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	Suzete António Bernardo Moreira
Tema:
Socialismo na Europa
Universidade Rovuma
Nampula 
2021
 (
i
)Suzete António Bernardo Moreira
Tema:
Socialismo na Europa
Trabalho de carácter avaliativo da cadeira de História Contemporânea da Europa e América século XIX a XXI, curso de Geografia minor História, 3º ano, 2º semestre, leccionado pelo docente MA: Sérgio Taibo 
Universidade Rovuma 
Nampula 
2021
 (
ii
)Índice 
Introdução	3
1.	Socialismo na Europa	4
1.1.	Socialismo utópico	4
1.2.	O Socialismo Científico de Marx e Engels	10
1.3.	Comunismo científico	12
1.4.	Comuna de Paris	14
1.4.1.	O legado histórico da comuna de paris	16
1.5.	As lutas operárias na Inglaterra	17
1.5.2.	A Associação Internacional dos Trabalhadores	17
1.5.3.	O significado do primeiro de Maio nos movimentos operários	18
Conclusão	21
Bibliografia	22
Introdução 
A crise em que o movimento socialista ingressou desde meados da década passada, especialmente no Ocidente, pode ser objecto de duas considerações. A primeira consiste em não perder de vista que essa crise é parte de um processo teórico e prático no qual se articulam os distintos movimentos que, no plano das idéias e da luta social e política, realizaram a crítica do capitalismo como modo de organização da vida social. De Sismondi à esquerda ricardiana, de Owen a Marx, de Kautski e Hilferding a Lenin, Rosa Luxemburgo, Trotski e Gramsci, a teoria socialista revelou os fundamentos da economia capitalista e da sociedade burguesa; evidenciou a perversidade estrutural e a expropriação do trabalho social que elas propiciam, e armou ideologicamente os povos que contra elas lutaram.
Portanto, não é fácil apagar o socialismo da memória dos povos e muito menos convencer a imensa maioria da humanidade, para a qual a solução dessas questões aparentemente elementares ainda continua pendente, de que o socialismo foi somente um equívoco dos que não haviam compreendido que a história acabou. Para esta humanidade explorada e carente, a história nem sequer começou. 
Neste trabalho vai se abordar de forma superficial sobre a temática do socialismo na Europa, em que vai se fará uma rápida descrição do socialismo utópico, científico, comunismo científico, a comuna de Paris assim como as lutas operárias na Inglaterra.
Para a realização deste trabalho vai se usar o método bibliográfico que é um método que se baseia na leitura e descrição das literaturas que abordam sobre o tema em alusão. O trabalho obedece a seguinte hierarquia, pré-textuais (capa, contra capa e índice); textuais (introdução, desenvolvimento e conclusão); pós-textuais (bibliografia).
1. Socialismo na Europa
1.1. Socialismo utópico 
O chamado “socialismo utópico” constituiu um fenómeno histórico das ideias que foi bastante típico na primeira metade do século XIX. Através do artigo "Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico", Engels (1880) faz uma breve contextualização do pensamento filosófico e político vigente da época que mais tarde seria chamado de socialismo utópico.
A inquietação vivida durante a Revolução Francesa trouxe à tona os problemas sociais no qual se encontrava a classe trabalhadora da época. O abismo social que a sociedade estava condicionada trazia à luz vários pensadores a olhar as relações sociais de maneira diferente do que se era apresentado.
Dentre os autores que serão estudados aqui, veremos Charles Fourier, socialista francês considerado por Marx e Engels como socialista utópico do século XIX participou do processo da Revolução Francesa. Desenvolveu ideias socialistas e urbanistas criticando a desorganização urbana, acompanhada pelo crescimento económico advindo da Revolução Industrial do século XVIII (Engels, 1880).
A análise dos Falanstérios, modelo de sociedade colectiva, foi proposta e desenvolvida por Fourier no qual as pessoas viveriam em comunidade e iriam se desenvolver em suas actividades de acordo com suas paixões e vocações, propondo a criação do corpo social baseado no cooperativismo de produção e consumo, nos quais poderiam se desenvolver de forma autos suficiente (BARROS, 2011).
O autor discute que através da igualdade social seria possível chegar ao estado que ele
chamava de Harmonia.
Em meio a Revolução Industrial e Revolução Francesa, a economia se adequava ao molde capitalista industrial e a sociedade se repaginava para uma nova configuração. A preocupação com a readaptação da sociedade a uma nova estrutura de governabilidade e poder, fomentava ideias de diversos pensadores europeus para a sustentabilidade de um novo Estado.
Essa conjuntura iniciou o processo de evolução dos pensamentos franceses, no que tange a consolidação de um Estado Racional, isto é, todo o “modos operandi” da sociedade e Estado, eram dados até então como irracionais, imersos em falsas verdades, e sem parâmetro de referência real de governabilidade. Surge então o Império da Razão, (Rousseau, e os contratualistas) que incitam um formato revolucionário burguês, que nada mais era que a actualização de um movimento da nobreza, porém agora em contexto capitalista.
