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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA CENTRO DE EDUCAÇÃO – CEDUC CURSO DE PSICOLOGIA PAULO HENRIQUE PINHEIRO DE BARROS PSICOMOTRICIDADE E EDUCAÇÃO INFANTIL: PERCEPÇÃO DAS PROFESSORAS PRÉ-ESCOLARES Boa Vista, RR 2014 PAULO HENRIQUE PINHEIRO DE BARROS PSICOMOTRICIDADE E EDUCAÇÃO INFANTIL: PERCEPÇÃO DAS PROFESSORAS PRÉ-ESCOLARES Monografia apresentada como pré- requisito para conclusão do Curso de Bacharelado em Psicologia da Universidade Federal de Roraima. Orientadora: Profª Dra. Fernanda Ax Wilhelm Boa Vista, RR 2014 PAULO HENRIQUE PINHEIRO DE BARROS PSICOMOTRICIDADE E EDUCAÇÃO INFANTIL: PERCEPÇÃO DAS PROFESSORAS PRÉ-ESCOLARES Monografia apresentada como pré-requisito para conclusão do Curso de Psicologia da Universidade Federal de Roraima, defendida em ___ de Janeiro de 2014 e avaliada pela seguinte banca examinadora: __________________________________________ Profª Dra. Fernanda Ax Wilhelm Orientadora / UFRR __________________________________________ Profª Msc. Soraya Ivon Ramirez Moreno __________________________________________ Profª Msc. Ana Paula da Rosa Deon AGRADECIMENTOS Primeiramente, quero agradecer as duas figuras de maior importância da minha vida, meus pais - Zito e Gizelda, pois, foram eles que desde o início me apoiaram e proporcionaram as oportunidades necessárias para que eu chegasse ao final da minha graduação, sempre com muito carinho, amor e respeito. Agradeço também o apoio dos meus irmãos e cunhadas, pois, sempre perceberam em mim o potencial necessário para desempenhar o papel de vir a ser psicólogo. Embora esteja há pouco tempo na minha família, gostaria também de agradecer ao meu namorado - Igor Fernando – que mesmo estando longe fisicamente, sempre esteve muito presente em minha vida, colaborando nessa caminhada, com palavras de incentivo e carinho. Claro, que não poderia deixar de agradecer a minha orientadora, professora Profª Dra. Fernanda Ax Wilhelm, que desde o início sempre se mostrou muito solícita em me auxiliar na construção desta pesquisa, tendo muita paciência nas leituras e releituras durante esses dois semestres que se passaram. Obrigado por me ensinar a fazer pesquisa. Não poderia deixar de agradecer aos amigos que muito me ajudaram em algumas questões de formatação, Enzo e Renato, vocês são demais. Meu muito obrigado a tia Maria José (mãe da nis), que com muito carinho me auxiliou em um momento crucial ao longo da minha pesquisa. Por fim, agradeço as minhas amigas e futuras psicólogas que sempre me apoiaram, e que compartilharam diversos momentos de felicidades, angústias, risos e choros. Não poderia deixar de citar o nome de quatro meninas/mulheres que foram tão importantes nessa jornada – Nis Evangelista, Ingrid Isadora, Gabriela Santana e Rafaela Teixeira. “Somos o resultado na natureza, da vida, mas também, devido à nossa psicomotricidade, o resultado da nossa cultura, da nossa mente, da nossa consciência e do nosso pensamento.” (Vitor da Fonseca) RESUMO A psicomotricidade está presente em todas as etapas da vida, porém, para que possa ser melhor compreendida, o período da infância ganha destaque, uma vez que é nesta época em que as funções psicomotoras começam a se desenvolver, possibilitando à criança, a descoberta tanto do mundo externo, quando de seu mundo interno. Por volta dos quatro anos de idade é dada a entrada na educação infantil, etapa escolar fundamental para o desenvolvimento da criança a nível físico e mental. Sendo assim, o objetivo desta pesquisa foi verificar qual a percepção de oito professoras pré-escolares sobre a relação entre psicomotricidade e educação infantil. Para isso foi utilizado como instrumento um roteiro de entrevista semiestruturada com o propósito de verificar quais as percepções das professoras sobre o campo da psicomotricidade. A análise de dados foi feita por meio da construção apriorística de categorias, sendo escolhida a Análise de Conteúdo de Bardin, para apreciar os dados coletados. As categorias definidas foram: dados pessoais, dados profissionais, percepção das professoras sobre a relação entre psicomotricidade e educação infantil, atividades psicomotoras trabalhadas e aspectos dificultadores/facilitadores. Os dados coletados permitiram verificar que as professoras consideram que existe uma forte relação entre psicomotricidade e educação infantil. Quanto aos dados pessoais a média de idade foi de 30 anos. Todas são formadas em pedagogia, duas trabalham em escolas públicas e seis em escolas privadas. Quatro professoras possuem menos de um ano de formação, e uma completou há pouco tempo um ano de formada, ou seja, mais da metade das professoras estão atuando recentemente na educação infantil. Com relação ao contato com a temática de psicomotricidade, apenas uma professora afirmou não ter visto tal matéria durante a graduação, enquanto as demais afirmaram positivamente. Quanto a percepção das professoras sobre o conceito de psicomotricidade, apenas uma professora foi quem forneceu uma resposta que englobou o movimento, intelecto e afeto, enquanto outra fez uma ligação entre movimento e raciocínio. Já na categoria que se refere à percepção das professoras sobre a relação entre psicomotricidade e educação infantil, as respostas foram bem variadas, porém, somente duas professoras afirmaram que é por meio do lúdico que esta relação é concretizada, sendo realizadas diversas atividades dentro e fora da sala de aula. Quanto as atividades psicomotoras desenvolvidas na educação infantil, foi possível constatar que todas professoras tiveram dificuldades para conceituar certas funções psicomotoras, principalmente em relação a orientação espacial. Por fim, quanto aos aspectos facilitadores e dificultadores, foi possível perceber que as professoras de escolas privadas apresentam uma melhor condição para desenvolver atividades psicomotoras, pelo fato da escola proporcionar o material necessário, enquanto as professoras de escolas públicas afirmaram contar com a criatividade para lidar com a falta dos materiais. Palavras-chave: Psicomotricidade – Educação Infantil – Desenvolvimento Psicomotor – Funções Psicomotoras Básicas. ABSTRACT The psychomotricity skills is present at every stage of life, however, to be better understood, the period of childhood is emphasized, as it is this season in which psychomotor functions begin to develop, enabling the child to discover of both the external world when your internal world. By the fourth year old kids start kindergarten what is vital to the development of children with physical and mental level educational stage. Wherefore, the objective of this research is to ascertain the perception of kindergarten teachers about the relationship between motor skills and early kindergarten. To this was used as a semistructured interview script tool with purpose of verifying the teachers’ perceptions on psychomotricity status. The data analysis was done by construction of categories and subcategories, with selected Bardin Content Analysis, to apprize the data collected. The categories were defined: personal, professional skills, perception of teachers on the relationship between psychomotricity and early childhood education, psychomotor activities worked and hindering/facilitating factors. The data collected allowed us to verify that the teachers consider that there is a strong relationship between psychomotricity and kindergarten. Regarding personal data eight teachers were interviewed, in which they had in their 30s. All are graduate in pedagogy , two working in public schools and six of them in private schools . Four teachers are less than one year of training, and recently completed a year of formed , in the words , more than half of the teachers are recently working in kindergarten . In that case to contact with psychomotricity theme, only one teacher said he/she had not recognized the subject in his/her graduation , while the other stated positively. As teachers' perception about the concept of psychomotricity only was the teacher who gave an answer that contained movement, intellect and care, while teacher made a connection between movement and thought. In the category with respect to the perception of teachers on the relationship between psychomotricity and kindergarten, the answers were quite varied, however, only two teachers said it is through this playful relationship is achieved, many activities being carried inside and outside the classroom. As psychomotor activities in kindergarten, it was found that all teachers had difficulty conceptualizing some psychomotor functions, especially in relation to spatial orientation. Finally, as the facilitators and hindering aspects, it is noted that the teachers of private schools have better conditions to develop psychomotor activities, because the school provide the necessary material, while the teachers of public schools reported to have the creativity to deal with the lack of materials. These were some of the data collected during the field research. Keywords: Psychomotricity – Kindergarten - Psychomotor Development - Basic psychomotor functions. LISTA DE TABELAS TABELA 1 - Dados pessoais das professoras da educação infantil.........................................38 TABELA 2 – Dados relacionados a carreira profissional.........................................................39 TABELA 3 – Contato com a temática de psicomotricidade.....................................................40 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................... 