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Marianna Lopes – Genética, 4° semestre FTC epigenetica HISTÓRIA O termo “epigenética” foi utilizado pela primeira vez por Conrad H. Waddington, em 1942, em “Epigenetic landscape”, que seria uma visualização da interação entre genes e ambiente, modelando os caminhos de desenvolvimento de uma célula durante sua diferenciação • Emergência de um eventual fenótipo em um organismo (DNA padrão) através do processo de desenvolvimento, este iniciado a partir de um perfil genético específico • A relação entre fenótipo e genótipo não é linear e probabilística, ou seja, não há um determinismo o A carga genética sofre influência de efeitos aleatórios e ambientais) DEFINIÇÃO Refere-se ao estudo de fatores hereditários que modificam a expressão de genes sem alterar o DNA em si, ou seja, é o conjunto de modificações (bioquímicas) nucleares e herdadas pela replicação da cromatina, que modulam a expressão gênica, mas não envolvem modificações na sequência de DNA • Epigenoma: Conjunto de modificações epigenéticas da cromatina, que determinam uma informação genética, refletindo o status epigenético da cromatina de uma célula Informação epigenética Nem todos os genes são necessariamente expressos em todas as células de um organismo, visto que a maioria deles são programados para permanecer reprimidos graças a modificações epigenéticas • Modificações epigenéticas: Mecanismos moleculares que permitem preservar o estado inativo por regenerar a estrutura repressiva da cromatina a cada rodada de replicação do DNA o Na replicação, a cromatina é “aberta” e logo após ela volta ao estado inicial, inativando determinados genes Identidade celular A expressão azul (típica de células pluripotentes) diminui conforme a diferenciação, juntamente com a linhagem alternativa, enquanto a linha verde aumenta com o comprometimento com alguma linhagem específica MECANISMOS EPIGENÉTICOS Metilação de citocinas Modificação covalente do DNA, ou seja, alteração química de uma base (sem mudar a sequência) que sofre metilação, isto é, tem seu H5 trocado por um grupamento metil através da DNA-metiltransferase (doador: S-adenosilmetionina - SAM), transformando a citosina em 5-metilcitosina, mas vale lembrar que isso acontece do lado de fora do sulco maior do DNA (mantém contato com moléculas de água e não influi no pareamento) • Tipos de DNA-metiltransferases no mamífero: DNMT1, 2, 3A, 3B e 3L o De manutenção o De novo • As metilações ocorrem em regiões específica, que são chamadas de ilhas CpG (presentes em Marianna Lopes – Genética, 4° semestre FTC promotores e regiões intergênicas ricas em citosina e guanina) o Em mamíferos, 60% a 90% das ilhas CpGs estão metiladas • A resposta à metilação varia conforme o gene e o local, podendo facilitar ou dificultar o processo transcricional, visto que influencia no controle da ligação de proteínas ao DNA e, assim, faz organização da cromatina e da expressão gênica (princ. silenciamento gênico – ex. proteína HP1 inibe transcrição) o Metilação em sequências repetitivas: Previne instabilidade cromossômica para evitar quebras no material genético • Outras funções: Além da expressão gênica, e da estabilidade cromossômica, a metilação também atua em imprinting, diferenciação celular e inativação do X Alterações no padrão de metilação e a carcinogênese A função normal da célula depende do equilíbrio entre a hipometilação nas ilhas CpG e a hipermetilação nas regiões intergênicas • Alterações no equilíbrio da metilação podem comprometer a expressão de genes críticos, resultando em diversos tipos de câncer, visto que pode suprimir a transcrição (pode afetar genes supressores tumorais) o Hipometilação: Acontece de forma global no genoma, sendo mais frequente em sequências do DNA repetidas (DNA satélite, LINE e SINE), retrotransposons e genes cópia única Instabilidade cromossômica Ativação de oncogenes o Hipermetilação: Apresenta-se em áreas localizadas dentro da região promotora de genes supressores de tumor, fatores de transcrição, genes de controle do ciclo celular, genes anti-apoptóticos e genes de reparo do DNA (resumindo, no promotor