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MULHERES CIENTISTAS: CONTEXTUALIZANDO A PARTICIPAÇÃO FEMININA NA CIÊNCIA E NA QUÍMICA SOB UMA PERSPECTIVA CRÍTICA FEMINISTA

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0 
 
 
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ 
FACULDADE DE EDUCAÇÃO DE ITAPIPOCA 
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM QUÍMICA 
 
BEATRIZ PRACIANO DE CASTRO 
 
 
 
 
 
 
 
MULHERES CIENTISTAS: CONTEXTUALIZANDO A PARTICIPAÇÃO FEMININA 
NA CIÊNCIA E NA QUÍMICA SOB UMA PERSPECTIVA CRÍTICA FEMINISTA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ITAPIPOCA – CEARÁ 
2021 
1 
 
BEATRIZ PRACIANO DE CASTRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
MULHERES CIENTISTAS: CONTEXTUALIZANDO A PARTICIPAÇÃO FEMININA 
NA CIÊNCIA E NA QUÍMICA SOB UMA PERSPECTIVA CRÍTICA FEMINISTA 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado ao Curso de Licenciatura 
Plena em Química da Faculdade de 
Educação de Itapipoca da Universidade 
Estadual do Ceará, como requisito parcial 
à obtenção do grau de licenciada em 
Química. 
 
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Cleonilda Claita 
Carneiro Pinto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ITAPIPOCA – CEARÁ 
2021 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BEATRIZ PRACIANO DE CASTRO 
 
MULHERES CIENTISTAS: CONTEXTUALIZANDO A PARTICIPAÇÃO FEMININA 
NA CIÊNCIA E NA QUÍMICA SOB UMA PERSPECTIVA CRÍTICA FEMINISTA 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À todas as profissionais que estiveram na 
linha científica do combate ao COVID-19. 
5 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço a Deus pela minha existência, da forma que fui moldada e criada, e a 
Nossa Senhora por sempre me amparar e interceder em minhas orações. 
 
Agradeço o apoio dos meus amigos, Cleiton Lino, Bruna Magalhães e Leidiana 
Lima, por ajudar com bibliografias que engrandeceram ainda mais minha pesquisa, e 
por compartilhar comigo vivências e diálogos feministas. 
 
Agradeço a minha orientadora professora Cleonilda Claita Carneiro Pinto, por corrigir 
e sugerir alterações no meu trabalho para que a pesquisa tornasse a mais honesta e 
relevante possível. 
 
Agradeço a Sociedade de Promoção e Apoio à Família de Itapipoca – SOPRAFI, por 
sempre oportunizar experiências que despertaram em mim um interesse por causas 
e questões sociais na minha comunidade e no mundo. 
 
Agradeço o apoio financeiro da bolsa do Programa de Educação Tutorial – PET, 
coordenado pelo professor Francisco Furtado Tavares Líns, que também sempre 
apoiou as minhas decisões no subprojeto do Cursinho Popular Facivest. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Nasci menina num lugar onde rifles são 
disparados em comemoração a um filho, 
ao passo que as filhas são escondidas 
atrás de cortinas, sendo seu papel na vida 
apenas fazer comida e procriar”. 
 
(Malala Yousafzai) 
7 
 
RESUMO 
 
Ao longo da história, as mulheres foram impedidas de atuar na Ciência. Em alguns 
casos, as que conseguiam atuar tinham suas descobertas atribuídas aos homens. 
Infelizmente, mesmo com o passar do tempo, ainda existe uma participação desigual 
de mulheres nessa área, problemática levantada e motivada para o desenvolvimento 
desta pesquisa. Mediante esta observação, fez-se necessário analisar a participação 
das mulheres na Ciência no Brasil e no mundo sob uma perspectiva crítica e 
histórica da corrente filosófica e política do feminismo, dando ênfase na área de 
Ciências Exatas e suas Tecnologias, com foco principalmente na área de atuação da 
Química. Para a realização do presente trabalho buscou-se na literatura dados sobre 
a participação feminina na Ciência e na Química, e os desafios encontrados ao 
longo da história. Também buscou-se através de um questionário conhecer alguns 
fatores que refletem esse cenário de invisibilidade, bem como discutir as 
perspectivas para o futuro dessas mulheres cientistas. Foram feitas alusões 
históricas em contextos que marcaram a trajetória das mulheres, bem como a 
alquimia das bruxas, inserção nas escolas e nas universidades, até os dias atuais, 
sendo maioria na comunidade acadêmica e nos campos de pesquisa. É conhecido 
que muitas mulheres conseguem adentrar na carreira científica, mas poucas 
conseguem permanecer, principalmente na área das Ciências Exatas e 
Engenharias. Na contemporaneidade, é preciso enxergar com mais clareza o papel 
da mulher na Ciência, nesse sentido, também se trouxe dados estatísticos e 
personalidades femininas da Química. Melhorar a participação de grupos sub-
representados não é apenas mais justo, mas poder agregar mais conhecimento e 
um maior número de pesquisas. Portanto, o presente estudo, enfatiza a importância 
e contribuição das mulheres no desenvolvimento da Ciência e da Química ao longo 
da história, bem como revela a necessidade de debater e esclarecer as barreiras e 
os significativos avanços da participação das mulheres cientistas na Ciência e na 
Química. Assim, a escrita dessa pesquisa é uma resposta de sororidade à todas as 
mulheres cientistas, que fizeram e continuam fazendo ciência em todo o mundo. 
 
Palavras-chave: Participação feminina. Carreira científica. Feminismo. 
 
 
8 
 
ABSTRACT 
 
Throughout history, women have been prevented from working in science. In some 
cases, those who managed to act had their findings attributed to men. Unfortunately, 
even with the passage of time, there is still an unequal participation of women in this 
area, a problem raised and motivated for the development of this research. Through 
this observation, it was necessary to analyze the participation of women in Science in 
Brazil and in the world from a critical and historical perspective of the philosophical 
and political current of feminism, emphasizing the area of Exact Sciences and its 
Technologies, focusing mainly on the area of Chemistry. In order to carry out the 
present work, data were sought in the literature about female participation in Science 
and Chemistry, and the challenges encountered throughout history. It was also 
sought through a questionnaire to know some factors that reflect this invisibility 
scenario, as well as to discuss the perspectives for the future of these women 
scientists. Historical allusions were made in contexts that marked the trajectory of 
women, as well as the alchemy of witches, insertion in schools and universities, to 
the present day, being the majority in the academic community and in the fields of 
research. It is known that many women manage to enter the scientific career, but few 
manage to stay, mainly in the area of Exact Sciences and Engineering. Nowadays, it 
is necessary to see more clearly the role of women in Science, in this sense, 
statistical data and female personalities from Chemistry have also been brought up. 
Improving the participation of underrepresented groups is not only more just, but 
being able to add more knowledge and a greater number of research. Therefore, the 
present study emphasizes the importance and contribution of women in the 
development of Science and Chemistry throughout history, as well as revealing the 
need to debate and clarify the barriers and the significant advances in the 
participation of women scientists in Science and Chemistry. Thus, the writing of this 
research is a response of sorority to all women scientists, who have done and 
continue to do science around the world. 
 
Keywords: Female participation. Scientific career. Feminism. 
 
 
 
9 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
Gráfico 1 – Você mora em qual região do país? ................................................. 50 
Gráfico 2 – Qual a sua cor ou raça? ..................................................................... 51 
Gráfico 3 – Qual a sua identidade de gênero? .................................................... 52 
Gráfico 4 – Qual a sua orientação sexual? .......................................................... 52 
Gráfico 5 – Você tem filhos? Se sim, quantos? ..................................................53 
Gráfico 6 – Qual a sua idade? ............................................................................... 54 
Gráfico 7 – Possui deficiência? Se sim, qual(is)? ............................................... 55 
Gráfico 8 – Qual a sua formação acadêmica? ..................................................... 55 
Gráfico 9 – Sobre sua atuação profissional, aplica-se: ...................................... 56 
Gráfico 10 – Qual a sua área de conhecimento? ................................................. 57 
Gráfico 11 – Quais suas motivações para escolher sua área de atuação? 
................................................................................................................................... 58 
Gráfico 12 – Durante o seu Ensino Médio você recebeu incentivos para seguir 
na área das Ciências? ............................................................................................ 59 
Gráfico 13 – Durante sua formação acadêmica foi ressaltada a importância do 
protagonismo feminino na Ciência? .................................................................... 60 
Gráfico 14 – Na sua opinião, homens e mulheres que contribuíram para o 
desenvolvimento da Química são igualmente lembrados? ............................... 61 
Gráfico 15 – Você considera importante abordar a contribuição das mulheres 
para o desenvolvimento da Química nos cursos de licenciatura em Química? 
.................................................................................................................................. 61 
Gráfico 16 – Nos dias atuais, você acredita que homens e mulheres cientistas 
da área da Química, possuem espaços e oportunidades iguais para 
desenvolverem suas pesquisas? ......................................................................... 62 
Gráfico 17 – Durante a graduação você recebeu incentivos para atuar como 
cientista/pesquisadora? ........................................................................................ 63 
Gráfico 18 – Enquanto mulher cientista, quais são as dificuldades encontradas 
no seu ambiente de trabalho: ................................................................................ 64 
Gráfico 19 – Você concorda que o feminismo impacta e empodera meninas e 
mulheres na Ciência? ............................................................................................ 65 
 
 
10 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1 – Número de Matrículas em Cursos de Graduação Presenciais e a 
Distância .................................................................................................................. 21 
Tabela 2 – Número de Concluintes em Cursos de Graduação Presenciais e a 
Distância .................................................................................................................. 21 
Tabela 3 – Número de Docentes (Em Exercício e Afastados) ............................ 21 
Tabela 4 – Representação de bolsistas dentre os diferentes níveis de titulação 
................................................................................................................................... 39 
Tabela 5 – Representação de docentes nas instituições brasileiras em Química 
................................................................................................................................... 39 
Tabela 6 – Representação de gênero na progressão da carreira em Química 
................................................................................................................................... 39 
Tabela 7 – Projetos Universal do CNPq aprovados na área de Química .......... 40 
Tabela 8 – Representação em cargos de liderança nas Universidades ............ 40 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS 
 
