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LGBTQIA+: História, Luta e Arquitetura

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LGBTQIA+
HISTÓRIA E LUTA POR 
RECONHECIMENTO
CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE LOCAL A 
PARTIR DE EDIFÍCIOS DE USO PÚBLICO
LGBTQIA+
HISTÓRIA E LUTA POR 
RECONHECIMENTO
CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE LOCAL A 
PARTIR DE EDIFÍCIOS DE USO PÚBLICO
 AUTOR:
LUCAS ESMERALDO SOBREIRA
 ORIENTADORA:
Prof.ª Dr.ª Mariana de Souza Rolim
Trabalho Final de Graduação apresentado á 
Universidade Anhembi Morumbi como requisito 
parcial para obtenção do título de Bacharel em 
Arquitetura e Urbanismo.
SÃO PAULO
2020
Dedico este trabalho aos manos, manas e monas, as bichas, viados, yags, mariconas, 
padrão e afeminadas, as sapatões, entendidas, 
bofinhos e caminhoneiras, as travestis, bonecas, 
transsexuais e transgêneros, as bi e os do meio, as 
militantes e as no armário, as Drags, transformistas 
e toda pessoa que se sinta pertencente ao vale.
A qualquer pessoa que foi vítima de discriminação por ser e viver aquilo que é, e principalmente, 
para aqueles que hoje não estão mais presente 
entre nós por serem vítimas de LGBTQIA+fobia.
Deixo aqui minha total gratidão aos meus pais que se dedicaram em proporcionar a 
mim uma boa educação desde o princípio e que 
me apoiaram na escolha do curso de graduação. 
Também agradeço a eles e ao meu núcleo familiar 
por me apoiarem e respeitarem como pessoa frente 
as minhas expressões e orientação sexual, me sinto 
privilegiado quanto a esta problemática, pois sei 
quão complicado é a situação daqueles que não são 
respeitados por sua orientação e expressão sexual.
Agradeço também ao meu marido, por estar ao meu lado todos esses dias e estar 
sempre disposto a colaborar com o que fosse 
necessário e que não me deixou desistir de 
cursar a faculdade. Agradeço também ao meu 
círculo de amigos, pelas vivências e inserções no 
universo LGBTQIA+, que me fizeram enriquecer 
de conhecimentos fundamentais para propor 
este trabalho como manifesto de afirmação.
Agradeço a todos os provedores de conhecimento a que tive a oportunidade de aprender e 
compartilhar ideias durante essa trajetória dos 
saberes, agradeço principalmente a Prof.ª M.ª Thaís 
Vieira Gutto por toda orientação a que me dedicou 
para fundamentar e formalizar ideias para este 
trabalho e a Prof.ª Dr.ª Mariana de Souza Rolim que 
me orientou nos projetos e conclusão deste trabalho.
Nós nos empenharemos em desmoralizar esse conceito que alguns nos querem 
impor – que a nossa preferência sexual 
possa interferir negativamente em nossa 
atuação dentro do mundo em que vivemos.
LAMPIÃO, 1978.
A violência à parcela populacional LGBTQIA+ matou no Brasil dos anos 2000 a 2019, 4.809 pessoas por conta de discriminação a sua expressão e/ou orientação sexual, essa 
problemática necessita ser discutida em sociedade de forma a diminuir ou sanar a violência 
discriminatória LGBTQIA+, promovendo uma sociedade diversificada baseada no respeito ao outro.
Neste Trabalho Final de Graduação, do curso de Arquitetura e Urbanismo, será abordado uma proposta de espaço público aliado a cultura e Direitos Humanos que destaque a importância das relações sociais 
como meio essencial para sanar a vulnerabilidade social dessa parcela populacional, além de promover a cultura 
LGBTQIA+ e o sentimento de pertencimento ao território. O projeto está localizado no Largo do Arouche, 
uma região central da cidade de São Paulo - SP, Brasil, e virá baseado em estudos que apresentam as dinâmicas 
sociais LGBTQIA+ na cidade desde 1920, demarcando o território e evidenciando potencialidades territoriais.
O objetivo da proposta é contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade igualitária, diversificada e respeitosa, promovendo as potencialidades do indivíduo e o sentimento 
que esse passa a ter sobre o território que conte a história do movimento a que pertence.
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Violence against the LGBTQIA+ population killed in Brazil from the years 2000 to 2019, 4,809 people because of discrimination, their expression and/or sexual orientation, this problem needs to be discussed in society in order 
to reduce or remedy discriminatory LGBTQIA+ violence, promoting a diversified society based on respect for the other.
In this Final Graduation Work, from the Architecture and Urbanism course, a proposal for a public space combined with culture and Human Rights will be discussed, highlighting the importance of social relations 
as an essential means to remedy the social vulnerability of this population, in addition to promoting culture 
LGBTQIA+ and the feeling of belonging to the territory. The project is located in Largo do Arouche, 
a central region of the city of São Paulo - SP, Brazil, and will come based on studies that present the 
LGBTQIA+ social dynamics in the city since 1920, demarcating the territory and showing territorial potential.
The purpose of the proposal is to contribute to the development of an egalitarian, diversified and respectful society, promoting the individual’s potential and the feeling that he 
starts to have about the territory that tells the history of the movement to which he belongs.
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3.1 A requalificação
3.1.1 Perfil do usuário3.1.1 Perfil do usuário
3.1.2 Polaridades3.1.2 Polaridades
3.1.3 Percepções3.1.3 Percepções
3.1.4 A proposta da Triptyque3.1.4 A proposta da Triptyque
2.2 As dinâmicas de apropriação 
do território LGBTQIA+ de São 
Paulo
2.3 Territórios LGBTQIA+ 
passíveis de uma reafirmação
3.2 Análise do território
2.1 O direito a cidade como 
território
3.3 Os terrenos
4.4 Parâmetros urbanísticos
1.1 Um breve panorama
1.2 Um símbolo de amor e 
representatividade
1.3 A cidade de São Paulo
1.1.1 Um panorama estatístico: Intolerância1.1.1 Um panorama estatístico: Intolerância
1.1.2 Por uma cidade afirmativa1.1.2 Por uma cidade afirmativa
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5.4 Programa de Necessidades
5.4.1 Programa5.4.1 Programa
5.4.2 Fluxogramas5.4.2 Fluxogramas
5.2 Moodboard
5.1 Conceito
5.5 Estudos de implantação
5.6 Estudos de volumetrias
5.7 Projeto
5.3 Partido
4.4 LA Brea affordable housing
4.3 Seattle office arts and culture
4.2 SESC Birigui
4.1 Parque Los Bajos 
I N T R O D U Ç Ã O
Baseado nos estudos da psicologia social, entende-se preconceito como uma atitude negativa, que o indivíduo está disposto a sentir, pensar 
e conduzir-se em relação a determinado grupo de forma negativa previsível 
(MORRIS e MAISTO, 2004). De acordo com Allport (1954) o homem não nasce 
preconceituoso, ele é ensinado a ter preconceito, podendo ter atitudes hostis a uma 
pessoa ou grupo de pessoas apenas por eles pertencerem a um grupo a qual atribui 
qualidades objetáveis, e enfatiza que o julgamento resiste aos fatos e ignora a verdade, 
de modo a cegar o indivíduo a respeito da qualidade alheia. Já para Adorno (1950) 
o preconceito vem de uma personalidade autoritária ou intolerante, onde as pessoas 
tendem a defender as normas e o respeito às tradições sociais e são hostis àqueles que 
desafiam as regras sociais. Com base nas teorias de Adorno (19050) e Allport (1954) 
concluísse que o preconceito é uma construção sociocultural, são crenças formadas 
e transmitidas de geração em geração onde um determinado afeto surge em resposta 
a uma ação vinculada as crenças socioculturais, que está vinculado diretamente ao 
comportamento, de formaque sentimentos positivos tendem a uma predisposição 
a aproximação, assim como sentimentos negativos tendem ao distanciamento e a 
aversão.
Muito frequente na vida de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transsexuais, Transgêneros, Queer, Intersexuais, Assexuais e outros 
representados pelos ‘+’ (LGBTQIA+) em decorrência de preconceito, a violência 
faz parte da vivência em sociedade, como vemos no fragmento extraído do 
relatório mundial sobre violência e saúde, a Organização Mundial de Saúde (OMS) 
definiu a violência como uma intenção seguida da realização de ato violento, 
independentemente do tipo de ação produzida, os quais estão subdivididos em 
3 categorias: a violência autodirigida, onde o indivíduo é o veículo da agressão, 
podendo cometer automutilação e suicídio; a violência interpessoal, subdividida em 
violência familiar na qual, por exemplo, pode haver abuso sexual ou maus tratos 
a idosos e violência comunitária que pode não ter relação pessoal e acontecem 
geralmente fora do lar; e por fim, a violência coletiva que se subdivide em violência 
social, onde geralmente são cometidos crimes de ódio, a violência política com os 
atos de guerra como exemplo, e a violência econômica onde ataques tem a finalidade 
de desintegrar a atividade econômica.
Uso intencional da força física ou do poder real ou em ameaça contra si próprio, 
contra outra pessoa ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou 
tenha qualquer possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, 
deficiência de desenvolvimento ou privação. (KRUG et al., 2002)
Um termo que está diretamente relacionado aos conceitos de violência e preconceito é LGBTQIAfobia, e para contextualizar uma definição é 
preciso entender primeiro o que é fobia, que segundo o dicionário Michaelis (2020), 
definisse fobia como falta de tolerância, aversão, intolerância e rejeição; a partir 
deste conceito é possível montar a definição para LGBTQIAfobia, no caso sendo 
uma aversão a pessoas LGBTQIA+.
A Presidenta da Comissão da Diversidade Sexual do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Maria B. Dias, define 
LGBTQIAfobia como qualquer ato ou manifestação de ódio ou rejeição a Lésbicas, 
Gays, Bissexuais, Travestis, Transsexuais, Transgêneros, Queer, Intersexuais e 
Assexuais, além de ressaltar que o termo homofobia é o mais comum de uso e que 
também se refere ao grupo LGBTQIA+ como um todo (DIAS, 2010). É comum 
dentro do termo utilizado para o grupo como um todo existir termos mais específicos 
a fim de promover e representar causas específicas de um seguimento LGBTQIA+, 
como exemplo transfobia, termo utilizado para classificar atitudes ou sentimentos 
negativos e/ou violentos contra pessoas trans., o que inclui travestis, transexuais e 
transgêneros.
