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LUCY RODRIGUES RIBEIRO, MEDICINA, UFBA, TURMA 254 Fisiologia Contração do Músculo Esquelético RESUMO GUYTON & HALL - UNIDADE II - CAPÍTULO 6 ANATOMIA FISIOLÓGICA DO MÚSCULO ESQUELÉTICO Todos os músculos esqueléticos são compostos por numerosas fibras, e cada uma delas é formada por subunidades ainda menores. Na maioria dos músculos esqueléticos, cada fibra se prolonga por todo o comprimento do músculo. Exceto por 2% das fibras, cada uma em geral é inervada por apenas uma terminação nervosa, situada perto do meio da fibra. Alguns conceitos úteis: Sarcolema: o sarcolema é a membrana celular que reveste a fibra muscular esquelética e é constituída por uma membrana plasmática com revestimento de fina camada de material polissacarídeo contendo muitas fibrilas colágenas delgadas. Em cada extremidade da fibra muscular, essa camada superficial do sarcolema funde-se com uma fibra do tendão. Miofibrila: cada fibra muscular contém centenas a milhares de miofibrilas. Cada uma delas é composta por cerca de 1500 filamentos de miosina (+ espessas) adjacentes e por 3000 filamentos de actina (+ finas). Os filamentos dessas proteínas estão parcialmente interdigitados, fazendo com que a miofibrila alterne faixas claras e escuras, que dão ao músculo esquelético sua aparência estriada. As faixas claras só contêm filamentos de actina, sendo conhecidas como faixas I, por serem isotrópicas à luz polarizada. As faixas escuras contêm filamentos de miosina, assim como as extremidades dos filamentos de actina, onde se superpõem aos de miosina, sendo chamadas de faixas A, por serem anisotrópicas à luz polarizada. As pequenas projeções laterais dos filamentos de miosina são as pontes cruzadas, sendo que as interações entre actina e as pontes cruzadas que causam as contrações. Além disso, as extremidades dos filamentos de actina estão ligadas ao chamado disco Z. Desse disco, esses filamentos se estendem em ambas as direções para se interdigitarem com os filamentos de miosina. Ele cruza LUCY RODRIGUES RIBEIRO, MEDICINA, UFBA, TURMA 254 transversalmente toda a miofibrila e igualmente de forma transversa de miofibrila para miofibrila, conectando-as umas às outras. Sarcômero: o segmento da miofibrila situado entre dois discos Z sucessivos é referido como sarcômero. Quando a fibra muscular está contraída, os filamentos de actina no sarcômero se sobrepõem completamente aos filamentos de miosina, e as pontas dos filamentos de actina estão quase começando a se sobrepor. Titina: a manutenção do posicionamento lado a lado dos filamentos de miosina e actina é difícil de ser mantida, e é realizada pela proteína titina [maior molécula de proteína no corpo] que, por ser filamentar, é muito flexível. É essa flexibilidade das moléculas de titina que mantém os filamentos de actina e miosina no lugar. Uma extremidade da titina é elástica e está fixada ao disco Z, atuando como mola [varia o comprimento conforme o sarcômero contrai e relaxa]. A outra extremidade ancora os filamentos grossos de miosina. Sarcoplasma: é o líquido intracelular entre as miofibrilas, que contém potássio, magnésio, fosfato e enzimas proteicas. Também está presente nessa substância um número imenso de mitocôndrias. Retículo sarcoplasmático: o retículo sarcoplasmático é o RE especializado do músculo esquelético e possui organização especial extremamente importante para o controle da contração muscular. MECANISMO GERAL DA CONTRAÇÃO MUSCULAR Etapas 1. Os potenciais de ação cursam pelo nervo motor até suas terminações nas fibras musculares. 2. Em cada terminação, o nervo secreta pequena quantidade da substância neurotransmissora acetilcolina. 3. A acetilcolina age em área local da membrana da fibra muscular para abrir múltiplos canais de cátion "regulados pela acetilcolina': por meio de moléculas de proteína que flutuam na membrana. 