11 1. ASPECTOS HISTÓRICOS DA PSICOMOTRICIDADE ....................................................................... 12 1.1 Diferentes concepções teóricas sobre psicomotricidade ao longo da história ......................... 12 2. PSICOMOTRICIDADE: CONCEITOS E FUNÇÕES BÁSICAS ......................................................... 15 2.1 As diferentes conceitualizações sobre psicomotricidade ................................................................... 15 2.2 Funções psicomotoras básicas: esquema corporal ............................................................................... 15 2.3 Funções psicomotoras básicas: imagem corporal ................................................................................. 17 2.4 Funções psicomotoras básicas: coordenação geral .............................................................................. 17 2.4.1 Funções psicomotoras básicas: coordenação motora-‐fina ........................................................ 17 2.4.2 Funções psicomotoras básicas: coordenação motora-‐ampla ................................................... 18 2.4.3 Funções psicomotoras básicas: coordenação visomotora ......................................................... 18 2.4.4 Funções psicomotoras básicas: coordenação audiomotora ..................................................... 19 2.4.5 Funções psicomotoras básicas: coordenação facial ..................................................................... 19 2.5 Funções psicomotoras básicas: lateralidade ............................................................................................ 19 2.6 Funções psicomotoras básicas: estruturação espacial ........................................................................ 20 2.7 Funções psicomotoras básicas: orientação temporal .......................................................................... 21 3. JEAN LE BOULCH E O ESTUDO SOBRE PSICOMOTRICIDADE ................................................. 22 3.1 Desenvolvimento psicomotor da criança de acordo com a obra de Le Boulch ......................... 22 3.1.1 Evolução psicomotora até os três anos de acordo com Le Boulch ......................................... 22 3.1.2 A evolução psicomotora dos três aos seis anos de acordo com Le Boulch ......................... 23 4. PSICOMOTRICIDADE E EDUCAÇÃO INFANTIL .............................................................................. 27 4.1 A inserção da psicomotricidade na educação infantil de acordo com as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil ................................................................................................................ 27 4.2 Modalidade de intervenção psicomotora: educação psicomotora ................................................. 28 5. REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA NOS DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM ............................. 30 5.1 Reeducação psicomotora dos distúrbios da aprendizagem: dislexia ............................................ 30 5.2 Reeducação psicomotora dos distúrbios da aprendizagem: disortografia ................................. 30 5.3 Reeducação psicomotora dos distúrbios da aprendizagem: disgrafia ......................................... 31 6. MÉTODO .......................................................................................................................................................... 32 6.1 Sujeitos ..................................................................................................................................................................... 32 6.2 Instrumentos, fontes de informação e equipamentos utilizados .................................................... 32 6.2.1 Instrumento ................................................................................................................................................... 32 6.2.2 Fontes de informação ................................................................................................................................ 33 6.2.3 Equipamentos utilizados ....................................................................................................................... 33 6.3 Teste do instrumento ......................................................................................................................................... 34 6.4 Contato com as professoras da educação infantil .................................................................................. 34 6.5 Situação e ambiente ............................................................................................................................................ 35 6.6 Aplicação dos instrumentos ............................................................................................................................ 35 6.8 Procedimento de análise: Análise de Conteúdo ......................................................................................36 6.8.1 Fase de pré-‐exploração do material .................................................................................................... 36 6.8.2 A seleção das unidades de análise ................................................................................................... 36 6.8.3 O processo de categorização ............................................................................................................... 36 7 CARACTERIZAÇÃO DAS PROFESSORAS ENTREVISTADAS ....................................................... 38 7.1 Categoria 1 – Dados Pessoais das Professoras ........................................................................................ 38 7.1.1 Sexo e Idade ................................................................................................................................................... 38 7.2 Categoria 2 – Dados Profissionais das Professoras ............................................................................... 38 8 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS .................................................................................................................. 42 8.1 Categoria 3 -‐ Percepção das professoras sobre o conceito de psicomotricidade .................... 42 8.1.1 Conceito de psicomotricidade para as professoras da educação infantil ........................... 42 8.2 Categoria 4 -‐ Percepção das professoras sobre a relação entre psicomotricidade e educação infantil .......................................................................................................................................................... 44 8.2.1 Psicomotricidade versus educação infantil ................................................................................ 44 8.3 Categoria 5 – Atividades psicomotoras desenvolvidas pelas professoras .................................. 46 8.3.1 Trabalhando a lateralidade na educação infantil .................................................................... 46 8.3.2 Trabalhando o esquema corporal na educação infantil ....................................................... 47 8.3.3 Trabalhando a orientação temporal na educação infantil .................................................. 51 8.3.4 Trabalhando a coordenação motora-‐ampla na educação infantil ................................... 52 8.3.5 Trabalhando a coordenação motora-‐fina na educação infantil ........................................ 54 8.3.6 Trabalhando o equilíbrio na educação infantil ......................................................................... 54 8.3.7 Outras atividades psicomotoras desenvolvidas na educação infantil .......................... 55 8.4 CATEGORIA 6 – ASPECTOS DIFICULTADORES E FACILITADORES ............................................... 55 8.4.1 Aspectos que facilitam o desenvolvimento de atividades psicomotoras na educação infantil ................................................................................................................................................... 56 8.4.2 Aspectos que dificultam o desenvolvimento de atividades psicomotoras na educação infantil ................................................................................................................................................... 56 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................... 58 10. REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................ 60 ANEXO ................................................................................................................................................................... 62 APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e esclarecido ...................................................... 64 APÊNDICE B – Roteiro de Entrevista Semiestruturada ................................................................... 