“O Estado da Razão veio reflectindo a forma enfurecida de descontentamento da sociedade logo após a Revolução Francesa, de que nada que estava em exercício até então, era racional, e tudo que fosse contrário a essa razão deveria ser rechaçado. Porém a insistência nessa razão retórica, sem saber ao certo qual era a razão verdadeira e real, fez com que o Estado da Razão entrasse em situação de caos. (...)‘A prometida paz eterna convertera-se numa interminável guerra de conquistas. Tampouco teve melhor sorte a sociedade da razão. O antagonismo entre pobres e ricos, longe de dissolver-se no bem-estar geral, aguçara-se com o desaparecimento dos privilégios das corporações e outros, que estendiam uma ponte sobre ele, e os estabelecimentos eclesiásticos de beneficência, que o atenuavam.” (ENGELS, 1886).
Por outro lado, havia os proletários que assistiam a permanência dos moldes de classe, e desigualdades de direitos políticos e sociais. Eram a maioria, não tinham posses e privilégios como a nova classe burguesa. As reformas propostas até então eram representações de interesse da burguesia, porém alternativamente haviam rompantes revolucionários das classes não representadas como os Levante Revolucionário Camponês em diversas partes da Europa: Alemanha (Reforma Camponesa), Inglaterra (Levellers) e França (Babeuf) (ENGELS, 1886).
“Essas sublevações revolucionárias de uma classe incipiente são acompanhadas, por sua vez, pelas correspondentes manifestações teóricas: nos séculos XVI e XVII (3) aparecem as descrições utópicas de um regime ideal da sociedade; no século XVIII, teorias já abertamente comunistas, como as de Morelly e Mably. A reivindicação da igualdade não se limitava aos direitos políticos, mas se estendia às condições sociais de vida de cada indivíduo; já não se tratava de abolir os privilégios de classe, mas de destruir as próprias diferenças de classe.” (ENGELS, 1886).
Pensando na carência das classes não atendidas pela representatividade burguesa, ou que não houvesse o suprimento das reais necessidades pela nova prática de Estado, começaram a surgir as correntes de pensamentos baseados no cooperativismo, com foco para uma nova estrutura de equidade entre as classes, focando nas condições sociais da base trabalhadora. Começaria então as correntes socialistas utópicas desenvolvidas por Saint-Simon, Robert Owen e Charles Fourier.
1.1.1. Saint Simon
“Preocupado com as consequências vertiginosas da industrialização, o conde Claude Henri Rouvroy de Saint-Simon dedicou-se às primeiras manifestações a respeito do socialismo antes mesmo que a palavra fosse criada ou delimitada” (ZWICK, 2016).
De educação de princípios liberais, Simon abordava o antagonismo entre o “terceiro estado” - trabalhadores, negociantes, comerciantes – e a nobreza, chamada por ele de “ociosa”. “Que os ociosos haviam perdido a capacidade para dirigir espiritualmente e governar politicamente era um fato Indisfarçável, selado em definitivo pelaRevolução. E, para Saint-Simon, as experiências da época do terror haviam demonstrado, por sua vez, que os descamisados não possuíam tampouco essa capacidade. Então, quem haveria de dirigir e governar?”. (ENGELS, 1886).
Os pilares estruturais da nova configuração socioeconómica, estariam sobre a égide de uma fusão da Indústria com a Ciência – novos académicos, burgueses activos, fabricantes, banqueiros - unidos por um novo laço religioso, chamado de “novo cristianismo”.
No entanto, o restante da população não deveria ficar em ociosidade. Para Saint Simon, os despossuídos também deveriam trabalhar, já que eles eram a maioria, e participavam de uma luta de classes que não compreendia somente burguesia X nobreza. As ideias de Simon dialogavam com a concepção cooperativista de sociedade, de que cada um pudesse contribuir segundo suas capacidades, para a necessidade do próximo “a cada um segundo sua capacidade, a cada capacidade segundo seu trabalho” (SARGANT, 1858, p. 37).
Tal ideia foi apropriada posteriormente por Karl Marx ““de cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades” (MARX, 1974, p. 20).
Segue abaixo a síntese das Idéias de Saint – Simon :
“ (i) concepção materialista, económica, da produção e noção de que a produção é social, dividida em classes; (ii) valorização do trabalho e das capacidades individuais contra as elites ociosas; (iii) não redução da ideia de indústria ao sistema fabril, mas a uma noção mais ampla, iluminista, de espírito produtivo versado nas várias artes liberais; (iv) organização racional hierárquica e planificada da produção, que expressa um viés tecnocrático, mas derivada da crença iluminista na vocação emancipadora da razão; (v) princípio motor das sociedades industriais assentado na participação e na cooperação pacíficas; (vi) princípio da administração das coisas, que soaria a Marx e Engels como uma sugestão de economia associada e superação do Estado; (vii) intuição, mas não percepção clara, da importância da pequena unidade social na transformação da sociedade; (viii) reorganização da vida social por um novo cristianismo, cuja conversão moral dos homens segundo o princípio do amor visa melhorar a sorte do proletariado; (ix) a ideia utópica de transformação é, pela primeira vez, relacionada às forças produtivas, porém sem suprimir a propriedade privada, a livre empresa e o lucro dos capitalistas, cuja riqueza deveria ajudar os mais necessitados.” (ZWICK, 2016).
1.1.2. Robert Owen
Enquanto isso na Inglaterra, surgia um homem que se tornara empresário ainda jovem, pensava diferente sobre o cenário caótico da Revolução Industrial. Robert Owen fora diretor de fábricas de algodão, em New Lamark, chegando a ser responsável por 2500 funcionários, sendo ele, segundo Engels (1886), “um condutor de homens como poucos”.
