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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS Campus Belo Horizonte Faculdade de Educação CAROLINE DUAILIBI FELICIO DÉBORA REZENDE DO CARMO AZEVEDO FRANCIS DÁVILA SOUZA COSTA LUCAS CARNEIRO COSTA AS PROPOSTAS BOLSOLAVISTAS PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA Belo Horizonte Fevereiro/2021 UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS Campus Belo Horizonte Faculdade de Educação CAROLINE DUAILIBI FELÍCIO DÉBORA REZENDE DO CARMO FRANCIS DÁVILA SOUZA COSTA LUCAS CARNEIRO COSTA AS PROPOSTAS BOLSOLAVISTAS PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA Monografia apresentada à Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Minas Gerais como requisito parcial para conclusão da graduação em Pedagogia. Orientadora: Jacqueline da Silva Gonçalves. Belo Horizonte Fevereiro/2021 Dedicamos este trabalho aos educadores progressistas que, em algum momento, foram silenciados em razão de suas posições políticas. AGRADECIMENTOS Agradecemos aos nossos familiares por toda a ajuda e compreensão. Sem eles, não estaríamos aqui e não chegaríamos aonde chegamos. Entendemos que todos se esforçaram para dar tudo o que temos, de modo que somos gratos por nossa educação e criação. Agradecemos a orientadora Jacqueline da Silva Gonçalves. Sua paciência, respeito, compreensão e dedicação foram essenciais para que finalizássemos o trabalho. Agradecemos aos nossos professores, tutores e orientadores. O nosso crescimento intelectual é visível desde o dia em que ingressamos na universidade. O nosso sucesso é produto de todas as intervenções e interações, além do auxílio, dos mais capacitados acadêmicos. Agradecemos às professoras Fabiana da Silva Viana e Elaine Maria da Cunha Morais pelas considerações que fizeram acerca da monografia. Seus conselhos aprimoram o trabalho, deixando-o mais técnico, preciso e consistente. Agradecemos ao amigo Tiago Lima de Alcântara pelas dicas e pontuações sobre a ortografia. Seus conselhos deixaram o texto refinado e claro. Agradecemos, por fim, aos nossos colegas de sala. Todos eles nos ensinaram muito e fizeram companhia num ambiente com ritmo enlouquecedor. “Precisamos de alguém [no MEC] engajado na agenda técnica e na guerra cultural. Espero que ele [o novo ministro da Educação] aceite nossas sugestões e não seja um tecnocrata que dispensa a guerra cultural, permitindo que a agenda esquerdista e globalista prevaleça”. Carlos Jordy, vice-líder do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados. RESUMO O presente trabalho propõe-se a investigar as propostas conservadoras bolsolavistas para a educação brasileira. Entendemos que a escola no Brasil passa por um momento de transição e de desconstrução (ou reconstrução). Na atual conjuntura globalizante, a educação e o trabalho docente estão sendo reconfigurados. A escola tem-se tornado um campo de batalha onde ocorre de forma mais intensa o debate entre progressismo e conservadorismo. A marca do ensino ainda é o tecnicismo, o currículo tem-se adaptado às mudanças dos paradigmas econômicos, a tecnologia está cada vez mais presente nas instituições privadas e muitos teóricos questionam- se se a escola será substituída por práticas educacionais à distância, por modalidades como o homeschooling etc. Sendo assim, no intuito de compreender melhor o contexto atual da escola, levantamos as seguintes questões: quais são as propostas educacionais do grupo político que está no poder? Qual é a concepção de educação e de escola que eles mobilizam e nutrem? Quais são os limites e as possibilidades dessas concepções? Em que fundamentos elas foram construídas? Para responder às questões apresentadas e atingir nossos objetivos, escolhemos realizar uma pesquisa qualitativa. Utilizamos como método a pesquisa documental e a pesquisa bibliográfica. Foi feito um mapeamento da produção científica publicada a partir do ano de 2016 no site Google Scholar, visando a obter dados e informações sobre as propostas bolsolavistas para a educação. A partir da análise dos dados coletados, identificamos quatro propostas que se sobressaem: Escola sem Partido; homeschooling; o combate à “ideologia de gênero”; e escolas cívico-militares. Palavras-chave: bolsolavismo; educação no governo Bolsonaro; educação e ideologia. ABSTRACT This work aims to investigate the conservative “bolsolavista” proposals for brazilian education. We understand that school in Brazil is going through a moment of transition and deconstruction (or reconstruction). In the current global context, education and teaching work are being reconfigured. The school has become a battleground where the debate between progressivism and conservatism takes place more intensely. The hallmark of teaching is still technicality, the curriculum has adapted to changes in economic paradigms, technology is increasingly present in private institutions and many theorists question whether the school will be replaced by distance educational practices. Therefore, in order to better understand the current context of the school, we raise the following questions: what are the educational proposals of the political group in power? What is the concept of education and school that they mobilize and nurture? What are the limits and possibilities of these conceptions? On what fundamentals were they built? To answer the questions presented and achieve our objectives, we chose to conduct a qualitative research. We use documentary and bibliographic research as method. A mapping of the scientific production published from the year 2016 on the Google Scholar website was made, in order to obtain data and information on the scholarship proposals for education. From the analysis of the collected data, we identified four proposals that stand out: Escola sem Partido; homeschooling; gender ideology; and civic-military schools. Keywords: bolsolavism; education in the Bolsonaro government; education and ideology. Sumário 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 10 2. METODOLOGIA ............................................................................................................................ 14 3. CAPÍTULO 1: CONCEITUAÇÕES GERAIS ............................................................................. 27 4. CAPÍTULO 2: APRESENTAÇÃO DO CONTEXTO ATUAL BRASILEIRO ........................ 48 5. CAPÍTULO 3: AS PROPOSTAS BOLSOLAVISTAS PARA A EDUCAÇÃO ..................... 56 5.1. ESCOLA SEM PARTIDO.......................................................................................................... 56 5.2. IDEOLOGIA DE GÊNERO........................................................................................................ 61 5.3. HOMESCHOOLING ................................................................................................................... 63 5.4. ESCOLAS CÍVICO-MILITARES .............................................................................................. 66 6. ADENDO: AS PROPOSTAS BOLSOLAVISTAS E A BNCC................................................ 71 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 75 8. REFERÊNCIAS .............................................................................................................................. 78 10 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho propõe-se a investigar e apresentar as propostas conservadoras bolsolavistas para a educação brasileira. Entendemos que a escola no Brasil passa por um momento de transição e de desconstrução (ou reconstrução). Recentemente,vários grupos e movimentos políticos elaboram, incorporam e buscam inserir na escola as suas teorias, práticas ou ideias. A escola tem-se tornado um campo de batalha onde ocorre de forma mais intensa o debate entre progressismo e conservadorismo. O momento político, social e econômico do país está bastante polarizado entre essas duas vertentes. (BRUGNAGO; CHAIA, 2014). Na atual conjuntura globalizante, a educação e o trabalho docente estão sendo reconfigurados. (BARRETO, 2004). A marca do ensino ainda é o tecnicismo, o currículo tem-se adaptado às mudanças dos paradigmas econômicos, a tecnologia está cada vez mais presente nas instituições privadas e muitos teóricos questionam- se se a escola será substituída por práticas educacionais à distância, por modalidades como o homeschooling etc. (CHAVES, 1998). Porém, parece-nos que essa mudança da escola no Brasil vem acrescida de um debate político agressivo. A polarização política entre esquerda e direita cresce desde os movimentos populares de junho de 2013. Esses grupos enxergam na escola tanto uma necessidade para criar sujeitos críticos quanto um lugar onde se disseminam práticas e ideologias imorais. Com essas visões, tais grupos buscam formatar a escola de acordo com seu pensamento. Daí, nascem diversos projetos com essa ideia. Os projetos do movimento Escola sem Partido são um exemplo. (MACEDO, 2017). Por essa razão, dissemos anteriormente que, por mais que a escola esteja em mudança, no Brasil, essa mudança vem envolvida da polarização. O que queremos dizer é que os ideólogos e grupos de poder querem fazer da escola uma “fábrica de mudança de pensamentos”. É o que pensa o filósofo francês Michel Foucault. Para ele, a escola é uma das “instituições de sequestro”, como o hospital, o quartel e a prisão. “São aquelas instituições que retiram compulsoriamente os indivíduos do espaço familiar ou social mais amplo e os internam, durante um período longo, para moldar suas condutas, disciplinar seus comportamentos e formatar aquilo que pensam”. (VEIGA-NETO, 2003). 