66 11 INTRODUÇÃO Esta pesquisa, que tem como título “Psicomotricidade e educação infantil: percepção das professoras pré-escolares” foi desenvolvida primeiramente como projeto ao longo do semestre 2013.1, no curso de Psicologia da Universidade Federal de Roraima, na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso – TCC 1. Tendo desde o início, como principal objetivo, verificar qual a percepção das professoras pré-escolares, sobre a relação entre psicomotricidade e educação infantil. Ou seja, a finalidade principal desta pesquisa foi verificar quais as percepções das professoras pré-escolares sobre o campo da psicomotricidade, e de que maneira ela pode vir a ser utilizada durante a educação infantil, pois, os professores que apresentam conhecimentos a respeito desta área poderão atuar de maneira benéfica sobre o desenvolvimento psicomotor de todos os seus alunos, refutando a ideia de que este campo somente realiza trabalhos com crianças que já apresentam algum tipo de patologia instalada ou algum atraso motor (OLIVEIRA, 2012). Para isto foi criado e utilizado como instrumento um roteiro de entrevista semiestruturada, aplicado na pesquisa de campo que teve início durante a disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso – TCC 2, após o projeto ter sido enviado para a Plataforma Brasil1 (Anexo), sendo em seguida aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Roraima. Para uma maior compreensão da temática, foram realizadas buscas na literatura sobre estudos que demonstram a importância da psicomotricidade no desenvolvimento infantil e sobre o papel do professor na elaboração de atividades que proporcionem a educação psicomotora, trabalhando aspectos de prevenção e promoção. Estes serão alguns dos pontos discutidos ao longo do trabalho. 1 Número: CAAE - 23788813.4.0000.5302 12 1. ASPECTOS HISTÓRICOS DA PSICOMOTRICIDADE 1.1 Diferentes concepções teóricas sobre psicomotricidade ao longo da história A história da psicomotricidade está intimamente ligada a evolução da espécie humana, tendo sua origem na resposta adaptativa para a sobrevivência e evolução da espécie. Buscando uma compreensão filogenética da psicomotricidade, é possível perceber que a motricidade, conceituada como uma característica fundamental de todos os seres vivos, que permite a adaptação ao meio natural, é a expressão de três cérebros unificados, conhecido como cérebro triúnico, composto pelo paleoencéfalo, mesencéfalo e o telencéfalo, este último, responsável por uma motricidade intencional, própria do ser humano, ou seja, psicomotora (FONSECA, 2005). Mas, para esta compreensão ser alcançada, outras teorias foram formuladas e diferentes concepções sobre o corpo e movimento surgiram, como a apresentada por Descartes no século XVII na qual o corpo era compreendido apenas como um depósito da alma sendo movido por esta. Durante o séculoXIX com o avanço da neurofisiologia, são realizados estudos voltados para os distúrbios da atividade gestual, buscando todas as respostas em alguma área do sistema nervoso, ideia que fora refutada, pois a partir de outros estudos se percebeu que nem todos os danos motores eram correspondentes a alguma parte anatômica (LEVIN, 2009). Foi Tissié, médico, que tratou pela primeira vez um jovem portador de instabilidade mental com impulsividade mórbida, por meio de uma “ginástica médica”, na qual eram realizadas atividades físicas, como boxe e passeios de bicicleta, sendo trabalhada a coordenação motora, equilíbrio e outros aspectos psicomotores. Por meio destas práticas buscava-se um domínio do movimento tendo como consequência um equilíbrio da razão. Outro importante estudioso que contribuiu para o avanço da psicomotricidade foi Charcot que desenvolveu estudos sobre hipnose, demonstrando por meio dos pacientes atendidos, que a melhora dos sintomas era alcançada por meio de palavras e atos motores (FONSECA, 2008). No entanto, foi com Dupré em 1909, que a psicomotricidade ganhou destaque, pois este provou que a debilidade motora poderia ocorrer sem ter uma correspondência direta com questões neurológicas, e que também não havia uma relação entre debilidade motora e debilidade mental. Alguns anos depois, em 1925, as ideias de Wallon começam a se difundir, 13 e este, diferentemente de Dupré, não faz tantas referências da psicomotricidade com a inteligência, mas sim com questões afetivas, fundamentais para o desenvolvimento da personalidade humana (LEVIN, 2009). Para Wallon, a motricidade mais a ação contribuirão para a construção do psiquismo e da percepção, porém, para que esta motricidade se desenvolva em ótimos níveis, é necessária que esta criança sinta determinadas cargas afetivas, provenientes de seus responsáveis. Logo, o movimento tem um significado de relação e interação afetiva com o mundo exterior, pois é a expressão material, concreta e corporal de uma dialética subjetiva-afetiva que projeta a criança no contexto da sociogênese (WALLON, 2007). Quanto à prática psicomotora, esta teve início com Guilmain em 1935, por meio da avaliação psicomotora percebeu que era possível estabelecer diagnósticos, terapêuticas e prognósticos, sendo considerado um inovador. Mas com o avanço dos estudos relacionados à psicomotricidade, principalmente com Ajuriaguerra na década de 1960, a terapêutica psicomotora deixa de ser exclusivamente motora, ocupando-se do corpo em sua globalidade, dando-se maior importância as questões afetivas e emocionais (Levin, 2009). De acordo com Barreto e Falcão (2009), no Brasil a psicomotricidade tem seu registro em documentos que datam dos anos de 1950, nos quais há relatos de trabalhos desenvolvidos por meio dos movimentos junto às crianças consideradas excepcionais que apresentavam distúrbios psiconeurológicos. No ano de 1951, foi introduzida a disciplina de psicomotricidade na Faculdade de Logopedia da Universidade Federal do Rio de janeiro, na qual os alunos recebiam a formação por renomados professores franceses a argentinos. Mas, foi em 1968 que a psicomotricidade passou a ser difundida no Brasil, sendo utilizada nas escolas especializadas principalmente como um recurso pedagógico para ser utilizado nas escolas especiais. Mas, apenas em 1984 no Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação que é aberto o primeiro curso de formação em psicomotricista, em nível de graduação, atualmente aprovado pelo MEC. Logo, devido as várias influências que a psicomotricidade recebeu ao longo da história, Fonseca (2008, p. 29) afirma que: Em psicomotricidade, o corpo não é entendido como fiel instrumento de adaptação ao meio envolvente ou como instrumento mecânico que é preciso educar, dominar, comandar, automatizar, treinar ou aperfeiçoar; pelo contrário, o seu enfoque centra-se na importância da qualidade relacional e na mediatização, visando à fluidez eutônica, à segurança gravitacional, à estruturação somatognósica e à organização práxica expressiva do indivíduo. Privilegia a totalidade do ser, a sua dimensão prospectiva de evolução e a sua unidade psicossomática, por isso está mais próxima da neurologia, da 14 psicologia, da psiquiatria, da psicanálise, da fenomenologia, da antropologia, etc. Portanto, pode-se perceber que a psicomotricidade foi amplamente estudada ao longo dos tempos, e não somente por uma disciplina, mas sim por várias, sendo enriquecida na teoria e na prática. No que se refere ao seu uso no âmbito escolar, foi com Le Boulch (1966, apud BARRETO & FALCÃO, 2009) que a psicomotricidade se voltou para a educação infantil, com o objetivo de sensibilizar os professores, sobre os benefícios de uma educação psicomotora capaz de proporcionar um reajuste à criança inadaptada, dando-lhe condições de vivenciar de maneira plena o período escolar. Ou seja, os primeiros trabalhos desenvolvidos nas escolas, eram direcionados para as crianças que apresentavam alguma dificuldade psicomotora já instalada. Mas a intervenção psicomotora atualmente possui um aspecto preventivo, pois, auxilia na redução de atrasos psicomotores que podem atuar diretamente sobre questões ligadas as dificuldades de aprendizagem, má adaptação social e baixa autoestima (BARRETO et. al., 2012; FONSECA, 2005). Portanto, quem é o profissional responsável por desenvolver atividades que trabalhem os aspectos psicomotores durante a educação infantil? Será o professor pré-escolar? Estas perguntadas serão respondidas ao longo do trabalho. 15 2. PSICOMOTRICIDADE: CONCEITOS E FUNÇÕES BÁSICAS 2.1 As diferentes conceitualizações sobre psicomotricidade De acordo com Negrine (1995, apud BARRETO, 2000) a etiologia da palavra psicomotricidade tem sua origem no termo grego psyché, que significa alma, e no verbo latino moto cujo significado é mover frequentemente, agitar fortemente. Barreto (2000), também afirma que a psicomotricidade está relacionada aos atos voluntários, ocorrendo graças aos movimentos dos músculos estriados esqueléticos, mas também levando-se em consideração os aspectos afetivos, motrizes, cognitivos e sociais. Para este autor “a psicomotricidade é o relacionar-se através da ação, como um meio de tomada de consciência, de unificação do Ser, que é corpo-mente-espírito-natureza-sociedade. É a solidariedade original e profunda entre o pensamento e a ação” (BARRETO, 2000, p.19). Segundo Fonseca (2005), deve-se entender a psicomotricidade como a inseparabilidade do movimento e da vida mental, pois, para este autor a motricidade do ser humano encontra-se cada vez mais organizada e consciencializada. Ou seja, tanto Barreto como Fonseca, afirmam que o entendimento a cerca do que é a psicomotricidade, não deve ter um aspecto dualista como mente versus corpo, mas sim uma unificação entre estas estruturas, pois todo movimento seja intencional ou não, carrega uma certa quantidade de afeto. Um bom desenvolvimento psicomotor poderá favorecer e ser favorecido pelas funções consideradas básicas da psicomotricidade, como: esquema corporal, imagem corporal, lateralidade, coordenação geral e orientação espaço-temporal. Por este motivo, a seguir será feita uma breve explanação sobre o entendimento encontrando na literatura, a respeito de algumas funções psicomotoras básicas. 