Figura 1 | Charge Homofobia mata. Fonte: Charge de Ribs, adaptado pelo autor (2016)
Na visão de Borrilho (2010) o termo homofobia também é utilizado para representar toda a comunidade LGBTQIA+, e entender homo/
LGBTQIAfobia simplesmente a uma aversão, intolerância ou rejeição é limitar-se 
ao entendimento do ato fóbico e no modo como se pensam as soluções somente em 
medidas voltadas a minimizar os efeitos de sentimentos e atitudes de indivíduos 
ou de grupos homofóbicos. No fragmento extraído de seu livro, Borrilho define 
homofobia como um sentimento a quebra da heteronormatividade, e como resposta 
a essa quebra, o ato homofobico pode vir a acontecer a fim de manter uma hierarquia 
de poder, ele também ressalta que a homofobia pode vir a ser invisível aos olhos de 
quem não é a vítima, mas é cotidiana e está associada a um julgamento feito sem 
uma reflexão, aceito sem questionamento, favorecendo a heteronormatividade um 
status de poder.
Medo de que a valorização dessa identidade seja reconhecida; ela se manifesta, 
entre outros aspectos, pela angústia de ver desaparecer a fronteira e a hierarquia 
da ordem heterossexual. [...] Invisível, cotidiana, compartilhada, a homofobia 
participa do senso comum, embora venha a culminar, igualmente, em uma 
verdadeira alienação dos heterossexuais. (BORRILHO, 2010)
Baseando-se nas definições apresentadas, é possível compreender o quadro de violência e preconceito LGBTQIA+ no Brasil, sendo o país 
que mais mata LGBTQIA+ no mundo, onde crimes contra pessoas LGBTQIA+ são 
recorrentes e dos mais diversos tipos. Em entrevista à Agência Brasil, Luiz Mott, 
que é Prof. Dr. em antropologia pela Unicamp e ativista LGBTQIA+ afirma:
Há décadas o Brasil é campeão mundial nos crimes contra a população LGBT. 
Comparativamente ao EUA, por exemplo, matamos de 30 a 40 LGBT por mês, 
enquanto lá morrem 20 por ano. O principal motivo é a LGBTfobia individual 
e cultural, que incrementa os crimes letais no nosso país. (Mott, 2016)
Fundado em 1980 por Luiz Mott, o Grupo Gay da Bahia (GGB) é uma sociedade civil de direitos humanos homossexuais no Brasil, e vem 
contabilizando dados sobre as vítimas de LGBTQIAfobia há 40 anos no Brasil, 
com base em seus relatórios realizados a partir da coleta de notícias em veículos 
de imprensa, internet e informações pessoais, é perceptível o crescente número 
de assassinatos por motivação LGBTQIAfóbica, evidenciando que nos anos 2000 
foram 130 assassinatos e com um salto de 100% em 2010 o número chegou a 260, 
em 2016 a contagem foi de 343 vítimas. Em nenhum dos anos anteriores o número 
havia chegado a esse patamar tão alto, mas foi superado no ano seguinte, como está 
evidenciado na fig. 3, uma pessoa a cada 25h era brutalmente assassinada, números 
suficientes para afirmar que mataram mais LGBTQIA+ no Brasil do que nos 13 
países com pena de morte para pessoas LGBTQIA+ em 2016. (GGB, 2016)
Dos 343 assassinatos contabilizados no ano de 2016, 173 eram gays (50%), 144 trans (travestis e transsexuais) (42%), 10 lésbicas (3%), 4 bissexuais 
(1%), incluindo 12 heterossexuais, como os amantes de transsexuais, parentes ou 
conhecidos que foram mortos por algum envolvimento com a vítima (GGB, 2016). 
Em 2017, 445 LGBTQIA+ morreram no brasil, sendo 387 vítimas de assassinatos 
e 58 suicídios, um aumento de 30% em comparação com os dados do ano anterior, 
a contagem foi de 1 a cada 19 horas. Seguindo a tendência dos anos anteriores, a 
causa mortis predominantemente foi o uso de arma de fogo (30,8%), seguido por 
armar brancas perfurocortantes (25,2%), sendo 37% das mortes ocorridas dentro 
da própria residência, 56% em vias públicas e 7% em estabelecimentos privados. 
(GGB, 2017)
Em 2018, o número de vítimas foi de 420, sendo 320 homicídios e 100 suicídios. Seguindo o padrão dos anos anteriores em termos absolutos 
predominam a morte de gays (45%), seguido de transsexuais e travestis (39%), 
lésbicas (12%), bissexuais (2%) e héteros (1%) que foram confundidos como 
homossexuais ou tinha envolvimento LGBTQIA+ (GGB, 2018). Em 2019, 329 
LGBTQIA+ foram vítimas de morte violenta no Brasil, sendo 297 homicídios e 
32 suicídios, onde 111 casos ocorreram dentro da residência da vítima e 218 em 
locais públicos ou de uso público, dos 329 casos, 50 aconteceram em São Paulo, o 
estado que apareceu em primeiro lugar no Ranking de mortes representando 15,2% 
do total compilado. Comparativamente aos anos anteriores, 2019 surpreende com 
uma redução de mortes violentas, 26% comparado a 2017, segundo o prof. Luiz 
Mott, a explicação mais plausível para a queda deve-se ao discurso homofobico do 
Presidente da República e sobretudo as mensagens aterrorizantes de seus seguidores 
em redes sociais, levando a minoria LGBTQIA+ a manter uma cautela maior, tendo 
um comportamento preventivo, evitando situações de risco onde seria uma próxima 
vítima, outra explicação plausível é a dificuldade em contabilizar os dados uma vez 
que não reconhecida a identidade LGBTQIA+ da vítima, os assassinatos não são 
tipificados como crime de ódio por LGBTQIAfobia (GGB, 2019).
O GGB não divulgou seu relatório de mortes do primeiro semestre de 2020, mas os casos continuam a ser noticiados em veículos de 
imprensa.
15
De acordocom o advogado Eduardo Michels, que é responsável pelas pesquisas de pessoas LGBTQIA+ mortas no Brasil desde 2011 do 
GGB, os dados estabelecidos na fig. 3 representam vidas perdidas por motivos 
LGBTQIAfóbicos, ele também afirma no fragmento abaixo retirado do relatório de 
2017, que seus relatórios não partem de um dado oficial, já que não se tem uma base 
de dados oficial do governo que determinam a motivação LGBTQIAfóbica.
tais números alarmantes são apenas a ponta de um iceberg de violência e 
sangue, pois não havendo estatísticas governamentais sobre crimes de ódio, 
tais mortes são sempre subnotificadas já que o banco de dados do GGB se 
baseia em notícias publicadas na mídia, internet e informações pessoais. A 
falta de estatísticas oficiais, diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos, 
prova a incompetência e homofobia governamental. (Michels, 2017)
Um dado oficial do governo são os relatórios de denúncias do Ministério da Mulher, da Criança e dos Direitos Humanos, as denúncias aqui 
apresentadas foram feitas pelo disque 100 no seguimento LGBTQIA+, registrando 
denúncias que vão de violência psicológica até violência sexual. Na fig. 4 podemos 
visualizar os tipos de casos registrados e o número de denúncias feitas no ano de 
2018 em todo o território nacional, é notório que a discriminação e a violência 
psicológica foram os mais denunciados com os respectivos números, 1.189 e 803 
denúncias. Os tipos de violência evidenciados na fig. 4 estão correlacionados, um 
pode vir a ser o resultado da ação de outro, como exemplo uma ameaça de morte, 
que está caracterizada em violência psicológica, pode vir a se tornar uma violência 
física com o assassinato do ameaçado. Entender algumas das tipologias de violência 
evidenciadas na fig. 4 é fundamental para ter a noção de como elas se correlacionam 
e influenciam umas as outras.
Um fator que representa uma origem para as demais violências evidenciadas na fig. 4 é a discriminação institucional, ela está presente em todas 
as instâncias da sociedade e algumas vezes é reproduzida de forma involuntária, 
mesmo quando não há a intenção para discriminar, por estar localizada em uma 
construção social perpetuada por gerações e influenciadas pelas crenças desses 
grupos. Pocahy (2007) demonstra a dinâmica da interação entre discriminação 
indireta e a sociedade de forma a construir parâmetro para determinar a discriminação 
institucional, ressaltando que em uma cultura heterossexista, condutas individuais 
e dinâmicas institucionais, formais e informais, reproduzem de forma intencional 
ou não os parâmetros de uma sociedade hegemonicamente heterossexual como 
norma sociocultural, naturalizando a heterossexualidade e restringindo, excluindo 
Figura 2 | Vítimas de LGBTQIAfobia. Fonte: Compilado pelo autor a partir dos sites: Veja, G1 e Opovo (2020)
Figura 3 | Gráfico LGBTQIA+ mortos no Brasil. Fonte: GGB, adaptado pelo autor (2019) Figura 4 | Gráfico denúncias de violência ao disque 100. Fonte: MDH, adaptado pelo autor (2019)
LGBTQIA+ mortos no Brasil
Dados obtidos pelos GGB de 2000 a 2019
100
200
300
400
420
200
0
200
6
201
2
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7
201
9
Discriminação
Psicologica
Física
Institucional
Outros
Negligência
Patrimonial
Sexual
Degradantes 14
30
33
51
97
194
463
803
1189
Denúncias de violência ao Disque 100
Dados do segmento LGBTQIA+ para todo território nacional em 2018
e anulando o reconhecimento dos Direitos Humanos e as liberdades fundamentais 
daqueles que não se moldam nos parâmetros heteronormativos.
Independentemente da intenção, a discriminação é um fenômeno que lesiona 
direitos humanos de modo objetivo. [...] Mesmo onde e quando não há vontade 
de discriminar, distinções, exclusões, restrições e preferências injustas nascem, 
crescem e se reproduzem, insuflando força e vigor em estruturas sociais 
perpetuadoras de realidades discriminatórias. [...] De fato, muitas vezes a 
discriminação é fruto de medidas, decisões e práticas aparentemente neutras, 
desprovidas de justificação e de vontade de discriminar, cujos resultados, 
no entanto, têm impacto diferenciado perante diversos indivíduos e grupos, 
gerando e fomentando preconceitos e estereótipos inadmissíveis. (POCAHY, 
2007).