Owen trazia em sua bagagem teórica aspectos materialistas para a aplicação de uma nova ordem fabril, porém atribuindo condições mais humanas aos trabalhadores em chão de fábrica, como a redução de jornadas de trabalho, diárias integrais mesmo em período de crise do produto fabricado, estabelecimento de jardins de infância para que os filhos dos trabalhadores estivessem em segurança. Essa forma de gestão de Robert Owen, advinha de suas teorias quanto à interferência do ambiente externo à produção do trabalhador. “Como empresário, Owen se via na obrigação de oferecer novos parâmetros para a organização social, de modo que acreditava em mudanças por fora das contradições expressas na sociedade e na luta de classes” (ZWICK, 2016).
A experiência de Owen em New Lamark, foi um exemplo modelo de construção de direitos sociais do trabalhador, que até então eram quase nulos. Assim como Fourier, ele propôs unidades sociais orgânicas, porém com base fabril e não somente agrícola, para provar a veracidade de sua teoria, também de cunho cooperativista e até mesmo filantrópico.
Os custos sociais que eram gerados pelo gerenciamento que Owen propôs em New Lamark, custou o sucesso de seu projecto. Sem apoio de seus sócios e tampouco do Estado, a força da natureza concorrencial capitalista logo o arruinou (ENGELS, 1886).
Ainda permanente de seus pensamentos, o utópico apontou a propriedade privada como um atributo causador do desequilíbrio e propôs a criação de comunidades autos suficientes, com ideais comunistas a fim de combater a miséria na Irlanda, conhecidas como “Comunidades Igualmente Perfeitas” (ENGELS, 1886). Essa evolução para o Comunismo marcou a vida de Robert Owen, embora em pouco tempo se deparasse com outro fracasso de seu novo projecto. Owen atacava as principais instituições pilares daquela época: a propriedade privada, o casamento e a religião.
Apesar dos fracassos, Owen também registrou grandes avanços na história da classe trabalhadora inglesa.
“ (...) em 1819, depois de cinco anos de grandes esforços, conseguiu que fosse votada a primeira lei limitando o trabalho da mulher e da criança nas fábricas. Foi ele quem presidiu o primeiro congresso em que as trade-unions de toda a Inglaterra fundiram-se numa grande organização sindical única. E foi também ele quem criou, como medidas de transição, para que a sociedade pudesse organizar-se de maneira integralmente comunista, de um lado, as cooperativas de consumo e de produção - que serviram, pelo menos, para demonstrar na prática que o comerciante e o fabricante não são Indispensáveis -, e de outro lado, os mercados operários, estabelecimentos de troca dos produtos do trabalho por meio de bónus de trabalho (...) ” (ENGELS, 1886).
Robert Owen procurou, em sua trajectória, humanizar a estrutura capitalista fabril, instaurando o conceito de Filantropia na tentativa que os demais capitalistas adoptassem o conceito para a melhoria das condições vigentes de trabalho da época.
1.1.3. Charles Fourier 
François Marie Charles Fourier (1772 – 1837), nasceu na França, em meio a uma família de comerciantes, embora não tenha seguido a carreira dos pais. Sempre cultivou o desejo solidário de preocupação com a Humanidade, o que levou a procurar as causas da situação em que se encontrava a sociedade francesa daquela época. “O pensador francês estava convencido de que a Revolução Francesa tinha sido um equívoco, pois, partindo da percepção de que era preciso transformar a sociedade, devido ao fato de que os seres humanos estavam submetidos à pressão de instituições injustificáveis, os revolucionários acabaram por não mudar nada” (ROCHA Et AL., 2013).
Fourier destilava impiedosas críticas à classe burguesa. Desmascarou a ilusão dos pensamentos de perfeição burguesa, e os comparou com antigos “enciclopedistas” que valorizavam o Estado da Razão. Considerava quatro fases de desenvolvimento da sociedade: selvagismo, barbárie, patriarcado e civilização. Nesta última, havia uma hipocrisia considerando a sociedade burguesa, que repetia os mesmos hábitos de uma sociedade bárbara, porém de forma mais sofisticada.
Charles Fourier considerava que a sociedade estava dentro de um ciclo vicioso, repetindo contradições, destacando que “na civilização, a pobreza brotava da abundância” (ENGELS, 1886), ou seja, essa evolução aparente, era apenas uma redenominação social, e não de fato uma evolução – uma maioria despossuída necessitada, e uma minoria em estado de abundância, promessa de um potencial transformador. A burguesia nada mais era do que uma extensão dos estados superiores da pirâmide.
O autor considerava que a sociedade, em seu estado de civilização, era consumida de paixões que a assombravam e ameaçavam a estabilidade moral dos indivíduos. Eram doze as paixões da sociedade:
“As cinco primeiras paixões, para ele, derivam dos órgãos dos sentidos: a paixão de olhar, a de ouvir, a do paladar, a do olfacto e a do tacto. Outra parte de categoria de paixões reúne aquelas que se referem a determinados afectos, como: a paixão da amizade, a do amor, a da ambição e a do “familismo”. Essas quatro paixões lidam com as relações entre as pessoas e se distinguem das cinco anteriores, que se referem às relações das pessoas comas coisas. As três últimas paixões são chamadas por Fourier de “distributivas”: a compósita (da entrega do indivíduo a uma causa, um ideal), a borboleta (necessidade de ir de flor em flor sem se fixar numa
coisa só) e a cabalista (leva o indivíduo a se assumir como indivíduo particular no interior de qualquer colectividade) (LEHOUCK, 1973) ”.