2.2 Funções psicomotoras básicas: esquema corporal De acordo com Alves (2008) o desenvolvimento do esquema corporal ocorre nos primeiros anos de vida, por meio da relação sujeito-ambiente, passando por três fases, na seguinte ordem: corpo vivido (até três anos de idade); corpo percebido ou descoberto (três a sete anos); corpo representado (sete a 12 anos). A primeira fase corresponde ao período da inteligência sensório-motora de Piaget, na qual a criança imitará os sujeitos a sua volta,e apresentará um interesse enorme pelos objetos, no final desta fase começa a se perceber como um ser diferenciado do ambiente. Na segunda fase passa a ter o seu corpo como ponto de 16 referência para se situar e situar os objetos, assimilando noções temporais como antes e depois, e de espaço como acima e embaixo. Na última fase, que tem início aos sete anos, será o momento em que ocorrerá a estruturação do esquema corporal, na qual a criança terá completo conhecimento e controle de todas as partes de seu corpo (ALVES, 2008; BARRETO, 2000; OLIVEIRA, 2012). Mas, até chegar a estruturação definitiva do esquema corporal, será necessário que o indivíduo receba os estímulos adequados do ambiente que o cerca, ocorrendo uma modificação do seu mundo interior. O toque dos pais, o contato com objetos, as atividades desenvolvidas na escola, todos estes são estímulos que podem contribuir para o desenvolvimento do esquema corporal, fazendo com que a criança se perceba como um ser único, diferenciado do ambiente, e possuidor de um Eu corporal (ALVES, 2008). As brincadeiras da infância são percebidas como cruciais para o desenvolvimento de tal esquema. O brincar da criança estimulará uma maior autonomia desta sobre os movimentos do seu corpo, pois ao obedecerem comandos verbais como “pule”, “corra” e “pare”, por exemplo, treinarão e aperfeiçoarão os seus movimentos (BARRETO et. al. 2012). De acordo com Vayer (1984, apud ALVES, 2008), todas as sensações percebidas pelas crianças, como dor, alívio e tensão, são necessárias para que ela sinta e reconheça seu corpo. Mas, ainda segundo este autor, tão importantes quanto os estímulos fisiológicos, estão também os estímulos a níveis sociais, ou seja, os valores que a sociedade impõe sobre o corpo, influenciam de maneira significativa na maneira como o indivíduo se relacionará com o corpo que possui. Portanto, o esquema corporal pode ser compreendido, segundo Barreto (2000, p. 54) como: É uma organização psicomotriz global, compreendendo todos os mecanismos e processos dos níveis motores, tônicos, perceptivos sensoriais e expressivos (verbais e extraverbais), processos nos quais e pelos quais o aspecto afetivo está constantemente investido. É o resultado da experiência do corpo, da qual normalmente o indivíduo toma pouca consciência, é a forma de relacionar-se com o meio por suas próprias possibilidades. É o elemento básico, indispensável na criança para construção de sua personalidade. É a representação mais ou menos global, mais ou menos específica e diferenciada que ela apresenta de seu próprio corpo. Mas, durante o processo de desenvolvimento do esquema motor, existem outras funções que devem ser trabalhadas ao longo da infância, como a imagem corporal que será explicada a seguir. 17 2.3 Funções psicomotoras básicas: imagem corporal A imagem corporal começa a se estabelecer na criança por volta dos dois anos, quando esta é capaz de se diferenciar por completo do ambiente externo. A imagem corporal deve ser compreendida como um processo subjetivo que influencia nos sentimentos que o sujeito terá pelo seu corpo, sendo construída ao longo da infância na díade criança-ambiente. A sua imagem permite-lhe perceber como um eixo central, auxiliando no desenvolvimento da lateralidade. Para Alves (2008, p.22) “a absoluta imagem do corpo é função da organização das emoções, o que naturalmente implica e exige a relação com o outro, isto é, implica um determinado tempo e momento”. Ou seja, a imagem corporal da criança é completada na imagem do corpo do outro. 2.4 Funções psicomotoras básicas: coordenação geral De acordo com Oliveira (2012), a coordenação global se refere às atividades desenvolvidas pelos grandes músculos, sendo desenvolvida na criança desde os primeiros anos de vida. Mas para que estas ocorram, é necessário que o sujeito tenha um bom equilíbrio, este é adquirido graças a movimentação e experimentação que possibilitam a tomada do eixo corporal. Ou seja, há uma relação causal, quanto maior for o equilíbrio, melhor será a coordenação. Conforme Alves (2008) uma boa coordenação geral dos movimentos se caracteriza por ser executada de maneira precisa, ocorrendo uma harmonia perfeita de jogos musculares em repouso e movimento, chamados de coordenação estática (realizado em repouso) e coordenação dinâmica (realizado em movimento). Portanto é necessário que seja oferecida à criança oportunidades de movimentos coordenados, para que ocorra um bom desenvolvimento da coordenação motora geral. De acordo com Alves (2008), existem cinco tipos de coordenação motora (coordenação motora- fina, coordenação motora-ampla, coordenação visomotora, coordenação audiomotora, coordenação facial). 2.4.1 Funções psicomotoras básicas: coordenação motora-fina Como referido anteriormente, esta função se caracteriza como um aspecto particular 18 da coordenação global, que se refere a habilidade de destreza manual, na qual o sujeito desenvolve diferentes maneiras de pegar em um objeto, por exemplo, o movimento de pinça. Oliveira (2012), afirma que a mão acaba por ser um dos membros mais úteis para a descoberta do mundo. Sendo assim, esta coordenação pode ser definida como segmentar, na qual o movimento deve ser exercido com precisão para que tarefas complexas possam ser realizadas (ALVES, 2008; OLIVEIRA, 2012). Mas é por volta dos quatro anos que a criança começa a apresentar movimentos de pinça intencionais, como por exemplo o desenhar, capaz de ser realizado devido a capacidade de simbolização da criança. 2.4.2 Funções psicomotoras básicas: coordenação motora-ampla No que concerne a coordenação motora-ampla está presente a coordenação dos grandes músculos, como braços e pernas. Nos primeiros anos de vida a criança realiza movimentos simétricos que com o tempo serão realizados separadamente (ALVES, 2008; FÁTIMA, 2009). Mas, para que ocorra uma coordenação global harmônica, é necessário que exista um equilíbrio geral entre os membros do corpo. Os órgãos responsáveis por este equilíbrio são o cerebelo e o labirinto, quando afetados por alguma lesão neurológica, esta coordenação se encontra comprometida (LE BOULCH, 1982). Por volta dos quatro anos, na pré-escola que a criança começa a ter um maior controle de seu corpo, por meio de brincadeiras que facilitem este processo. 2.4.3 Funções psicomotoras básicas: coordenação visomotora Esta se refere a capacidade de coordenar a visão ao movimento, por exemplo, aquela deve ser capaz de acompanhar os movimentos das mãos em direção a um determinado objeto, simultaneamente, surgindo por volta dos três anos de idade. Caso exista uma falha nessa coordenação, a criança poderá apresentar dificuldades na escola (ALVES, 2008). De acordo com Oliveira (2012), a coordenação visomotora, que também pode ser chamada de oculomanual, é essencial para a aquisição da escrita, instrumento fundamental na aquisição de outros novos conhecimentos escolares, sendo assim, o não desenvolvimento desta função psicomotora básica pode trazer dificuldades para criança em nível de leitura e escrita, influenciando diretamente no seu desempenho escolar. 19 2.4.4 Funções psicomotoras básicas: coordenação audiomotora Este tipo de coordenação pode ser compreendida como a capacidade do ser humano em transformar em movimentos um comando sensibilizado pelo aparelho auditivo (ALVES, 2008). Esta função pode ser desenvolvida e aperfeiçoada em atividades que envolvam dança e música, pois estas proporcionam movimentos corporais criativos e expressivos, começa a ser desenvolvida a partir dos quatro anos de idade. 2.4.5 Funções psicomotoras básicas: coordenação facial Esta coordenação segundo Rill (1984 apud ALVES, 2008) é muito importante, pois está presente no ser humano antes que a linguagem esteja estabelecida, sendopor meio dela que ocorrem as primeiras comunicações, por meio de gestos e olhares. Os movimentos de sucção, mastigação e deglutição, são pré-requisitos para que a linguagem verbal venha a ser instalada. 