ABC Academia Brasileira de Ciência 
C&T Ciência & Tecnologias 
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior 
CEFET (MG) Centro Federal de Educação de Minas Gerais 
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 
DUDH Declaração Universal dos Direitos Humanos 
FACEDI Faculdade de Educação de Itapipoca 
FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz 
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira 
IUPAC International Union of Pure and Applied Chemistry 
LGBT Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais 
ODS Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 
ONU Organização das Nações Unidas 
PQ Produtividade em Pesquisa 
SBF Sociedade Brasileira de Física 
SBPC Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência 
SBQ Sociedade Brasileira de Química 
SEDUC (CE) Secretária da Educação do Ceará 
STEM Science, Technology, Engineering and Mathematics 
TWAS The World Academy of Sciences 
UECE Universidade Estadual do Ceará 
UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro 
UFBA Universidade Federal da Bahia 
UFC Universidade Federal do Ceará 
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul 
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a 
Cultura 
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas 
UNIFESSPA Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará 
UNIRIO Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro 
USP Universidade de São Paulo 
12 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 13 
2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................ 16 
2.1 A história e a alquimia das mulheres bruxas ................................................ 16 
2.2 A educação de mulheres ao longo da história ............................................. 19 
2.3 Feminismo e gênero nas Ciências ................................................................. 22 
2.4 As barreiras impostas às mulheres na Ciência ao longo dos anos ........... 26 
2.5 Dados sobre a produtividade acadêmica de mulheres no Brasil ............... 29 
2.6 Incentivos à participação das mulheres na Ciência ..................................... 31 
2.7 A maternidade e a produtividade científica .................................................. 32 
2.8 As mulheres cientistas na Química ............................................................... 35 
2.9 Disparidade de gênero na Química brasileira ............................................... 38 
2.10 As cientistas no prêmio Nobel de Química ................................................... 41 
2.11 As cientistas negras: uma sub-representação na Ciência .......................... 45 
3 OBJETIVOS ...................................................................................................... 47 
3.1 Objetivo geral ................................................................................................... 47 
3.2 Objetivos específicos ...................................................................................... 47 
4 METODOLOGIA ................................................................................................ 48 
4.1 Caracterização da pesquisa ........................................................................... 48 
4.2 Instrumentos da pesquisa .............................................................................. 48 
4.3 Aspectos éticos ............................................................................................... 49 
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ...................................................................... 50 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 75 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 76 
APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO ............... 83 
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO .............................................................................84 
 
13 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Ao longo da graduação algumas inquietações foram emergindo na 
observação, primordialmente, da participação de mulheres no curso de Química ser 
inferior ao número de alunos e professores homens. Consequentemente, enquanto 
estudiosa do feminismo, acabara também conduzindo a outras inquietudes do 
mesmo sentido, bem como a invisibilidade, desafios, avanços e perspectivas dos 
sujeitos femininos que produziram e continuam produzindo conhecimento científico. 
Em que momento as meninas tiveram o direito de estudar? Quantas 
descobertas importantes na Ciência foram feitas por mulheres? Quantas mulheres 
não se tornaram cientistas por terem que cuidar das atividades domésticas? Será 
que todas as cientistas trabalham em condições igualitárias? Existem diversidade e 
igualdade de gênero nas Ciências? A Química também é misógina? Refletir sobre 
essas indagações motivaram a elaboração do projeto de pesquisa, que por sua vez, 
resultou no presente trabalho. 
Assim, ao observar a história da Ciência ao longo do tempo percebe-se 
que ocorreu um processo de invisibilidade e exclusão de mulheres na carreira 
científica. A trajetória das mulheres na Ciência é constituída de uma cultura baseada 
no "modelo masculino de carreira". Muitos fatores restringem a participação das 
mulheres na Ciência: compromissos de tempo integral para o trabalho, produtividade 
em pesquisa, relações academicamente competitivas e a valorização de 
características masculinas (SILVA; RIBEIRO, 2014). 
Na cultura ocidental, a imagem de cientista é caracterizada por um 
homem branco de jaleco, com cabelo bagunçado, usando óculos, maluco ou 
ambicioso realizando experimentos no seu laboratório. Esses arquétipos, muitas 
vezes, são veiculados em desenhos animados, filmes e séries como por exemplo: 
Franjinha (Turma da Mônica), Heinz Doofenshimirtz (Phineas & Ferb), o professor 
Utônio (Meninas Super Poderosas), professor Pardal (Walt Disney), Flint Lockwood 
(Tá Chovendo Hambúrguer), Rick Sanchez (Rick & Morty), John Frink (Os 
Simpsons), Walter White (Breaking Bad), e personagens de histórias em quadrinhos. 
O machismo, fenômeno social enraizado culturalmente, defende a 
superioridade masculina em relação à feminina, valorizando o comportamento viril, 
forte e agressivo em homens e estimulando um comportamento dependente, 
14 
 
submisso e emocional em mulheres (SOARES, 2001). Assim, o presente estudo não 
apenas ajuda a preencher uma lacuna importante na literatura, mas também tem 
implicações críticas para as questões sociais e educacionais urgentes associadas à 
disparidade de gênero na Ciência (MOSS-RACUSIN et al, 2012). 
Em grande medida, pode-se afirmar que o processo de distanciamento 
das mulheres para com a Ciência, enquanto atividade sistematizada começa no 
processo de socialização. Direcionadas para atividades ditas “femininas”, mesmo a 
entrada na carreira científica acaba esbarrando em outros constrangimentos como a 
difícil escolha entre família, maternidade e carreira. Desse modo, não se trata 
apenas de superar os constrangimentos criados, mas de reinventar a atividade 
(COSTA, 2006). 
É notório que oportunidades não foram dadas às mulheres ao longo da 
história, reproduzindo assim, a exclusão no campo acadêmico e mais 
marcadamente nas Ciências Exatas. A Química, por exemplo, apresenta 
personagens emblemáticas que contribuíram significativamente para o seu 
desenvolvimento, fortalecendo-a enquanto ciência moderna. Portanto, através de 
uma revisão de literatura, pode-se conhecer a biografia de mulheres químicas que 
trabalharam, desenvolveram pesquisas e participaram ativamente na divulgação 
desta ciência (NUNES et al, 2009). 
Os esteriótipos dados às mulheres, como amáveis, gentis e delicadas, 
influenciaram significativamente no direcionamento de sua inserção nas áreas de 
conhecimento relacionadas ao cuidado. Faz-se necessário desmistificar essa 
corrente retrógrada de pensamento, entendendo a história das mulheres na Ciência 
enfatizada por esta pesquisa. Portanto, através das informações obtidas durante o 
levantamento bibliográfico que embasa este estudo, é notório o empoderamento e 
inclusão das mulheres em quaisquer espaços, antes limitados. 
Nesse sentido, é preciso dados para fundamentar a luta das mulheres na 
Ciência. Assim, questionar, pesquisar, escrever e divulgar sobre a temática torna-se 
um compromisso. A autora Costa (2006) afirma que outras autoras têm se dedicado 
a entender a invisibilização das mulheres na Ciência nos vários momentos da 
história. Estudos recentes já estão resgatando sua presença na geração do 
conhecimento desde a Grécia, Idade Média, através do resgate de memórias. 
Desvendar o feminino na construção do conhecimento vem de encontro 
às preocupações de uma área ainda em construção no Brasil, Gênero e Ciência, 
15 
 
mas fértil em abordagens e análises sobre a participação de mulheres na Ciência, na 
geração do conhecimento. A decisão tem sido difícil e os indicadores apontam que a 
Ciência ainda é masculina, embora nas últimas duas décadas tenha havido um 
aumento da participação das mulheres na academia (COSTA, 2006). 
Não obstante sua crescente inserção no mercado de trabalho e as 
conquistas acumuladas de muitos direitos, com relevante contribuição em vários 
setores da sociedade, as mulheres ainda enfrentaram dificuldades para ocupar 
postos de direção, acumulando obrigações nos estudos (formação continuada), no 
trabalho, nos afazeres domésticos, na maternidade, nos relacionamentos, seguindo 
exigências dos padrões estéticos, morais e religiosos (BEZERRA; LIMA, 2018). 
Considerando a temática de extrema importância sob um olhar 
profundamente crítico sobre as desigualdades dos números, este trabalho será 
somado a outros estudos na compreensão dos fatores causais desse fenômeno 
através da investigação científica. Sabendo que é preciso promover a igualdade de 
gênero, e entendendo que um dos passos para alcançar esse Objetivo de 
Desenvolvimento Sustentável é debatendo sobre o assunto na sociedade escolar, e 
primordialmente, na sociedade acadêmica. 
16 
 
2 REVISÃO DE LITERATURA 
 
2.1 A história e a alquimia das mulheres bruxas 
 
No fim da Idade Média, durante os séculos XV e XVI, em uma parte da 
Europa e algumas colônias da América, os tribunais da Santa Inquisição começaram 
a perseguir, torturar e queimar vivas as pessoas acusadas de se desviar dos 
dogmas da Igreja Católica. Entre esses grupos estavam as bruxas – mulheres 
sábias, curandeiras e parteiras. Essas mulheres também se reuniam para 
compartilhar seus conhecimentos medicinais, o que não agradou os religiosos da 
época (BURRESON; LE COUTEUR, 2006). 
 
A Inquisição, um tribunal da Igreja Católica originalmente estabelecido por 
volta de 1233 para lidar com hereges — sobretudo no sul da França — 
expandiu seu mandato para lidar com a bruxaria. Segundo algumas 
autoridades, depois que os hereges haviam sido praticamente eliminados, 
os inquisidores, precisando de novas vítimas, voltaram os olhos para a 
feitiçaria (BURRESON; LE COUTEUR, 2006). 
 
