi distribuída entre os grupos que contribuíram para a sua existência: funcionários da empresa, sócios, governo e financiadores. Como mencionado, é obrigatória apenas para as empresas de capital aberto, porém, todas as demais podem elaborar a demonstração por opção, pois tal demonstração expressa a intenção da empresa de ser transparente. A demonstração da mutação do patrimônio líquido, como já mencionado, é obrigatória para empresas ligadas à CVM, ou seja, as empresas de capital aberto devem demonstrar a movimentação de todas as contas do grupo patrimônio líquido durante o período. Tal demonstração inicia com o saldo das contas no período anterior, mostra toda a movimentação no período em questão e ao final demonstra o saldo destas contas na data de sua elaboração. 2 As técnicas contábeis Para cumprir seu papel social, o processo contábil, a partir das técnicas, deve ser desenvolvido para as organizações. Os procedimentos utilizados para o registro dos fatos e das operações realizadas pela organização devem ser reconhecidos como técnica. A técnica contábil envolve os processos de escrituração, elaboração das demonstrações financeiras já mencionadas nesta aula, auditoria e análise das demonstrações. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 11 2.1 A escrituração A escrituração contábil, de certa forma, é a continuidade da aplicação do método das partidas dobradas divulgado por Luca Pacioli e é por meio dela que registramos toda a movimentação da empresa. Lembre-se que estes registros sempre geram lançamentos a débito e a crédito no mesmo valor, mesmo que o registro seja, por exemplo, um lançamento a débito para vários lançamentos a crédito – o importante é que a soma de todos os lançamentos a crédito seja igual ao valor lançado a débito. Todo acontecimento que modifica o patrimônio da empresa é registrado por meio da escrituração contábil. Esses acontecimentos podem ser apenas uma movimentação entre contas patrimoniais, uma movimentação com contas de resultado ou uma movimentação que afete tanto a conta do patrimônio quanto as contas de resultado. Dividimos estes fatos contábeis entre: permutativos, quando a modificação do patrimônio da empresa é de forma qualitativa, com alterações apenas nas contas patrimoniais, sem afetar o patrimônio líquido; modificativos, quando afeta o patrimônio líquido e as contas de ativo e passivo com valores iguais e mistos, que, como o próprio nome já sugere, é a mistura dos fatos permutativos e modificativos, ou seja, envolve a movimentação de contas patrimoniais e contas de resultado que impacta no patrimônio líquido da empresa – tanto nos fatos modificativos quanto nos fatos mistos, o impacto no patrimônio líquido pode ser de aumento ou de redução. Os lançamentos a débito e a crédito, como já mencionado, nem sempre são compostos de um lançamento a débito e um lançamento a crédito – quando isto ocorre, chamamos de lançamento de primeira fórmula. Além dele, podemos ter lançamento com uma conta a débito e duas ou mais contas a crédito, este fato será chamado de lançamento de segunda fórmula. Ainda temos casos de dois ou mais lançamentos a débito e um lançamento a crédito, que chamamos de lançamento de terceira fórmula; e, por último, temos casos de dois ou mais lançamentos a débito e dois ou mais lançamentos a crédito, chamados de lançamento de quarta fórmula. Para facilitar o entendimento, vamos exemplicar cada tipo de fórmula contábil. Lançamento de primeira fórmula: pagamento de fornecedor com dinheiro do caixa, no valor de R$ 300,00. Neste caso, vamos debitar a conta Fornecedores em R$ 300,00 e creditar a conta Caixa também em R$ 300,00, ou seja, ao mesmo tempo em que diminuímos nossa obrigação com terceiros (fornecedores), também diminuímos nossos bens (caixa) no mesmo valor. Lançamento de segunda fórmula: aquisição de um veículo no valor de R$ 30.000,00, com pagamento de 40% em cheque e o restante dividido em 12 prestações sem juros. O lançamento será débito na conta Veículos no valor de R$ 30.000,00, crédito na conta Banco no valor de R$ 12.000,00 e crédito em Contas a Pagar no valor de R$ 18.000,00. Lançamento de terceira fórmula: pagamentos das contas de água e luz, nos valores de R$ 150,00 e R$ 230,00 respectivamente, mediante o cheque nº 001.987 do Banco X. Neste caso, vamos debitar a conta de Água e Esgoto a pagar em R$ 150,00, debitar a conta Energia Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 12 Elétrica a pagar em R$ 230,00 e creditar a conta Banco X em R$ 380,00. Notem que o valor lançado a crédito na conta Banco X é igual a soma dos valores lançados a débito nas contas de água e esgoto a pagar e energia elétrica a pagar. Lançamento de quarta fórmula: venda de mercadoria por R$ 2.000,00, com ICMS de 18% e custo de R$ 1.200,00, recebendo 50% de entrada e o restante para 30 dias. Não podemos esquecer que neste caso precisamos registrar a receita de vendas, a baixa no estoque e o tributo gerado, sendo débito na conta Caixa R$ 1.000,00; débito na conta Clientes (contas a receber) R$ 1.000,00, débito na conta CMV (Custo da Mercadoria Vendida) R$ 1.200,00; débito na conta ICMS sobre vendas R$ 360,00; crédito na conta Receita de Vendas R$ 2.000,00; crédito na conta Estoque de Mercadorias R$ 1.200,00 e crédito na conta ICMS a recolher R$ 360,00. Além das contas contábeis devedoras e credoras, a escrituração deve conter o local, a data e o histórico do registro. Seus lançamentos devem obrigatoriamente ser feitos em ordem cronológica de dia, mês e ano; o histórico deve ser elaborado da forma mais resumida possível, porém, deixando claro o fato contábil que está sendo registrado, de forma que qualquer pessoa que o leia consiga identificar as informações sem maiores dificuldades. É permitido o uso de abreviaturas no histórico, contudo, devem ser utilizadas sempre da mesma form. Por exemplo, não podemos identificar a palavra “pagamento” em um histórico como “pag.” e no histórico seguinte como “pgto.”. Sempre que a empresa utilizar abreviações nos históricos contábeis deverá obrigatoriamente manter no livro diário ou em registro especial o significado de tais siglas. 2.3 Auditoria Contábil A auditoria é a técnica contábil que desenvolve um exame cuidadoso e sistemático das atividades contábeis desenvolvidas em determinada empresa ou setor. O campo de atuação da auditoria é amplo e podem-se citar alguns tipos como: a auditoria ambiental, a de circulação contábil, a de demonstrações financeiras, a fiscal, a de segurança da informação, a social, a de prestação de contas, a deriscos, a de sistemas, a governamental, a de desempenho, a operacional, a financeira, a tributária e a trabalhista. O objetivo da auditoria contábil é verificar se os processos desenvolvidos pela contabilidade estão em conformidade com os controles internos e as normas vigentes, podendo ser classificadas em auditoria externa e auditoria interna. Esta técnica contábil será estudada posteriormente, ao longo do curso de Ciências Contábeis. 