4. A abertura dos canais regulados pela acetilcolina permite a difusão de grande quantidade de íons sódio para o lado interno da membrana das fibras musculares. Isso causa despolarização local que, por sua vez, produz a abertura de canais de sódio dependentes da voltagem. Isso desencadeia o potencial de ação na membrana. 5. O potencial de ação se propaga por toda a membrana da fibra muscular do mesmo modo como o potencial de ação cursa pela membrana das fibras nervosas. LUCY RODRIGUES RIBEIRO, MEDICINA, UFBA, TURMA 254 6. O potencial de ação despolariza a membrana muscular, e grande parte da eletricidade do potencial de ação flui pelo centro da fibra muscular. Aí, ela faz com que o retículo sarcoplasmático libere grande quantidade de íons cálcio armazenados nele. 7. Os íons cálcio ativam as forças atrativas entre os filamentos de miosina e actina, fazendo com que deslizem ao lado um do outro, que é o processo contrátil. 8. Após fração de segundo, os íons cálcio são bombeados de volta para o retículo sarcoplasmático pela bomba de Ca+2 da membrana, onde permanecem armazenados até que novo potencial de ação muscular se inicie; essa remoção dos íons cálcio das miofibrilas faz com que a contração muscular cesse. MECANISMO MOLECULAR DA CONTRAÇÃO MUSCULAR No estado relaxado do sarcômero, as extremidades de actina que se estendem de dois discos Z sucessivos mal se sobrepõem. Já no estado contraído, esses filamentos de actina são tracionados por entre os filamentos de miosina de forma que suas extremidades se sobrepõem. Desse modo, a contração muscular ocorre pelo MECANISMO DE DESLIZAMENTO DOS FILAMENTOS. Esse deslizamento, no entanto, resulta da força gerada pela interação das pontes cruzadas dos filamentos de miosina com os de actina. Em condições de repouso, essas forças estão inativas. Porém, quando um potencial de ação passa pela fibra muscular, ele faz com que o retículo sarcoplasmático libere grande quantidade de Ca+2. Os íons cálcio, por sua vez, ativam as forças entre os filamentos de miosina e actina, e a contração se inicia. É necessária energia derivada da molécula de ATP para que o processo continue. Características Moleculares dos Filamentos Contráteis Filamentos de Miosina Os filamentos de miosina são compostos por múltiplas moléculas de miosina, sendo que a molécula de miosina é composta por seis cadeias polipeptídicas, duas cadeias pesadas e quatro leves. As duas cadeias pesadas se espiralam uma com a outra para formar dupla hélice, gerando a cauda/haste da miosina. Uma da ponta dessas duas cadeias é dobrada para um dos lados, formando a estrutura globular chamada cabeça da miosina. Assim, existem duas cabeças livres na extremidade livre da molécula de miosina. LUCY RODRIGUES RIBEIRO, MEDICINA, UFBA, TURMA 254 As quatro cadeias leves também fazem parte da cabeça da miosina, duas para cada cabeça, ajudando a regular o funcionamento da cabeça durante a contração muscular. Já o braço, que estende a cabeça para fora do corpo, é formado por partes do corpo de cada molécula de miosina que estão penduradas nas partes laterais. As projeções dos braços e cabeças formam as pontes cruzadas, sendo que cada uma delas é flexível em dois locais - dobradiças - na junção ente o braço e o corpo do filamento de miosina, e outro no ponto de ligação da cabeça ao braço. OBS: outra característica da cabeça da miosina é sua função como enzima ATPase. Filamentos de Actina Os filamentos de actina são compostos por actina, tropomiosina e troponina. A viga mestra do filamento de actina é o filamento duplo e de duas moléculas de proteína F actina. Esses dois filamentos se enroscam em forma de hélice. Cada filamento de dupla hélice da actina F é composto por moléculas de actina G polimerizadas. Ligada a cada molécula de actina G, existe uma molécula de ADP - acredita- se que essas moléculas de ADP sejam os