11 As propostas conservadoras para a educação e para a escola brasileira são demasiado “híbridas” e “confusas”. Basicamente, o propósito é substituir as ideias progressistas que, segundo eles, estão enraizadas na escola. Todavia, como proposição, não se tem algo concreto: fala-se em militarização das escolas ao mesmo tempo em que se fala em homeschooling. Também, fala-se em Escola sem Partido ao mesmo tempo em que se fala sobre ensino confessional com aulas de ética e pensamento religioso. Soma-se tudo isso ao fato de que hoje o país é governado por um movimento ideológico conservador. Quem está na Presidência da República possui um projeto educacional próprio para o país – e isso em todas as áreas e pastas, como Segurança e Justiça, Relações Exteriores e Direitos Humanos1. (FALAK, 2018). Utilizaremos o termo “bolsolavismo” para denominar esse movimento. O termo é a junção do sobrenome “Bolsonaro” e o termo “Olavismo”, referindo-se ao presidente atual do Brasil e ao ideário defendido pelo escritor, jornalística e filósofo Olavo de Carvalho. É importante esclarecer que o termo não é uma invenção nossa. A palavra “bolsolavismo” já está presente em trabalhos acadêmicos e designam o mesmo sentido que demos. Um desses trabalhos, “Uma Janela no Tempo: a ascensão do Bolsonarismo no Brasil”, artigo científico escrito por Fernanda Rios Petrarca, traz informações sobre como esse ideário foi construído: No meio político os alunos a darem grande projeção às ideias de Olavo foram os três filhos mais velhos do presidente Jair Bolsonaro: Flávio Bolsonaro (senador), Eduardo Bolsonaro (deputado federal) e Carlos Bolsonaro (vereador pelo município do Rio de Janeiro). A integração entre o olavismo e a família Bolsonaro deu origem ao que boa parte dos analistas chamam de “bolsolavismo”, representado pela intensa articulação com a direita internacional. Essa articulação ampliou espaço de atuação no governo com nomeações para diversos setores tais como: o setor das relações internacionais, na figura do Ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, é aquele que mais associado está ao olavismo. Formam o seu time o olavista Filipe Martins, assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais. [...] Destacam-se também os assessores pessoais do gabinete do Presidente, portanto diretamente vinculado a ele, e associados aos filhos de Bolsonaro. Esse grupo de assessores, liderado por Carlos Bolsonaro e orientado por Olavo de Carvalho, deu origem ao que se designou chamar de “gabinete do ódio” ou “gabinete ideológico”. Através deste gabinete, tais assessores não só orientam o presidente como comandam também várias páginas nas redes sociais [...] cujo objetivo é propagar uma campanha de intensa 1 Magda Soares, acadêmica referência em alfabetização, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, afirmou “estou com 86 anos e entrei na Educação quando estava com menos de 20 anos. Estou pelejando há décadas. Já passei por várias fases, mas nunca nesse tempo todo – e olha que eu, como aluna, vivi o Estado Novo e passei, já como professora, pela ditadura – nunca vi um período tão assustador como esse de agora na Educação. (SEMIS, 2019). 12 polarização e agressão aos adversários produzindo conteúdo especialmente para sua base eleitoral. (2021, p. 366-367). Outro trabalho acadêmico que traz o termo bolsolavismo é da área da psicologia (a tese de doutorado “Sobre a violência no Brasil: questões e problemas para o direito e a psicologia”, de Fabio Henrique Araújo Martins). Porém, o comentário é restrito a explicar o conceito dentro do cenário político brasileiro. Para o autor, “bolsolavismo” é a ala ideológica do governo representada por Ernesto de Araújo e o próprio Olavo de Carvalho. Junto com outros “4 Bs” (que são bala, boi, bíblia, bancos), sintetizam as forças políticas que atualmente controlam o estado no Brasil (MARTINS, 2020). Olavo de Carvalho e Jair Bolsonaro atuam em conjunto. O primeiro é o dono e criador da “teoria” que organiza atualmente o conservadorismo brasileiro. Sua obra e ideias influenciaram radicalmente os movimentos da direita política. Já Bolsonaro é quem mantém a ação política, transportando o conteúdo teórico olavista para a prática. Explicaremos a relação entre ambos adiante, mas no momento é importante citar que ambos acreditam que estamos em uma guerra cultural. De um lado, estão eles – conservadores que lutam pela preservação da família, das instituições, dos bons costumes e da liberdade (de expressão, de comércio, entre outras). Do outro lado, conforme apregoam, está o marxismo cultural, grupo composto por setores da sociedade que quer “destruir” a civilização ocidental para implantar o socialismo. Bolsolavistas acreditam que todos os males da cultura – feminismo, ação afirmativa, liberação sexual, direitos LGBTQ, decadência da educação tradicional e ambientalismo – são responsabilidade do marxismo cultural, criado pela Escola de Frankfurt. Os adeptos do marxismo cultural são acusados de ensinar sexo e homossexualidade às crianças, promover a destruição da família, controlar os meios de comunicação e promover o engodo de massas, esvaziar as igrejas e incentivar o consumo de bebidas (COSTA, 2020, p. 40). Bolsonaro, às vésperas da posse como presidente, prometeu “combater o lixo marxista que se instalou nas instituições de ensino”. Uma das falas mais recorrentes dos membros do governo e de seus apoiadores tem sido a de que a vitória eleitoral de Bolsonaro teria significado a derrota do “marxismo cultural”, inspiração teórica dos governos de FHC, Lula e Dilma. Segundo o Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, em um artigo publicado logo após a posse do governo, “o marxismo cultural governou por dentro de um sistema aparentemente liberal e democrático, construído por meio de corrupção,intimidação e controle de pensamento”. Ricardo Vélez Rodríguez, na sua posse como Ministro da Educação, afirmou que o “marxismo cultural é uma coisa que faz mal para a saúde. A saúde da mente, do corpo e da alma”. (SILVA, 2020, p. 77). 13 Todas as ações do governo Bolsonaro para a educação visam a combater o ideário progressista. Sendo assim, no intuito de compreender melhor o contexto atual da escola, levantamos as seguintes questões: quais são as propostas educacionais do grupo político que está no poder? Qual é a concepção de educação e de escola que eles mobilizam e nutrem? Quais são os limites e as possibilidades dessas concepções? Em que fundamentos elas foram construídas? Para responder às questões apresentadas e atingir nossos objetivos, escolhemos realizar uma pesquisa qualitativa. Utilizamos como método a pesquisa documental e a pesquisa bibliográfica. Foi feito um mapeamento da produção científica publicada a partir do ano de 2016 no site Google Scholar, visando a obter dados e informações sobre as propostas bolsolavistas para a educação. A partir da análise dos dados coletados, identificamos quatro propostas que se sobressaem: Escola sem Partido; homeschooling; o combate à “ideologia de gênero”; e escolas cívico-militares. Escolhemos o ano de 2016 porque naquele ano ocorreu o impeachment da presidente(a) Dilma Rousseff e coincidiu com o aumento de popularidade de discursos conservadores. A estrutura do trabalho é a seguinte: no capítulo primeiro, fazemos algumas conceituações. Explicamos a concepção de educação, escola e ideologia que adotamos como balizadora das análises; também explicamos o que é conservadorismo (trazendo autores conservadores e que servem de base para a atuação política dos movimentos de direita); e o que é o bolsolavismo, bem como quem são Olavo de Carvalho e Jair Bolsonaro, fundadores e protagonistas da corrente conservadora brasileira (mostraremos como eles se conheceram e começaram a atuar em conjunto). No capítulo segundo, apresentamos a conjuntura contemporânea a partir das manifestações de julho de 2013 até a nomeação do atual ministro da educação, Milton Ribeiro. No capítulo terceiro são apresentadas as propostas bolsolavistas para a educação. Por fim, em último, estão as considerações finais e as referências, respectivamente. 