2.4 Análise das Demonstrações A análise das demonstrações é a técnica utilizada para extrair das demonstrações financeiras informações para as tomadas de decisão. Para que os benefícios desta técnica sejam bem aproveitados deve-se inicialmente estabelecer qual é o objetivo, preparar os dados a serem utilizados e fazer uma revisão geral das demonstrações. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 13 Essa técnica será estudada de forma mais profunda em matéria específica no decorrer do curso de Ciências Contábeis. 3 Contabilidade como sistema de informação Um sistema de informação é a união organizada de diversos dados ou elementos com o objetivo de armazenar estas informações, estruturá-las de modo a serem utilizadas, e apoiar uma decisão ou uma atividade a ser realizada. Portanto, após termos mencionado as técnicas contábeis e a função de controle patrimonial da contabilidade, acreditamos estar claro que a contabilidade é um grande e importante sistema de informação para todas as empresas, independentemente de seu porte ou de sua localização. Considerações finais Após breve relato histórico da contabilidade, pode-se verificar sua evolução e a forte ligação deste crescimento com a história da economia mundial. Podemos notar que esta ciência está intimamente ligada à necessidade de controle do ser humano e à sua vontade de evoluir econômica e financeiramente. Verificamos as formas de registros, controles e verificações feitas por meio das técnicas contábeis de forma simplificada. Em nossa próxima aula, veremos o quanto estas informações são importantes para gestão empresarial. Referências BIBLIA. Bíblia católica on-line. Disponível em: <http://www.bibliacatolica.com.br/>. Acesso em: 29/08/2013. BORINELLI, M. L.; PIMENTEL, R.C. Curso de contabilidade para gestores, analistas e outros profissionais. São Paulo: Atlas, 2010. BRASIL. Lei Nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as sociedades por ações. Lex: coletânea de legislação, Brasília, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/l6404consol.htm>. Acesso em: 29/08/2013. FAVERO, H. L. et al. Contabilidade: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2011. IUDÍCIBUS, de S. et al. Dicionário de termos de contabilidade. São Paulo: Atlas, 1999. PADOVEZE, C. L. Manual de contabilidade básica: contabilidade introdutória e intermediária. São Paulo: Atlas, 2009. Objetivos Específicos Temas • Entender a importância das informações contábeis na gestão empresarial e na tomada de decisão nas empresas. Alexandra Medeiros Escobar Contabilidade Aula 02 Professora O Processo Contábil e a Gestão Empresarial Introdução 1 O processo contábil e a gestão empresarial 2 Usuários da contabilidade 3 As informações geradas pela contabilidade 4 A contabilidade como instrumento de gestão empresarial Considerações finais Referências Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 3 Introdução O processo contábil é responsável pelo registro e controle de todos os dados monetários da empresa, o que exige a centralização de todas as informações importantes para as tomadas de decisão. Nesta aula, vamos aprender como é feito este processo, quais os potenciais usuários desta informação e os benefícios que tais informações trazem para o empresário, possibilitando uma gestão baseada em informações que o auxiliam em tomadas de decisão com maior possibilidade de acertos. 1 O processo contábil e a gestão empresarial Para falarmos do processo contábil e da gestão empresarial precisamos primeiro definir o que é gestão. Gestão é a administração de todas as operações de uma empresa, considerando tanto a parte operacional quanto a administrativa. Como vimos na aula anterior, a contabilidade é um sistema de informação responsável pelo registro de todos os atos administrativos da empresa. Desta forma, a gestão empresarial para tomar decisões baseadas em dados relevantes da empresa deverá obrigatoriamente apoiar-se no processo contábil. Além dos contadores e gestores da empresa, existem várias pessoas ou grupos de pessoas que são potenciais usuários da contabilidade. Nesta aula também vamos aprender quem são esses usuários e qual o interesse de alguns deles na informação contábil. 2 Usuários da contabilidade Os usuários podem ser pessoas que estão dentro da empresa, participando do seu dia a dia, ou pessoas externas. Os usuários internos incluem todos os funcionários envolvidos na gestão, seja apenas a gestão de um departamento ou o gestor geral da empresa. Estes usuários geralmente se utilizam de informações mais aprofundadas e específicas acerca da entidade, principalmente aquelas relativas ao seu ciclo operacional. Claro que cada gestor terá maior foco nas informações que estão diretamente ligadas às suas responsabilidades, porém, não podem se esquecer que, para a empresa, devem buscar sempre o melhor resultado conjunto. Conforme a Resolução CFC nº 1.374/2011, os usuários externos, de forma geral, concentram suas atenções em aspectos mais genéricos, pois têm acesso apenas às informações expressas nas demonstrações contábeis. Além disso, como possuem interesses diversificados, cada um deles irá analisar as demonstrações contábeis de forma que consiga extrair delas o que lhe é importante. Por exemplo, para um fornecedor é importante conhecer a liquidez da empresa e desta forma verificar se ela possui condições de arcar com os pagamentos de suas obrigações a curto e longo prazo. Por este motivo, as demonstrações devem ser as mais Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 4 amplas possíveis e sempre expressar de forma clara e verdadeira suas informações, contendo dados suficientes para a avaliação da sua situação patrimonial e das movimentações ocorridas em seu patrimônio, permitindo a realização de deduções sobre o seu futuro. 