Nesta linha de raciocínio, Pocahy (2007) enfatiza a importância do contexto social e organizacional como origem dos preconceitos e comportamentos 
discriminatórios. Os parâmetros estabelecidos para discriminação institucional 
são percebidos na forma direta da discriminação subdivididos em três principais 
manifestações: a discriminação explícita, ocorre quando uma diferenciação injusta é 
explicitamente adotada, como quando a orientação ou expressão sexual é parâmetro 
para seleção; a discriminação na aplicação, ocorre quando independentemente 
das intenções do instrutor, a diferenciação ocorre de modo proposital na execução 
da medida; e a discriminação na elaboração ou tratamento, a qual atua de forma 
que possa inferir, literal e diretamente, a diferenciação, isto ocorre quando uma 
medida adota exigências que, aparentemente neutras, foram concebidas, de modo 
intencional, para causar prejuízo a certo indivíduo ou grupo, (POCAHY, 2007).
A construção social atual teve em sua formação os padrões heteronormativos e a partir dessa base em relação a uma discriminação institucional, a 
sociedade reproduz atos discriminatórios muito sem perceber a gravidade das ações 
por conta de uma padronização que determinou a tempos que uma diversidade 
sexual e uma afirmação de gênero iria contra a ideia do Homem hetero provedor 
da sociedade, esses padrões influenciariam as dinâmicas de viver em sociedade, 
pode-se notar como exemplo que a retirada do debate sobre diversidade sexual 
em escolas é uma forma adotada como discriminação Institucional, uma vez que 
o livre discurso proporciona questionamentos e compreensões que colaboram para 
uma reconstrução de padrões, ou as ideologias religiosas que defendidas como lei 
suprema invalidam posicionamentos de afirmação sexual e gênero, um outro exemplo 
de discriminação institucional é a dificuldade para ter travestis e transsexuais sem 
passibilidade em funções empregatícias ditas normais e uma facilidade maior para 
17
encontrar as mesmas em trabalhos sexuais, uma vez que em meio a prostituição, 
muitas vezes a noite e em determinados locais, ficam isoladas de uma sociedade 
julgadora, também é exemplo de uma discriminação institucional a dificuldade para 
que agentes policiais e órgãos públicos caracterizem atos LGBTQIAfóbico como tal 
ou o que reconheçam a identidade de gênero de pessoas LGBTQIA+.
Figura 5 | Gráfico denúncias ao disque 100 para SP. Fonte: MDH, adaptado pelo autor (2019) Figura 6 | Gráfico nível de tolerância em SP Fonte: IBOPE, adaptado pelo autor (2019)
2011 24 18 16 8 17 21 10 18 5 9 19 32 197
2015 13 14 13 24 10 20 15 14 17 15 45 38 238
2013 39 32 27 30 25 32 23 18 26 29 23 18 322
2017 23 17 33 15 33 18 18 22 21 25 20 15 260
2012 44 25 14 32 33 30 41 36 47 38 41 24 405
2016 25 25 27 17 28 31 14 21 20 32 17 20 277
2014 28 17 24 28 13 29 20 9 27 17 14 24 250
2018 15 19 24 23 26 19 24 24 31 28 25 16 274
2019 23 19 15 21 20 23 - - - - - - 121
ANO JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
Denúncias ao Disque 100 para SP
Dados do segmento LGBTQIA+ de 2011 ao 1ª semestre de 2019
Em 2017 o número de denúncias copiladas foi de 1.720, desses casos 193 são homicídios, o número é 127% maior que o registrado em 2016. Já 
em São Paulo o número anual de denúncias não sai dos 3 dígitos desde o início 
das coletas pelo disque 100 do MDH (Ver fig. 5), representando que a intolerância 
está presente e seus números demonstram uma constância durantes anos. Pode 
entender a fig. 5 de duas formas, uma onde a vítima tem a coragem para fazer a 
denúncia a seu agressor, mostrando que se sentem mais encorajadas a denunciar 
por reconhecer seus direitos, mas deixa em abertaa ideia de que várias outras não 
chegam a denunciar por medo subnotificando os casos; a outra forma que se pode 
analisar a fig. 5 é entendendo que a constância nas denúncias demonstram que não 
se houve avanços em relação a defesa dos direitos LGBTQIA+ e na disseminação 
dos ideais de igualdade, onde os números refletem que os agressores não se inibem 
em produzir atos de intolerância.
A precariedade de coleta e compilação de dados de violência LGBTQIA+ demonstra que falta empenho de órgãos públicos em promover auxílio a 
minoria, grupo marginalizado dentro da sociedade devido aos aspectos de orientação 
e expressão sexual. Mais da metade dos Paulistanos já sofreu ou presenciou cenas 
de preconceito contra pessoas LGBTQIA+ em espaços públicos na cidade de São 
Paulo, segundo a pesquisa da diversidade realizada pela organização da sociedade 
civil Rede Nossa São Paulo em parceria com o Instituto Brasileiro de Opinião 
Pública e Estatística (IBOPE, 2019). De acordo com a pesquisa, a população de 
São Paulo em uma escala de 1 à 10, tinha nota de 6,3 para tolerância a atos e ações 
LGBTQIA+ no ano de 2018 e esse número tem queda significativa no ano de 2019 
com uma média de 5,9 (ver fig. 6), e tratando de regionalidade, o centro tem média 
de 6,1 de aceitação enquanto a região sul é muito mais intolerante com média de 
5,4. Esta intolerância é fator da falta de segurança para a parcela LGBTQIA+ da 
população de São Paulo, evidenciando que a queda do ano de 2018 para 2019 
demonstra a necessidade de uma discursão mais ampla em relação ao respeito às 
causas LGBTQIA+, buscando esclarecer e sensibilizar a todos, principalmente as 
parcelas menos favoráveis ao tema.
Com base na pesquisa, o gestor de projetos da Rede Nossa São Paulo, Américo Sampaio afirma que a cidade de São Paulo é hostil para o público 
LGBTQIA+, e que por mais que a população LGBTQIA+ seja estimada em 5% da 
população da capital, 4 de cada 10 entrevistados já viveram ou presenciaram algum 
tipo de preconceito em espaços ou transportes públicos, evidenciando a necessidade 
de investimento em políticas públicas voltadas às questões de direitos LGBTQIA.
Nível de tolerância em São Paulo
Escala de 1 a 10
232018
2019
23 50 4
426
1 a 4
26 40
Intolerante
5 7e a6 10
6,3
MÉDIA
5,9
Nem intolerante, nem tolerante Tolerante Não sabe/Não Respondeu
Queda 
significativa 
da nota 
média
Esses dois espaços são os mais violentos com essa população. Neste sentido, 
é fundamental que o poder público, principalmente o Executivo, invista em 
políticas públicas que tirem a invisibilidade das questões relativas à população 
LGBT. (Sampaio, 2018)
Como relatado anteriormente pelo GGB, poucos assassinatos ocorreram na casa da vítima, evidenciando que as ruas são os lugares mais perigosos. 
Tendo como exemplo a situação de travestis e transsexuais que trabalham com 
a prostituição, estar nas ruas, algumas vezes sem a presença de outras, é estar 
arriscando sua vida por aumentar a vulnerabilidade diante das inúmeras violências 
físicas e psicológicas a que são submetidas, de acordo com a Associação Nacional 
de Travestis e Transsexuais (ANTRA, 2019) 64% dos assassinatos Trans ocorridos 
em 2019 aconteceram nas ruas, sendo São Paulo o estado que mais matou trans em 
2019, foram 21 assassinatos. De acordo com a pesquisa viver em São Paulo – direitos 
LGBT, depois dos espaços e transportes públicos, as escolas e faculdades, shoppings 
e comércios, bares e restaurantes são os locais que tem a maior frequência em ações 
de intolerância LGBTQIA+ (ver fig. 7), é notório que mesmo sendo locais privados, 
eles são de uso público e fazem parte da vivência em sociedade, evidenciando que 
ter sofrido ou presenciado situações de discriminação em relação à identidade de 
gênero ou expressão sexual nestes lugares impactam diretamente na percepção de 
tolerância na cidade de São Paulo.
19
Percebesse o quanto é necessária uma investida mais profunda em defesa da minoria, e que a informação e conhecimento são os melhores aliados 
para sanar o preconceito e os atos de violência. Em entrevista na semana de combate 
a LGBTQIAfobia em 17 de maio de 2018, o então ministro dos Direitos Humanos, 
Gustavo Rocha afirmava: 
Todas as pessoas podem estar sujeitas à violência. No entanto, a população 
LGBT é vítima de uma violência adicional: são agredidas e discriminadas por 
serem aquilo que são. Este é um exemplo de ódio e intolerância que precisamos 
combater enquanto sociedade. (Rocha, 2018)
Como iniciativa, o extinto Ministério dos Direitos Humanos (MDH, 2018) vinha fazendo um trabalho em promover o esclarecimento em 
relação à naturalidade das múltiplas orientações e expressões sexuais, o intuito 
era levar informação para a população mais carente de conhecimento a fim de 
sanar a discriminação, como exemplo a campanha “deixe seu preconceito de 
lado, respeite as diferenças” que tratava de explicar a vivência LGBTQIA+, 
relatando formas de como tratá-los com respeito, mostrar a diversidade dentro da 
comunidade e quão rica é a cultura LGBTQIA+, assim como a instituição do Pacto 
Nacional de Enfrentamento a Violência LGBTQIAfóbica, onde em sua Clausula 
Segunda, determinava as atribuições do pacto, como a criação de uma estrutura 
para promoção de políticas para LGBTQIA+; instrumentalizar equipamentos nos 
órgãos estaduais para atendimento adequado à população LGBTQIA+; elaborar e 
estabelecer planos de ações para o enfrentamento à violência LGBTQIAfóbica; e 
cooperar com ações da sociedade civil para a promoção de ações que combatam a 
violência LGBTQIAfóbica.
