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CULT ! ...:." -~ (\'"-·· (',/,\ . . . _....,,_ ., ( ,_.._.)'.,..- ·' ·('-,\ ·~· ' '\'-·; .. . -iz-\· ,·-....·, .· ' 1....., • ' ... ' • ~· <.>) ~-· (: t\ ····ii.~)t ' \ ' "' ' . ) 4:) . <=\ ... n\ --· CHEGARAM OS DOSSIÊS DIGITAIS_s\eK C,.Y&T! A 1t6 J A PARTIR DE AGORA VOCE TEM ACE:SSO A QUALQUER DOSSIÊ PUBLICADO~(!) LONGO D - 'ZO ANOS DE REVISTA CULT Q\ o.0 C\U' Ü\). '*""r l ...- • ... -· 4,~ '~ Plllrtl'W • • !~,flt•I i. DOSSI~ ~~\,., li '! i'';j.':ic ,..'( o e,<)!,1SJ \ Apreser.i_taf5o, 20 por 111:NI\N c:@:i,,U-1!\ Vi'.;\ô r"lir6spectiva, 24 e SILVIO ROSA FILHO ,:Jou!J:" •m, . . ~~~11M1,s ~1 G1~1,rn o.O'=' ~ u1,11rr,\)\). D•JoOJO trilr;).$1~1Jor e revolucronarLQJ_ 28 <?,~ ~ \,,,.,\Ôº. -.,'::, r, ( por Mllll!Si\ FEl1~1~ES \ n'vv P.~~J <".,. \ '\.. Urna nova paeiG',?oiític,~, 3 ARtfSTA D~Ci:APA \....~... por ,J1\0UEL11ô~MES ,OEIJ.['JVS:J ei (', capa drsll~d,çao !e,G:?eb,da a partir de Múltip.las ~ffi1'fb~nt.es idé;/~da.des, 36 e" '(,_ trabaihp da art1s1a v1s\rJ1 rnmerra JADE MARRA, 25 ~ "O _ r,,;r '.\. "(:) afeto é o g;trlho que rne faz recorrer ao corpo :\ p~,/~Gli,U\ F/.\CCHll"I C:.,. d ' 1 - ;,,; • , t I ,_\U \0 .,,.; '- Q e rnrnba Cfjrnpanl,e,rn como materra fundamen a QC.:, Arni'i@b e solidariedade, !l0 , C:J, da pesgu,"a artísliç.a1que desen1olvo Ouand~ o S por J@?Ao SILVÉl110 rriEVIS~\N U 0,' c:,r~o da rnulfi{r lésbica e colocado em posiçao de o.O 0c ? c,;.J . ( CJr0ro1agonr,motsua 1e9,1,rn,dade e direito de ex,strr '\Q ÔESIG {\44 "Q;(\-.,; ' iº 1t I Os cem anos dos Atelies Superk,'r?s de ~e\;, . v Arte e Técnica sovi~.t,ic0s, cuja ele~,v~:enciª e ~V revolucionária ins0-ouâ Ba~1~Q e o MGf1;18,· Q:\). c:;e~ ç.f?~rHEL~rli~6\'rn s ~ ·~0~~1tl~1f 1'46 Urna seleção de~1ulos (ql{e ~al·em a leitura, por WE'L~qGTOI\J 111\JDR/.\DE 1 r 1 1 SUMÁRIO I BIANCA SANTANA 08 Dados de diferentes tempos nos informam como o Estado brasileiro está a serviço do capital, contra pretos e pobres MARCIA TIBURI 11 Com a interação com máquinas e aparelhos, hoje não temos apenas relações sociais, mas tecnossociais WILSON GOMES 12 As distorções e polissernias do termo "direita" e quem ganha com elas ENTREVISTA ii\aJ1r»i?t: 16 O cientista político fala sobre seu novo livro, O lulismo em crise: um quebra-cabeça do período Dilma (2011-20/ó) por JO,~QUIM TOLEDO JR. O filósofo francês Frédéric Gros diz não a toda obediência irresponsável em Desobedecer, por SILVIO llOS/.\ FILHO f\loventa anos depois, Macunaíma, 52 de Mário de Andrade, atualiza-se diante ele questões contemporâneas sobre identidade, 50 por MM,ND/1 M/.\SSUEI.!\ VLADIMIR SAFATLE 54 Oual gramática configura a forma da nossa revolta? CARTAS 57 #EULEIOACULT 58 COLABORARAM NESTA EDIÇÃO JOAQUIM TOLEDO JR, Sem título Acrílica sobre tela 120 x. 'IOO cm 2017 DOSSIÊ O movimento LGBT brasileiro: 40 anos de luta 24_ VISÃO retrospectíva 28 Desejo transformador Q E REVOLUCIONÁRJ,_O\ Ç 32 \_..V Uma nova PAUTA POLÍTICA S o 36_ oºs Múltiplas e aiiferentes IDENTIDADES 40_ AMPARO E solidariedade 20 Ci'l!J Nº235 RENAN OUINALHf\ E m 1975, Cid Furtado, relator do projeto faziam "apologia ao homossexualisrno''. Na de emen~a, constitucional que legali- televisão, telenovelas e programas de auditório zava 0 divórcio, argumentou, em seu sofreram intervenção direta das giletes da cen- parecer contrário à proposta na Câmara sura, que cortavam quadros e cenas com apre- Federal, que "desenvolvimento e segurança sença de personagens "efeminados" ou "com nacional não se estruturam apenas com trato- trejeitos" excessivos e que, portanto, com sua res, laboratórios ou canhões. Por detrás de simples existência, afrontavam o pudor e cau- tudo isso está a família, una, solidária, com- savam vergonha nos espectadores. pacta, santuário onde pai, mãe e filhos pias- Travestis, prostitutas e homossexuais - mamo caráter da nacionalidade". tanto masculi~?~~':!~~~nfo'femininos - pr,esen- Esta frase do deputado arenista na discus- tes nos cada-cez mais inflados guet~~·ll'l::j?anos são sobre o divórcio talvez seja uma das mais eram também uma presença ip.q'>qi6'da para perfeitas sínteses da moralidade alçada à po- , os qu~uÍtivavam os valo1qe}tiááicionais da lítica de Estado durante a ditadura que gover- .-:-f~mília brasileira. Por és!~ razão, passaram a nou o Brasil de 1964 a 1985. Sua indi~Q.~.ão ·, ser perseguídos/presos arbitrariamente, ex- , \ di ' · d d ti -> ' ' r \ '-' d 'l e d t \..., com O IVOrCIO, na ver a e, rem~ ra,a preocu- torquidos e;t0r,tlira ._Q~Pf.O tato e OS entarc,_mr, ,_. - · · f d . ---.. \.. 1 '-...\ ·~· r • r ...., ~) paçoes muito mais pro un a,s·CfJAIª revo ução em st,i,ü;, corpos i\u~_em seus comportamentos; e, dos costumes, com a libú-ação' sexual, mm a . , ofsiri~is de'sé.xuàlidade ou de identidade de- , . .)-· .. .,.. ' \ -, ~ . \ '. . '• \.. ' maior presença da m1üner no mundo d-9 t-i;a__ · g~n~_r? tlissidentes. ,, e.\\\_, -: t ' ., '-- .:......, _ balho e no espaço público, com a _entr:~1fa\,m i_.. ). Editores e jornalístas.qce se d_edia~vã:m aos e/:,,- · cena de lésbicas, homossexua(s eàfc\11ino,s·,t \. -v~ículos da então sJf a:dtada )1?!P,i:eri:sa g~i;,.:~S'- · ... travestis, com cada vez 1:1en9's:.pudores. 4ii\s"- peciahnen(fhM, jõrna_l La,~pião da\-~sqtfina_,,.. /~ · • 'd 'd d O \._ • d \.J. . 'i. d • \ d -~' \ :. ' ~-- sumir suas I ent1 a esi5'e~ua1s ou e genero. foram infücia os,,ptoT·essa os e trveram ~l!las· . . (\\ , . . \.._, '\·;..··~ ,.e . (').·_·, Assim, a v-rd;,i)lnvada, a esfera mtuna, o v'.iqa~·devastad~s, mmtas.:v~~.es cOmQ .apom do cotidiano eº, qtié se fazia entre quatro ~a;e~e~) ':)Úte1;1íl,rfjú.s~li~J'f~(~~\\~r:1?~~váin e m~s- foram tambem se convertendo em ob1e.to--aa traiirrh\s homo&sexuahd.ad,es:fora dos padroes ânsia reguladora e do controle au_t<21lfr~rl~ _dâ,.(";d~e~~igmàtÜri~ã; e fidiç1tÚ~ização que predo- ditadura brasileira. Pessoa~ t;,r(TP- ~'igiad~?~~.êS ~ mt11 .. ã:Yah1 na "irtjpteiisà marrom" até então. tidianamente e, em se-cfs dos"siês pi:o/lrtzido~,-~ ,z:; ./Ess~(, eie1nplos ilustram perfeitamente co- pelos órgãos de inforrri'áçõ,~~.' 1'}igÍ's~tr<1.x~~·se->> rry,> 4~ tju~stões comportamentai~ tornaram-se como uma mácula, ª, e_ventual ,~~P,'eHa ~l}-. (j~ti{eto da razão do Est~do depois do gol_pe de mesmo a certeza categonca de se trafar de,nfti'··· -1964 e, sobretudo, apos 1968. A sexualidade "pederasta passivo", como se isso dimir{hís'se passou a ser tema afeto à segurança nacional ou desqualificasse a integridade e o caráter da para os militares conforme registraram e do- pessoa perseguida. cumentaram os trabalhos da Comissão Nacio- Pot ser homossexual, ela perdia sua hu- na! da Verdade. Os desejos e afetos entre pes- manidade e, portanto, era considerada menos soas do mesmo sexo também foram alvo do respeitável em sua dignidade. Publicações peso de um regime autoritário com pretensão com material erótico cm pornográfico eram de sanear moralmente a sociedade e criar uma monitoradas e, muitas vezes, apreendidas e nova subjetividade afinada com os princípios incineradas por violar o código ético da dis- binários e heteronormativos tão caros às polí- crição hipócrita que grassava em uma socie- ticas morais conservadoras. dade que consumia vorazmente e cada vez No entanto, apesar dessas constatações, é mais este tipo de conteúdo. forçoso também notar, no final dos anos 1960 Músicas, filmes e peças de teatro foram ve- e início da década de 1970, uma ambiguidade tados e impedidos de circulai" por violarem "a fundamental. Ao mesmo tempo em que se moral e os bons costumes", sobretudo quando perseguiam a liberdade sexual, inúmeras ... p0~cnn identilfi:cui;, nessa hmt1a história, modos ciifet1tllíltes de ação politiGa e de contestação por parite ~k,s corpos e desejos "desviantes". G'<M1tmdo, é nesse momento peculiar da vecem<te dí.tadma civil-militar que emerge, em sentido sociol0girn e político específico, um movi1nent0 social de lutapelo reoonhecimen- trG, pda visibilidade e pelo respeito das diver- sidadies sexuais e de gênero. :Desde então, o MHiJ3 tornou-se LGBT, so- fremclo diversas tr.ansformações e contribuindo também para prom@ver importantes mudanças na sociedade e no !Estado brasileiros, Prolifera- ciência Soda! ([:ro.amp>s). Buscou-se inscrever no novo texto oonstüucicnal em discussão na As- sem\leia Naciona! Constituinte, expressamen- te, a vedaçãe à discriminação por orientação sexual em uma importante campanha. Apesar da cilernota ma votação cio tema, diversas legis- laç&es ml!tlílicipais e estaduais acabaram incor- perando essa perspectiva. Além disso, vale lembi;ar as inúmeras campanhas realizadas jw~to a velcuk~s de comunicação para que dei- xassem de representar as pessoas LGlff de for- iJ,1íJa sempve caricatüral e debochada. Muitos desafiios também foram enfrentados clwrante esses anos de avanço de reconheci- meBto. ,A epidemia do vírus do HIV e da aids, movimento homossexual brasíleiro, analisa o surgimento do Somos e sua relação com as demais lutas políticas fazendo um balanço desses quar<tNta anos. Marisa Fernandes, por sua vez, estudiosa e ativista de primeira hora do movimento das lésbicas, reconstitui como as mulheres ~1ue desejavam outras mulheres enfrentaram dificuldades cnm a homofobí« den.t110 do movimento feminista e oom o ma- chisim@ do movimento bmnosseKual. \ ) _____ ,,_o_s_s,_f I o MOVIMENTO LGBT BRASILEIRO 40 ANOS DE LUTA Visão retrospectiva ~ ·0º e" h'(\~ Àe5 euv s· ou \'b ~ ~\'\º 1ຠç o._'0-'õ . eº et o · o(\ · 0{'0 ~{.ô"" · r;sô..0 ALGo Ml!llio eKce,,5oN ·~ e\e o.,'J-7>' ESTAVA !11'v' CUR\, S. ~ Re ~ ti . od . o. . . . t A . . ara t~m par 10 ou as P.!'- rrreiras tinha o seu propno apartarnen o. maiorra '\ r;ti1'1iões do J1 '1cle.o~CA.