A bruxaria era considerada demoníaca, sendo a mulher um agente do 
demônio, mas, sobretudo, era tratada como um crime feminino. Isto pode ser notado 
no momento em que a perseguição alcançou seu ponto máximo, no período 
compreendido entre 1550 e 1650, quando mais de 80% das pessoas julgadas e 
executadas na Europa pelo crime de bruxaria, foram mulheres, e seus acusadores 
poderiam ser tanto as mulheres como homens (FEDERICI, 2017). 
 
As estimativas variam de 40 mil a milhões. Embora, entre os acusados de 
bruxaria, houvesse homens, mulheres e crianças, aristocratas, camponeses 
e clérigos, em geral os dedos eram apontados para as mulheres — 
sobretudo pobres e idosas. Propuseram-se muitas explicações para o fato 
de as mulheres terem se tornado as principais vítimas das ondas de histeria 
e delírio que ameaçaram populaçõesinteiras durante centenas de anos 
(BURRESON; LE COUTEUR, 2006). 
 
Escrito pelos religiosos Heinrich Kraemer e James Sprenger, o livro 
Malleus Maleficarum (1486), conhecido como o “Martelo das Feiticeiras”, era um 
guia de “caça às bruxas”, que disseminou a ideia retrógrada da mulher como 
símbolo do mal. Na obra, existem passagens em que os autores explicam que as 
mulheres são mentalmente mais fracas que os homens. Encontram-se também 
17 
 
descrições sobre como a mulher podia ser fofoqueira, sentimental, vingativa, 
invejosa e competitiva (FEDERICI, 2017). 
Mas por que muitas mulheres eram vistas como bruxas ou feiticeiras? O 
papel de “cuidadora” assumido pelas mulheres, historicamente as levou a praticar a 
medicina por meio de chás, unguentos, realização de partos e outras práticas 
(REZENDE; QUIRINO, 2017). Assim, as bruxas tinham conhecimentos de 
compostos químicos, pesticidas, venenos e estimulantes naturais, já que elas 
conheciam propriedades terapêuticas e toxicológicas de muitas plantas. Àquelas 
com maior capacidade de curar podiam ser as primeiras rotuladas de feiticeiras 
(BURRESON; LE COUTEUR, 2006). 
 
Muitas mulheres acusadas de bruxaria eram herboristas competentes no 
uso de plantas locais para curar doenças e mitigar dores. [...] também 
forneciam poções do amor, faziam encantamentos e desfaziam bruxarias. O 
poder de curar que algumas de suas ervas realmente tinham era visto como 
tão mágico quanto os encantamentos e rituais que cercavam as demais 
cerimônias que realizavam (BURRESON; LE COUTEUR, 2006). 
 
Consequentemente, durante a Idade Moderna, as mulheres também 
haviam contado com muitos métodos contraceptivos. Basicamente consistiam em 
ervas transformadas em poções e “pessários” (supositórios vaginais), que se 
usavam para estimular a menstruação de uma mulher, provocar um aborto ou criar 
uma condição de esterilidade. Sabe-se que muitas bruxas eram parteiras, mas os 
autores recomendaram que essa arte não deveria ser permitida a nenhuma mulher, 
a menos que demonstrasse ser uma “boa católica” (FEDERICI, 2017). 
Tradicionalmente, as bruxas eram depositárias do conhecimento e do 
controle reprodutivo das mulheres. Com isso, Malleus Maleficarum dedicou-lhes um 
capítulo inteiro, no qual afirmava-se que elas eram piores que quaisquer outras 
mulheres, já que ajudavam as mães a destruir o fruto do seu ventre. A caça às 
bruxas destruiu os métodos que as mulheres utilizavam para controlar a procriação, 
posto que eles eram denunciados como instrumentos diabólicos, e institucionalizou o 
controle do Estado sobre o corpo feminino, o principal pré-requisito para sua 
subordinação à reprodução da força de trabalho (FEDERICI, 2017). 
 
Parece plausível que a caça às bruxas fosse, pelo menos em parte, uma 
tentativa de criminalizar o controle da natalidade e de colocar o corpo 
feminino, o útero, a serviço do aumento da população e da acumulação da 
força de trabalho. Essa é uma hipótese; o que podemos afirmar com certeza 
18 
 
é que a caça às bruxas foi promovida por uma classe política que estava 
preocupada com a diminuição da população e motivada pela convicção de 
que uma população numerosa constitui a riqueza de uma nação 
(FEDERICI, 2017). 
 
Na verdade, todas essas técnicas constituem uma parte essencial do 
saber milenar atribuído às mulheres, mas que fez vítimas no período da caça às 
bruxas por ser atribuído a um pacto demoníaco (TOSÍ, 1998). Com a perseguição à 
curandeira popular, as mulheres foram expropriadas desse patrimônio de saber 
empírico, relativo a ervas e remédios curativos, que haviam acumulado e transmitido 
de geração a geração (FEDERICI, 2017). Por outro lado, houve resistência: 
 
Na Europa medieval, aquelas mesmas mulheres que foram perseguidas 
mantinham vivo o importante conhecimento das plantas medicinais, como o 
fizeram povos nativos de outras partes do mundo. Sem essas tradições 
ligadas às ervas talvez nunca tivéssemos produzido o arsenal de fármacos 
que temos atualmente (BURRESON; LE COUTEUR, 2006). 
 
Em alguns países da América, como em todas as sociedades pré-
industriais, muitas mulheres eram “especialistas no conhecimento médico”, estavam 
familiarizadas com as propriedades de ervas e plantas e também eram adivinhas 
(FEDERICI, 2017). A Ciência, entretanto, não podia dispensar a contribuição das 
reconhecidas habilidades femininas para o trabalho experimental e para a 
observação (TOSÍ, 1998). 
 
A questão da bruxaria e da caça às bruxas constitui um tema de reflexão e 
estudo intimamente relacionado com a problemática da mulher e a ciência, 
por tratar-se da repressão de um saber, ainda que empírico, praticado pelas 
mulheres. Com efeito, um contingente importante das acusadas de bruxaria 
estava formado por mulheres velhas que dominavam um saber ancestral, 
que consistia no uso de ervas de reconhecida eficácia. Esse saber, 
transmitido por via oral, era, em princípio, acessível a qualquer um, mas 
essas mulheres o herdavam através de laços familiares ou de vizinhança e 
eram, por assim dizer, as principais depositárias (TOSÍ, 1998). 
 
Os autores Burreson e Le Couteur (2006), contam que à medida que o 
Feudalismo batia em retirada, e despontava o Iluminismo (1715-1789) – Século das 
Luzes, vozes de homens e mulheres corajosos que se arriscavam a ir para a forca 
ou para a fogueira por se oporem àquela loucura foram se elevando. A mania 
misógina que assolara a Europa durante séculos foi se reduzindo gradativamente. 
 
19 
 
2.2 A educação de mulheres ao longo da história 
 
No Brasil, durante 327 anos, as mulheres foram excluídas dos benefícios 
de estudar, já que eram vistas como o “imbecilitus sexus” (o sexo imbecil, que não 
pensa direito). Historicamente, a escolarização feminina, ou seja, o seu lugar como 
aluna e profissional da educação, passou por diversos desafios que culminaram em 
significativos avanços sociais. Haviam, portanto, inúmeras restrições para a inclusão 
das mulheres na escolarização e no exercício da profissão, como no magistério e 
nas funções de direção escolar em todo o mundo (BEZERRA; LIMA, 2018). 
O direito à educação se tornou a reivindicação primordial das mulheres no 
começo do século XV na França. O movimento iniciado pela poetisa e filósofa 
italiana Christine de Pizan (1364-1430), era conhecido como Querelle des Femmes 
(Querela das Mulheres), e durou quatro séculos. Pela primeira vez uma mulher 
ousava fazer a defesa de seu sexo, em franca oposição à misoginia reinante, dando 
inusitado ímpeto a um longo debate do qual participaram mulheres e homens de 
vários países da Europa (TOSÍ, 1998). 
 
Nos séculos XVIII e XIX passaram a ser educadas, porém como “detentoras 
da moral” familiar. Portanto, aprendiam letras e artesanato para exercerem 
melhor o papel de “mães educadoras”. A mulher era preparada para ser 
uma boa esposa, matriarca, religiosa, dona de casa ou serviçal devotada a 
serviços domésticos (BEZERRA; LIMA, 2018). 
 
No final do século XIX, a mulher foi reconhecida como agente natural das 
tarefas pedagógicas, e é assim que acaba inserida no contexto educacional 
brasileiro, por seu “dom de cuidar”. Em 1827, a Lei de Instrução Pública autorizava o 
ingresso do público feminino nas escolas até o ensino primário. Porém, determinava 
que a educação para a mulher deveria ser exclusivamente moral (BRASIL, 1827). 
Desse modo, foram criados conteúdos exclusivos para meninas, até 
mesmo em escolas separadas, com determinação em lei para que não 
aprendessem algumas matérias, como por exemplo a “exclusão das noções de 
geometria e limitado a instrução de aritmética só as suas quatro operações” 
(BRASIL, 1827). Assuntos relacionados a Ciência e a Política continuaram a ser 
monopólio exclusivo dos homens, porém mesmo com restrições, as mulheres foram 
tomando espaço na educação. 
 
20 
 
No final do Império e início da República, houve um aumento significativo da 
participação das mulheresno cenário educacional, quando muitas meninas 
puderam frequentar escolas, havendo necessidade crescente de 
profissionais da educação para atender a demanda. As escolas mistas, 
destinadas a ambos os sexos, foram autorizadas no país a partir de 
iniciativa de ideais protestantes, metodistas e presbiterianos, apesar de 
ainda haver a separação por gênero, em horários diferentes, dias 
alternados, alas e prédios separados (BEZERRA; LIMA, 2018). 
 