14 2. METODOLOGIA Para dar consistência às discussões propostas pela nossa pesquisa, tomaremos como referência dois trabalhos acadêmicos, sendo duas dissertações de mestrado publicadas no ano de 2018. Lira (2018), em sua pesquisa, explica que o Brasil nos últimos anos tem visto o surgimento de ideologias como o conservadorismo e o fortalecimento de um movimento que pretende controlar o que deve ser dito na escola. Para ele, tais movimentos nascem de reações à suposta doutrinação ideológica promovida por professores nas salas de aulas. Lira (2018) procura identificar as forças políticas e ideológicas que tangenciam as fundamentações e que materializam a discursividade desse movimento. O trabalho será essencial para podermos entender o que está por trás das ideias e movimentos conservadores. Roseno (2018), por sua vez, tem como objetivo em sua pesquisa “compreender a ascensão do Movimento Escola Sem Partido por intermédio da aliança feita com os setores conservadores para excluir e proibir as políticas educacionais em gênero e diversidade sexual no Brasil”. Tal trabalho é importante porque descreve com detalhes como se dá o conflito entre posturas, ideias e posições conservadoras e progressistas. Roseno (2018), em sua pesquisa, também apresenta as ações que estão sendo tomadas pelo Movimento Escola sem Partido para, conforme seus pressupostos conservadores e reacionários, barrar, excluir e proibir qualquer discussão de gênero e de respeito à diversidade cultural. Como foi anunciado na introdução, esse trabalho analisou artigos que visam a discorrer sobre propostas conservadoras bolsolavistas para a educação. Para responder às questões apresentadas na introdução e atingir nossos objetivos, escolhemos realizar uma pesquisa qualitativa (FLICK, 2009) documental e bibliográfica (SILVA; MERCADO, 2015) que se amparou na abordagem da revisão sistemática de literatura. Essa técnica de pesquisa consiste num método de estudo em que se analisa de forma sistêmica vários trabalhos, de gêneros e campos do conhecimento distintos, sobre um determinado tema. A revisão sistemática de literatura pode promover um levantamento de estudos realizados a partir de diferentes contextos e sujeitos (RAMOS et al., 2014). Foi feito um mapeamento da produção 15 científica com foco na que foi publicada a partir do ano de 2016 no site Google Scholar, visando a obter dados e informações sobre as propostas bolsolavistas para a educação. Escolhemos o ano de 2016 porque naquele ano ocorreu o impeachment da presidente(a) Dilma Rousseff e coincidiu com o aumento de popularidade de discursos conservadores. E para complementar a pesquisa de forma geral, procuramos outros conteúdos, como livros, artigos publicados em anais de congresso, capítulos de livros, artigos gerais e reportagens jornalísticas. Os critérios para a escolha dos textos foram: quantidade de citações dos trabalhos; qualidade do referencial teórico; apresentação de contribuições inéditas para o debate público; quando reportagem jornalística, sua relevância; além de materiais que sintetizassem bem o conteúdo que abordamos. A plataforma Google Scholar foi utilizada por manter em suas bases conteúdos confiáveis, técnicos, apurados, revistos e científicos. Além disso, durante o percurso acadêmico da graduação, essa mesma plataforma nos é apresentada como um excelente mecanismo para efetuar pesquisas. Em relação às reportagens jornalísticas, foi também por causa da contemporaneidade do governo e da ausência de produções acadêmicas que precisamos recorrer a esse gênero textual. Demos preferência para a mídia tradicional. Em alguns momentos, todavia, foi preciso recorrer a alguns sites específicos, como o site pessoal do escritor Olavo de Carvalho, que contém dados importantes sobre a sua produção, currículo e biografia. O objetivo geral deste trabalho é apresentar as propostas bolsolavistas para a educação de forma interligada e conjunta, pois acreditamos que possuem a mesma natureza e intencionalidade. Além do objetivo geral, podemos citar os objetivos específicos, que são: a) Descrever a relação que existe entre essas propostas conservadoras; b) Compreender e descrever conceitos e quais são as bases teóricas desse movimento conservador; c) Analisar as propostas do governo atual para a educação brasileira; d) Descrever que tipo de sujeito (e qual tipo de sociedade) os grupos conservadores e progressistas desejam formar nas instituições educacionais; 16 Mas, cabe perguntar: de qual lugar surgem as propostas bolsolavistas para a educação? Onde é possível verificar que elas existem e quais são? Ora, é possível verificar tais propostas e saber quais são por meio: das declarações oficiais do governo Bolsonaro; de suas promessas de campanha; das ideias defendidas publicamente por seus apoiadores mais notórios; além dos projetos de lei, propostos ou aprovados, oriundos de instituições públicas ou parlamentares que possuem a mesma agenda ideológica conservadora. Na Proposta de Plano de Governo apresentada pelo candidato Jair Bolsonaro no ano de 2018, a educação não é extensamente trabalhada. Apesar disso, o documento revela as intenções e propósitos para essa pauta: • A educação é apresentada como prioridade junto à segurança e à saúde. (TSE, p. 10). • Deseja-se dar um salto de qualidade na educação, mas com ênfase na infantil, básica e técnica, sem doutrinar. (TSE, p. 22). • As Forças Armadas são invocadas no processo de atendimento da saúde e da educação da população. (TSE,p. 34). • Diz-se que o conteúdo e método de ensino precisam ser mudados: “mais matemática, ciências e português, sem doutrinação e sexualização precoce”. (TSE, p. 41). • Propõe-se, além de mudar o método de gestão, na educação revisar e modernizar o conteúdo (currículo escolar). Isso inclui a alfabetização, expurgando a ideologia de Paulo Freire, mudando a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), impedindo a aprovação automática e a própria questão de disciplina dentro das escolas. (TSE, p. 46). • Propõe-se a educação à distância. “Deveria ser vista como um importante instrumento e não vetada de forma dogmática”. Deve ser considerada como alternativa para as áreas rurais. (TSE, p. 46). • Nas considerações finais, coloca-se que é objetivo do governo “brigar para que os jovens tenham um futuro e [...] não fiquem desamparados por [...] uma educação aparelhada ideologicamente”. (TSE, p. 80). Quando se fala em doutrinação, ou quando é escrito que o objetivo é expurgar a ideologia de Paulo Freire, rememora-se o projeto Escola sem Partido. Quando se 17 fala em sexualização precoce, rememora-se o combate à “ideologia de gênero”. Ao dizer que se deve impedir a indisciplina nas escolas, ou que as Forças Armadas devem ser invocadas no processo de atendimento educacional da população, rememora-se o projeto das escolas cívico-militares. Por fim, quando se traz a questão do ensino à distância, é possível relacionar a prática com o homeschooling. Vale lembrar que para essas duas últimas propostas, escolas cívico-militares e homeschooling, o governo Bolsonaro já produziu projetos de lei, decretos e portarias que defendem o seu conteúdo. Olavo de Carvalho, por outro lado, é um crítico do Escola sem Partido, mas não se posiciona de maneira contrária à proposta ou sua natureza. Ele diz que o problema é muito centrado em mudar a legislação, mas pouco íntimo do combate cultural. Isto é, para Olavo de Carvalho a mudança legislação, apesar de positiva, não é suficiente para “resolver o problema da doutrinação nas escolas” em longo prazo ou de forma efetiva. Complementarmente, se posiciona favorável ao homeschooling, pois: a pretexto de educar nossos filhos, [politiqueiros e manipuladores ideológicos] lhes impõe [por intermédio da escola] todo um sistema de deformidades mentais e morais para fazer deles idiotas criminosos à imagem e semelhança de nossos governantes. [...] Carlos Artexes Simões não percebe a monstruosidade comunofascista que profere ao declarar que “a escola ainda é a vanguarda do ponto de vista do conhecimento necessário para a construção de um Estado republicano”. [...] Não sabe ele que tipo de socialização nossas crianças encontram nas escolas públicas? Não sabe que estas são fábricas de desajustados, de delinqüentes, de criminosos? Não sabe que, em nome da socialização, as condutas piores e mais violentas são ali incentivadas pelo próprio governo que ele representa? Não sabe que agredir professores, destruir o patrimônio das escolas, consumir drogas, entregar-se a obscenidades em público, são atos considerados normais e até desejáveis nessas instituições do inferno? Não sabe ele que há um crescimento proporcional direto da criminalidade infanto-juvenil à medida que se amplia a escolarização? (CARVALHO, 2019). Ao ler esse trecho, pode parecer que a preocupação de Olavo de Carvalho não é, em sua essência, ideológica, mas sim em relação à qualidade das escolas. No entanto, vale lembrar que ele acredita que “a criminalidade nas escolas” só acontece por conta da doutrinação de esquerda. Para ele, os “manipuladores ideológicos” visam a fomentar a criminalidade para que, através dela, a revolução socialista aconteça: Logo após a tomada do poder pelos comunistas na Rússia, a política oficial era fomentar o sexo livre, criando assim uma geração de jovens sem família para incentivar a criminalidade juvenil e liquidar pela confusão o que restasse da “ordem burguesa” [...] a URSS começou a treinar agentes para que se infiltrassem nas então incipientes redes de tráfico de drogas — especialmente na América Latina — e as dominassem por dentro, criando uma futura fonte local de subsídios para o movimento revolucionário, que estava saindo caro demais para o bolso soviético. Essa foi a origem remota das Farc, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, que hoje dominam o narcotráfico no continente. (CARVALHO, 2013, p. 505-506). 