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As propostas bolsolavistas para a educação brasileira

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Campus Belo Horizonte 
Faculdade de Educação 
 
 
CAROLINE DUAILIBI FELICIO 
DÉBORA REZENDE DO CARMO AZEVEDO 
FRANCIS DÁVILA SOUZA COSTA 
LUCAS CARNEIRO COSTA 
 
 
 
AS PROPOSTAS BOLSOLAVISTAS PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
Fevereiro/2021 
 
 
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Campus Belo Horizonte 
Faculdade de Educação 
 
 
CAROLINE DUAILIBI FELÍCIO 
DÉBORA REZENDE DO CARMO 
FRANCIS DÁVILA SOUZA COSTA 
LUCAS CARNEIRO COSTA 
 
 
 
AS PROPOSTAS BOLSOLAVISTAS PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA 
 
 
Monografia apresentada à Faculdade de 
Educação da Universidade do Estado de 
Minas Gerais como requisito parcial para 
conclusão da graduação em Pedagogia. 
Orientadora: Jacqueline da Silva Gonçalves. 
 
 
Belo Horizonte 
Fevereiro/2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedicamos este trabalho aos educadores 
progressistas que, em algum momento, foram 
silenciados em razão de suas posições 
políticas. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradecemos aos nossos familiares por toda a ajuda e compreensão. Sem eles, não 
estaríamos aqui e não chegaríamos aonde chegamos. Entendemos que todos se 
esforçaram para dar tudo o que temos, de modo que somos gratos por nossa 
educação e criação. 
Agradecemos a orientadora Jacqueline da Silva Gonçalves. Sua paciência, respeito, 
compreensão e dedicação foram essenciais para que finalizássemos o trabalho. 
Agradecemos aos nossos professores, tutores e orientadores. O nosso crescimento 
intelectual é visível desde o dia em que ingressamos na universidade. O nosso 
sucesso é produto de todas as intervenções e interações, além do auxílio, dos mais 
capacitados acadêmicos. 
Agradecemos às professoras Fabiana da Silva Viana e Elaine Maria da Cunha Morais 
pelas considerações que fizeram acerca da monografia. Seus conselhos aprimoram o 
trabalho, deixando-o mais técnico, preciso e consistente. 
Agradecemos ao amigo Tiago Lima de Alcântara pelas dicas e pontuações sobre a 
ortografia. Seus conselhos deixaram o texto refinado e claro. 
Agradecemos, por fim, aos nossos colegas de sala. Todos eles nos ensinaram muito 
e fizeram companhia num ambiente com ritmo enlouquecedor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Precisamos de alguém [no MEC] engajado 
na agenda técnica e na guerra cultural. 
Espero que ele [o novo ministro da Educação] 
aceite nossas sugestões e não seja um 
tecnocrata que dispensa a guerra cultural, 
permitindo que a agenda esquerdista e 
globalista prevaleça”. 
Carlos Jordy, vice-líder do governo 
Bolsonaro na Câmara dos Deputados. 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho propõe-se a investigar as propostas conservadoras bolsolavistas 
para a educação brasileira. Entendemos que a escola no Brasil passa por um 
momento de transição e de desconstrução (ou reconstrução). Na atual conjuntura 
globalizante, a educação e o trabalho docente estão sendo reconfigurados. A escola 
tem-se tornado um campo de batalha onde ocorre de forma mais intensa o debate 
entre progressismo e conservadorismo. A marca do ensino ainda é o tecnicismo, o 
currículo tem-se adaptado às mudanças dos paradigmas econômicos, a tecnologia 
está cada vez mais presente nas instituições privadas e muitos teóricos questionam-
se se a escola será substituída por práticas educacionais à distância, por modalidades 
como o homeschooling etc. Sendo assim, no intuito de compreender melhor o 
contexto atual da escola, levantamos as seguintes questões: quais são as propostas 
educacionais do grupo político que está no poder? Qual é a concepção de educação 
e de escola que eles mobilizam e nutrem? Quais são os limites e as possibilidades 
dessas concepções? Em que fundamentos elas foram construídas? Para responder 
às questões apresentadas e atingir nossos objetivos, escolhemos realizar uma 
pesquisa qualitativa. Utilizamos como método a pesquisa documental e a pesquisa 
bibliográfica. Foi feito um mapeamento da produção científica publicada a partir do 
ano de 2016 no site Google Scholar, visando a obter dados e informações sobre as 
propostas bolsolavistas para a educação. A partir da análise dos dados coletados, 
identificamos quatro propostas que se sobressaem: Escola sem Partido; 
homeschooling; o combate à “ideologia de gênero”; e escolas cívico-militares. 
Palavras-chave: bolsolavismo; educação no governo Bolsonaro; educação e 
ideologia. 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This work aims to investigate the conservative “bolsolavista” proposals for brazilian 
education. We understand that school in Brazil is going through a moment of transition 
and deconstruction (or reconstruction). In the current global context, education and 
teaching work are being reconfigured. The school has become a battleground where 
the debate between progressivism and conservatism takes place more intensely. The 
hallmark of teaching is still technicality, the curriculum has adapted to changes in 
economic paradigms, technology is increasingly present in private institutions and 
many theorists question whether the school will be replaced by distance educational 
practices. Therefore, in order to better understand the current context of the school, 
we raise the following questions: what are the educational proposals of the political 
group in power? What is the concept of education and school that they mobilize and 
nurture? What are the limits and possibilities of these conceptions? On what 
fundamentals were they built? To answer the questions presented and achieve our 
objectives, we chose to conduct a qualitative research. We use documentary and 
bibliographic research as method. A mapping of the scientific production published 
from the year 2016 on the Google Scholar website was made, in order to obtain data 
and information on the scholarship proposals for education. From the analysis of the 
collected data, we identified four proposals that stand out: Escola sem Partido; 
homeschooling; gender ideology; and civic-military schools. 
Keywords: bolsolavism; education in the Bolsonaro government; education and 
ideology. 
 
 
 
Sumário 
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 10 
2. METODOLOGIA ............................................................................................................................ 14 
3. CAPÍTULO 1: CONCEITUAÇÕES GERAIS ............................................................................. 27 
4. CAPÍTULO 2: APRESENTAÇÃO DO CONTEXTO ATUAL BRASILEIRO ........................ 48 
5. CAPÍTULO 3: AS PROPOSTAS BOLSOLAVISTAS PARA A EDUCAÇÃO ..................... 56 
5.1. ESCOLA SEM PARTIDO.......................................................................................................... 56 
5.2. IDEOLOGIA DE GÊNERO........................................................................................................ 61 
5.3. HOMESCHOOLING ................................................................................................................... 63 
5.4. ESCOLAS CÍVICO-MILITARES .............................................................................................. 66 
6. ADENDO: AS PROPOSTAS BOLSOLAVISTAS E A BNCC................................................ 71 
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 75 
8. REFERÊNCIAS .............................................................................................................................. 78 
 
 
10 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho propõe-se a investigar e apresentar as propostas 
conservadoras bolsolavistas para a educação brasileira. Entendemos que a escola no 
Brasil passa por um momento de transição e de desconstrução (ou reconstrução). 
Recentemente,vários grupos e movimentos políticos elaboram, incorporam e buscam 
inserir na escola as suas teorias, práticas ou ideias. A escola tem-se tornado um 
campo de batalha onde ocorre de forma mais intensa o debate entre progressismo e 
conservadorismo. O momento político, social e econômico do país está bastante 
polarizado entre essas duas vertentes. (BRUGNAGO; CHAIA, 2014). 
Na atual conjuntura globalizante, a educação e o trabalho docente estão sendo 
reconfigurados. (BARRETO, 2004). A marca do ensino ainda é o tecnicismo, o 
currículo tem-se adaptado às mudanças dos paradigmas econômicos, a tecnologia 
está cada vez mais presente nas instituições privadas e muitos teóricos questionam-
se se a escola será substituída por práticas educacionais à distância, por modalidades 
como o homeschooling etc. (CHAVES, 1998). Porém, parece-nos que essa mudança 
da escola no Brasil vem acrescida de um debate político agressivo. 
A polarização política entre esquerda e direita cresce desde os movimentos 
populares de junho de 2013. Esses grupos enxergam na escola tanto uma 
necessidade para criar sujeitos críticos quanto um lugar onde se disseminam práticas 
e ideologias imorais. Com essas visões, tais grupos buscam formatar a escola de 
acordo com seu pensamento. Daí, nascem diversos projetos com essa ideia. Os 
projetos do movimento Escola sem Partido são um exemplo. (MACEDO, 2017). Por 
essa razão, dissemos anteriormente que, por mais que a escola esteja em mudança, 
no Brasil, essa mudança vem envolvida da polarização. 
O que queremos dizer é que os ideólogos e grupos de poder querem fazer da 
escola uma “fábrica de mudança de pensamentos”. É o que pensa o filósofo francês 
Michel Foucault. Para ele, a escola é uma das “instituições de sequestro”, como o 
hospital, o quartel e a prisão. “São aquelas instituições que retiram compulsoriamente 
os indivíduos do espaço familiar ou social mais amplo e os internam, durante um 
período longo, para moldar suas condutas, disciplinar seus comportamentos e 
formatar aquilo que pensam”. (VEIGA-NETO, 2003). 
11 
 