Para Filgueiras (2004), o Brasil de meados do século XIX era “uma ilha de 
letrados num mar de analfabetos”. Em 1872, apenas 18,56% da população era 
alfabetizada, e dessa porcentagem, 23,43% eram homens e 13,43% eram mulheres. 
Entre os escravos o analfabetismo era praticamente total, chegando a 99,9%. Hoje, 
o país tem cerca de 11 milhões de analfabetos (6,6%), e a partir desse índice, 6,9% 
são homens e 6,3% são mulheres, quando 8,9% são pessoas pretas e pardas. O 
Nordeste é a região com a maior taxa de analfabetismo com 13,9% (IBGE, 2020). 
 
A educação feminina em caráter mais universal e amplo só se logrou 
efetivamente no Brasil a partir do final do século 19, sobretudo após a 
implantação da República, com a vinda de inúmeras congregações 
religiosas para o país, com a finalidade específica de criar um grande 
número de colégios espalhados de norte a sul do imenso território. À falta 
de um ensino público universal que atendesse eficazmente às necessidades 
da população, foi principalmente essa rede de instituições de ensino que 
supriu as deficiências herdadas do regime anterior (FILGUEIRAS, 2004). 
 
Com relação ao ensino superior, a inserção das mulheres nas 
universidades brasileiras começou no início do século XIX. A partir de 19 de abril de 
1879, com a Reforma Leôncio de Carvalho ou Reforma do Ensino Livre (BRASIL, 
1879), conferiu-se a liberdade e o direito da mulher de participar do ensino superior 
para obter um título acadêmico (FILGUEIRAS, 2004). 
 
Algumas mulheres, com a reforma pombalina, oficialmente, puderam 
ingressar nos estudos superiores para o magistério e ocupar cargos 
públicos de professoras. Houve a inserção feminina no magistério público, 
com posição no mercado de trabalho. Entretanto, a diferença salarial entre 
homens e mulheres foi documentada desde 1831, com o primeiro decreto 
que instituía concursos públicos, permitindo-se a diferenciação da 
remuneração por gênero. O critério de escolha para ocuparem os cargos 
levava em consideração o mérito, a capacidade, a procedência familiar e a 
‘honestidade’, com comprovação de boa índole, fato que não se estendia 
aos homens (BEZERRA; LIMA, 2018). 
 
Tratando da educação superior, nos dias atuais, as mulheres já somam 
mais da metade dos graduandos e concludentes das instituições acadêmicas 
21 
 
brasileiras. Segundo o Censo da Educação Superior (INEP, 2020), do número total 
em matrículas nos cursos de graduação, presenciais e a distância (bacharelado, 
licenciatura e tecnólogo), 57,4% são mulheres e 42,6% são homens, como pode ser 
observado na Tabela 1. 
 
Tabela 1 – Número de Matrículas em Cursos de Graduação Presenciais e a 
Distância 
 TOTAL FEMININO MASCULINO 
Brasil 8.603.824 4.938.139 3.665.685 
Nordeste 1.866.854 1.080.751 786.103 
Ceará 316.585 176.486 140.099 
Exterior 1.859 1.181 678 
Fonte: Inep, 2020. 
 
Ainda segundo o Censo da Educação Superior (INEP, 2020), o número 
de concluintes total em cursos de graduação presenciais e a distância (bacharelado, 
licenciatura e tecnólogo), aponta que as mulheres são maioria com 60,1% de 
representatividade em relação aos homens com um percentual de 39,9%, de acordo 
com a Tabela 2. 
 
Tabela 2 – Número de Concluintes em Cursos de Graduação Presenciais e a 
Distância 
 TOTAL FEMININO MASCULINO 
Brasil 1.250.076 752.417 497.659 
Nordeste 241.114 147.006 94.108 
Ceará 41.118 24.383 16.735 
Exterior 178 116 62 
Fonte: Inep, 2020. 
 
O Censo da Educação Superior (INEP, 2020), disponibiliza outros dados, 
sobre o número total de docentes (em exercício e afastados). O percentual de 
professoras no ensino superior é de 46,7%, enquanto o de homens é de 53,3%, se 
sobrepondo ao número de mulheres, como pode ser identificado na Tabela 3. 
 
Tabela 3 – Número de Docentes (Em Exercício e Afastados) 
 TOTAL FEMININO MASCULINO 
Brasil 399.428 186.814 212.614 
Nordeste 91.520 45.156 46.364 
Ceará 14.067 6.572 7.495 
Fonte: Inep, 2020. 
22 
 
É importante compreender que a trajetória das mulheres na educação é 
marcada por muita luta, sendo dever de todos os indivíduos dar seguimento na 
erradicação das desigualdades entre os sexos. Por isso, em setembro de 2015, 
líderes mundiais reuniram-se na sede da ONU, em Nova York, e decidiram um plano 
de ação para erradicar as desigualdades, a pobreza, proteger o planeta e garantir 
que as pessoas alcancem a paz e a prosperidade: a Agenda 2030 para o 
Desenvolvimento Sustentável, a qual contém um conjunto de 17 Objetivos de 
Desenvolvimento Sustentável e 169 metas (BRASIL, 2020). 
Nesse sentido, os ODS 4 (Educação de Qualidade) e ODS 5 (Igualdade 
de Gênero) propostas pela Agenda 2030 da ONU, almeja assegurar a educação 
inclusiva e equitativa de qualidade promovendo oportunidades de aprendizagem 
para todos, como também alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento de 
mulheres e meninas em todos os níveis da vida política, econômica e pública até o 
fim desta década (BRASIL, 2020). 
 
2.3 Feminismo e gênero nas Ciências 
 
O feminismo surgiu no século XIX como um movimento filosófico, social e 
político sob principal influência da Revolução Francesa (1789-1799). A corrente 
teórica e crítica buscava romper com as barreiras que impediam as mulheres do 
acesso ao mundo público. Sua principal característica é a luta pela equidade entre 
gêneros e, por consequência, a participação e respeito às mulheres na vida em 
sociedade, no sentido de que todos os gêneros tenham os mesmos direitos e as 
mesmas oportunidades (CEYLÃO et al, 2020). 
 
O feminismo pode ser considerado ao mesmo tempo uma teoria crítica em 
permanente construção sobre a sociedade e as desigualdades de gênero 
nela existentes, por meio de diferentes visões e posicionamentos políticos, e 
um movimento político que, confrontando os sistemas de dominação, 
exploração e opressão das mulheres, reúne um conjunto de discursos e 
práticas na luta por direitos e transformações no que se refere à igualdade e 
à justiça social. Essa linha teórica essencialmente política perpassou pelo 
longo processo de conscientização das mulheres e de suas lutas através da 
história pela redefinição de seu papel social, por direitos e pela equidade de 
gênero, no âmbito da sociedade civil e domínios institucionais (CAMPOS, 
2017). 
 
23 
 
A primeira onda do feminismo (1890-1934) é marcada pelo sufragismo, 
luta pelo direito ao voto feminino. No Brasil, destaca-se a bióloga e ativista Bertha 
Lutz (1894-1976). O conceito de gênero emerge na segunda onda do feminismo 
(anos 60, 70 e 80), e traz a filósofa francesa Simone de Beauvoir (1908-1986) como 
principal pensadora. Na terceira onda do feminismo, reforçaram-se as reivindicações 
do movimento anterior, porém abrangendo mais diálogos sobre os sujeitos sub-
representados, negros, indígenas, LGBT+ e outros grupos sociais (CASEIRA, 2016). 
 
O feminismo significa também um movimento social. Parte da constatação 
de que a subordinação da mulher é fato constante na história da 
humanidade e as manifestações de sua insubordinação também. O 
feminismo significou que as mulheres passaram a trabalhar na teoria e na 
prática de forma conjunta em grupos, os mais heterogêneos possíveis, 
sobre a questão da opressão e submissão da mulher. (...) Defesa de direitos 
iguais para homens e mulheres aliado ao compromisso político de melhorar 
a posição das mulheres na sociedade estão envolvidos nas várias correntes 
feministas, formando movimentos e o conjunto de teorias que se 
desenvolveram a partir de experiênciasdiversificadas de opressão feminina 
e uma crença ou visão de mudança social. Nesse sentido, é um movimento 
plural desde sua origem e essa pluralidade está presente nos sistemas de 
valores, nas doutrinas e nas ações práticas voltadas para a transformação 
da condição da mulher (COSTA; SARDENBERG, 2002). 
 
O problema da opressão e discriminação contra as mulheres, por ser 
também uma questão de natureza moral e humanista, é de interesse de todos os 
seres humanos (SAITOVITCH et al, 2015). Para isso, a Constituição da República 
Federativa do Brasil garante no artigo 5° que “todos são iguais perante a lei, sem 
distinção de qualquer natureza”. Da mesma maneira, conforme a Assembleia Geral 
da ONU ocorrida em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos traz no 
artigo primeiro que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e 
direitos” (BRASIL, 1988). 
 
Segundo as teorias do patriarcado – que descrevem a dominação do 
homem sobre a mulher –, a tecnologia converte-se em um instrumento para 
manter as mulheres oprimidas na sociedade e no mercado de trabalho. 
Essa opressão/dominação é explicada de diversas maneiras pelas atuais 
disciplinas que fazem uso da teoria do patriarcado. (...) Porém, a opressão 
também se explica nas perspectivas psicológica, ideológica e cultural, 
contribuindo para fortalecer a dinâmica emocional da personalidade, 
profundamente enraizada no subconsciente e no inconsciente (COSTA; 
SARDENBERG, 2002). 
 