18 Ao ter contato com outros artigos de sua autoria, fica claro que ele acredita que a educação é dominada por marxistas: A partir dos anos 1980, a elite esquerdista tomou posse da educação pública, aí introduzindo o sistema de alfabetização “socioconstrutivista”, concebido por pedagogos esquerdistas como Emilia Ferrero, Lev Vigotsky e Paulo Freire para implantar na mente infantil as estruturas cognitivas aptas a preparar o desenvolvimento mais ou menos espontâneo de uma cosmovisão socialista, praticamente sem necessidade de “doutrinação” explícita. (CARVALHO, 2013, p. 350). Assim, acaba se posicionando também contrário à “ideologia de gênero”. Para ele, aplicada à educação, [a ideologia de gênero] destrói nas crianças a capacidade de distinguir entre realidade e fantasia, entre ser e parecer, e cria uma geração de pequenos imbecis que, ao chegar à universidade, não servirão para mais nada além de se divertir, bater pezinho com exigências impossíveis, e fazer uma confusão dos diabos com o pouco que tiverem conseguido aprender. (CARVALHO, 2016). Olavo de Carvalho ainda não se declarou contrário ou favorável à proposta das escolas cívico-militares. Mas, assim como as outras as propostas que estamos analisando, dezenas de seus seguidores mais influentes já se posicionaram a favor. Este trabalho está dividido em três capítulos. O primeiro trata das conceituações gerais; o segundo contextualiza historicamente o Brasil contemporâneo; e o terceiro explora as propostas bolsolavistas, descrevendo e analisando cada uma delas. Para cada uma dessas partes, foram selecionados textos, conforme o critério estabelecido acima. No entanto, para o terceiro capítulo, a escolha de textos seguiu um percurso diferente. Nesse aspecto, foi feita uma busca por textos que trouxessem em seu título, resumo ou palavras-chave certos descritores, a exemplo dos mesmos utilizados Rocha (1999) e Gonçalves (2011). Escolhemos “escola sem partido”, “ideologia de gênero”, “homeschooling”, e “escolas cívico- militares” porque são os títulos que as propostas recebem. De modo a expor as escolhas, abaixo compartilhamos três tabelas contendo os textos escolhidos. Cada tabela é referente a um capítulo do trabalho. Tabela 1: Textos selecionados para o capítulo 1 Autor Título Ano de publicação Natureza do texto 19 Guilherme Inácio F. Andrade A trajetória da extrema-direita no Brasil: integralismo, neonazismo e revisionismo histórico (1930-2012) 2013 Artigo publicado em anais de congresso Redação (G1) Artistas criticam declarações do novo presidente da Funarte 2019 Reportagem jornalística Eduardo Barretto (O Globo) Bolsonaro apresenta proposta ao PP para concorrer à presidência da República 2014 Reportagem jornalística Carlos Rodrigues Brandão O que é educação? 1981 Livro Danielle Brant (Folha de S.Paulo) Olavo de Carvalho diz que aceitaria ser embaixador nos EUA do governo Bolsonaro 2018 Reportagem jornalística Marcelo Braz O golpe nas ilusões democráticas e a ascensão do conservadorismo reacionário 2017 Artigo científico Olavo de Carvalho O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota 2013 Livro Olavo de Carvalho; Alaôr Caffé Alves Marxismo, direito e sociedade 2003 Livro Olavo de Carvalho; Alexandre Dugin Os EUA e a Nova Ordem Mundial 2012 Livro Russell Norman Champlin; João Marques Bentes Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia 1991 Livro Marilena Chauí Culturae democracia: o discurso competente e outras falas 2007 Livro Marilena Chauí Ideologia e educação 1980 Artigo científico Marilena Chauí O que é ideologia? 2008 Livro Desttut de Tracy Élémens d'idéologie 1817 Livro Letícia Duarte (El país) "Destruição é a agenda do tradicionalismo", a ideologia por trás de Bolsonaro e Trump 2020 Reportagem jornalística Inés Dussel; Marcelo Caruso A invenção da sala de aula: uma genealogia das formas de ensinar 2003 Livro João Fellet (BBC Brasil) Monarquistas ocupam cargos em Brasília e reabilitam grupo católico ultraconservador 2019 Reportagem jornalística Gabriela Nunes Ferreira; André Botelho Revendo o pensamento conservador 2010 Artigo científico João Filho (The Intercept Brasil) O casamento entre a extrema-direita e o movimento antivacina é um perigo para o mundo 2019 Reportagem jornalística Leandro Pereira Gonçalves; Odilon Caldeira Neto O fascismo em camisas verdes: do integralismo ao neointegralismo 2020 Livro Serge Halimi (Le Monde Diplomatique) Un débat intellectuel em trompe-l'oiel 2003 Reportagem jornalística Antônio Houaiss Pequeno dicionário enciclopédico Koogan-Larousse 1987 Livro 20 Russel Kirk A política da prudência 2014 Livro Karl Marx; Friedrich Engels A ideologia alemã 1998 Livro Robert K. Merton Ensaios de sociologia da ciência 2013 Livro Marcelo Tavares Natividade; Leandro de Oliveira Sexualidades ameaçadoras: religião e homofobia (s) em discursos evangélicos conservadores 2009 Artigo científico Clarissa Neher (DW) "Nazismo de esquerda": o absurdo virou discurso oficial em Brasília 2019 Reportagem jornalística Michael Oakeshott Ser conservador 2014 Livro Antônio Severino Educação, ideologia e contra-ideologia 1986 Livro Tomaz Tadeu da Silva Documentos de identidade: uma introdução às teorias de currículo 2010 Livro John Thompson Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa 2000 Livro Gustavo Uribe; Pedro Ladeira; Wálter Nunes (Folha de S. 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A experiência canadense e a "Escola sem Partido" 2019 Artigo científico Escola sem Partido Judith Butler Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade 2013 Livro Ideologia de Gênero Renato Cafardo; Roberta Jansen (Estadão) Estudantes de colégios militares custam três vezes mais ao país 2018 Reportagem jornalística Escolas cívico- militares Luiz Antônio Cunha O projeto reacionário de educação 2016 Artigo Homeschooling Loise da Nova; Alinne de Lima Bonetti Escolas Cívico- militares: uma nova face das Escolas sem Partido? 2020 Artigo publicado em anais de congresso Escolas cívico- militares Escola sem Partido (Site oficial) Ensino, educação e doutrinação 2019 Site oficial Escola sem Partido Escola sem Partido (Site oficial) Sobre o Escola sem Partido 2019 Site oficial Escola sem Partido OPAS Brasil Folha Informativa - Gênero 2015 Documento oficial Ideologia de Gênero 23 Paulo Freire Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa 1996 Livro Escola sem Partido Andrei Cavalcanti Lopes Goés; Marcus Vinícius da Silva Pereira de Souza O "homeschooling" e as novas formas de educar no Brasil: um diálogo entre o direito e pedagogia 2019 Artigo científico Homeschooling Antônio Houaiss Pequeno dicionário enciclopédico Koogan-Larousse 1987 Livro Escola sem Partido Rogério Diniz Junqueira "Ideologia de gênero":a gênese de uma categoria política reacionária- ou: a promoção dos direitos humanos se tornou uma "ameaça à família natural" 2017 Artigo científico Ideologia de Gênero Iana Gomes de Lima; Alvaro Moreira Hypolito Escola sem Partido: análise de uma rede conservadora na educação 2020 Artigo científico Escola sem Partido Marcos Felipe Gonçalves Maia; Damião Rocha Ideologia de gênero: tensões e desdobramentos na educação 2017 Artigo científico Ideologia de Gênero Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão; Fernanda Marina Feitosa Coelho; Tainah Biela Dias “Fake news acima de tudo, fake news acima de todos”: Bolsonaro e o “kit gay”, “ideologia de gênero” e fim da “família tradicional” 2018 Artigo científico Ideologia de Gênero André Antunes Martin Sobre os dias atuais: neoconservadorismo, escolas cívico- militares e o simulacro da gestão democrática 2019 Artigo científico Escolas cívico- militares Letícia Mori (BBC Brasil) O que o governo ainda precisa explicar sobre o funcionamento das escolas cívico- militares 2019 Reportagem jornalística Escolas cívico- militares Paulo Gabriel Soledade Nacif; Penildon Silva Filho A educação brasileira na mira do obscurantismo e Estado mínimo 2019 Capítulo de livro Homeschooling 24 Rayane Dayse da Silva Oliveira; Erika Oliveira Maia Batalha O mito da "ideologia de gênero" nas escolas: uma análise sociológica da tentativa conservadora de silenciar o pensamento crítico 2017 Artigo científico Escola sem Partido Comissão Internacional de Juristas, do Serviço Internacional de Direitos Humanos Princípios de Yogyakarta 2007 Documento oficial Ideologia de Gênero José Antônio Miranda Sepulveda; Denize Sepulveda O pensamento conservador e a sua relação com práticas discriminatórias na educação: a importância da laicidade 2016 Artigo Escola sem Partido Ivanderson Pereira da Silva Em busca de significados para a expressão “ideologia de gênero” 2019 Artigo científico Ideologia de Gênero Michel Goulart da Silva O escola sem partido como expressão do ideário militar 2018 Artigo científico Escola sem Partido Redação (STF) STF nega recurso que pedia reconhecimento de direito a ensino domiciliar 2018 Reportagem jornalística Homeschooling Redação (Estado de Minas) Supremo