locaisativos nos filamentos de actina com as quais interagem as pontes cruzadas dos filamentos de miosina para produzir a contração -. Além disso, os filamentos de actina contêm a proteína tropomiosina que, durante o repouso, recobre os locais ativos de filamento de actina de forma a impedir que ocorra atração entre actina-miosina para produzir contração. Ligada intermitentemente aos lados das moléculas de tropomiosina existe a proteína troponina. Ela é, na realidade, um complexo de três unidades proteicas frouxamente ligadas, cada uma com participação específica na regulação da contração muscular. Admite-se que esse complexo seja responsável pela ligação da tropomiosina com a actina e acredita-se que a afinidade da troponina com íons cálcio seja o processo que desencadeia a contração. A subunidade troponina I tem forte afinidade com a actina; A troponina T tem afinidade com a tropomiosina; Já a troponina C tem afinidade com os íons cálcio. → A interação de um filamento de miosina com dois filamentos de actina e com os íons cálcio para causar a contração Inibição do filamento de actina pelo complexo troponina-tropomiosina e ativação pelos íons cálcio O filamento puro de actina, na falta do complexo troponina-tropomiosina (mas em presença de íons magnésio e ATP) se liga instantânea e fortemente às cabeças das moléculas de miosina. Portanto, se o complexo troponina-tropomiosina for adicionado ao filamento de actina, a união entre ela e a miosina não ocorre. LUCY RODRIGUES RIBEIRO, MEDICINA, UFBA, TURMA 254 Em presença de grande quantidade de íons cálcio, os efeitos inibidores do complexo troponina-tropomiosina são inibidos. O mecanismo dessa inibição não é conhecido, mas uma das sugestões é a seguinte: quando os íons cálcio se ligam à troponina C - cada uma dessas moléculas pode se ligar fortemente a até quatro íons cálcio - o complexo de troponina supostamente passa por alteração conformacional que de algum modo traciona, com grande intensidade, a molécula de tropomiosina, deslocando-a para o fundo do sulco entre os dois filamentos de actina. Isto "descobre" os locais ativos da actina, permitindo desse modo que atraiam as pontes cruzadas das cabeças da miosina, fazendo com que a contração prossiga. A interação entre o filamento de actina ativado e as pontes cruzadas de miosina Tão logo os filamentos de actina são ativados pelos íons cálcio, as pontes cruzadas das cabeças dos filamentos de miosina são atraídas pelos locais ativos do filamento de actina, o que de alguma maneira produz a contração. Embora o modo preciso como essa interação entre as pontes cruzadas e actina seja ainda em parte teórico, a hipótese mais provável é a do “ir adiante” (walk-along) da contração. Postula-se que quando a cabeça se liga ao local ativo, essa ligação provoca ao mesmo tempo profundas alterações nas forças intramoleculares entre a cabeça e o braço dessas pontes cruzadas. O novo alinhamento de forças faz com que a cabeça se incline em direção ao braço e leve com ela o filamento de actina. Essa inclinação da cabeça é chamada de força de deslocamento ou movimento de força (power stroke). Então, imediatamente após a inclinação, a cabeça de forma automática se separa do local ativo. Em seguida, retorna para sua direção estendida. Nessa posição, ela se combina com novo local ativo, situado mais adiante no filamento de actina; então a cabeça volta a se inclinar para efetuar novo movimento de força, e o filamento de actina move outro passo. Desse modo, as pontes cruzadas das cabeças se inclinam para a frente e para trás, passo a passo, ao longo do filamento de actina, puxando as extremidades livres de dois filamentos sucessivos de actina em direção ao centro do filamento de miosina. Acredita-se que cada uma das pontes cruzadas atue de forma independente das demais, cada uma se ligando e puxando em ciclo contínuo e