Os padrões de identidade entre os gêneros fizeram emergir novos 
paradigmas de comportamento e as discussões sobre gênero têm se tornado mais 
24 
 
presentes nas instituições. Assim, a intensificação de publicações e pesquisas 
científicas que incorporam as questões de gênero sobre a inserção da mulher no 
âmbito científico e tecnológico, possui contribuição fundamental para dar visibilidade 
aos esforços realizados quanto à posição social da mulher (BEZERRA; LIMA, 2018). 
Para as Ciências Sociais e a Psicologia, o gênero é entendido como 
aquilo que diferencia socialmente as pessoas, levando em consideração os padrões 
histórico-culturais atribuídos para os homens e mulheres. Por ser um papel social, o 
gênero pode ser construído e desconstruído, ou seja, pode ser entendido como algo 
mutável e não limitado, como define as Ciências Biológicas (BRASIL, 2018). 
A abordagem e estudo de gênero vêm aumentando em quantidade e 
complexidade em pesquisas. O assunto tem ganhado espaço na comunidade 
científica e abre uma oportunidade para a reflexão de como iniciar o diálogo com as 
crianças sobre questões de gênero e representatividade. Santos e Souza (2010) 
abordam a percepção sistemática das desigualdades logo na primeira infância: 
 
Desde o nascimento meninas e meninos são vítimas de construções sociais 
que irão determinar suas atitudes, gestos, valores e opiniões de acordo com 
seu sexo. Se for menina provavelmente vai ser educada para exercer 
funções domésticas, serão estimulados sentimentos de delicadeza, amor e 
fragilidade. O menino, por sua vez, para ser o provedor do lar, corajoso e 
aventureiro. Essa educação só é possível devido a práticas sexistas. 
Através desse mecanismo são legitimadas as diferenças de gênero de 
forma natural e imperceptível, a sociedade em si contribui de maneira 
bastante eficaz nesses estereótipos que acabam distanciando meninas e 
meninos, a família, a escola, a religião, todas possuem uma parcela de 
responsabilidade (SANTOS; SOUZA, 2010). 
 
Os mesmos autores afirmam que toda a sociedade, inclusive a mulher, 
participa desse pensamento androcêntrico. A educação através de vários 
mecanismos reforça esses arquétipos, construídos e baseados em questões 
biológicas. A experiência escolar é decisiva, ela pode contribuir tanto na reprodução 
de valores e atitudes que reduzem as oportunidades das meninas quanto na 
mudança decisiva em suas perspectivas profissionais (OLINTO, 2011). 
 
O sexismo, preconceito referente ao sexo se encontra presente na 
educação e no cotidiano através de algumas ações, seja por meio da 
linguagem, nos livros, nos gestos, que de maneira muito singular acabam 
por distanciar meninas e meninos, reforçando as diferenças e 
desfavorecendo a igualdade de gêneros. Por essa razão que existe tanta 
dificuldade e resistência quanto a sua superação juntamente com a visão 
androcêntrica, que está muito presente nos dias atuais, principalmente, no 
25 
 
espaço educacional, fazendo com que preconceitos referentes ao gênero 
obtenham força a cada dia (SANTOS; SOUZA, 2010). 
 
Em um contexto geral, muitos evitam a descrição social do problema de 
gênero, em opção a uma falsa naturalização biológica para justificar a pouca 
participação de mulheres nas Ciências (SAITOVITCH et al, 2015). Para Bonneti e 
Souza (2011) os termos “gênero” e “ciência”, de acordo com o que acontece em 
outros meios acadêmicos no mundo, enquadram-se em três grandes abordagens: 
 
1) a estrutural, que analisa a presença, a colocação e a visibilidade das 
mulheres nas instituições científicas; 
2) a epistemológica, que questiona os modos de produção do 
conhecimento a partir de uma crítica aos princípios norteadores do 
pensamento científico hegemônico; 
3) a análise dos discursos e das representações sobre mulheres na 
Ciência, identificando metáforas de gênero como as que associam a mulher à 
Natureza e o homem à Razão, com repercussões importantes nos conteúdos 
de diversas disciplinas. 
 
O estudo da temática é ainda mais relevante para o avanço da 
democratização das ciências, pois um dos principais entraves é a ausência de 
mobilização das cientistas em torno das questões de gênero. Esta ausência da 
mobilização, em parte, é explicada pela negação de problemas específicos em 
relação a participação feminina na Ciência e Tecnologia (SAITOVITCH et al, 2015). 
De acordo com o Relatório Mundial sobre a Desigualdade de Gênero, a 
desigualdade global entre homens e mulheres nos setores da política, economia, 
saúde e educação será eliminada em 99,5 anos. A Islândia continua sendo o país 
com maior igualdade de gênero no mundo (87,7%). Na região da América Latina 
serão necessários 59 anos para eliminar a desigualdade entre homens e mulheres. 
Apoiar a paridade de gênero é, portanto, fundamental para garantir sociedades 
fortes, coesas e resilientes em todo o mundo (CROTTI et al, 2020). 
Em 2018, o Brasil ocupava a 92ª posição com uma pontuação geral de 
69,1% no equilíbrio de gênero. Mesmo apresentando esse percentual, o país tem 
uma das maiores lacunas de desigualdades de gênero da América Latina, ocupando 
a 22ª posição entre 25 países da região, e quase 90 lugares atrás da Nicarágua 
26 
 
(80,4%, 5º), o melhor desempenho da região. No entanto, há perfeita paridade de 
gênero na taxa de alfabetização (93%) e educação primária (95%), e uma proporção 
maior de mulheres do que de homens estão matriculados no ensino médio e 
superior (CROTTI et al, 2020). 
 
2.4 As barreiras impostas às mulheres na Ciência ao longo dos anos 
 
Quando se fala na presença de nomes de mulheres na Ciência, o primeiro 
nome que surge destacado é o da matemática neoplatônica Hipácia ou Hipátia de 
Alexandria (370-415), que trabalhava na Biblioteca de Alexandria e foi assassinada 
por uma turba de monges cristãos instigados por religiosos fanáticos. Além de 
Hipátia, há muitos nomes de mulheres que tiveram destaque por contribuições muito 
significativas, mas estes só serão encontrados, nas diferentes áreas, a partir do 
século XVIII, também como decorrência do Iluminismo (CHASSOT, 2019). 
A autora Tosí (1998), cita as mulheres dos séculos XVII e XVIII, que 
participaram de diversas atividades científicas ou técnicas nas quais a tradicional 
habilidade manual, a destreza, o sentido de observação, a inteligência, a imaginação 
e a capacidade de trabalho de que sempre fizeram prova, foram amplamente 
aproveitados. No entanto, salvo contadas exceções, sópuderam penetrar na 
fortaleza do saber pela porta dos fundos. 
 
Algumas dessas mulheres, pertencentes às classes nobres ou burguesas, 
tiveram a chance de receber uma boa educação, o que permitia transpor 
barreiras e interdições. No entanto, ficaram relegadas à condição marginal 
de assistentes ou, no melhor dos casos, de colaboradoras de cientistas 
conhecidos, ficando frequentemente ignoradas para a posteridade. Mas 
houve também mulheres que tomaram posições feministas e defenderam 
seu direito à mesma educação e o acesso às mesmas atividades 
intelectuais dos homens (TOSÍ, 1998). 
 
Sempre existiu um mecanismo social que divulgou as mulheres como 
menos capazes intelectualmente. As mulheres foram proibidas por lei de exercer a 
medicina desde o século XIII, e eram proibidas de frequentar lugares de estudo e de 
divulgar seu trabalho e, quando o faziam, eram utilizando pseudônimos masculinos 
ou pela assinatura de irmãos, do pai ou do marido (REZENDE; QUIRINO, 2017). 
As origens para o problema são atribuídas às diferenças biológicas, 
cognitivas ou de socialização entre os dois sexos. Argumentos misóginos declaram 
27 
 
que as mulheres não possuem controle emocional para suportar as pressões 
frequentes em cargos de comando, que mulheres não tomam decisões objetivas e 
são socialmente educadas para serem “protegidas” e desta forma não adquirem a 
“agressividade” necessária para competir (SOARES, 2001). 
Uma segunda perspectiva propõe que os padrões institucionais 
determinam as escolhas individuais, que por sua vez mantêm e reforçam 
ciclicamente estes mesmos padrões. Em outras palavras, a estrutura das 
organizações não propicia o sucesso profissional do sexo feminino. Sob este ponto 
perceptivo, a questão das mulheres na Ciência é o resultado de estruturas 
institucionais inapropriadas e não da inaptidão feminina para as áreas de Ciências e 
Tecnologias (SOARES, 2001). 
 
O fenômeno da representação desigual das mulheres nas carreiras 
científicas de forma geral, e mais especificamente no campo conhecido 
como STEM (da sigla em inglês para science, technology, engineering and 
mathematics), está presente tanto nos países de economias avançadas 
como nas economias em desenvolvimento (BOLZANI, 2017). 
 
Logo, a participação feminina na Ciência tem sido objeto de estudos e 
discussões mundiais. Embora o número de mulheres supere o de homens em 
muitas disciplinas científicas nos cursos de graduação, ao começarem suas carreiras 
como cientistas ou em outra profissão elas se deparam com várias barreiras 
(BOLZANI, 2017). Entre eles podem ser enumerados (SOARES, 2001): 
 
1) dificuldade em conciliar as demandas da própria profissão e aquelas da 
profissão do parceiro. Mulheres aceitam mais facilmente uma mudança 
geográfica relacionada à profissão do parceiro do que os homens em 
relação à parceira. Este padrão é comum mesmo para casais nos 
quais ambos indivíduos são cientistas (o chamado two-body problem); 
2) a sobrecarga devido ao acúmulo das funções do lar e da profissão 
acadêmica. A solução encontrada por algumas universidades é a 
criação de creches no próprio local de trabalho e a implementação de 
práticas que permitam uma maior flexibilidade no horário de trabalho; 
3) o reduzido número de mulheres em cargos de decisão. Isto dificulta a 
implementação de políticas e medidas que estimulem uma maior 
participação feminina em Ciência e Tecnologia. 
28 
 
4) o escasso reconhecimento dentro da própria comunidade científica. 
Citando Marie Curie, quando foi necessário a recusa de Pierre Curie 
em receber o prêmio Nobel sozinho para que a comissão 
reconhecesse a contribuição de Marie na área de radioatividade. 
 