ção pelos era do sexo masculino. Poucas mulheres per- Direit0f)f os H mo'?sexuais em São maneceram por muito tempo nas reuniões, Paulo dura te'o i11ye g e 1978, acompanhar cujos temas se concentravam, prioritariamen- os avanços do movimento LGBT brasileiro nas te, em questões enfrentadas por gays. Um certo últimas quatro décadas é uma experiência nível de misoginia difusa distanciava as lésbi- muito especial. Realmente ninguém poderia casque frequentavam os encontros nesse pri- ter imaginado as transformações que ocorre- meiro momento. riam na sociedade brasileira. Em parte, o jornal Lampião da Esquina Naquela época, nos sábados à tarde, dez ou incentivou a ideia de formar um grupo de ati- quinze pessoas se juntavam num apartamento vistas. Em seguida, notícias sobre as reuniões de algum membro do grupo em Pinheiros ou em São Paulo estimulavam a formação de ou- no Centro da cidade. Eram estudantes, fun- tros núcleos no Rio de Janeiro, em Belo Hori- cionários públicos, bancários, desempregados zonte e no Nordeste. Já em 1980, falava-se do e um ou outro intelectual. Movimento Homossexual Brasileiro (MHB). Alguns pertenciam à classe média alta, mas A maioria dos membros de São Paulo tinha a maioria não tinha muitas condições finan- pouca ou nenhuma experiência política. En- ceiras. Muitos moravam ainda com suas farní- frentava-se também o problema da alta rotati- lias, outros com amigos. Somente uma minoria vidade. Houve um pequeno número de pessoas UM BALANÇO HISTÓRICO E MEMORIALÍSTICO JAMES N. GREEN 24 & Nº235 mais dedicadas, mas muita gente que partici- o namorado, o grupo queria sair a público pava ocasionalmente das reuniões acabava não para protestar e denunciar. permanecendo. Isso porque havia outras opções Tenho certeza de que os editores do jornal e lugares de sociabilidade para gays e lésbicas Notícias Populares ignoraram a nossa carta, se reunirem que não as reuniões políticas que, mas isso não importava. O ato de afirmar-se, para muitos, eram consideradas longas e chatas. de exigir tratamento justo e igual, foi um fim Também, para alguns, esse tipo de atividade em si mesmo. E a tentativa de sair do gueto gay, não parecia dar resultados concretos. aquela zona de proteção contra um mundo hos- De qualquer forma, o Núcleo, que mudaria til para enfrentar a sociedade e os seus precon- o seu nome para Somos: Grupo de Afirmação ceitos, marcou os rumos do movimento. Hoje, Homossexual no começo de 1979, era diferente milhões de pessoas roas Paradas, uma visibili- do Ferro's Bar, um espaço conquistado pelas dade positiva a f11Ídia, as figuras públi[.fl,t'que lésbicas, ou mesmo dos cafés, restaurantes, denunciam 0 ~assinato e a violência, o con- bares e discotecas dirigidos a um públíco gay. junto li.e trabalhos acadêmic6 ,~i-ifde roman- Estava acontecendo alguma coisa única e es- .-( ces; peças teatrais e film~parecem indicar que pecial nessas reuniões. E_ a_s _pessoas g_~i,,.. \ aquele caminhe}l.:~is~h~do há q~1~renta ~nos :\). nham um pouco de sensibilidade para mo- para criar um fo uro gJogoso de vítonas f01 m(J O mento~ históricos notarany<:J_,ue algo muito p~~::;~fevi ,~',l;el~~a~ não f?i. Exigia.~i~- • S excepcional estava em curso\, ,t nanos, como'u>ao Silvério Trevísan, 'Ag;umaldo, ,J " • ,.. e, \ Sil l - d d . !'' V ·- M ,.;::., v tz» ! vi;e outros e itores o JOnrn,bamp1ao, ,a- S A PRIMEIRA CAMPANHA , ,,(2\\._Q IPsa Fernandes do Grupo [e \í\ção Lé[,b1êb-Fe-ÚQ ' HOMOSSEXUAL: UMA CARTA A:BERTA ,r,. ~inista e outras lésbicas e, nos anos 19~0, as AO JORNAL NOTÍCIAS POP-ULARES e\:u . . . ..., ~ e".'!c 'C.: - -1. ( e. (J .,, 'l) travestis p10Beiras que elalfornram um.3 mgua- t , ~ · Aos sábados, nas salas d apartamentos peque- gem polítiGa par\G@bi'star o status quo. 0\.\ nos e com pomms móveis, sentadas no chão, 13-c '? ovo- ·,r~ú'S \ . .::>:\. o as pessoas falavam sobre política, ainda qu@ ('ÀLIANÇ~ COM"AS ESQUEroA,S timidamente. ~r~scia o sentiment~~~ gu~ E~,8TRO\~ ~JMENt,g,?GCIAIS mudanças possrvers estavam no ª1;,.~a.via q~al::,OC_omo paftwip~nte nos pnmei.ros ~nos ~o mo- tro anos o presidente GeneMl:Ernesto Ge1sel vimei'r-rb em St9\Paulo, tentei forpr alianças . d" t -~ ~ "d ,(", l ~ . . . d prom~tia uma ,1s ensao . ..,\.o,om i ~ · :9 vmc as,:-\~rnm 9ut\os rnovunentos sociais e as ~squer as parecta que o pai~ ~nalmente eammhav ,:ra--::, pa: a fo\talecer o nosso trabal.ho. Discordava uma abertura poht1Ca. Houve uma e -P.ectahv,b~e outros fundadores do movimento sobre as crescente de que o Brasil poderi~ ·ealme1lh~ suas visões relacionadas aos rumos que deve- voltar a ser uma democracia. Poderia ser füfe- riam ser tomados, mas, a despeito das diver- rente para os homossexuais também. gências, considero a participação dessas pes- Hoje em dia, a primeira campanha pública soas fundamental. Por causa do meu próprio do grupo - uma carta aberta protestando con- envolvimento anterior nos EUA no movimen- tra as reportagens negativas sobre os gays, as to de gays e lésbicas na Filadélfia e em São travestis e as lésbicas no jornal Notícias Popu- Francisco antes de chegar ao Brasil em 1976 e lares - parece um esforço bastante modesto. depois pelas influências de um setor da esquer- Mas, na época, constituiu quase um ato revo- da brasileira em que militei a partir de 1977, lucionário. Primeiro, foi um esforço coletivo, eu trouxe uma análise marxista para as reu- já que todos tiveram que discutir e decidir o niões do Grupo Somos, quando discutimos o conteúdo, a linguagem e o tom da carta. Em mundo em mudança ao nosso redor. segundo lugar, foi um esforço público. Em vez No ano anterior à fundação de Núcleo e do de simplesmente organizar reuniões de cons- jornal Lampião, os estudantes voltaram às ruas cientização para discutir a discriminação, a depois de dez anos de repressão da ditadura repressão, os problemas com a família ou com militar para protestar contra as prisões ··• Nº235 S!1!J 25 DOSSIÊ J O fvlOVlfvlENTO LGBT BRASILEIRO 40 ANOS DE LUTA arbitrárias e para exigir liberdades dernocráti- "CONTRA A DISCRIMINAÇÃO DO cas. Eu argumentava, nas reuniões do Grupo TRABALHADOR/A HOMOSSEXUAL" Somos, que os estudantes abriram oespaço Hoje em dia, o panfleto que escrevemos há para as possibilidades de outros protestos pú- quase quarenta anos parece incrivelmente pio- blicos e que essas mobilizações refletiam o neiro e, ao mesmo tempo, bastante ingênuo e desejo de efetivar mudanças sociais mais pro- tímido. Com os títulos "Contra a intervenção fundas. Foi a minha elaboração precária na nos Sindicatos do ABC" e "Contra a discrirni- tentativa de entender a realidade brasileira e a nação do trabalhador/a homossexual", um sua relação com o nosso movimento. documento assinado pela Comissão de Ho- Dentro do grupo, várias pessoas resistiram mossexuais Pró-I º de Maio veio a público. a tal análise. Alguns tiveram experiências ne- Nele, eram analisadas as reuniões do Grupo gativas com a homofobia de setores da eslãuer Somos: "Enten~f!!ºS que a abertura foi esbo- da e na universidade de modo q~~ {'~':g~use- çada no B alWa partir de 1977 devido, em ram à ideia de procurar ligações, cliálogos ou graHd.,$PJl te, às grandes mobilizações dos colaborações com o moY~@n~estudantil ou ediiHantes e trabalhadores, principalmente os com as es~1uerda~·Qt1an o propusem~ B- me~~lúrgico~ d~ ABC que lutaram ~on~,ra a part1c1paçao ~~\JJ:é Maio de 1980, . ua,nte o.P~ht1ca economica ~o ge,ier~~ e patro~s. Ou a greve geral do ABC e quando~ a es av. nC "-~ep, nenhum procresso político e social nos p. risiiõ por~ ter violado a Lej.d~}egunn'ça ~- parecia isolad~)los outro~ . · 1 t .. cr:,'.":')d e ''' ' D A'.> ll ... t blh ~·ia, urn se ur 111111onta.t10 o '-l'ornos·se opos e1;mí~Jv1eram s 1gaçoes entre ostra a a- \. • t . c...l, . n . b dof .1 " « . id " Ya cs e engapm~l®'Pº itico 1~1hs a erto e re- .~es em gr ~e-os setQf!S oprimi os , uma solveu a~:llt[. ~ O gr 1p_ó' utro.s_ perceberam (expressã@ que ]?OU'9ÕS' usanm naqu~le mo- a im ,~·filma ~;1 e foram aSao B~~aú:lo ,ia 1~. "~si5. esp~ç~ conq~ust~do estimulou ~1 ,faixas e p ·opaganda - eu, inch srve. e; oütros setores opnm1~los da sociedade: negros, oº ,- o V :0-'õ\. 1~l!;l.eries e l(ü!E9SS}xuais come:~ram a se or- "\ O <:,.0 'f0\ ~ r. <\ 'g,nmzar e g._ptar contra a opressao constante • 1.. O e\0 :,i;sO q · ,~G"~fin mu~a socieda.de 1rn~chista e ~acis- - : \ 1 _. 'J _ _,t( \V . \C\ ~= --r: e\e \).ta.. Ho}e em dia,~ questao da 111t~rsecc1011~- l l!:)IJVL_ UI/L\ Et,{~l'l\i"1VA\.Cla:!'-.")<.Ll\lf8'-·· :\} o; !idade e um conceito comum tanto a academia UF:: OU E: íJ~t'!'HÍ? F'O~{:f<IA fff:~fglÇt\JTf:: S O quanto aos movimentos sociais. Naquele mo- \/OU/\f< A :,EF1 UJ;lY'Qi;.=:fVI("~~. JA .• ~\Ú( men'.o, a proposta soava bastant~ '.10va. f'ODEF!IA ':irn DIFEF<L;t1~í'~1:,1vvr;fs'2 1~~tamos ~la,bo~ar uma cnt~~a so~r~ a flOfVIOSSEXU/\IS -1Â?11BE1w1o\.O"'::) cond1çao dos trabalhadores homossexuais em , um ambiente em que ninguém, no Brasil, to- cava neste assunto. Por isso, em boa medida, a pobreza das críticas e das soluções que pro- pusemos. Porém, já naquele momento, apon- tamos a discriminação "na fase da admissão em entrevistas e testes psicológicos, etc." Re- conhecemos as atitudes discriminatórias na fase de promoção: "quando se descobre que o trabalhador homossexual é impedido de ser promovido". Anotamos que "no dia a dia, quando descoberto, o homossexual tem que produzir mais e melhor sob pena de ser des- pedido a qualquer pretexto". O panfleto, escrito em uma linguagem marxista meio crua demais, reconhecia que 26 l3'!m I\Jº235 "somos mandados embora se o patrão souber RETROCESSOS NO HORIZONTE? que somos homossexuais. Ou nem chegamos Uma foto de Lula com sua barba cheia e preta, a ser admitidos. Somos forçados a esconder as preso em 1980 por ter liderado a greve no nossas preferências fingindo uma padronizada ABC, é uma das imagens mais usadas atual- masculinidade (no caso dos homens) ou igual mente na campanha para sua libertação. É o feminilidade (no caso das mulheres) para não Lula de 1979, que dizia que "não conhecia o ser alvos de piadas, agressões e isolamento". O homossexual na classe operária", e o Lula de conceito de heteronormatividade não havia um ano depois, 1980, que declarava que ele entrado no vocabulário do militante, e a ex- não permitiria a exclusão de homossexuais da pressão homofobia ainda não circulava no fundação do Partido dos Trabalhadores. É Brasil. Quase ninguém entendia gênero como uma pessoa que esta~ diéia de contradiç~s "performance", e as ideias feministas circula- em 1979. E e 1~egue, hoje em dia; ~ntlem vam entre poucas pessoas. Mesmo assim, as uma p.t5~1 cheia de contradiç;e;s.::,Naquela ideias estavam im_plícitas na lin~u.agem no éte.crati'iinguém pod:t\t{ naginar Lula to~-- panfleto e no entusiasmo para participar no l" \ nanao-se presidente. &111 2011, quando ele saiu de Maio de 1980. Aproximadamente, cin1""G:1,1__.... do Palácio d~&alto com mais de 80% de O\). ta gays e lésbicas juntaram-se }111il~res de aprova~ ejhguém pôde.ria imaginar qu~ e}; outras pessoas para apoiar a greve geral e de- foss -- reso sete,anps depois, (!, O . S nuncíar a prisão dos líderes sindicais enquanto , e"eom tanto}avanços do movime5b E,GBT, e, O protestavam contra a füscriminação do(a.). tra-;:, ex,iste u~na tendência de certo§ ativistas ~!