2.5 Funções psicomotoras básicas: lateralidade A lateralidade é compreendida como a prevalência motora de um dos lados do corpo, sendo verificada pelo domínio de umas das mãos, pés e olhos, e isto ocorre devido a uma dominância de um dos hemisférios cerebrais em relação ao outro. Caso a criança tenha o hemisfério cerebral esquerdo maior que o direito, será destra, caso ocorra o contrário, será canhota. Nos casos em que esta prevalência não está clara, o sujeito é chamado de ambidestro (ALVES, 2008). Para Oliveira (2012), o lado dominante apresenta maior força muscular, precisão e rapidez, executando as ações principais, sendo auxiliado pelo outro lado do corpo, que é tão importante quanto o outro, funcionando de maneira complementar. A dominância lateral ocorre em três níveis: mão, olho e pé. A dominância ocular pode ser percebida quando se fura um cartão e pede-se que o sujeito olhe por ele, o olho escolhido normalmente é o dominante. Quanto às mãos, pode-se perceber a dominância dando um desenho para a criança pintar, a mão que segurar o lápis indicará a dominância. Quanto aos pés, pode-se solicitar ao sujeito 20 que permaneça imóvel sobre uma perna, aquela que conseguir permanecer por mais tempo, provavelmente será a perna dominante. De acordo com Alves (2008, p. 64) “deve-se considerar como de grande importância no desenvolvimento infantil a coordenação visomotora, a organização das percepções táteis e visuais, através de experiências que desenvolvam sua estruturação espacial, da qual dependerá a lateralização”. Ou seja, a criança deve receber diversos estímulos que atuem não apenas em relação a lateralidade, mas também sobre as outras estruturas como esquema corporal, coordenação motora e equilíbrio. A lateralização também pode ser considerada como a base para estruturação espacial. Para Le Bouch (1982), a lateralidade por volta dos dois e três anos ainda encontra-se flutuante, sendo necessário que a criança seja estimulada a realizar exercícios que a auxiliem na definição da dominância lateral. 2.6 Funções psicomotoras básicas: estruturação espacial Em relação a este conceito, entende-se por estruturação espacial, a capacidade do sujeito de situar a si próprio e os outros no espaço. Mas para que isto ocorra, é necessário que a estruturação espacial passe pelas seguintes etapas: primeiro a criança deve ser capaz de se diferenciar do mundo, tornando-se um sujeito no espaço; segundo, é necessário que perceba a posição dos objetos em relação a si mesma; terceiro, ser capaz de perceber as noções de posições dos objetos entre si, todas estas capacidades começam a surgir a partir dos três e quatro anos de idade (ALVES, 2008; LE BOUCH, 1982). Para Fonseca (2005, 2008, 2012) nos primeiros meses de vida, a criança é totalmente dependente da motricidade das outras pessoas no que se refere as possibilidades de se deslocar no ambiente. No entanto, quando começa a engatinhar, e em seguida marchar, o ambiente passa a ser explorado de maneira intensa, sendo cercada de informações e orientações como longe, perto, acima e abaixo. Mas é a partir dos quatro anos que a criança começa a ter uma maior noção das questões espaciais, no momento em que passa a ter um maior autoconhecimento do seu corpo, aprendendo por exemplo que os olhos estão ao lado do nariz, e que este está acima de sua boca. As brincadeiras infantis também são consideradas importantes nesta época, pois no contato com outras crianças, irá auxiliar na compreensão de fileiras, rodas e duplas. Logo, a criança precisa se mover, pois necessita perceber seu corpo, para melhor perceber o espaço (ALVES, 2008). 21 2.7 Funções psicomotoras básicas: orientação temporal Este tipo de orientação é essencial para a vida de qual pessoa, pois por meio do ritmo a criança conseguirá, por exemplo, ter domínio sobre a escrita, tendo noção de ordenação e sucessão das letras; na própria fala do sujeito, esta noção permitirá que as histórias possam ser contadas seguindo uma ordem cronológica, com início, meio e fim. Por meio da aquisição da noção temporal é que a criança conseguirá aprender noções de tempo como hoje, amanhã, noite e dia, permitindo a compreensão do que seja o passado e o futuro (ALVES, 2008). Porém, para que ocorram todas essas aquisições temporais, a participação e influência do ambiente é fundamental, pois segundo Alves (2008, p.75) “Desde o nascimento, os ritmos corporais devem ajustar-se às condições temporais impostas pelo ambiente, levando a uma organização de ritmicidade na sintonização. Depois do nascimento, a repetição rítmica reforça o movimento”. Ou seja, mais uma vez se percebe a forte influência que o meio exerce sobre a psicomotricidade humana. De acordo com Alves (2008) existem dois tipos de tempos, o subjetivo e o objetivo, o primeiro é criado por cada sujeito, variando conforme a atividade e o momento, e o segundo é o tempo matemático, sempre idêntico. Para que o tempo objetivo seja desenvolvido na criança, por volta dos quatro anos, é necessário que a família e a escola auxiliem, e isto ocorre no momento em que são estabelecidos horários de hábitos como almoçar, lanchar, brincar, estudar, dormir, etc. O conhecimento em relação aos dias da semana, meses e estações do ano, devem ser ensinados paras crianças, pois aos poucos elas serão capazes de assimilar tais conceitos. Outro conceito que interfere constantemente na orientação temporal é o ritmo, que pode ser dividido em motor, auditivo e visual. Em relação ao primeiro (motor), é necessário que a criança já tenha desenvolvido uma boa coordenação global, pois este se refere ao movimento do organismo que se realiza em um intervalo de tempo constante, quanto ao segundo (auditivo), será desenvolvido em associação com um movimento, está presente nas danças e no canto, e o terceiro (visual) envolve a capacidade de perceber o ambiente em movimento (ALVES, 2008). 22 3. JEAN LE BOULCH E O ESTUDO SOBRE PSICOMOTRICIDADE 3.1 Desenvolvimento psicomotor da criança de acordo com a obra de Le Boulch Jean Le Bouch é um autor renomado no campo da psicomotricidade, sendo constantemente citado por diversos autores (OLIVEIRA, 2012; FONSECA, 2005; BARRETO, 2000) que desenvolvem estudos relacionados ao desenvolvimento psicomotor infantil, e por este motivo, este capítulo foi esenvolvido com base em sua obra intitulada “O desenvolvimento psicomotor do nascimento até seis anos, a psicocinética na idade pré-escolar” de 1982. Esta obra é um importante referencial teórico em informações sobre psicomotricidade e desenvolvimento infantil, no qual a primeira parte é dedicada especificamente a evolução psicomotora até os três anos, e a segunda, que mais interessa a este trabalho, refere-se a evolução psicomotora dos três aos seis anos de idade, pois abarca as idades de quatro e cinco anos, período em que as crianças estão a frequentar a pré-escola. Logo, será feito um resgate teórico de sua obra, dando maior ênfase a segunda etapa supracitada. 3.1.1 Evolução psicomotora até os três anos de acordo com Le Boulch Para Le Boulch (1982), a motricidade está presente na vida do ser humano desde antes de seu nascimento, ainda enquanto embrião, pois mesmo sem a presença de estímulos sensoriais externos, este apresenta funções musculares. Mas, a partir do momento em que a criança nasce, é envolvida por estímulos externos, tendo que passar por um processo de adaptação, no qual o tônus e o afeto, desempenham um papel fundamental. Estes, encontram- se interligados, e de acordo com Le Boulch (1982), até os sete meses, o tônus muscular é responsável por traduzir a vivência emocionaldo organismo. A princípio o tônus é fortemente influenciado por espasmos viscerais, surgindo principalmente nos momentos de fome, no qual há uma grande agitação motora, seguido de hipotonia após a alimentação, levando o bebê a adormecer, depois de estar completamente satisfeito. Le Boulch (1982) afirma, que durante o período que vai até os sete meses, é essencial que a criança seja tocada, que sua região cutânea seja constantemente estimulada, sendo a 23 mãe, a principal responsável por exercer tal atividade. Para este autor “o estado tônico do recém-nascido traduz seu estado mental, pode-se afirmar que, através do intercâmbio tônico, o funcionamento psíquico da mãe induz o funcionamento da criança” (LE BOULCH, 1982, p. 48). Ou seja, ocorre uma verdadeira simbiose, no qual motricidade e afeto andam lado a lado. Porém, aos oito meses, Le Boulch (1982) afirma que a simbiose entre mãe e bebê é rompida, e esta passa a perceber aquela como um objeto no mundo. Neste novo período, intitulado de estágio objetal, é que a afetividade começa realmente a ser intencional, sendo representada por mímicas, reações posturais e gestuais, ajustadas cada vez mais ao ambiente. As atividades sensoriais táteis começam a dar início a substituição da boca, como principal meio de conhecer o mundo, ocorrendo por volta do décimo mês um aperfeiçoamento das praxias. Por volta dos 12 a 14 meses a criança entra no período da marcha, sendo necessário para sua execução um equilíbrio geral, que irá desenvolver-se quanto mais a criança andar. Com essa nova aquisição, a criança passa a explorar o ambiente, apresentando um comportamento intencional, que ajudará na multiplicação das praxias. Por volta dos 18 meses, durante o processo de exploração do ambiente, a criança começa a perceber os objetos como permanentes, estando presentes no espaço e em um dado tempo, esta percepção desenvolverá na criança, as primeiras estruturas de esquema espacial e temporal. Por volta dos dois anos de idade, os movimentos corporais são sucessivamente substituídos pela verbalização, que segundo Le Boulch (1982) surge como consequência do desenvolvimento psicomotor, pois para comunicar-se com o outro a criança é obrigada a gesticular seu aparelho fonológico, no qual a motricidade se faz presente. Mas, é a partir dos três anos, ao fim do chamado corpo vivido, que a criança finalmente reconhece o seu corpo como objeto, sentindo-o cada vez mais como indivisível. O enriquecimento do seu repertório práxico, auxilia nesse reconhecimento corporal e na apropriação do espaço, proporcionando a criança o início da descoberta do seu EU (LE BOULCH, 1982). Logo, ao fim deste período, o ambiente que tanto fora explorado, cederá lugar ao próprio corpo da criança como mais novo objeto de curiosidade e investigação, iniciando-se assim a estruturação do esquema corporal. 