Em qualquer destes cenários, ainda é presente o chamado “Efeito 
Tesoura” representado por uma relação inversamente proporcional entre o patamar 
de prestígio acadêmico e o número de mulheres, ou seja, consiste na diminuição do 
número de mulheres conforme a carreira acadêmica vai avançando (OLINTO, 2011). 
 
A sub-representação das mulheres nos estágios avançados da carreira e 
nas posições de prestígio tem sido também denominada exclusão vertical. 
Já a sub-representação feminina em algumas áreas do conhecimento, a 
exemplo das Exatas e Engenharias, e intitulada exclusão horizontal. Os 
obstáculos em relação a exclusão vertical têm sido representados como 
“Teto de Vidro”, sob o qual estariam as barreiras a ascensão das mulheres 
na carreira científica. A transparência do vidro é uma metáfora para a 
suposta invisibilidade destes obstáculos, uma vez que estes não são de 
ordem formal, ou seja, não há impedimento legal para a maior participação 
das mulheres em postos de poder (SAITOVITCH et al, 2015). 
 
Dois mecanismos são geralmente identificados para descrever as 
barreiras enfrentadas pelas mulheres: a segregação horizontal e vertical. 
 
Por meio da segregação horizontal as mulheres são levadas a fazer 
escolhas e seguir caminhos marcadamente diferentes daqueles escolhidos 
ou seguidos pelos homens. Sobretudo pela atuação da família e da escola, 
as meninas tendem a se avaliar como mais aptas para o exercício de 
determinadas atividades e a estabelecer para si mesmas estratégias de vida 
mais compatíveis com o que consideram ou são levados a considerar como 
mais adequados para elas. A segregação horizontal inclui mecanismos que 
fazem com que as escolhas de carreiras sejam marcadamente 
segmentadas por gênero. Como as profissões femininas tendem a ser 
menos valorizadas no mercado de trabalho, considera-se que a segregação 
horizontal das mulheres está relacionada a outro tipo de segregação 
chamada de vertical. A segregação vertical é um mecanismo social talvez 
ainda mais sutil, mais invisível, que tende a fazer com que as mulheres se 
mantenham em posições mais subordinadas ou, em outras palavras, que 
não progridam nas suas escolhas profissionais. Estudos que abordam a 
segregação vertical têm se valido de termos como ‘teto de vidro’, indicando 
os processos que se desenvolvem no ambiente de trabalho que favorecem 
a ascensão profissional dos homens. O teto de vidro é invisível, mas é um 
mecanismo que tem sido identificado, inclusive nas carreiras de ciência e 
tecnologia (OLINTO, 2011). 
 
A autora Gilda Olinto (2011), ainda continua a sua argumentação: 
 
As dificuldades que se apresentam para as mulheres com relação à 
ascensão profissional, configurando mencionado ‘teto de vidro’ – o aspecto 
29 
 
vertical da segregação das mulheres no ambiente de trabalho –, revelam-se 
de diversas maneiras no ambiente científico. A paridade de gênero, ou 
mesmo a supremacia das mulheres, que atualmente se observa ao campo 
da ciência em alguns países – inclusive o Brasil e outros países da América 
Latina – tende a diminuir à medida que se avança nos postos acadêmicos. 
Isto pode ser observado quando se consideram os gêneros dos 
professores/ pesquisadores em posições específicas – como os cargos que 
acompanham a escala hierárquica da ciência. Quando mostrada 
graficamente, esta tendência gera uma imagem em formato de tesoura 
(OLINTO, 2011). 
 
Currículos de homens podem ser melhor avaliados do que das mulheres. 
Aliás, isso já foi demonstrado na área científica: currículos fictícios identificados com 
nomes masculinos foram considerados mais competentes e aptos para contratação 
do que os que estavam identificados com nomes de mulheres, mesmo os currículos 
sendo absolutamente iguais. Os currículos com nomes masculinos também foram 
relacionados a um melhor salário inicial (MOSS-RACUSIN et al, 2012). 
É sempre oportuno evitar o desperdício da força intelectual de toda a 
humanidade. A ascensão na carreira científica não deve sofrer influência de gênero 
ou de nenhuma outra particularidade como raça ou nacionalidade. A ascensão na 
carreira científica deve estar relacionada à dedicação e aos esforços em prol da 
expansão do conhecimento humano. No Brasil, a representação desigual das 
mulheresé um fenômeno em movimento e vem se alterando rapidamente na base 
da pirâmide educacional (BOLZANI, 2017). 
 
2.5 Dados sobre a produtividade acadêmica de mulheres no Brasil 
 
Atualmente no Brasil, assim como na educação básica e no ensino 
superior, as mulheres também são mais da metade dos alunos na pós-graduação, 
aproximadamente 56% estão no mestrado e cerca de 54% no doutorado, e mais de 
55% das pesquisas são direcionadas por mulheres. Além disso, em ambos os 
níveis, sua presença é mais acentuada nas Ciências Humanas, Ciências Biológicas 
e nas Ciências da Saúde (com índices acima de 60%), enquanto nas Ciências 
Exatas, e nas Engenharias, representam menos de 40% (CGEE, 2020). 
Apesar de serem maioria com doutorado em diversas áreas, as mulheres 
brasileiras não estão tão bem representadas nos níveis mais altos da carreira. As 
mulheres representam apenas 24% dos beneficiários do subsídio do governo 
brasileiro concedido aos cientistas mais produtivos do país (a bolsa produtividade). A 
30 
 
sub-representação em posições de liderança ainda persiste, já que as mulheres 
cientistas são apenas 14% da Academia Brasileira de Ciências (NEGRI, 2020). 
Analisando as bolsas de produtividade (PQ) do CNPq, considerada uma 
premiação ao mérito acadêmico, observa-se que, em 2011, havia 62,8% de homens 
PQ2 e 37,2% de mulheres para o mesmo nível. Bolsas PQ1A, concedidas a 
pesquisadores seniores de excelência nas áreas de atuação, totalizavam 77,7% 
para homens e 22,3% para mulheres. Em 2015, as mulheres representavam 24,6% 
dos bolsistas PQ1A. O pequeno aumento percentual nesse nível altamente 
competitivo demonstra que o reconhecimento do mérito acadêmico das cientistas 
brasileiras ainda é consideravelmente tímido (BOLZANI, 2017). 
Ainda tem a questão da idade na qual as mulheres atingem a bolsa PQ1A 
na faixa dos 50-54 anos, já os homens entre 45-49 anos. Outro dado interessante é 
que, das universidades do país, apenas 28,3% possuem mulheres como reitoras. 
Pode-se observar o predomínio dos homens nos postos de gestão e chefia de 
financiamento. O reduzido número de mulheres em cargos de decisão dificulta a 
implementação de políticas e medidas que estimulem uma maior participação 
feminina nas Ciências Exatas e suas Tecnologias (SOARES, 2001). 
Embora a falta de diversidade em cargos de chefia seja um fenômeno 
universal, o reconhecimento do problema e as ações para solucioná-lo são bastante 
recentes. Em alguns lugares, não existe uma política clara. No Brasil, a ação 
afirmativa para mulheres na Ciência é considerada desnecessária, pois há uma 
crença comum de que nenhum procedimento de promoção sofre preconceitos de 
gênero, raça ou origem geográfica (FERRARI et al, 2018). 
O relatório da Elsevier traduzido para Gênero no Cenário de Pesquisa 
Global, salienta algumas conclusões no que tange a participação das mulheres em 
direção ao equilíbrio de gênero na pesquisa. Dentre as informações reunidas, o 
Brasil aparece como um dos quatro países com maior participação de mulheres 
entre autores de artigos científicos, com 49%. Quanto aos artigos acadêmicos 
produzidos por mulheres, elas são citadas ou lidas em taxas similares às dos 
homens. Embora as mulheres publiquem menos artigos do que os homens, há um 
equilíbrio em termos de impacto (ALLAGNAT et al, 2017). 
Entre 1996-2000 e 2011-2015, a proporção de mulheres entre os 
pesquisadores aumentou consideravelmente. Essa proporção difere entre os 
campos de pesquisa: as áreas da Saúde e das Ciências da Vida apresentam a 
31 
 
maior representação feminina. A produção acadêmica das mulheres inclui uma 
proporção ligeiramente maior de pesquisa altamente interdisciplinar do que a dos 
homens. Entretanto, as mulheres são ligeiramente menos propensas do que os 
homens a colaborar em artigos nos setores acadêmico e corporativo. Entre os 
pesquisadores, as mulheres geralmente têm menos mobilidade internacional do que 
os homens (ALLAGNAT et al, 2017). 
A presença de mulheres e minorias em posições de liderança resulta em 
mais diversidade em ideias e estratégias para resolver diferentes tipos de 
problemas. Embora as mulheres tenham começado a entrar em alguns campos da 
Ciência em maior número, seu mero aumento de presença não é evidência da 
ausência de preconceito (MOSS-RACUSIN et al, 2012). 
 
Apesar do número restrito e pouco acessível de estudos sobre a atuação 
feminina em áreas de C&T, é razoável supor, com base na observação do 
número de mulheres ocupando posições permanentes em departamentos 
de Engenharia, Matemática, Física e Química brasileiros, que o Brasil não 
constitui uma exceção à tendência constatada em outros países (SOARES, 
2001). 
 
2.6 Incentivos à participação das mulheres na Ciência 
 
O sexismo atrapalha as mulheres cientistas, aliás, no desenvolvimento da 
Ciência nas produções, publicações e citações em revistas científicas. Por isso, as 
quatro etapas para acabar com o sexismo na Ciência são: promover iniciativas para 
enfrentar os esteriótipos desafiadores, melhor suporte para os pais, principalmente 
para as mães, entender que o preconceito contra as mulheres é um problema real, e 
programas de recompensas financeiras para boas práticas (SUMNER, 2015). 
 