De acordo com Fourier, Deus havia organizado o mundo com base no princípio da atracão, só que, enquanto os astros obedeciam mecanicamente aos desígnios de Deus, os homens haviam se afastado dos caminhos indicados. “A civilização, então, levara ao máximo esse afastamento, gerando desordem, anarquia, especulação, parasitismo e miséria. A ideia central que move a obra de Fourier encontra-se no Princípio da Atracão Universal que, segundo ele, regeria o mundo físico e social, material e espiritual”. (KONDER, 1998). 
“Fourier vai além de Saint-Simon ao reconhecer a importância da pequena unidade social na transformação da sociedade, entendendo ser melhor coordenar a produção e o consumo em grupos pequenos. A ideia de indústria não o agradava, uma vez que era menos optimista e mais sensível às contradições desse sistema.” (ZWICK, 2016).
Charles Fourier acreditava na importância da “filantropia” como forma de um amor evoluído que nascesse da sociedade, descompromissado de ganhos de troca. Apostava na prática de uma “educação societária” onde as pessoas evoluiriam não somente em suas capacidades úteis para a sociedade, mas também, em habilidades que lhes trouxessem o prazer da prática.
A exemplo de Saint-Simon, a sociedade para a qual Fourier caminhava “se concretizaria em uma nova “esfera pública”, comunitária. Estava baseada em doações, dado o princípio do amor, não integrava a ideia de auto-ajuda. Não possuía carácter comunista, pois se mantinham a propriedade, a hereditariedade e o lucro, inclusive o do capital “(MLADENATZ, 2003).
Diante do carácter cooperativista de seu pensamento, Fourier imaginava uma sociedade onde houvesse uma proposta de acção colectiva entre os indivíduos. Tendo como base a “educação societária”, segundo ele, a sociedade deveria ser estruturada em “Falanges” constituídas em edifícios chamados “Falanstérios”. A experiência do Falanstério seria a aplicação prática decisiva de suas teorias.
“Fourier denominava falanstério o edifício onde estaria instalada a falange experimental e chegou à dimensão de 1.620 pessoas de diferentes condições sociais, porém, assegurando a presença de uma minoria de capitalistas, artistas e intelectuais. A área deveria ser próxima a uma cidade, com terra fértil, colinas, bosques e rio. A remuneração de serviços e trabalhos circularia no falanstério e ajudaria a fazer o sistema funcionar”. (KONDER, 1998).
“Sua preocupação com a defesa da autonomia das pessoas o distinguia de outros teóricos socialistas da primeira metade do século XIX. Foi também um crítico ferino do economicismo, do capitalismo de sua época, e adversário da industrialização, da civilização urbana, do liberalismo e da família baseada no matrimónio e na monogamia. O carácter jovial com que Fourier realizou algumas de suas críticas, fez dele um dos grandes satíricos de todos os tempos.” (ROCHA ET AL., 2013).
1.2. O Socialismo Científico de Marx e Engels
“E o socialismo científico, expressão teórica do movimento proletário, destina-se a pesquisar as condições históricas e, com isso, a natureza mesma desse ato, infundindo assim à classe chamada a fazer essa revolução, à classe hoje oprimida, a consciência das condições e da natureza de sua própria acção” (ENGELS, 1886).
Dialéctica é um método filosófico desenvolvido através do diálogo. A acção de dialogar, questionar, abranger diversas visões e contradições de um mesmo assunto é a Dialéctica. Embasada sobre três leis, A Tese (axioma), Antítese (definição) e Síntese (teorema), a Dialéctica analisa o movimento como um todo, assumindo novas formas de conceito, com o decorrer do tempo e dos acontecimentos. Não se limita a ouvir apenas uma parte, ela abrange a negação da negação, do concreto ao abstracto, bem como elementos conflitantes de um determinado assunto (KONDER, 2004).
O método dialéctico foi desenvolvido por Sócrates e Aristóteles, porém foi Hegel e Marx que utilizaram a abordagem do conceito para o desenvolvimento do que viria a ser o Socialismo Científico.
“O sistema de Hegel foi um aborto gigantesco, mas o último de seu género. De fato, continuava sofrendo de uma contradição interna incurável; pois, enquanto de um lado partia como pressuposto inicial da concepção histórica, segundo a qual a história humana é um processo de desenvolvimento que não pode, por sua natureza, encontrar o arremate intelectual na descoberta disso que chamam verdade absoluta, de outro lado nos é apresentado exactamente como a soma e a síntese dessa verdade absoluta. Um sistema universal e definitivamente plasmado do conhecimento da natureza e da história é incompatível com as leis fundamentais do pensamento dialéctico - que não exclui, mas longe disso implica que o conhecimento sistemático do mundo exterior em sua totalidade possa progredir gigantescamente de geração em geração.” (Engels, 1886).
A Dialéctica utilizada pela filosofia alemã, atribuiu o conceito materialista para analisar o contexto evolutivo histórico revolucionário da época. Até então tanto o socialismo inglês como o francês utópico, consideravam tanto a produção como as relações económicas, elementos secundários. Através da Dialéctica, a filosofia alemã estabeleceu uma revisão das revoluções históricas, buscando além das causas e efeitos, suas concatenações, encontrando então, um dos pontos fundamentais em que se baseiam as lutas de classes passadas.