As propostas conservadoras para a educação e para a escola brasileira são 
demasiado “híbridas” e “confusas”. Basicamente, o propósito é substituir as ideias 
progressistas que, segundo eles, estão enraizadas na escola. Todavia, como 
proposição, não se tem algo concreto: fala-se em militarização das escolas ao mesmo 
tempo em que se fala em homeschooling. Também, fala-se em Escola sem Partido 
ao mesmo tempo em que se fala sobre ensino confessional com aulas de ética e 
pensamento religioso. 
Soma-se tudo isso ao fato de que hoje o país é governado por um movimento 
ideológico conservador. Quem está na Presidência da República possui um projeto 
educacional próprio para o país – e isso em todas as áreas e pastas, como Segurança 
e Justiça, Relações Exteriores e Direitos Humanos1. (FALAK, 2018). Utilizaremos o 
termo “bolsolavismo” para denominar esse movimento. O termo é a junção do 
sobrenome “Bolsonaro” e o termo “Olavismo”, referindo-se ao presidente atual do 
Brasil e ao ideário defendido pelo escritor, jornalística e filósofo Olavo de Carvalho. 
É importante esclarecer que o termo não é uma invenção nossa. A palavra 
“bolsolavismo” já está presente em trabalhos acadêmicos e designam o mesmo 
sentido que demos. Um desses trabalhos, “Uma Janela no Tempo: a ascensão do 
Bolsonarismo no Brasil”, artigo científico escrito por Fernanda Rios Petrarca, traz 
informações sobre como esse ideário foi construído: 
No meio político os alunos a darem grande projeção às ideias de Olavo foram os três 
filhos mais velhos do presidente Jair Bolsonaro: Flávio Bolsonaro (senador), Eduardo 
Bolsonaro (deputado federal) e Carlos Bolsonaro (vereador pelo município do Rio de 
Janeiro). A integração entre o olavismo e a família Bolsonaro deu origem ao que boa 
parte dos analistas chamam de “bolsolavismo”, representado pela intensa articulação 
com a direita internacional. Essa articulação ampliou espaço de atuação no governo 
com nomeações para diversos setores tais como: o setor das relações internacionais, 
na figura do Ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, é aquele que mais 
associado está ao olavismo. Formam o seu time o olavista Filipe Martins, assessor 
especial da Presidência da República para assuntos internacionais. [...] Destacam-se 
também os assessores pessoais do gabinete do Presidente, portanto diretamente 
vinculado a ele, e associados aos filhos de Bolsonaro. Esse grupo de assessores, 
liderado por Carlos Bolsonaro e orientado por Olavo de Carvalho, deu origem ao que 
se designou chamar de “gabinete do ódio” ou “gabinete ideológico”. Através deste 
gabinete, tais assessores não só orientam o presidente como comandam também 
várias páginas nas redes sociais [...] cujo objetivo é propagar uma campanha de intensa 
 
1 Magda Soares, acadêmica referência em alfabetização, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, 
afirmou “estou com 86 anos e entrei na Educação quando estava com menos de 20 anos. Estou 
pelejando há décadas. Já passei por várias fases, mas nunca nesse tempo todo – e olha que eu, como 
aluna, vivi o Estado Novo e passei, já como professora, pela ditadura – nunca vi um período tão 
assustador como esse de agora na Educação. (SEMIS, 2019). 
12 
 
polarização e agressão aos adversários produzindo conteúdo especialmente para sua 
base eleitoral. (2021, p. 366-367). 
Outro trabalho acadêmico que traz o termo bolsolavismo é da área da 
psicologia (a tese de doutorado “Sobre a violência no Brasil: questões e problemas 
para o direito e a psicologia”, de Fabio Henrique Araújo Martins). Porém, o comentário 
é restrito a explicar o conceito dentro do cenário político brasileiro. Para o autor, 
“bolsolavismo” é a ala ideológica do governo representada por Ernesto de Araújo e o 
próprio Olavo de Carvalho. Junto com outros “4 Bs” (que são bala, boi, bíblia, bancos), 
sintetizam as forças políticas que atualmente controlam o estado no Brasil (MARTINS, 
2020). 
Olavo de Carvalho e Jair Bolsonaro atuam em conjunto. O primeiro é o dono e 
criador da “teoria” que organiza atualmente o conservadorismo brasileiro. Sua obra e 
ideias influenciaram radicalmente os movimentos da direita política. Já Bolsonaro é 
quem mantém a ação política, transportando o conteúdo teórico olavista para a 
prática. Explicaremos a relação entre ambos adiante, mas no momento é importante 
citar que ambos acreditam que estamos em uma guerra cultural. 
De um lado, estão eles – conservadores que lutam pela preservação da família, 
das instituições, dos bons costumes e da liberdade (de expressão, de comércio, entre 
outras). Do outro lado, conforme apregoam, está o marxismo cultural, grupo composto 
por setores da sociedade que quer “destruir” a civilização ocidental para implantar o 
socialismo. Bolsolavistas acreditam que todos os males da cultura – feminismo, ação 
afirmativa, liberação sexual, direitos LGBTQ, decadência da educação tradicional e 
ambientalismo – são responsabilidade do marxismo cultural, criado pela Escola de 
Frankfurt. Os adeptos do marxismo cultural são acusados de ensinar sexo e 
homossexualidade às crianças, promover a destruição da família, controlar os meios 
de comunicação e promover o engodo de massas, esvaziar as igrejas e incentivar o 
consumo de bebidas (COSTA, 2020, p. 40). 
Bolsonaro, às vésperas da posse como presidente, prometeu “combater o lixo marxista 
que se instalou nas instituições de ensino”. Uma das falas mais recorrentes dos 
membros do governo e de seus apoiadores tem sido a de que a vitória eleitoral de 
Bolsonaro teria significado a derrota do “marxismo cultural”, inspiração teórica dos 
governos de FHC, Lula e Dilma. Segundo o Ministro das Relações Exteriores, Ernesto 
Araújo, em um artigo publicado logo após a posse do governo, “o marxismo cultural 
governou por dentro de um sistema aparentemente liberal e democrático, construído 
por meio de corrupção,intimidação e controle de pensamento”. Ricardo Vélez 
Rodríguez, na sua posse como Ministro da Educação, afirmou que o “marxismo cultural 
é uma coisa que faz mal para a saúde. A saúde da mente, do corpo e da alma”. (SILVA, 
2020, p. 77). 
13 
 
Todas as ações do governo Bolsonaro para a educação visam a combater o 
ideário progressista. 
Sendo assim, no intuito de compreender melhor o contexto atual da escola, 
levantamos as seguintes questões: quais são as propostas educacionais do grupo 
político que está no poder? Qual é a concepção de educação e de escola que eles 
mobilizam e nutrem? Quais são os limites e as possibilidades dessas concepções? 
Em que fundamentos elas foram construídas? 
Para responder às questões apresentadas e atingir nossos objetivos, 
escolhemos realizar uma pesquisa qualitativa. Utilizamos como método a pesquisa 
documental e a pesquisa bibliográfica. Foi feito um mapeamento da produção 
científica publicada a partir do ano de 2016 no site Google Scholar, visando a obter 
dados e informações sobre as propostas bolsolavistas para a educação. A partir da 
análise dos dados coletados, identificamos quatro propostas que se sobressaem: 
Escola sem Partido; homeschooling; o combate à “ideologia de gênero”; e escolas 
cívico-militares. Escolhemos o ano de 2016 porque naquele ano ocorreu o 
impeachment da presidente(a) Dilma Rousseff e coincidiu com o aumento de 
popularidade de discursos conservadores. 
A estrutura do trabalho é a seguinte: no capítulo primeiro, fazemos algumas 
conceituações. Explicamos a concepção de educação, escola e ideologia que 
adotamos como balizadora das análises; também explicamos o que é 
conservadorismo (trazendo autores conservadores e que servem de base para a 
atuação política dos movimentos de direita); e o que é o bolsolavismo, bem como 
quem são Olavo de Carvalho e Jair Bolsonaro, fundadores e protagonistas da corrente 
conservadora brasileira (mostraremos como eles se conheceram e começaram a 
atuar em conjunto). No capítulo segundo, apresentamos a conjuntura contemporânea 
a partir das manifestações de julho de 2013 até a nomeação do atual ministro da 
educação, Milton Ribeiro. No capítulo terceiro são apresentadas as propostas 
bolsolavistas para a educação. Por fim, em último, estão as considerações finais e as 
referências, respectivamente. 
 
 
14 
 
2. METODOLOGIA 
 
Para dar consistência às discussões propostas pela nossa pesquisa, 
tomaremos como referência dois trabalhos acadêmicos, sendo duas dissertações de 
mestrado publicadas no ano de 2018. 
Lira (2018), em sua pesquisa, explica que o Brasil nos últimos anos tem visto o 
surgimento de ideologias como o conservadorismo e o fortalecimento de um 
movimento que pretende controlar o que deve ser dito na escola. Para ele, tais 
movimentos nascem de reações à suposta doutrinação ideológica promovida por 
professores nas salas de aulas. Lira (2018) procura identificar as forças políticas e 
ideológicas que tangenciam as fundamentações e que materializam a discursividade 
desse movimento. O trabalho será essencial para podermos entender o que está por 
trás das ideias e movimentos conservadores. 
Roseno (2018), por sua vez, tem como objetivo em sua pesquisa “compreender 
a ascensão do Movimento Escola Sem Partido por intermédio da aliança feita com os 
setores conservadores para excluir e proibir as políticas educacionais em gênero e 
diversidade sexual no Brasil”. Tal trabalho é importante porque descreve com detalhes 
como se dá o conflito entre posturas, ideias e posições conservadoras e progressistas. 
Roseno (2018), em sua pesquisa, também apresenta as ações que estão sendo 
tomadas pelo Movimento Escola sem Partido para, conforme seus pressupostos 
conservadores e reacionários, barrar, excluir e proibir qualquer discussão de gênero 
e de respeito à diversidade cultural. 
Como foi anunciado na introdução, esse trabalho analisou artigos que visam a 
discorrer sobre propostas conservadoras bolsolavistas para a educação. Para 
responder às questões apresentadas na introdução e atingir nossos objetivos, 
escolhemos realizar uma pesquisa qualitativa (FLICK, 2009) documental e 
bibliográfica (SILVA; MERCADO, 2015) que se amparou na abordagem da revisão 
sistemática de literatura. Essa técnica de pesquisa consiste num método de estudo 
em que se analisa de forma sistêmica vários trabalhos, de gêneros e campos do 
conhecimento distintos, sobre um determinado tema. A revisão sistemática de 
literatura pode promover um levantamento de estudos realizados a partir de diferentes 
contextos e sujeitos (RAMOS et al., 2014). Foi feito um mapeamento da produção 
15 
 