~ S, balhador_(a) homossexual. ) ç:,\'-~ pêJ1sal- que é impos~vel\~har ~trás~~=r?u- ,0º Daqui a sessenta anos, quando w,$.h1stoné:J"l \.mentam que as mtl,fhrnças das q~a1s os di.rertos d . bre " e. dr,.'-'" ' l ..... ft"' f ',:] e: or qmser escrever so re os,5em anos no- LGB'I resu tmn senam\ ae pro m~as na l)~ • vimento LGBT brasilee:9", certamente tais ca- sociedad.30rasileipYj:JU~não poderia haver um \ · - · f - · id · i l ~ n e "-E', l,....c;.,, 1 .c: .Q tegonas nao exis mao mais, e as 1 entic ac es rêt-Tocesso efetivo' · uma- eítura euronsa a ~ ,~ V sexuais, que são tão importantes hoje em dia, história b&,d'°;; na':,Gren~/de que, cfüm a mar- - . . · i.V - r • • J · ~ :Ç vao parecer conceitos curiosos do final do se- cha c!.9, tempo, tu&,_o melhora1\_tl.é que o progres- culo 2~ e o ~omeço do século 2~. ~tp-a1~u.e1ÔQ~élinea.1~,êse~re 110,1,e_g icl~ ~ositivo, de que modo, 1magmo que esses futaros.Jnstona,c ores nao ~~ra urn,1 ckrrota lustonca. vão registrar a publicaçfo,...~o J~rnal ;impião~~ Je,ln W)íllys:-tleputado federal pelo PSOL, como um e_vento fu'.1damental FFH]f-\ )ur~~1er:i'-,'":::lest~iv{r,nÇ1~R'inha c_as_a no dia d_a apuração das to do movimento, !unt~ com º, Gr&e Somos, ceJições presidenciais es_tadumdenses em, 1~0- entre outras aglutrnaçoes pohticas-'de ga-xs"'~º*mbro de 2016. Ele fazia um tour por vanas lésbicas que surgiram no final dos anos 1970. universidades na Costa Leste dos EUA. Naque- Será que a participação de ativistas LGBT la noite, a cada avanço de Trump no Colégio no 1° de Maio de 1980 estará presente em tal Eleitoral, tentei convencê-lo de que a vitória do compilação histórica de fatos relevantes do candidato republicano era impossível. Falhei movimento? Será que, no futuro, os observa- nas minhas previsões e, por isso, não quero dores desse passado vão entender o contexto tentar predizer os resultados das eleições pre- em que se dava a discriminação aos homosse- sidenciais de outubro de 2018 do Brasil. Mas xuais na classe trabalhadora, na fábrica e na existe um candidato que representa um retro- sociedade em geral? Será que perceberão a cesso total não somente para o movimento "loucura" dos participantes do lº de Maio e LGBT, mas também para os movimentos ne- seu envolvimento nessa ação política? gro, feminista e para as lutas por justiça social e económica. Talvez nós, que participamos do 1° de Maio de 1980, tenhamos sido ingênuos naqueles primeiros anos do movimento LGBT. Mas, talvez, entendêssemos o caminho. 8 f\1°235 13.!m 27 _!:)<:J.SSIE \ O MOVIMENTO LGBT BR/~SILEIRO ,10 ANOS DE LUTA Desejo transformador e revolucionário O MOVIMENTO DAS LÉSBICAS FEMINISTAS NO BRASii!"" 0"- MAPISA FERI\IAI\JDES ~o~ ';)\~<ç.\ então atuar como um subgrupo dentro do Somos, o Grupo de Ação Lésbico-Peministaou apenas LF, com posicionamento político de independência frente à centralização do poder masculino. 28 tam] Nº235 Em uma reunião geral do Somos de julho de 1979, auge do grupo, participaram 10 lésbi- cas e 80 gays. Ainda que claramente minoria, as lésbicas do Lr apresentaram suas decisões: encaminhar a discussão sobre machismo e fe- minismo no Somos, apresentar um ternário específico para ser discutido por todos, ter um grupo de acolhimento e afirmação da identida- de só parf lésbicas e buscar alianças com o movimento feminista. Nessa reunião, foram hostilizadas e chamadas de histéricas. Feliz- mente receberam apoio de alguns gays do Somos, mais abertos às questões de género. Essa pri- meira fase da luta do Lr não foi nada fácil, pois se depararam com empecilhos que não haviam imaginado. O u: era bastante plural, tinha de empregada doméstica a programadora de software, mulheres que não vinham da Aca- demia, mas dos "armários" e do "gueto". O ponto comum entre elas era o lesbianismo. "SAPATONAS" NO MOVIMENTO GAlF: AGORA, TUDO NO FEMININO FEMINISTA Em abril ele 1980, em São Paulo aconteceu o l Em 1979 e 1980, no movimento feminista, o Encontro Brasileiro de Homossexuais (EBHO), u~ integrou as Coordenações Organizadoras com 200 participantes de diferentes estados. do II e do III Congresso da Mulher Paulista. Com presença majoritária de gays, o LF esteve A primeira e organizada aparição dc Lf em presente trazendo discussões sobre as lésbicas, público foi um escàndalo, mesmo para as fe- o machismo e o feminismo. O l EBHO foi bu- ministas. Nesses congressos, as lésbicas defen- rocrático e cheio de discórdias que acabaram diam que as mulheres lutassem pelo direito ao tensionando as relações dentro de um movi- prazer e à sua sexualidade; que rompessem menta homossexual cada vez mais diverso e com O círculo de opressào e subordinação amplo. Após a participação de algumas lés- masculina que não aceitava o desejo da mulher bicas e gays do Somos na passeata do 1 o de e que tomassem conhecimento de que heteros- Maio de 1980 realizada em São Bernardo do sexualidade era imposta a todas as mulheres Campo, instalou-se uma divisào irreconciliá- como a única sexualidade "normal". Mas essas vel dentro do grÜ\).o. O LF reconhec~ 1 _1J~1ào ideias não eram bem-aceitas pela maior p~rte fazia mais~ntido continuar b~Jldo dentro do moviment_o de m~lh~re~ e soava radical '}.o 8'~11os e assim, em ~1~müo, as lésbicas para as feministas. Maroa Camp~s do gr:~f \e retiraram de_!~1B de~1mt1Va do gr_upo. ? político MR-8, por exemplo, ~ue~t1om}\ ~e- que ~~erai:1 f\ torna~ubh~a uma situaça_o ..). mo pode uma mulher da periferia aceitar que que Jª h ~na â.e fr\!.~cymü seja, a autonetmP O seu movimento seja dirigidCpor lésbicas, totall'.o:o LF.1Q\ri'©Me então foi rr,iu<l1do para,.)S ll d '1 , , , d. d ,t/?.,";;;J .1 J , bi · · n >lf r» como querem as,m:i .ieses ,e e ass\me_ i~ ~'::! \U~UPe0.~1~/ç~o_Les ica Fenm: sta-Ga .,Agora, movimento~ A lésbica nega a sua propna{en- tudo no femmmo. {0 0r::, O':,, díção de mulher, não pode fazer ~a{fe~e u~1 \. e O Galf atuava dentro df2$~to de-' és\:l'iÇJs movimento feminil:º''.· Publi\:Jm:n1~, ~\)8~~ vende_nd~t'2?eTI'n~ · ~'fl~tava*1n1~~\d':i-. vam da representatwidael ilas Coorden:açoes consoe111..tnaçao.so~re füscrnn'fuaçao \e'. ~wiien- por nelas conterYsa12,a:tonas". Direito ao corpo ·(eg·.· á]:onlra as ksbica.s e.ql~lgava asQividades . l. ,n .A"\'"' ,lJ .v e ao prazer era demais para as compan ~eiras , -o gi;.u\'\ó.· ·Atuo:b ortemente rnntra a onda de l d ' ( _( b" . ' . d ·. c.\A d - e camarac as a epoca. \.:!-\ iJ2 soes a - ..5r.anas, -&.torturas e e extorsao Wilminha expressou bem a inte1{~ã0 do U;:O comanc:Thdas P,do càelegado José Wilson Ri- . · 1 · • t(ô'.' ,.,. , .• 1i.b·1· " i;...,_ • · \:.a ..... b I d l d "Ora, se nossa pnncip~ f'~u,es a.o er~~v1~1 1 i- c~w~'ti a ~rh_r . e a. d e 1980, ainc a urante dade, que nos vissem. llltlzrnmos\l1Uc1 post;u3'Õ :\ d1~é:hJra civil-militar de 1964. Os alvos da sexual diferente e mal conhecJ~um il~sita"~~ ~ vi.olêi:cia estatal eram homossexuais, tn:vestis, discurso sobre,~ sex~rnhdade, e 1eJ1.ª cl~tei{!'n~ prostitutas, negros e desempregados. Grupos nação em discuti-la. Eramos lesbicas assthri.iaas homossexuais orgamzados, o Movimento Ne- no Brasil dos anos 80 e queríamos discutir les- gro Unificado (MNU) e grupos feministas bianismo nào mais como assunto privado, n,as divulgararn uma carta aberta à populaç~rn re- como questào política." O fato é que a presença pudiando essa violência e chamando todos das lésbicas no movimento feminista impactou para um Ato Público no dia 13 de junho de profundamente a discussào sobre sexualidade 1980 na frente do Teatro Municipal. Quando junto às mulheres de baixa renda. Foi o início o ato saiu em caminhada pelo Centro de Sào do desmonte da crença de que a mulher pobre Paulo, as lésbicas carregavam duas faixas com nào estava interessada em discutir sexualidade, os seguintes dizeres: Pelo Prazer Lésbico e Con- mas somente as desigualdades económicas. tra a Violência Policia!. Esse evento pol\tico se Alérn disso, a questào da sexualidade nào ficou configurou como a prirneira passeata LGBT reduzida ao uso de contraceptivos, mas tam- da cidade de Sào Paulo. Mas a violência seguia. bém envolvia a liberdade de eleger sua/seu Em 15 de novembro, o mesmo aparato policial parceira/o de cama e de vida. fez uma operaçào de prisào de lésbicas que, ... 1'1º235 Di _ DOSSIE j O MOVIMENTO I_GBT BIV\SILEIRO ,10 AI\JOS DE LUTA BiU\'=; f.J<J í;ICJ\/lh/lEl·ITO FEMll\i!ST!--\ ltvJPt\C:TOIJ PPOFIJJ.JDI.\MEI\JTE A D1c_;r~ CjE/ lj,L\LI D,L\DE J 1J I rro f.1~; fvl I_) UI EF< ES DE Bf.11//\ FIE í I D/\ indiscriminadamente, foram levadas dos gue- A ARTICULAÇÃO NACIONAL tos sob a "acusação": "você é sapatâo", DAS L~SBICAS Diversos outros episódios de repressão, No Brasil, em 1985, aconteceu o III Encontro mas também de resistência, devem ser lem- Feminista Latino-Americano e do Caribe, em brados nessa trajetória. Um deles é especial. O wão Paulo. Pela primeira vez, no movimento número um do primeiro boletim das lésbú~a'Çl...; feminista bn1sµe~colo~ou-~e 11? te~ário ofi- no Brasil, o Chanacomchana, foi lan.