Políticas e programas de governo em vários níveis, assim como políticas e 
programas de instituições de ensino e pesquisa visando à redução da 
segregação horizontal da mulher, podem se inspirar nos resultados das 
pesquisas sobre diferenças de gênero para promover mudanças que levem 
à redução da segregação vertical da mulher, incentivando uma participação 
mais igualitária dos gêneros na universidade e no exercício da atividade 
científica (OLINTO, 2011). 
 
O Programa L’Oréal-Unesco para mulheres na Ciência (For Women In 
Science) surgiu de uma parceria entre UNESCO e a L’Oréal em 1998. Todos os 
anos, o programa identifica, recompensa e incentiva mulheres de todos os 
32 
 
continentes, cujas descobertas e pesquisas tenham contribuído para o avanço do 
conhecimento científico. Além disso, os prêmios financeiros fornecem uma ajuda de 
ordem prática para essas pesquisadoras, além de inspirar futuras jovens a serem 
cientistas (CASEIRA, 2016). 
No Brasil, o prêmio “Para Mulheres na Ciência”, surgiu em 2006, a partir 
de uma iniciativa da L’Oréal Brasil em parceria com a Academia Brasileira de 
Ciência e a UNESCO. Segundo o programa, a premiação surge com o objetivo de 
ceder espaço e apoio à participação das mulheres brasileiras no cenário científico do 
país, ao premiar, anualmente, 7 pesquisadoras com uma bolsa-auxílio no valor de 
vinte mil dólares para auxiliar na sua pesquisa (CASEIRA, 2016). 
Desde que o programa surgiu no Brasil até a edição de 2020, foram 
realizadas 15 edições e 105 brasileiras, jovens cientistas e doutoras premiadas. O 
prêmio é dividido por 4 áreas de conhecimento – Ciências Matemáticas; Ciências 
Físicas; Ciências Químicas; e Ciências Biomédicas, Biológicas ou da Saúde, sendo 
que o número de bolsas não é o mesmo para todas as áreas contempladas pela 
premiação (CASEIRA, 2016). 
As mulheres em grupos científicos também enfrentam os problemas 
estruturais de trabalhar em sistemas que consolidam a desigualdade na Ciência. 
Elas estão lutando por creches subsidiadas, garantindo que as instituições cumpram 
as leis sobre amamentação e estão pressionando por bolsas de estudo para 
acomodar o tempo retirado pela gravidez. Esses grupos de cientistas também 
começam a pesquisar sobre o cenário de suas instituições na representação de 
gênero, publicando estatísticas que rastreiam as taxas de atrito nos cursos. Essas 
mudanças para ajudar as mulheres a perseguir seus objetivos de carreira levariam a 
um maior equilíbrio de gênero em todos os níveis (AHMED, 2016). 
 
2.7 A maternidade e a produtividade científica 
 
O início da carreira acadêmica é marcado por um período prolongado de 
precariedade, que coincide com o período reprodutivodas mulheres. O termo 
parede materna, referindo-se à discriminação e às limitações enfrentadas pelas 
mães que trabalham, já é usado há mais de uma década. Políticas como licença de 
trabalho garantida e acomodações para cuidar de familiares podem ser 
particularmente importantes para as mulheres (MINELLO, 2020). 
33 
 
A maternidade compulsória é um regime político em que mulheres são 
compulsoriamente empurradas para realizar o trabalho reprodutivo. Junto com a 
heterossexualidade compulsória, sela o destino de fêmea como esposa e mãe, a 
serviço dos homens, no patriarcado (SOARES, 2001). Em um sistema que premia a 
produtividade, a maternidade pode implicar uma diminuição da mesma e 
consequente na perda da bolsa. As relações de gênero na academia são 
profundamente marcadas pelos impactos da maternidade sobre a produtividade 
acadêmica da mãe pesquisadora (INFANGER; BALBACHEVSKY, 2020). 
O trabalho acadêmico no qual a progressão na carreira se baseia no 
número e na qualidade das publicações científicas de uma pessoa e em sua 
capacidade de obter financiamento para projetos de pesquisa é basicamente 
incompatível com outras tarefas que elas assumem, como cuidados domésticos e 
com os filhos, em maior proporção do que homens. Com o aumento da participação 
das mulheres nos mais variados campos profissionais, as mulheres têm sido 
confrontadas com o desafio de reconciliar pessoal e vida profissional, principalmente 
no que diz respeito a maternidade (MACHADO et al, 2019). 
Poucos estudos avaliam o impacto imediato da maternidade sobre a vida 
científica das mulheres, em qualquer fase. Diante desse cenário, é necessário 
compreender o verdadeiro impacto da maternidade na vida acadêmica e científica 
dos professores universitários e pesquisadores, visando apoiar novas políticas para 
aumentar a participação das mulheres na Ciência (MACHADO et al, 2019). 
Nesse intuito, em 2017, foi fundado o Parent in Science, objetivando 
principalmente a investigação do impacto da paternidade na carreira de cientistas no 
Brasil. O projeto surgiu por iniciativa da bióloga e professora Fernanda Staniscuaski 
(UFRGS), motivado pelas frustrações e dúvidas sobre o conflito entre ser uma boa 
mãe (hoje com três filhos) e uma boa cientista (ANDRADE, 2018). 
A maioria das bolsas PQ, por exemplo é concedida a homens com idade 
entre 45 e 54 anos, enquanto para mulheres a faixa etária é maior. O menor número 
de bolsistas está entre 50 e 59 anos, sendo que apenas 19% das bolsas concedidas 
a pesquisadoras são para mulheres entre 30 e 34 anos e 25% para mulheres entre 
35 e 39 anos. O mesmo cenário é encontrado nos grupos de pesquisa do CNPq 
(2016), quando a porcentagem de mulheres líderes de grupo é de 38,3% na idade 
entre 25 e 29 anos, 41,4% entre 30 e 34 anos, 43,4% entre 35 e 39 anos e 45,5% 
entre 40 e 44 anos (MACHADO et al, 2019). 
34 
 
Ressalta-se que em nenhuma faixa etária o número de lideranças 
femininas é maior do que o de homens, sendo a menor diferença encontrada na 
faixa etária de 50 a 54 anos, onde 49% dos líderes são mulheres. É evidente que 
essas menores representações nas bolsas de produtividade e liderança de grupos 
de pesquisa coincidem com a idade fértil da mulher (MACHADO et al, 2019). 
Machado e colaboradores (2019) identificaram o principal provedor de 
cuidados infantis domiciliares. Para 54% dos entrevistados, a mãe era a única 
provedora, e apenas 34% dividiram o cuidado igualmente entre os pais, enquanto 
7% dos pesquisadores tiveram ajuda externa e 5% responderam apenas que o pai 
ajudou ocasionalmente. Como consequência, as pesquisadoras enfrentam uma 
disponibilidade reduzida de tempo para trabalhar em casa: apenas 14% conseguiam 
trabalhar regularmente em casa. A maioria dos cientistas achou extremamente difícil 
trabalhar em casa (45%) ou só poderia realizar tarefas simples (20%) ou ainda 
trabalhar após a hora de dormir das crianças (21%). 
Para a maioria, o principal obstáculo enfrentado pelas cientistas que se 
tornaram mães é conseguir financiamento para projetos de pesquisa. A dificuldade 
parece estar associada à lógica da produtividade que norteia as avaliações de 
desempenho e a progressão profissional dos cientistas. Enquanto as pesquisadoras 
sem filhos costumam manter uma taxa regular de publicações por ano, muitas que 
se tornam mães tem uma queda significativa nesse número, tendência a ser 
revertida quatro anos após o nascimento dos filhos (MACHADO et al, 2019). 
Como consequência, é corriqueiro três situações distintas: i) a mulher que 
abre mão da maternidade por conta da carreira; ii) a que abre mão da carreira por 
conta da maternidade; e iii) a que resolve conciliar pesquisa e maternidade e, 
possivelmente, vai encontrar muitas barreiras. Colocar o tema na agenda do debate 
político e promover uma mudança cultural são as principais formas de enfrentar a 
questão que, mais uma vez, envolve um entrelaço entre Ciência e gênero 
(BRANDÃO; MORAES; SOLETTI, 2019). 
Esses insights podem ser poderosos em pesquisas sobre questões 
sociais e políticas públicas. Para contornar este problema, medidas compensatórias 
são extremamente necessárias como licença-maternidade institucionalmente 
impostas. A licença-maternidade no Brasil tem um período de 120 a 180 dias para 
as mulheres e de 5 a 20 dias para os homens (MACHADO et al, 2019). 
 
35 
 
Assim, políticas específicas, além da licença-maternidade, para eliminar 
barreiras devem ser implementadas. Urge realizar um acompanhamento do 
sistema para melhor identificar estas barreiras. É importante ter em mente 
que as barreiras podem ser diferentes para as diversas etapas da carreira, e 
que é necessário identificá-las e propor estratégias com o objetivo de 
superá-las, contribuindo para uma participação maior e mais qualificada das 
mulheres (SAITOVITCH et al, 2015). 
 