No programa do Governo Federal “Brasil sem Homofobia” (2004) foram determinadas diretrizes para atingir os objetivos de sanar a problemática 
da LGBTQIAfobia, tais como: apoio à projetos de fortalecimento de instituições 
públicas e não governamentais que atuem na promoção da cidadania homossexual 
e/ou no combate à/ homofobia; a capacitação de profissionais e representantes do 
movimento homossexual que atuem na defesa dos direitos humanos; disseminação 
de informação sobre direitos de promoção de autoestima homossexual; e o incentivo 
à denúncia de violações dos direitos humanos de segmento LGBTQIA+. Neste 
âmbito, se inseria o também extinto Ministério da Cultura (MinC), com projetos 
visando o direito à cultura, como exemplo a criação do grupo de trabalho da promoção 
da cidadania GLBT (2004), com o intuito de elaborar um plano para fomento, 
incentivo e apoio às produções artísticas e culturais que promovam a cultura e a não 
Locais com casos de discriminação
Cidade de São Paulo com evidência para os dois locais com mais incidência
Espaços públicos
Transporte público
Escola / Faculdade
Shoppings e comércios
Bares e restaurantes
Trabalho 
Família
Estabelecimentos privados
Sofreu ou presenciou Não sofreu ou presenciou Não sabe ou não respondeu
30
32
37
37 56 7
6
7
8
8
7
7
8
57
62
61
60
63
65
69
28
31
23
31
Figura 7 | Gráfico locais com casos de discriminação. Fonte: IBOPE, adaptado pelo autor (2019)
se expressão em sociedade. Existem diversas identidades dentro da comunidade 
LGBTQIA+, um exemplo é a própria sigla da comunidade, que evidencia a existência 
de grupos distintos dentro da comunidade e esses grupos também se expressão de 
forma independente, também é notório que as expressões vão além de gênero, elas 
são sexuais e de afirmação. Em ilustração para o jornal Le Monde Diplomatique, 
Caio Borges retrata identidades por meio de personalidades LGBTQIA+ brasileiras 
(Ver fig. 8), estas personalidades estão envolvidas nas formas de se produzir um 
cultua identitária e de afirmação LGBTQIA+ no Brasil, são eles atores e atrizes, 
cantores(as), artistas performáticos, lideranças políticas e ativistas ilustrados como 
heróis LGBTQIA+ em defesa e promoção da comunidade, é notória a diversidade de 
identidades apresentadas pela ilustração e o conjunto dessas identidade e de como elas 
se expressam no meio é que se configura uma cultura LGBTQIA+, vale resaltar quenão se limita a esses, existem outros nomes que também trazem representatividade 
para a causa defendendo e expressando outras vertentes do movimento.
discriminação; o lançamento de edital em apoio as paradas de orgulho LGBTQIA+ 
(2005) visando apoio massivo a produção de bens culturais e eventos de afirmação 
sexual e cultural; o estimulo e apoio a distribuição, circulação e acesso aos bens e 
serviços culturais com temática ligada ao combate à homofobia e a promoção da 
cidadania LGBTQIA+ por meio do edital de premiação de monografias, dissertações, 
teses, ensaios, e contos de temática LGBTQIA+ (2005) (MinC, 2007).
Dentre as áreas onde o grupo de trabalho em conjunto ao Ministério da Cultura atuou, destacou o apoio às Paradas do Orgulho LGBTQIA+, tendo 
em vista uma maior visibilidade na sociedade brasileira e o poder de mobilização 
dentro da própria comunidade LGBTQIA+, cabe destacar que as paradas são eventos 
culturais difundidos internacionalmente, e em São Paulo a parada é considerada um 
dos maiores eventos culturais público. A singularidade das paradas LGBTQIA+ no 
Brasil transforma o evento em uma distinta manifestação onde incorpora elementos 
tradicionais das linguagens artísticas e elementos culturais brasileiros, dando uma 
identidade original para a manifestação em território nacional. Um dos objetivos de 
apoio do MinC. as paradas foi o fortalecimento destas manifestações incentivando o 
crescimento e ampliando as expressões culturais durante o evento, como mostras de 
cinema e teatro, espetáculos musicais, palestras, debates e premiações de expressões 
artísticas LGBTQIA+ (MinC. 2007).
A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) em seus princípios para cultura conceituasse que a 
cultura assume diversas formas no tempo e no espaço e está diretamente ligada 
a singularidade e a diversidade das identidades de grupos e sociedades, também 
afirma que a diversidade cultural é necessária para a humanidade, uma vez que 
configura uma herança comum, ela deve ser afirmada e reconhecida em benefício 
de gerações presentes e futuras, afirmasse também que é essencial garantir uma 
interação harmoniosa entre pessoas e grupos com identidade culturais diferentes. 
A UNESCO também define que o conteúdo cultural é um significado simbólico, de 
dimensão artística e valores culturais que tem origem em identidades ou expressam 
identidades, no qual a expressão cultural é o resultado criativo de um indivíduo, 
grupo ou sociedade e estas expressões tipificam as atividades, bens e serviços que 
são considerados como atributos, usos ou propósitos específicos que incorporam e 
transmitem a cultura (UNESCO, 2005).
Tendo como referência as definições da UNESCO (2005) é possível evidenciar a cultura LGBTQIA+ a partir das identidades e de como elas 
Figura 8 | Personalidades LGBTQIA+. Fonte: Le Monde Diplomatique Brasil/Caio Borges, adaptado pelo autor (2019) 
Podemos evidenciar várias expressões identitárias dos grupos LGBTQIA+ aqui, mas a produção cultural LGBTQIA+ vai além da expressão dos 
corpos como movimento de afirmação, a produção é vista e sentida, ela é palpável 
e imaterial, são sentimentos e sensações, são espaços de afirmação e de identidade. 
O festival MIX Brasil de Cultura da Diversidade a mais de duas décadas vem tendo 
como objetivo o respeito e a livre expressão da diversidade sexual, buscando novas 
perspectivas para a compreensão da comunidade, sendo distintas de preconceitos, 
fomentando o respeito, promovendo a cidadania e combate a toda e qualquer forma 
de LGBTQIAfobia. Hoje o festival é referência política e cultural nacionalmente e 
internacionalmente em questões relacionadas à cultura LGBTQIA+ e de minorias, 
em seus arquivos de premiações e programações se tem um acervo gigantesco 
de produções culturais LGBTQIA+ e estão listados como tal produção: curtas e 
longas metragens, peças teatrais, músicas e musicais, obras literárias e games (MIX 
BRASIL, 2019).
O maior evento afirmativo que se traduz como expressão cultural LGBTQIA+ são as Paradas do Orgulho que acontecem em diversas 
localidades pelo mundo, todas as identidades são notadas, evidenciadas e festejadas, 
todos são aceitos para festejar como ato de afirmação e luta por direitos, mostram que 
estão presentes e querem ser notadas e respeitadas em sociedade por viverem suas 
identidades, uma dessas paradas reconhecidas internacionalmente e já considerada 
a maior do mundo é a Parada do Orgulho LGBTQIA+ de São Paulo (Ver fig. 9) que 
em 2019 movimentou R$ 403 milhões na economia da cidade e reuniu 3 milhões de 
pessoas na Av. Paulista (PINHONI, 2019).
Tendo como base que os casos de violência LGBTQIA+ partem de uma aversão e intolerância, como foi evidenciado anteriormente aqui, e que 
a falta de conhecimento, crenças e ideologias comportamentais são fatores que 
geram essa intolerância, além de que nos tempos atuais, ainda é constante o número 
de casos de preconceito e a gravidade dos atos só aumentam, conclui-se que levar 
o conhecimento é a estratégia que melhor atende a necessidade de diminuir o 
número de pessoas intolerantes aos LGBTQIA+, onde o conhecimento é obtido por 
experienciar, pela vivencia numa cidade que está em modificação constante e em 
processos de afirmação, onde as dinâmicas de apropriação territorial proporcionam 
afirmação de causa, identidade e pertencimento ao local, além de proporcionar o 
status de local seguro, acolhedor e representativo para as causas LGBTQIA+.
21Figura 9 | Parada do Orgulho de São Paulo. Fonte: OGLOBO, adaptado pelo autor (2019) Figura 10 | Distrito Cultural de Castro. Fonte: Kevin N. Hume, adaptado pelo autor (2019)
Uma referência é a cidade de São Francisco no estado da Califórnia, EUA, que tem Castro como o polo de atração mundial de público LGBTQIA+, 
sua trajetória começou com a ida da comunidade homossexual de São Francisco para 
o bairro e criando um centro urbano elegante e sofisticado em 1970, o ativista Harvey 
Milk, primeiro homem abertamente homossexual a ser eleito para cargo público nos 
EUA, lutou pelos direitos dos homossexuais, e mantinha residência e comércio na rua 
Castro, sendo uma grande personalidade local, foi um dos responsáveis pela história 
de resistência da comunidade em Castro. O bairro tem sua história de resistência 
LGBTQIA+ e os comércios da região são voltados para o público LGBTQIA+. 
Desde o começo da comunidade naquele local, pequenas lojas de proprietários 
homossexuais, o teatro, casas de banho e bares que movimentavam a região dia e 
noite. Hoje após todos os movimentos em prol da comunidade LGBTQIA+, castro 
continua com seus comércios típicos do bairro, os bares gays, as padarias e cafés, 
lojas de vestimentas típicas de LGBTQ+, o teatro e cinema, o museu, e todos os 
eventos de rua, além de toda a representação gráfica dos espaços (Ver fig. 10), que 
tornam o local um destino turístico para toda a comunidade LGBTQIA+.
A cidade de São Paulo mesmo possuindo unidades que prestam serviços ao grupo LGBTQIA+, carece de mais polos de afirmação da minoria, 
sendo eles, pontos de cultura, entretenimento e socialização, apoio e acolhimento, 
além do incentivo de órgãos públicos. Essa pesquisa busca compreender as demandas 
LGBTQIA+ da cidade de São Paulo, e em resposta, desenvolver um projeto como 
iniciativa para sanar as problemáticas vistas anteriormente aqui. Estudar o tema aqui 
exposto, proporcionaria aos carentes de informação específica, a real situação que se 
encontra a cidade de São Paulo, frete a intolerância a diversidade de gênero e expressão 
sexual, e essa pesquisa tem como principal proposta, a disseminação e valorização 
da cultura LGBTQIA+ juntamente com o apoio e auxílio dos diretos humanos as 
vítimas de atos contra a minoria e em resposta a problemática identificada, o Centro de 
Apoio e Cultura LGBTQIA+ aqui proposto vem como um ponto local de resistência 
e autoafirmação, que proporcionaria a divulgação das identidades diversas a fim de 
valoriza-las e promove-las a outrosgrupos fora da comunidade, além da conquista 
física de um espaço que reafirme a condicionante LGBTQIA+ criando uma identidade 
local e pode vir a promover uma tendência para o turismo LGBTQIA+ como no caso 
de Castro em São Francisco EUA.
Nos capítulos seguintes estará disposto informações adicionais sobre a comunidade LGBTQIA+ e de como ela se relaciona com o espaço. No 
capítulo a seguir, será retratado a comunidade LGBTQIA+ em si, falando sobre um 
marco que deu um start ao movimento e dando um panorama geral que se afunila a fim 
de retratar as condicionantes paulistanas para o movimento.