repetitivo. Assim, quanto maior o número de pontes cruzadas ligadas ao filamento de actina a qualquer tempo, maior será teoricamente a força da contração. ATP como fonte de energia para a contração Quando um músculo se contrai, grandes quantidades de ATP são degradadas, formando ADP durante o processo da contração. Quanto maior a quantidade de trabalho realizada pelo músculo, maior a quantidade de ATP degradada, o que é referido como efeito Fenn, que - acredita-se - ocorre da seguinte maneira: 1. Antes do início da contração, as pontes cruzadas das cabeças se ligam ao ATP. A atividade da ATPase das cabeças de miosina imediatamente cliva o ATP (gerando ADP + fosfato) Nessa LUCY RODRIGUES RIBEIRO, MEDICINA, UFBA, TURMA 254 etapa, a conformação da cabeça é tal que se estende perpendicularmente em direção ao filamento de actina. 2. Quando o complexo troponina-tropomiosina liga-se aos íons cálcio, os locais ativos do filamento de actina são descobertos, e as cabeças de miosina ligam-se então a eles. 3. A ligação entre a ponte cruzada da cabeça e o local ativo do filamento de actina causa alteração conformacional da cabeça, fazendo com que ela se incline em direção ao braço da ponte cruzada. Essa alteração gera um movimento de força para puxar o filamento de actina. A energia que ativa o movimento de força é aquela já armazenada, pela alteração conformacional que ocorreu na cabeça quando as moléculas de ATP foram clivadas. 4. Uma vez que a cabeça da ponte cruzada esteja inclinada, isso permite a liberação do ADP e do íon fosfato que estavam ligados à cabeça. No local onde foi liberado o ADP, uma nova molécula de ATP se liga. A ligação desse novo ATP causa o desligamento da cabeça pela actina. 5. Após a cabeça ter sido desligada da actina, a nova molécula de ATP é clivada para que seja iniciado novo ciclo. O processo ocorre sucessivamente até que os filamentos de actina puxem a membrana Z contra as extremidades do filamento de miosina, ou até que a carga sobre os músculos fique demasiadamente forte para que ocorra mais tração. O grau de superposição dos filamentos de actina e de miosina determina a tensão que é desenvolvida pelo músculo que se contrai Quando os filamentos de actina são puxados por toda sua extensão até a extremidade do filamento de miosina, sem nenhuma sobreposição de actina-miosina, a tensão desenvolvida pelo músculo ativado é zero. Então, à medida que o sarcômero encurta e os filamentos de actina começam a se sobrepor aos filamentos de miosina, a tensão aumenta progressivamente até o comprimento de sarcômero diminuir para cerca de 2,2 micrômetros. Nesse ponto, os filamentos de actina já estão sobrepostos a todas as pontes cruzadas dos filamentos de miosina, mas ainda não atingiram o centro do filamento de miosina. Mesmo com encurtamento adicional, o sarcômero mantém tensão máxima até quando o sarcômero encurte até 2 micrômetros. Nesse ponto, as extremidades dos dois filamentos de actina começam a se sobrepor além da sobreposição dos filamentos de miosina. Quando o comprimento do sarcômero cai de 2 micrômetros para 1,65 micrômetro, a força da contração é reduzida rapidamente. Nesse ponto, os dois discos Z do sarcômero entram em contato com as extremidades dos filamentos de miosina. Então, como as contrações prosseguem com comprimentos do sarcômero cada vez menores, as extremidades dos filamentos de miosina são enrugadas e, como mostra a figura, a força da contração se aproxima do zero, mas todo o sarcômero está agora contraído até seu menor comprimento. LUCY RODRIGUES RIBEIRO, MEDICINA, UFBA, TURMA 254 Efeito do comprimento muscular sobre a força de contração do músculo intacto total Esse tópico trata da tensão do músculo intacto total, e não apenas da fibra muscular única. O músculo em sua totalidade contém grande quantidade de tecido conjuntivo; também os sarcômeros, em partes diferentes do