científica com foco na que foi publicada a partir do ano de 2016 no site Google Scholar, 
visando a obter dados e informações sobre as propostas bolsolavistas para a 
educação. Escolhemos o ano de 2016 porque naquele ano ocorreu o impeachment 
da presidente(a) Dilma Rousseff e coincidiu com o aumento de popularidade de 
discursos conservadores. E para complementar a pesquisa de forma geral, 
procuramos outros conteúdos, como livros, artigos publicados em anais de congresso, 
capítulos de livros, artigos gerais e reportagens jornalísticas. 
Os critérios para a escolha dos textos foram: quantidade de citações dos 
trabalhos; qualidade do referencial teórico; apresentação de contribuições inéditas 
para o debate público; quando reportagem jornalística, sua relevância; além de 
materiais que sintetizassem bem o conteúdo que abordamos. A plataforma Google 
Scholar foi utilizada por manter em suas bases conteúdos confiáveis, técnicos, 
apurados, revistos e científicos. Além disso, durante o percurso acadêmico da 
graduação, essa mesma plataforma nos é apresentada como um excelente 
mecanismo para efetuar pesquisas. 
Em relação às reportagens jornalísticas, foi também por causa da 
contemporaneidade do governo e da ausência de produções acadêmicas que 
precisamos recorrer a esse gênero textual. Demos preferência para a mídia 
tradicional. Em alguns momentos, todavia, foi preciso recorrer a alguns sites 
específicos, como o site pessoal do escritor Olavo de Carvalho, que contém dados 
importantes sobre a sua produção, currículo e biografia. 
O objetivo geral deste trabalho é apresentar as propostas bolsolavistas para a 
educação de forma interligada e conjunta, pois acreditamos que possuem a mesma 
natureza e intencionalidade. Além do objetivo geral, podemos citar os objetivos 
específicos, que são: 
a) Descrever a relação que existe entre essas propostas conservadoras; 
b) Compreender e descrever conceitos e quais são as bases teóricas desse 
movimento conservador; 
c) Analisar as propostas do governo atual para a educação brasileira; 
d) Descrever que tipo de sujeito (e qual tipo de sociedade) os grupos 
conservadores e progressistas desejam formar nas instituições educacionais; 
16 
 
Mas, cabe perguntar: de qual lugar surgem as propostas bolsolavistas para a 
educação? Onde é possível verificar que elas existem e quais são? Ora, é possível 
verificar tais propostas e saber quais são por meio: das declarações oficiais do 
governo Bolsonaro; de suas promessas de campanha; das ideias defendidas 
publicamente por seus apoiadores mais notórios; além dos projetos de lei, propostos 
ou aprovados, oriundos de instituições públicas ou parlamentares que possuem a 
mesma agenda ideológica conservadora. 
Na Proposta de Plano de Governo apresentada pelo candidato Jair Bolsonaro 
no ano de 2018, a educação não é extensamente trabalhada. Apesar disso, o 
documento revela as intenções e propósitos para essa pauta: 
• A educação é apresentada como prioridade junto à segurança e à saúde. (TSE, 
p. 10). 
• Deseja-se dar um salto de qualidade na educação, mas com ênfase na infantil, 
básica e técnica, sem doutrinar. (TSE, p. 22). 
• As Forças Armadas são invocadas no processo de atendimento da saúde e da 
educação da população. (TSE,p. 34). 
• Diz-se que o conteúdo e método de ensino precisam ser mudados: “mais 
matemática, ciências e português, sem doutrinação e sexualização 
precoce”. (TSE, p. 41). 
• Propõe-se, além de mudar o método de gestão, na educação revisar e 
modernizar o conteúdo (currículo escolar). Isso inclui a alfabetização, 
expurgando a ideologia de Paulo Freire, mudando a Base Nacional 
Comum Curricular (BNCC), impedindo a aprovação automática e a própria 
questão de disciplina dentro das escolas. (TSE, p. 46). 
• Propõe-se a educação à distância. “Deveria ser vista como um importante 
instrumento e não vetada de forma dogmática”. Deve ser considerada como 
alternativa para as áreas rurais. (TSE, p. 46). 
• Nas considerações finais, coloca-se que é objetivo do governo “brigar para que 
os jovens tenham um futuro e [...] não fiquem desamparados por [...] uma 
educação aparelhada ideologicamente”. (TSE, p. 80). 
Quando se fala em doutrinação, ou quando é escrito que o objetivo é expurgar 
a ideologia de Paulo Freire, rememora-se o projeto Escola sem Partido. Quando se 
17 
 
fala em sexualização precoce, rememora-se o combate à “ideologia de gênero”. Ao 
dizer que se deve impedir a indisciplina nas escolas, ou que as Forças Armadas 
devem ser invocadas no processo de atendimento educacional da população, 
rememora-se o projeto das escolas cívico-militares. Por fim, quando se traz a questão 
do ensino à distância, é possível relacionar a prática com o homeschooling. Vale 
lembrar que para essas duas últimas propostas, escolas cívico-militares e 
homeschooling, o governo Bolsonaro já produziu projetos de lei, decretos e portarias 
que defendem o seu conteúdo. 
Olavo de Carvalho, por outro lado, é um crítico do Escola sem Partido, mas não 
se posiciona de maneira contrária à proposta ou sua natureza. Ele diz que o problema 
é muito centrado em mudar a legislação, mas pouco íntimo do combate cultural. Isto 
é, para Olavo de Carvalho a mudança legislação, apesar de positiva, não é suficiente 
para “resolver o problema da doutrinação nas escolas” em longo prazo ou de forma 
efetiva. Complementarmente, se posiciona favorável ao homeschooling, pois: 
a pretexto de educar nossos filhos, [politiqueiros e manipuladores ideológicos] lhes 
impõe [por intermédio da escola] todo um sistema de deformidades mentais e morais 
para fazer deles idiotas criminosos à imagem e semelhança de nossos governantes. 
[...] Carlos Artexes Simões não percebe a monstruosidade comunofascista que profere 
ao declarar que “a escola ainda é a vanguarda do ponto de vista do conhecimento 
necessário para a construção de um Estado republicano”. [...] Não sabe ele que tipo de 
socialização nossas crianças encontram nas escolas públicas? Não sabe que estas 
são fábricas de desajustados, de delinqüentes, de criminosos? Não sabe que, em nome 
da socialização, as condutas piores e mais violentas são ali incentivadas pelo próprio 
governo que ele representa? Não sabe que agredir professores, destruir o patrimônio 
das escolas, consumir drogas, entregar-se a obscenidades em público, são atos 
considerados normais e até desejáveis nessas instituições do inferno? Não sabe ele 
que há um crescimento proporcional direto da criminalidade infanto-juvenil à medida 
que se amplia a escolarização? (CARVALHO, 2019). 
 Ao ler esse trecho, pode parecer que a preocupação de Olavo de Carvalho não 
é, em sua essência, ideológica, mas sim em relação à qualidade das escolas. No 
entanto, vale lembrar que ele acredita que “a criminalidade nas escolas” só acontece 
por conta da doutrinação de esquerda. Para ele, os “manipuladores ideológicos” visam 
a fomentar a criminalidade para que, através dela, a revolução socialista aconteça: 
Logo após a tomada do poder pelos comunistas na Rússia, a política oficial era 
fomentar o sexo livre, criando assim uma geração de jovens sem família para incentivar 
a criminalidade juvenil e liquidar pela confusão o que restasse da “ordem burguesa” [...] 
a URSS começou a treinar agentes para que se infiltrassem nas então incipientes redes 
de tráfico de drogas — especialmente na América Latina — e as dominassem por 
dentro, criando uma futura fonte local de subsídios para o movimento revolucionário, 
que estava saindo caro demais para o bolso soviético. Essa foi a origem remota das 
Farc, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, que hoje dominam o narcotráfico 
no continente. (CARVALHO, 2013, p. 505-506). 
18 
 
 Ao ter contato com outros artigos de sua autoria, fica claro que ele acredita que 
a educação é dominada por marxistas: 
A partir dos anos 1980, a elite esquerdista tomou posse da educação pública, aí 
introduzindo o sistema de alfabetização “socioconstrutivista”, concebido por pedagogos 
esquerdistas como Emilia Ferrero, Lev Vigotsky e Paulo Freire para implantar na mente 
infantil as estruturas cognitivas aptas a preparar o desenvolvimento mais ou menos 
espontâneo de uma cosmovisão socialista, praticamente sem necessidade de 
“doutrinação” explícita. (CARVALHO, 2013, p. 350). 
 Assim, acaba se posicionando também contrário à “ideologia de gênero”. Para 
ele, 
aplicada à educação, [a ideologia de gênero] destrói nas crianças a capacidade de 
distinguir entre realidade e fantasia, entre ser e parecer, e cria uma geração de 
pequenos imbecis que, ao chegar à universidade, não servirão para mais nada além 
de se divertir, bater pezinho com exigências impossíveis, e fazer uma confusão dos 
diabos com o pouco que tiverem conseguido aprender. (CARVALHO, 2016). 
 Olavo de Carvalho ainda não se declarou contrário ou favorável à proposta das 
escolas cívico-militares. Mas, assim como as outras as propostas que estamos 
analisando, dezenas de seus seguidores mais influentes já se posicionaram a favor. 
Este trabalho está dividido em três capítulos. O primeiro trata das 
conceituações gerais; o segundo contextualiza historicamente o Brasil 
contemporâneo; e o terceiro explora as propostas bolsolavistas, descrevendo e 
analisando cada uma delas. Para cada uma dessas partes, foram selecionados textos, 
conforme o critério estabelecido acima. No entanto, para o terceiro capítulo, a escolha 
de textos seguiu um percurso diferente. Nesse aspecto, foi feita uma busca por textos 
que trouxessem em seu título, resumo ou palavras-chave certos descritores, a 
exemplo dos mesmos utilizados Rocha (1999) e Gonçalves (2011). Escolhemos 
“escola sem partido”, “ideologia de gênero”, “homeschooling”, e “escolas cívico-
militares” porque são os títulos que as propostas recebem. 
De modo a expor as escolhas, abaixo compartilhamos três tabelas contendo os 
textos escolhidos. Cada tabela é referente a um capítulo do trabalho. 
 