No capítulo que o sucede, o espaço LGBTQIA+ Paulistano entra em foco no que retrata as afirmações e suas relações socioculturais a fim de caracterizar 
e desenvolver os territórios LGBTQIA+ de São Paulo. No terceiro capítulo o terreno 
é o objeto de estudo, os pontos positivos e negativos serão evidenciados, a história do 
local é contada a fim de fundamentar a afirmação do terreno para o projeto.
Nos dois últimos capítulos o projeto é o assunto, são evidenciados referências e estudos de caso que dão fundamento a proposta, além das 
condicionantes projetuais, programas de necessidades, memoriais e o projeto em 
sim.
O que vão dizer de nós? Seus pais, Deus e coisas tais, quando ouvirem rumores do 
nosso amor, baby, eu já cansei de me esconder, entre 
olhares, sussurros com você, somos dois homens e 
nada mais.
Eles não vão vencer, baby, nada há de ser em vão, antes dessa noite acabar, dance comigo a 
nossa canção! E flutua, flutua, ninguém vai poder querer 
nos dizer como amar, e flutua, flutua, ninguém vai poder 
querer nos dizer como amar.
Entre conversas soltas pelo chão, teu corpo teso, duro, são, e teu cheiro que ainda ficou 
na minha mão. Um novo tempo há de vencer, pra que 
a gente possa florescer, e baby, amar, amar sem temer.
Eles não vão vencer, baby, nada a dizer em vão, antes dessa noite acabar, baby, escute, é 
a nossa canção, e flutua, flutua, ninguém vai poder querer 
nos dizer como amar, e flutua, flutua, ninguém vai poder 
querer nos dizer como amar.
HOOKER, 2017
23
L G B T Q I A + : 
DE 1969 À UMA 
AFIRMAÇÃO DE 
DIREITO
01
Um movimento descentralizado que tem o mesmo propósito para existir e resistir, a defesa e promoção dos direitos daqueles que o compõe. A 
sigla é composta pelas letras dos grupos pertencentes ao movimento, sendo eles: 
Lésbicas, que mantém relação homoafetivas entre mulheres; Gays, que mantém 
relações homoafetivas entre homens; Bissexuais, que se relacionam com 2 gêneros; 
Transsexuais, pessoas que nascem com o sexo biológico diferente do gênero com 
que se reconhecem; travestis, pessoas que nasceram com o sexo masculino e que se 
identificam com o gênero feminino, exercendo seu papel de gênero feminino; Queer, 
designado para pessoas que fogem das normas de gênero e heteronormatividade; 
Intersexuais, pessoas que nascem com características sexuais biológicas que não 
se encaixam nas categorias típicas do sexo feminino ou masculino; Assexual para 
pessoas que não sentem atração afetiva e/ou sexual por outras pessoas independente 
do gênero; e o símbolo + para incluir a todos que não se sintam representados pelas 
atuais letras da sigla (MDH, 2018). 
Hoje a sigla do movimento vai além das 4 letras mais famosas “LGBT”, a necessidade de se sentir representado faz com que mais letras sejam 
incluídas na sigla. Até o fim dos anos de 1980 o termo utilizado para o movimento 
era simplesmente “GAY” ou homossexual, que foi substituído por GLS até 1990 que 
se tornou LGBT, representando os núcleos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e 
transsexuais. Foram adicionadas as letras “Q” para pessoas que se identificam como 
Queer, o “I” para pessoas intersexuais, o “A” para pessoas assexuais, o “P” e o “N” 
para pessoas pansexuais e não binarias e o sinal de “+” para representar quaisquer 
pessoas que não se sintam representadas por umas das letras na sigla. Dentre as 
variações possíveis para montar a sigla do movimento, a LGBT é a mais usual, mas 
todas as outras variações também estão corretas e podem ser usadas normalmente 
para representar a minoria.
O evento que proporcionou uma maior visibilidade para a defesa dos direitos de pessoas LGBTQIA+ foi o episódio da rebelião 
de Stonewall em 1969, um bar no village, bairro da cidade de Nova York, 
EUA, onde gays, lésbicas, travestis e drag queens em resposta às ações de 
investidas policiais com revistas humilhantes em bares gays de Nova York 
e cansadas de fugir quando percebia-se a presença dos policiais, unem-se 
em protestos intensos que duraram 5 dias, onde o número de apoiadores a 
causa aumentavam gradativamente conforme os dias iam passando, de 
modo a expulsar a presença policial da região. O acontecido em Stonewall 
se tornou base para a criação de 2 grupos importantes para o movimento 
LGBTQIA+, o Gay liberation front e o Gay activists alliance, traduzidos 
livremente em “frente de libertação gay” e “aliança de ativistas gays”; grupos 
esses responsáveis pela organização de atos em prol do movimento, e um ano 
após o início da revolta de 28 de junho de 1969, deu início a primeira parada 
do orgulho LGBTQIA+ nos EUA e desde então foram realizadas em diversos 
países, tornando o dia 28 de junho o dia internacional do orgulho LGBTQ+.
No Brasil, o movimento teve início em meio a Ditadura Militar de 1964 a 1985, como a disseminação de publicações impressas de cunho LGBTQ+ 
como o “Lampião da Esquina” e “ChanacomChana” (Ver fig. 11), tabloides que 
faziam oposição à ditadura, denúncias sobre abusos contra LGBTQIA+ e apoio 
as causas. Um episódio que marcou o movimento Lésbicas no Brasil foi o evento 
onde militantes foram proibidas de vender dias antes os tabloides no Ferro’s bar, 
intensamente frequentado pelo público lésbico na noite paulistana, e na noite do dia 
19 de agosto de 1983, organizadas pelo Grupo Ação Lésbico-Feminista desafiaram 
a proibição, forçaram a entrada e leram o manifesto em prol dos seus direitos (Ver 
fig. 12), anos depois o dia 19 de agosto é considerado o dia do orgulho lésbico no 
Brasil (FACCHINI, 2003).
O primeiro grupo de ativismo gay do brasil foi o SOMOS, fundado em 1978 em São Paulo, já em 1979 foi a vez de um número maior de lésbicas se 
juntarem ao grupo SOMOS e criarem uma subdivisão dentro do grupo, denominada 
lésbicas feministas, e só em 1992 é formado a primeira organização de travestis da 
América latina, no Rio de Janeiro (FACCHINI, 2003). O movimento ganhou mais 
visibilidade a partir dos anos de 1990, onde em 1995 após a 17ª conferência no Rio 
de janeiro da Associação Internacional de lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais 
e intersex, um grupo sai em marcha pela praia de Copacabana (Ver fig. 13). No 
ano seguinte foi a vez de São Paulo que na praça Roosevelt, reuniu um grupo 
1.
1 
U
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am
a
que reivindicava direitos LGBTQIA+ e a partir desse ato, coletivos começaram a 
planejar a primeira parada LGBTQIA+ do Brasil, que aconteceu em 1997 na Av. 
Paulista e percorreu ruas de São Paulo até a Praça da República (FACCHINI, 2003).
O movimento é mais que um grupo de pessoas que estão na busca sem fim pela defesa da aceitação em sociedade, é um ato de ir em busca de 
igualdade social, sendo respeitadas pelo que são e tenham as mesmas condições de 
direitos legais de qualquer grupo social. O grupo é composto de grande ativismo 
político e atuações de cunho cultural promovendo o movimento na luta por 
direitos e na afirmação de existência. Mesmo não se tratando de um movimento 
centralizado, e tendo vários grupos, núcleos e organizações pelo mundo inteiro, os 
mesmos ideais são defendidos, com intensidades diferentes já que cada localidade 
tem sua pauta mais importante, mas os objetivos em comum são como exemplo 
a busca por criminalizar a LGBTQIAfobia como ato discriminatório, a luta pela 
descriminalização da homossexualidade em algumas localidades, o casamento 
igualitário, o direito a adoção, o reconhecimentoda identidade de gênero e da 
expressão sexual etc.
Figura 11 | Capas dos tabloides. Fonte: Acervo Bajuba, adaptado pelo autor (2020) Figura 12 | Noite de 19 ago. 1983 no Ferro’s Bar Fonte: Reprodução, adaptado pelo autor (1983) 
Figura 13 | Marcha na 17ª conferência internacional LGBT. Fonte: Cidade em Movimento, adaptado pelo autor (2017) 27
Baker relata também que com o Bicentenário Norte Americano, ele percebeu que a bandeira Norte Americana entre em foco, estava em 
toda parte, nas artes, lembranças e publicidades, funcionava como uma mensagem, 
desse modo, percebeu a importância das bandeiras, “Descobri a profundidade em 
seu poder, sua qualidade transcendente e transformacional. Pensei na conexão 
emocional que eles mantêm.” (BAKER, 2019, tradução nossa), mais tarde, Baker se 
viu dançando no Winterland Ballroom, uma casa de shows em São Francisco EUA, 
em uma Show da Funkadelic, ele relata em seu livro que a comunidade se fazia 
presente e que faziam parte do show assim como a banda:
Todo mundo estava lá: beatniks de North beach e zoots de bairro, os 
motoqueiros entediados de couro preto, os adolescentes na fila de trás se 
beijando. Havia garotas esbeltas e de cabelos compridos em trajes de dança 
do ventre, punks de cabelo rosa presos em segurança, suburbanos hippie, 
estrelas de cinema tão bonitas que deixavam você boquiaberta, gayboys 
musculosos com bigodes perfeitos, fadas de todos os gêneros em vestidos 
de brechós e sapatilhas de ganga. Nós montamos a bola de espelhos no LSD 
brilhante e no poder do amor. A dança nos fundiu, magica e purificadora. 
Estávamos todos em um turbilhão de cores e luzes. Era como um arcoíris. 