derruba lei de Alagoas inspirada no "Escola sem Partido" 2020 Reportagem jornalística Escola sem Partido Após a escolha dos textos, foi realizada a leitura desses, seguida da elaboração do resumo com preenchimento de quadros de análise com os possíveis elementos que identificassem, para cada capítulo, as principais conceituações, acontecimentos ou descrições das propostas. Esclarecemos ainda que nossa análise foi composta, assim como o trabalho de Gonçalves (2011), por quatro fases: a) pré-análise; b) exploração do material; c) tratamento dos resultados; e d) interpretação. A pré-análise envolveu a leitura e o destaque dos elementos comuns e incomuns que apareciam nos textos. Na exploração do material, enfatizamos os pontos em comum dos autores, mas também 25 destacamos alguns conflitos entre eles em relação ao tema. Na terceira fase, relacionada ao tratamento e interpretação, preenchemos a ficha 1, de modo a organizar todo o trabalho: Após esse procedimento, fizemos a separação por noção, acrescidas das definições que apareciam nos textos. Nessa última fase, selecionamos as noções mais importantes retiradas dos autores lidos, de forma a analisá-las mediante nosso referencial teórico. A análise procedeu-se da seguinte maneira: entre os textos selecionados, com o intuito de desenvolver as ideias dos autores, respeitamos a ordem cronológica dos Ficha 1 (atende ao objetivo geral) Artigo: _______________________________________________________ Objetivo:______________________________________________________ 1) Identificação dos elementos: _____________________________________________________________ 2) Expor a definição de cada elemento sugerido pelo autor(a): Elemento Definição Ficha 2 (atende aos objetivos específicos) Elemento:_____________________________________________________ Autor/ano Definição Consenso Conflito Desdobramento interpretativo 26 acontecimentos, de forma a possibilitar aos leitores a compreensão da evolução da constituição das propostas bolsolavistas. 27 3. CAPÍTULO 1: CONCEITUAÇÕES GERAIS Nesta primeira parte do trabalho, surge a necessidade de explicar alguns conceitos e termos. A explicação desses não é em relação ao seu significado no dicionário, mas sim ao que esse conceito significa para a academia. As posições dos autores sobre a significação dessas palavras carregam um debate longo sobre o que é cada uma. Alguns autores nutrem posições de acordo com as escolas de pensamento às quais pertencem. Já outros têm suas conclusões baseadas em pesquisas científicas próprias. Em alguns casos, precisaremos recorrer a conceitos das próprias escolas de pensamento que os “criaram”. Citar o que os próprios conservadores pensam sobre o conservadorismo, por exemplo, dá um panorama melhor sobre como eles pensam, como agem e como planejam suas ações enquanto movimento político organizado. Os primeiros conceitos a serem explicados para dar um pano de fundo ao trabalho serão “educação”, “escola”, “ideologia” e “conservadorismo”. Em todos os aspectos da sociedade a educação está presente. Nenhuma instituição social ou indivíduo “foge” ou deixa de ter contato com ela. A educação está em todo lugar e não só na escola: nas ruas, comunidades religiosas, no trabalho etc. E todos estamos envolvidos porque aprendemos, ensinamos e ensinamos- aprendendo a todo instante. No entanto, existem várias concepções sobre o que é educação. Essas variam conforme o pensador, a sociedade e a cultura. Os nativos americanos, por exemplo, compreendem a educação de outro jeito, diferente da nossa sociedade ocidental2. 2 Carlos Rodrigues Brandão escreve em seu livro “O que é educação?” que alguns estados dos Estados Unidos da América “assinaram um tratado de paz” com movimentos nativos americanos. “Como as promessas e os símbolos da educação sempre foram muito adequados a momentos solenes como aquele, logo depois os seus governantes mandaram cartas aos nativos para que enviassem alguns de seus jovens às escolas dos brancos”. Brandão, então, esclarece que os chefes nativos responderam agradecendo a proposta, mas recusando tal iniciativa. A carta dizia que, apesar de eles (os nativos) estarem “convencidos que os senhores [colonizadores] desejavam o bem”, reconheciam que “diferentes nações têm concepções diferentes das coisas” e, sendo assim, a recusa não deveria ser vista uma ofensa, pois “a ideia de educação dos colonizadores não era a mesma que a deles”. Segundo eles, “muitos dos seus bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a ‘ciência’ europeia – mas, quando eles voltavam para casa, eles eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e a fome”. Eles “não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa língua muito mal”. Eram, portanto, “totalmente inúteis”. 28 Para eles, a educação deve “criar” um membro da sua comunidade, capacitando-o para viver com determinadas habilidades necessárias ao meio em que vive. Assim sendo, não há um único modelo de educação – e nenhum que seja correto e perfeito. Também ressaltando o que foi dito anteriormente: a escola não é o único lugar onde a educação pode existir e, talvez, nem seja o melhor (BRANDÃO, 1981). Se pesquisarmos em um dicionário, a definição para o verbete “educação” que encontramos é a que segue: EDUCAÇÃO:s.f. Ação de desenvolver as faculdades psíquicas, intelectuais e morais; a educação da juventude. / Resultado dessa ação. / Conhecimento e prática dos hábitos sociais; boas maneiras: homem sem educação. / Educação nacional, conjunto de órgãos encarregados da organização, da direção e da gestão de todos os graus do ensino público, bem como da fiscalização do ensino particular. (HOUAISS, 1987, p. 291). A partir do significado desse vocábulo, podemos tirar algumas breves conclusões: a função da educação é desenvolver o conhecimento e a inteligência; a educação é o ensino de algum conteúdo; a educação é aprendizado de uma cultura e, por conta disso, está sujeita a ideologias e aos costumes sociais (sendo um produto da sociedade que a constrói); a educação é uma instituição social; a educação é uma pauta governamental; a educação consiste de um programa ou projeto; e, por fim, a educação é um direito. Se pesquisarmos nas ciências humanas, contudo, cada autor trará uma concepção diferente sobre o que é educação ou sobre como ela deve ser (organizar- se). É comum que os autores de educação possuam algum tipo de proposta em relação a ela, mas nem sempre isso é a regra, principalmente para os filósofos da educação. Para Platão, por exemplo, a educação era necessária para a concretização da República (a sua ideal compreensão de como o Estado deveria se organizar socialmente). Para Komensky, a educação deveria ser feita por meio de um sistema de aprendizagem graduado e internacional, com alguns elementos comuns, os quais poderiam levar a uma maior compreensão entre os povos e, por conseguinte, à harmonia e à união de todos. (CHAMPLIN; BENTES, 1991). Para Rousseau, a educação não estava em “encher a cabeça da criança” com um método que “obriga a repetição e impõe coisas”. Aliás, para ele, é esse o tipo de educação que corrompe as crianças. Elas nascem boas, isto é, são boas por natureza. 29 Assim sendo, é desejável que o desenvolvimento siga esse mesmo curso, um caminho natural. Rousseau entendia que a criança deveria aprender com a natureza (para ele, a natureza era perfeita) e de acordo com uma “ordem” (uma lógica, “ordem natural das coisas”, tanto é que a primeira noção ensinada, por exemplo, era a de propriedade). E cabia ao professor guiar a criança, de modo que ela identificasse os preceitos por si mesma. A educação negativa (uma de suas ideias centrais na educação) seria construída e percebida pela própria criança, sem que ela tivesse contato com “aquilo que pervertesse/corrompesse a sociedade”. Esse modelo de educação seguia até a idade adulta, para garantir que a criança continuasse “pura” (sem contato com o que corrompe a sociedade, ela não seria corrompida). Não havia liberdade – se havia era rigorosamente vigiada e disciplinada – mas isso era para o bem de todos, inclusive da própria criança. O objetivo era, no fim das contas, “domesticar”: se a criança desde cedo permanecesse pura, se lhe dessem a base de uma personalidade autônoma, reflexiva, que controlasse os seus impulsos e que respeitasse a autoridade do professor (esse veladamente só permitia à criança fazer o que ele desejava que ela fizesse), com certeza esta criança seria uma defensora, além de participante ativa, de uma sociedade burguesa. Ela seria livre e respeitaria o contrato social, sem desvios. (DUSSEL; CARUSO, 2003; CHAMPLIN; BENTES, 1991). Para Pestolazzi, cada indivíduo deveria buscar a verdade, envolvendo tanto a experiência social quando a experiência religiosa. Para Froebel, seria a função do professor estimular a atividade voluntária por parte dos alunos, o que é a base de toda pesquisa. Para Herbart, os alvos éticos, incluindo a liberdade interna e a benevolência, deveriam ser um alvo importante da educação. Para John Dewey, a educação não deve consistir em apenas preparação para alguma carreira. Em seu sistema, o futuro é mais importante que