Tabela 1: Textos selecionados para o capítulo 1 
 
Autor Título 
Ano de 
publicação Natureza do texto 
19 
 
Guilherme Inácio F. 
Andrade 
A trajetória da extrema-direita no Brasil: 
integralismo, neonazismo e 
revisionismo histórico (1930-2012) 2013 
Artigo publicado em 
anais de congresso 
Redação (G1) 
Artistas criticam declarações do novo 
presidente da Funarte 2019 
Reportagem 
jornalística 
Eduardo Barretto (O 
Globo) 
Bolsonaro apresenta proposta ao PP 
para concorrer à presidência da 
República 2014 
Reportagem 
jornalística 
Carlos Rodrigues 
Brandão O que é educação? 1981 Livro 
Danielle Brant (Folha 
de S.Paulo) 
Olavo de Carvalho diz que aceitaria ser 
embaixador nos EUA do governo 
Bolsonaro 2018 
Reportagem 
jornalística 
Marcelo Braz 
O golpe nas ilusões democráticas e a 
ascensão do conservadorismo 
reacionário 2017 Artigo científico 
Olavo de Carvalho 
O mínimo que você precisa saber para 
não ser um idiota 2013 Livro 
Olavo de Carvalho; 
Alaôr Caffé Alves Marxismo, direito e sociedade 2003 Livro 
Olavo de Carvalho; 
Alexandre Dugin Os EUA e a Nova Ordem Mundial 2012 Livro 
Russell Norman 
Champlin; João 
Marques Bentes 
Enciclopédia de Bíblia, Teologia e 
Filosofia 1991 Livro 
Marilena Chauí 
Culturae democracia: o discurso 
competente e outras falas 2007 Livro 
Marilena Chauí Ideologia e educação 1980 Artigo científico 
Marilena Chauí O que é ideologia? 2008 Livro 
Desttut de Tracy Élémens d'idéologie 1817 Livro 
Letícia Duarte (El país) 
"Destruição é a agenda do 
tradicionalismo", a ideologia por trás de 
Bolsonaro e Trump 2020 
Reportagem 
jornalística 
Inés Dussel; Marcelo 
Caruso 
A invenção da sala de aula: uma 
genealogia das formas de ensinar 2003 Livro 
João Fellet (BBC 
Brasil) 
Monarquistas ocupam cargos em 
Brasília e reabilitam grupo católico 
ultraconservador 2019 
Reportagem 
jornalística 
Gabriela Nunes 
Ferreira; André 
Botelho Revendo o pensamento conservador 2010 Artigo científico 
João Filho (The 
Intercept Brasil) 
O casamento entre a extrema-direita e o 
movimento antivacina é um perigo para 
o mundo 2019 
Reportagem 
jornalística 
Leandro Pereira 
Gonçalves; Odilon 
Caldeira Neto 
O fascismo em camisas verdes: do 
integralismo ao neointegralismo 2020 Livro 
Serge Halimi (Le 
Monde Diplomatique) Un débat intellectuel em trompe-l'oiel 2003 
Reportagem 
jornalística 
Antônio Houaiss 
Pequeno dicionário enciclopédico 
Koogan-Larousse 1987 Livro 
20 
 
Russel Kirk A política da prudência 2014 Livro 
Karl Marx; Friedrich 
Engels A ideologia alemã 1998 Livro 
Robert K. Merton Ensaios de sociologia da ciência 2013 Livro 
Marcelo Tavares 
Natividade; Leandro de 
Oliveira 
Sexualidades ameaçadoras: religião e 
homofobia (s) em discursos evangélicos 
conservadores 2009 Artigo científico 
Clarissa Neher (DW) 
"Nazismo de esquerda": o absurdo virou 
discurso oficial em Brasília 2019 
Reportagem 
jornalística 
Michael Oakeshott Ser conservador 2014 Livro 
Antônio Severino Educação, ideologia e contra-ideologia 1986 Livro 
Tomaz Tadeu da Silva 
Documentos de identidade: uma 
introdução às teorias de currículo 2010 Livro 
John Thompson 
Ideologia e cultura moderna: teoria 
social crítica na era dos meios de 
comunicação de massa 2000 Livro 
Gustavo Uribe; Pedro 
Ladeira; Wálter Nunes 
(Folha de S. Paulo) 
Apoiadores de Bolsonaro fazem ato pró-
intervenção, e opositores usam cruzes 
para criticar governo 2020 
Reportagem 
jornalística 
Redação (Folha de 
S.Paulo) 
Veja a biografia de Jair Bolsonaro, 
presidente eleito do Brasil 2018 
Reportagem 
jornalística 
Bruna Marcos Velho 
Percepções de um contrato racial na 
trajetória educacional dos negros no 
Brasil: estudo a partir da 
representatividade dos negros no 
município de Concórdia, SC 2020 
Dissertação de 
mestrado 
Olavo de Carvalho Curriculum 2017 Site oficial 
 
Tabela 2: Textos selecionados para o capítulo 2 
 
Autor Título 
Ano de 
publicação Natureza do texto 
Redação (Carta Capital) 
Antipresidente: o passo torto de 
Bolsonaro em 7 dias de governo 2019 
Reportagem 
jornalística 
Henrique Braga; Paulo 
Nakatani (Debates em 
Rede) 
A PEC 55: Inconsistência e 
Alternativa 2016 Artigo 
Fórum Nacional de 
Educação Nota do FNE sobre a BNCC 2017 Nota oficial 
Redação (G1) 
Entenda as polêmicas sobre os 
títulos acadêmicos do novo ministro 
da Educação, Carlos Alberto 
Decotelli 2020 Nota oficial 
Pensar a Educação 
Texto para discussão - Reforma do 
Ensino Médio - MP 746/2016 2016 Artigo 
21 
 
Larissa Infante (Época) 
Vélez Rodrigues nomeia segundo 
mais votado para Instituto de 
Educação de Surdos e gera protestos 2019 
Reportagem 
jornalística 
Lívia Li 
Para entender a dimensão brutal do 
desmonte do ensino médio 2016 Artigo 
Marcelo Lima; Samanta 
Lopes Maciel 
A reforma do ensino médio do 
governo Temer: corrosão do direito 
à educação no contexto de crise do 
capital no Brasil 2018 Artigo científico 
Redação (Estadão) 
Manifestações contra cortes na 
educação atingem todas as capitais 2019 
Reportagem 
jornalística 
Renata Mariz (O Globo) 
Ministro da Educação pede que 
diretores de escolas toquem hino 
para alunos e gravem 2019 
Reportagem 
jornalística 
Humberto Martins 
(Estado de Minas) 
Marcada por polêmicas e cortes, 
gestão de Abraham Weintraub na 
Educação está perto do fim 2020 
Reportagem 
jornalística 
Ana Carolina Moreno 
(G1) 
BNCC atrasada, Future-se sem 
prazo e os embates do ministro: o 
ano da educação em 10 pontos 2019 
Reportagem 
jornalística 
Hugo Passarelli (Valor 
Econômico) 
Ideia de universidade para todos não 
existe', diz ministro da Educação 2019 
Reportagem 
jornalística 
Paula Peres; Laís Semis 
(Nova Escola) 
Montanha russa da Educação: os 30 
primeiros dias do MEC de 
Bolsonaro 2020 
Reportagem 
jornalística 
Marise Ramos; Raquel 
Júnia 
‘O desafio da escola está não só em 
incorporar os interesses dos jovens, 
mas em educar esses próprios 
interesses’ 2016 Entrevista 
Giovanna Romano 
(Veja) 
MEC exonera dez servidores após 
polêmica com livros didáticos 2019 
Reportagem 
jornalística 
Pedro Rossi; Esther 
Dweck 
Impactos do novo regime fiscal na 
saúde e educação 2016 Artigo científico 
Paulo Saldaña (Folha de 
S.Paulo) 
Vélez desmonta secretaria de 
diversidade e cria nova subpasta de 
alfabetização 2019 
Reportagem 
jornalística 
Carlos Artexes Simões 
Análise da medida provisória sobre 
alterações curriculares do ensino 
médio na LDB 2016 Artigo 
Redação (GHZ) 
Veja as principais ações de 
Abraham Weintraub no Ministério 
da Educação 2020 
Reportagem 
jornalística 
 
Tabela 3: Textos selecionados para o capítulo 3 
 
22 
 
Autor Título 
Ano de 
publicação Natureza do texto Proposta 
Luciana Amaral 
(Uol) 
Bolsonaro lança 
programa para 
implementar escolas 
cívico-militares 2019 
Reportagem 
jornalística 
Escolas cívico-
militares 
João Guilherme da 
Silva Arruda; 
Fernando de Souza 
Paiva 
Educação domiciliar 
no Brasil: panorama 
frente ao cenário 
contemporâneo 2017 Artigo científico Homeschooling 
Alesandra de Araújo 
Benevides; Ricardo 
Brito Soares 
Diferencial de 
desempenho de 
alunos das escolas 
militares: o caso das 
escolas públicas do 
Ceará 2020 Artigo científico 
Escolas cívico-
militares 
Pascal Bernardin 
Maquiavel 
Pedagogo: ou o 
ministério da reforma 
psicológica 2012 Livro 
Escola sem 
Partido 
Brasil 
Lei nº. 12.852 de 05 
de agosto de 2013 2013 Legislação 
Ideologia de 
Gênero 
Poder Executivo 
Projeto de Lei nº. 
2.401 de 2019 2019 Legislação Homeschooling 
Tatiana Feitosa de 
Britto 
O que os professores 
(não) podem dizer? 
A experiência 
canadense e a 
"Escola sem Partido" 2019 Artigo científico 
Escola sem 
Partido 
Judith Butler 
Problemas de gênero: 
feminismo e 
subversão da 
identidade 2013 Livro 
Ideologia de 
Gênero 
Renato Cafardo; 
Roberta Jansen 
(Estadão) 
Estudantes de 
colégios militares 
custam três vezes 
mais ao país 2018 
Reportagem 
jornalística 
Escolas cívico-
militares 
Luiz Antônio Cunha 
O projeto reacionário 
de educação 2016 Artigo Homeschooling 
Loise da Nova; 
Alinne de Lima 
Bonetti 
Escolas Cívico-
militares: uma nova 
face das Escolas sem 
Partido? 2020 
Artigo publicado em 
anais de congresso 
Escolas cívico-
militares 
Escola sem Partido 
(Site oficial) 
Ensino, educação e 
doutrinação 2019 Site oficial 
Escola sem 
Partido 
Escola sem Partido 
(Site oficial) 
Sobre o Escola sem 
Partido 2019 Site oficial 
Escola sem 
Partido 
OPAS Brasil 
Folha Informativa - 
Gênero 2015 Documento oficial 
Ideologia de 
Gênero 
23 
 