çaâ0 pelo cial do Enceritre o tema lesbianismo . No en- Calf em 1981 e circulou até 19t7.1Na 1Joite de tanto,:2;\ge mesmo Encontro, houve uma reu- 23 de julho de 1983, intqrraHtls'do Grupo é,1i.íl'lsódelésbicasnaqualRoselyRothafirmou v:nd ia 111 o c,:21a naco1~ú11, no Ferro's B'Xe_,G que O Galf se retirava do mRJ,imento feminis:a, Ce1111 o de São J!aL Ili, mas foram exp'i!;lsas e (J,'1ique era evidente. ue aquele movimento nao proibi_d~s(I · Sitra1 naquele lugAr~ ·~ era um (8 e ava apoio efetivtyaii i,!Ü<Ís. icas, . dos luR,~·es de sociabilidade Hi'<lJS fre~ueJ\ aêlbs Os mesrtml rob!~l:J.E\S do passado ainda se pel, !,i lésbicas na noite d, cidade~ U impunllfi~' O ~vim)nto d:J~sbicas ferninis- Dia nte ~ie5xe:{1[t ritarjsr1;J9\no dia 19 de tas 1~Brasihjá exi~tia l ,v~iase 17 ai~os e suas agosto, as lg_sl:JI~}s p13,.1 'ô'veram a invasão do~epautas,J~o enco{:1:t< vam a. 010 real Junto aos Ferro'yi~;:?m u m1 -ptsódio que ficou Eo11e- ,movt'nentos ftf11inist.:i (e 1;0;11ossexual. Para ~ ci® Gomo O pequeno Stonewajl brasi]);iro, C:!;!11 z,.\ts, erÍiÍ'O\ era Ul'gS)ll);a criação de um espaço 'r-ferência ao bar que foi inv,;1dJ~pel, ,!i"olilia,. .n:rSp"rio aur@1s"omo de abrangência nacional, r-. " . r... tt.· r \f' • . , ...,. , em [969 em Nova Yàrkle-que f~tiHí marc:o Jpara iêi2ensar a si mesmas enquanto individu- para o movi men oJ.1,GBT N~A. A i11;5'afko calili~les. Só assim seria possível aperfeiçoar os do Fer~o',::Bõ1ªi u~lo p'Olític~ganiza~.9 posicionamentos polític~s e as estratég\as de pelo ~r_e cooR9ado po1d±,0selY. Roth~1ue combate ao patriarcado, a heterossexualidade articulou a \Çill~com a ~ran, e in;i.P,1}hJa, gays, compulsória, ao racismo, à Jesbifobia de modo lésbicas, feminis~as'.;defensCJre.,i~de direitos hu- a elaborarum corpo político específico, ,, · · e' U ,,,,. . S . ' . N . 1 d manos e com po 1t1cos .. ,...@mo a ocupação cau- E assim que surge o enunano aciona e sou urn grande tumulto, corn cobertura da Lésbicas (Senale), o fórum mais importante de rnídia e presença da polícia, o dono do Ferro's junção política e de deliberação do movimento voltou atrás, liberando a venda do Chana- de lésbicas e bissexuais. Em agosto de 1996, comchana. Foi uma vitória e um marco fun- aconteceu O I Senale/RJ, com a participação de <lamentai para a história do movimento de 100 lésbicas. Dentre as deliberações, o dia 29 lésbicas brasileiro. de agosto, início do I Senale, passou a ser o O Galf deixou de existir no ano de 1989. O Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. primeiro grupo de lésbicas no Brasil teve dura- Os Senale continuam acontecendo e são ção de 10 anos, com ações ininterruptas nesse realizados em diferentes estados e regiões do período. As lésbicas organizadas iniciaram sua país. No VIII Senale/RS, o nome foi alterado luta em espaços de Jegitimaçào junto aos gays para Senalesbi, garantindo a visibilidade das e às heterofeministas, para depois, de forma mulheres bissexuais. O X Seminário Nacional autônoma, figurar como sujeitos políticos, ha- de Lésbicas e Mulheres Bissexuais (Senalesbi) bilitando-se na busca por seus direitos. acontecerá em 2018, na Bahia. 30 m 1\J023s \ ) A LUTA PELA VISIBILIDADE L~SBICA NOS DIAS ATUAIS Na busca por visibilidade e respeito dentro do e identidade de gênero nas agendas governa- movimento LGWC as lésbicas reivindicaram de mentais e não governamentais, das atividades paridade a cotas de participação em eventos na- antirracismo. O II Seminário Nacional de Lés- cionais do movimento LGBT. Apesar de aprova- bicas Negras e Bissexuais: Af rrnando ldenti- da a paridade no VII EBH0/1993 e depois cotas dades para a Saúde Integral, aconteceu em mínimas para lésbicas, tais reivindicações nunca 2015, em Curitiba. Em 2018 acontecerá o III foram concretizadas, o que demonstra a manu- Senale Negras, na Paraíba. tenção de posturas de poder machista e patriar- Como se pode notar dessas breves notas, o cal dentro deste movimento. movimento de lésbicas feministas surgiu com Na I Conferência Nacional LGBT/2008, as um discurso pelo direito ao prazer, transfor- delegações da sociedade civil, obrigatoriamen- mando aquelet1,.esejo sexual particular em um te, foram compostas de 50% de pessoas com potencial ~msformador e f{CJ1' icíonário. identich~de de g_ênero fen:inina (lésbicas, mu- C~ntml~, é fm~damenta~:!.oJn~orrer "" um lheres bissexuais, travestis e mulheres transe-o {ttv1smo LGB r buroci:_atJCD, hierarquizado, xuais) e 50% de homens. . ..... \,;( com a concen~l<;i:a'O d{ poder nas mãos de al- A Liga Brasileira de L~s~icas (~ ap'i"e- g~ns ql\e{a~m'./e represe.ntam a todas e todos, sentou uma proposta mais iustã;ii~egundo a nao ~~sitl.3,_<111~ as diferente~ :{alidaaes, qual as delegações fosse~ formadas por 20% p;éJ" ades• e iâentidades. Muitas '{@z'ts. nes a de lésbicas, gays, bissexliais, transexuais e tI,t, S longa tQj~tória, perdera: -,IGde'v°istaie,iiesejo vestis, respectivarríen l Ü Coletivo ~e.t0~al. (de s·e aprender umas cqm as OlJ;tr~ radi'J., de Lésbicas Negras Feministas ~l tônomaz,\ lismo, a ousa1ia e"falcíeoekdia.O ::, ... ( \ÚO (Candace-BR) criticou o fato de Ião bav r co- As c9;:esds' arçoiíri.s:e ao ttt!,iãgulo inver- tas para a comunida~ GBT neg111f'Mas os tido liláf1'1ã: pedem ~lesbH:Hfi\ob 11 n .pi~d~r pedidos dess;s du,~.f}eães nacionais de lésbicag é~raliza_g~t1fi1trn 'filo, n~°'?1~1}to LGBT. não foram atendidos. ç0 J\lé l\ dfS'so,.,é ,J:'l\/;iso recu\:( rrar o feminismo A visibilidade política das lésbicas \a1Mé111 ef&lésbk:at ~ue combtl;;\a heterossexualidade não foi alcançada nas Paradas do ~rgulh~ LGd~ cop1JI1o1l?csria f,Jue'·~~to oprime todas as mu- de São Paulo que, até :º~;t€t;~minav{i-se Pa- ,d:1eres. Ef @pio dessa renovação necessária é rada cio Orgulho Gav)lesêle l9~~ pedi{,aU ~\ fonrn]ção de Coletivas de lésbicas que, de d ''-' · .,_,.-,. ' ~ t· C;,..J , 1 · · c · alteraç~o . O nome qu~ 111v1st1~1zav:. ss)segme'.1- ~$)J'lfül au~onoma, co,-ocam nas ruas as am1- tos de lesbJCas, travestis, transexua\"S e,b1ssexuaJ~\ nhadas Lesbicas de Sao Paulo, e outras formas i · · ·b·1·c1 d ·11 .,,,.U";:J l · · 1 ' l lt I Para proc uzir v1s1 1 i a e socra e fO..!}l€a as e e at1v1srno pe o pa 1s com ape o cu u ra , lésbicas, protestar por seus direitos específicos, utilizando-se de distintas linguagens, como o demarcar suas pautas e celebrar, surge em 2003 hip-hop, bandas de rock hardcore e fanzines, a 1 Caminhada de Lésbicas e Simpatizantes, es- capazes de atingir distintos públicos. 8 paço criado por mulheres, que acontece no sá- bado que antecede a Parada. O nome da Cami- nhada foi alterado em 2013 para Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais e, neste ano ele 2018, será realizada sua XVI edição. Foi no ano de 2006 que as lésbicas negras organizaram o I Seminário Nacional de Lés- bicas Negras: Afirmando Identidades, que aconteceu em São Paulo. O resultado propiciou à população LGBT negra, de forma crescente e efetiva, a incorporação da orientação sexual Nº235 m 31 --~DOS51Íc: 1 O MOVIMENTO LGBT BRASILEIF<O 40 AI\JOS DE LUTA Uma nova pauta política NOTAS SOBRE AS TRAVESSIAS DA POPULAÇÃO TRANS NA HISTÓRIA JAOUl:LINf: GOMl:S DE Jl:SUS \"\ (' ' '{\.'- " :(\"' ,\"i o . i{º ~~º >çO:: ·. 00 s . 0\e °' ~e~ ~,\" 0os · 0u x:;.. <:, C:J'' · n'Õ O'? "('?>'(\. ~P-,"tJ ,z' \\Ü .-"\ i) '( O POD R ll>E NO ,6.,R O s noà Qsurg~n como algo que nos dão, que a nós atribuem. Contudo, esses mesmos nomes são transforma- dos, com a construção que cada pessoa faz de si a partir de quem se considera ser, naquilo que acatamos como nosso ou que mudamos para o que melhor entendemos nos representar. Assim se dá com os indivíduos e os grupos sociais. Em geral, as crianças são chamadas carinhosamen- te por nomes que lhes conferem dons, proteções ou benefícios. Isso porque tendem a ser vistas como parte relevante de quern lhes dá o nome. O mesmo já não ocorre com povos e grupos sociais, principalmente quando estes são vistos como "os outros". Isso é ainda pior quando existe uma relação de poder desigual. 32 m ~J023s Um exemplo é a atribuição do genérico nome "negros", surgido no século 10, às cen- tenas de povos africanos explorados durante o tráfico transatlântico, no período da escra- vidão moderna que fundou as Américas sob a dominação europeia. O termo, para além de se referir apenas às pessoas de pele escura, recebeu no século 15 uma carga negativa, contraposta a uma suposta superioridade dos chamados "bran- cos". Também as pessoas trans - aquelas que não se identificam com o género que lhes foi atribuído socialmente, ou seja, travestis, transexuais e demais pessoas transgêneras - têm uma história mais antiga do que é co- mum pensar. SER TRANS NA HISTÓRIA Anteriormente ao termo "transexual" havia Nos relacionamentos afetivos, tanto Hwarue "travesti" e, antes desta denominação, havia o quanto Alyha eram referidos pelos companhei- "trans", do latim "além de". Ao juntarem o ros, respectivamente, como "marido" ou "espo- trans ao "vestire", os latinos criaram o "trans- sa", Inclusive, as Alyha,usavam a palavra mohave vestire", referindo-se a quem exagerava na para clitóris a ,fui1 de se referirem aos·stt~s 61ffeos roupa que usava. Os italianos do século 16 genitais, tc 1 qual o termo "gramleÜábios" para popularizaram o termo, atribuindo-lhe um seus testículos e "vagina" para ~referir ao seu sentido adicional, a partir de expressões co1»0\"" ânus, o que também é-1c110~rática comum entre "Lui e travestito" (Ele está disfarçado). ~\;.. mulheres transexG:~is e travestis brasileiras con- ;\). A palavra "travestito", com tal sigri'ificado, temporâ1Jey, qte eyégtualmente aplicam ªoO O e · 1 d t l I f ( 1 . 