músculo,nem sempre se contraem do mesmo grau. Por essa razão, a curva ao lado tem dimensões diferentes das curvas mostradas para a fibra muscular individual, mas exibe a mesma forma geral para a inclinação, na faixa normal de contração. Quando o músculo está no seu comprimento normal de repouso, que corresponde ao comprimento do sarcômero de cerca de 2 micrômetros, o músculo se contrai quando ativado com sua força máxima de contração. Todavia, o aumento da tensão que ocorre durante essa contração, chamada tensão ativa, diminui com o estiramento do músculo além de seu comprimento normal - ou seja, até comprimentos do sarcômero maiores do que 2,2 micrômetros. ENERGÉTICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR A contração muscular depende da energia fornecida pelo ATP. A maior parte dessa energia é necessária para ativar o mecanismo de “walk along”, mas pequenas quantidades são necessárias para o bombeamento dos íons cálcio do sarcoplasma para o retículo sarcoplasmático quando cessa a contração e para o bombeamento dos íons sódio e potássio a fim de manter o ambiente iônico apropriado para a propagação do potencial de ação das fibras musculares. Nesses processos, o ATP é clivado para formar ADP, que transfere a energia da molécula para o mecanismo de contração da fibra muscular. Então, o ADP é refosforilado para formar novo ATP. A primeira fonte de energia utilizada para reconstituir o ATP é a fosfocreatina, que transporta uma ligação de fosfato de alta energia. Assim, a fosfocreatina é clivada instantaneamente, e sua energia liberada causa a ligação de novo íon fosfato ao ADP, para formar ATP. Contudo, a quantidade total de fosfocreatina na fibra muscular é muito pequena. A segunda fonte de energia para reconstituir o ATP e a fosfocreatina é a “glicólise” do glicogênio previamente armazenado nas células musculares que libera a energia necessária para converter o ADP em ATP, que será usado para energizar contrações musculares adicionais ou renovar as reservas de fosfocreatina. Essas reações glicolíticas podem ocorrer mesmo em ausência de oxigênio e a velocidade de formação de ATP por esse processo é mais rápida que a formação do ATP que utiliza oxigênio. Entretanto, muitos produtos finais da glicólise se acumulam nas células musculares. A terceira e última fonte de energia é o metabolismo oxidativo [combinar o oxigênio com os produtos finais da glicólise e com vários outros nutrientes celulares para liberar ATP] e é o método mais utilizado. LUCY RODRIGUES RIBEIRO, MEDICINA, UFBA, TURMA 254 CARACTERÍSTICAS DA CONTRAÇÃO DO MÚSCULO COMO UM TODO Abalo muscular O abalo muscular (muscle twitch) pode ser produzido por meio da excitação elétrica instantânea do nervo muscular ou por breve estímulo elétrico, originando contração leve e abrupta que dura fração de segundo. Contração isométrica X Contração isotônica A contração muscular é dita isométrica quando o músculo não encurta durante contração e isotônica quando encurta, mas sua tensão permanece constante por toda a contração. OBS: As características mecânicas da contração muscular são diferentes entre os diversos músculos, visto que eles podem apresentar aspectos particulares. Um exemplo disso é o tempo de contração isométrica, que se adapta para as funções dos respectivos músculos. Os movimentos oculares devem ser extremamente rápidos para que possa ser mantida a fixação dos olhos nos objetos específicos para garantir a acuidade visual, já o músculo sóleo tem como função principal a contração lenta para o suporte contínuo e por longo período do corpo contra a gravidade. Fibras musculares rápidas x Fibras lentas Cada músculo do corpo é composto por uma mistura das chamadas fibras musculares rápidas e lentas, além das fibras com diferentes gradações entre estes dois extremos. Fibras lentas (Tipo 1, músculo vermelho) Fibras menores. Também inervados