Paulo Freire 
Pedagogia da 
autonomia: saberes 
necessários à prática 
educativa 1996 Livro 
Escola sem 
Partido 
Andrei Cavalcanti 
Lopes Goés; Marcus 
Vinícius da Silva 
Pereira de Souza 
O "homeschooling" e 
as novas formas de 
educar no Brasil: um 
diálogo entre o 
direito e pedagogia 2019 Artigo científico Homeschooling 
Antônio Houaiss 
Pequeno dicionário 
enciclopédico 
Koogan-Larousse 1987 Livro 
Escola sem 
Partido 
Rogério Diniz 
Junqueira 
"Ideologia de 
gênero":a gênese de 
uma categoria 
política reacionária-
ou: a promoção dos 
direitos humanos se 
tornou uma "ameaça 
à família natural" 2017 Artigo científico 
Ideologia de 
Gênero 
Iana Gomes de Lima; 
Alvaro Moreira 
Hypolito 
Escola sem Partido: 
análise de uma rede 
conservadora na 
educação 2020 Artigo científico 
Escola sem 
Partido 
Marcos Felipe 
Gonçalves Maia; 
Damião Rocha 
Ideologia de gênero: 
tensões e 
desdobramentos na 
educação 2017 Artigo científico 
Ideologia de 
Gênero 
Eduardo Meinberg de 
Albuquerque 
Maranhão; Fernanda 
Marina Feitosa 
Coelho; Tainah Biela 
Dias 
“Fake news acima de 
tudo, fake news 
acima de todos”: 
Bolsonaro e o “kit 
gay”, “ideologia de 
gênero” e fim da 
“família tradicional” 2018 Artigo científico 
Ideologia de 
Gênero 
André Antunes 
Martin 
Sobre os dias atuais: 
neoconservadorismo, 
escolas cívico-
militares e o 
simulacro da gestão 
democrática 2019 Artigo científico 
Escolas cívico-
militares 
Letícia Mori (BBC 
Brasil) 
O que o governo 
ainda precisa 
explicar sobre o 
funcionamento das 
escolas cívico-
militares 2019 
Reportagem 
jornalística 
Escolas cívico-
militares 
Paulo Gabriel 
Soledade Nacif; 
Penildon Silva Filho 
A educação brasileira 
na mira do 
obscurantismo e 
Estado mínimo 2019 Capítulo de livro Homeschooling 
24 
 
Rayane Dayse da 
Silva Oliveira; Erika 
Oliveira Maia 
Batalha 
O mito da "ideologia 
de gênero" nas 
escolas: uma análise 
sociológica da 
tentativa 
conservadora de 
silenciar o 
pensamento crítico 2017 Artigo científico 
Escola sem 
Partido 
Comissão 
Internacional de 
Juristas, do Serviço 
Internacional de 
Direitos Humanos 
Princípios de 
Yogyakarta 2007 Documento oficial 
Ideologia de 
Gênero 
José Antônio 
Miranda Sepulveda; 
Denize Sepulveda 
O pensamento 
conservador e a sua 
relação com práticas 
discriminatórias na 
educação: a 
importância da 
laicidade 2016 Artigo 
Escola sem 
Partido 
Ivanderson Pereira da 
Silva 
Em busca de 
significados para a 
expressão “ideologia 
de gênero” 2019 Artigo científico 
Ideologia de 
Gênero 
Michel Goulart da 
Silva 
O escola sem partido 
como expressão do 
ideário militar 2018 Artigo científico 
Escola sem 
Partido 
Redação (STF) 
STF nega recurso 
que pedia 
reconhecimento de 
direito a ensino 
domiciliar 2018 
Reportagem 
jornalística Homeschooling 
Redação (Estado de 
Minas) 
Supremo derruba lei 
de Alagoas inspirada 
no "Escola sem 
Partido" 2020 
Reportagem 
jornalística 
Escola sem 
Partido 
 
Após a escolha dos textos, foi realizada a leitura desses, seguida da elaboração 
do resumo com preenchimento de quadros de análise com os possíveis elementos 
que identificassem, para cada capítulo, as principais conceituações, acontecimentos 
ou descrições das propostas. 
Esclarecemos ainda que nossa análise foi composta, assim como o trabalho de 
Gonçalves (2011), por quatro fases: a) pré-análise; b) exploração do material; c) 
tratamento dos resultados; e d) interpretação. A pré-análise envolveu a leitura e o 
destaque dos elementos comuns e incomuns que apareciam nos textos. Na 
exploração do material, enfatizamos os pontos em comum dos autores, mas também 
25 
 
destacamos alguns conflitos entre eles em relação ao tema. Na terceira fase, 
relacionada ao tratamento e interpretação, preenchemos a ficha 1, de modo a 
organizar todo o trabalho: 
 
 
Após esse procedimento, fizemos a separação por noção, acrescidas das 
definições que apareciam nos textos. 
 
 
Nessa última fase, selecionamos as noções mais importantes retiradas dos 
autores lidos, de forma a analisá-las mediante nosso referencial teórico. A análise 
procedeu-se da seguinte maneira: entre os textos selecionados, com o intuito de 
desenvolver as ideias dos autores, respeitamos a ordem cronológica dos 
Ficha 1 (atende ao objetivo geral) 
Artigo: _______________________________________________________ 
Objetivo:______________________________________________________ 
1) Identificação dos elementos: 
_____________________________________________________________ 
2) Expor a definição de cada elemento sugerido pelo autor(a): 
Elemento Definição 
 
 
 
Ficha 2 (atende aos objetivos específicos) 
Elemento:_____________________________________________________ 
Autor/ano Definição Consenso Conflito Desdobramento 
interpretativo 
 
 
 
26 
 
acontecimentos, de forma a possibilitar aos leitores a compreensão da evolução da 
constituição das propostas bolsolavistas. 
 
 
27 
 
3. CAPÍTULO 1: CONCEITUAÇÕES GERAIS 
 
Nesta primeira parte do trabalho, surge a necessidade de explicar alguns 
conceitos e termos. A explicação desses não é em relação ao seu significado no 
dicionário, mas sim ao que esse conceito significa para a academia. As posições dos 
autores sobre a significação dessas palavras carregam um debate longo sobre o que 
é cada uma. Alguns autores nutrem posições de acordo com as escolas de 
pensamento às quais pertencem. Já outros têm suas conclusões baseadas em 
pesquisas científicas próprias. Em alguns casos, precisaremos recorrer a conceitos 
das próprias escolas de pensamento que os “criaram”. Citar o que os próprios 
conservadores pensam sobre o conservadorismo, por exemplo, dá um panorama 
melhor sobre como eles pensam, como agem e como planejam suas ações enquanto 
movimento político organizado. 
 Os primeiros conceitos a serem explicados para dar um pano de fundo ao 
trabalho serão “educação”, “escola”, “ideologia” e “conservadorismo”. 
Em todos os aspectos da sociedade a educação está presente. Nenhuma 
instituição social ou indivíduo “foge” ou deixa de ter contato com ela. A educação está 
em todo lugar e não só na escola: nas ruas, comunidades religiosas, no trabalho etc. 
E todos estamos envolvidos porque aprendemos, ensinamos e ensinamos-
aprendendo a todo instante. 
No entanto, existem várias concepções sobre o que é educação. Essas variam 
conforme o pensador, a sociedade e a cultura. Os nativos americanos, por exemplo, 
compreendem a educação de outro jeito, diferente da nossa sociedade ocidental2. 
 
2 Carlos Rodrigues Brandão escreve em seu livro “O que é educação?” que alguns estados dos Estados 
Unidos da América “assinaram um tratado de paz” com movimentos nativos americanos. “Como as 
promessas e os símbolos da educação sempre foram muito adequados a momentos solenes como 
aquele, logo depois os seus governantes mandaram cartas aos nativos para que enviassem alguns de 
seus jovens às escolas dos brancos”. Brandão, então, esclarece que os chefes nativos responderam 
agradecendo a proposta, mas recusando tal iniciativa. A carta dizia que, apesar de eles (os nativos) 
estarem “convencidos que os senhores [colonizadores] desejavam o bem”, reconheciam que 
“diferentes nações têm concepções diferentes das coisas” e, sendo assim, a recusa não deveria ser 
vista uma ofensa, pois “a ideia de educação dos colonizadores não era a mesma que a deles”. Segundo 
eles, “muitos dos seus bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a 
‘ciência’ europeia – mas, quando eles voltavam para casa, eles eram maus corredores, ignorantes da 
vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e a fome”. Eles “não sabiam como caçar o veado, 
matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa língua muito mal”. Eram, portanto, 
“totalmente inúteis”. 
28 
 
Para eles, a educação deve “criar” um membro da sua comunidade, capacitando-o 
para viver com determinadas habilidades necessárias ao meio em que vive. 
Assim sendo, não há um único modelo de educação – e nenhum que seja 
correto e perfeito. Também ressaltando o que foi dito anteriormente: a escola não é o 
único lugar onde a educação pode existir e, talvez, nem seja o melhor (BRANDÃO, 
1981). 
Se pesquisarmos em um dicionário, a definição para o verbete “educação” que 
encontramos é a que segue: 
EDUCAÇÃO:s.f. Ação de desenvolver as faculdades psíquicas, intelectuais e morais; 
a educação da juventude. / Resultado dessa ação. / Conhecimento e prática dos 
hábitos sociais; boas maneiras: homem sem educação. / Educação nacional, conjunto 
de órgãos encarregados da organização, da direção e da gestão de todos os graus do 
ensino público, bem como da fiscalização do ensino particular. (HOUAISS, 1987, p. 
291). 
A partir do significado desse vocábulo, podemos tirar algumas breves 
conclusões: a função da educação é desenvolver o conhecimento e a inteligência; a 
educação é o ensino de algum conteúdo; a educação é aprendizado de uma cultura 
e, por conta disso, está sujeita a ideologias e aos costumes sociais (sendo um produto 
da sociedade que a constrói); a educação é uma instituição social; a educação é uma 
pauta governamental; a educação consiste de um programa ou projeto; e, por fim, a 
educação é um direito. 
Se pesquisarmos nas ciências humanas, contudo, cada autor trará uma 
concepção diferente sobre o que é educação ou sobre como ela deve ser (organizar-
se). É comum que os autores de educação possuam algum tipo de proposta em 
relação a ela, mas nem sempre isso é a regra, principalmente para os filósofos da 
educação. Para Platão, por exemplo, a educação era necessária para a concretização 
da República (a sua ideal compreensão de como o Estado deveria se organizar 
socialmente). Para Komensky, a educação deveria ser feita por meio de um sistema 
de aprendizagem graduado e internacional, com alguns elementos comuns, os quais 
poderiam levar a uma maior compreensão entre os povos e, por conseguinte, à 
harmonia e à união de todos. (CHAMPLIN; BENTES, 1991). 
Para Rousseau, a educação não estava em “encher a cabeça da criança” com 
um método que “obriga a repetição e impõe coisas”. Aliás, para ele, é esse o tipo de 
educação que corrompe as crianças. Elas nascem boas, isto é, são boas por natureza. 
29 
 