“Os novos fatos obrigaram à revisão de toda a história anterior, e então se viu que, com excepção do Estado primitivo, toda a história anterior era a história das lutas de classes, e que essas classes sociais em luta entre si eram em todas as épocas fruto das relações de produção e de troca, isto é, das relações económicas de sua época; que a estrutura económica da sociedade em cada época da história constitui, portanto, a base real cujas propriedades explicam, em última análise, toda a superstrutura integrada pelas instituições jurídicas e políticas, assim como pela ideologia religiosa, filosófica, etc., de cada período histórico. (...) Desse modo o socialismo já não aparecia como a descoberta casual de tal ou qual intelecto genial, mas como o produto necessário da luta entre as duas classes formadas historicamente: o proletariado e a burguesia. Sua missão já não era elaborar um sistema o mais perfeito possível da sociedade, mas investigar o processo histórico económico de que, forçosamente, tinham que brotar essas classes e seu conflito, descobrindo os meios para a solução desse conflito na situação económica assim criada.” (Engels, 1886).
Como dito na referência acima, em uma citação de Engels, o socialismo científico diferente do socialismo utópico, não almejava uma sociedade perfeita, e sim uma forma de transcender os problemas que geraram a luta entre proletários e burguesia, ou seja, superar as formas de produção e configuração económica que se repetia ao longo da história. A propriedade privada era o principal ponto causador desse conflito. Segundo Engels, o socialismo utópico, por não incorporar a concepção materialista, não conseguia explicar o capitalismo, muito menos destruí-lo ideologicamente. “Quanto mais violentamente clamava contra a exploração da classe operária, inseparável desse modo de produção, menos estava em condições de
indicar claramente em que consistia e como nascia essa exploração” (Engels, 1816).
Faltava ao socialismo utópico, considerar os factores concretos que operavam dentro dos moldes de produção. A mais-valia, o valor do tempo de trabalho do funcionário, era explorada pelos capitalistas para extrair ao máximo o rendimento do trabalhador, sem remunerá-lo de acordo com sua valia.
1.3. Comunismo científico
Por muito tempo se equiparou o pensamento de Marx a um programa, comsupostas bases científicas, que tenderia a uma proposta de sociedade comunista baseada no domínio do Estado sobre a sociedade e do homem sobre a natureza, através de uma economia planificada. 
A economia planificada tinha como objectivo o completo desenvolvimento anterior de uma economia capitalista que, tendo atingido sua plenitude, forjaria as condições de sua superação: seu pressuposto era o domínio da natureza. Essa concepção, entretanto, se revela muito limitada quando contraposta ao pensamento do próprio Marx. No seu texto intitulado Trabalho Alienado, Marx (1975, p. 157ss.).
Sugere que as relações sociais pressupostas na legitimidade da propriedade privada – as relações de dominação e exploração específicas da sociedade capitalista moderna – se enraízam até alcançar as relações interpessoais e naturais. A planificação, portanto, não passaria de um arranjo provisório que, em nada, abalaria os pressupostos geradores da desigualdade económica. A alienação em relação aos produtos do trabalho seria, pois, a manifestação mais superficial desse processo de alienação que “[...] em nada altera as condições de possibilidade e de reprodução da propriedade privada” (Cf. Schütz, 2008). 
A crença na superação dessa forma de reprodução social através da imposição de uma igualdade de resultados não passaria de uma “[...] melhor remuneração dos escravos e não restituiria o significado e o valor humanos nem ao trabalhador, nem ao trabalho” (Marx, 1975, p. 170). 
A superação dessa forma de organização social, portanto, requereria uma processualidade capaz de se confrontar com os diversos níveis de alienação pressupostos. Seria preciso, então, identificar os pressupostos das relações sociais desiguais e injustas que são específicos da sociedade moderna e propor, a partir dessa perspectiva, sua superação como forma de
levar a ordem social a libertar progressivamente os potenciais nela bloqueados. 
A diferença entre proprietários e não proprietários já existia antes de as sociedades modernas serem constituídas, por exemplo, na Roma antiga. Naquelas sociedades, no entanto, a questão não se colocava em termos de que a propriedade privada fosse detentora da contradição resultante do trabalho alienado. 
Apenas quando o trabalho se tornou a essência subjectiva da propriedade privada,
“[...] enquanto exclusão da propriedade, e o capital, o trabalho objectivo enquanto exclusão do trabalho” (MARX, 1975, p. 189) é que pôde surgir a propriedade privada como fruto do
desenvolvimento dessa contradição. 
É, pois, a partir da especificidade dessa contradição que surge a “relação dinâmica que
impele para a solução” (Ibidem) e é em tais bases, segundo a concepção de Marx, que as propostas emancipatórias devem ser construídas. Não se trata, pois, de substituir uma totalidade por outra, mas de libertar e fortalecer potenciais já existentes, embora alienados no interior dos “sistemas de propriedade”. 
Para encontrar uma solução ao problema, ou seja, para abolir a auto alienação subjacente à propriedade privada e, como tal, de todo o modo de produção capitalista, Marx sugere que o caminho seja o mesmo de sua realização, embora de forma inversa. Trata-se de passar, primeiro, de um momento em que não se percebe a essência subjectivada da propriedade privada e, assim, o seu aparecer, considerando-a apenas no seu aspecto objectivo – a alienação em relação aos produtos do trabalho – para, num processo progressivo, atingir níveis cada vez mais diversos e profundos. Esse processo, no entanto, não poderá ser concebido de forma automática, mecânica ou linear, uma vez que os diversos níveis de alienação geralmente se implicam mutuamente. Isto ocorre mesmo que o nível que apareceu por último na análise do trabalho alienado “entre os homens, em si mesmo e a natureza” (Marx, 1975, p. 168) revela sua primazia em relação aos outros. 