1 ".....Jl " " ull " ' · 101 ogo a o ac a pe os ranGes1s, que re acio-avr,egre o ~1 g}"@ 10 para o seu pems. • S naram o "disfarce" a um csmportamento, tido ~e('~ \J\ ô.'->v e'º como ridículo ou falso, e homem que ~e v@steJ E.NTRE O FASCÍN 10 E A ABJQÃo e.,,/"\'\ S, como mulher. Posteriormente inc!uidê:Jià· In- @p ,ifgumas culturas, as Wúsoas trftls4'orarnc,O · 1 · "t t " e ~ ' \.. 1 · · · ('.:!, · 1 · 1; .. '1 gua mg esa, virou raves y . om os usosro nstorícamente est1gmat1zac as, Hargma.tiílauas li . - tili CJ C., . ti ('.) V id qf .-d ' t ("\ \ V 1· e_ • adjetivo passou a ser u 1 1zaL.l9, peJora e;:11men- e persegm as aevi o a crenc;:a na sua anorma I-( ";;J id ifi i;..,, 1 - d l I I ._.. ' · 11.. \ te, para I enti car µ1 a popu açao: a trans. ac e. sso porque,o estereotipo no qu~ sena E t • \._ t' t . . «" n viº' ' . 'Í ' f.'io ·a' )- 11 re os po~o.s !Ta ·'.vos 1~or e-amencanos, it\tura e \JU~o gener~at 11um o no0ascnnen- pessoas que hoJe 1dent1ficanamos como trarlt} "<10 seJa a~~le cornto};'tal a.s ~ssoasse 1dent1fi- eram chamadas de "berdaches", atuaI&,ente rn -?p6r toda3\;,ida e, p~aHt~espera-se que m~is.conheci~l'.,s c_omo two-?ir~ (clzj.~ ~sp>Í~ites:, Üelas;~º!~~rtem d0,~~ordo com o que se c01~- r~tennclo-se a 1cl<:.1ª de q~1e '&e1~'Pª~:'._l_de,f t>is s1dcm1 ser o a~~Ntiaclo. para esse ou,;1quele ge,~ generos ou que sao de UI terceiro g~!ltrro. :-\.a1ero,.N0 Brasil, ocorriam bailes ele travestis O d "l d 1 »Qc 't' l e ,':1) 1 ' \lJ 19 l . 1 . uso o termo Jer ac 1e\ tl<cn 1ca(o por noleçu o , quanc o mann 1e1ros eram recep- ser antiquado e ofensivo, tendo em ~·fiLque nã~Q_ 'onados no Rio de Janeiro, dada a falta de mu- era utilizado pelos indivíduos aos quais se I efe11~1: lheres com as quais dançar ern momentos de ' ele foi imposto por antropólogos que se basea- lazer, por homens vestidos de mulher. ram na palavra francesa para homem que se O fascínio misturado com abjeção tem sido prostitui (garoto de programa, "michê"), "bar- praxe na relaçáo da sociedade brasileira com as dache", a qual, por sua vez, derivou-se do árabe travestis e as mulheres transexuais. A sociedade "bardaj", que significa "cativo, prisioneiro". que sempre excluiu as travestis ainda não reco- Para os Mohave, que habitam a região do nhece a plena humanidade de pessoas trans, rio Colorado, no deserto de Mojave, pessoas que reagindo com histeria quando da visita ao Rio identificaríamos como mulheres transexuais de Janeiro, em 1962, de Coccinelle, artista e can- eram chamadas de Alyha. Tratadas com nomes tora francesa conhecida mundialmente como femininos, elas precisavam assumir hábitos estrela da trupe oficial da casa noturna Carrou- considerados femininos, como costurar. Já os sei de Paris. Ela havia se subrnetido, em 1958, a homens tidos por nós como transexuais eram uma cirurgia ele redesignação genital (antiga- chamados de Hwarne. Tratados como homens, mente chamada, de forma inadequada, de "ci- seguiam, casados, os tabus requeridos cios ma- rurgia de mudança de sexo") e foi a primeira ridos quando as esposas menstruavam. mulher transexual a ter o seu casamento, ••t I\Jº235 Ci'l.i 33 DOSSl_l:__j O MOVIMENTO LGBT BRASILEIRO 40 ANOS DE LUTA !() 1 J '~ f !I I j com o jornalista esportivo Francis Bonnet, re- DISCURSOS M~DICOS E JUDICIAIS conhecido, em 1960, pela Igreja Católica. Foi SOBRE A TRANSEXUALIDADE preciso chamar o corpo de bombeiros para tirá- O sexólogo alemão Magnus Hirschfeld, no co- -la a salvo de uma loja, na qual ela fazia compras meço do século 20, utilizou a palavra "trans- e era assediada por uma multidão de pessoas vestite" para quem habitualmente se veste com curiosas que queriam admirá-la de perto e cau- roupas atribuídas a pessoas do gênero oposto, saram enorme tumulto. geralmente por interesse de cunho sexual. Nesse período, artistas transformistas (termo Radicado nos Estados Unidos, o sexólogo brasileiro para os artistas perforrnáticos atual- alemão Harry Benjamim cunhou o termo mente conhecidos como "drag queens" e "drag "transexual" em 1966, e criou procedimentos kings"), igualmente referidos como praticantes clínicos para identificação e atendimento a pes- do travestismo, apresentavam-se nos palcos, coe soas transexuais, chamados de "padrões de mo o Teatro Rival, até mesmo após 1964, Gtn cuidado". Com i.;eendiam-se esses indivíduos permissão da ditadura militar, nã0)ioclendo, como inc!~ldos no denominado "travestismo ' fundi 1'-11 ., :~l(..-1;" lído na é 1 porem, con un irem-se com as mu 1eres Cisge- fet,i,Si1ista , entenc i o na epoca, especia mente n~ras fora de seus esr,açó"s' C~B icos .. Mas sem~re, por psicanalistas, como uma p~t?logia, um ti~o ha frestas. J\ canlt~ pe~former D1v111ai\lq1:!)a, de psicose, de acordo co~ visao de que o ge- negra, musa do -pintor Di Cavalcai li, ei:i'cVou ,\").'ü1ero identificado Reda pessoa "normal" estaria r: C - "' v 0: b . í ' c,,U bi l' . E se ;qntJ\ 't1ls1r no .anecao e e1~utros espaf0S su met« o aq se11 sexq, 108_gico. essa concep- qrri.\Jivi( ia com mulhere,se,[ Ç)\ ção red(~trntsexut!,id,?de a uma patologia e \...V-Nomes ainda h0je .elllQrad,qs~ 2'orno os de as pe{so}s transe uais a J;Jgs,oas para as quais [ ' ' . } . '~,;:, "'~~ . d B ' . "' r; t"" 1 · C\ . ' ·= ( t . " " ,ogeria, an: .)~castro,,óng1tte e · uzios, pir cec ímerrtés c1ruc~1.90s .ranarn uma cura . Cláu~~~~te, s~~f!i!le K. entre outras ~li~~~\ r .. E~rnplifice,_'6hmo.o COl:Ceito de ~ransexu'.ll surgir· m ness~n1po em que as tnLves ·1s' vis-':,. foH111c1aL - ehte rec<:;p 101fã:ão no Brasil por meio . :O u~bravam a possibilidad$ dc;,en,ob,tra - tr"ã'-\: do 1'1:é!Jrtítio imfihg1 o ao médico Roberto Fa- .-<Q b li - 4,í - ·- e\ .) . e' . . f .-' ·- r . . d \ a 10 nao apenas na prost1uu1çao, 1 asJtfrm- , ,i:ma, pnme1t0 orurg1ao a rnzer urna c1rurg1a e bém no campo artí~i~. ,.. ,;,,,;,{\ . ~ ?)'' rede~gtiªçã~ genital no Brasil, ~m 1971, em Wal- Atualment.ej t~stemu(:51amos u1 1ti)1mo- d11}11e Nogueira. Em 1978, Far111a fo1 processado vimento dõir istai t:.?ans em üs'8 de ~a..A ... pelo Conselho redera! de Medicina - CFM- sob rerr.est1~r1tivid,de é cont,rn a prática lúfó'fica a acusação de lesões corporais graves. Foi con- 1,;.:.., ... j ""'e..., • .-\. ~ ~( t d d ' ' ' A ' t b I (~-se c~ 0(.G;N atores ªJ . ara;.;.e :gen ar' per- ~na O em pn'.11e1~a 11~stanCJa ~ somen ·e a so - sonageos t'ra}~' c!iw detn5:enío da ex1stenc1a vicio em uma mstancia superior porque uma de atores tr:a 1s~ CJtie l1i arn pela empregabili- junta médica cio Hospital elas Clínicas de São dade mais básica.\ ( Paulo, onde ocorrera o procedimento, havia da- do um parecer favorável à intervenção, fazendo uso do conceito de Benjamim quanto ao proce- dimento como solução terapêutica. Algumas afirmações do juiz que condenou Roberto Farina são significativas da visão do sexo biológico como destino e persistem até os dias atuais. São elas: l. A "vítima" de Farina não poderia jamais ser uma mulher, porque não tinha os órgãos genitais internos femini- nos; 2. A cirurgia poderia criar condições para uniões matrimoniais "espúrias"; e 3. O trata- mento da "transexual, urna doente mental", deveria ser psicanalítico, e não cirúrgico, pois a cirurgia impediria a sua recuperação. /\ '; Tí'!-\\/fº :;r1 :; C F'/\ '; 1 l. F Ir'/\=; [J L ! J 111 '; IJ 1(), lJ 1./1/\ (,IJI f l}f!/\ [)() rJ)f'f,rJ IJI .1 lºUI .JU/\IVILI 11/'\U/\ i ll, Ili Jr,IJ/\(JU/1 f:/\ r_JJl l'.,TI PJII IU(J :,L (JJI;]() urJ11\ "(J[U\II IUfU\" 34 B I\JU235 Como parte desse clima de intensa descri- Brasileiro de Transmasculinidades. As travestis minação, a acusação chegou a afirmar que brasileiras construíram, ao longo de mais de Farina queria que "bichinhas" maiores de ida- um século, uma Cultura do Corpo única, fun- de conseguissem ser operados. darnentada na linguagem falada, constituindo- Curiosamente, pouco tempo depois, já nos -se como uma "oralitura", O impedimento do anos 1980, a modelo e atriz Roberta Close se acesso pleno ao ensino formal é um dos fatores tornou a principal referência imagética para envolvidosnessa realidade, que obrigou a co- mulheres transexuais brasileiras. Nascida em munidade a se proteger e transmitir seus co- uma família de classe média que a apoiava, em nhecimentos fora dos métodos disponibilizados 1984 ganhou o título de vedete do Carnaval a grupos sociais privilegiados. Carioca e ficou nacionalmente conhecida Esse conjunto de saberes e fazeres tem sido quando saiu na capa da edição de maio claque- historicamente irnvjsib"ilizado ou aprnpriado !e mesmo ano da Playboy. A manchete da re- por outros grt~ sociais e movim&11ms, de- vista revelava o estranhamento da mídia, con- vicio à t ·ansfobia (preconcei~- co·\ra pessoas ~v . ""';.., dizente com o pensamento social vigente ante..,.. tian:sJ e o cissexismo ~e11.q:a na superioridade a uma mulher tão atraente: "A mulher mai\ ctfs pessoas cisgênei;as) entremeados na socie- bonita do Brasil é um homem". Isso ai:2€s"ar de dade brasileir~© Brasil registra o maior nú-~ a retratada sempre ter se ident-ifitaào como mero deJSSaS~t0S de pessoas t~a0 gl1l mulher, independentemente ja sua anatomia ~JiE)eS de(ódio 110 mundo. -:7,..S • )':;;, genital. Em outro tredí'o ela matéria, eviden-, ló '.:J Cpm ai} 'redução dos cono~1Js de "t@11~ · - l V .fü,I ,... r· l'. d " l " J.d d " ,t \ eia-se uma visao e a pessoa trans co1~0 d sa, .sexua rua e e e e transgenen a e~no co!.1- S, lh - · "d d d ,, ,... 1·\.: et t b ·1 · ~1 · -n1 · o mu er que nao sena e ver a eX ao mgua- . ex o rasi erro e a popn anza(jiao e as teorias jar coloquial: "Incrível. As fotdi"revela.n1'por queer, durante ,G_.L·ltim.as d&catlas do século 20, que Roberta Close conàuAfe tanta gen~". vai-se e01{}Juê!and~t~ Inodeló ~'~ilitânb? • - (\. b 1· · l d e d"'"" ,.... ~d d - d' ~ · · As convençoes s,goa1s so re mascu 1111c a e ,.iOEa 10,em um;agen a etP.romoçao e 1111oa- e feminilidade en?ão vigentes dificultavam º(' 'tivas in,titttciopais,ludusivas, rlp;e"sentada entendimento de que o gênero daquela p:1t !hei' pe.lai política,. 