3.1.2 A evolução psicomotora dos três aos seis anos de acordo com Le Boulch Aos três anos a criança tende a iniciar uma nova etapa de exploração e descobertas, tendo sua atenção e curiosidade voltadas para um maior reconhecimento corporal, e uma maior independência do ego. É graças a função de interiorização que a criança é capaz de 24 deslocar sua atenção para o próprio corpo, dando início a estruturação do esquema corporal, etapa importante na evolução da imagem do corpo, e de inserção na realidade. Quanto ao respeito ao plano afetivo, Le Boulch (1982), afirma que neste período de pré-escola há dois processos que caracterizam esta etapa, um correspondendo a estruturação do espaço que permite a passagem do espaço topológico ao espaço euclidiano, e o outro que se refere a percepção das diferentes partes do corpo, ocorrendo uma inter-relação entre estes dois por meio da capacidade de representação mental. Ou seja, a aquisição do espaço se dará por meio de uma maior compreensão das dimensões do próprio corpo e de duas partes, pois o reconhecimento das dimensões corporais auxiliará no entendimento das dimensões espaciais. Mas, como ocorre precisamente o desenvolvimento motor da criança a partir dos três anos? De acordo com Le Boulch (1982), a criança que vive em um ambiente afetuoso, tendo responsáveis que não superprotejam ou deixem-na livre demais, terá uma motricidade espontânea e harmoniosa, apresentando um bom equilíbrio, coordenação e ritmo. Neste estágio a criança passa a dirigir intencionalmente suas ações para um fim determinado, estas serão realizadas com segurança ou não, dependendo das vivências corporais experienciadas pela criança anteriormente. A partir dos quatro anos, a criança começa a perceber de maneira mais consciente os impactos de seus comportamentos sobre outras pessoas, passando a ter atitudes cada vez mais intencionais. É nesta época da idade pré-escolar, que a criança também começará a desenvolver a motricidade gráfica, que será desenvolvida ao passo que ocorre uma evolução perceptiva e a compreensão de atividade simbólica. Isto permite que a criança seja capaz de representar por meio de signos convencionais, figuras geométricas, letras, culminando com a escrita. Para Le Boulch (1982), o desejo de criar traços é anterior ao uso do lápis propriamente dito, ou seja, a área perceptiva já se apresenta bem desenvolvida, sendo percebida quando a criança usa de materiais que estejam ao seu alcance para criar traços em lugares como por exemplo o chãos e paredes, enquanto a área motora, mais especificamente a que corresponde a capacidade gráfica, esta ainda está em processo de desenvolvimento. Mas, por volta dos quatro anos, estas duas áreas, perceptivo e motora, entrarão em articulação. Em relação a lateralidade, para Le Bouch (1982), entre os dois e três anos a prevalência é flutuante, sendo necessária realização de atividades práxicas que permitam a fixação e estabilização da dominância lateral. De acordo com este autor, deve-se oferecer a criança a possibilidade de organizar suas atividades motoras globais, colocando-a em melhores condições para constituir uma lateralidade homogênea e coerente. Todo este estágio é chamado pelo autor como sendo narcisista, pois a fase 25 correspondente ao amor objetal que une a criança a sua mãe, espécie de simbiose, chega ao fim. Antes a criança possuía apenas imagens parceladas de seu corpo, advindas de sensações cinestésicas das zonas erógenas, mas a partir de agora, a libido narcisista tem por objeto um corpo global. De acordo com Le Boulch (1982, p.97) “a tendência agora não é mais de assimilar os sentimentos e atitudes de outra pessoa, mas sim, de preferência, de opor-se para afirmar sua personalidade nascente”, com isto o autor demonstra que a criança desde muito cedo luta para se posicionar como um ser no mundo, possuindo seus próprios sentimentos e desejos. Esta luta em tentar se firmar, dará a criança a possibilidade de explorar cada vez mais o seu corpo, tendo como consequência a construção de uma imagem visual do mesmo, que segundo Le Boulch (1982) pode ser percebida por meio de duas provas, o desenho da figura humana e a utilização de puzzles. Em relação a primeira prova, somente por volta dos seis – sete anos é que ocorre uma tradução por meio do grafismo da imagem visual do corpo de uma maneira global, com precisão de detalhes, quanto a segunda prova, a idade na qual é efetuada com sucesso coincide com a primeira, a criança é capaz de preencher uma prancha vazia que representa um corpo humano. Vale lembrar, que como foi dito anteriormente, é por volta dessa idade que o esquema corporal encontra-se desenvolvido. Nesta perspectiva a relação corpo-tempo, Le Boulch (1982), trás em sua obra que a dimensão temporal exerce um papel muito importante do desenvolvimento psicomotor da criança, uma vez que está presente desde antes do nascimento, durante a embriogênese. Mas, a partir do momento em que a criança nasce, o seu ritmo devese ajustar a temporalidade que é imposta pelo ambiente. Caso esse ajustamento não ocorra, a inabilidade rítmica será uma consequência. De acordo com este autor, os fenômenos rítmicos que são vivenciados pelo corpo como a voz humana e a música, têm uma repercussão emocional muito intensa na criança, e ainda auxiliarão no reforçamento de movimentos, dando a estes uma melhor coordenação. Portanto, se a evolução psicomotora ocorrer de maneira positiva, a criança de três anos deve começar a apresentar uma motricidade global bem organizada temporalmente, o que é fundamental para o seu ajustamento ao meio, influenciando não apenas no plano motor, mas também em nível de linguagem, uma vez que a fala se apresenta em um dado ritmo e tempo. Por fim Le Boulch (1982) tece algumas considerações sobre a relação corpo-espaço. De acordo com o autor “o espaço é o primeiro lugar ocupado pelo corpo e no qual se desenvolvem os movimentos do corpo” (LE BOULCH, 1982, p. 118), ou seja, é no espaço que ocorre o desenvolvimento de todos os seres humanos, e por meio do desenvolvimento 26 psicomotor é que suas dimensões serão vivenciadas. Num primeiro momento, durante os anos iniciais de vida da criança, o espaço despertará nela muitos sentimentos de insegurança, sendo necessário que o meio humano seja capaz de reconfortá-la e de encorajá-la a enfrentar e explorar o ambiente a sua volta. É por volta dos quatro anos de acordo com o autor, que se percebe as primeiras preocupações de orientação, sendo possíveis de serem observadas novamente nos desenhos realizados pela criança, apresentando uma compreensão de horizontalidade e verticalidade. Quanto a aprendizagem de figuras geométricas, este treino começa a ser realizado muito antes da aquisição gráfica, por meio das sensações táteis, que permitem com que a criança entre em contato com os objetos e sinta suas dimensões e formas. Por volta dos três e quatro anos ainda não reconhece figuras geométricas, um quadrado é confundido com um círculo, mas diferenciam formas fechadas de formas abertas. Já aos quatro anos há um reconhecimento do ângulo reto, o quadrado passar a ser diferenciado do círculo, mas ainda é confundido com o retângulo. E finalmente, entre os cinco e seis anos, a criança é capaz de reconhecer o losango e o trapézio. Para finalizar, Le Boulch (1982, p. 124) afirma que: A definição e orientação dos eixos do espaço abstrato euclidiano implica a reintrodução do corpo que irá representar o verdadeiro sistema de referência. A possibilidade de estabelecer relações entre os objetos no espaço passa pela orientação do corpo próprio, ou seja, pela utilização dos eixos descobertos na relação com o objeto para simbolizar o corpo ele mesmo objeto do espaço. Portanto, pode-se compreender que o deslocamento de exploração do ambiente para o próprio corpo da criança, é essencial, pois permite que entre em contato com o seu ego corporal, desenvolvendo de maneira mais intensa as capacidades psicomotoras de equilíbrio, coordenação, lateralidade e temporalidade, vivenciando o seu corpo como o principal eixo norteador das dimensões espaciais. 