A superação dessa alienação, cuja manifestação é caracteristicamente pertencente ao sistema da propriedade privada, Marx chamou-a de comunismo. 
Tal superação não é concebida, no entanto, como algo que os homens conquistarão em um
determinado momento, mas como processo histórico, passando por diversos níveis possíveis. Ou seja, o comunismo é um horizonte em formação, mas, simultaneamente, o próprio processo dinâmico (não necessário ou predeterminado) através do qual a realidade histórica humana emerge. 
Sua efectivação é crescente e conforme a reapropriação e potencialização das características humanas
sacrificadas no processo de alienação. Essa emergência do humano, sob as bases da superação (Aufhebung) do estado de alienação capitalista em questão, pode revelar dimensões humanas e naturais inéditas. 
Nesse sentido, Marx realiza um exercício muito interessante ao estabelecer vários níveis em que se poderia conceber a superação da propriedade privada, ou seja, da possibilidade do comunismo, ou, em outras palavras, de emergência do humano. O estabelecimento desses níveis constitui um esforço filosófico para buscar visualizar as possibilidades objectivas de superação da alienação própria da sociedade capitalista, sem que, no entanto, possam ser identificados com um receituário para constituição de sociedades futuras. Para tanto, o autor valoriza as conquistas alcançadas na vigência da propriedade privada, a qual é – mesmo que de forma alienada – portadora de potenciais transformadores que podem ser apropriados, adequados e, assim, subsidiar e potencializar a reforma radical da sociedade e do próprio homem.
1.4. Comuna de Paris
Segundo BARREIRA & MOREIRA (1990), no dia 18 de Março de 1871, o povo de Paris levantou-se contra o governo que desprezava e detestava e declarou que Paris era agora uma cidade independente, livre e dona do seu destino. Essa derrubada do poder central aconteceu sem a costumeira encenação teatral que normalmente acompanha as revoluções. Não houve tiros e o sangue não chegou a correr sobre as barricadas. Quando o povo armado saiu às ruas, os governantes fugiram, as tropas abandonaram a cidade e os funcionários civis refugiaram-se apressadamente em Versalhes, levando tudo o que podiam.
 O governo se evaporou como uma poça de sangue estagnado em meio à brisa da primavera e no dia 19 de Março Paris se viu livre da sujeira que a havia maculado, sem que tivesse corrido quase nenhuma gota de sangue de seus filhos. Entretanto essa mudança assim obtida deu início a uma nova era na longa série de revoluções pelas quais os povos começavam a trocar a servidão pela liberdade. Sob o nome de “Comuna de Paris”, nasceu uma nova ideia que havia de se tornar o ponto de partida para revoluções futuras.
Como acontece sempre, essa ideia não tivera origem no cérebro de um indivíduo isolado, nem era fruto das reflexões de um filósofo. Ela surgiu do espírito colectivo, nasceu no coração de toda a comunidade. Mas a princípio era algo vago e muitos daqueles que agiram e deram suas vidas para defendê-la não a viam com os mesmos olhos com que hoje a vemos. Eles não percebiam o alcance da revolução que haviam criado ou as possibilidades do novo conceito que acabavam de pôr em prática. Só depois é que começaram lentamente a entender suas consequências. Só mais tarde, quando começaram a reflectir sobre o novo conceito é que ele se tornou mais claro e preciso e a beleza, justiça e importância dos resultados obtidos puderam ser avaliados. 
Durante os cinco ou seis anos anteriores à Comuna, o socialismo ganhara novo alento graças ao rápido desenvolvimento da Associação Internacional de Operários. Em suas filiais regionais ou durante os congressos que realizava, os trabalhadores da Europa se encontravam e trocavam ideias sobre a questão social, algo que nunca tinham feito antes. Entre aqueles que percebiam que a revolução social era inevitável e que se preparavam activamente para vivê-la, surgiu um problema que deveria ser resolvido antes de qualquer outro: O actual desenvolvimento da indústria forçará a eclosão de uma grande revolução económica; essa revolução abolira a propriedade privada, fazendo com que todo o capital reunidopelas gerações pregressas passe a ser um bem comum a todos.
Após essas mudanças no sistema económico, qual seria a melhor forma de organização política? “Não poderá ser uma agremiação apenas nacional respondeu a Associação Internacional mas deve estender-se além das fronteiras artificiais e de todos os limites naturais.” Logo essa ideia grandiosa apossou-se do coração e do cérebro dos homens e, embora venha sendo perseguida desde então pelos esforços conjuntos de reaccionários dos mais variados tipos, permanece viva ainda hoje. E quando as vozes dos povos em revolta tiverem removido os obstáculos que impedem o seu progresso, ela ressurgira mais forte do que nunca...
Mas ainda faltava descobrir quais deveriam ser os elementos que iriam compor essa gigantesca associação. A essa pergunta, foram dadas duas respostas que expressavam duas correntes distintas. Uma falava em estado popular; outra, em anarquia.
Os socialistas alemães defendiam a ideia de que o estado deveria apossar-se de todos os recursos e riquezas acumuladas, distribuindo-as entre as associações de operários e mais, que estes deveriam tomar a si as actividades de produção e comércio e, de uma maneira geral, todas as actividades da sociedade.