0'rl0111e sõc~'Thia ideia de visi- independia de características genitai,s: mui.too oili~lade,:)<t\1f11ergênci0llli transfeminismo, na Q."-""'. ·.......: \..,. ao contrário do afirmado, ela não ctueri·a con- segi,rnda clécada Oõ século 21, tem estimulado d · 1 t- ./'\.' , ',-.]· - - Oi"-" . d fun ir, mas quena se re:vejlr. 'b' · '㪠u1sct1ss~ e e temas como a autonomia o V ·(O{' ~e<:iJ ll10ViittJento trans diante de outros movimentos A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA (\"Ç ('\'(~)ais, a luta internacional pela despatologi- DAS PESSOAS TRANS 0 , 0\_0~zação, a diversidade sexual e de gênero das Em termos de organização política, em 15 de identidades trans, os privilégios da cisgeneri- maio de 1992, foi fundada a Associação das dade, o reconhecimento da infância e adoles- Travestis e Liberados do Rio de Janeiro (Astral). cência trans, a reparação dos déficits educacio- A data é comemorada pelo movimento trans nais, a inserção no mercado de trabalho formal fluminense como o Dia do Orgulho de Ser e a representatividade nas artes e na política Trans e Travesti. Entidades que surgem em partidária, questões essas que vão formatando seguida são a Associação das Travestis de Sal- pautas políticas amplas, no complexo cenário vador (Atras) e o Grupo Filadélfia de Santos, dos novíssimos movimentos sociais. 8 em 1995; o Grupo Igualdade, em Porto Alegre, e a Associação das Travestis na Luta pela Cida- dania (Unidas), de Aracaju, em 1999. O começo do século 21 testemunhou o sur- gimento de entidades nacionais como a Articu- lação Nacional de Travestis, Transexuais e Transgêneros (Antra), a Rede Trans e o Instituto Nº235 S'!L'5i 35 ______ o_o_ss_,__,Ê I o MOVIMENTO LGBT BRASILEIRO: 40 ANOS DE LUTA Múltiplas e diferentes identidades É PRECISO CONECTAR A POLÍTICA ÀS ESTRUTURAS ~\- ~º~ -~ 0 :\º~ n0 º'~ o \,,r;; .. {:> DE PODER QUE INCIDEM DIRETAMENTE SOBRE A VIDA DOS SUJEITOS REGINA FACCHINI Àe se , ou ·s 0° -ç c,...v.'õ'. c0'=' · o(\ . 'Õ <f.' ?;j0 "\ ~ \.\,"1 se~ ~e\.."< i,.,rs ,~ . oº . e ô.\) \.e~ ~,\" 0os · ou ~ ... <:> 'f\C:J ç ,~?f. .... ~\úoS INT._E~ID.\p,ES POLÍTICAS E EMOCl~NAIS'DO ~6'.JIMENTO LGBTI Tornar-si Afivista é um modo de reins- crever a própria história, de construir possibilidades de voltar a habitar um mundo devastado pela violência, pelos apa- gamentos e exclusões. Nos últimos quarenta anos, o movimento LGBTI tem sido mais do que meramente representante das múltiplas vozes e demandas que se incluem direta ou indiretamente no acrônimo pelo qual se faz conhecido. Tem sido aquele que conta as mortes e agressões, que reconhece os corpos e zela pelo enterro digno daquelesías) que não contaram com familiares que pudessem fazê-lo, que alerta sobre os riscos e que faz com que seus mortos tenham voz e conju- guem verbos. 36 E N"235 Mais ainda, o lugar de acolhida das inquie- tações, dos receios e das dores e de construção da esperança e de projetos de vida possível de um conjunto muito diverso de sujeitos. Não são quaisquer sujeitos. São as(os) socialmente marcadas(os) a partir de sua sexualidade ou identidade de gênero divergentes da norma e, por isso, chamados a disputar discursos de ver - dade sobre a sexualidade e a subjetividade. Essas intensidades políticas e emocionais são indisso- ciáveis das disputas acerca do melhor modo de dizer de si e de suas demandas, que constituem os fluxos de linguagem, práticas e sentidos que atravessam as teias de relações entre indivíduos e instituições que integraram o movimento LGBTI ao longo de sua trajetória. As primeiras iniciativas ativistas reconhecidas como explicitamente politizadas datam do final dos anos 1970. Entre o final dos anos 1970 e meados dos anos 1990 há um momento em que se dá um "centrarnento" do então chama- do Movimento Homossexual Brasileiro (MHB) em torno da noção substantivada de homossexualidade. Ao final dos anos 1970, momento em que os primeiros grupos de reflexão e afirmação do MHB iniciam suas atividades e constroem A CIDADANIZAÇÃ9 DOS SUJEITOS LGBT boa parte da pauta política em torno da qual Os anos 199Q e 2000 assistem a um rocesso atua até os dias de hoje, o "assumir-se" emerge de C\dadapização desses sujeito\p~líhcos e um como ferramenta política que era usada ainda "drscentramento" qt~r)af>emergir o movi- por poucas pessoas e olhada com desconfiança Oiento como LGBTÇJ'em como condições de por tantas outras. (1 \..,\ possibilidade ::i"~democratização"; a visibil\ Debates e tensões focalizavam 0p.osições dade iue o sensa@i6halismo midiático traz o como ser ou estar homossexual 51u c:iticavam associa?ai se ij@m~sexualidade; a{']tí:mad:S que se tomasse homossex\!aliaade como subie~~sposta,çoletiva à epidemialâ aproxi1~ç:ã0 tantivo. Era um mo ento marcado ~o f~te entr~ setores de Estado e ~imento na forc... ' . t itári . t ,;tt) . Jl .. l C- l-C:: •d ;p°J' ímpeto antíau on ano e por proJe.pB1~ rans-e u açao, 1mp ementaeac e ava 1tayaO e 151u- formação social mais amplos. O'rttras ten&es ticas públicas e'ã conse~trente ínstítucidriali- . . .. (;,., . o. . d' ..., r A lé d '-"'-("' <i , ·-. ~os pnme1ros_ grup~s_:\Utga-s re~e~m tanto zaçao , o "ovi~'.1t('),l" a em_ · e-nrm ce1:~rm a representaçao de1ql'1estoes degenero e dera- p_ermeavel aosr'für~itos s~xt~a1s e repvidut1vos ,. ~ e-,~ d . -ry ,, bi <"\} N . Gh:;.i·d "' 0 ça na pratica cotidiana OS grupos quanto, e,11'0 am ÜO-LLífS aÇOej*unI ase, diferentes projet~S de tran~f~rmação. SO©!.fli'.-- (.)\JRteh~i ~amfs1 la1zam\ntos. d~ C~n~id~- opondo at'.tonom1stas e sooah:;,é~Sl')V . ÀÔ C:,,tu'r~~' Gl'!.~a~ de ~rnJêfÓs de lei, 111c1~en~1a A partir de meados dos ap0s 1980,.apesar g.ol31c~mg!81)hnc1palmente ao Legislativo da redução.expressiva da 1<t~f1~4; e ~e g~7õ1,,..e .~ºJxe9~tivo, participação ~~l espaços de pos e das dificuldades traz1da{_)Ji?efa ep1deip9 ,d1alQgo soooestatal, corno com1tes e conselhos do HI~/aids, há m~1dan~as .s!gnific~!!'vls, c~h~ 'ii"rlas c~nferência.s d:stinadas, a emba,sa~ a ~or- o crescunentoda mfluencia de@rt:Jv1st<J,s €,!JJ~ mulaçao e a avahaçao de poht1cas publicas. atuação é mais pragmática e dirigida p\ra os Embora a homossexualidade apareça pela direitos de homossexuais. primeira vez em um documento público fede- É fundamental nesse processo de "centra- ral não relacionado especificamente à saúde mento", ou de produção de um sujeito políti- ainda durante o governo de Fernando Henri- co estável, a vitoriosa campanha que levou à que Cardoso, o ápice desse processo se dá ao obtenção de parecer do Conselho Federal de longo das gestões do Partido dos Trabalhado- Medicina (CFM) e à retirada do "homosse- res no Governo Federal. Tem como marcos o xualismo" do código de doenças utilizado no lançamento do Programa Brasil sem Homo- Brasil, em 1985. fobia, em 2004, e a imagem do então presiden- A demanda pela não discriminação por te Luiz Inácio Lula da Silva segurando a ban- orientação sexual levada à Constituinte de <leira do arco-íris na abertura da I Conferência 1987-8 e a luta pelo direito à vida, representada de Políticas para LGBT, em 2008. pelas demandas de combate à epidemia do HIV/ O diálogo socioestatal exigia clara delimi- aids e à violência letal, colocaram em cena a tação de sujeitos e demandas, o que levou a mobilização da categoria orientação sexual. duas respostas diferentes. ... A HOMOSSEXUALIDADE COMO SUBSTANTIVO 'fa] mobilização procurava apaziguar as ten- sões em torno de tomar a categoria homossexu- alidade como um substantivo. Contudo, deixava abertas as intersecções entre sexualidade, gêne- ro e raça, que já haviam demonstrado sua im- portância desde os primeiros momentos do movimento, mas também as tensões em torno da estabilidade da identidade sexual e do encap- sulamento da potencial fluidez do desejo. Nº235 Cil!m 37 A primeira, uma ênfase na clara delimita- ção de identidades e o consequente acirramen- to dos processos de disputa por visibilidade no interior de um movimento no qual o sujeito político se torna mais e mais complexo. Mul- tiplicam-se as redes nacionais e regionais de organizações, mas também as letras do acró- n i mo que nomeia o movimento, cuja ordem se estabiliza apenas com a adoção da formu- lação LGBT - lésbicas, gays, bissexuais, tra- vestis e transexuais - na I Conferência Nacional <l ~\.., de Políticas para LGBT, em 2008. Criam-se, ~ QT" . 0o'=> ainda, ''.,rticulações entre LGBT e outros "seg- \J i. eC!J~ mentes", de modo a const1tu1rgrupos e redes o~ ~o~ de negras(os) e de jovens LGl3T. r: A" 0 'Q 1\ segunda resposta, a visibilidade m., 's.Jya \ O':, 0-, protagonizada pelas Par'.1dasd~) Otg't1 ''.º' é, 0fJ. f?;'Õ. . ÃQ o cm parle, complementar a l,ê.l\ e1J I;\ poiírica, e('l \ \ Çj ("l,.\U • os V isto que dava corpo, po/·1ssi 111 dizer, ,\ "co- \ eC:J h '0 ÔÇ). .» t'\e,, mu n idade", mas la mb ', n {dotava de U llt<.i.fi,ii- UM;:_cJN~RIO MELANC_ÔI; CO NOS-ANOS 2010, . 1 1 1 . 1 I 1 ·,., V '" ';..) · ~ ~ l'\n"'? G.J. l d· · " . ,, h rna1s,,p ura, pr?lUZ1nc.o ues ocamt1i:g;~i em cgml:iora conquistas corso o recoa ecu;:_ie'.1t~]...l,J'~11cta as umoes, ': reluçâo a e_strateg.1as vitirmstas. A.,\'\ '-'Õ \. moafetivas", o ac€.'sfo a mudanças corp.OBtJS para essoas trans no SUS \ 1 . f ,, [ 1 ~ 1 ' . O.\ . Q. - t d"'l dí ri"; d~ ' . 1 t h I C I USaO C e toe O~'~.: •jaoL.I a~·10 ,i,n~J·ca- e as portarta$ que ;:e~lu0C:el~ O':\l,feJt,O ao:ir~o, ~ nom~ S,O~ta en am do por categorias c01@ popu laçoes , seg- transtô(lmado ,a ~mia-de LGB ~ no pa1s,;Q)cenano no m1C10 dos anos t " " · · · 1· ·~ ' " " 1 ·d ... -r1 n '"' · 1 - (, 1;; ,c '-' rnen os , espec1 tic uanes e transversa 1 .a- ?vHl era LLJ~l t1uJto mé 1u1rn 1co. 0' l " -1· · · - ~ <\. ~ ,.., \, ,.._ d ' . . . e_ e e as e 1sputas por recursos sempre esn\ss s:, Po }i\Jl'\ iado, 'C!).eseia ntjJJ~frior o propno movimento uma 111- faziarn com que comités técnicos e Jlff~Fias q.tifai}ção Ãon:i'\elaç:ão a\ limites dos espaços de participação e ao de conferências se constituíssem rn 1 o-esp_é\ço.s Oesco_1:10 e,flr,tamenh alcançado pelas políticas d_ire.cionadas a LGBT. .. , . i · l 11· 51 a - \i\ ~ ,...., e! " 1· · .. tº "d pnv1 eg1ac os e e con · rto e .ue ·actuaça0, ue Por 0 lfro, iJ1te,rnsificavarn-se os sinais e uma po 1t1zaçao rea 1va o con.s.trução da unidade.'