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Estudo sobre lobotomia

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Estudo sobre lobotomia em 
hospital de São Paulo ganha 
prêmio da Associação 
Nacional de História 
Estudo realizado pela pesquisadora Eliza Toledo investiga 
intervenções cirúrgicas realizadas em pacientes do Hospital 
Psiquiátrico do Juquery, em São Paulo. Mulheres foram mais 
submetidas ao tratamento do que homens. 
por Thaís Pio Marques 
 
19-20 de maio de 2021 
 
 
Hospital Juquery em 1974. Crédito: Arquivo Público do Estado de São Paulo. 
 
https://www.cafehistoria.com.br/author/thais-pio-marques/
https://www.cafehistoria.com.br/author/thais-pio-marques/
No último dia 16 de abril, a tese “A circulação e aplicação da psicocirurgia no 
Hospital Psiquiátrico do Juquery, São Paulo: uma questão de gênero (1936-
1956)” recebeu o 7º Prêmio de Teses da Anpuh (Associação Nacional de 
História), um dos mais importantes na área de história. Toledo é graduada e 
mestre em História pela Universidade Federal de Minas Gerais e doutora em 
História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC-Fiocruz). 
Atualmente, desenvolve pós-doutorado na mesma instituição. 
“Foi extremamente gratificante. Sinto que após quatro anos de muita 
dedicação à pesquisa, da ajuda preciosa de minhas orientadoras e de colegas 
tão queridas/queridos, este prêmio representa mais do que a valorização do 
trabalho feito. Ele representa também a valorização de temáticas 
extremamente importantes para a história do Brasil, como aquelas do campo 
gênero e de outros marcadores sociais das diferenças, de sua relação com a 
prática psiquiátrica no país, da importância em se pensar saúde, doença, 
ciência e medicina como construtos sociais, influenciados pela cultura e 
política de sua época”, disse a pesquisadora ao Café História. 
Psicocirugia 
Eliza Toledo estudou da prática da psicocirugia, popularmente conhecida 
como lobotomia. Esse antigo procedimento, muito praticado na primeira 
metade do século XX, engloba um conjunto de intervenções cirúrgicas no 
cérebro de pacientes diagnosticados com complicações psiquiátricas 
específicas. No período estudado pela pesquisadora, essa prática era vista com 
entusiasmo por parte de renomados psiquiatras brasileiros, bem como no 
cenário internacional. No entanto, essas intervenções cirúrgicas, segundo os 
estudos da pesquisadora, poderiam provocar complicações graves e 
irreversíveis à saúde de quem era submetido a elas. Apesar de reconhecer que 
os psiquiatras almejavam a melhora do quadro das pacientes, Toledo nos 
convida à reflexão sobre a maneira como o corpo e a autonomia feminina têm 
sido colocados em segundo plano nas práticas médicas. 
As mulheres foram mais submetidas à psicocirurgia 
Ao realizar a análise de diversos registros do hospital, como prontuários 
médicos e documentação clínica, a pesquisadora constatou que apesar de 
pacientes homens serem maioria no Hospital Psiquiátrico do Juquery, as 
psicocirurgias foram mais aplicadas em mulheres entre as décadas de 1930 e 
1950. De acordo com a historiadora, esta prática está associada à violência de 
gênero. Os ditos “comportamentos desviantes”, isto é, comportamentos que 
http://www.ppghcs.coc.fiocruz.br/images/dissertacoes/teste/tese_eliza_toledo.pdf
http://www.ppghcs.coc.fiocruz.br/images/dissertacoes/teste/tese_eliza_toledo.pdf
http://www.ppghcs.coc.fiocruz.br/images/dissertacoes/teste/tese_eliza_toledo.pdf
fugiam dos padrões estabelecidos pela sociedade, eram quase sempre 
classificados como distúrbios psiquiátricos. 
“O olhar atento às fontes clínicas que abordavam o uso da psicocirurgia 
naquele hospital nos permitiram elaborar um perfil de pacientes que foram 
submetidos à terapêutica e especificidades de seu uso a partir de elementos 
quantificáveis, como diagnóstico, idade, ‘cor’ e sexo. Em relação a este 
último, os números demonstraram uma discrepância no uso em pacientes do 
sexo masculino e feminino, com grande prevalência sobre as mulheres. Por 
detrás das estatísticas, pudemos ver que essa diferenciação não foi apenas de 
ordem quantitativa, mas também qualitativa”, pontuou Toledo. 
 