3 As informações geradas pela contabilidade O correto desenvolvimento da contabilidade permite aos profissionais contabilistas e demais usuários identificar apenas informações com a estrutura convencional – demonstrações obrigatórias – e, ainda por meio delas, gerar outras informações não tão explícitas nas demonstrações, que serão utilizadas por diversas pessoas, usuárias destas, ao tomarem decisões que buscam realizar interesses e objetivos específicos. Um exemplo de novas informações que podem ser geradas a partir das demonstrações financeiras são encontradas por meio da análise das demonstrações contábeis, que pode ser uma simples análise horizontal e vertical, pela qual é possível comparar os valores absolutos no decorrer dos anos analisados e avaliar a estrutura do ativo e passivo, além de verificar cada item na demonstração do resultado do exercício. Uma outra análise que ainda pode ser feita é utilizar os índices de liquidez, de endividamento e estrutura, de rentabilidade e os indicadores de atividades, que serão aprofundados em matéria específica. A exatidão das informações exigidas pelos usuários e o desenvolvimento de aplicações práticas da Contabilidade, conforme mencionam as resoluções do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) nº 750 e nº 774, estão diretamente relacionados à observância dos Princípios Contábeis. A Contabilidade produz informações quantitativas, e estas, quando aplicadas a uma empresa, têm por objetivo possibilitar ao usuário avaliar a situação atual e suas tendências, da forma mais fácil possível. Devem, porém, permitir ao usuário participar do mundo econômico da entidade, possibilitando-o a observar e a avaliaro comportamento, a comparar os resultados de diversos períodos da empresa, a avaliar os resultados em comparação aos objetivos traçados e a projetar o futuro em todos os âmbitos necessários para o bom desenvolvimento da empresa. Em países com mercado de capitais ativo, é extremamente importante que as informações existentes estejam corretas, apresentadas em momentos oportunos, em volume suficiente e de forma compreensível em relação ao patrimônio da entidade e suas modificações, de modo a possibilitar a avaliação adequada dos riscos e das oportunidades para os investidores, sempre preocupados com a segurança dos seus investimentos e em busca de retornos satisfatórios, ou seja, superiores às demais aplicações. As informações devem ser geradas com base no sistema de Normas Brasileiras de Contabilidade e nos princípios fundamentais de contabilidade, pois somente assim serão consideradas informações de qualidade. Desta forma, a contabilidade se torna um verdadeiro selecionador no mercado de capitais. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 5 O tema é muito importante e, consequentemente, deve-se sempre verificar a atenção dada ao alcance dos objetivos gerais da contabilidade aplicada em uma atividade particular. A falta de compreensão das informações pelos próprios usuários pode levá-los a perceber a necessidade do trabalho de um profissional de contabilidade. Portanto, a contabilidade integra hoje um setor muito importante do conhecimento, ela é necessária para dispor recursos que permitem registrar dados (fatos), levantar posições e apresentar demonstrações do resultado da gestão das empresas e as informações necessárias para as tomadas de decisão. Desta forma, planos e suposições ficam fora da contabilidade. Seu objetivo principal não é presumir e sim regis¬trar fatos já ocorridos, em face da gestão da entidade processada. Lembrando que gestão é a função de administrar, de gerir negócios, de movimentar empresas ou qualquer sociedade ou serviço. Abrange, na integridade, as operações que compõem o funcionamento da organização e é movida pela finalidade da organização empresária ou não. Busca a melhor forma de obter lucro ou superávit financeiro, resultado econômico ou social, e de realizar os objetivos da organização. As organizações empresarias produzem bens e serviços na expectativa de lucro. Para tanto, absorvem insumos e exigem a realização de despesas, passando pelos custos para obter as receitas necessárias e satisfazer as expectativas dos investidores. O resultado econômico das organizações é a soma algébrica dos ingressos ou receitas, deduzidos os custos e despesas. Se a soma dos custos e das despesas é menor que a dos recursos obtidos, ou seja, as receitas, o resultado é positivo, reconhecido como lucro; ao contrário, se esta diferença for maior, o resultado é negativo, logo reconhecido como prejuízo. Para obter os resultados, as organizações consomem recursos para produzir os bens e serviços necessários à sua operação, e a boa administração destes levará a organização a resultados positivos. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 6 Figura 1 - Processo de Gestão Empresarial Fonte: Dias (2010). É necessário que os empresários reconheçam a importância tanto das informações geradas pela contabilidade quanto a do profissional contábil para a continuidade e sucesso de suas empresas. É fundamental ter consciência que o fato de fechar um grande número de contratos ou alcançar ótimos resultados isoladamente não é suficiente, caso não se tenha zelado pela eficiência na gestão como um todo, considerando as informações: contábil, societária e tributária do negócio. Devido à alta carga tributária de nosso país, pode ocorrer da empresa realizar grandes negócios e receber uma remuneração vantajosa. Porém, se o valor que a empresa paga em Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 7 tributos for muito alto e existir a opção de uma menor carga tributária para o tipo de negócio realizado, com certeza o empresário ficará insatisfeito com o alto custo tributário, mesmo que tenha auferido um lucro em valor satisfatório. É neste momento que o contador deve se destacar como um bom profissional, identificando soluções legais e possibilitando uma redução nos custos tributários da empresa. Empresários e organizações empresariais precisam utilizar em seu dia a dia diversos recursos como pessoas, materiais e equipamentos. Em alguns casos, são recursos que podem ser investidos, comprados ou financiados e, para que possam administrá-los adequadamente, é necessário que tenham as informações sobre seu desempenho. Tais informações estão registradas na contabilidade e podem ser utilizadas para responder questionamentos como: • Qual o desempenho da organização no período? • Qual a rentabilidade e a lucratividade? • Onde e como estão alocados os recursos investidos na organização? Como estudamos na aula anterior, a contabilidade é reconhecidamente um sistema de informação utilizado para medir as atividades do negócio, processar as informações em relatórios e estas devem ser utilizadas pelos gestores para o processo de tomada de decisão. 4 A contabilidade como instrumento de gestão empresarial As atividades principais da contabilidade são o registro, a organização, a demonstração destes registros por meio dos relatórios contábeis, a análise dos relatórios e o acompanhamento das modificações do patrimônio em virtude de atividades econômicas ou sociais que a empresa exerce no contexto econômico: • O registro de todos os fatos ocorridos que tenham possibilidade de serem representados em valor monetário; • A organização de um sistema para que a empresa tenha o controle adequado; • A demonstração elaborada com base nos registros realizados, expondo, periodicamente, por meio de demonstrativos, a situação econômica, patrimonial, social e financeira da empresa; • A análise dos demonstrativos com a finalidade de verificar os resultados alcançados; • O acompanhamento da execução dos planos estratégicos da empresa, com a previsão dos pagamentos futuros, dos valores a serem recebidos de terceiros, e possibilitando verificar eventuais problemas. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 8 A contabilidade é indispensável para que os empresários e gestores tenham conhecimento da lucratividade por segmento de operação e até por produto fabricado ou revendido, da rentabilidade do capital investido na organização e a produtividade da mão de obra e dos equipamentos que utiliza; possibilita também conhecer o montante de recursos obtidos e aplicados. Quando a informação contábil, expressa nas demonstrações financeiras, é utilizada para análise, podemos verificar por meio do cálculo dos índices: a liquidez, a rentabilidade, a estrutura patrimonial, entre outros. Aliada aos recursos tecnológicos, a informação é elementar para a estratégia das organizações hoje e no futuro. Entretanto, para uma boa informação é necessário existir um conjunto de características para que esse fundamental instrumento de trabalho realmente atenda às necessidades dos gestores, com agilidade e confiabilidade. Entender como o sistema de informação contábil e sua funcionalidade são fundamentais para uma organização e colocar em prática suas estratégias empresariais é de suma importância não apenas para o crescimento da empresa no mercado, mas também para que a empresa se mantenha nele. As organizações sem fins lucrativos surgem a cada dia e ganham importância no mercado e na economia, elas estão no mercado em geral para suprir as lacunas da ação governamental e para concretizar objetivos de solidariedade que não encontram espaço de realização em outros lugares. Com o crescimento destas instituições surge a necessidade de profissionalismo na gestão e na operação de suas atividades. Para ser competitiva e se sobressair, uma organização sem fins lucrativos necessita adotaruma postura de busca da informação e do conhecimento para uma gestão eficaz; pois, apesar de ter nascido com objetivo social, para se manter ativa e conseguir alcançar seus objetivos, deve necessariamente ter as mesmas preocupações que uma empresa com o objetivo de lucro. Logo, é de extrema importância que utilize os mesmos tipos de recursos, ou seja, a informação contábil, porém, desenvolvida adequadamente e integrada às necessidades das organizações, para permitir uma maior flexibilidade, auxiliar na eficiência e na agilidade, além de proporcionar segurança aos gestores que passam a avaliar melhor as diversas decisões a serem tomadas e o impacto delas decorrentes. Desta forma, mais uma vez, podemos comprovar que a contabilidade é um instrumento essencial e que auxilia a administração a tomar melhores decisões, independentemente do ramo de atuação ou do porte da empresa. Como já mencionamos, não podemos esquecer que a contabilidade geral ou financeira, como é conhecida em algumas empresas, é responsável por recolher dados financeiros e econômicos, registrá-los em valores monetários e resumi-los em forma de relatórios ou de comunicados, que são fundamentais às tomadas de decisão. O poder e a utilização destes relatórios não se restringem apenas aos limites da empresa, dos administradores, dos gerentes Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 9 e dos sócios, como também pode estar disponível a outros segmentos: potenciais investidores, fornecedores de bens e serviços de crédito, bancos, governo, sindicatos e outros interessados. Uma empresa sempre tem a necessidade de aplicar os seus recursos com a máxima eficiência e para isso apenas a experiência do administrador não é fator decisivo. Além desta experiência, é importante reunir diversas informações reais, que possam nortear as decisões de forma a serem as mais acertadas possíveis, aliando a experiência do profissional às informações que estão contidas nos relatórios elaborados pela contabilidade, sempre de forma clara, precisa e verdadeira. Em seu aspecto gerencial, a contabilidade torna-se um instrumento para análise e tomadas de decisão, para a administração do caixa e a gestão do capital de giro, procurando: • Entender o significado da gestão de caixa na empresa e sua importância; • Elaborar o relatório de fluxo de caixa; • Entender o significado da gestão do capital de giro e sua importância; • Influenciar as variáveis do capital de giro de modo a adequá-lo às necessidades da empresa; e • Utilizar os instrumentos de gestão do capital de giro. Outro ponto extremamente relevante que os gestores necessitam observar é a gestão dos custos empresariais. Este gerenciamento propicia que as organizações: • Compreendam o papel dos custos dos produtos na decisão de formação de preços; • Conheçam as vantagens e desvantagens dos métodos comuns de custeio, tenham melhor condição de estabelecer o ponto de equilíbrio da empresa e como melhor administrá-lo para obter vantagem competitiva. Ainda por meio das informações geradas pela contabilidade gerencial, é possível elaborar um plano de investimento de capital utilizando as técnicas de avaliação de investimentos em seus aspectos financeiros. A contabilidade gerencial também é responsável por diversas informações relacionadas ao controle, planejamento, avaliação de desempenho da empresa, mensuração do desempenho alcançado entre outras atividades de grande importância para a empresa. Tudo o que foi mencionado está novamente confirmando a importância do processo contábil, pois o aspecto de controle e a centralização de dados existente na contabilidade formam o sistema de informação e avaliação, que tem como objetivo fornecer a seus usuários demonstrações que permitam análises de natureza econômica, financeira, física e de produtividade, com relação à entidade objeto de contabilização. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 10 Figura 2 - Aspectos qualitativos do contador Fonte: Dias (2010). Nos últimos anos, as práticas contábeis vêm sofrendo diversas atualizações. Os impactos causados pela adaptação às Normas Internacionais de Contabilidade, a implantação do sistema SPED (Sistema Público de Escrituração Digital), entre outras regulamentações, tornaram a informatização dos serviços contábeis inevitável. Além disso, o profissional deve estar apto a compreender e a aplicar toda esta legislação. A lei sofre modificações frequentemente e ficar à parte das mudanças certamente é desfavorável para qualquer negócio, podendo, em muitos casos, causar prejuízos por não cumprir com as novas exigências do governo ou por deixar de aproveitar algum benefício direcionado àquele tipo de organização. Para os casos de terceirização de serviços contábeis, sempre deve ser formalizado o contrato de prestação de serviços com o contador ou com a empresa de contabilidade responsável pela prestação de serviços – tal documento é exigido pelos conselhos regionais de contabilidade. É fundamental que no contrato estejam descritos os direitos e deveres tanto do contratante quanto do contratado e que pelo menos uma cláusula preveja a rescisão do acordo por qualquer uma das partes envolvidas. Outro fato de extrema importância é o registro do profissional contábil junto ao Conselho Regional de Contabilidade no local onde presta serviços. Este registro deve estar em ordem para que o profissional tenha o direito de exercer a profissão. Por ser um registro obrigatório, caso a empresa contrate profissionais sem registro, poderá ser multada pelo conselho regional. No estado de São Paulo o conselho disponibiliza, por meio de seu site, a consulta pública do registro de profissionais e empresas. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 11 Não podemos deixar de mencionar a necessidade de plena confiança entre cliente e contador, caso contrário, as demais recomendações mencionadas podem perder efeito. O profissional de contabilidade tem acesso às informações mais preciosas da empresa, não existe segredos para ele. As informações confidenciais e estratégicas do empreendimento acabam sendo fornecidas, logo, não existe a menor possibilidade da empresa entregar essa responsabilidade nas mãos de qualquer pessoa. Considerações finais A contabilidade é notavelmente um sistema de informação formado não apenas pela contabilidade geral e sim por sua junção com a contabilidade de custos e gerencial. A reunião de todas estas informações, como vimos, é de vital importância para a gestão empresarial, independentemente do ramo ou do porte da empresa. O profissional contábil deve se manter atualizado e se dispor a ser um orientador para os empresários, possibilitando, assim, o crescimento das empresas e, consequentemente, o crescimento econômico do país. Referências BORINELLI, M. L.; PIMENTEL, R. C. Curso de contabilidade para gestores, analistas e outros profissionais. São Paulo: Atlas, 2010 DIAS, A. M. Material utilizado na oficina Processo Contábil e a Gestão Empresarial, realizada no Centro Universitário Senac. São Paulo, 2010. PADOVEZE, C. L. Manual de contabilidade básica: contabilidade introdutória e intermediária. São Paulo: Atlas, 2009. Objetivos Específicos Temas • Conhecer a estrutura conceitual para elaboração e divulgação de relatório contábil, determinada pelo Conselho Federal de Contabilidade mediante a Resolução nº 1.374/2011. Alexandra Medeiros Escobar Contabilidade Aula 03 Professora Apresentação NBC TG Estrutura Conceitual, Resolução CFC nº 1.374/2011 – Parte I Introdução 1 Objetivo do relatório contábil-financeiro de propósito geral 2 Características qualitativas da informação contábil-financeira útil Considerações finais Referências Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 3 Introdução Nesta aula, temos como objetivo conhecer a estrutura conceitual para elaboração e divulgação de relatório contábil, determinada pelo Conselho Federal deContabilidade, mediante a Resolução CFC nº 1.374/2011. A Resolução refere-se a uma nova redação da NBC TG ESTRUTURA CONCEITUAL – Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro –, revogando, assim, a anterior Resolução CFC nº 1.121/2008. A nova resolução é necessária devido ao processo de reformulação, ainda em andamento, do seu documento de base, o The Conceptual Framework for Financial Reporting, documento elaborado e revisado pelo International Accounting Standards Board (IASB), órgão internacional responsável pela emissão das normas internacionais de contabilidade utilizada em diversos países. Esta versão da Norma Brasileira de Contabilidade tem inclusos dois capítulos aprovados pelo IASB na primeira fase do projeto da Estrutura, abordados nos capítulos 1 e 3 desta resolução, sendo referentes ao objetivo da elaboração e à divulgação de relatório contábil-financeiro de propósito geral, capítulo 1, e as características qualitativas da informação contábil-financeira útil, capítulo 3. Os capítulos 2 e 4 tratam, respectivamente, do conceito de divulgação das informações e o texto remanescente da Resolução CFC nº 1.121/2008, porém, o capítulo 2 “A Entidade que Reporta a Informação” será acrescentado a esta resolução futuramente. Abordaremos nesta aula os capítulos 1 e 3 da Resolução CFC nº 1.374/2011. 1 Objetivo do relatório contábil-financeiro de propósito geral 1.1 Objetivo dos relatórios contábeis Como já vimos anteriormente, as demonstrações contábeis são desenvolvidas principalmente para os usuários externos, de modo que possam tomar decisões de forma mais acertada; portanto, devem ser claras, objetivas e expressas com veracidade. A Estrutura Conceitual foi elaborada para fornecer conceitos que fundamentam a correta forma de elaboração e apresentação destas demonstrações e tem como finalidade: • dar suporte ao desenvolvimento de novas normas, interpretações e comunicados técnicos e à revisão dos já existentes, quando necessário; • dar suporte à promoção da harmonização das regulações, das normas contábeis e dos procedimentos relacionados à apresentação das demonstrações contábeis, provendo uma base para a redução do número de tratamentos contábeis alternativos permitidos pelas normas, interpretações e comunicados técnicos; • dar suporte aos órgãos reguladores nacionais; Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 4 • auxiliar os responsáveis pela elaboração das demonstrações contábeis na aplicação das normas, interpretações e comunicados técnicos e no tratamento de assuntos que ainda não tenham sido objeto desses documentos; • auxiliar os auditores independentes a formar sua opinião sobre a conformidade das demonstrações contábeis com as normas, interpretações e comunicados técnicos; • auxiliar os usuários das demonstrações contábeis na interpretação de informações nelas contidas, elaboradas em conformidade com as normas, interpretações e comunicados técnicos; e • proporcionar aos interessados informações sobre o enfoque adotado na formulação das normas, das interpretações e dos comunicados técnicos. Dentre as finalidades desta resolução, nosso objetivo de aula está centrado principalmente no que diz respeito ao apoio aos profissionais de contabilidade, sejam estes responsáveis pela elaboração ou pela auditoria das demonstrações, e ao auxílio aos usuários das demonstrações. Enfim, nosso foco estará voltado aos conceitos práticos de elaboração e de interpretação das informações contábeis e não ao suporte que esta resolução