 
2.8 As mulheres cientistas na Química 
 
A partir do século XVI a Química afirma-se como uma Ciência 
independente da Alquimia. Em particular, a Química aplicada à Medicina 
desenvolvida por Paracelso (1493-1541) fundava-se na extração e purificação de 
substâncias ativas a partir de minerais, animais ou vegetais. No século seguinte 
generalizaram-se os cursos de Química e um grande número de tratados teórico-
práticos sobre a preparação e o uso de medicamentos começaram a ser publicados 
(TOSÍ, 1998). 
No final do século XVIII, a Química se ramificou da filosofia natural e foi 
reconhecida como um componente relevante da educação dos homens e um 
assunto de interesse para o público em geral. O crescente interesse neste campo 
deve-se ao reconhecimento geral precoce do conhecimento da Química como um 
benefício material confortável e também uma base para o desenvolvimento industrial 
(GONZALEZ; MUÑOZ-CASTRO, 2015). 
Destaca-se o primeiro livro de Química escrito por uma mulher, a química 
francesa Marie Meurdrac (1610-1680). La Chymie Charitable et Facile, en Faveur 
des Dames (A Química Caritativa e Fácil, em Benefício das Mulheres), foi publicado 
pela primeira vez em 1665-66. A argumentação de Marie Meurdrac é 
surpreendentemente moderna já que toca na questão crucial dos meios a se 
empregar para dar às mulheres a mesma educação dada aos homens (TOSÍ, 1998). 
A escritora britânica Jane Marcet (1769-1858) escreveu em 1805, 
Conversations on Chemistry (Conversas sobre Química), um livro para mulheres que 
não tiveram acesso à sua mesma instrução privilegiada, encorajando a 
compreensão da Química como uma ciência popular. O objetivo da autora, era 
oferecer ao público, e mais especificamente ao sexo feminino, uma introdução à 
Química, recomendando a obra como uma fonte útil de informação (GONZALEZ; 
MUÑOZ-CASTRO, 2015). 
36 
 
Jane Marcet é um exemplo significativo da participação feminina na 
Ciência no início do século XIX e seu papel ativo na comunicação científica. Além 
disso, seu livro era um rico testemunho do desenvolvimento científicode vastas 
teorias da Química desenvolvidas por vários cientistas daquela época, nas quais ela 
pretendia divulgar o conhecimento da Química para um público grande e diverso 
envolvendo crianças e mulheres (GONZALEZ; MUÑOZ-CASTRO, 2015). 
As populares palestras e leituras de livros sobre Filosofia Natural, 
Astronomia, Química e Botânica legitimam aos poucos a inclusão do público 
feminino nas teorias científicas contemporâneas. O trabalho de Jane Marcet 
popularizou o conhecimento e compreensão da Química, e contribuiu notavelmente 
para o ensino da Química por meio de demonstrações experimentais voltadas para 
iniciantes de todos os tipos, sendo um testemunho histórico do desenvolvimento da 
Ciência Química e como o conhecimento atual foi gerado (GONZALEZ; MUÑOZ-
CASTRO, 2015). 
Várias mulheres químicas contribuíram com a Ciência ao longo da 
história. A autora Costa (2006) argumenta sobre a participação feminina na Ciência, 
afirmando que mesmo sua história sendo negligenciada em papéis, muitas vezes, de 
coadjuvantes, ajudantes, quase invisíveis, agindo nas “sombras da história” e do 
conhecimento, historiadoras, entre outras profissionais, as mulheres começaram a 
aparecer e, nesse resgate, é visto que não foram poucas. Dentre elas estão: 
 
 Tapputi–Balatekallim 
 
A alquimista babilônica Tapputi–Balatekallim, nascida em 1200 a.C, é 
considerada a primeira química do mundo, mesmo sem comprovação científica. 
Atuava na produção de fármacos, perfumes e cosméticos para a realeza do Egito 
Antigo. Esses produtos eram extraídos de plantas, flores, petróleo, bálsamo e mirra. 
A alquimista Tapputi é mencionada em um tablete de argila com escrita cuneiforme 
que trazia algumas informações sobre suas técnicas e receitas (NUNES et al, 2009). 
 
 Marie-Anne Piarrette Paulze 
 
A cientista e ilustradora francesa Marie-Anne (1758-1836), participava 
ativamente do trabalho de laboratório de seu marido, Antoine Lavoisier, contribuindo 
37 
 
significativamente para as pesquisas dele. Desempenhava principalmente o papel 
de assistente de laboratório, fazendo anotações em seus cadernos e esboçando 
diagramas de seus projetos experimentais (NUNES et al, 2009). 
Ela também traduzia para o francês, textos sobre Química originalmente 
escritos em latim, sueco e inglês, línguas nas quais era fluente. Além disso, criticava 
os textos científicos, acrescentando notas de rodapé com correções e outras 
afirmações. Em 1803, ela publicou a primeira edição da obra Memoires De Chimie 
(Memórias de Química), logo após a morte de Lavoisier (NUNES et al, 2009). 
 
 Alice Augusta Ball 
 
A química e farmacêutica afro-estadunidense Alice Ball (1892-1916), foi a 
primeira mulher, e primeira mulher negra, formada na Universidade do Havaí. Criou, 
aos 23 anos, o método Ball, um tratamento químico com óleo injetável como método 
mais eficiente para o tratamento da lepra que ajudou a curar milhares de pessoas. 
Os estudos de Alice foram fundamentais para a idealização de óleo de uma planta 
medicinal. Infelizmente, ela morreu jovem aos 24 anos, provavelmente, por ter 
inalado gás clorídrico no laboratório (PEREIRA; SANTANA; BRANDÃO, 2019). 
 
 Gertrude Belle Elion 
 
A bioquímica e farmacologista estadunidense Gertrude Elion (1918-1999), 
foi a única mulher a se formar na pós-graduação de Química pela Universidade de 
Nova York no ano de 1939. Fez importantes pesquisas envolvendo a área da saúde, 
obtendo em 1988 um Nobel de Medicina junto com George Hitchings, bioquímico 
estadunidense e James Black, farmacólogo britânico, por seu trabalho envolvendo a 
concepção de medicamentos para o tratamento de doenças como leucemia, malária, 
infecções e gota (NOBEL PRIZE, 2020). 
 
 Joana D’arc Félix De Souza 
 
A química, professora e cientista brasileira Joana D’arc (ETEC-SP), 
também doutora em Ciências pela UNICAMP, incentiva seus alunos em situação de 
vulnerabilidade a terem uma perspectiva de futuro através da participação em 
38 
 
projetos de pesquisa. Em 30 anos de carreira profissional, recebeu mais de 80 
prêmios, possuindo 15 patentes registradas a partir de suas pesquisas, entre várias 
tecnologias desenvolvidas que foram transferidas para a indústria. Seus trabalhos de 
grande impacto científico e social renderam o prêmio Kurt Politzer de Tecnologia de 
Pesquisadora do Ano, em 2014 (BRASIL, 2019). 
 
 Bárbara Carine Soares Pinheiro 
 
A química, professora e ativista brasileira Bárbara Carine (UFBA/UEFS), 
também mestra e doutora em Ensino de Química, desenvolve pesquisas nas linhas 
de formação de professores na perspectiva crítico-decolonial e diversidade no 
ensino de Ciências. Além de artigos e capítulos de livros, possui 5 livros de sua 
autoria, entre eles Descolonizando Saberes: a Lei 10.639/2003 no Ensino de 
Ciências (2018) e @descolonizando_saberes: Mulheres Negras na Ciência (2020). A 
última obra tem como finalidade reunir biografias e difundir produções científicas de 
mulheres negras, principalmente das Ciências e Tecnologias (SANTANA, 2020). 
 
2.9 Disparidade de gênero na Química brasileira 
 
A necessidade de estudos voltados para a problemática de disparidade 
de gêneros na área científica é de extrema relevância, visto que a discussão de 
paridade de gênero se tornou uma questão proeminente. Na área de Química 
existem poucos estudos específicos, à exemplos de outras áreas específicas. Por 
isso, Naidek e colaboradores (2019), fizeram um levantamento de alguns dados 
sobre o panorama da mulher na área da Química no Brasil entre 2018 – 2019. 
No que diz respeito à formação acadêmica e científica em Química, as 
mulheres representam um número bastante significativo de 53% em todo país. A 
representação feminina ao progredir na carreira acadêmica, sofre uma leve 
diminuição; iniciação científica (56%), mestrado (52%) e doutorado (52%), 
respectivamente, como pode ser observado na Tabela 4. Quando se observa o 
Prêmio CAPES de Tese na área de Química, 2006 a 2018, apenas 33% dos prêmios 
foram agraciados por mulheres. 
 
39 
 
Tabela 4 – Representação de bolsistas dentre os diferentes níveis de titulação 
na área de Química 
 BRASIL NORDESTE 
 MULHERES HOMENS MULHERES HOMENS 
INICIAÇÃO À 
DOCÊNCIA 
56% 44% 48% 52% 
MESTRADO 52% 48% 47% 53% 
DOUTORADO 52% 48% 46% 54% 
Fonte: Naidek et al, 2019. 
 
O percentual de mulheres docentes das universidades federais e 
estaduais, nos cursos de Química na graduação e pós-graduação revela dados 
discrepantes sobre essa carreira. No cenário nacional, é verificado uma 
representatividade correspondente a 42% no quadro de docentes da graduação e 
36% na pós-graduação. Na região Nordeste, 45% dos docentes de graduação em 
Química são mulheres e na pós-graduação, por sua vez, elas são 43% dos docentes 
(Tabela 5). 
 
Tabela 5 – Representação de docentes nas instituições brasileiras em Química 
 BRASIL NORDESTE 
 MULHERES HOMENS MULHERES HOMENS 
GRADUAÇÃO 42% 58% 45% 55% 
PÓS-
GRADUAÇÃO 
36% 64% 43% 57% 
Fonte: Naidek et al, 2019. 
 
As autoras também pesquisaram sobre a distribuição de gênero na 
progressão da carreira científica de uma pesquisadora desde o nível Pós-Doc (49%), 
bolsas de produtividade da CNPq – PQ2 (34%), PQ1D (28%), PQ1C (31%), PQ1B 
(21%) e PQ1A (12%), até a titularidade na Academia Brasileira de Ciências. A 
carreira das pesquisadoras em Química na região Nordeste, por exemplo, varia 
consideravelmente em relação ao total de pesquisadoras no contexto brasileiro, de 
acordo com a Tabela 6. Adendo, na Academia Brasileira de Ciências, 19% são 
membros mulheres da área da Química, que por sua vez, todas estão no Sudeste. 
 
Tabela 6 – Representação de gênero na progressão da carreira em Química 
 BRASIL NORDESTE 
 MULHERES HOMENS MULHERES HOMENS 
PÓS-DOC 49% 51% 16% 84% 
PQ2 34% 66% 22% 78% 
PQ1D 28% 72% 21% 79% 
40 
 
Tabela 6 – Representação de gênero na progressão da carreira em Química 
 BRASIL NORDESTE

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