por fibras nervosas pequenas. Sistema dos vasos sanguíneos e dos capilares mais extensos, para suprir quantidades extras de oxigênio. Número de mitocôndrias muito elevado também para dar suporte aos altos níveis de metabolismo oxidativo. As fibras contêm grande quantidade de mioglobina, proteína que contém ferro, semelhante à hemoglobina nas hemácias. A mioglobina se combina com o oxigênio e o armazena até que ele seja necessário. A mioglobina dá ao músculo lento sua aparência avermelhada e o nome de músculo vermelho. Fibras rápidas (tipo 2, músculo branco) Fibras grandes para grande força de contração. LUCY RODRIGUES RIBEIRO, MEDICINA, UFBA, TURMA 254 Retículo sarcoplasmático muito extenso, para a rápida liberação dos íons cálcio para desencadear a contração. Grande quantidade de enzimas glicolíticas, para a rápida liberação de energia pelo processo glicolítico. Suprimento de sangue menos extenso devido ao metabolismo oxidativo ter importância secundária. Menor número de mitocôndrias também porque o metabolismo oxidativo é secundário. Ao déficit de mioglobina vermelha no músculo rápido damos o nome de músculo branco. MECÂNICA DA CONTRAÇÃO DO MÚSCULO ESQUELÉTICO Unidade motora Cada motoneurônio que sai da medula espinhal inerva múltiplas fibras musculares, e essa quantidade depende do tipo de músculo. Todas as fibras musculares inervadas por uma só fibra nervosa formam uma unidade motora. Somação das Forças Somação significa a soma de abalos individuais para aumentar a intensidade da contração total. Ela ocorre por dois meios: pelo aumento do número de unidades motoras que se contraem ao mesmo tempo [somação por fibras múltiplas] e pelo aumento da frequência de contração [somação por frequência]. Somação por fibras múltiplas → Princípio do tamanho: à medida que a força do sinal de contração aumenta, unidades motoras cada vez maiores começam a ser excitadas. Esse fenômeno é importante, visto que permite a gradação da força muscular. A razão desse princípio é que as pequenas unidades motoras são inervadas por pequenas fibras nervosas motoras, e os pequenos motoneurônios na medula espinhal são mais excitáveis que os maiores, sendo naturalmente excitados primeiro. Outra característica da somação por múltiplas fibras é que as diferentes unidades motoras são ativadas de forma assincrônica pela medula espinhal, de forma que a contração ocorre alternadamente entre as diferentes unidades motoras, produzindo contração suave e regular. Somação por Frequência e Tetanização À medida que a frequência de estimulação aumenta, alcança-se um ponto onde cada nova contração ocorre antes que a anterior termine. Como resultado, a segunda contração é parcialmente somada à anterior, de forma que a força total da contração aumenta progressivamente com o aumento da frequência. LUCY RODRIGUES RIBEIRO, MEDICINA, UFBA, TURMA 254 Quando a frequência atinge um nível crítico, as contrações sucessivas eventualmente ficam tão rápidas que se fundem, e a contração total do músculo aparenta ser completamente uniforme e contínua, é a tetanização. Com frequência pouco maior, a força da contração atinge sua capacidade máxima, de modo que qualquer aumento adicional da frequência além desse ponto não exerce novos efeitos para aumentar a força contrátil. Isso ocorre porque quantidades suficientes de íons cálcio são mantidas no sarcoplasma muscular mesmo entre os potenciais de ação, de modo que o estado contrátil total é mantido, sem que esteja permitido nenhum grau de relaxamento entre os potenciais de ação. Efeito da escada (treppe) Quando um músculo começa a se contrair, após longo período de repouso, sua força inicial de contração aumenta até atingir um platô, conhecido por efeito da escada ou treppe. Acredita-se que o fenômeno seja causado primariamente pelo aumento dos íons cálcio no citosol, devido à liberaçãocontínua de mais e mais