o passado e deve-se buscar a solução dos problemas sociais, seguindo métodos científicos. (BRANDÃO, 1981). Para Mannheim, em uma sociedade dinâmica como a nossa, só pode ser eficaz uma educação para a mudança. Esta consiste na formação do espírito isento de todo dogmatismo, que capacite a pessoa para elevar-se acima da corrente dos acontecimentos, em vez de arrastar-se por eles. Para Ortega y Gasset, se a educação é transformação de uma realidade, de acordo com uma ideia melhor que possuímos, e se a educação só pode ser de caráter social, resultará que a pedagogia é a ciência 30 de transformar a sociedade. Para Durkheim, a educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver na criança certo número de estados físicos, intelectuais e morais reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio espacial a que a criança, particularmente, se destina. (BRANDÃO, 1981). Para Brandão (1981), “a educação pode existir livre e, entre todos, pode ser uma das maneiras que as pessoas criaram para tornar comum, como saber, como ideia ou crença aquilo que é comunitário como bem, como trabalho ou como vida”. É, assim, uma fração do modo de vida3. Ele ainda completa, afirmando que educação é: “[...] como outras, uma fração do modo de vida dos grupos sociais que a criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em sua sociedade. Formas de educação que produzem e praticam, para que elas reproduzam, entre todos os que ensinam-e-aprendem, o saber que atravessa as palavras da tribo, os códigos sociais de conduta, as regras do trabalho, os segredos da arte ou da religião, do artesanato ou da tecnologia que qualquer povo precisa para reinventar, todos os dias, a vida do grupo e a de cada um de seus sujeitos, através de trocas sem fim com a natureza e entre os homens, trocas que existem dentro do mundo social onde a própria educação habita, e desde onde ajuda a explicar — às vezes a ocultar, às vezes a inculcar — de geração em geração, a necessidade da existência de sua ordem”. (BRANDÃO, 1981, p. 33). Diante de tantas considerações, podemos fazer alguns apontamentos e tentar achar um meio-termo. A educação é um fenômeno social. Por isso, é o ser humano que cria e que transforma, com o trabalho e a (sua) consciência, partes da natureza em invenções de sua cultura (por meio do tempo e da comunicação constante consigo e com os outros). No caso da educação, são as diversas situações, de aprender e ensinar, cotidianas e sociais, que vão conduzindo a sua mudança. Afinal, para ajustar uma criança à sua comunidade, ela precisa ser educada de acordo com os valores (que se alteram ao longo da história) da sua determinada tribo. Na aldeia, todos de alguma forma se envolvem com a criação dos seus filhos. Nas outras sociedades, a educação é tratada diferente. Muitos, por exemplo, nomearam interventores específicos e com certo grau de formação para ensinar os pequenos. Os espaços, a forma, o conteúdo, o que se ensina, enfim – tudo varia. O que é interessante observar é que, em nenhuma sociedade, primária ou complexa, as pessoas crescem a esmo e aprendem ao acaso4. A educação é uma fração da 3 É por isso que os índios citados no exemplo anterior sabiam que a educação do colonizador e seu modo de vida não serviam para a sua cultura e para seu povo. 4 E por conta disso, todas estão associadas a uma ideologia e a um projeto. Falaremos disso em breve. 31 experiência endoculturativa. Isto é, ela aparece sempre que há relações entre pessoas que aprendem e ensinam. (BRANDÃO, 1981). Para Brandão, por exemplo, “quando um povo alcança um estágio complexo de organização social e cultural, quando ele enfrenta a questão da divisão social do trabalho e, portanto, do poder, é que ele começa a viver e a pensar como problema as formas e os processos da transmissão do saber”. Aliás, essa questão é facilmentecomprovada. A escrita surgiu em sociedades economicamente ricas, pois os grandes proprietários (no caso, principalmente reis e governantes) precisavam registrar o que tinham. É assim, então, que surge a escola. Mesmo em algumas sociedades primitivas, quando o trabalho que produz os bens e quando o poder que reproduz a ordem são divididos e começam a gerar hierarquias sociais, também o saber comum da tribo se divide. Começa-se a distribuir desigualmente e pode passar a servir ao uso político de reforçar a diferença no lugar de um saber anterior. Emergem tipos e graus de saber que correspondem desigualmente a diferentes categorias de sujeito (o rei, o sacerdote), cada um de acordo com sua posição social no sistema. É nesse cenário que surge a escola5. Caso pesquisemos em algum dicionário, a definição para o verbete “escola” que encontraremos é esta: ESCOLA s.f Estabelecimento onde se ensina: ir à escola / Conjunto dos adeptos de um mestre ou de uma doutrina filosófica, literária, etc.; essa própria doutrina: a escola racionalista / Conjunto dos artistas de uma mesma nação, de uma mesma cidade, de uma mesma tendência: a escola francesa, a escola de Paris; a escola do Recife; a escola impressionista. / O que proporciona instrução, experiência: a obra de Corneille é uma escola de grandeza. // Estar em boa escola, conviver com pessoas idôneas. // Fazer escola, ter muitos seguidores. (HOUAISS, 1987, p. 326). Escola, em si, é o ambiente onde se ensina. Porém, é mais do que isso: é uma instituição social. E o seu surgimento tem um intuito, que é cumprir as exigências sociais de formação de tipos concretos de pessoas na e para a sociedade. A educação, portanto, é prática social que produz sujeitos sociais. E essa prática acontece na escola. 5 Em certo momento, inclusive, a educação da comunidade, que até então reproduzia a igualdade, passa a reproduzir a desigualdade devido a essas diferenças que são tratadas como naturais. É a educação que separa o nobre do plebeu. 32 Esse fenômeno do surgimento da escola é um modo próprio de educar – por isso, é diferente de uma cultura para outra – mas, em todo caso, necessária à vida e à reprodução da ordem de cada tipo de sociedade, em cada momento de sua história. A escola não é neutra nem pura. O seu próprio surgimento já é um indicativo de que ela possui um propósito. A ideia de que não existe coisa alguma de social na educação; de que, como a arte, ela é “pura” e não deve ser corrompida por interesses e controles sociais, pode ocultar o interesse político de usar a educação como uma arma de controle e dizer que ela não tem nada a ver com isso. Mas o desvendamento de que a escola é uma prática social pode ser também feito numa direção ou noutra e, tal como vimos antes, pode se dividir em ideias opostas, situadas de um lado ou de outro da questão. As armas não tinham conseguido submeter os povos inimigos de qualquer nação a não ser parcialmente. (BRANDÃO, 1981). É responsabilidade da educação, por meio da escola, institucionalizar o domínio. Todos esses processos de domínio ou consolidação de poder têm, como pano de fundo, uma ideologia. Quando falamos de ideologia, temos que nos atentar ao fato de que existem várias concepções. E antes de explicar as concepções e os conceitos com os quais deparamos, quando falamos de “ideologia”, encontramos um conceito sociológico muito forte que é difundido no senso comum. Aliás, podemos dizer que o debate público sobre ideologia atribui como conceito apenas o significado do verbete “ideologia”. Sociologicamente, ideologia é um conjunto de ideias convergentes de ordem política, econômica e social, como um sistema de ideias sustentadas por um grupo social, sobre as quais eles refletem, racionalizam e defendem os próprios interesses ou compromissos institucionais que sejam morais, religiosos ou de qualquer outra natureza social. Segundo a maioria dos dicionários, ideologia também pode ser significada como uma religião. Russell Norman Champlin e João Marques Bentes (1991), por exemplo, trabalham com essa conceituação de ideologia. Para eles, “em sentido positivo, ideologia significa qualquer sistema de ideias e normas que orienta a maneira de pensar e de agir das pessoas. Aponta para ideias e maneiras de pensar que caracterizam um grupo particular, bem como os ideais que guiam a conduta desse grupo”. 