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1 HISTÓRIA DO DIREITO CURSO: DIREITO PROFESSOR: ALEXANDRE MONTANHA SEMANA 10: Instituições, retórica e o bacharelismo no Brasil (Unidade 4) 10.1 Instituições Instituição é ato ou efeito de instituir; criação; também siginifica um conjunto coerente de normas reguladoras de determinados fatos sociais. Cada um dos costumes ou estruturas sociais estabelecidas por lei ou consuetudinariamente que vigoram num determinado Estado ou povo. Segundo Douglass North, instituições são “determinações criadas pelo homem que estruturam as interações políticas, econômicas e sociais”. Podem consistir em duas espécies de normas: determinações informais, basicamente elementos culturais, como costumes, tradições, códigos sociais de conduta; e regras formais, como constituições, leis e direitos de propriedade. Seriam as instituições, em suma, as “regras do jogo”: o conjunto de normas – culturais ou legais – que efetivamente regulam o conjunto de interações humanas. Tipos de Instituições Instituição familiar Função: reprodução, econômica e educacional Exemplo: família, casamento. Instituição religiosa Função: preencher as lacunas metafísicas da vida social Exemplo: templos, igrejas, Instituição de política Função: regulas os atos da vida em sociedade Exemplo: Constituição, Estado, funções Legislativa Judiciária e Executiva, nação, governo, direitos... Instituição governamental Função: conjunto de competências criadas pelo Estado para representar seus interesses Exemplo: órgãos públicos Instituição empresarial Função: criadas para determinadas finalidades, envolvendo a prestação de serviços ou venda de mercadorias. Exemplo: empresas, firmas, associações e cooperativas. Instituição de segurança Função: órgãos de segurança pública Exemplo: polícia federal, polícias civis e militares. Instituição econômica Função: regulam a vida econômica dos agentes sociais Exemplo: moeda, bancos, casas de crédito, sistema de pesos e medidas. Instituição social Função: dar coesão a determinado grupamento social, propiciando sua preservação. Exemplo: língua, convenções sobre comportamentos. Instituição de cultura e lazer Função: entreter os atores da vida social; ampliar o conhecimento. Exemplo: língua, clubes, parques temáticos, carnaval, futebol. 2 Característica das Instituições - Ser uma abstração - Ter caráter de permanência - Possuir reconhecimento social - Ter capacidade de autotransformar seus regramentos 10.2 Retórica Conjunto de regras que constituem a arte do bem dizer, a arte da eloquência, a arte de bem argumentar; arte da palavra, oratória. Retórica é a arte de usar uma linguagem para comunicar de forma eficaz e persuasiva. A retórica nasceu no século V a.C., na Sicília, e foi introduzida em Atenas pelo sofista Górgias, desenvolvendo-se nos círculos políticos e judiciais da Grécia antiga. A retórica pode ser utilizada como instrumento de formação ou de manipulação da opinião. 10.3 O bacharelismo Durante séculos, o ambiente jurídico do ocidente permaneceu restrito ao Direito nacional e, quando muito, estendeu seu interesse particularmente ao Direito do continente europeu. Da mesma forma como ocorrera em Roma e Portugal, o Brasil passa a organizar-se, enquanto colônia, social, política e economicamente através de uma elite, representada pelos grandes proprietários rurais e mão-de-obra na sua maioria escrava (índios, mestiços e negros), consolidando-se o poder sem identidade nacional, completamente desvinculado dos objetivos de sua população de origem e da sociedade como um todo, com as mesmas características burocráticas da administração da metrópole. Permite-se, com isso, o intervencionismo estatal no âmbito social- jurídico e econômico, gerador de diretrizes burocráticas e patrimonialistas, já detectadas ao longo da história em Roma e na Península Ibérica. Assim, o Brasil sofrerá as influências predominantes na metrópole, expressando-se como para servir a Deus e ao Rei, reprodutora da ideologia da contrarreforma, fechada na fé e nos dogmas, distanciada da modernidade, tanto científica como filosófica, do espírito crítico e do progresso resultante do capitalismo europeu. O bacharelismo no Brasil O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando politicamente as selvas selvagens. O bacharel. Não podemos deixar de ser doutos. Doutores. País de dores anônimas, de doutores anônimos. O Império foi assim. Eruditamos tudo. Esquecemos o gavião de penacho”. (Oswald de Andrade - MANIFESTO DA POESIA PAU - BRASIL) Os juristas passaram a constituir uma elite dominante, responsável pelo aconselhamento da coroa, mediante um ideal conservador, com magistrados portugueses, na sua maioria membros integrantes do estamento, que influenciaram a formação dos juízes aqui nascidos e, posteriormente, lotados nos cargos públicos. As suas atividades deveriam obedecer a uma série de normas que previam o distanciamento do magistrado da vida social local, como se a integração magistrado/comunidade pudesse contribuir para o desvio dos princípios de lealdade e obediência ao rei, inerentes ao próprio cargo. Para o acesso ao cargo, levava-se em consideração a origem social, somada ao apadrinhamento. Para o ingresso na magistratura cumpria ao interessado ter-se graduado na Universidade de Coimbra, ter exercido a profissão por dois anos e ter sido aprovado na seleção para o ingresso no serviço público. Como carreira, exerceria o cargo de juiz de fora, ouvidor da comarca, corregedor e desembargador, diante da experiência acumulada na metrópole ou na colônia. Constituiu-se, dessa maneira, o Direito no Brasil, na qualidade de colônia, como essencialmente particular, desvinculado da população, voltado aos interesses