Assim sendo, é desejável que o desenvolvimento siga esse mesmo curso, um 
caminho natural. Rousseau entendia que a criança deveria aprender com a natureza 
(para ele, a natureza era perfeita) e de acordo com uma “ordem” (uma lógica, “ordem 
natural das coisas”, tanto é que a primeira noção ensinada, por exemplo, era a de 
propriedade). E cabia ao professor guiar a criança, de modo que ela identificasse os 
preceitos por si mesma. A educação negativa (uma de suas ideias centrais na 
educação) seria construída e percebida pela própria criança, sem que ela tivesse 
contato com “aquilo que pervertesse/corrompesse a sociedade”. Esse modelo de 
educação seguia até a idade adulta, para garantir que a criança continuasse “pura” 
(sem contato com o que corrompe a sociedade, ela não seria corrompida). Não havia 
liberdade – se havia era rigorosamente vigiada e disciplinada – mas isso era para o 
bem de todos, inclusive da própria criança. O objetivo era, no fim das contas, 
“domesticar”: se a criança desde cedo permanecesse pura, se lhe dessem a base de 
uma personalidade autônoma, reflexiva, que controlasse os seus impulsos e que 
respeitasse a autoridade do professor (esse veladamente só permitia à criança fazer 
o que ele desejava que ela fizesse), com certeza esta criança seria uma defensora, 
além de participante ativa, de uma sociedade burguesa. Ela seria livre e respeitaria o 
contrato social, sem desvios. (DUSSEL; CARUSO, 2003; CHAMPLIN; BENTES, 
1991). 
Para Pestolazzi, cada indivíduo deveria buscar a verdade, envolvendo tanto a 
experiência social quando a experiência religiosa. Para Froebel, seria a função do 
professor estimular a atividade voluntária por parte dos alunos, o que é a base de toda 
pesquisa. Para Herbart, os alvos éticos, incluindo a liberdade interna e a benevolência, 
deveriam ser um alvo importante da educação. Para John Dewey, a educação não 
deve consistir em apenas preparação para alguma carreira. Em seu sistema, o futuro 
é mais importante que o passado e deve-se buscar a solução dos problemas sociais, 
seguindo métodos científicos. (BRANDÃO, 1981). 
Para Mannheim, em uma sociedade dinâmica como a nossa, só pode ser eficaz 
uma educação para a mudança. Esta consiste na formação do espírito isento de todo 
dogmatismo, que capacite a pessoa para elevar-se acima da corrente dos 
acontecimentos, em vez de arrastar-se por eles. Para Ortega y Gasset, se a educação 
é transformação de uma realidade, de acordo com uma ideia melhor que possuímos, 
e se a educação só pode ser de caráter social, resultará que a pedagogia é a ciência 
30 
 
de transformar a sociedade. Para Durkheim, a educação é a ação exercida pelas 
gerações adultas sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a 
vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver na criança certo número de estados 
físicos, intelectuais e morais reclamados pela sociedade política no seu conjunto e 
pelo meio espacial a que a criança, particularmente, se destina. (BRANDÃO, 1981). 
Para Brandão (1981), “a educação pode existir livre e, entre todos, pode ser 
uma das maneiras que as pessoas criaram para tornar comum, como saber, como 
ideia ou crença aquilo que é comunitário como bem, como trabalho ou como vida”. É, 
assim, uma fração do modo de vida3. Ele ainda completa, afirmando que educação é: 
“[...] como outras, uma fração do modo de vida dos grupos sociais que a criam e 
recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em sua sociedade. Formas de 
educação que produzem e praticam, para que elas reproduzam, entre todos os que 
ensinam-e-aprendem, o saber que atravessa as palavras da tribo, os códigos sociais 
de conduta, as regras do trabalho, os segredos da arte ou da religião, do artesanato ou 
da tecnologia que qualquer povo precisa para reinventar, todos os dias, a vida do grupo 
e a de cada um de seus sujeitos, através de trocas sem fim com a natureza e entre os 
homens, trocas que existem dentro do mundo social onde a própria educação habita, 
e desde onde ajuda a explicar — às vezes a ocultar, às vezes a inculcar — de geração 
em geração, a necessidade da existência de sua ordem”. (BRANDÃO, 1981, p. 33). 
Diante de tantas considerações, podemos fazer alguns apontamentos e tentar 
achar um meio-termo. A educação é um fenômeno social. Por isso, é o ser humano 
que cria e que transforma, com o trabalho e a (sua) consciência, partes da natureza 
em invenções de sua cultura (por meio do tempo e da comunicação constante consigo 
e com os outros). No caso da educação, são as diversas situações, de aprender e 
ensinar, cotidianas e sociais, que vão conduzindo a sua mudança. Afinal, para ajustar 
uma criança à sua comunidade, ela precisa ser educada de acordo com os valores 
(que se alteram ao longo da história) da sua determinada tribo. 
Na aldeia, todos de alguma forma se envolvem com a criação dos seus filhos. 
Nas outras sociedades, a educação é tratada diferente. Muitos, por exemplo, 
nomearam interventores específicos e com certo grau de formação para ensinar os 
pequenos. Os espaços, a forma, o conteúdo, o que se ensina, enfim – tudo varia. O 
que é interessante observar é que, em nenhuma sociedade, primária ou complexa, as 
pessoas crescem a esmo e aprendem ao acaso4. A educação é uma fração da 
 
3 É por isso que os índios citados no exemplo anterior sabiam que a educação do colonizador e seu 
modo de vida não serviam para a sua cultura e para seu povo. 
4 E por conta disso, todas estão associadas a uma ideologia e a um projeto. Falaremos disso em breve. 
31 
 
experiência endoculturativa. Isto é, ela aparece sempre que há relações entre pessoas 
que aprendem e ensinam. (BRANDÃO, 1981). 
Para Brandão, por exemplo, “quando um povo alcança um estágio complexo 
de organização social e cultural, quando ele enfrenta a questão da divisão social do 
trabalho e, portanto, do poder, é que ele começa a viver e a pensar como problema 
as formas e os processos da transmissão do saber”. Aliás, essa questão é facilmentecomprovada. A escrita surgiu em sociedades economicamente ricas, pois os grandes 
proprietários (no caso, principalmente reis e governantes) precisavam registrar o que 
tinham. É assim, então, que surge a escola. 
Mesmo em algumas sociedades primitivas, quando o trabalho que produz os 
bens e quando o poder que reproduz a ordem são divididos e começam a gerar 
hierarquias sociais, também o saber comum da tribo se divide. Começa-se a distribuir 
desigualmente e pode passar a servir ao uso político de reforçar a diferença no lugar 
de um saber anterior. 
Emergem tipos e graus de saber que correspondem desigualmente a diferentes 
categorias de sujeito (o rei, o sacerdote), cada um de acordo com sua posição social 
no sistema. É nesse cenário que surge a escola5. 
Caso pesquisemos em algum dicionário, a definição para o verbete “escola” 
que encontraremos é esta: 
ESCOLA s.f Estabelecimento onde se ensina: ir à escola / Conjunto dos adeptos de 
um mestre ou de uma doutrina filosófica, literária, etc.; essa própria doutrina: a escola 
racionalista / Conjunto dos artistas de uma mesma nação, de uma mesma cidade, de 
uma mesma tendência: a escola francesa, a escola de Paris; a escola do Recife; a 
escola impressionista. / O que proporciona instrução, experiência: a obra de Corneille 
é uma escola de grandeza. // Estar em boa escola, conviver com pessoas idôneas. // 
Fazer escola, ter muitos seguidores. (HOUAISS, 1987, p. 326). 
Escola, em si, é o ambiente onde se ensina. Porém, é mais do que isso: é uma 
instituição social. E o seu surgimento tem um intuito, que é cumprir as exigências 
sociais de formação de tipos concretos de pessoas na e para a sociedade. A 
educação, portanto, é prática social que produz sujeitos sociais. E essa prática 
acontece na escola. 
 
5 Em certo momento, inclusive, a educação da comunidade, que até então reproduzia a igualdade, 
passa a reproduzir a desigualdade devido a essas diferenças que são tratadas como naturais. É a 
educação que separa o nobre do plebeu. 
32 
 
Esse fenômeno do surgimento da escola é um modo próprio de educar – por 
isso, é diferente de uma cultura para outra – mas, em todo caso, necessária à vida e 
à reprodução da ordem de cada tipo de sociedade, em cada momento de sua história. 
A escola não é neutra nem pura. O seu próprio surgimento já é um indicativo 
de que ela possui um propósito. A ideia de que não existe coisa alguma de social na 
educação; de que, como a arte, ela é “pura” e não deve ser corrompida por interesses 
e controles sociais, pode ocultar o interesse político de usar a educação como uma 
arma de controle e dizer que ela não tem nada a ver com isso. Mas o desvendamento 
de que a escola é uma prática social pode ser também feito numa direção ou noutra 
e, tal como vimos antes, pode se dividir em ideias opostas, situadas de um lado ou de 
outro da questão. 
As armas não tinham conseguido submeter os povos inimigos de qualquer 
nação a não ser parcialmente. (BRANDÃO, 1981). É responsabilidade da educação, 
por meio da escola, institucionalizar o domínio. Todos esses processos de domínio ou 
consolidação de poder têm, como pano de fundo, uma ideologia. 
Quando falamos de ideologia, temos que nos atentar ao fato de que existem 
várias concepções. E antes de explicar as concepções e os conceitos com os quais 
deparamos, quando falamos de “ideologia”, encontramos um conceito sociológico 
muito forte que é difundido no senso comum. Aliás, podemos dizer que o debate 
público sobre ideologia atribui como conceito apenas o significado do verbete 
“ideologia”. 
Sociologicamente, ideologia é um conjunto de ideias convergentes de ordem 
política, econômica e social, como um sistema de ideias sustentadas por um grupo 
social, sobre as quais eles refletem, racionalizam e defendem os próprios interesses 
ou compromissos institucionais que sejam morais, religiosos ou de qualquer outra 
natureza social. Segundo a maioria dos dicionários, ideologia também pode ser 
significada como uma religião. Russell Norman Champlin e João Marques Bentes 
(1991), por exemplo, trabalham com essa conceituação de ideologia. Para eles, “em 
sentido positivo, ideologia significa qualquer sistema de ideias e normas que orienta a 
maneira de pensar e de agir das pessoas. Aponta para ideias e maneiras de pensar 
que caracterizam um grupo particular, bem como os ideais que guiam a conduta desse 
grupo”. 
33 
 