27 4. PSICOMOTRICIDADE E EDUCAÇÃO INFANTIL 4.1 A inserção da psicomotricidade na educação infantil de acordo com as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil De acordo com a resolução número 5, de 17 de dezembro de 2009, que fixa as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil, esta deve ser oferecida em creches e pré- escolas, públicas ou privadas, caracterizadas como espaços institucionais não domésticos, que educam e cuidam de crianças de zero a cinco anos de idade, no período diurno, integral ou parcial, sendo dever do Estado garantir a oferta de Educação Infantil pública, gratuita, sem requisitos de seleção. Na Educação Infantil, é obrigatória a matrícula de crianças que completam quatro ou cinco anos até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula, devendo as vagas nas creches e pré-escolas serem oferecidas próximas as residências das crianças (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2010). Nestas Diretrizes, as propostas pedagógicas das instituições, devem ter um caráter sociopolítico e pedagógico, tendo como objetivo garantir à criança acesso a renovação e apropriação de conhecimentos. No entanto, para a efetivação deste objetivo, as instituições de educação infantil, devem respeitar a indivisibilidade das dimensões expressivo-motora, afetiva e cognitiva. Ou seja, por mais que o termo psicomotricidade não seja utilizado de maneira explícita nestas diretrizes, fica claro que as instituições devem respeitar as dimensões psicomotoras da criança, uma vez que estas abrangem todos os aspectos mencionados anteriormente. Neste documento, ainda consta outra passagem que afirma que as práticas pedagógicas devem ter como eixos norteadores as brincadeiras e as interações, que “promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que possibilitem movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança” (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2010, p. 25), ou seja, a prática lúdica deve favorecer o desenvolvimento das funções psicomotoras básicas como esquema corporal, estruturação espacial e temporal, imagem corporal, funções estas que irão auxiliar as crianças na descoberta do seu eu e do mundo a sua volta. Portanto, como foi expresso anteriormente, nas Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil não se faz menção alguma ao longo do texto ao termo psicomotricidade, porém, os objetivos traçados e as práticas pedagógicas que devem ser desenvolvidas nas creches e pré-escolas, atuam diretamente sobre a dimensão psicomotora de seus alunos, o que 28 apenas ressalta a importância do conhecimento em psicomotricidade por parte dos professores que atuam diariamente com o movimento e as emoções de crianças. 4.2 Modalidade de intervenção psicomotora: educação psicomotora De acordo com Barreto (2000) a educação psicomotora é compreendida como uma atividade que estimula o organismo global, permitindo que a criança expresse a sua personalidade, ou seja, por meio dessa educação, a criança deve se movimentar de maneira que todo o seu corpo participe da ação, demonstrando o seu eu. Esta forma de educação não é privilégio de especialistas, sendo assim, o professor pré-escolar que não tem formação em psicomotricidade, pode desempenhar um importante papel na estimulação do desenvolvimento psicomotor de crianças que se encontram na educação infantil. Mas, a educação psicomotora será efetuada realmente de maneira eficaz, caso este professor tenha ao menos um conhecimento sobre as funções básicas da psicomotricidade, que já foram listadas anteriormente neste trabalho. Sendo assim, entende-se por educação psicomotora como “a educação da criança através de seu próprio corpo e de seu movimento, levando em consideração a idade, a cultura corporal, a maturação e os interesses da criança”(BARRETO, 2008, p.29). E esta mesma educação também atua de maneira preventiva no que concerne evitar o aparecimento de dificuldades na área da aprendizagem como má concentração, confusão de letras e de sílabas, e confusão no reconhecimento de palavras nos momentos de leitura e escrita, permitindo com que a criança, tenha um bom desenvolvimento de suas faculdades intelectuais, pois estes são construídos a partir do movimento (BARRETO, 2000; FONSECA, 2005). A educação psicomotora deve trabalhar de maneira interligada funções motoras, cognitivas, perceptivas, afetivas e sociomotoras, ou seja, é realizado um trabalho que envolve a totalidade do sujeito, no qual movimento e afeto, não se encontram separados. Mas, para isso é necessário que o educador tenha um conhecimento científico do desenvolvimento infantil global além do desenvolvimento psicomotor, pois,as práticas desenvolvidas por este terão melhores resultados a partir do momento que sejam efetuadas de maneira consciente e respaldadas em um arcabouço teórico (BARRETO, 2000; LAPIERRE, 1986) Portanto, o trabalho de educação psicomotora pode ser realizado nas escolas, sendo “exercido” não apenas nos momentos de lazer, ou durante a educação física, ocorrendo de maneira planejada e consciente. Seus contributos na educação infantil são significativos, e pode ser trabalhado em todas as matérias, desde que o professor desenvolva atividades 29 próprias para as idades de seus alunos, e ao mesmo tempo, levando em consideração as capacidades e dificuldades apresentadas por cada um. 30 5. REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA NOS DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM Por mais que os distúrbios da aprendizagem não constituam o objetivo deste estudo, é interessante salientar de que modo podem surgir durante o período escolar e por consequência afetar de diferentes formas o desenvolvimento destas crianças. De acordo com Barreto (2000) crianças que apresentam uma letra não legível, com forte agitação motora, dispersas e apáticas, poderiam ser beneficiadas a partir de um trabalho de psicomotricidade, principalmente até os três anos de idade, pois as experiências dos primeiros anos terão fortes influências sobre as células cerebrais, na quantidade das conexões neuronais. Caso as leis do desenvolvimento infantil sejam negligenciadas, o sujeito poderá apresentar durante a sua trajetória escolar distúrbios como dislexia, disortografia e disgrafia. 5.1 Reeducação psicomotora dos distúrbios da aprendizagem: dislexia De acordo com Alves (2008) a dislexia provoca dificuldades na aprendizagem, principalmente na identificação dos símbolos gráficos, mesmo que a criança tenha um nível de inteligência considerado normal, uma boa integridade sensorial, recebendo estímulos e ensino adequados. Para Barreto (2000) os erros são causados por consequentes falhas visuais, auditivas ou perceptivas. 5.2 Reeducação psicomotora dos distúrbios da aprendizagem: disortografia A disortografia pode ser resultante de uma dislexia, mas também podem surgir em crianças sem dificuldade de leitura. A criança que tem disortografia, comete erros, por exemplo, ao transpor da leitura para a escrita, ocorrendo uma verdadeira confusão na representação da escrita dos fonemas. As principais falhas apresentadas são: confusão entre letras, omissão de letras, adições, inversões e junções. As principais falhas psicomotoras encontradas são em relação a estruturação espacial, posição no espaço, percepção visual, relação no espaço, constância perceptual, figura/fundo e coordenação viso-motora (BARRETO, 2000; LE BOULCH, 1982). 31 5.3 Reeducação psicomotora dos distúrbios da aprendizagem: disgrafia Normalmente há a falta de equilibração do tônus do braço ou punho, mas também é comum não ocorrer uma necessária dissociação do braço e dos dedos. A criança é capaz de ler o texto, mas não consegue transformá-lo em escrita. Dias (1995, apud BARRETO, 2000) afirma que uma característica das crianças que têm dificuldade na escrita, é a ausência de fantasias, logo, é importante que sejam trabalhadas com a criança exercícios de imagem corporal, histórias do sonho acordado e dirigido, sendo resgatada a ordem simbólica. Este mesmo autor afirma que quando se trabalha a imagem corporal do sujeito, as dificuldades de escrita tendem a desaparecer. As principais deficiências de ordem psicomotora são: imagem corporal, controle postural, memória visual e cinestésica. 32 6. MÉTODO Este trabalho que teve como objetivo verificar qual a percepção das professoras pré- escolars, sobre a relação entre psicomotricidade e educação infantil, foi realizado por meio de uma pesquisa de campo, que tem como finalidade a obtenção de informações que respondam a um dado problema, registrando-se as variáveis relevantes para uma posterior análise. O tipo da pesquisa se configurou como sendo exploratória, permitindo que ocorresse uma maior familiaridade com o problema tornando-o mais explícito, e qualitativa na qual a experiência humana pode ser analisada de maneira que a totalidade do contexto fosse apreendida por aqueles que vivenciam o fenômeno (GERHARDT & SILVEIRA, 2009; LAKATOS & MARCONI, 2010). Quanto ao meio de interpretação de dados, foi utilizada a análise do conteúdo que segundo Bardin (2010) pode ser compreendida como um conjunto de técnicas de análise das comunicações. Os indicadores utilizados para realizar a pesquisa foram: sujeitos; instrumento, fontes de informação e equipamentos utilizados; teste do instrumento; contato com as professoras pré-escolares; situação e ambiente; aplicação do instrumentos; e por último, organização, interpretação e análise dos dados. 6.1 Sujeitos Foram entrevistadas um total de oito professoras, que atuam junto às crianças de quatro e cinco anos de idade que se encontram no primeiro período da educação infantil. Foi utilizado o critério de conveniência, sendo entrevista somente as professoras que estivessem dispostas a participar da pesquisa. Todas as entrevistadas foram professoras titulares que atuam na Rede Pública Municipal ou Privada, graduadas em pedagogia, responsáveis pelo andamento e desenvolvimento das atividades que ocorrem dentro ou fora da sala de aula. A seleção das professoras ocorreu de maneira equitativa, e sua participação foi voluntária. 