privativos dos “coronéis” e da coroa. Esta não buscava fazer justiça na colônia, mas somente precaver-se de ameaças ao poder estatal e garantir o pagamento de impostos, admitindo que seus magistrados protegessem os seus próprios interesses e os dela, preterindo os direitos do povo e privilegiando um estrato social específico, representado pelo poder elitista do patriciado e pela nobreza, partícipes da administração burocrática do Estado partrimonial. O estado reflete, assim, um quadro sóciopolítico de dominação, exploração e injustiça, permeado por uma cultura elitista. Sempre se deu importância ao detentor do título de bacharel, independentemente de seu real conhecimento acerca do que tenha estudado. O que importava – e até hoje assim o é – era o diploma, o título, a insígnia. A tal “fenômeno”, denominou-se bacharelismo, que seria “a situação caracterizada pela predominância de bacharéis na vida política e cultural do país”. 3 O bacharelismo possui raízes distantes na história brasileira. Remonta ao período colonial, quando, ainda sem possuir cursos de ensino superior no país, os mais abastados enviavam seus filhos à Europa, principalmente Portugal, para lá formarem-se “doutores”. Via de regra, retornavam bacharéis em Direito, título que lhes permitia adentrar o mundo da política, bem como lhes garantia boas posições dentro do serviço público. No entanto, não retornavam da Europa com o vigor das mudanças sociais. Voltavam trazendo as ideias em teoria, mas aqui chegando, procuravam apenas aproveitar-se da qualificação que obtiveram, mantendo o status quo. No período colonial não havia, em terras brasileiras, pensamento jurídico próprio; o Direito utilizado no Brasil, àquela época, era imposto pela metrópole, e não havia, por parte da Coroa, intenção nem motivos para fomentar o pensamento jurídico na colônia. O modelo jurídico hegemônico durante os primeiros dois séculos de colonização foi, por conseqüência, marcado pelos princípios e pelas diretrizes do Direito alienígena – segregador e discricionário com relação à própria população nativa –, revelando, mais do que nunca as intenções e o comprometimento da estrutura elitista de poder. Em 1827foram criados os primeiros cursos jurídicos do país, após a Proclamação da Independência. Não obstante outros fatores, o motivo determinante era a formação de recursos humanos capazes de ocupar a administração pública e a política do Império e exercer as funções burocráticas do Estado. Assim, os bacharéis seriam aptos a se tornar deputados, senadores e ocupar posições diplomáticas. Tal tradição era herança da metrópole, tendo em vista que os cursos jurídicos lá – e posteriormente aqui – tinham o objetivo de dar ao estudante uma formação de conhecimentos universais e filosóficos. O conteúdo jurídico ficava em segundo plano. Foram criados dois cursos jurídicos no Brasil: um em São Paulo e outro em Olinda. É importante mencionar que ambas as escolas, não obstante possuírem um objetivo maior em comum – a manutenção da formação de uma classe elitista – tinham características próprias, que se acentuaram com o tempo de forma a distingui-las entre si. Na escola jurídica nordestina o ambiente era mais propício ao labor intelectual, e levou os acadêmicos a postura mais crítica em relação ao Direito, enquanto que a Academia de São Paulo se voltou mais para a militância política e a reflexão literária e artística. O bacharelismo manifestou-se amplamente, fora dos gabinetes políticos e dos cargos públicos, notadamente na produção literária e jornalística, o que deve ser creditado basicamente às possibilidades exercidas pela vida acadêmica. Tão grande é a influência do bacharelismo que vários dos grandes nomes da literatura pátria cuidaram em adquirir o título de bacharel, com predileção pela área jurídica. Como exemplo tem-se Álvares de Azevedo, Castro Alves, Joaquim Nabuco e José de Alencar, de tal sorte que a formação jurídica, em seus primórdios, servia mais projeção política e cultural que propriamente por vocação para a área. Após um grande período de submissão à metrópole, o país não apresentava condições de independência ou desenvolvimento necessários à maturação do liberalismo, vez que ainda impregnado por práticas colonialistas. Se de um lado a classe elitista buscava maior liberdade econômica e política, por outro lado sequer se discutia o fim da escravidão. Tratando do assunto, Wolkmer (2003, p. 79-80) aponta que: Ao conferir as bases ideológicas para a transposição do status colonial, o liberalismo não só se tomou componente indispensável na vida cultural brasileira durante o Império, como também na projeção das bases essenciais de organização do Estado e de integração da sociedade nacional. Entretanto, o projeto liberal que se impôs expressaria a vitória dos conservadores sobre os radicais, estando dissociado de práticas democráticas e excluindo grande parte das aspirações dos setores rurais e urbanos populares, e movia-se convivendo e ajustando-se com procedimentos burocrático-centralizadores inerentes à dominação patrimonial. Trata-se da complexa e ambígua conciliação entre patrimonialismo e liberalismo, resultando numa estratégia liberal-conservadora que, de um lado, permitiria o “favor”, o clientelismo e a cooptação; de outro, introduziria uma cultura jurídico-institucional marcadamente formalista, retórica e ornamental. Referências: WOLKMER, A. C. História do Direito no Brasil. 7. ed. Rio de janeiro: Forense, 2003, sobretudo os capítulo abaixo indicados: Capítulo III - ESTADO, ELITES E CONSTRUÇÃO DO DIREITO NACIONAL (página 73) Capítulo IV - HORIZONTES IDEOLÓGICOS DA CULTURA JURÍDICA BRASILEIRA (página 105).
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