Um arco-íris. Foi nesse momento que eu soube exatamente que tipo de 
bandeira eu daria. Uma bandeira do arco-íris era uma escolha consciente, 
natural e necessária. O arco-íris veio da história mais antiga registrada 
como um símbolo de esperança. No livro de Genesis, apareceu como prova 
de uma aliança entre deus e todas as criaturas vivas. Também foi encontrado 
na história chinesa, egípcia e nativa americana. Uma bandeira do arco-iris 
seria nossa alternativa moderna ao triangulo rosa. Agora, os manifestantes 
que reivindicavam su liberdade no Stonewall inn Bar em 1969 teriam seu 
próprio símbolo de libertação (BAKER, 2019, tradução nossa)
Inicialmente Baker desenhou uma bandeira de 8 faixas de cores (Ver fig. 15) com aproximadamente 9 metros de altura por 18 metros de comprimento, 
tingida e costurada por ele mesmo, cada cor significava um aspecto para o movimento 
LGBTQIA+ sendo eles: rosa para o sexo e o prazer carnal, vermelho para representar 
a vida, laranja simbolizava cura e o poder, amarelo para luz do sol e uma claridade 
da vida, verde para natureza e o amor pela mesma, turquesa para as artes e a magia, 
azul simboliza uma harmonia e pacificação, e o roxo para simbolizar o espírito, o 
desejo de vontade e a força. As cores faziam referência aos ideais e interesses das 
pessoas que faziam parte da comunidade e o quão simbólico e importante a bandeira 
era para o movimento, Baker em entrevista a Cable News Network (CNN) relatou 
como foi o momento em que pela primeira vez a bandeira era exposta em meio 
ao Dia do Orgulho Gay celebrado em 25 jun. 1978, a bandeira foi passada pelas 
| Figura 14 | Bandeira do orgulho LGBTQIA+ com 6 cores.. Fonte: Reprodução/Capricho, adaptado pelo autor (2019)
Hoje o maior símbolo de representatividade para a comunidade LGBTQIA+ é a famosa bandeira arco-íris, na qual teve sua 
primeira versão desenvolvida pelo artista e ativista Gilbert Baker em 1978 
a pedido do também ativista Harvey Milk para celebrar o dia da liberdade 
gay de São Francisco, EUA, naquele ano. Até então o triângulo rosa era o 
símbolo do movimento gay, mas também fazia referência aos triângulos 
rosas usados na Segunda Guerra Mundial por Adolf Hitler para marcar 
os homossexuais, assim como a Estrela de Davi marcava os judeus, era 
uma ferramenta de opressão, e Baker sentia a necessidade de algo que 
representasse uma positividade, que celebrasse o amor. (BAKER, 2019)
Baker relata ter como referência a bandeira dos EUA, com suas listras que representavam as colônias inglesas que fundaram os EUA, 
e pensou também na bandeira da Revolução Francesa, com suas três listras 
tricolores. Como essas duas bandeiras representavam uma revolução, concluiu 
que a comunidade gay também deveria ter uma bandeira que representasse 
uma revolução e proclamasse a ideias de poder homossexuais, uma vez que a 
comunidade local e internacional estavam em meio a uma batalha por direitos, 
exigindo mudanças de status, nas palavras dele “Esta foi a nossa revolução: 
uma visão tribal, individualista e coletiva.” (BAKER, 2019, tradução nossa).
1.
2 
U
m
 sí
m
bo
lo
 d
e 
am
or
 e
 r
ep
re
se
nt
at
iv
id
ad
e
mãos de milhares de pessoas, como se soubessem que aquele era o novo símbolo de 
representatividade (BAKER, 2015).
Quando subiu e o vento finalmente o tirou das minhas mãos, me surpreendeu. 
Vi imediatamente como todos ao meu redor possuíam a bandeira. Pensei: 
‘É melhor do que eu jamais sonhei. (BAKER, 2015, tradução nossa)
Após o assassinato de Harvey Milk no final de 1978, a demanda pela bandeira aumentou e para atender a demanda, a Paramounte Flag 
Company, empresa em que Baker trabalhava, passou a vender uma versão da bandeira 
usando tecido arco-íris com 7 faixas, tempo depois passou a vender um estoque 
excedente de bandeiras arco-íris do movimento International Order of the Rainbow 
for Girls (IORG), traduzido livremente para Ordem internacional do Arco-iris para 
meninas, que também possuía 7 faixas, sendo elas: vermelho, laranja, amarelo, 
verde, turquesa, azul e violeta, em meio a esta situação e atrelado ao alto custo de 
se produzir a cor rosa em grande quantidade, Baker passou a produzir também suas 
bandeiras com as 7 faixas, e em 1979 a bandeira é modificada novamente, em uma 
ação pública as bandeiras foram penduradas verticalmente nos postes da Market 
Street, São Francisco EUA, e a faixa central da bandeira ficou escondida pelo 
próprio poste, a solução mais fácil e rápida adotada foi a retirada da faixa turquesa, 
resultando na atual bandeira de 6 faixas, vermelho, laranja, amarelo, verde, azul e 
violeta usadas até hoje, 41 anos (BAKER, 2019).
Hoje as 6 faixas são mais que uma bandeira, ela faz parte da comunidade LGBTQIA+ em cores dispostas em vários acessórios como forma de 
identificação e representatividade para a causa. Vale ressaltar que para uma melhor 
representatividade novas bandeiras específicas foram desenvolvidas para retratar os 
segmentos da comunidade.
Figura 15 | Replica da bandeira original com 8 cores em algodão tingido. Fonte: GLBT Historical Society, São Francisco, EUA. (1998) 29
Como objeto de estudo, a cidade de São Paulo entra em foco evidenciando uma percepção da população em relação as causas e 
direitos LGBTQIA+ e em contra partida é retratado possibilidades adotadas 
pela Prefeitura Municipal de São Paulo para uma mudança no cenário 
LGBTQIAfóbico existente na capital paulista.
1.3.1 Um panorama estatístico: Intolerância
De acordo com a pesquisa Viver em São Paulo: Respeito LGBT+, a maioria relativa dos paulistanos afirmam que a administração 
Municipal tem feito pouco para combater a violência contra a população 
LGBTQIA+, com um percentual de 46% no ano de 2018 e 43% no ano de 
2019, em contra partida aos 8% em 2018 e 10% em 2019 que consideram 
que o município fez muito, relatando que 6 em cada 10 paulistanos 
consideram importantes a elaboração e implementação de políticas públicas 
municipais que promovam a igualdade de direitos a fim de se ver respeitado 
os direitos e as expressões sexuais e de gênero, onde uma valorização 
dos grupos minoritários seja o ideal para uma sociedade igualitária. 1.
3 
A
 c
id
ad
e 
de
 S
ão
 P
au
lo
A pesquisa também revela que é crescente a percepção de intolerância nas regiões 
sul e centro (Ver fig. 16), ressaltando que enquanto pretos/pardos declasse mais 
baixa percebem São Paulo como uma cidade mais intolerante com a população 
LGBTQIA+, as classes mais abastardas e brancos veem como indiferente, criando 
evidencia territorial para áreas que necessitam de uma intervenção atuante na 
promoção da igualdade e do respeito a diversidade (IBOPE, 2019).
Em todas as regiões de São Paulo, os espações públicos são os locais onde os moradores mais afirmam enfrentar sofrendo ou presenciando 
situações de discriminação em função de gênero ou expressão sexual (Ver fig. 17), 
são 882.632 mil habitantes declarando ter sofrido ou presenciado em pelo menos 
um ambiente dos investigados e 196.140 mil habitantes para todos os ambientes 
investigado, ter sofrido ou presenciado alguma discriminação em um ou mais desses 
locais impacta diretamente na avaliação para o grau de tolerância da cidade, nesse 
sentido a promoção da diversidade e do respeito contribui para sanar ou diminuir as 
iniciativas discriminatórias presentes nesses ambientes (IBOPE, 2019).
Outro fator apontado pela pesquisa, é de que um quarto dos entrevistados não se informam ou não tem acesso à informação sobre os direitos 
LGBTQIA+, e dos que se informam, as fontes mais utilizadas são a internet e a 
L
este
O
este
N
orte
Figura 16 | Gráfico percepção de tolerância LGBTQIA+. Figura 17 | Gráficos Casos de discriminação por região. Fonte: IBOPE, adaptado pelo autor (2019)
televisão, cabe destacar também a importância desses meios como influenciadores 
e portadores da informação, e de como eles podem colaborar para uma melhor 
dinâmica de respeito as diversidades, mas evidencia a necessidade de locais físicos 
que tenham livre discurso para o debate das questões, como as escolas, universidades, 
grupos de discursões, centros acadêmicos e coletivos, assim como os centros de 
cultura e apoio e encontros, na fig. 18 está evidenciado os três meios mais populares 
de acesso as informações a respeito dos direitos LGBTQIA+ para cada região da 
cidade de São Paulo (IBOPE, 2019).
Percepção de tolerância LGBTQIA+
Dados para a cidade de São Paulo 
1 a 4
Intolerante
Sul
Leste
Norte
Oeste
Centro
2018
2018
2018
2018
2018
2019
2019
2019
2019
2019
5 7e a6 10
5,4
5,8
6,2
6,3
6,1
6,5
6.3
6,1
6,6
6,5
Nem intolerante, nem tolerante Tolerante Não sabe/Não Respondeu
MÉDIA
18
21 27 46
19 26 52
27
27
21
24
22
31
25 48
27 30 12
5
2
4
4
3
6
6
1
1022 44
21 56
28 41
24 45
25 28 41
28 53
+
-
-
-
-
Casos de discriminação por região
Dados para a cidade de São Paulo 
C
entro
Espaços públicos
Transporte público
Escola / Faculdade
Shoppings e comércios
Bares e restaurantes
Trabalho 
Família
Estabelecimentos privados
Sofreu ou presenciou Não sofreu ou presenciou Não sabe ou não respondeu
Sul
51 44 41
3635
46 36 38
3635
31 27 35
3433
40 40 36
3129
38 28 33
3032
21 29 28
2932
32 28 23
3226
20 13 27
2422
43 65 57
6055
49 64 58
6054
61 68 62
6253
55 66 58
6260
56 68 64
6555
55 69 67
6456
55 66 73
6464
66 82 66
7165
6 1 2
410
5 4
411
8 5 3
414
5 2 6
711
6 4 3
513
14 2 5
712
13 3 4
410
14 5 7
513
Figura 18 | Meios de informação sobre direitos LGTQIA+. Fonte: IBOPE adaptado pelo autor (2017) Figura 19 | São Paulo com Respeito. Fonte: Prefeitura de São Paulo, adaptado pelo autor (2019)
Meios de informação sobre direitos
LGBTQIA+ Evidênciando os três mais populares 
Internet - mídias sociais
Televisão
Internet - sites e portais de notícias
Internet - sites e portais de notícias
Televisão
Internet - sites e portais de notícias
Televisão
Internet - mídias sociais
Televisão
Internet - mídias sociais
Internet - sites e portais de notícias
Internet - mídias sociais
Não se informa sobre direitos LGBTQIA+
Não se informa sobre direitos LGBTQIA+
Não se informa sobre direitos LGBTQIA+
Não se informa sobre direitos LGBTQIA+
Não se informa sobre direitos LGBTQIA+
Não se informa sobre direitos LGBTQIA+
Internet - sites e portais de notícias
Jornal
Internet - mídias sociais
Televisão
Internet - mídias sociais
Televisão
Não Sabe / Não respondeu
Não Sabe / Não respondeu
Não Sabe / Não respondeu
Não Sabe / Não respondeu
Não Sabe / Não respondeu
Não Sabe / Não respondeu
31
37
29
41
29
27
24
28
28
35
23
30
27
23
25
26
27
26
24
22
24
32
21
25
6
7
8
3
17
10
Centro
Norte
Sul
Oeste
Leste
São Paulo no total
31
1.3.2 Por uma cidade afirmativa
A prefeitura de São Paulo em seu programa de metas da gestão de 2013-2016, decidiu por incluir como objetivo o combate a LGBTfobia e o 
respeito a diversidade sexual para a população. Como ação concreta, a prefeitura 
criou e instalou quatro Centros de Cidadania LGBTQIA+ que desenvolvem ações 
permanentes de combate a homofobia e respeito a diversidade. Além das sedes fixas 
da vila Buarque, Santo Amaro, São Miguel Paulista e Casa verde, o projeto contava 
com mais quatro unidades móveis, e o conjunto dessas unidades tem como ações 
o atendimento à vítimas de violência, discriminação e preconceito, com prestação 
de apoio jurídico, psicológico e de serviço social além de dar apoio aos serviços 
públicos municipais, mediação de conflitos, palestras, seminários e debates.