A isso os socialistas latinos, que tinham atrás de si uma grande experiência revolucionária,
responderam dizendo que seria um milagre se tal estado pudesse um dia existir, mas que, se isso chegasse a acontecer, certamente ele acabaria por se tornar a pior das ditaduras.
Esse ideal de criar um Estado todo-poderoso e bom é apenas uma cópia de algo que existiu no passado, diziam, e confrontavam-no com a ideia de um novo ideal, a anarquia, isto é, a abolição total do estado, um sistema em que todas as formas de organização social, da mais simples à mais complexa, fossem obtidas através de federações livres, reunindo grupos populares de produtores e consumidores.
Até mesmo os socialistas mais liberais admitiram que a anarquia sem dúvida representava um tipo desorganização bem superior àquela pretendida pelo estado popular. Mas, diziam eles, o ideal anarquista é algo tão distante, que não podemos perder tempo com ele agora.
Ao mesmo tempo, a verdade é que a teoria anarquista necessitava de uma forma de expressão que fosse clara e concisa, uma fórmula ao mesmo tempo simples e prática, em que pudesse demonstrar suas origens e incorporar suas concepções, onde provasse que era apoiada por uma tendência que já existia antes entre o povo. Uma federação de associações operárias e grupos de consumidores que não levasse em conta as fronteiras e se mantivesse independente em relação aos estados já existentes ‘parecia urna ideia demasiado vaga: e mais, era fácil perceber que ela não poderia satisfazer totalmente a infinita variedade de exigências humanas. Era preciso encontrar uma fórmula mais simples, mais facilmente compreensível, que tivesse uma base firme e bem enraizada na vida real.
1.4.1. O legado histórico da comuna de paris
O estabelecimento da comuna de paris constitui uma lição de grande alcance para os movimentos operários, do êxito e fracassos foram tirados importantes ensinamentos para a luta dos trabalhadores contra a opressão do capital.
Entre esses ensinamentos destaca se:
· O surgimento de uma aliança firme entre as classes dominadas;
· Estabeleceram uma aliança clara que indique as vias para a conquista do poder económico e politico pelas classes exploradas;
· Constituição de um partido forte que concretize as resoluções tomada.
1.5. As lutas operárias na Inglaterra
1.5.1. Manifestações das classes operárias
De acordo com Segundo BARREIRA & MOREIRA (1990:152), afirmam que não foram apenas os patrões, os intelectuais e a igreja (através da publicação de encíclicas pelos papas), que se preocuparam com a situação dos operários. Estes ao mesmo tempo tomam medidas e se organizam desencadeando as seguintes acções:
Destruição de máquinas (ludismo);
Fazem manifestações e greves;
Formam sindicados.
Com vista a fortalecer o movimento operário, nasce a ideia de cooperação entre os trabalhadores de todas as nações. Esta ideia vai conduzir a criação da associação internacional conhecida como a primeira internacional.
1.5.2. A Associação Internacional dos Trabalhadores
A formação da classe operária industrial é, em princípio, um processo nacional, limitado à Inglaterra. Entretanto, com a expansão da industrialização e o avanço do capitalismo, esse movimento torna-se internacional, o que influencia decisivamente o pensamento daqueles que contestam a sociedade capitalista.
Propõe-se, a partir dessa “internacionalização” do capitalismo, que a luta dos operários seja também supranacional, uma vez que se acredita que é com a união de todos os trabalhadores que se pode superar a dominação e opressão características de tal modelo.
Cria-se, então, a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), em 1864, que se articula em torno de congressos (as “internacionais”) que intentam a organização internacional do movimento operário.
Esses congressos são fortemente influenciados pelas diversas tendências teóricas de contestação ao capitalismo, ao mesmo tempo em que são um campo fértil para a discussão entre representantes dessas várias tendências, servindo como meio propício para a reflexão sobre os caminhos tomados pelo capitalismo e pelo movimento operário.
Por outro lado, as Internacionais vêem reflectir, em seu interior, as circunstâncias históricas presentes no momento em que se organizam, o que influencia decisivamente as discussões que as norteiam em seu desenvolvimento.
1.5.3. O significado do primeiro de Maio nos movimentos operários
Segundo PERROT 1988, escreve que a “invenção do 1º de Maio” está relacionada a dois factores que, dependendo da corrente ideológica, destaca-se um ou o outro. Os operários do final do século XIX preocupavam-se em estabelecer uma data como marco fundamental de unificação internacional da luta dos trabalhadores. Esta preocupação era compartilhada por trabalhadores dos Estados Unidos, por franceses e de outros países. Os debates apontavam a importância de serem aproveitados elementos da cultura popular para a escolha desta data. Vários factores apontavam para a escolha de um dia que culminasse com a Primavera. Já existia uma tendência cultural em comemorarem-se o 1º de Maio como dia do renascimento (festejavam-se as boas colheitas, etc.).
De acordo com a revista “Solidariedade”, uma série de protestos tem inicio no dia 1º de Maio de 1886, na cidade de Chicago nos Estados Unidos. Estes protestos culminam com a prisão e condenação à morte dos operários organizadores das manifestações que reivindicavam oito horas de trabalho diário. Os oito trabalhadores chamavam-se: Spies, Flelden, Neebe, Fisher, Schwab, Lingg, Egel, Parsons, dos quais quatro morreram na forca. Os trabalhadores do mundo inteiro decidiram que 1º de Maio seria um marco na luta por melhores condições de trabalho e de luto pela morte dos “mártires de Chicago”. (REVISTA SOLIDARIEDAD, 1988, p.08). 