de oncogenes e genes supressores de tumor) Inativação de genes de reparo e supressores tumorais “Memória epigenética” da metilação de citocinas A metilação de ambas as fitas permite reproduzir o padrão após a replicação do DNA, sendo herdado nas fitas recém-sintetizadas graças à semiconservação • Metilases de manutenção reconhecem as fitas hemimetiladas e adicionam os grupamentos metil às citosinas correspondentes o Durante a síntese da nova fita de DNA, tem-se a hemimetilação, isto é, a fita molde é metilada, enquanto a fita nova ainda precisa sofrer a ação de metilases de manutenção A hemimetilação é importante para o reconhecimento de pareamentos errados durante a replicação Modificação de histonas As histonas são proteínas básicas que se associam ao material genético para compactar o DNA, até que ele se transforme em cromossomos, e para auxiliar na regulação da expressão gênica • Para que o DNA seja manipulado pela síntese de proteínas e/ou replicação, as histonas têm que ser ativada (mudança estrutural) para liberar o DNA em torno dela o Mecanismos de ativação: Acetilação, metilação, fosforilação e ubictinação (actina) Ratos Agouti • Região promotora não-metilada: O gene agouti é transcrito continuamente e o camundongo tem coloração amarela e é susceptível a tumor, diabetes e obesidade • Região promotora metilada: A expressão do RNAm do gene é reduzida (hipometilação) durante o desenvolvimento e ele permanece silenciado no restante da vida, sendo um camundongo saudável e de cor marrom o Os genes que trazem a cor da pelagem e patologias são silenciados • Fatores ambientais: A suplementação dietética na gestação dos animais os torna mais saudáveis, inclusive o tipo amarelo, enquanto a não suplementação estimula a as patologias típicas do animal amarelo Marianna Lopes – Genética, 4° semestre FTC Acetilação de histonas A acetilação, isto é, a adição do acetil (-CO-CH3) em histonas se dá especificamente nos resíduos de aminoácidos lisina através da enzima histona- acetiltransferase (HAT) e esse processo torna a cromatina ativa (passível de ser transcrita) • A inativação se dá por enzimas histonas- desacetilases (HDAC) Fosforilação de histonas A fosforilação corresponde à adição do grupamento fosfato em resíduos de serina, treonina e tirosina, que promovem diversas funções além de ativar as histonas • Sinalização para reparo de dano ao DNA (H2A, H2B, etc) • Regulação transcricional • Compactação da cromatina associada com a mitose ou a meiose o Condensação da cromatina: Fosforilação de T3, S10, T11 e S28 na H3 o Descondensação: Fosforilação da H1 • Compactação da cromatina e apoptose o O resíduo fosforilado pode determinar o reparo do dano ou a apoptose da célula Metilação de histonas A adição do metil se dá em resíduos de lisina, sendo que o grau de metilação e o resíduo metilado estão envolvidos na regulação transcricional (ativação ou repressão dependente da lisina em questão) • H3K9me e H3K27me são marcadores de silenciamento do material genético (regiões de heterocromatina, X inativado e promotores silenciados), enquanto H3K4me sugere DNA transcricionalmente ativo (promotores ativos) Fatores de remodelamento de cromatina Existem complexos SWI/SNF formados por 9 a 12 subunidades proteicas, que são recrutadas para promotores específicos e atuam no remodelamento da cromatina • Função: “Construir” uma região promotora acessível para a maquinaria transcricional o “Deslizamento” do octâmero de histonas ao longo do DNA para reposicionar o nucleossomo o Afrouxamento da fita de DNA sobre o nucleossomo o Reorganização dos componentes do nucleossomo, modificando sua conformação Os mesmos eventosde fosforilação podem ser simultâneos e podem estar relacionados com vários processos de modulação da cromatina • Há interação entre as modificações pós- traducionais (MTPs) nas histonas (caudas das histonas representam uma plataforma para vários MTPS) Perfil de modificação das histonas Inúmeras enzimas atuam em conjunto para adicionar e remover modificações covalentes nas histonas, interagindo entre si e com outros mecanismos para manter a conformação da cromatina e o controle da transcrição • Relação entre acetilação e metilação de histonas (possibilitam a ligação de proteínas) o Cromatina aberta (ativada) e fechada (inibe a transcrição) • Marcas epigenéticas recrutam demais mecanismos para manutenção do estado da cromatina Marianna Lopes – Genética, 4° semestre FTC “Memória epigenética” da metilação de histonas Durante a replicação do DNA, o octâmero de histonas não se dissocia completamente e, por isso, a fitas novas é constituída por histonas novas e antigas nos seus nucleossomos • Replicação do DNA e das características da cromatina: O padrão de modificações epigenéticas (ex. metilação, acetilação, fosforolição ou ubiquitinação) são herdadas juntamente com o DNA o Diferentes tipos de cromatina são replicadas em momentos distintos (origens de replicação ativadas distintamente) para manter o padrão de cromatina de cada uma Inativação do X Mapa conceitual Imprinting genômico Mapa conceitual INFLUÊNCIAS AMBIENTAIS Há diversos fatores ambientais influem na forma de expressão da epigenética, propiciando fenótipos completamente distintos entre os indivíduos, o que impossibilita associações diretas Epigenética e nutrição Determinados componentes bioativos dos alimentos podem alterar a expressão gênica via alterações na metilação do DNA e modificações de histonas • Disponibilidade do doador de grupos metil (SAM) depende de dois principais fatores o Vias metabólicas relacionadas à vitamina B6 e à B12 (deficiência de vitamina B compromete a metilação do DNA) o Folato, betaina e colina e aminoácidos (consumo crônico de álcool pode alterar a disponibilidade de SAM através do desperdício de metionina e colina ou por diminuir a disponibilidade de vitamina B) • EGCG (polifenol - chá verde): Pode diminuir a metilação global do DNA em linhagens de células cancerígenas pela inibição competitiva de DNMT, além de aumentar o nível de miR- 210 (diminuição da proliferação celular) • Redução de selênio (grãos e vegetais): Diminuição da metilação global do DNA, tendo expressão de DNMT1 reduzida em linhagens celulares de câncer de cólon e próstata Epigenética e dieta materna A transmissão materna de marcas epigenéticas pode ser alterada por nutrientes • Consumo materno de vitamina B é associado a modificações no risco de carcinogênese mamária e de cólon na prole • Aumento do consumo materno de colina, em ratos, eleva os níveis de metilação de histonas (H3K9me2 e H3K27me3) possivelmente pelo aumento na expressão de HMT • Dieta rica ou pobre em proteínas, em porcos, pode alterar a metilação global do DNA na prole através de mudanças na expressão das DNMTs Epigenética e envelhecimento As “assinaturas” epigenéticas tendem a mudar com a idade e, assim, pode ter aumento da hipermetilação de alguns promotores e diminuição da metilação global do DNA, além de reduzir também os padrões de modificação de histonas, indicando regiões heterocromáticas, onde há repressão da transcrição (no entanto, não está claro se os padrões epigenéticos são programados ou estocásticos) • O mesmo padrão de metilação do DNA visto no envelhecimento aparece no surgimento do câncer (hipermetilação de genes supressores de tumor) • Terapêutica: Compreensão das marcas epigenéticas relacionadas ao envelhecimento e proposta de intervenção farmacêutica e de dietas Marianna Lopes – Genética, 4° semestre FTC Epigenética e doenças Diabetes mellitus Mesmo sendo uma doença adquirida, já se sabe que há alterações epigenéticas envolvidas, principalmente em genes que codificam citocinas inflamatórias, que propiciam o estado inflamatório do paciente diabético • Resveratrol: Polifenol encontrado em cacau, uva e bluebarry, que foi usado como agente interventor em pesquisa com ratos para identificar citocinas e, como resultado, foi encontrada a expressão de IL-10 e IL-1β (principalmente) no grupo diabético o Citocinas pró-inflamatórias (ex. IL-1β, IL- 6, TNF-α e IFN) apresentam baixo nível de metilação nas ilhas CpG quando estão mais expressas o Citocinas anti-inflamatórias (ex. IL-10) possuem alto nível de metilação devido à hiperglicemia, tornando sua impressão bloqueada
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