Ilustração com os instrumentos usados em cirurgias cerebrais. Crédito: Wellcome 
Collection. In copyright. 
 
A pesquisadora ressalta ainda como a questão do “controle comportamental” 
estava intimamente ligada ao tratamento da psicocirurgia: 
“Tais noções de gênero estiveram presentes na forma como os médicos 
enxergavam a patologia mental que deveria ser tratada pela psicocirurgia, 
perpassada por noções como a ‘instabilidade feminina’. O diagnóstico de 
personalidade psicopática, muitas vezes atribuído em relação ao seu caráter 
‘amoral’, foi importante na indicação da cirurgia em mulheres classificadas 
pelos médicos como brancas, amarelas, negras e pardas, mas especialmente 
nestes dois últimos grupos, demonstrando uma tendência racialista em relação 
à percepção da patologia e de seu tratamento.” 
Psicocirurgia em contexto 
Para Toledo, não é possível realizar um estudo sobre a utilização da 
psicocirurgia sem associá-lo ao contexto histórico em que a prática esteve 
inserida. “A psicocirurgia foi coordenada por aspectos socioculturais daquele 
contexto, em nível internacional, nacional e local. Nesse sentido, ela se 
mostrou um objeto privilegiado de investigação histórica da prática médica 
como prática social”, afirma a historiadora. 
Questões econômicas e culturais dos pacientes também devem ser levadas em 
consideração nessa análise contextual, acrescenta Toledo. “Os fracassos 
terapêuticos eram, de maneira recorrente, atribuídos ao ‘péssimo material’ 
humano utilizado, constituído de casos crônicos, já submetidos a outros 
tratamentos psiquiátricos, além ‘de nível mental baixo e cultural nulo’, o que 
tornaria ‘dificílima uma reeducação, elemento indispensável na psicocirurgia’, 
nas palavras dos psiquiatras.” 
Havia consenso sobre essas práticas cirúrgicas? 
De acordo com a pesquisadora, apesar dos riscos, a psicocirurgia não era uma 
prática marginalizada na medicina. Inclusive, o seu criador, o português Egas 
Moniz, venceu o prêmio Nobel de Fisiologia/Medicina, em 1949. Por outro 
lado, a autora destaca que os debates travados no Brasil acerca da ética médica 
e direitos humanos a partir da década de 1940 levaram à progressiva 
diminuição das psicocirurgias no Hospital Psiquiátrico do Juquery, tido como 
referência nacional em psiquiatria: 
“Destaco também discursos contrários à terapêutica já naquele contexto, que 
colocavam em questão a vulnerabilidade de pacientes submetidos à 
psicocirurgia e seus efeitos. Além disso, as fontes demonstraram como antes 
das cirurgias essas pessoas vivenciaram formas de violência em suas vidas e 
mostraram resistências desses indivíduos às suas condições de vida e, em 
alguns casos, à própria terapêutica.” 
A tese da pesquisadora é uma reflexão sobre os tratamentos dedicados ao que 
se considerava loucura entre as décadas de 1930 e 1950. Mas é também, como 
afirma a autora, um convite à reflexão de como práticas sociais violentas 
podem produzir o adoecimento de grupos minorizados ainda no tempo 
presente. 
 
 
Thaís Pio Marques 
Faz parte da equipe do Café História, onde realiza estágio voluntário. Graduada 
em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Durante a graduação fez 
parte do Grupo PET Conexões de Saberes – Licenciaturas, voltado para a 
elaboração e desenvolvimento de Projetos pedagógicos interdisciplinares. 
Atualmente, organiza o perfil de Instagram “Poesia e oralidade”, onde compartilha 
textos breves sobre competições de poesia (slams) e seus participantes. O 
trabalho na rede social é 
articulado aos estudos sobre História Oral e História Pública. 
 
 
https://www.cafehistoria.com.br/estudo-de-historia-sobre-lobotomia-premiado/ 
https://www.cafehistoria.com.br/author/thais-pio-marques/
https://www.cafehistoria.com.br/author/thais-pio-marques/

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