6.2 Instrumentos, fontes de informação e equipamentos utilizados 6.2.1 Instrumento O instrumento utilizado nesta pesquisa foi o roteiro de entrevista semiestruturada, que permitiu que o pesquisador organizasse um conjunto de questões sobre o tema, com o 33 objetivo que o entrevistado pudesse falar livremente sobre assuntos que iam surgindo, considerados relevantes para o tema pesquisado. a) Roteiro de entrevista semiestruturada (Apêndice B): Composta por seis categorias pré-estabelecidas intituladas de: dados pessoais; dados profissionais; percepção das professoras sobre psicomotricidade; percepção das professoras sobre a relação entre psicomotricidade e pré-escola; atividades psicomotoras desenvolvidas pelas professoras; e aspectos dificultadores e facilitadores. Foi utilizado um gravador durante a entrevista, para que os dados pudessem ser a posteriori transcritos e analisados qualitativamente. Este instrumento foi utilizado com o objetivo de coletar dados que fornecessem informações referentes as percepções das professoras pré-escolares sobre a relação entre psicomotricidade e educação infantil, e quais as atividades psicomotoras que são ou não utilizadas durante o processo de ensino-aprendizagem. 6.2.2 Fontes de informação Como fonte de informação para seleção dos sujeitos da pesquisa, foi levado em consideração não apenas os referencias teóricos sobre psicomotricidade que apontavam o professor como alguém que deveria desenvolver atividades de cunho psicomotor junto às crianças, mas também os conteúdos trazidos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil desenvolvidas pelo Ministério da Educação e Secretaria de Educação Básica no ano de 2010. Nestas diretrizes está claro que a proposta pedagógica ou projeto político pedagógico é o plano orientador das ações da instituição que influenciarão no desenvolvimento das crianças que nela são educadas, sendo o professor um dos responsáveis pela elaboração deste projeto, e aquele que irá colocar na prática as atividades que serão realizadas junto às crianças. Ou seja, percebe-se que o professor é uma figura central na efetivação do trabalho educacional infantil. 6.2.3 Equipamentos utilizadosPara registro das respostas das professoras foram utilizados: a) Gravador (Panasonic, VQA0910-3). b) Computador. 34 c) Lápis. d) Caneta. 6.3 Teste do instrumento Antes de ser dado início a coleta de dados, foi realizado um teste em relação ao roteiro de entrevista semiestruturada, sendo aplicado em uma professora que atendesse as características semelhantes aos sujeitos do estudo: lecionar para o primeiro período, formação em pedagogia, professora titular. Esta etapa foi essencial, pois conforme o objetivo desta etapa permitiu verificar se as questões elaboradas para o instrumento de coleta de dados estavam claras para a entrevistada, e se os objetivos da pesquisa estavam sendo alcançados, sendo necessária uma leitura cautelosa da entrevista teste. Outro ponto importante desta etapa da pesquisa, foi a possibilidade de o entrevistador poder treinar a própria postura diante da entrevistada, sentindo-se mais confiante para a aplicação das próximas entrevistas. O teste foi realizado no dia 28 de Novembro, com uma professora que atua na educação infantil há mais de dez anos e que atualmente leciona em uma escola da Prefeitura. Os dados coletados foram muito ricos e capazes de responder aos objetivos que foram propostos por esta pesquisa, o que demonstrou que o instrumento era eficaz, não sendo necessário que ocorressem modificações nas perguntas que foram elaboradas. Sendo assim, o próximo passo pode ser realizado, sendo feita a coleta dos e em seguida, a sua análise. 6.4 Contato com as professoras da educação infantil Antes que ocorresse o contato com as professoras da educação infantil, primeiramente foi necessário realizar um contato com os diretores e diretoras das respectivas escolas, com o objetivo de alcançar a permissão para a realização das entrevistas com as professoras, e também para explicar os objetivos da pesquisa. Mas, para que este contato ocorresse o coordenador do Curso de Psicologia elaborou um ofício para ser entregue pelo pesquisador aos diretores das escolas visitadas, neste documento era solicitado ao diretor(a) a permissão para que o pesquisador entrasse em contato com os professores do primeiro período. Infelizmente, em muitas escolas, o ofício não pode ser entregue diretamente ao diretor ou diretora, pois, estes encontravam-se muito ocupados, sendo entregues as suas secretarias, que afirmavam que depois entravam em contato, algo que não chegou a acontecer. Apenas em 35 duas escolas, os ofícios puderam ser entregues diretamente a uma diretora, e a um diretor, ambos permitiram que o pesquisador entrasse em contato com as professoras, sendo efetivada a entrevista. Somente para ressaltar, apenas foram entrevistadas as professoras das escolas em que se conseguiu a permissão por meio do ofício, permanecendo uma cópia assinada deste com o pesquisador. 6.5 Situação e ambiente Para se coletar os dados de uma entrevista, é essencial que o local seja silencioso, não existindo um fluxo de pessoas no mesmo, estando as condições climáticas agradáveis, pois isto permite que o entrevistado sinta-se mais confortável para responder as perguntas que lhe são feitas. Porém, nem todas as entrevistas ocorreram em locais adequados, pois, em muitos casos tiveram que ser realizadas na sala dos professores, estando outras pessoas no ambiente no momento da aplicação do instrumento. Em uma determinada escola, aconteceu de um diretor querer que a entrevista com a professora fosse realizada na sua frente, chegando a pedir para ver a entrevista semiestruturada que o pesquisador estava segurando. Mas, a professora demorou para comparecer, e o diretor teve que sair para resolver outros assuntos, a professora não pode dar a entrevista neste dia, ocorrendo em outra data, sem a presença do diretor. Mesmo que as entrevistas não tenham ocorrido nos locais mais adequados, por falta de estrutura física de algumas escolas, os dados puderam ser coletados, sem nenhum prejuízo no áudio gravado. 6.6 Aplicação dos instrumentos O instrumento utilizado foi o roteiro de entrevista semiestruturada que foi aplicada junto à professora depois que esta aceitou assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)2 (Apêndice A) no qual uma via ficou com o pesquisador, e a outra com o sujeito da pesquisa; foi feita uma leitura conjunta do TCLE na qual foram dadas informações sobre a pesquisa, de maneira que a professora pudesse tomar sua decisão de forma justa e sem constrangimentos. Após este procedimento foi aplicada a entrevista, sendo gravada para que em seguida fosse transcrita. 2 O projeto foi submetido à Plataforma Brasil antes da aplicação do instrumento. 36 6.8 Procedimento de análise: Análise de Conteúdo Foi escolhida como técnica de tratamento dos dados, a análise de conteúdo, especificamente a análise temática. De acordo com Bardin (2010) a análise de conteúdo configura-se como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que por meio de procedimentos sistemáticos e objetivos estabelece a descrição do conteúdo das mensagens. A análise de conteúdo feita por análise categorial temática, funciona por operações de desmembramento do texto em unidades e em categorias segundo reagrupamento analógicos (CAREGANATO & MUTTI, 2006; ROCHA, 2005) Neste trabalho, as categorias utilizadas foram apriorísticas, na qual o pesquisador já possuía categorias pré-definidas, das quais também poderiam comportar subcategorias que emergissem do texto analisado. No entanto, não foi necessária a criação de subcategorias nesta pesquisa. A análise de conteúdo segue três etapas, que serão explanadas a seguir. 6.8.1 Fase de pré-exploração do material Nesta etapa foi realizada uma leitura flutuante de todas as entrevistas que foram transcritas (corpus do trabalho), afim de ser feita uma apreensão das ideias principais e de seus significados gerais. Esta etapa foi essencial pois permitiu que o pesquisador pudesse selecionar qual o material que seria utilizado nas próximas etapas da pesquisa. 6.8.2 A seleção das unidades de análise Neste momento foi utilizada a análise temática, na qual foram escolhidas sentenças, frases ou parágrafos como unidades de análise, por meio de recortes das entrevistas transcritas. Os temas foram escolhidos de acordo com os objetivos traçados por esta pesquisa, pois desta forma, estes poderiam ser respondidos ou não. 6.8.3 O processo de categorização Nesta etapa, segundo Careganato e Mutti (2006) as categorias podem ser 37 categorizadas como grandes enunciados, que conseguem abranger um número variado de temas, segundo a sua aproximação ou não com a categoria estabelecida. Por meio das análises é possível exprimir significados que atendam aos objetivos do estudo, podendo até mesmo criar novos conhecimentos acerca do assunto investigado. Como foi dito anteriormente, as categorias utilizadas neste estudo foram apriorísticas. 38 7 CARACTERIZAÇÃO DAS PROFESSORAS ENTREVISTADAS 7.1 Categoria 1 – Dados Pessoais das Professoras A seguir serão apresentados dados relacionados ao sexo e a idade das professoras entrevistadas. 7.1.1 Sexo e Idade Tabela 1 - Dados pessoais das professoras da educação infantil Professoras Sexo Ano de Nascimento P1 Feminino 1985 P2 Feminino 1979 P3 Feminino 1978 P4 Feminino 1976 P5 Feminino 1981 P6 Feminino 1982 P7 Feminino 1982 P8 Feminino 1989 Na Tabela 1 foi possível verificar que houve uma prevalência do sexo feminino, num total de oito entrevistadas. A probabilidade
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