A prefeitura também possui um Conselho Municipal de Políticas LGBTQIA+ que atua como um órgão consultivo e propositivo, com a 
finalidade de elaborar, monitorar e avaliar políticas públicas destinadas aos direitos 
da população LGBTQIA+, além da Delegacia de crimes raciais e de intolerância 
(DECRADI), o Núcleo Especializado de Defesa da Diversidade e da Igualdade 
Racial, e a Coordenação de políticas para a Diversidade Sexual do Estado de São 
Paulo.
Em 29 de novembro de 2019, foi inaugurado pela Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo, o Centro Cultural da Diversidade (CCD), 
que ocupa as instalações do Teatro Décio de Almeida Prado e da Biblioteca Anne 
Frank, na região sul da capital. A iniciativa tem como principal objetivo a ampliação 
e a divulgação da diversidade LGBTQIA+ no âmbito cultural, os equipamentos 
tiveram mudanças em suas estruturas, programações e acervo afim de atender ao 
objetivo do mesmo.
Um conjunto de programas e projetos também compõe as ações do município, como o programa Transcidadania que reintegra e devolve a 
cidadania de travestis e transsexuais em situação vulnerável, utilizando da educação 
como ferramenta de reintegração, dando oportunidade de conclusões de ensino 
fundamental e médio, qualificação profissional, além de acompanhamento jurídico, 
psicológico, social e pedagógico durante os 2 anos de permanência no programa. 
Outro Programa é o casamento coletivo igualitário, dando a oportunidade para 
casais homoafetivos que não possuam condições financeiras a realizar a união civil, 
ação já realizadas nos anos de 2017, 2018 e 2019, dando visibilidade a um direito já 
conquistado pela comunidade.
Desenvolvido pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, o Centro de Referência e Defesa da Diversidade (CRDD) presta serviço 
as pessoas LGBTQIA+ que encontrasse em vulnerabilidade social. O objetivo é 
dar todo o suporte necessário para que aquele que procure o local, se sinta acolhido 
e importante, são oferecidos vários cursos dentro do CRDD, divididos em 3 
categorias, sendo eles os cursos de capacitação: maquiagem, cabelereiro, barbearia 
etc; os cursos de ensino: idiomas e informática; e as oficinas com foco no bem estar, 
como danças e yoga.
Como iniciativa para a saída da atual situação da cidade em relação as questões discriminatórias no contexto LGBTQIA+ e com propósito de incentivar 
uma melhor interação entre os grupos sociais, foram feitas as intervenções destacadas 
anteriormente neste capítulo por meio da Prefeitura Municipal, para colaborar com 
essas iniciativas a promoção de cultura LGBTIA+ proporciona uma maior diversidade 
cultural e uma aceitação comum em sociedade, consumimos cultura de diversas 
formas, cinema, música, teatro, museus, centros culturais e festividadesmuitas vezes 
por diversão ou relaxamento, mas também pela intenção de absorver sentimentos e 
sensações, e às vezes simplesmente passamos por locais e absorvemos o que está 
sendo exposto, usufruindo deste consumo intencional ou por oportunidade, a proposta 
de um Centro de Cultura pretende trabalhar inserindo o contexto LGBTQIA+ e a partir 
dessa inserção promover questionamentos sociopolíticos com intenção educacional a 
fim de sanar ou diminuir a discriminação sociocultural LGBTQIA+.
No município de são Paulo, a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) é a responsável pelas políticas de tipificação da rede 
socioassistencial, que seguem as diretrizes da Portaria 46/2010 da própria SMADS, 
as diretrizes da Portaria dizem respeito aos serviços prestados e os recursos humanos 
necessários para cada equipamento, de modo geral, determina o que cada instalação 
deve ter estruturalmente e como deve funcionar para atender cada tipo de público.
Dentre as diretrizes que norteiam as idéias para o projeto como resposta as problemáticas identificadas, pode-se aplicar a um Centro de Cultura e 
Apoio LGBTQIA+ as normas dos CRDD, de centros de acolhimento a pessoas em 
situação de rua e das repúblicas, de forma que caracterizada pelo conjunto das normas 
e diretrizes da SMADS, se adequando as necessidades e especificidades do perfil 
do usuário e proporcionando a integração das atividades que visam o atendimento, 
orientação, o acompanhamento, a capacitação, a cultura e o entretenimento de modo 
a atender as demandas do público LGBTQIA+.
Figura 20 | XXIII Parada do Orgulho LGBTQ+ de SP. Fonte: Portal G1, adaptado pelo autor (2019) Figura 21 | Basta de Homofobia GLBT. Fonte: Portal G1, adaptado pelo autor (2015)
33
Eu sou linda do meu jeito pois Deus não comete erros. Estou no caminho certo, baby, 
eu nasci assim.
Não se cubra de arrependimentos, apenas ame-se e você estará bem. Estou no 
caminho certo, baby, eu nasci assim.
[...]
Não se esconda, seja uma rainha. Seja você pobre ou rico; seja você negro, branco, 
amarelo ou latino; seja você libanês ou oriental. Mesmo 
que as dificuldades da vida te façam sentir deslocado, 
provocado ou importunado, alegre-se e ame-se hoje, 
pois, baby, você nasceu assim.
Não importa se você é gay, hetero ou bi, lésbica ou transexual. Eu estou no caminho 
certo, baby, eu nasci para sobreviver. Não importa 
se você é negro, branco ou amarelo, se é latino ou 
oriental. Eu estou no caminho certo, baby, eu nasci pra 
ter coragem.
Eu sou linda do meu jeito pois Deus não comete erros. Estou no caminho certo, baby, 
eu nasci assim.
GAGA, 2011 
(traduzido livrimente)
02
E S P A Ç O 
L G B T Q I A + : 
AS RELAÇÕES 
SOCIO-
CULTURAIS E 
O TERRITÓRIO 
BRASILEIRO
Para tratar de uma apropriação territorial o indivíduo pertencente a um grupo vem afirmar sua identidade e a de seu grupo a fim 
de transmitir para o território suas características de modo a proporcionar 
sentimento de pertencimento ao local em questão. Sobre uma definição de uma 
identidade baseado nas ciências sociais em seus conceitos tradicionais Santos 
(1998) relata que uma identidade definia-se de acordo com o posicionamento 
de seus membros em relação as dinâmicas entre capital e trabalho, renda e 
status adquirido, ou com as representações consolidadas socialmente, mas 
partir dos anos 60, passou-se a afirmar que os próprios indivíduos construíam 
suas identidades dependendo dos processos de interações mantidas por estes 
indivíduos em um processo em busca da compreensão de si e de interações 
em sociedade, de modo que identidades coletivas retratam o conjunto de 
interações sociais e políticas, Santos (1998) também vem afirmar que a partir 
dos anos 80 uma idéia de memória é buscada a fim de se ter uma continuidade 
e permanência, fazendo parte do processo social em que a memória é uma 
parte essencial da construção de identidades coletivas (SANTOS, 1998). 
Desse modo, as identidades individuais em conjunto estruturam uma 
identidade coletiva que associada a memória e a um local, estabelecem uma 
apropriação territorial.
Nos anos 60 eclodiram os movimentos sociais e com eles os questionamentos e reivindicações, a categoria de identidade passou 
a ser adjetivo de apropriação usado pelos movimentos sociais: identidades 
étnicas e de gênero, identidade de classe e social urbano, identidades juvenis e 
do idoso, etc. Os novos indivíduos sociais passaram a produzir representações 
em uma tentativa de se afirmarem socialmente, e nesse sentido de uma busca 
por visibilidade social e direitos de causa, uma identidade homossexual é 
influenciada a existir, resistindo em meio a conflitos no Golpe Militar de 64, 
e se afirmando socialmente. O espaço se fez meio, não somente físico, mas 
toda forma de se expressar passou a ser utilizada para questionar os padrões 
heteronormativos, onde as expressões artísticas foram e continuam sendo o 
meio de maior visibilidade para questionar padrões e se posicionar a favor do 
movimento, podendo ser notados por exemplo em músicas e músicos com 
suas expressões cênicas e letras que vez ou outra fica claro ou subentendido 
retratar do cotidiano LGBTQIA+, em espetáculos teatrais onde é personificado 
e questionado os gêneros, na literatura com um leque de possibilidades para 
retratar o universo LGBTQIA+ e todo o tipo de manifestação festiva que 
em seu discursos livres permitem as pessoas expressarem suas identidades 
e questionando padrões discriminatórios e reconstruindo padrões que 
promovam liberdade. Em afirmação, Louro comenta sobre o processo no 
brasil da seguinte forma:
No Brasil, por essa época, a homossexualidade também começa a aparecer nas 
artes, na publicidade e no teatro. Alguns artistas apostam na ambiguidade sexual, 
ornando-a sua marca e, desta forma, perturbando, com suas performances, 
não apenas as plateias, mas toda a sociedade. A partir de 1975, emerge o 
Movimento de Libertação Homossexual no Brasil, do qual participam, entre 
outros, intelectuais exilados/as durante a ditadura militar e que traziam, de sua 
experiência no exterior, inquietações políticas feministas, sexuais, ecológicas e 
raciais que então circulavam internacionalmente. (LOURO, 2001)
Figuras importantes entram em cena na década de 70, década considerada o boom guei por Trevisan (2018), as discussões pleiteavam continuamente 
os padrões heterossexuais, o cantor Caetano Veloso vinha com performances 
atípicas para o período ditatorial, colocando em debate definições para ser homem 
ou mulher. As atitudes de Caetano foram necessárias para abrir a possibilidade onde 
ter comportamentos em que o gênero não importa, deixando fluir entre masculino 
e feminino na identidade do indivíduo, Caetano fazia seu público consumir essas 
ideias e a partir daí questionar o padrão.