Além da reivindicação das 8 horas de trabalho, em cada país, em cada localidade, acrescentavam-se pautas específicas aos protestos. O “ritual” consistia em um dia de “Greve geral” internacional, com simbologias, bandeiras, conferências etc., “o desfile público dos trabalhadores como uma classe consistia o núcleo do ritual.” (HOBSBAWN, 1997, p.293). 
No final do século XIX e inicio do Século XX existiam duas correntes que disputavam o significado e a simbologia do 1º de Maio. Enquanto o dia era hegemonizado pela Social-Democracia, com seu centro irradiador nos Partidos Social-Democratas europeus e ligados a II Internacional (alemão, italiano, Francês, português e espanhol) as actividades do primeiro de Maio eram festivas. Quando passou a hegemonia dos anarquistas, a partir do inicio do século XX, suas referencias eram os protestos de Chicago e o assassinato dos operários em luta pelas oito horas de trabalho.
 O dia deixou de ser Festivo e passou a ser de protestos e greves. Um dos aspectos mais interessantes é que no hemisfério norte,tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, o 1º de Maio é uma data característica do inicio da Primavera. Para certas culturas, a Primavera é a data do renascimento, ressurreição. O 1º de Maio em sua origem possui este carácter místico e messiânico de certas culturas. Depois da morte dos trabalhadores em Chicago, o 1º de Maio faz lembrar aquela frase que diz: “Por mais rosas que os poderosos matem nunca conseguirão deter a primavera!”.
1.5.4. Impactos do Movimento operário
No entanto, começaram a surgir os primeiros sindicatos, como os Trade Unions. Finalmente, depois de vários protestos, o Parlamento britânico acaba por reconhecer o direito aos trabalhadores à associação e à coalizão em 1824. Foi um grande passo para o proletariado, o primeiro, mas não o último.
Em 1871, depois da queda de Napoleão III nas eleições de 1871 de Paris o poder chegou a mãos dos conservadores, e nesse momento em Paris produziu-se uma autêntica guerra civil por parte dos operários que se fizeram com o controle das fábricas e as oficinas. Isto se conheceu como a Comuna de Paris.
Os burgueses comprovaram de que eram capazes os trabalhadores, apanharam medo a este tipo de movimentos e para tentar melhoraram um pouco as condições trabalhistas do proletariado. Isto serviria de estímulo para revoluções posteriores no resto dos países.
Em Londres no ano 1864 e impulsionada por Marx celebrou-se a Primeira Internacional. Uma reunião de trabalhadores de todo mundo para se pôr de acordo sobre a luta a seguir e coordenar e sincronizar os principais sindicatos dos diferentes países, e se criou a Associação Internacional de Trabalhadores, que acabaria desaparecendo poucos anos depois efeito de disputas entre marxistas e anarquistas. Assim, em 1889 alguns dirigentes socialistas realizaram a Internacional Socialista ou Segunda Internacional, outra reunião similar para coordenar os programas e actuações das organizações operárias de ideologia marxista, e se criou alguns símbolos de identidade do movimento operário: a festa do primeiro de Maio e o hino da internacional. Na Segunda Internacional o objectivo não foi a tomada de poder, senão a negociação com a burguesia.
Finalmente, o Movimento Operário conseguiu lucros importantes. Por exemplo, na Inglaterra, o local onde se produziram os primeiros protestos por parte do proletariado (devido seguramente a que era o país mais industrializado da Europa), em 1802 se limita a 12 horas diárias a jornada trabalhista dos meninos, 1819 se proíbe o trabalho dos meninos menores de 9 anos, em 1833 se reduz a jornada trabalhista aos trabalhadores dentre 14 e 18 anos às 69 horas semanais, 1842, se proíbe o trabalho de meninos e mulheres nas minas, em 1878 se aprovam leis que regulam a segurança das fábricas, em 1908 aparecem os primeiros sistemas de segurança social, e, em 1919, o proletariado obtém seu maior lucro quando o parlamento reconhece a jornada trabalhista diária de 8 horas.
Conclusão 
Depois de ter terminado o trabalho, conclui-se que O chamado “socialismo utópico” constituiu um fenómeno histórico das ideias que foi bastante típico na primeira metade do século XIX. Através do artigo "Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico", Engels (1880) faz uma breve contextualização do pensamento filosófico e político vigente da época que mais tarde seria chamado de socialismo utópico.
Portanto, pensando na carência das classes não atendidas pela representatividade burguesa, ou que não houvesse o suprimento das reais necessidades pela nova prática de Estado, começaram a surgir as correntes de pensamentos baseados no cooperativismo, com foco para uma nova estrutura de equidade entre as classes, focando nas condições sociais da base trabalhadora. Começaria então as correntes socialistas utópicas desenvolvidas por Saint-Simon, Robert Owen e Charles Fourier.
Ficou ciente que o socialismo científico, expressão teórica do movimento proletário, destina-se a pesquisar as condições históricas e, com isso, a natureza mesma desse ato, infundindo assim à classe chamada a fazer essa revolução, à classe hoje oprimida, a consciência das condições e da natureza de sua própria acção.
Bibliografia 
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MARX, Karl. Manuscritos económicos e filosóficos. Tradução de José Carlos Bruni. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
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