Í(...,."=' -r-,':/,. ç ,G.(t?a~npo~ligioso e da articulação dessa reação com outros setores con- Iratava-se ameia de errar flOJ~s entr~ &1'as- servaelores no campo político. sifícações oficiais e as formas de ,~~tíbu'i-Qg Isso nos leva ao cenário atual, no qual há uma diversificação nos ção encontradas nas "bases". É esse o proU~?~ modos de fazer do ativismo, muitos dos quais deixam de ter na figura que faz emergir demandas pelo reconheci- do Estado o principal interlocutor. mento da necessidade de cornbater especifica- Este momento aprofunda mudanças que já se faziam sentir desde a mente a lesbofobía e a transfobia e que, ao final década anterior. Massificavam-se críticas à institucionalização dos mo- desse momento, conduziu ao emprego da ca- vimentos sociais e à possibilidade mesma de representação política, com tegoria LGB1fobia. desvalorização do "essencialismo estratégico" e descrédito nas possibi- lidades de obtenção de direitos via diálogo com instâncias estatais. Tal cenário tem sido marcado pelo desfinanciamento de organiza- ções não governamentais, pela desvalorização de formas institucionais de organização e atuação e pela valorização da horizontalidade, da autonomia, da "espontaneidade" e da instantaneidade da reação das ruas e das redes e do artivisrno. É ainda atravessado pelo processo de impeachment da presidenta Dilma Rousself e pelo violento e rápido ataque a estruturas governamentais, garantias legislativas, mas também a lideranças e formas de organização políticas, que visavam combater e corrigir desigualdades sociais no Brasil. _____ D_O_Ss_·1~E I o MOVIMEJ\JTO LGBT ar,ASILEIRO 40 AJ\105 DE LUTA 38 l3!lSi I\Jº235 Tl\/1'.,T,0,S LGBT HJR 1/-\LECEIVl hl O 11\ITEF~IOR [JE íJ UTF<OS M 0\/1 IVI [I\J TOS soe COMO o E SffiUEM DISPUTr'\l,JDO ES fJ/\Frnoos POLÍTICOS E USCAI\IDO F'OF< VIA ELEITOFU,L REENCANTANDO A POLÍTICA EM NOVAS FRENTES DE LUTA institucionais seguem incidindo sobre os ru- Os efeitos da popularização da internet e do aces- mos da política sexual, especialmente em es- so ao ensino superior, bem como o acesso facili- paços mais permeáveis. Ativistas LGBT forta- tado a aportes teóricos, se fazem sentir nas gera- lecem sua organização no interior de outros ções mais jovens de ativistas, com destaque para movimentos sociais, corno no MST, e seguem a difusão dos estudos queer, de teorias intersec- disputando espaço em partidos políticos e bus- cionais e decoloniais e do feminismo negro. cando representação por via eleitoral. Novas categorias de identidade e processos Vivemos um momento político permeado de produção e mobilização de identidades por altas voltagens emocionais, no qual o ter- também ganham lugar. A ênfase na experiên- ror é evocado frequentemente pela acelerada eia como base de legitimidade política cresce. retirada de dir~oFociais, trabalhistas e se- A mobilização da noção de lugar de fala eles- xuais e rep. wdlrdvos, pelo esva';ia_1~fb ou loca o modo negociado como vinha se produ- destruiç(o de ~rojetos de futuro: \: zindo a relação entre diferenças relativas a r 1t atual ênfase na expftjlê~cla: funciona a género e raça e visibilidades, colocando o »: um só tempo com~orrna cte contraste em re- po ao centro para autorizar ou barrar a~- lação às polítio,':l dé identidade do período ção dos sujeitos. Emergem também: p;0cessos anterior, rn~s també~como forma de reen-0..) d - d " ~ d " 1· º'l' · \, d . "1. J e const~uçao e um . ~Ut 'G ll_a0 '.11.a~c_a O , c;nt~r a\po Jt,r, ~onectan o-a ao ~OtI~.pno: s protagonizados por SUJeltOS cl!Jél visibilidade e estruturar'de poder que incidem dllietamente 0 foi insistentemente negada, como no caso da\ sobre ía vid; dos sujeitos e crQ~les(as) q1.1;produção e mobilização das categor~s;ci·sgf 00~deram como sem!p11s(a;) seus~fuas). GO-t::::,' nero e ci~n~rmati~idade por ~tivis~s t~ana \. Apesar c~o ~€~:ário defo~,e retro~~w, i>e- A propna noçao de hon~ssexuahda~,pra- tomar a tt:aJetona dof1~0v1111ent0 f•@e seus :':, • d d d ,J . . lí . ~ id ·'- ticamente esaparec\.... e textos aca emicos e experrrçeatos e arostas po incas evr e1~1 ®S do vocab~l~rio p'§}í'.ico e ª. apropriação de re- ~v~ç~, sob,0tHdo aquef s qbe n~.~erã~ d~s- cursos teoncos, mmtos onundos de perspfl.&-, <'trmd0s~rque sr mcorpora 'am aos propnos e · · 1 t ' 'd1'"' .. r E 'd w. J i: ·~ A ' · f t tivas 1em1111stas, co oca ao centro as rans'1 en- SUJe1 os. v1 encia tamwem as vanas ren es tidades, as lesbianidades e as biçhds)apatõesO ~ IL1ta e'?eniliora,paitPsignificativa das(os) e trans pretas e/ou perifericasZe4ode.r~ofas e ati~istas não(9,pere mais construir unidade com formas de visibi!i,de-'renov4,flll\. ~p{Iític,a,_Jjucla a entrever possíveis pontes ou Entre as formas de atua;çã@,mais Íl· sti&ú- vontoHe contato. 8 cionalizadas ou afeitas ao diáloge;,c;()j!1 atores g e estatais, emergem mais fortemente enqíhf }a- mentos que enfatizam a dor e o sofrimento, a partir das figuras das mães de LGBT, de LGBT periféricos(as), de travestis e de transexuais e das pessoas intersexo. Desde meados dos anos 2000 intensificou-se a incidência política de redes ativistas no Judici- ário, com resultados importantes como as deci- sões do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre as "uniões homoafetivas" e sobre a alteração de registro civil de pessoas trans sem necessidade de laudos, cirurgia ou decisão judicial. Embora com menos acesso a recursos e em um cenário político muito desfavorável, as organizações e conexões construídas no período de maior ênfase no ativismo por vias Nº235 ti!m 39 - _____ D_O_SS_I_Ê J O MOVIMENTO LGBT BRASILEIRO 40 ANOS DE LUTA Oc 'ô,(). ' . u ~ se0 rj\ \ o\).i.." \Os s. '<e Co' ~o "<"e ,i,\o e,\ C!J. <.eÇ o":J + vo'=>' 6,,-< \) e'<. e~ ?>"'~ o'=' <\e\0 o.e -:, 1\ oi... ev 0'b · o.0~ "' v0 i'~ s"" ~\'\ ""'º cAMINHos E oEscAMF~os oo'J\) · .. eº ~ ... e" 0 CASAMENTO HOMOAFETIV.Q{\ "()f\"' r\.\.> ' .J ..._, \C \ . ':)V... N a pe,uta ,GBT do s~hlo 21,,,n?vita luta 'lJ..' Em 2011, o Supremo Tribunal Federal ;r; ~or?i;u 11~i'~Qíl, e os ay,f' ços não se~ (STF) decidiu pelo reconhecimento da união - deve arn ao Cong1'sso Nac·oQa, te- estável entre pessoas do mesmo sexo. Em 2013, ~,....,.... ~ ',.0,1';') · ~( 1 · e · · 1 d J ·t· orrcamen 'responsay~po~ apvQYar eis ravo- foi a vez de o Conselho Naciona e us iça '.,O, ,...,, N r,i,,i · .. td ravers a uemoc~acria. a vero ane, pouca coisa aprovar resolução que permitia a o os os car- evoluiu desele quand@G'então deputada federal tórios celebrarem o casamento entre pessoas Marta Suplicy aprefentou o projeto da chamada do mesmo sexo. Em 2017, o STF decidiu ainda Parceria Civil Registrada, em 1995. Passando mais: equiparou a união estável e o casamento de "união civil" a "parceria civil regístrada" e civil quanto aos direitos de herança. "pacto civil de solidariedade", as mudanças dos A comunidade LGBT saudou as vitórias e sucessivos projetos foram desfigurando a ideia investiu pesado, seja na união estável, seja no original. Ainda assim, a pauta continuou fir- casamento civil. No mesmo ano da sua apro- memente barrada pelas bancadas fundarnen- vação, ocorreram 1.252 contratos de união talistas. Depois de duas décadas, o osso ao qual estável no país, passando para 2.044 em 2013. os conservadores se agarravam como seu gran- Depois da permissão do Conselho Nacional de de trunfo foi se mostrando desgastado. Além Justiça, os casamentos homoafetivos saltaram de se verem confrontados por novas questões de 3.701 em 2013 para 5.614 em 2015. Ainda polémicas na pauta LGBT; aqueles parlarnen- antes da decisão do CNJ, os Tribunais de Jus- tares, que se julgam detentores do poder divino tiça de vários estados já haviam editado norma para abençoar ou amaldiçoar as pessoas, se para os cartórios acolherem as solicitações de viram atropelados pelo Poder Judiciário. casamento homoafetivo. Na cidade de São Amparo e solidariedade AS NOVAS FRENTES DE LUTA E RESISTÊNCIA DA COMUNIDADE LGBT JOÃO SILVÉf<IO TREVISAN 40 E Nº2J5 Paulo, dos bairros mais populares aos mais O AVANÇO DA VISIBILIDADE SOCIAL sofisticados, foram registrados em cartório Ocorreu um verdadeiro furacão cultural quan- cerca de dois contratos de união estável por dia, do Daniela Mercury, uma das maiores cantoras/ em 2014. Muitos dos casais começaram a adi- compositoras brasileiras e queridíssima pelo cionar formalmente o sobrenome do(a) público, anunciou seu amor por outra mulher, parceiro(a) ao seu próprio nome. Como forma Malu Verçosa, profissional consagrada na área de celebração massiva, em várias partes do país de jornalismo, TV e rádio. A cantora já era en- ocorreram cerimônias coletivas de casamento tão mãe de cinco crianças, três das quais ado- homossexual. Em dezembro de 2015, o projeto tadas, e avó de uma menina. Tinha acabado de Justiça Itinerante, do Tribunal de Justiça de se separar amigav.elmente do marido. Em 3 de Alagoas, oficializou coletivamente a união de abril de 20H,fBaJííela postou no Instà'gram: quatorze casais homoafetivos, em Maceió. "Malu agora-é minha esposa, miqha~família, As repercussões se multiplicaram em seta- QiJ;1ha inspiração pra cantar".1Íss€ comunicado .• ' res até então inatingíveis. Com base em deter- ücinto, acompanhad~e várias fotos de clima minações judiciais, em 2013 a Justiçad'eªl amoroso entre~rii]as, criou um atropelo na de Pernambuco abriu precedente a-o16lorigar o mídia com nJJiclos de0ntrevistas. A repercus-u0 Exército a reconhecer como dependente o com- são Ghegou tarnoén;J a outros países. · QÚ panheiro de um sargento. Em 2015, por sua vez, <;e_fJ Brasil ·~teirt acompanhou {\vJ°i1to - in- )'::, o STF determinou ª{;;iracla dos termos "pede( 'óclusive por'ilgumas mídias sem,acional.istí{?,," rastia" e "homossexual" do Código Pe'nf!VMi- ·que surpreendentemente'5 m~nifestai'ã;m com OS' litar. Em 2016, um soldado da Briga'da Militar e'respeito e admiraçã0. Uma reportagem j.or,naG (PM ' h ) bt . -' \' °" lí · · c:l. · dº'"O t "1 . . gauc a o eve aut?'r:~ªº para ~sfir o ístíca resum!J:) o-e 1ma(c~ia 0: . ct!?,,g. ua c~- '$ . uniforme de gala na,cenmoma de casamento dade e do pais, ontem~ foí'êÍe Damela Mercurx.