possui para a elaboração de novas normas. Ainda conforme a Resolução 1.374/2011: “O objetivo da elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro de propósito geral constitui o pilar da Estrutura Conceitual”. Bom, como vocês já sabem, o objetivo dos relatórios contábeis ou relatórios financeiros é fornecer informações da empresa que sejam úteis não apenas aos investidores já existentes como também a possíveis futuros investidores, ou seja, pessoas ou empressas que tenham condições de investir capital na entidade. Também não podemos esquecer dos credores que precisam dessas informações para decidirem se irão fornecer recursos ou não para a entidade. Todas essas informações, conforme a Resolução CFC nº 1.374/2011, estão relacionadas ao processo de “comprar, vender ou manter participações em instrumentos patrimoniais e em instrumentos de dívida, e a oferecer ou disponibilizar empréstimos ou outras formas de crédito”. Todas as decisões citadas referentes aos investidores estão ligadas ao retorno que o investidor espera com o investimento realizado ou a realizar; retorno este que pode ser relacionado aos dividendos (parte do lucro que é distribuída aos sócios) e ao acréscimo de valor às ações da empresa no mercado. Já as decisões de credores estão ligadas à capacidade de pagamento por empréstimo, principal e juros. As expectativas de investidores, credores por empréstimos e outros credores em termos de retorno dependem da avaliação destes quanto ao montante, tempestividade e incertezas (as perspectivas) associados aos fluxos de caixa futuros de entrada para a entidade. (Resolução CFC nº 1.374/2011) Logo, é essencial que as informações expostas nas demonstrações auxiliem a avaliação dos fluxos de caixa futuros da empresa. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 5 Para avaliar as perspectivas da empresa com relação aos fluxos de caixa futuros são necessárias informações referentes aos recursos da empresa e à eficiência de seus administradores quanto ao cuprimento de suas responsabilidades no que tange à correta aplicação dos recursos da entidade, ou seja, a forma de administrar inclui medidas de proteção aos recursos da empresa contra possíveis impactos econômicos que possam ser gerados por uma alteração na tecnologia utilizada pela empresa, por exemplo; ou ainda, a administração é feita de forma responsável, respeitando toda a legislação pertinente, e existe um acompanhamento em relação às possíveis mudanças na legislação relacionada à atividade da empresa. As informações devem ser suficientemente claras não apenas para verificar a situação atual da entidade, mas também para avaliar as perspectivas futuras da forma mais segura possível. Estes relatórios de propósito geral têm como principais usuários aqueles conhecidos como usuários primários, pois dependem exclusivamente dessas informações, uma vez que não possuem autoridade para solicitar qualquer outro tipo de informação da empresa que estão analisando. Esses usuários, além das informações contidas nos relatórios gerais, sempre precisarão considerar outras informações importantes que não são fornecidas pela empresa proprietária dos relatórios e sim pelo “mercado em geral”. Quando falamos de mercado, neste caso, nos referimos à situação política e econômica tanto do país em que tal investidor ou credor mantém relações com a entidade, quanto dos países onde estão instaladas a sua matriz e suas possíveis filiais – nesta era de mercado globalizado, sabemos que mesmo não possuindo filiais em outros países, os problemas políticos e econômicos, principalmente os que possam atingir o tipo específico de produto produzido pela empresa, terão reflexo em seus negócios influenciando-os de forma positiva ou negativa, e isto também precisa ser analisado de forma muito cautelosa. Figura 1 – Acesso virtual globalizado Além dos usuários primários, outros grupos também podem se interessar pelos relatórios gerais, entre eles os próprios administradores que fornecem os relatórios aos usuários internos, porém, estes não precisam se apoiar nos relatórios de uso geral, pois possuem acesso às informações contábil-financeiras geradas e disponibilizadas internamente. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 6 Outro grupo que também pode utilizar estas informações são os órgãos reguladores e os públicos, apesar dos relatórios não se destinarema estes usuários. De modo geral, os relatórios contábil-financeiros têm como base estimativas, julgamentos e modelos, e a Estrutura Conceitual traz as concepções nas quais estes devem ser baseados. Contudo, embora os conceitos divulgados por meio da resolução representem o objetivo que o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e os responsáveis pela elaboração das informações precisam focar, a resolução afirma: Assim como a maioria dos objetivos, a visão contida na Estrutura Conceitual do que seja a elaboração e a divulgação do relatório contábil-financeiro ideal é improvável de ser atingida em sua totalidade, pelo menos a curto prazo, visto que se requer tempo para a compreensão, a aceitação e a implementação de novas formas de analisar transações e outros eventos. Não obstante, o estabelecimento de objetivo a ser alcançado com empenho é essencial para que o processo de elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro venha a evoluir e tenha sua utilidade aprimorada. 1.2 Informação sobre recursos econômicos nos relatórios contábeis Os relatórios com propósito geral possuem informações sobre o patrimônio da entidade e a sua situação financeira, ou seja, seus recursos econômicos. Estes mesmos relatórios também demonstram os efeitos de transações ou de eventos que modificam os recursos econômicos da empresa. As informações referentes aos recursos econômicos da entidade podem ajudar os usuários a localizarem os pontos fracos e fortes daquela em relação ao seu desempenho financeiro. Pode-se citar, como exemplo de informação importante encontrada nos relatórios, a liquidez da empresa e a sua solvência, com isto pode-se prognosticar dentre as reivindicações existentes contra a entidade a quais ela dará preferência ao utilizar os seus fluxos de caixa futuros. Outro fato importante é que existem recursos econômicos diferentes que afetam a avaliação dos usuários da informação em relação aos fluxos de caixa futuros, pois alguns serão resultados dos valores a receber de clientes, ou seja, de mercadorias, produtos ou serviços já vendidos, e, portanto, com uma menor margem de erro com relação ao valor real de entrada de caixa; outros estão relacionados com a produção e a venda, ou seja, ainda irão passar por todo o processo produtivo, que pode envolver perda de matéria-prima ou do tempo estimado na produção, além da possibilidade de, após o produto pronto, permanecer durante um período maior que o estimado parado no estoque da empresa. 