Ainda que repetisse explicitamente que não transava com homens, Caetano 
provocou furor quando, após voltar de Londres na década de 1970, subiu aos 
palcos brasileiros de bustiê e batom nos lábios, requebrando com trejeitos 
campy de Carmem Miranda. [...] Ainda mais provocador em seus shows 
posteriores - verdadeiros festivais de desmunhecação -, Caetano costumava 
beijar insistentemente na boca de cada um de seus músicos (e alguns deles eram 
muito atraentes!), diante do público que urrava de delírio. Seu cancioneiro, 
de extrema sensibilidade e poesia, chegou a manifestar indisfarçável fascínio 
erótico pela masculinidade. (TREVISAN, 2018)
O músico Ney Matogrosso também surgia com sua expressão não ortodoxa e totalmente fora dos padrões, abertamente homossexual, ele fazia e 
continua a fazer suas apresentações repletas de trejeitos e com trajes que questionam 
as ideologias de gênero masculino, como vemos na Fig. 22. Ney usava de sua 
visibilidade como ato político em meio a Ditadura Militar, seus shows difundiam 
uma identidade homossexual afeminada pouco vista, porque os homossexuais 
naquele período, preferirem o anonimato de seus “armários” por medo de repressão 
da sociedade e da própriaditadura que reprimia a liberdade.
Ney Matogrosso se inseria numa estética glitter, [...]. Ora de rosto 
maquiladíssimo, peito nu e longas saias, ora cheio de penas, com chifres 
enormes na cabeça e minúsculo tapa-sexo, ele se notabilizou pelo rebolado 
frenético e voz de contralto. [...], Ney criou perplexidade na mídia. Homem? 
Mulher? Viado? Sua voz feminina [...] contrastava com seu corpo másculo e 
peito peludo. (TREVISAN, 2018)
Em meio a essas representações de gênero fluido, surgia os Dzi Croquettes, um grupo teatral que também embaralhava os padrões de gênero em suas 
apresentações, em seus palcos se via uma ambiguidade onde homens barbados 
apresentavam em roupas femininas, sutiãs em peitos peludos, cílios postiços, 
calçados em meias de futebol e saltos altos, nem homem, nem mulher, em grande 
apresentação cheia de humor ambíguo. Os Dzi Croquettes foram responsáveis 
por trazer ao Brasil o que se tinha de mais questionador e contemporâneo no 
movimento Homossexual internacional (Ver fig. 23) (TREVISAN, 2018)Essas 
representações foram a vanguarda brasileira do artista afeminado e questionador da 
heteronormatividade, hoje dando espaço para outros músicos como Pabllo Vittar, 
um menino gay afeminado e Drag Queen, o qual ganhou o prêmio MTV EMA 
2019 como melhor artista brasileiro (Ver fig. 24), a ter sua expressão sexual aberta 
e livre em âmbito nacional e internacional, sendo um símbolo de representatividade 
atual; ou o coletivo artístico As Travestidas (Ver fig. 25) que é um resultado de uma 
pesquisa de 14 anos sobre o universo de travestis e transformistas, retratando o 
conteúdo social do transformismo e a travestilidade por meio do entretenimento e 
reflexão no teatro, dança, audiovisual, fotografia, publicidade, designe, literatura e 
na música, mostrando-o para além dos estereótipos e preconceitos
Figura 22 | Ney Matogrosso em programa do show “Seu tipo”. Fonte: Acervo Ney Matogrosso (1979) Figura 23 | Dzi Croquettes. Fonte: Portal G1 (2012) 37
Neste período dos anos 70, acontece também pela primeira vez nas artes plásticas brasileira, uma exposição de pinturas com nus masculinos de 
Darcy Penteado, que exalavam o homoerotismo (TREVISAN, 2018), Trindade (2004) 
ressaltou que essas pinturas feitas por um homem, permitia pensar sobre o erotismo 
das pinturas sem estar vinculado a questão de gênero e, para mentes mais férteis, um 
apontamento para a arte homoerótica. Tratando da necessidade de uma produção literária 
Homossexual, em reunião na casa de Darcy Penteado, intelectuais, jornalistas e artistas 
homossexuais paulistas e cariocas, discutiam sobre publicações do gênero e entre 1976 
e 1979 a cidade de São Paulo tinha em circulação uma coluna diária com assuntos 
abertamente homossexuais, a ‘Coluna do Meio’ de Celso Curi publicada no jornal Última 
Hora, o nome da coluna já fazia alusão em significados para a comunidade, Trindade 
(2004) definia o nome como “era algo que estava em algum ponto entre as imagens de 
homem e de mulher conhecidas socialmente; figura ambígua, que não ere nem uma coisa 
nem outra; estava no meio.” A coluna era ambiciosa por tratar da homossexualidade 
abertamente em um contexto de repressão da época, mas a coluna não se abalava e 
vinha carregada de frases cômicas e do universo homossexual como ‘o melhor da festa 
é o garçom’ e ‘ não cuspa no prato que lhe comeu’, havia uma exploração homoeróticas 
de desejo na seção ‘Colírio do Dia’ com as fotografias de homens atraentes além de 
proporcionar relações eróticas e afetivas por meio do ‘correio elegante’.
Trindade (2004) também ressalta sobre a coluna que “ela não estava circunscrita a uma classe social ou a um estilo de vida, pois, como 
parte de um jornal, poderia ser lida tanto por homossexuais assumidos [...] como 
pelos enrustido” uma vez que após ler a coluna os assumidos poderiam socializar 
abertamente discutindo os textos ali contidos, e os enrustidos poderia ter acesso 
a coluna ao adquirir o jornal sem levantar suspeitas sobre sua orientação sexual, 
mas não poderia vir a socializar com debates referentes a coluna, guardando para 
si os textos lidos. A seção ‘correio elegante’ proporcionava encontros secretos, 
talvez esse tipo de modalidade tenha sido os antecessores para novos estilos de 
socialização, como classificados de revistas eróticas; as salas de bate-papo online, 
como o bate-papo uol; e os novos aplicativos de relacionamento homoeróticos 
de hoje, como o Hornet, Grindr e scruff. Por se tratar de uma coluna aberta e de 
acesso fácil por estar em jornais, e “vir carregada de humor camp” (TREVISAN, 
2018), gíria para um comportamento ou atitude exagerada, colaborou para uma 
normatização e uma ampliação do imaginário social, ligando a homossexualidade a 
comportamentos cômicos explorados num futuro em programas humorísticos e em 
novelas (TRINDADE, 2004).
 Figura 24 | Prêmio MTV EMA 2019: melhor artista brasileiro. Fonte: Cristina Quicler, adaptado pelo autor (2019) Figura 25 | Coletivo As Travestidas. Fonte: Portal G1 (2017) 
Também na década de 70, um grupo de intelectuais paulistanos e cariocas se reúnem afim de produzirem para a impressa assuntos homossexuais, 
mas de uma forma mais conceituada e comprometida, o objetivo era criar um jornal 
feito por homossexuais e para homossexuais, onde se discutiu assuntos de temáticas 
diversas, de circulação semanal e em todas as capitais nacionais. Se reúnem 
acadêmicos, artistas plásticos, cineastas e escritores que refletiam as questões 
homossexuais, montando idéias para que em 1978, começa-se a circular como 
tabloide em preto e branco, o Lampião da Esquina (TREVISAN, 2018).
Uma iniciativa de tornar visível a homossexualidade para os outros grupos sociais de fora da comunidade, em seu conteúdo encontrava matérias 
e entrevistas, contos, críticas de cinema, teatro, literárias etc, algumas notas 
denunciavam e atacavam diretamente os atos de discriminações da sociedade em 
suas páginas também encontrava-se cartas que comprovavam um reconhecimento e 
visibilidade a qual o Lampião adquiriu. Em sua primeira edição, a primeira página 
já ressaltava a proposta do jornal:
Mas um jornal homossexual, para que? A resposta mais fácil é aquela que 
nos mostrará empunhando uma bandeira [...]. Nossa resposta, no entanto, 
é essa: é preciso dizer não ao gueto e, em consequência, sair dele. O que 
nos interessa é destruir a imagem-padrão que se faz do homossexual [...]. 
Para acabar com essa imagempadrão, LAMPIAO não pretende soluçar 
a opressão nossa de cada dia, nem pressionar válvulas de escape. Apenas 
lembrará que uma parte estatisticamente definível da população brasileira 
[...], deve ser caracterizada como uma minoria oprimida. E uma minoria, é 
elementar nos dias de hoje, precisa de voz. [...] o que o LAMPIAO reivindica 
em nome dessa minoria é não apenas se assumir e ser aceito – o que nós 
queremos é resgatar [...] o fato de que os homossexuais são seres humanos e 
que, portanto, tem todo o direito de lutar por sua plena realização, enquanto 
tal. Para isso, estaremos em todas as bancas do país, falando da atualidade 
e procurando esclarecer sobre a experiencia homossexual em todos os 
campos da sociedade e da criatividade humana. Nós pretendemos, também, 
ir mais longe, dando voz a todos os grupos injustamente discriminados. [...] 
Falando da discriminação, do medo, dos interditos ou do silencio, vamos 
também soltar a fala da sexualidade no que ela tem de positivo e criador 
[...] Mostrando que o homossexual recusa para si e para as demais minorias 
a pecha de casta, acima ou abaixo das camadas sociais; que ele não quer 
viver em guetos, nem erguer bandeiras que o estigmatizem; que ele não é um 
eleito nem um maldito; e que sua preferência sexual deve ser vista dentro do 
contexto psicossocial da humanidade como um dos muitos traços que um 
caráter pode ter, LAMPIAO deixa bem claro o que vai orientar a sua luta: nós 
nos empenharemos em desmoralizar esse conceito que alguns nos querem 
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impor –

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