Segundo Thompson (2000), é possível identificar dois tipos de concepção de 
ideologia: uma crítica e outra neutra. A concepção neutra considera algum fenômeno 
como ideológico um conjunto de ideias, sem necessariamente dizer se elas são 
ilusórias (no sentido de enganar). Por outro lado, a concepção crítica é aquela que vê 
um sentido negativo ou pejorativo em qualquer fenômeno dito “ideológico”. 
Um exemplo de concepção crítica de ideologia é a que relaciona o pensador 
francês Destutt de Tracy com o momento político de Napoleão Bonaparte na França 
oitocentista. Quem hoje usa o controvertido e pejorativo termo ideologia sem conhecer 
sua origem ficará surpreso ao descobrir que Tracy (1817) usou-o para nomear a sua 
“ciência das ideias”, cujo objeto de estudo seriam a origem e a formação das ideias. 
A idéologie seria não apenas uma ciência, mas uma ciência da natureza vinculada ou 
subordinada à zoologia. Para ele, “só temos conhecimento incompleto de um animal 
se não conhecermos suas faculdades intelectuais. A ideologia faz parte da Zoologia, 
e é especialmente no homem que essa parte é importante e merece ser aprofundada”. 
(p. 5). 
A depreciação do termo ideologia ter-se-ia originado com Napoleão Bonaparte. 
O imperador conquistou o poder com o apoio dos intelectuais filiados ao projeto de 
Tracy, os quais logo se decepcionaram com o caráter autoritário de Napoleão. Não 
bastasse o afastamento, as opiniões dos ideólogos destoavam das ambições políticas 
do imperador. 
O sentido pejorativo dos termos “ideologia” e “ideólogos” veio de uma declaração de 
Napoleão, que, num discurso ao Conselho de Estado em 1812, declarou: “Todas as 
desgraças que afligem nossa bela França devem ser atribuídas à ideologia, essa 
tenebrosa metafísica que, buscando com sutilezas as causas primeiras, quer fundar 
sobre suas bases a legislação dos povos, em vez de adaptar as leis ao conhecimento 
do coração humano e às lições da história”. Com isso, Bonaparte invertia a imagem 
que os ideólogos tinham de si mesmos: eles, que se consideravam materialistas, 
realistas e antimetafísicos, foram perversamente chamados de “tenebrosos 
metafísicos”, ignorantes do realismo político que adapta as leis ao coração humano e 
às lições da história. (CHAUÍ, 2008, p. 27-28). 
A despeito disso, a conceituação não apenas mais pejorativa, como também a 
que se tornou mais difundida, é a do filósofo alemão Karl Marx. Em consonância com 
Napoleão, Marx também atribuiu caráter fraudulento ao termo ideologia: 
A produção das ideias, das representações e da consciência está, a princípio, direta e 
intimamente ligada à atividade material dos homens; ela é a linguagem da vida real. As 
representações, o pensamento, o comércio intelectual dos homens aparecem aqui 
ainda como a emanação direta de seu comportamento material. O mesmo acontece 
com a produção intelectual tal como se apresenta na linguagem da política, na das leis, 
da moral, da religião, da metafísica etc. de todo um povo. E, se, em toda a ideologia, 
34 
 
os homens e suas relações nos aparecem de cabeça para baixo como em uma câmera 
escura, esse fenômeno decorre de seu processo de vida histórico, exatamente como a 
inversão dos objetos na retina decorre de seu processo de vida diretamente físico. 
(1998, p. 18-19). 
Um exemplo da concepção neutra de ideologia é a reavaliação do conceito 
marxista por Lênin e Lukács. Nesse processo de “neutralização” do sentido negativo 
dado por Marx à ideologia, Lênin e Lukács a compreendem como sendo “ideias que 
expressame promovem os respectivos interesses das principais classes engajadas 
no conflito” (THOMPSON, 2000, p. 64). Nesse sentido, é possível falar em ideologia 
do burguesa e ideologia do proletariado. Aqui existe a compreensão de um conjunto 
de ideias como “arma política” e não uma crítica ao “conjunto dos pensamentos”. 
Já para a Escola de Frankfurt, a ideologia perpassa o racionalismo técnico-
científico como a única forma de conhecimento verdadeiro, universal, objetivo e 
neutro, apto a reger a existência social dos homens, assegurando não só a unidade 
do saber humano, mas também a felicidade dos homens através dos instrumentos 
técnicos que viabiliza. (SEVERINO, 1986. p. 26). Nesse sentido, fala-se assim da 
compreensão do real e da imparcialidade da ciência. 
Contudo, a oposição da ideologia à verdade e à realidade pode ser apresentada 
também em termos de oposição à ciência. De um lado existe a ideologia, com suas 
proposições interesseiras e falsas, e do outro existe a ciência, com suas proposições 
abnegadas e verdadeiras. Essa simples ideia já é, em si mesma, ideológica. 
Como explicou o sociólogo estadunidense Robert Merton (2013), a quem se 
atribui a paternidade da sociologia da ciência, os cientistas são constrangidos por 
fatores extracientíficos que podem não apenas influenciar como também determinar 
o conteúdo de suas teorias. Dentre tais fatores extracientíficos, um dos mais 
relevantes é a ideologia, aqui entendida como a perspectiva e os valores a partir dos 
quais o cientista encara o mundo. 
[...] se torna cada vez mais aparente que a gênese social do pensamento não tem 
ligação necessária com sua validade ou falsidade. Sustenta-se que o 
Seinsverbundenheit (pertencimento existencial) do pensamento está demonstrando 
quando se pode mostrar que, em certos domínios, o conhecimento não se desenvolve 
de acordo com as leis imanentes de crescimento (baseadas na observação e na 
lógica), mas que, em certas conjunturas, fatores extrateóricos de vários tipos, 
usualmente nomeados Seinsfaktoren (fatores de existência), determinam a aparência, 
a forma e, em certos casos, inclusive o conteúdo e a estrutura lógica desse 
conhecimento. Esses fatores não teóricos podem interferir no pensamento de muitos 
modos: orientando a percepção do problema, determinando sua formulação teórica, 
fixando os pressupostos e valores que afetam em grau considerável a escolha dos 
materiais e dos problemas e sendo envolvidos no processo de verificação. (p. 95-96). 
35 
 
Existem ainda outras definições de ideologias. Russell Norman Champlin e 
João Marques Bentes (1991) também definem o conceito de ideologia para Karl 
Mannheim: “[Mannheim] usava o termo para aludir a algum conjunto de crenças onde 
aparece uma diferença entre motivos anunciados e motivos subjacentes. Uma 
ideologia parcial é aquela que tem uma origem psicológica. Uma ideologia total é 
aquela que tem suas origens nas condições sociais” (p. 206). 
No entanto, para este trabalho, não é com nenhum desses conceitos de 
ideologia que estamos trabalhando. Ideologia é um ideário pertencente a uma época. 
Então, a ideologia que se expressa hoje seria uma representação do status quo. Em 
suma, ideologia é a totalidade das formas de consciência social. Isso abrange o 
sistema de ideias que legitima o poder econômico da classe dominante (ideologia 
burguesa). É assim que Marilena Chauí (2008) define ideologia, usando como base a 
compreensão marxista do fenômeno. Para Chauí (1980), ideologia é um corpus de 
representações e de normas de como se deve agir, pensar e sentir. 
Assim sendo, a ideologia é um processo oculto, que produz e conserva a 
sociedade, sem a conotação de falsidade, mas uma aparência, uma representação 
do próprio ser. Dessa forma, o “ponto de vista particular da classe que exerce a 
dominação aparece para todos os sujeitos sociais e políticos como universal e não 
como interesse particular de uma classe determinada” (CHAUÍ, 2007, p. 31). 
A relação entre ideologia e educação é que, em sociedades complexas, a 
escola tende a refletir os fenômenos sociais que acontecem fora dela. Não 
necessariamente a escola reproduz ipsis litteris o que acontece na sociedade – a 
questão é que o ideário social permeia a forma pela qual o conteúdo (além da 
organização do espaço e do tempo) é ensinado na escola. Não só isso, também 
influencia na formação do currículo e da escolha sobre o que deve se falar e 
apresentar. Segundo Tomaz Tadeu da Silva (2010), currículo gira em torno da questão 
“o que ensinar?”. Obviamente, na escola deve-se ensinar algo. E o currículo é a 
“ciência” que estuda o que ensinar. Todas as discussões curriculares giram em torno 
desta questão - que sujeitos formar, que matérias e conteúdo repassar, o que abordar 
na aula, como a aula deve ser, qual o propósito de ensinar um conteúdo “x” e não “y” 
etc. É, em simples palavras, o planejamento, a teoria. Mesmo assim, um currículo não 
se constrói a esmo. É necessário escolher o que falar. Devido a esse fato: (1) o 
currículo está intrinsicamente ligado à escola; e (2) é entendido como espaço de 
36 
 