33 Segundo Thompson (2000), é possível identificar dois tipos de concepção de ideologia: uma crítica e outra neutra. A concepção neutra considera algum fenômeno como ideológico um conjunto de ideias, sem necessariamente dizer se elas são ilusórias (no sentido de enganar). Por outro lado, a concepção crítica é aquela que vê um sentido negativo ou pejorativo em qualquer fenômeno dito “ideológico”. Um exemplo de concepção crítica de ideologia é a que relaciona o pensador francês Destutt de Tracy com o momento político de Napoleão Bonaparte na França oitocentista. Quem hoje usa o controvertido e pejorativo termo ideologia sem conhecer sua origem ficará surpreso ao descobrir que Tracy (1817) usou-o para nomear a sua “ciência das ideias”, cujo objeto de estudo seriam a origem e a formação das ideias. A idéologie seria não apenas uma ciência, mas uma ciência da natureza vinculada ou subordinada à zoologia. Para ele, “só temos conhecimento incompleto de um animal se não conhecermos suas faculdades intelectuais. A ideologia faz parte da Zoologia, e é especialmente no homem que essa parte é importante e merece ser aprofundada”. (p. 5). A depreciação do termo ideologia ter-se-ia originado com Napoleão Bonaparte. O imperador conquistou o poder com o apoio dos intelectuais filiados ao projeto de Tracy, os quais logo se decepcionaram com o caráter autoritário de Napoleão. Não bastasse o afastamento, as opiniões dos ideólogos destoavam das ambições políticas do imperador. O sentido pejorativo dos termos “ideologia” e “ideólogos” veio de uma declaração de Napoleão, que, num discurso ao Conselho de Estado em 1812, declarou: “Todas as desgraças que afligem nossa bela França devem ser atribuídas à ideologia, essa tenebrosa metafísica que, buscando com sutilezas as causas primeiras, quer fundar sobre suas bases a legislação dos povos, em vez de adaptar as leis ao conhecimento do coração humano e às lições da história”. Com isso, Bonaparte invertia a imagem que os ideólogos tinham de si mesmos: eles, que se consideravam materialistas, realistas e antimetafísicos, foram perversamente chamados de “tenebrosos metafísicos”, ignorantes do realismo político que adapta as leis ao coração humano e às lições da história. (CHAUÍ, 2008, p. 27-28). A despeito disso, a conceituação não apenas mais pejorativa, como também a que se tornou mais difundida, é a do filósofo alemão Karl Marx. Em consonância com Napoleão, Marx também atribuiu caráter fraudulento ao termo ideologia: A produção das ideias, das representações e da consciência está, a princípio, direta e intimamente ligada à atividade material dos homens; ela é a linguagem da vida real. As representações, o pensamento, o comércio intelectual dos homens aparecem aqui ainda como a emanação direta de seu comportamento material. O mesmo acontece com a produção intelectual tal como se apresenta na linguagem da política, na das leis, da moral, da religião, da metafísica etc. de todo um povo. E, se, em toda a ideologia, 34 os homens e suas relações nos aparecem de cabeça para baixo como em uma câmera escura, esse fenômeno decorre de seu processo de vida histórico, exatamente como a inversão dos objetos na retina decorre de seu processo de vida diretamente físico. (1998, p. 18-19). Um exemplo da concepção neutra de ideologia é a reavaliação do conceito marxista por Lênin e Lukács. Nesse processo de “neutralização” do sentido negativo dado por Marx à ideologia, Lênin e Lukács a compreendem como sendo “ideias que expressame promovem os respectivos interesses das principais classes engajadas no conflito” (THOMPSON, 2000, p. 64). Nesse sentido, é possível falar em ideologia do burguesa e ideologia do proletariado. Aqui existe a compreensão de um conjunto de ideias como “arma política” e não uma crítica ao “conjunto dos pensamentos”. Já para a Escola de Frankfurt, a ideologia perpassa o racionalismo técnico- científico como a única forma de conhecimento verdadeiro, universal, objetivo e neutro, apto a reger a existência social dos homens, assegurando não só a unidade do saber humano, mas também a felicidade dos homens através dos instrumentos técnicos que viabiliza. (SEVERINO, 1986. p. 26). Nesse sentido, fala-se assim da compreensão do real e da imparcialidade da ciência. Contudo, a oposição da ideologia à verdade e à realidade pode ser apresentada também em termos de oposição à ciência. De um lado existe a ideologia, com suas proposições interesseiras e falsas, e do outro existe a ciência, com suas proposições abnegadas e verdadeiras. Essa simples ideia já é, em si mesma, ideológica. Como explicou o sociólogo estadunidense Robert Merton (2013), a quem se atribui a paternidade da sociologia da ciência, os cientistas são constrangidos por fatores extracientíficos que podem não apenas influenciar como também determinar o conteúdo de suas teorias. Dentre tais fatores extracientíficos, um dos mais relevantes é a ideologia, aqui entendida como a perspectiva e os valores a partir dos quais o cientista encara o mundo. [...] se torna cada vez mais aparente que a gênese social do pensamento não tem ligação necessária com sua validade ou falsidade. Sustenta-se que o Seinsverbundenheit (pertencimento existencial) do pensamento está demonstrando quando se pode mostrar que, em certos domínios, o conhecimento não se desenvolve de acordo com as leis imanentes de crescimento (baseadas na observação e na lógica), mas que, em certas conjunturas, fatores extrateóricos de vários tipos, usualmente nomeados Seinsfaktoren (fatores de existência), determinam a aparência, a forma e, em certos casos, inclusive o conteúdo e a estrutura lógica desse conhecimento. Esses fatores não teóricos podem interferir no pensamento de muitos modos: orientando a percepção do problema, determinando sua formulação teórica, fixando os pressupostos e valores que afetam em grau considerável a escolha dos materiais e dos problemas e sendo envolvidos no processo de verificação. (p. 95-96). 35 Existem ainda outras definições de ideologias. Russell Norman Champlin e João Marques Bentes (1991) também definem o conceito de ideologia para Karl Mannheim: “[Mannheim] usava o termo para aludir a algum conjunto de crenças onde aparece uma diferença entre motivos anunciados e motivos subjacentes. Uma ideologia parcial é aquela que tem uma origem psicológica. Uma ideologia total é aquela que tem suas origens nas condições sociais” (p. 206). No entanto, para este trabalho, não é com nenhum desses conceitos de ideologia que estamos trabalhando. Ideologia é um ideário pertencente a uma época. Então, a ideologia que se expressa hoje seria uma representação do status quo. Em suma, ideologia é a totalidade das formas de consciência social. Isso abrange o sistema de ideias que legitima o poder econômico da classe dominante (ideologia burguesa). É assim que Marilena Chauí (2008) define ideologia, usando como base a compreensão marxista do fenômeno. Para Chauí (1980), ideologia é um corpus de representações e de normas de como se deve agir, pensar e sentir. Assim sendo, a ideologia é um processo oculto, que produz e conserva a sociedade, sem a conotação de falsidade, mas uma aparência, uma representação do próprio ser. Dessa forma, o “ponto de vista particular da classe que exerce a dominação aparece para todos os sujeitos sociais e políticos como universal e não como interesse particular de uma classe determinada” (CHAUÍ, 2007, p. 31). A relação entre ideologia e educação é que, em sociedades complexas, a escola tende a refletir os fenômenos sociais que acontecem fora dela. Não necessariamente a escola reproduz ipsis litteris o que acontece na sociedade – a questão é que o ideário social permeia a forma pela qual o conteúdo (além da organização do espaço e do tempo) é ensinado na escola. Não só isso, também influencia na formação do currículo e da escolha sobre o que deve se falar e apresentar. Segundo Tomaz Tadeu da Silva (2010), currículo gira em torno da questão “o que ensinar?”. Obviamente, na escola deve-se ensinar algo. E o currículo é a “ciência” que estuda o que ensinar. Todas as discussões curriculares giram em torno desta questão - que sujeitos formar, que matérias e conteúdo repassar, o que abordar na aula, como a aula deve ser, qual o propósito de ensinar um conteúdo “x” e não “y” etc. É, em simples palavras, o planejamento, a teoria. Mesmo assim, um currículo não se constrói a esmo. É necessário escolher o que falar. Devido a esse fato: (1) o currículo está intrinsicamente ligado à escola; e (2) é entendido como espaço de 36 disputa e um lugar onde sempre ocorrem conflitos. Os temas currículo, poder e identidade estão mutuamente interligados. Qualquer conteúdo que se ensina na escola tem uma intenção. A prática cotidiana, a definição de tempos e espaços e toda a ritualística da escola fundamenta- se em ideologias e concepções de mundo, de ser humano e de educação. Ou seja, as práticas educativas são intencionais. A escola serve para formar cidadãos. Esses devem dominar temas relativos à vida em sociedade: os valores da democracia, a importância do trabalho, as disciplinas técnicas para o mercado, entre coisas do gênero6. Portanto, todo movimento político que se dispõe a mudar a sociedade, indiretamente, possui propostas para a educação. Nessa altura, é importante dizer que não são todos os movimentos que se reconhecem como ideológicos. E por se considerarem assim, ausentes de ideologias específicas, creem que não possuem propostas com o intuito de mudar a sociedade. Um exemplo são os movimentos conservadores, objeto de análise deste trabalho. Michael Oakeshott, um dos principais herdeiros do conservadorismo clássico, defende que o conservadorismo não é uma crença nem uma doutrina, mas uma forma de ser e estar. Ser conservador significa uma inclinação a pensar e a comportar-se de determinada forma; é preferir certas formas de conduta e certas condições das circunstâncias humanas a outras; é dispor-se a tomar determinadas decisões. [...] Distinguir as características gerais dessa atitude não é tarefa difícil, embora elas tenham sido constantemente confundidas. Elas resumem-se a uma propensão ao uso e gozo daquilo que se tem, em vez do desejo ou busca de outra coisa, a aprazer-se mais com o presente do que com o passado ou o futuro. [...] Assim, ser conservador é preferir o familiar ao desconhecido, preferir o tentado ao não tentado, o facto ao mistério, o real ao possível, o limitado ao ilimitado, o próximo ao distante, o suficiente ao superabundante, o conveniente ao perfeito, a felicidade presente à utópica. [...] Para além disso, ser conservador não é apenas ser avesso à mudança [...] é também a forma de nos adaptarmos às mudanças, algo que foi imposto a todos os homens. (2014, p. 4-6) Russel Kirk, que também é um autor conservador, desenvolve uma concepção semelhante: Não sendo nem uma religião nem uma ideologia, o conjunto de opiniões designado como conservadorismo não possui nem uma Escritura Sagrada, nem um Das Kapital, como fonte de dogmas. [...] Talvez fosse adequado, na maioria das vezes, utilizar a palavra 'conservador' mormente como adjetivo. Não existe um modelo conservador, e o conservadorismo é a negação da ideologia: é um estado de espírito, um tipo de 6 Essa discussão dá origem a várias perguntas, tais como: qual é o papel de educação? Para que ela e a quem serve?