{ ..,. . '."'! ....,. .a, com seu companh<;j];o, em Porto Alegre. Aliás, ..C0meçou de m'!!iEã, quanct&ai cantora f5: uma o soldado Miguel Martins só decidiu usar a(' em';;cionãda dêcli\ra~{ de amo1J~outra rnu- farda em represália aos comentários hontofébi-' lh~E te\minozÍimite, co - ~tra declaração cos de que foi alvo nas redes sociais. Gomo disse O de Daniela \fdesta vez ~ )uerra - ao pastor o comandante-geral da Brigada gaúch~, e0to11el Mareê °FelTcian0.Jf S6~P), presidente da Co- Alfeu Freitas Moreira, ao·d~ a auto ii\i'ção: ~míssão de ffiireitos Humanos da Câmara, acu- "Quanto mais os policiai~~ilitares"í?stiveveqi.1 s;dcfd(iacitta e homofóbico." De fato, em um bem na vida particular, melhQf'Íerá.",·,t;l do?nunicado à imprensa, ela afirmou: "Numa 0'\ ~ ~0 é'poca em que temos um Feliciano desrespei- \ O tando os direitos humanos, grito meu amor aos sete ventos. Quem sabe haja ainda alguma lu- cidez no Congresso Brasileiro". Pelas redes sociais, Daniela e Malu deixaram claro que se tratava, além de tudo, de um gesto de afirmação política dos direitos da comunida- de LGBT, e não pouparam ataques aos funda- mentalistas. Como disse Daniela: "Duas mulhe- res juntas é um tapa na cara dos machistas". De todas as partes, os grupos LGBT manifestaram comoção e alegria. Em Brasília, pessoas que pro- testavam contra Marco Feliciano diante do Con- gresso Nacional cantaram o maior hit de Danie- la, "Canto da cidade". Em Teresina, manifestantes usaram fotos com o rosto de Daniela para pro- testar contra os fundamentalistas.... Nº235 l3!lI.I 41 É claro que esses novos focos de resistência criaram novas responsabilidades e maior com- plexidade, pelo nível de ineditismo. Um deles foi o direito à adoção de crianças por casais homoafetivos e bissexuais. Após muitas con- trovérsias no passado, a questão se resolveu com a equiparação de direitos das uniões e ca- samentos homoafetivos aos heteroafetivos. Ju- ridicamente, isso levou ao corolário de que LGBT atendem a todos os requisitos do Estatu- ~ munho inspire mais gente a viver na luz" e que to da Criança ~do Adolescente (ECA), sem . ' ·~''"bl' h ·t!: 1d . direi de famí o seu compromisso matrimonia sim. o izou nen uip 1{011 o e atnto com o íreito e ami- u m século de conquistas por igua_âade". lia. iGsim, tornou-se fato consumado a Iegali- O casamento dessas duas r rulheres valoro- Ç. ade da adoção homoafetiva, seja individual- sas selava a inevitabi I idàde de novos tipe::_ (Ri mente seja como casal em contexto familiar. núcleo (amjl-ia\~m a inclusão de fan í ~.t~ho- ~ Mas não foi umajatalha fácil. Em 2010, moafcnvas ,lua luta pela ac Qç'16" : fil ,oÇ~ no caso de ad09.aápor um casal de mulheres, :\11(i';; dizia Judith Butler, iarar -se a 11~lit1- após opos:çiã ~o ~inifffêrio Público do Rio \; Ú.;,~ d i ferentes da;,,,<~1{1rr'i'r~1s f'.i!Jjlia~s trac~i- Gra11de ~ô S~l, o ~up~rior '~ribunal de Justiça CIOll~IIS, po1~-~~ ül1a ta1EPé~eu1m~ formação '\~t\. parec5favora:i1~cfeiu~~e~hum estu~o histórica; CLfJ, estrutu 'a e tuJo significado mo- 111d1c va'qualquer 1 conveniencia na adoção o. e.~ - ' daru ·119 longo db'~'l'!po e do espaçoÓE:, ..., ~de crianças por casais 119.mossexuais, "impor- ':, U \) Q \':> tando 1'rfais'a 3 aliiade do vínculo e do afeto ..<oºº 0º v o..\)'Q . rt9~neio frimiliar em que serão inseridas". \ (\ . 'f0"" ,., ~\ toni..a g:~isão, a Corte abriu precedente para \,).~ o e\?j. e"-'{º r,i,atl:oçáo de crianças por casais homoafetivos. i I') ., . _ . • 1((\ _ , .l..Q S . e~ r'\.\>~as só em 2015 a adoção nesses núcleos foi ,6.. ArA:ll l lJPA~t ~i, 1 /. U '-" · , · · · · D( r ç 'Cl .)1. tP ., . J" \~\, I, or:; • ou cons1~lera~a d~f~111tivamente const1tuc1onal 1 ~_., .Ji ~-~Cv.3iL ':) i'?j;<f:_ ! 1 ~6j;_,l't,.~ ,. OS pelo Supen~r 1nbunal Federal, que se baseou 1~11_r,~JL:-,lhí\J~;JJz$)1r~,1r<lfvfl!li;ll\l l'fz\\CJ nos e~tenchme~tos de ~Oll._e 2013 de que o uE rn I WJS'~·b ENtr?é?DJ\ ($, conceito de fam1lia 111clm UIUOes entre pessoas COlvHJ l\11 D,6..DE L~r3T -1' !ill\ti5~11 EI\I do mesmo sexo, portanto "o conceito contrá- DE F<ESTO, VISÍVEL EM ~)urnrJs rio implicaria forçar o nosso Magno Texto a incorrer, ele mesmo, em discurso indisfarça- velmente preconceituoso ou homofóbico". ____ D_O_S_SI_Ê j O MOVltvlENTO LGBT Bf!ASILEIRO 40 ANOS DE LUTA Sem nenhum interesse em esconder a força do seu amor, Daniela e Malu se casaram for- malmente em 12 de outubro, poucos meses após anunciarem seu amor. A cerimônia esti- veram presentes familiares das duas noivas, algumas pessoas amigas e os filhos de Daniela, agora também de Malu. Vestidas de noivas, trocaram alianças entre si e acrescentaram o sobrenome de uma ao da outra. No livro Da- niela e Malu: uma história de amor, escrito pelo casal, Daniela dizia esperar que "nosso teste- GffüF)OS EMMKIPAT<:'JFIIO':i 42 l'i1'!J.!i Nº235 NOVOS DIREITOS, NOVAS RESPONSABILIDADES DAS NOVAS IDENTIDADES AOS NOVOS ARMÁRIOS No bojo das novas conquistas, emergiram cir- cunstâncias até então imprevistas, que inaugu- raram discussões inéditas. Novos arranjos de- sejantes e amorosos foram se ampliando com o reforço de outros fatores identitários, como os ursos, os idosos, os deficientes físicos e sindrô- micos de Down. De um lado, considere-se que o amor pelos gordos e pelos velhos, entre outras tantas formas de amor inclusivas, subverte a própria subversão das sexualidades não norma- O conceito de empoderamento, tão em vo- tivas. Com sua graça espontânea, apontam para ga e tão pretensamente progressista, não pode uma benfazeja ruptura dos padrões da beleza significar que o poder de um grupo acabe por hegemónica e estereotipada, que bombardeiam se impor, ainda que inadvertidamente, sobre a sociedade contemporânea. outros. Tal virada de mesa mobiliza ressenti- Por outro lado, a abertura de tantas possibi- mentas históricos que não levarão senão a um lídades identitárias impulsionou o acirramento beco sem saída, se de fato visamos à constru- de "tribos" dentro da comunidade LGBT - fenó- ção de estruturas legitimamente democráticas, rneno, de resto, visível em outros grupos ernan- vale dizer, diversificadas por natureza. As lutas cipatórios. Na contramão das solidariedades por sociedades mais igualitárias implicam ne- afetivas, o fenómeno do politicamente correto cessariamente abrir e~aço para a imensa di- atingiu níveis de alerta vermelho. Tal como se versidade de-cíâadãos e cidadãs - venham suas Pode constatar nas redes sociais, sempre que as diferei ç,is ~~ onde vierem. A dén ocrt:ia não ' \ lutas emancipatórias levam a uma exacerbação cab em estreitas cartilhas e bom mocismo impositiva e irracional, a "indignação" acarretou (nem de direita, nem,~f ~squerda) que são fon- uma onda de narcisismo doentio. ParaqoX:al. te de confrarias d?sfarçadas. De resto, há um mente, nesses momentos a correção políÍica,ras- risco auto ,tgicd111~ito,comum entre movime1a\.). · '11 t1· · d u rr -~L:~Ü 1·· d e 1s(' - sou a praticar o mesmo nrve e o au eritarismo tos e lI1:1eraçaQ..com po ítícas e a1°1~a<;:ao que pretendia combater , (; ,) r!9-?cas. Q ·ist~ e~ste quando o tal .51'tv'imento- S < 1 e A a d ed " » b f d'(>d\ Ta renorneno YC-5'' acontecen o com, a, ~ e1;epo eramento aca a, se-con un ·u1 o multiplicação das letrinhas identitárilif-Dis- e· com. arrogância ou pre. otêAcia. iaHega-se eno<::,' d e.'- - . u . ~( , putas, nem sempre sur as, passàraIJ1 a OC~T©r tao a Ul11 resultad9 danll1P:9: a pos~~ com- entre os vários agrupamenjçs quase,{!):aaos partimen ~at;:ão de·aaçj_a luta esp,ecífi-ca, quej.. - · · · d ,V · 1 .,~ d 1· 1 · ~.d, :.:i. 1 ,.e l'J t para gente nao 1111cm e ,._!1,.s s1g as vanaram e mata-a SID te an~~hi:e e eva ao rso ame~, (;l.PO- LGBTT, LGBI'1cJ}, LJCBTTTI até ~GBTTTIQ+ '0,ífico.,Não{J)ouca ç,°isa para 1~'.l1,ª co unida- ou mesmo LGB1 *, em que o astensco (*) com- de desamparada, quanâo ela de,1xa ele amparar d . . ' 1 1 ' ' _,' ·. ' ' ~ 11 d' r""". l), ""1f b t preen e um et cetera 111term111ave . sso íll1e Jª '\eJ mesrU<L .. s etras, l\1Xl11 a a e ·o se com- . 'd ' l d \ j• b e.:; 1 F C \ õ d • - abrangia uma parte cons1 erav Q a ia_ et<() -p etam ~ara 1on6csrgnos e comumcaçao, e tende a aumentar, corre@ lisc'2'de atropei-ar nãoÍ5a"ra criai; novos armários. Não por acaso, ~ ~ ~ \.} os fundamentos das peLJficas iie1Wtárias, le-'3' a.o JZ~ a "Artivismo da Fechação", em 2017, vando a um limite de saturaçá@} neuatmliz,~ 0 .:.ole'tivo Revolta da Lâmpada tinha como ção n_iútua. Na ót_ic_a ela solid~:e~a~1e, c\c)~tema ele um dos debates: "Estrat,~g~as d~ luta devena mover o at1v1smo cios exdmdosQ~1,ge para rachar menos e somar mais. (Excet to de inevitavelmente a pergunta: os direitos de um capítulo inédito ela nova edição do livro De- oprimido podem ocorrer em detrimento cios vassos no paraíso, a ser publicado no segundo demais? Tal questão, e muitas outras por vir, semestre de 2018). B evidenciam aspectos incómodos na luta pelos direitos dos oprimidos, que também podem ter sua cota como opressores. Não sou daqueles que preferem esconder os paradoxos da liberdade, sob pretexto de forta- lecer os antigos opressores. Para além da para- noia instaurada na base dessas disputas, acre- dito que iluminar as contradições, por mais constrangedoras que sejam, só faz enriquecer o debate. Afinal, o que se está almejando é uma sociedade igualitária, e não a substituição dos antigos donos do poder por novos senhores. N''235 G:!Jil 43
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