cálcio pelo retículo sarcoplasmático a cada potencial e ação do músculo e à falha do sarcoplasma de recaptar imediatamente esses íons. Tônus do músculo esquelético A tensão que os músculos apresentam mesmo quando estão em repouso, é o tônus muscular. Ele resulta da baixa frequência de impulsos nervosos vindos da medula espinhal. Fadiga muscular Contrações musculares fortes, perdurando por período prolongado, levam ao bem conhecido estado de fadiga muscular. Os efeitos da fadiga surgem em grande parte da LUCY RODRIGUES RIBEIRO, MEDICINA, UFBA, TURMA 254 incapacidade contrátil e do processo metabólico das fibras musculares de continuarem a manter a mesma quantidade de trabalho. Somada a isso, a transmissão dos sinais nervosos pela junção neuromuscular pode diminuir após intensa e prolongada atividade muscular, diminuindo a contração. OBS: não é simplesmente o resultado da depleção dos estoques de energia. Pode decorrer do acúmulo de fosfato inorgânico e ácido lático, que inibem a interação actina-miosina e a liberação do cálcio pelo retículo; depleção de glicogênio. Hipertrofia e atrofia musculares Quando a massa muscular aumenta, isso é referido como hipertrofia muscular. Virtualmente, toda hipertrofia muscular resulta do aumento do número de filamentos de actina e miosina em cada fibra muscular, produzindo o aumento dessa fibra. Hipertrofia em grau muito maior ocorre quando o músculo trabalha contra a carga durante o processo contrátil. Observou-se também que algumas miofibrila de forma independente se dividem nos músculos hipertrofiados para formar novas miofibrilas. Já quando a massa muscular diminui, o processo é referido como atrofia muscular, e ele resulta do fato de um músculo ficar sem uso por muitas semanas, o que gera uma intensidade de degradação das proteínas contráteis muito mais rápida que a sua reposição. Ajuste do comprimento dos músculos Outro tipo de hipertrofia ocorre em geral quando os músculos estão mais estirados além do comprimento normal. Esse estiramento excessivo faz com que novos sarcômeros sejam adicionados às extremidades das fibras musculares por onde estão ligadas aos tendões. Inversamente, quando o músculo permanece continuamente mais curto do que no tamanho normal, os sarcômeros das extremidades das fibras musculares podem desaparecer. Hiperplasia das fibras musculares Sob raras circunstâncias de geração de força muscular extrema, observou-se que o número real de fibras musculares aumentou. Esse aumento do número de fibras musculares é referido como hiperplasia da fibra. Efeitos da desnervação muscular Quando um músculo é privado de seu suprimento nervoso, deixa de receber os sinais contráteis necessários para manter as dimensões normais do músculo. Como resultado, o processo de atrofia começa imediatamente. LUCY RODRIGUES RIBEIRO, MEDICINA, UFBA, TURMA 254 No estágio final da atrofia de desnervação, a maioria das fibras musculares é destruída e substituída por tecido fibroso e gorduroso. As fibras que ainda persistem possuem longas membranas celulares com pouca ou nenhuma propriedade contrátil. O tecido fibroso que substitui as fibras musculares também tem a tendência de continuar a se encurtar por vários meses, o que é conhecido por contratura. → Rigidez cadavérica (rigor mortis) Algumas horas após a morte, todos os músculos do corpo entram no estado de contratura, conhecido como "rigidez cadavérica" (ou rigor mortis); ou seja, os músculos se contraem e ficam rígidos mesmo sem potenciais de ação. Essa rigidez resulta da perda de todo ATP que é necessário para a separação das pontes cruzadas dos filamentos de actina durante o processo de relaxamento. Os músculos permanecem rígidos até que as proteínas musculares degenerem, o que provavelmente resulta da autólise causada pelas enzimas liberadas pelos lisossomas.
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