1.3 Mudanças nos recursos econômicos As mudanças de recursos econômicos nas empresas são resultado do desempenho financeiro e de alguns eventos como a emissão de títulos de dívida ou patrimoniais, por exemplo. A avaliação Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 7 adequada referente aos fluxos de caixa futuros só será possível se o usuário estiver apto a identificar e a diferenciar a natureza dessas mudanças. Estas informações referentes ao desempenho financeiro da empresa ajudam os usuários a entenderem o retorno produzido por ela, e servem como indicativo do desempenho da administração, demonstrando se a empresa está conseguindo utilizar os recursos de forma eficiente e eficaz. A variação dos componentes que proporcionaram o retorno também são de muita importância, principalmente no que diz respeito às dúvidas associadas aos fluxos de caixa futuros. Essas mesmas informações também são úteis para a previsão de retornos futuros em relação aos recursos econômicos da empresa. 1.4 Desempenho financeiro refletido pelo regime de competência O registro dos fatos apoiado no regime de competência demonstra claramente os efeitos econômicos ocorridos no período. Independentemente dos pagamentos e recebimentos de caixa que podem ocorrer em outro período, esta forma permite que a comparação entre passado e futuro da entidade seja mais precisa em relação a seu desempenho econômico. As informações financeiras são demonstradas por meio dos reflexos ocorridos nos recursos econômicos e não pela obtenção de outros recursos adicionais. Estas informações, tanto quanto as demais, são úteis para a avaliação das capacidades passada e futura da empresa na geração de fluxos de caixa líquidos e servem de indicativos da expansão da empresa, demonstrando a capacidade de gerar caixas líquidos por meio das operações e não pela obtenção de recursos externos. Conforme a Resolução, estas informações sobre o desempenho financeiro da entidade também podem ser indicativas da extensão quando eventos, tais como mudanças nos preços de mercado ou nas taxas de juros, tenham provocado aumento ou diminuição nos recursos econômicos e nas reivindicações da entidade, afetando, consequentemente, a capacidade da entidade de gerar entrada de fluxos de caixa líquidos. Quando as mudanças dos recursos da entidade forem causadas por diferentes fatores, ou seja, não resultantes do desempenho financeiro – como a emissão adicional de ações –, esta informação deve ser fornecida aos usuários, pois são importantes e também influenciam nas tomadas de decisão. 2 Características qualitativas da informação contábil- financeira útil Sempre falamos que as informações contábeis precisam ser úteis, logo, para ser útil precisa ter relevância, ou seja, ser importante para a tomada de decisão dos usuários, além disso, logicamente, deve ser sem viés e verdadeira. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 8 Neste tópico, abordaremos as características qualitativas fundamentais e de melhorias, conforme a Resolução nº 1.374/2011. São características qualitativas fundamentais a relevância e a representação fidedigna, e são características qualitativas de melhoria a comparabilidade, a verificabilidade, a tempestividade e a compreensibilidade. A informação contábil relevante, como já mencionado, é aquela capaz de fazer a diferença nas tomadas de decisão de seus usuários. Para ser capaz de fazer a diferença, ela deve ter valor preditivo (previsto), confirmatório (verificável) ou ambos. Para possuir este valor preditivo, a informação deve ser útil para o usuário realizar suas predições em relação a resultados futuros e não precisa, por si só, ser uma predição ou projeção do futuro para ser considerada preditiva. Já com relação ao valor confirmatório “A informação contábil-financeira tem valor confirmatório se retroalimentar – servir de feedback – avaliações prévias (confirmá-las ou alterá-las)”. (CFC, nº 1.374/2011). Outro ponto fundamental a ser observado nas informações contábeis é a materialidade. Podemos considerar uma informação material quando sua omissão ou sua divulgação de forma equivocada/distorcida impactar nas decisões dos usuários, ou seja, ela (materialidade) é um aspecto de relevância. Com relação à informação ser fidedigna, ou seja, verdadeira, a Resolução resume da seguinte forma: “Ela tem de ser completa, neutra e livre de erro”, toda esta perfeição é rara, porém, deve ser sempre o objetivo de quem as produz. Para ser completa, deve conter todas as informações necessárias para a compreensão do usuário em relação ao fato retratado, isto inclui todas as descrições e explicações necessárias. Podemos ter, como exemplo, o grupo dos passivos que para ter um retrato completo deve incluir, no mínimo, a descrição da natureza dos passivos do grupo, os números de todos os passivos e a descrição referente ao retrato numérico representado, ou seja, se o custo histórico original, ajustado ou valor justo, que, segundo a Resolução CFC nº 1.428/2013 é “o preço que seria recebido pela venda de um ativo ou que seria pago pela transferência de um passivo em uma transação não forçada entre participantes do mercado na data de mensuração”. Para dizermos que a informação é neutra, ela deve estar totalmente sem viés, seja na seleção ou na apresentação da informação, que tem de estar livre de distorções, seja para dar maior ou menor valor à informação. Somente para reforçar, ser neutra não significa de formaalguma não ser relevante, muito pelo contrário. Justamente pelo fato da informação ser relevante para as tomadas de decisão é que deve ser neutra, ou seja, expressar apenas a verdade sem a influência da opinião do profissional que a elaborou. Um retrato da realidade econômica da empresa livre de erros é aquele cuja informação é relatada sem erros ou omissões. É importante lembrar que a informação livre de erros não significa necessariamente ser perfeita em todos os aspectos. Um exemplo de informação livre de erros que pode ser considerada fidedigna, porém, sem exatidão, é a estimativa de preço Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 9 quando o montante está descrito de forma clara e precisa, e for informado que se trata de uma estimativa, ou seja, está contido na própria informação que o valor é previsto e não exato. Para aplicar as características qualitativas fundamentais, precisamos informar nos relatórios contábeis apenas as informações que acumulem as duas características ao mesmo tempo, ou seja, relevância e fidedignidade, pois, caso contrário, a informação não será útil para o usuário. Logo, precisamos identificar o fenômeno econômico potencialmente