disputa e um lugar onde sempre ocorrem conflitos. Os temas currículo, poder e 
identidade estão mutuamente interligados. 
Qualquer conteúdo que se ensina na escola tem uma intenção. A prática 
cotidiana, a definição de tempos e espaços e toda a ritualística da escola fundamenta-
se em ideologias e concepções de mundo, de ser humano e de educação. Ou seja, 
as práticas educativas são intencionais. 
A escola serve para formar cidadãos. Esses devem dominar temas relativos à 
vida em sociedade: os valores da democracia, a importância do trabalho, as 
disciplinas técnicas para o mercado, entre coisas do gênero6. Portanto, todo 
movimento político que se dispõe a mudar a sociedade, indiretamente, possui 
propostas para a educação. 
Nessa altura, é importante dizer que não são todos os movimentos que se 
reconhecem como ideológicos. E por se considerarem assim, ausentes de ideologias 
específicas, creem que não possuem propostas com o intuito de mudar a sociedade. 
Um exemplo são os movimentos conservadores, objeto de análise deste trabalho. 
Michael Oakeshott, um dos principais herdeiros do conservadorismo clássico, 
defende que o conservadorismo 
não é uma crença nem uma doutrina, mas uma forma de ser e estar. Ser conservador 
significa uma inclinação a pensar e a comportar-se de determinada forma; é preferir 
certas formas de conduta e certas condições das circunstâncias humanas a outras; é 
dispor-se a tomar determinadas decisões. [...] Distinguir as características gerais dessa 
atitude não é tarefa difícil, embora elas tenham sido constantemente confundidas. Elas 
resumem-se a uma propensão ao uso e gozo daquilo que se tem, em vez do desejo ou 
busca de outra coisa, a aprazer-se mais com o presente do que com o passado ou o 
futuro. [...] Assim, ser conservador é preferir o familiar ao desconhecido, preferir o 
tentado ao não tentado, o facto ao mistério, o real ao possível, o limitado ao ilimitado, 
o próximo ao distante, o suficiente ao superabundante, o conveniente ao perfeito, a 
felicidade presente à utópica. [...] Para além disso, ser conservador não é apenas ser 
avesso à mudança [...] é também a forma de nos adaptarmos às mudanças, algo que 
foi imposto a todos os homens. (2014, p. 4-6) 
Russel Kirk, que também é um autor conservador, desenvolve uma concepção 
semelhante: 
Não sendo nem uma religião nem uma ideologia, o conjunto de opiniões designado 
como conservadorismo não possui nem uma Escritura Sagrada, nem um Das Kapital, 
como fonte de dogmas. [...] Talvez fosse adequado, na maioria das vezes, utilizar a 
palavra 'conservador' mormente como adjetivo. Não existe um modelo conservador, e 
o conservadorismo é a negação da ideologia: é um estado de espírito, um tipo de 
 
6 Essa discussão dá origem a várias perguntas, tais como: qual é o papel de educação? Para que ela 
e a quem serve?É a escola que cria, reproduz ou mantém o status quo? 
37 
 
caráter, um modo de ver a ordem civil e social. A posição chamada conservadora se 
sustenta em um conjunto de sentimentos, e não em um sistema de dogmas ideológicos. 
[...] Para a preservação de uma diversidade saudável em qualquer civilização, devem 
remanescer ordens e classes, diferenças na condição material e muitos tipos de 
desigualdade. (2014, p.102-108) 
Contudo, fenômenos conservadores não se restringem a essa perspectiva 
definida. Ferreira e Botelho fazem uma conceituação do conservadorismo de acordo 
com a perspectiva que apresentaremos: 
O pensamento conservador surge e se desenvolve no contexto da moderna sociedade 
de classes, marcado por seu dinamismo, por suas múltiplas e sucessivas transições; 
como função dessa sociedade, não é um sistema fechado e pronto, mas sim um modo 
de pensar em contínuo processo de desenvolvimento [...]. Estruturado como reação ao 
Iluminismo e às grandes transformações impostas pela Revolução Francesa e pela 
Revolução Industrial, o conservadorismo valoriza formas de vida e de organização 
social passadas, cujas raízes se situam na Idade Média. É comum entre os 
conservadores a importância dada à religião; a valorização das associações 
intermediárias situadas entre o Estado e os indivíduos (família, aldeia tradicional, 
corporação) e a correlata crítica à centralização estatal e ao individualismo moderno; o 
apreço às hierarquias e a aversão ao igualitarismo em suas várias manifestações; o 
espectro da desorganização social visto como consequência das mudanças vividas 
pela sociedade ocidental. (2010, p. 11, 12). 
A razão para a escolha dessa conceituação de conservadorismo se dá porque, 
apesar de muitos conservadores rogarem para si mesmos a posição de neutralidade 
e ceticismo, bem como contrários em relação a uma mudança radical e abrupta da 
sociedade, muitos são, na verdade, reacionários. (BRAZ, 2017). 
Nas ciências sociais, particularmente na ciência política, podemos definir como 
reacionário alguém (ou uma instituição) que advoga por um retorno a um estado (no 
sentido de situação) político anterior da sociedade. Reacionários creem que o período 
atual, a contemporaneidade, está degenerada. Assim, a melhor solução, para eles, é 
voltar a alguma época passado. Não menos importante, vale citar que reacionário é o 
antônimo de revolucionário. Halimi define ambos os termos da seguinte forma: 
Eram duas correntes de intelectuais que se defrontavam. De um lado, aqueles que, sob 
o discurso da “reforma”, da “abertura”, da ruptura com os “tabus”, saudavam o 
movimento do mundo – e os avanços da esquerda, quando das eleições. Com o apoio 
da maioria dos meios de comunicação, estavam sempre dispostos a se mobilizar em 
nome de um “progresso” que incentivava as estruturas econômicas que seu 
pensamento único popularizara. Na outra corrente estavam aqueles a quem essa 
“modernidade” preocupava, ou repugnava, pois viam nela uma forma de regressão na 
organização da sociedade e na solidariedade que a costura. Eram considerados 
“reacionários” pelos primeiros. (HALIMI, 2003). 
Situar os movimentos conservadores brasileiros como reacionários não é um 
juízo de valor negativo. Essa “ressalva” se dá, pois, ao analisar particularmente o 
fenômeno conservador brasileiro, podemos observar uma ascensão (ou até mesmo 
38 
 
uma predominância) de discursos e movimentos cristãos, autoritários e 
antiacadêmicos. O bolsolavismo é o principal ramo que coaduna essa multifacetação 
do conservadorismo brasileiro. Mas, antes de apresentarmos sua história e contexto, 
é necessário detalhar quais são esses discursos e movimentos “cristãos”, 
“autoritários” e “antiacadêmicos”. 
Sobre movimentos cristãos, podemos citar religiosos católicos e evangélicos 
que, por exemplo, posicionam-se contra a casamento civil entre pessoas do mesmo 
sexo7 e a descriminalização (ou legalização) do uso das drogas. A razão para a 
oposição a essas pautas é de natureza religiosa. Para alguns deles, o estado não 
deve ser laico. 
Sobre grupos autoritários, podemos citar os que defendem projetos como 
intervenção militar (nos moldes da Ditadura Militar, 1964-1985)8, alteração do regime 
republicano e presidencialista para uma monarquia9 ou até mesmo o integralismo e a 
filosofia política de Plínio Salgado10. Não é raro, também, achar associações 
neonazistas nas ditas fileiras conservadoras11. 
Ideias antiacadêmicas (popularmente conhecidas como “teorias da 
conspiração”) são reforçadas em alguns movimentos conservadores brasileiros. As 
principais e mais populares versam sobre conjuntos de estratégias e movimentos que, 
desenvolvidos por setores de esquerda, grupos comunistas ou países socialistas 
(como China, Cuba e Coréia do Norte) objetivam a destruição da cultura ocidental ou 
 
7 Comportamentos dissonantes da heterossexualidade costumam ser objeto de oposição por parte das 
correntes religiosas hegemônicas e movimentos conservadores no Brasil. Um exemplo muito 
expressivo é a histórica obstrução dos direitos civis das populações LGBT pela dita bancada 
evangélica. (NATIVIDADE; OLIVEIRA, 2009). 
8 Um pequeno grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro realizou no dia 28 de junho de 2020, 
em Brasília, um protesto em que pediu intervenção militar com Bolsonaro no poder. O ato ocorreu em 
frente ao Quartel General do Exército. Outras manifestações, antes desta específica, já haviam ocorrido 
também, principalmente em redes sociais. (URIBE et al., 2020). 
9 Uma reportagem da BBC Brasil revelou o avanço do movimento monarquista sobre o Congresso e o 
governo Bolsonaro. (FELLET, 2019). 
10 O Integralismo - versão brasileira do fascismo italiano dos anos 1930 – permanece vivo e presente 
no cenário sociopolítico brasileiro e o presidente Jair Bolsonaro, “uma das figuras políticas recentes 
mais próximas ao fascismo histórico”, foi eleito com o apoio de integrantes deste movimento. 
(GONÇALVES; NETO, 2020). 
11 Em estudo realizado pela pesquisadora Adriana Dias, aproximadamente cerca de 150 mil brasileiros 
visitam mensalmente mais de cem páginas com conteúdos nazistas. Segundo Dias, desse total, 15 mil 
são líderes e coordenam as incitações de ódio na internet. Os grupos “físicos” seriam de pequeno porte 
e, segundo a autora, teriam entre 15 a 20 pessoas. (ANDRADE, 2013). 
39 
 
até mesmo do Brasil enquanto nação (exemplos desses grupos: marxismo cultural, 
Foro de São Paulo, Comissão Trilateral, Nova Ordem Mundial, entre outros)12. 
E mantendo uma visão sob influência da religião cristã, muitos conservadores 
reforçam ideias que se revelam anticientíficas13. Figuras públicas conservadoras – 
membros, ministros e servidores do governo Bolsonaro, inclusive – constantemente 
apoiam a ideia de que: “a Terra é plana”14; “as vacinas causam autismo e são 
prejudiciais à saúde da população”15; “o aquecimento global não existe”16; entre 
outras. Vale ressaltar que as visões anticientíficas não se restringem somente às 
ciências naturais, mas sim a qualquer campo do conhecimento que seja acadêmico. 
As metodologias que sustentam a história e a filosofia (ciências humanas) são 
também falseadas. Para muitos conservadores brasileiros: “Stálin foi o arquiteto da 
Segunda Guerra Mundial”17; “o nazismo é um movimento de esquerda com origens 
marxistas”18; “a escravização foi benéfica para os negros africanos”19; entre diversas 
outras. 
 A origem de muitas dessas ideias é a obra e a falas públicas do escritor Olavo 
de Carvalho. Olavo Luiz Pimentel de Carvalho nasceu em Campinas (SP) no dia 29 
de abril de 1947, sendo o segundo filho do Luiz Gonzaga de Carvalho, advogado, e 
 
12 O livro “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, de certa forma a bíblia do 
conservadorismo brasileiro e que será citado adiante, traz vários artigos que ressaltam essas ideias e 
teorias. 
13 Apesar de que ser anticientífico não é, necessariamente, sinônimo de que algo está

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