É a escola que cria, reproduz ou mantém o status quo? 37 caráter, um modo de ver a ordem civil e social. A posição chamada conservadora se sustenta em um conjunto de sentimentos, e não em um sistema de dogmas ideológicos. [...] Para a preservação de uma diversidade saudável em qualquer civilização, devem remanescer ordens e classes, diferenças na condição material e muitos tipos de desigualdade. (2014, p.102-108) Contudo, fenômenos conservadores não se restringem a essa perspectiva definida. Ferreira e Botelho fazem uma conceituação do conservadorismo de acordo com a perspectiva que apresentaremos: O pensamento conservador surge e se desenvolve no contexto da moderna sociedade de classes, marcado por seu dinamismo, por suas múltiplas e sucessivas transições; como função dessa sociedade, não é um sistema fechado e pronto, mas sim um modo de pensar em contínuo processo de desenvolvimento [...]. Estruturado como reação ao Iluminismo e às grandes transformações impostas pela Revolução Francesa e pela Revolução Industrial, o conservadorismo valoriza formas de vida e de organização social passadas, cujas raízes se situam na Idade Média. É comum entre os conservadores a importância dada à religião; a valorização das associações intermediárias situadas entre o Estado e os indivíduos (família, aldeia tradicional, corporação) e a correlata crítica à centralização estatal e ao individualismo moderno; o apreço às hierarquias e a aversão ao igualitarismo em suas várias manifestações; o espectro da desorganização social visto como consequência das mudanças vividas pela sociedade ocidental. (2010, p. 11, 12). A razão para a escolha dessa conceituação de conservadorismo se dá porque, apesar de muitos conservadores rogarem para si mesmos a posição de neutralidade e ceticismo, bem como contrários em relação a uma mudança radical e abrupta da sociedade, muitos são, na verdade, reacionários. (BRAZ, 2017). Nas ciências sociais, particularmente na ciência política, podemos definir como reacionário alguém (ou uma instituição) que advoga por um retorno a um estado (no sentido de situação) político anterior da sociedade. Reacionários creem que o período atual, a contemporaneidade, está degenerada. Assim, a melhor solução, para eles, é voltar a alguma época passado. Não menos importante, vale citar que reacionário é o antônimo de revolucionário. Halimi define ambos os termos da seguinte forma: Eram duas correntes de intelectuais que se defrontavam. De um lado, aqueles que, sob o discurso da “reforma”, da “abertura”, da ruptura com os “tabus”, saudavam o movimento do mundo – e os avanços da esquerda, quando das eleições. Com o apoio da maioria dos meios de comunicação, estavam sempre dispostos a se mobilizar em nome de um “progresso” que incentivava as estruturas econômicas que seu pensamento único popularizara. Na outra corrente estavam aqueles a quem essa “modernidade” preocupava, ou repugnava, pois viam nela uma forma de regressão na organização da sociedade e na solidariedade que a costura. Eram considerados “reacionários” pelos primeiros. (HALIMI, 2003). Situar os movimentos conservadores brasileiros como reacionários não é um juízo de valor negativo. Essa “ressalva” se dá, pois, ao analisar particularmente o fenômeno conservador brasileiro, podemos observar uma ascensão (ou até mesmo 38 uma predominância) de discursos e movimentos cristãos, autoritários e antiacadêmicos. O bolsolavismo é o principal ramo que coaduna essa multifacetação do conservadorismo brasileiro. Mas, antes de apresentarmos sua história e contexto, é necessário detalhar quais são esses discursos e movimentos “cristãos”, “autoritários” e “antiacadêmicos”. Sobre movimentos cristãos, podemos citar religiosos católicos e evangélicos que, por exemplo, posicionam-se contra a casamento civil entre pessoas do mesmo sexo7 e a descriminalização (ou legalização) do uso das drogas. A razão para a oposição a essas pautas é de natureza religiosa. Para alguns deles, o estado não deve ser laico. Sobre grupos autoritários, podemos citar os que defendem projetos como intervenção militar (nos moldes da Ditadura Militar, 1964-1985)8, alteração do regime republicano e presidencialista para uma monarquia9 ou até mesmo o integralismo e a filosofia política de Plínio Salgado10. Não é raro, também, achar associações neonazistas nas ditas fileiras conservadoras11. Ideias antiacadêmicas (popularmente conhecidas como “teorias da conspiração”) são reforçadas em alguns movimentos conservadores brasileiros. As principais e mais populares versam sobre conjuntos de estratégias e movimentos que, desenvolvidos por setores de esquerda, grupos comunistas ou países socialistas (como China, Cuba e Coréia do Norte) objetivam a destruição da cultura ocidental ou 7 Comportamentos dissonantes da heterossexualidade costumam ser objeto de oposição por parte das correntes religiosas hegemônicas e movimentos conservadores no Brasil. Um exemplo muito expressivo é a histórica obstrução dos direitos civis das populações LGBT pela dita bancada evangélica. (NATIVIDADE; OLIVEIRA, 2009). 8 Um pequeno grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro realizou no dia 28 de junho de 2020, em Brasília, um protesto em que pediu intervenção militar com Bolsonaro no poder. O ato ocorreu em frente ao Quartel General do Exército. Outras manifestações, antes desta específica, já haviam ocorrido também, principalmente em redes sociais. (URIBE et al., 2020). 9 Uma reportagem da BBC Brasil revelou o avanço do movimento monarquista sobre o Congresso e o governo Bolsonaro. (FELLET, 2019). 10 O Integralismo - versão brasileira do fascismo italiano dos anos 1930 – permanece vivo e presente no cenário sociopolítico brasileiro e o presidente Jair Bolsonaro, “uma das figuras políticas recentes mais próximas ao fascismo histórico”, foi eleito com o apoio de integrantes deste movimento. (GONÇALVES; NETO, 2020). 11 Em estudo realizado pela pesquisadora Adriana Dias, aproximadamente cerca de 150 mil brasileiros visitam mensalmente mais de cem páginas com conteúdos nazistas. Segundo Dias, desse total, 15 mil são líderes e coordenam as incitações de ódio na internet. Os grupos “físicos” seriam de pequeno porte e, segundo a autora, teriam entre 15 a 20 pessoas. (ANDRADE, 2013). 39 até mesmo do Brasil enquanto nação (exemplos desses grupos: marxismo cultural, Foro de São Paulo, Comissão Trilateral, Nova Ordem Mundial, entre outros)12. E mantendo uma visão sob influência da religião cristã, muitos conservadores reforçam ideias que se revelam anticientíficas13. Figuras públicas conservadoras – membros, ministros e servidores do governo Bolsonaro, inclusive – constantemente apoiam a ideia de que: “a Terra é plana”14; “as vacinas causam autismo e são prejudiciais à saúde da população”15; “o aquecimento global não existe”16; entre outras. Vale ressaltar que as visões anticientíficas não se restringem somente às ciências naturais, mas sim a qualquer campo do conhecimento que seja acadêmico. As metodologias que sustentam a história e a filosofia (ciências humanas) são também falseadas. Para muitos conservadores brasileiros: “Stálin foi o arquiteto da Segunda Guerra Mundial”17; “o nazismo é um movimento de esquerda com origens marxistas”18; “a escravização foi benéfica para os negros africanos”19; entre diversas outras. A origem de muitas dessas ideias é a obra e a falas públicas do escritor Olavo de Carvalho. Olavo Luiz Pimentel de Carvalho nasceu em Campinas (SP) no dia 29 de abril de 1947, sendo o segundo filho do Luiz Gonzaga de Carvalho, advogado, e 12 O livro “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, de certa forma a bíblia do conservadorismo brasileiro e que será citado adiante, traz vários artigos que ressaltam essas ideias e teorias. 13 Apesar de que ser anticientífico não é, necessariamente, sinônimo de que algo está
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