útil para o usuário e, depois, identificar quais informações referentes a este fenômeno seriam relevantes e possuem condições de serem representadas de forma fidedigna. A última etapa consiste em determinar se a informação realmente está disponível e representada fidedignamente; assim, o processo de demonstrar a informação com as características qualitativas fundamentais estará completo. As informações qualitativas de melhoria, como o próprio nome já sugestiona, melhoram a informação contábil que continua sendo necessariamente relevante e fidedigna. Elas também auxiliam a determinar qual a melhor alternativa para relatar um fenômeno, dentre as consideradas equivalentes, com relação à relevância e à fidedignidade. Todas as características qualitativas da informação contábil têm como foco a utilização dos usuários, que são investidores ou pretendem ser, em suas tomadas de decisão. É muito importante para este usuário a possibilidade de comparar as informações da entidade com outras que ele também tenha a possibilidade de investir. Essa possibilidade de verificar as informações similares e as diferentes é característica da comparabilidade. Um detalhe importante é que a comparabilidade sempre vai requerer a comparação de pelo menos dois itens. A consistência está ligada à comparabilidade, porém, com significado diferente, pois refere-se à avaliação de um item, por meio de um mesmo método, em diferentes períodos, dentro da mesma entidade, ou seja, ela auxilia o alcance da comparabilidade que é o objetivo qualitativo da informação. A comparabilidade não significa que todas as informações sejam uniformes e sim que as informações iguais sejam comparáveis e as informações diferentes tenham suas diversidades visíveis. Não podemos deixar de mencionar que o cumprimento das características qualitativas fundamentais, relevância e fidedignidade, naturalmente apresentará um certo grau de comparabilidade. A terceira característica qualitativa de melhoria mencionada foi a verificabilidade. Ela também está ligada à fidedignidade, afinal, com a verificabilidade, observadores diferentes e independentes têm a possibilidade de chegar a um consenso, mesmo não estando necessariamente de acordo. Podemos fazer uma verificação de forma direta ou indireta, como por exemplo, o saldo do caixa que pode ser verificado contando os valores de forma direta ou o valor do estoque que pode ser conferido por meio das notas de entrada e saída de mercadorias, permitindo refazer Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 10 o cálculo do valor dos estoques de forma indireta. Com relação às informações referentes a períodos futuros, sua verificação só é possível, em alguns casos, quando o futuro for alcançado. E para que o usuário decida entre utilizar ou não esta informação, é preciso que a empresa divulgue “as premissas subjacentes, os métodos de obtenção da informação e outros fatores e circunstâncias que suportam a informação”, conforme menciona a Estrutura Conceitual. Para ser compreensível, uma informação deve ser relatada com clareza e esta é a nossa quarta e última característica qualitativa de melhoria. Deve ser utilizada principalmente em relação aos fenômenos mais complexos, que não são facilmente compreendidos. Sua complexidade não justifica de forma alguma sua exclusão dos relatórios contábil-financeiros, porque, como já vimos, toda informação relevante deve ser levada ao conhecimento de seus usuários, independentemente do grau de dificuldade que o profissional irá encontrar para expressá-la em seus relatórios. Por fim, não podemos deixar de fazer menção a uma importante observação da Resolução nº 1.374/2011: “Relatórios contábil-financeiros são elaborados para usuários que têm conhecimento razoável de negócios e de atividades econômicas e que revisem e analisem a informação diligentemente”. Ou seja, os relatórios devem apresentar todas estas características qualitativas para as pessoas com domínio do assunto abordado, porque, por melhor que seja o profissional contábil e por mais claras que sejam as informações por ele relatadas, é praticamente impossível para um leigo conseguir interpretá-las corretamente. As características qualitativas de melhorias devem ser utilizadas sempre que possível, porém não possuem condições de tornar uma informação útil se tal informação não possuir as características qualitativas fundamentais. Sua aplicação não segue uma ordem pré- estabelecida e pode ocorrer a necessidade de não aplicá-las temporariamente devido à existência de uma nova norma contábil que apresente maior vantagem no aprimoramento das características qualitativas fundamentais. 2.1 Restrição de custo na elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro útil Atualmente, os gastos empresariais e seu controle estão sempre entre as prioridades das empresas. A elaboração e a divulgação dos relatórios contábil-financeiros impõem gastos, ditos na Resolução nº 1.374/2011 como custos, e estes devem ser justificados pelo benefício gerado na elaboração e na divulgação de relatório contábil-financeiro útil, tendo em vista que as informações sejam relevantes e fidedignas para auxiliar os usuários a tomarem decisões com maior grau de confiança. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Contabilidade 11 Considerações finais Nesta aula podemos verificar diversos conceitos e orientações em relação à elaboração das demonstrações contábil-financeiras e sua divulgação por parte das empresas. Conhecemos as características qualitativas fundamentais e de melhorias que as demonstrações devem apresentar para que sejam mais facilmente interpretadas e deem credibilidade para a empresa. Para reforçá-las, as relembramos mais uma vez, de forma resumida: Quadro 1 – Características qualitativas das demonstrações Características qualitativas das demonstrações contábil-financeiras Fundamentais Relevância Materialidade Representação Fidedigna Melhorias Comparabilidade Verificabilidade Tempestividade Compreensibilidade Fonte: Elaborado pelo autor Espero que vocês tenham compreendido os tópicos desta resolução tão importante para a compreensão do conteúdo de nosso componente curricular. Referências BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Lex: legislação federal, Brasília, DF, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l6404consol.htm>. Acesso em: 29/08/2013. BRASIL. Resolução CFC nº 1.374, de 08 de dezembro de 2011. Estrutura conceitual para elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro. Brasília, DF: CFC, 2011. Disponível em: <http://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2011/001374>. Acesso em: 16/09/2013. BRASI., Resolução CFC nº 1.428, de 30 de janeiro
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